sexta-feira, 30 de agosto de 2013

pilatos

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Sobre os diversos tipos de consciência

29 de agosto de 2013 | 09:11
Há, no gênero humano, todo o tipo de consciências: as miúdas, as rasteiras, as que se vendem, as que se compram.
Mas há também as que calam, as que urram e as que miam.
Não se pode por reparo no sentido das palavras do Ministro Luis Alberto Barroso no que disse ontem sobre a perversidade intrínseca do sistema político-eleitoral brasileiro, segundo ele “indutor da criminalidade”.
Verdade, incontestável. É, como ele disse, um sistema que reprime o bem e potencializa o mal.
Até porque há homens bons que, diante disso, como “amélias”, a dizerem “meu bem, o que se há de fazer” preferem tartamudear ressalvas e aceitar o injusto.
Ao confirmar a condenação, ontem, de José Genoíno, Barroso desculpou-se:
- Pessoalmente, lamento condenar um homem que participou da resistência à ditadura no Brasil, em um tempo em que isso exigia abnegação e envolvia muitos riscos. Lamento condenar alguém que participou da reconstrução democrática do país. Lamento, sobretudo, condenar um homem que, segundo todas as fontes confiáveis, leva uma vida modesta e jamais lucrou financeiramente com a política.
Lamentou e condenou, em nome da “técnica jurídica”.
Ainda bem que há juízes, sem as luzes do Dr. Barroso, que não vêem a técnica como um fim, mas como um meio de se fazer Justiça.
Juízes  como o da cidade mineira de Viçosa, Omar Gilson de Moura Luz, que rebateu os argumentos tecnicamente corretos de um promotor que se manifestava contra a emissão de registro civil a um homem que vivia pelas ruas, da caridade pública, com sua demência:
(…)o promotor público está certo. Apresentou a lei e sua interpretação dada pelos tribunais. Cumpriu seu papel, com exação, com talento, como sempre faz. Declarar existente o João sem prova documental é temerário, porque inexiste prova. A decisão será facilmente cassada, porque o Estado só entende a linguagem dos documentos.
A despeito de João não existir, populares, como José Raimundo da Silva (Avenida Tal, 242, Bairro Tal, Viçosa), e sua mulher, Maria das Neves, bem assim José Alves Ladeira (Rua Qual, 375), e sua esposa, Conceição Ladeira, todos com existência oficial, teimam em afirmar ser o indigitado, o João, presente, existente.
Seria filho de Maria das Neves e de Antônio Getúlio, nascido,“esse não existir”, em Ervália. (…)
Não há de calar no intimorato juízo do promotor público a preocupação com a ascendência dada a João. Se ela existiu, ou se existe, não há de ter deixado capaz de causar espanto, a não ser a pobreza, que deveria escandalizar mais que a opulência.
Depois, ainda que a sorte ou infortúnio ditem uma coincidência tamanha, a da existência de legados, meios jurídicos o Estado terá, bem assim seus filhos reconhecidos, para o afastamento de João, aí já existindo, documentado, mas sempre, como hoje, importuno.
Posto isto, julgo procedente o pedido para determinar ao senhor oficial de registro de pessoas naturais de Viçosa, representante do Estado, seja oficialmente reconhecida a existência do peregrino JOÃO GETÚLIO, vulgo “JOÃO NINGUÉM”, filho de Antônio Getúlio e de Maria das Neves, nascido do Município de Ervália, há sessenta e cinco anos.
Quem quiser ler a a íntegra da sentença, de 2004, a qual equiparo aos melhores contos da literatura brasileira, mais ainda por ser real, pode encontrá-la aqui.
Fica como modesta contribuição a um ministro da mais alta Corte que condena por corrupção alguém que ele mesmo diz estar convicto de que “leva uma vida modesta e jamais lucrou financeiramente com a política”.
PS. A propósito, quem disse que a fé não salva? Natan Donadon, cuja família construiu um fortuna suspeita em Rondônia, teve a cassação de seu mandato negada pela Câmara. A bancada evangélica, a qual ele integra, faltou com os votos necessários à perda do mandato.
Por: Fernando Brito

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Insanidade sem limite: médicos cearenses atacam médicos cubanos

Insanidade sem limite: médicos cearenses atacam médicos cubanos

Insanidade sem limite: médicos cearenses atacam médicos cubanos

foto 4 2 Insanidade sem limite: médicos cearenses atacam médicos cubanos
Aos gritos de "escravos!" cerca de 50 médicos cearenses liderados pelo presidente do seu sindicato, José Maria Pontes,  fizeram um "corredor polonês" para impedir a saída de 79 médicos cubanos ao final do primeiro dia do curso do Mais Médicos na Escola de Saúde Pública do Ceará, em Fortaleza, na noite desta segunda-feira. "Não aceitamos que eles apenas passem por uma avaliação de português e Sistema Único de Saúde", pontificou o presidente do sindicato. Quem lhe concedeu esta autoridade?
O governo teve que pedir reforço policial quando os médicos brasileiros tentaram invadir o prédio, depois de cercar todas as saídas, obrigando os médicos cubanos a permanecer por mais 40 minutos no saguão da escola, enquanto autoridades tomavam providências para evitar um conflito maior.
Segundo a Agencia Estado, a polícia acompanhou o protesto de perto, mas não interveio, quando os cubanos finalmente saíram, sob os xingamentos dos seus colegas cearenses, em direção ao 23º Batalhão de Caçadores do Exército, onde estão hospedados. Alguns jovens com a bandeira de Cuba que assistiam à cena chamaram os médicos brasileiros de "mercenários".
Pode parecer ironia, mas Fortaleza é conhecida como a cidade da hospitalidade. Pelo menos era, até última vez em que estive por lá.
É este o resultado da campanha insana deflagrada por parte da classe médica, suas entidades representativas e setores da mídia contra a vinda de 400 profissionais cubanos para trabalhar no programa Mais Médicos.
De vez em quando, dá até vergonha de ser brasileiro, como aconteceu comigo ao ver a foto de Jarbas Oliveira na capa da Folha, em que aparece um médico cubano que passa altivo, mas assustado, pelo "corredor polonês", sendo xingado por jovens de jaleco branco com as mãos abertas em forma de concha na boca como se vê em protestos estudantis.

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Como se desmonta uma farsa de jaleco

27 de agosto de 2013 | 13:36
farsaEstá rodando na internet uma farsa apelativa.
O Dr. Rogério Augusto Perillo, que acha que as pessoas são burras, postou uma foto segurando um cartaz dizendo que “não faltam médicos” e denunciando ter sido demitido pelo prefeito da cidade de Trindade, próxima a Goiânia, “para dar lugar a um médico cubano”.
Com a repercussão nas redes, o prefeito teria “reconsiderado” a decisão e mandado readmitir Rogério.
Conversa.
Rogério é amigo e correligionário do prefeito da cidade, Jânio Darrot, do PSDB, com quem aparece sorridente na foto postada há 15 dias.
E, pelo sobrenome Perillo, você deve imaginar de quem ele é parente.
Claro, do governador Marconi Perillo, também do PSDB, aquele que escapou, sabe-se lá como, dos escândalo Demóstenes-Cachoeira.
Captura de tela 2013-08-27 às 13.22.48A página de Rogério Perillo no Facebook é um misto de carolice, antipetismo, anticomunismo e baixarias que me poupo de reproduzir.
Ele, aliás, tentou fazer uma inscrição no “Mais Médicos” para ajudar a “melar” o programa, dizendo que o sistema não aceitava o CPF.
Ele tem o direito de ser um idiota, ninguém lhe negará.
Como tem o direito de ser integrante do PSDB e apoiador da candidatura Aécio Neves.
Gosto, mesmo sendo duvidoso, não se discute.
Tem mesmo o direito de ser um mau caráter.
Mas ele não tem o direito de construir uma mentira na rede, para ser reproduzida por incautos, de boa fé, ou mesmo imbecis, de má-fé.
Não tem o direito de manipular para combater o direito de outros brasileiros, não tão “bem-nascidos” quanto ele.
Infeliz do povo que vai ser tratado com critérios éticos como o do Dr. Rogério.
Se Goiás é o curral dos Perillo, não é difícil saber como tratam o seu povo.
Por: Fernando Brito

Jânio de Freitas: reação aos médicos cubanos é “doentia” | TIJOLAÇO

Jânio de Freitas: reação aos médicos cubanos é “doentia” | TIJOLAÇO

O percurso

Jânio de Freitas
Dos argumentos polêmicos contra a vinda de médicos do exterior, dirigentes corporativos da classe médica brasileira passaram a um histerismo gaiato e primário e já estão em atitudes fronteiriças de crimes, com a incitação aos médicos a “não socorrerem erros” que, imaginam, os estrangeiros cometerão. Sem trocadilho: trata-se de um processo nitidamente doentio.
A vinda de médicos cubanos anexou à reação corporativa a sua utilização ideológica pelos comentaristas conservadores. Já se acumulam bastantes indicações, aliás, de que também as exasperações de vários dos dirigentes corporativos da classe médica não são apenas corporativas. Seu recheio é ideológico, ainda tão nostálgico da guerra fria que não consegue disfarçar-se o suficiente, assim como se dá com os comentaristas. Quanto a isso, nada de novo, portanto. Nem de importante.
Mas, em tanta e tão descomposta reação em nome da classe médica, como ficam os carentes da atenção de um médico nas lonjuras onde nem um só foi jamais visto? Esses numerosos conselhos de medicina, essas inúmeras associações de médicos, esses incontáveis dirigentes corporativos nada têm a dizer que não seja contra o preenchimento estrangeiro dos buracos de sofrimento deixados por brasileiros pelo Brasil afora?
Não têm nem uma palavra proponente, alguma preliminar de plano, uma iniciativa viável, para intercalar nas reações vociferadas à vinda de estrangeiros? Não, não têm. Nunca tiveram, desde que as urgências da saúde pública voltaram a ser um problema de consciência nacional, perdida com as primeiras décadas do século passado.
O nível tão baixo em que está a ação dos dirigentes corporativos não é justo com a classe médica. As referências, digamos, domésticas a esse episódio parecem largamente favoráveis à vinda dos estrangeiros. E, nelas, os criticados por suas reações são “os médicos”, assim generalizados.

Los 'esclavos' cubanos ponen nerviosos a los médicos brasileños - Público.es

Los 'esclavos' cubanos ponen nerviosos a los médicos brasileños - Público.es

Este fin de semana llegaron a Brasil los primeros 400 médicos cubanos de un contingente de 4.000 que contrató para dar cobertura sanitaria a las regiones rurales más pobres. El colegio médico brasileño se opone a la medida pero el gobierno de Dilma lo considera un asunto de interés público y social de primer orden.

FERNANDO RAVSBERG La Habana 26/08/2013 09:14 Actualizado: 26/08/2013 09:30
Las brigadas médicas cubanas trabajan en 58 países de los cinco continentes. RAQUEL PÉREZ

Las brigadas médicas cubanas trabajan en 58 países de los cinco continentes. RAQUEL PÉREZ

Sectores de la oposición acusan a Brasilia y La Habana de someter a los médicos a "trabajo esclavo" porque el gobierno cubano recibe una parte del pago. De todas formas, algunos voluntarios aseguraron a Público que los salarios serán mayores que en otras misiones, se dice que rondarán los 1.600 dólares mensuales, lo cual es mucho dinero en un país en el que la canasta básica familiar está calculada en 100 dólares.
Realmente será difícil probar la acusación de "esclavismo" cuando la operación está avalada por la Organización Panamericana de la Salud de la ONU y teniendo en cuenta que Cuba, desde enero de este año, permite a los médicos viajar al extranjero, emigrar con sus familias y trabajar en la clínica que más les convenga.
El Consejo Federal de Medicina de Brasil denuncia que la llegada de los brigadistas de la isla "expone la salud de la población a situaciones de riesgo". Sin embargo, sólo un millar de galenos brasileños aceptaron ir a trabajar a algunos de los cientos de municipios rurales en los que nunca ha habido un médico. Parece un absurdo decir que para los enfermos de esas regiones es mejor vivir sin cuidados sanitarios que atendidos por los galenos cubanos.
Cuba tiene 80.000 graduados en medicina, uno por cada 150 habitantes, la mejor tasa del mundo 
El colegio brasileño aduce que la formación de sus colegas de la isla es deficiente. Sin embargo, se trata de médicos "todoterreno", dispuestos a radicarse en las zonas más inhóspitas, capaces de trabajar con mínimos recursos, preparados para organizar campañas preventivas de salud y muy experimentados en el diagnóstico clínico, imprescindible en lugares donde no se cuenta con equipos ni laboratorios.
El enfrentamiento de los colegios médicos de América Latina comenzó apenas Cuba afectó sus intereses corporativos con el envío de las primeras brigadas de salud a diferentes países de la región. Se agudizó después con la creación de la Escuela Latinoamericana de Medicina (ELAM), institución que forma gratuitamente miles de jóvenes y los devuelve convertidos en médicos a sus comunidades. O la Operación Milagro, que restituyó la vista a cientos de miles de personas en la región sin cobrar un centavo, afectando los bolsillos de los oftalmólogos que cobraban 2.000 dólares por una operación quirúrgica de 15 minutos.
En muchos países de la región los colegios médicos ponen trabas para convalidar los títulos de las facultades de medicina cubanas pero poco a poco han tenido que ceder terreno. En su visita a Cuba, el presidente uruguayo, Pepe Mujica, nos comentó que ya en su país se reconocen la mayor parte de los títulos. Sólo se mantiene la resistencia en algunas especialidades, que son las que dan más dinero a los médicos y las que cuestan más caras a los pacientes, dijo con cierta amargura.

Sesgo ideológico

El colegio médico y la oposición brasileña acusan a Dilma de contratar cooperantes cubanos por razones ideológicas pero el Ministerio de Salud les responde que la gran mayoría de los galenos de la isla irá a zonas del norte y noreste del país, justamente a aquellos a lugares que no fueron elegidos ni por los brasileños ni por los extranjeros que calificaron para el programa, a pesar de que se ofertan salarios mensuales de 13.500 dólares.
En realidad, más allá de las simpatías políticas, el gobierno brasileño no tenía opción, su plan para extender la cobertura sanitaria a todo el país requiere 54.000 médicos. Esta semana se incorporan 244 profesionales de Portugal, España, Argentina y Uruguay pero optando por trabajar sólo en las ciudades. Cuba es la única nación capaz de enviar, en un tiempo muy breve, un contingente de miles de galenos a las zonas más necesitadas. Un lujo que puede permitirse porque cuenta con casi 80.000 graduados en medicina, uno por cada 150 habitantes, la mejor tasa del mundo.

Porque prefiro ser tratado por médicos brasileiros. Ou não

Porque prefiro ser tratado por médicos brasileiros. Ou não


ANTONIO MELLO



Eu prefiro ser tratado por médicos brasileiros, embora 54,5%  dos 2400 formandos que fizeram a prova do Conselho Regional de Medicina de SP não atingiram a nota mínima. O pior é que os erros se concentraram em áreas básicas. Mesmo assim vão poder exercer a profissão e atender aos infelizes que caírem em suas reprovadas mãos. Mas eu não moro em São Paulo.

Prefiro médicos brasileiros, porque eles são coisa nossa. Por exemplo, a gente liga pra marcar consulta e a telefonista do doutor pergunta: - é particular ou plano? Se for plano, empurram sua consulta lá pra frente. Particular, eles dão um jeitinho. Coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque quando chego ao consultório, fico esperando mais de uma hora pra ser atendido. É porque eles são bonzinhos, gostam de atender a todo mundo, e sabem que ali, no calor apertado da sala de espera, sempre pode rolar uma conversa agradável sobre sintomas e padecimentos com outros médicos. E a socialização é muito importante. Sem contar que podemos adquirir informação, com a leitura daquela Veja em que Airton Senna e Adriane Galisteu ainda estão namorando. Ah, tempo bom! É coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque quando a consulta é particular, eles fazem questão de não dar recibo, ou então a recepcionista pergunta se vou querer a nota fiscal, porque aí o preço é diferente. Não é sonegação, claro que não. É porque eles têm vergonha de espalhar quanto cobram pela consulta. Coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque eles vivem chorando miséria, mas, mesmo assim, no estacionamento dos médicos nos hospitais só tem carrão importado. Parece até pátio de delegacia de polícia. Coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque você faz todo o acompanhamento de sua doença com o doutor do seu plano de saúde, mas na hora da cirurgia, embora ela seja coberta pelo plano, o doutor sempre pede um por fora, pra ele e equipe. Inclusive o anestesista, aquele médico que não é médico, não tem plano, não obedece a sindicatos nem nada. É sempre por fora. É coisa nossa.

Prefiro médicos brasileiros, porque várias vezes você chega ao posto de saúde, a uma emergência ou ao hospital e ele simplesmente não foi trabalhar, e usa de sua criatividade, inventando até dedinhos de silicone, para receber aquele salário que eles dizem que é uma merreca. Mas, isso é mentira, na verdade eles não vão trabalhar porque os hospitais, ambulatórios, as emergências e postos de saúde não dão condições. Eles só não largam o emprego porque têm pena dos pacientes que vão deixar na mão - embora não trabalhem. Pelo menos é o que dizem. Coisa nossa.

Só escrevo este texto, porque tenho vários amigos médicos e, infelizmente, não vejo nenhum deles se levantar contra esse hediondo corporativismo, contra essa maluquice generalizada de que seus colegas cubanos (que trabalham no mundo inteiro) são despreparados e, pior, vão espalhar a ideologia comunista pelo Brasil. Esses médicos que acham que municípios sem médicos têm que continuar assim, enquanto não tiverem infraestrutura, como naquela história da época da ditadura, de que era preciso primeiramente fazer crescer o bolo para depois dividi-lo.

Se os médicos estivessem defendendo seu mercado de trabalho... Mas, não, os médicos estrangeiros só estão vindo ocupar vagas que foram recusadas por seus colegas brasileiros, que não querem trabalhar e também não querem que outros trabalhem. O paciente... ah, o paciente. Ele não é mais paciente, agora é cliente.

Claro que temos ótimos médicos. E muitos deles já se declararam a favor da vinda de seus colegas do exterior.

Temos ótimos médicos, repito. Vários deles trabalhando em condições precárias. Temos muito o que melhorar, e a presidenta Dilma reconheceu o problema em seu pronunciamento na TV:

Quero propor aos senhores e às senhoras acelerar os investimentos já contratados em hospitais, UPAs e unidades básicas de saúde. Por exemplo, ampliar também a adesão dos hospitais filantrópicos ao programa que troca dívidas por mais atendimento e incentivar a ida de médicos para as cidades que mais precisam e as regiões que mais precisam. Quando não houver a disponibilidade de médicos brasileiros, contrataremos profissionais estrangeiros para trabalhar com exclusividade no Sistema Único de Saúde.
Neste último aspecto, sei que vamos enfrentar um bom debate democrático. De início, gostaria de dizer à classe médica brasileira que não se trata, nem de longe, de uma medida hostil ou desrespeitosa aos nossos profissionais. Trata-se de uma ação emergencial, localizada, tendo em vista a grande dificuldade que estamos enfrentando para encontrar médicos, em número suficiente ou com disposição para trabalhar nas áreas mais remotas do país ou nas zonas mais pobres das nossas grandes cidades.

Sempre ofereceremos primeiro aos médicos brasileiros as vagas a serem preenchidas. Só depois chamaremos médicos estrangeiros. Mas é preciso ficar claro que a saúde do cidadão deve prevalecer sobre quaisquer outros interesses. O Brasil continua sendo um dos países do mundo que menos emprega médicos estrangeiros. Por exemplo, 37% dos médicos que trabalham na Inglaterra se graduaram no exterior. Nos Estados Unidos, são 25%. Na Austrália, 22%. Aqui no Brasil, temos apenas 1,79% de médicos estrangeiros. Enquanto isso, temos hoje regiões em nosso país em que a população não tem atendimento médico. Isso não pode continuar. Sabemos mais que ninguém que não vamos melhorar a saúde pública apenas com a contratação de médicos, brasileiros e estrangeiros. Por isso, vamos tomar, juntamente com os senhores, uma série de medidas para melhorar as condições físicas da rede de atendimento e todo o ambiente de trabalho dos atuais e futuros profissionais.

Ao mesmo tempo, estamos tocando o maior programa da história de ampliação das vagas em cursos de Medicina e formação de especialistas. Isso vai significar, entre outras coisas, a criação de 11 mil e 447 novas vagas de graduação e 12 mil e 376 novas vagas de residência para estudantes brasileiros até 2017.  [Fonte]

Mas, o que estamos vendo é que existe um grupo de médicos para quem os cidadãos brasileiros de municípios sem médicos devem sofrer calados ou pegar um ônibus, barca, trem, o que seja, para procurar uma cidade onde um senhoríssimo doutor (brasileiro) o atenda, quando der. A esses lembro que Deus é ironia, e eles podem amanhã ou depois sofrer um acidente, numa pequena cidade, um pequeno município daqueles que ninguém jamais ouviu falar, eu gostaria de saber o que sentiriam ao ouvir alguém lhe falar assim:

- Necesita de ayuda, señor?

(Sugiro a leitura deste texto de Luciano Martins Costa, publicado no Observatório da Imprensa)

Mais médicos, oposição e burrice « Observatório Geral

Mais médicos, oposição e burrice « Observatório Geral

Chama-se oposição sistemática o modelo que tenta afirmar que tudo que o governo faça ou pense é ruim e podre. Pelos cálculos de opositores que agem assim só há imbecis, energúmenos e canalhas no governo.
O povo, para a oposição sistemática, é o que menos importa. Ainda que jure que tudo é discutido reativamente em seu nome. O governo Dilma, com a aproximação teórica das eleições, passou a ser perseguido por um PSDB canino; e cego. Vai piorar.
A importação de médicos, seja ou não medida eleitoreira de Dilma, atenderá efetivamente a bolsões imensos da sociedade brasileira sem assistência. Isto é fato. Mas não interessa. Nada há aí que pode prestar para uma oposição sistemática.
Esta oposição pode nem “perder” tanto quando é considerada intensa ou radical; está previsto. Mas quando suas falas e ações passam uma ideia de burrice, aí fica pior.
Admita-se que, sim, tenha sido uma medida eleitoreira e canalha de Dilma, visando à reeleição, o programa Mais Médicos. A questão da popularização do atendimento médico é tão grandiosa que aceita a suposição. Haverá benefício real para a população pobre? Inegavelmente sim. Mas nenhum opositor ao governo tem a segurança de levantar esta questão. Ela – que justifica tudo – se torna proibida e sinônimo de traição ao PSDB se for dita. A oposição sistemática não consegue olhar para o benefício social, apenas mira o “inimigo” que precisa ser destruído, desmoralizado, morto e entregue às hienas.
E o povo? O povo que se lasque.
Este modelo de política com a oposição venenosa e de má-fé não tem nada de ético ou saudável. O povo só precisa enxergar isso. Seja o PT ou o PSDB que manejem uma oposição assim.
Num modelo de sociedade mal informada e com a imprensa restrita, esse modelo pode até convencer a incautos. Mas num Brasil da atualidade o risco de uma oposição deste tipo é imenso.
Depois que a imprensa passou a ver rostos, expressões e discursos dos médicos cubanos, houve uma ligeira tendência de aumentar a aceitação. São profissionais qualificados e, como verdadeiros médicos, não recusam “missões” a necessitados e esquecidos. O fato é que o Brasil – inclua-se aí o governo Lula – não tomou atitude similar. Mas quando Dilma resolve fazer, com a previsão de uma ótima impactação, a oposição mostra os dentes.
Mais do que a política ou o jogo de interesses pode estar em cena. Fica patente a burrice. E com ela não se precisa perder muito tempo. OG.

Entenda por que médicos cubanos não são escravos | Brasil 24/7

Entenda por que médicos cubanos não são escravos | Brasil 24/7

247 - Autor de uma série de artigos sobre a vinda dos médicos cubanos, reunidos no 247 sob o título "O que você precisa saber sobre médicos cubanos" (leia mais aqui), o jornalista Hélio Doyle publicou neste domingo uma resposta clara aos jornalistas e críticos do programa Mais Médicos que apontam escravidão na vinda de profissionais de saúde daquele país. Leia abaixo: 
UM POUCO MAIS SOBRE OS MÉDICOS CUBANOS
Parece que o último argumento contra a contratação dos médicos cubanos é a remuneração que vão receber. Pois é ridículo, quando prevalecem fatos, indicadores internacionais e números, falar mal do sistema de saúde e da qualidade dos médicos de Cuba. A revalidação de diploma também não é argumento, pois os médicos estrangeiros trabalharão em atividades definidas e por tempo determinado, nos termos do programa do governo federal. Não tem o menor sentido, também, dizer que os cubanos não se entenderão com os brasileiros por causa da língua – primeiro, porque vários deles falam o português e o portunhol, segundo porque os médicos cubanos estão acostumados a trabalhar em países em que a lingua falada é o inglês, o francês, o português e dialetos africanos, e nunca isso foi entrave.
Resta, assim, a forma de contratação e, mais uma vez sem medo do ridículo, falam até de trabalho escravo. Essa restrição também não tem procedência, nem por argumentos morais ou éticos (e em boa parte hipócritas), nem com base na legislação brasileira e internacional. Vamos a duas situações hipotéticas, embora ocorram rotineiramente.
 
1 – Uma empreiteira brasileira é contratada por um governo de país europeu para uma obra. Essa empreiteira vai receber euros por esse trabalho e levar àquele país, por tempo determinado, alguns engenheiros, geólogos, operários especializados e funcionários administrativos, todos eles empregados na empreiteira no Brasil. Encerrado o contrato no país europeu, todos voltarão ao Brasil com seus empregos assegurados. Quem vai definir a remuneração desses empregados da empreiteira e pagá-los, ela ou o governo do país europeu? É óbvio que é a empreiteira.
 
2 – Os governos do Brasil e de um país africano assinam um acordo para que uma empresa estatal brasileira envie profissionais de seu quadro àquele país para dar assistência técnica a pequenos agricultores. O governo brasileiro será remunerado em dólares pelo governo africano. A estatal brasileira designará alguns de seus funcionários para residir e trabalhar temporariamente no país africano. Quem vai definir a remuneração dos servidores da empresa estatal brasileira e lhes fará o pagamento, a estatal brasileira ou o governo do país africano? É óbvio que é a empresa estatal brasileira.
 
Por que, então, tem de ser diferente com os médicos cubanos? Eles não estão vindo para o Brasil como pessoas físicas, nem estão desempregados. São servidores públicos do governo de Cuba, trabalham para o Estado e por ele são remunerados. Quando termina a missão no Brasil (ou em qualquer outros dos mais de 60 países em que trabalham), voltam para Cuba e para seus empregos públicos.
 
Não teria o menor sentido, assim, que esses médicos, formados em Cuba e servidores públicos cubanos, fossem cedidos pelo governo de Cuba para trabalhar no Brasil como se fossem pessoas físicas sendo contratadas. Para isso, eles teriam de deixar seus postos no governo de Cuba. Como não faria sentido que os empregados da empreiteira contratada na Europa ou da estatal contratada na África assinassem contratos e fossem remunerados diretamente pelos governos desses países.  Trata-se de uma prestação de serviços por parte de Cuba, feita, como é natural, por profissionais dos quadros de saúde daquele país.
 
A outra crítica é quanto à remuneração dos médicos cubanos. Embora menor do que a que receberão os brasileiros e estrangeiros contratados como pessoas físicas, está dentro dos padrões de Cuba e não discrepa substancialmente do que recebem seus colegas que trabalham no arquipélago. É mais, mas não muito mais. Não tem o menor sentido, na realidade cubana, que um médico de seus serviços de saúde, trabalhando em outro país, receba R$ 10 mil mensais. E, embora os críticos não aceitem, há em Cuba uma clara aceitação, pela população, de que os recursos obtidos pela exportação de bens e serviços (entre os quais o turismo e os serviços de educação e saúde) sejam revertidos a todos, e não a uma minoria. O que Cuba ganha com suas exportações de bens e serviços, depois de pagar aos trabalhadores envolvidos, não vai para pessoas físicas, vai para o Estado.  
 
A possibilidade de ganhar bem mais é que faz com que alguns médicos cubanos prefiram deixar Cuba e trabalhar em outros países como pessoas físicas. É normal que isso aconteça, em Cuba ou em qualquer país (não estamos recebendo portugueses e espanhóis?) e em qualquer atividade (quantos latino-americanos buscam emigrar para países mais desenvolvidos?). Como é normal que muitos dos médicos cubanos aprovem o sistema socialista em que vivem e se disponham a cumprir as “missões internacionalistas” em qualquer parte do mundo, independentemente de qual é o salário. Para eles, a medicina se caracteriza pelo humanismo e pela solidariedade, e não pelo lucro.
 
É difícil entender isso pelos que aceitam passivamente, aprovam ou se beneficiam da privatização e da mercantilização da medicina e da assistência à saúde no Brasil.

natasha

natasha

natasha

Corem diante desta negra, doutores! Ela tem o que os senhores perderam

24 de agosto de 2013 | 20:08
“Somos médicos por vocação, não nos interessa um salário, fazemos por amor”, afirmou Nelson Rodrigues, 45.
“Nossa motivação é a solidariedade”, assegurou Milagros Cardenas Lopes, 61
“Viemos para ajudar, colaborar, complementar com os médicos brasileiros”, destacou Cardenas em resposta à suspeita de trabalho escravo. “O salário é suficiente”, complementou Natasha Romero Sanches, 44.
Poucas frases, mas que soam  como se estivessem sendo ditas por seres de outro planeta no Brasil que vivemos.
O que disseram os primeiros médicos cubanos do  grupo, que vem para servir onde médicos brasileiros não querem ir, deveria fazer certos dirigentes da medicina brasileira reduzirem à pequenez de seus sentimentos e à brutalidade de suas vidas, de onde se foi, há muito tempo, qualquer amor à igualdade essencial entre todos os seres humanos.
Porque gente que não se emociona com o sofrimento e a carência de seus semelhantes, gente que se formou, muitas vezes, em escolas de medicina pagas com o imposto que brasileiros miseráveis recolheram sobre sua farinha, seu feijão, sua rala ração, gente que já viu seus concidadãos madrugando em filas, no sereno, para obter um simples atendimento, gente assim não é civilizada, não importa quão bem tratadas sejam suas unhas, penteados os seus cabelos e reluzentes seus carros.
Perto desta negra aí da foto, que para vocês só poderia servir para lavar suas roupas e pajear seus ricos filhinhos, criados para herdar o “negócio” dos pais, vocês nao passam de selvagens, de brutos.
Vocês podem saber quais são as mais recentes drogas, aprendidas nos congressos em locais turísticos, custeados por laboratórios que lhes dão as migalhas do lucro bilionário que têm ao vender remédios. Vocês podem conhecer o último e caro exame de medicina nuclear disponível na praça a quem pode pagar. Vocês podem ser ricos, ou acharem que são, porque de verdade não passam de uma subnobreza deplorável, que acha o máximo ir a Miami.
Mas vocês são lixo perto dessa negra, a Doutora – sim, Doutora, negra, negrinha assim! – Natasha, eu lhes garanto.
Sabem por que? Porque ela é capaz de achar que o que faz é mais importante do que aquilo que ganha, desde que isso seja o suficiente para viver com dignidade material. Porque a dignidade moral ela a tem, em quantidade suficiente para saber que é uma médica, por cem, mil ou um milhão de dólares.
Isso, doutores, os senhores já perderam. E talvez nunca mais voltem a ter, porque isso não se compra, não se vende, não se aluga, como muitos dos senhores, para manter o status de pertencerem ao corpo clínico de um hospital, fazem com seus colegas, para que deem o plantão em seus lugares.
Os senhores não são capazes de fazer um milésimo do que ela faz pelos seres humanos, desembarcando sob sua hostilidade num país estrangeiro, para tratar de gente pobre que os senhores não se dispõem a cuidar nem querem deixar que se cuide.
Os senhores não gritaram, não xingaram nem ameaçaram com polícia aos Roger Abdelmassih, o estuprador, nem contra o infeliz que extorquiu R$ 1.200 para fazer o parto de uma adolescente pobre, nem contra os doutores dos dedos de silicone, nem contra os espertalhões da maternidade paulista cuja única atividade era bater o ponto.
Eles não os ameaçaram, ameaçaram apenas aos pobres do Brasil.
Estes aí, sim, estes os ameaçam. Ameaçam a aceitação do que vocês se tornaram, porque deixaram que a aspiração normal e justa de receber por seu trabalho se tornasse maior do que a finalidade deste próprio trabalho, porque o trabalho é um bem social e coletivo, ou então vira mero negócio mercantil.
É isto que estes médicos cubanos representam de ameaça: reduzir o egoísmo, o consumismo, o mercantilismo ao seu tamanho, a algo que não é e nem pode ser o tamanho da civilização humana.
Aliás, é isso que Cuba, há quase 55 anos, representa.
Um país minúsculo, cheio de carências, que é capaz de dar a mão dos médicos a este gigante brasileiro.
E daí que eles exportem médicos como fonte de receita? Nós não exportamos nossos meninos para jogar futebol? O que deu mais trabalho, mais investimento, o que agregou mais valor a um país: escolas de medicina ou esteiras rolantes para exportar seus minérios?
É por isso que o velhíssimo Fidel Castro encarna muito mais a  juventude que estes yuppies coxinhas, cuja vida sem causa  cabe toda dentro de um cartão de crédito.
Eu agradeço à Doutora Natasha.
Ela me lembrou, singelamente, que o coração é algo muito maior do que aquele volume que aparece, sombrio, nas tantas ressonâncias, tomografias e cateterismos porque passei nos últimos meses.
Ele é o centro do progresso humano, mais do que o cérebro, porque é ele quem dá o norte, o sentido, o rumo dos pensamentos e da vida.
Porque, do contrário, o saber vira arrogância e os sentimentos, indiferença.
E o coração, como na música de Mercedes Sosa, é apenas una mala palabra.
Por: Fernando Brito

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O problema da má distribuição dos médicos no Brasil

 Sistema de saúde
Tainah Medeiros
“As pessoas não têm mais a quem pedir ajuda a não ser a mim. Se tiver mais de três casos urgentes para atender imediatamente, como eu faço?” Em tom de desabafo, o cardiologista Sérgio Perini conta que desde abril de 2012 é o único médico em atividade na cidade de Santa Maria das Barreiras, no interior do Pará. O único para atender uma população carente de 18 mil habitantes.
Essa situação não é exclusividade de Santa Maria das Barreiras. A cidade divide o problema com milhares de municípios que, como ela, são pequenos e afastados de grandes centros urbanos. Segundo o último levantamento do CFM (Conselho Federal de Medicina), feito em 2012, o Brasil abriga 388.015 médicos, cerca de 1,8 por mil habitantes. A Argentina tem 3,2, Espanha e Portugal têm 4 e Inglaterra, 2,7. Ainda assim, a quantidade de médicos brasileiros é considerada razoável, mas não resolve o problema de saúde do país porque apenas 8% dos profissionais estão em municípios de até 50 mil pessoas. E municípios desse porte representam quase 90% das cidades (veja tabelas no final desta matéria).
O restante dos profissionais está aglomerado em grandes regiões. Distrito Federal e os estados de Rio de Janeiro e São Paulo têm respectivamente taxas de 4,09, 3,62 e 2,64 médicos por mil habitantes, enquanto outros estados não somam nem um profissional por mil habitante, como é o caso do Amapá (0,95), Pará (0,84) e Maranhão (0,71). Ainda assim, a taxa maior em um estado não significa que cidades pequenas daquela região ofereçam atendimento adequado.
Para tentar resolver a questão, o governo federal criou em 2011 o Provab (Programa de Valorização dos Profissionais da Atenção Básica), uma iniciativa para levar médicos recém-formados a regiões carentes oferecendo uma bolsa de R$8 mil. O incentivo, porém, não foi suficiente. O último levantamento, feito com base nos dados de 2012, mostrou que 2.856 prefeituras solicitaram 13 mil médicos. Menos da metade, 1.291, foi atendida por pelo menos um profissional, já que apenas 4.392 médicos se inscreveram e 3.800 assinaram contrato. O número equivale a 29% das vagas abertas.
Nesse cenário, Santa Maria das Barreiras e tantas outras cidades brasileiras tentam lidar com a carência da maneira que podem. “Como faltam profissionais, as ocorrências mais graves não têm como ser atendidas aqui, então encaminhamos para a cidade de Redenção, que fica a 130 km. O trajeto de 2 horas é feito por estrada de terra”, relata o dr. Perini.
Em maio de 2013, o Ministério da Saúde anunciou que havia um ano vinha estudando uma política para trazer médicos estrangeiros até essas regiões a fim de minimizar o déficit de profissionais em áreas carentes. A princípio, a intenção era trazer 6 mil médicos cubanos, além de profissionais de Portugal e Espanha. A estratégia é vista pelo governo como uma alternativa de curto prazo, mas para entidades médicas como o CFM, que questiona a qualidade do atendimento que seria oferecido, trata-se de uma “pseudo-assistência”.
Revalida
O presidente do CFM, Roberto Luiz d’Avila, afirmou em nota que acredita que a população brasileira corre o risco de ser atendida por pessoas com formação médica insuficiente e incompleta. “Se essa intenção fosse séria, o governo traria médicos preparados para fazer cirurgias, trabalhar em UTIs e atender casos de alta complexidade. Não há médicos pela metade e é isso que está sendo proposto. Se o médico ‘importado’ sem revalidação receber um caso grave, cruzará os braços.”
O temor da entidade surgiu devido à possibilidade de que os médicos estrangeiros sejam dispensados de fazer o Revalida, exame nacional para revalidação de diplomas obtidos no exterior. O ministério cogita a alternativa porque quem é aprovado na avaliação recebe registro permanente e pode atuar dentro de sua especialidade em qualquer região do país, mas a ideia do novo programa é que os profissionais de fora tenham permissão temporária de três anos para trabalhar apenas nos campos considerados de prioridade, como o de atenção básica em saúde. Segundo a assessoria do ministério, portanto, a dispensa está sendo pensada justamente para limitar a área de atuação dos estrangeiros, evitando que migrem para postos mais atrativos e compitam com profissionais brasileiros.
“O CFM não abre mão do Revalida. Ele apoia a entrada de médicos, desde que sejam submetidos a esse exame e sejam qualificados para trabalhar no Brasil, independentemente de sua nacionalidade”, afirma o vice-presidente da entidade, Carlos Vital. O Ministério da Saúde enfatiza que a dispensa não significa que os estrangeiros estarão isentos de avaliação. “Ainda não está definido de que maneira eles vão ser avaliados, mas já é sabido que eles vão precisar falar português, serão provenientes de faculdades reconhecidas pelos países de origem e obrigatoriamente haverá triagem, que poderá ser feita por meio de exame prático ou análise curricular.”
O ministério afirmou ainda que confia na qualidade das universidades do exterior e acredita que o governo de cada país tem discernimento para reconhecer como legítimas suas instituições de ensino da mesma maneira que o governo brasileiro tem.  O CFM, porém, firma seu argumento nos dados oficiais da subcomissão que acompanha a aplicação do Revalida. No ano de 2011, 536 médicos graduados no exterior se submeteram ao exame, e somente 65 (12%) foram aprovados. Em 2012, o resultado foi pior: de 884 médicos avaliados, 77 (8,7%) foram aprovados.
Na lista de 200 cursos de medicina da QS Top University, organização de referência para rankings de universidades, a Universidade de Barcelona, na Espanha (um dos países cogitados a enviar profissionais), e a Universidade de São Paulo ocupam posição entre a 51a e 100a melhores (o ranking não especifica a posição a partir da 51a colocada). Cuba e Portugal não têm universidades na relação.
Concentração nos grandes centros
O único médico de Santa Maria das Barreiras é graduado pelo ISCM-VC (Instituto Superior de Ciências Médicas de Villa Clara), em Cuba, com o qual a Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu-SP mantém convênio desde 2002. Dr. Perini ressalta que o conceito de priorizar o atendimento às regiões carentes foi uma das coisas que aprendeu no curso. O viés ideológico de sua formação o incentivou a trocar a cidade de São Simão, em Goiás, que tinha cerca de 15 médicos para seus 17 mil habitantes, para viver com a família no interior do Pará, mesmo por um salário menor. “Quando escuto o CFM falando que os médicos estrangeiros podem não ter formação suficiente, fico indignado. Me dá a impressão de que eles não fazem ideia do que aprendemos por lá”, afirma.
No Brasil, existem apenas 2 mil médicos especializados em medicina da família cadastrados na SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade), entidade que congrega médicos atuantes em postos e outros serviços de Atenção Primária em Saúde. Para o presidente da Sociedade, Nulvio Lermen Junior, o Brasil enfrenta dificuldades para formar especialistas na área. “Há mais médicos interessados em especialidades como dermatologia e endocrinologia do que em medicina de família e comunidade ou terapia intensiva, por exemplo. Essas últimas especialidades são menos valorizadas no mercado privado”, explica.
Para Paulo Henrique Gomes, que assumiu a Secretaria de Saúde de Santa Maria das Barreiras no final de 2012, a medida serve como um alívio. “Eu preciso urgentemente de mais médicos na minha cidade, imagino que outros municípios também devam precisar. Eu só tenho um médico no hospital. Os profissionais do Pará não querem o salário que Santa Maria das Barreiras pode pagar, que é de R$ 16 mil. Eles querem R$ 20 mil, R$ 25 mil. Acredito que os profissionais que vão chegar estarão mais dispostos a receber o que temos a oferecer.”
Em nota, a SBMFC afirma acreditar que os sistemas nacionais de saúde possam necessitar do aporte de médicos estrangeiros, mas reforçou que tal política deve fazer parte de estratégias maiores de reestruturação do sistema de saúde.
Para Carlos Vital, vice-presidente do CFM, a má distribuição de profissionais brasileiros não é reflexo do desinteresse dos médicos, e sim um problema muito mais grave. “Os médicos brasileiros até migram para essas regiões, mas se deparam com uma cidade sem infraestrutura. Não há hospitais, não há UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) nem UBSs (Unidade Básica de Saúde). Não há transporte, ou seja, não há o mínimo de condições para atender a população. O médico se sente impotente diante de uma situação como essa. Ele vai fazer o quê, sem um local para atender? Só prescrever medicamento? O problema tem uma base complexa que não pode ser resolvida simplesmente com a vinda de médicos estrangeiros. O Brasil precisa, primeiro, melhorar as condições de infraestrutura de saúde.”
Santa Maria das Barreiras conta com apenas uma Unidade Mista de Atendimento (local para atendimento básico com pequeno centro cirúrgico). É lá que o dr. Perini recebe diariamente de 40 a 50 pacientes. Desde janeiro de 2013, o Secretário de Saúde Paulo Henrique conseguiu ampliar de 17 para 22 o número de leitos e comprar mais uma ambulância para o município, totalizando duas, mas o problema com que o município lida há anos permanece: “temos uma unidade para atender, mas não temos médicos”.
Modelo a ser seguido
O Ministério da Saúde ainda não sabe exatamente qual modelo de captação de médicos estrangeiros irá seguir, mas acredita que o brasileiro deva tratar o assunto de maneira positiva. “Eu quero repetir que esse assunto não pode ser um tabu por aqui. O Ministério da Saúde brasileiro estuda uma politica de atração de profissionais estrangeiros baseada na de outros países que fazem isso. No Canadá e Austrália, por exemplo, existe um exame de validação do diploma igual o Revalida, mas também há programas específicos que dão autorização especial para o médico atuar na áreas de maior carência de médicos. Nós estamos estudando como esses países fazem para dar visto de trabalho e registro profissional restrito para atuar naquela área de carência. Descartamos validação automática do diploma e uma política que busque atrair médicos de países que tenham menos profissionais por mil habitantes que o Brasil. Caso da Bolívia e do Paraguai, que têm menos que 1,8 médicos por mil habitantes”, explica o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Padilha ressalta que cerca de 37% dos médicos da Inglaterra são formados fora do país, assim como 25% dos médicos que atuam nos EUA, 22% dos médicos do Canadá e 17% dos médicos da Austrália. Mas Carlos Vital, do CFM, reforça que esses dados não podem ser comparados com o Brasil, já que o sistema de saúde daqui é completamente diferente dos países tomados como base. “É diferente você levar um médico estrangeiro para atuar em um hospital da Inglaterra e outro para atuar aqui. Eles têm uma infraestrutura muito melhor que a do Brasil, muito mais equipamento, mais plano de carreira. Simplesmente, não dá.”
O ministro afirmou que apenas os municípios que participarem do Programa de Requalificação da UBS (Unidade Básica de Saúde) vão receber médicos do exterior. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 2.810 municípios devem apresentar propostas de construção de centros médicos em 2013. O Governo Federal dá incentivo financeiro para a construção de postos que variam de acordo com o porte de cada unidade, oscilando entre R$ 408 mil (construção de UBS porte 1 — capacitada para atender até 50 mil habitantes) a R$ 773 mil (construção de UBS porte 4 — capacitada para atender mais de 500 mil). Para reforma, são destinados de R$ 30 mil a R$ 150 mil (porte 1) e de R$30 a R$ 350 mil (porte 2).
Medidas de longo prazo
Diante da polêmica, a OMS (Organização Mundial da Saúde) se pronunciou. Em entrevista concedida à BBC Brasil, Hans Kluge, diretor da Divisão dos Sistemas de Saúde e Saúde Pública da OMS, afirmou que o assunto não deve ser visto como “panaceia” e que a contratação de médicos estrangeiros pelo Brasil é uma solução de curto prazo. A organização defendeu ainda que o país fortaleça seu próprio sistema de saúde para suprir a demanda interna.
O CFM defende que seja programada uma carreira federal dentro do SUS, nos moldes do que já existe para os cargos de juiz e promotor no âmbito do Poder Judiciário. Na carreira proposta, o acesso se daria por concurso público, realizado pelo Ministério da Saúde. Entre as características da proposta consta jornada de trabalho de 40 horas semanais no atendimento exclusivo ao SUS, com plano de cargos, carreira e salários.
A entidade não descarta com isso a necessidade de criar um outro programa para interiorização do médico brasileiro. Sem uma carreira, os jovens médicos, ‘importados’ ou brasileiros, podem até aceitar o desafio de ir para zonas distantes, mas diante da falta de perspectiva irão abandonar os postos e buscar abrigo nas grandes cidades, acirrando o cenário de desigualdade na distribuição dos profissionais”, afirmou em nota o presidente D’Ávila.
Já a SBMFC acredita que é preciso, também, investir de forma semelhante na área de medicina da família. “Implantar uma carreira e valorizar a contratação de especialistas em medicina de família no setor público, em especial na estratégia de Saúde da Família; regular a formação de especialistas por meio da criação de vagas de residência médica, priorizar o investimento e oferecer condições de trabalho adequadas. Essa estratégia bem estruturada pode resolver de forma mais econômica e eficiente cerca de 90% dos problemas da população”, afirma o presidente Nulvio Lermen Junior.
O governo garante que tem propostas para melhorar as condições de saúde no longo prazo. Independentemente de quais sejam os posicionamentos políticos, a discussão envolve, principalmente, uma população que necessita de atendimento médico imediatamente e que não pode esperar o sistema de saúde se re-estruturar por inteiro para ser atendida. “Como médico, posso afirmar que a vinda de profissionais estrangeiros pode ‘ameaçar’ meu cargo, mas presenciando o dia a dia das pessoas que vivem em Santa Maria das Barreiras e não têm ninguém além de mim para socorrê-las, é um deslize se posicionar contra a vinda desses médicos. Erro é não ter ninguém para atender essa população”, afirma o dr. Perini.
Veja a tabela de distribuição de médicos por cada Estado do País:
tabela medicos estado
Veja a distribuição de serviços de saúde segundo população dos municípios:
tabela medicos municipios

O mistério das oscilações de Dilma no Ibope | Ricardo Kotscho

O mistério das oscilações de Dilma no Ibope | Ricardo Kotscho
O que aconteceu de tão grave no país de uma pesquisa para outra capaz de justificar as abruptas oscilações na avaliação positiva do governo de Dilma Rousseff no Ibope?
Primeiro, Dilma despencou dos 63% de ótimo e bom, que tinha antes do início das manifestaçoes de junho, para 31% em 12 de julho, sua avaliação mais baixa desde a posse.
Agora, sem que de novo algo de fantástico tenha acontecido, Dilma subiu 7 pontos na pesquisa divulgada neste sábado, chegando a 38%.
São bastante semelhantes os números do Ibope e o do Datafolha, em que Dilma apareceu com 36% de aprovação na semana passada, os dois maiores e mais respeitados institutos de pesquisa do país.
Descartada a velha teoria da conspiração, levantada por alguns leitores e analistas, de que as pesquisas são também dirigidas pelo Instituto Millenium, a onipresente entidade que congrega os barões da mídia no país em defesa da "liberdade de expressão" (deles, é claro, e contra a dos outros), resta tentar entender o mistério das abruptas oscilações de Dilma nas pesquisas.
Se o Montenegro do Ibope ou o Paulino do Datafolha, dois profissionais pelos quais tenho o maior respeito e nenhum motivo para duvidar de sua seriedade, puderem me ajudar a entender este fenômeno, eu agradeço, pois confesso que não consigo concondar com as explicações dadas pela maioria dos especialistas até agora.
A queda foi atribuída aos protestos das chamadas "Jornadas de Junho", como se a presidente Dilma tivesse sido o principal alvo daquelas manifestações, com o governo vivendo uma crise profunda, o que não é verdade.
Aquele foi um movimento difuso "contra tudo e contra todos", que atacou indistintamente partidos e políticos. Em nenhum momento, as críticas à corrupção e a reivindicação de melhores serviços públicos voltaram-se para algo como "Fora Dilma", a exemplo do que aconteceu com o ex-presidente Fernando Collor, em 1992.
E qual foi o único fato concreto resultante das manifestações que levaram milhões às ruas? Apenas a redução das tarifas de transporte coletivo, exatamente a reinvidicação inicial do Movimento Pssse Livre, que detonou os protestos.
Das medidas anunciadas pelo governo, a reforma política foi jogada às calendas pelo Congresso Nacional, com a valiosa colaboração da base aliada, e o programa "Mais Médicos" ainda nem entrou em funcionamento, e já está provocando um massacre de críticas detonadas pela mídia e pelas entidades de classe.
Não foram elas, certamente, que explicam a recuperação da avaliação do governo. O que foi então? Os principais indicadores econômicos que oscilaram dentro da margem de erro (inflação, renda, emprego, crescimento econômico), com exceção do dólar que disparou? Nada isso, a meu ver, afetou diretamente até agora a vida do cidadão eleitor ouvido pelos pesquisadores.
Em tempos recentes, capas de jornais e revistas e os porta-vozes do Millenium chegaram a comemorar duas vezes o advento de um "novo Brasil", expocando rojões e anunciando que "nada será como antes", após o julgamento do mensalão e a volta do povo às ruas. E o que de concreto mudou até agora?
Assim como tem dia que chove e tem dia que faz sol, e todo dia as marés sobem e descem, na vida de um país, como na vida de cada um de nós, há bons e maus momentos que não significam a chegada ao paraíso nem o fim do mundo _ são movimentos que se alternam, e cabe aos institutos de pesquisa e a nós jornalistas fazer o retrato do momento, relatando os fatos e tentando entender o que eles representam.
Discordo de Marcia Cavallari, do Ibope Inteligência, quando ela afirma que "os protestos diminuíram de tamanho e de alvo. A presidente não está mais no foco das manifestações (...)". Para mim, ela nunca esteve no foco e, assim como o movimento começou e assustou todo mundo, de uma hora para outra sumiu do cenário, limitando-se agora a alguns pequenos grupos com reivindicações corporativas e a arruaceiros em geral.
Cavallari também constata que "nas últimas semanas houve melhoria de vários indicadores da economia", mas se esquece de dizer que também houve piora em outros, como vemos no noiticiário todos os dias. Para melhor ou para pior, nada que justifique solavancos tão fortes da população nos seus sentimentos em relação aos rumos do país e do governo. O índice de volubilidade é muito alto.
Para mim, o mistério continua. Talvez só as próximas pesquisas possam nos dar respostas para tantas perguntas que continuam no ar e me deixam naquela difícil situação de não conseguir entender o que está acontecendo, muito menos explicar. Para tristeza de alguns colegas apocalípticos, o governo Dilma não só não acabou como está em franco processo de recuperar a sua popularidade.
Como tudo é imprevisível, façam suas apostas, senhoras e senhores. Se alguém tiver as respostas para minhas dúvidas, por favor as envie para o Balaio.
Bom final de semana a todos.

Não destruam por arrogância a relevante imagem dos médicos

Não destruam por arrogância a relevante imagem dos médicos

Não destruam por arrogância a relevante imagem dos médicos

Por Marcelo Macêdo
Comentário ao post "Não joguemos pedras nos médicos brasileiros"
Nassif,
Tenho muito respeito e gratidão aos médicos brasileiros, pois em momentos em que mais precisei de seus trabalhos, pude contar com os mesmos de forma eficaz.
Meu filho, acometido de câncer aos nove anos, hoje dentro das estatísticas dos curados - agora ele está com 19 -, fez todo o tratamento quimioterápico em minha cidade, no interior de Pernambuco. Em nenhum momento deixei de ter atenção, presteza e capacidade da equipe que cuidou dele, ao longo de 1 ano e 6 meses. Além do desafio de enfretar essa batalha e superá-la, tenho tido a mesma eficácia no tratamento que é dado a minha filha, que apresenta um atraso em seu desenvolvimento neuropsicomotor. Por essas razões, a minha estima pelos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde do país.
No entanto, conheço um outro lado da história, a dos atendimentos realizados de forma superficial, cujo resultados sempre apontam para o dignóstico de uma "virose". Atendimentos esses que ocorrem de forma super rápida, sem que o médico sequer faça algum exame físico no doente, resumindo-se a ouvir as queixas do paciente e ao preenchimento de uma ficha, com a prescrição, quase sempre, da mesma medicação. Isso sem falar das demoras intermináveis para que o enfermo seja atendido. Já enfrentei essa situação tanto em hospítais e clínicas públicas como em particulares.
Hoje, diante da celeuma em torno do programa "Mais médicos", não posso ficar do lado da categoria, por ver na atitude da maioria deles apenas uma visão corporativista, elitista que não traduz uma preocupação com as necessidades da população mais necessitada de atendimento. Já ouvi de certos médicos que seus colegas de profissão não se interessam por clinicar, preferindo ser especialistas em alguma área, porque podem obter muito mais vantagens financeiras em determinada especialidades. Isso é notório, basta que se tenha cuidado em levantar a situação a respeito desse fato, que se encontrarão exemplos que comprovam tal realidade.
Ser contra o projeto do governo federal, alegando que os médicos estrangeiros são menos capazes e que porão em risco a vida dos pacientes, não se justifica. Não são poucos os exemplos de erros cometidos por nossos médicos, quer sejam em certos procedimentos como em determinados diagnósticos. Um outro ponto que me parece relevante, é a impressão que é nos é passada por certos médicos: os mesmos só se atrevem a determinar que temos algum problema, mediante exames laboratoriais ou de outros tipos. Parece que há insegurança em alguns desses profissionais ou então é por comodismo, pois é muito mais fácil ler resultados, laudos do que, através do exame físico, apontar certos problemas dos pacientes.
Sublinho, entretanto, que não são todos os médicos que conheço que se enquadram nesse perfil, há um sem número de "doutores" que honram a sua profissão. E é em nome desses que peço aos representantes da categoria bem como aos profissionais que empunham cartazes preconceituosos e descabidos, como o que vi em um "post" anterior, que revejam sua postura, pois a mesma está colocando na berlinda toda a categoria e não somente aqueles que não têm a altivez necessária de reconhecer a necessidade da população mais carente. Não é só por nnão ter boas condições de trabalho que leva à falta de médico em certos lugares. E o pior é que esses médicos sabem disso.
Atrevo-me, pelo apreço e respeito que tenho a certos profissionais que conheço, a dar um conselho a muitos médicos brasileiros: vocês podem sair perdendo muito mais do que uma oportunidade de trabalho com essa postura, em alguns casos, injustificável, uma vez que nem assumem as vagas existentes nem querem que outros o façam. Não destruam por arrogância a relevante imagem da classe médica diante da população, respeitem o árduo que muitos, antes de vocês, construíram ao longos do tempo. Abram os olhos antes que seja tarde demais. Não há como se justificar a perda de ente da família por falta de atendimento, sejam quais forem as razões que levaram a isso. 

Vídeo: o misterioso adiamento do mensalão mineiro | Congresso em Foco

Vídeo: o misterioso adiamento do mensalão mineiro | Congresso em Foco

Vídeo: o misterioso adiamento do mensalão mineiro

Em duas sessões do ano passado, ministros ensaiaram julgar destino do processo cível do valerioduto tucano. Nenhum deles sabe explicar por que ação saiu de pauta
Um mistério ronda o Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio do ano passado, o então presidente da corte, Carlos Ayres Britto, chegou a chamar o julgamento da ação cível, aquela que permite a recuperação de recursos desviados, do mensalão mineiro, também conhecido como valerioduto tucano. Por algum motivo, que nem Ayres Britto nem os demais ministros sabem explicar, o processo saiu da pauta. E não voltou mais. Esta foi a primeira denúncia envolvendo o esquema de caixa dois do empresário Marcos Valério Fernandes com políticos a chegar ao Supremo, ainda em 2003, dois anos antes, portanto, das primeiras acusações que abalaram o governo petista, como revelou a Revista Congresso em Foco. Enquanto a ação cível contra os tucanos não sai da gaveta, o Supremo já condenou 25 réus envolvidos no esquema de desvio de dinheiro montado pelo PT e analisa agora os respectivos recursos.

Exclusivo: veja vídeo em que valerioduto tucano é adiado duas vezes pelo STF



 
O Congresso em Foco teve acesso à íntegra da transmissão das duas sessões em que o Supremo ensaiou julgar o mensalão mineiro – de acordo com o Ministério Público, um esquema de desvio de dinheiro do governo tucano de Minas Gerais em benefício da campanha eleitoral do hoje deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e do atual senador Clésio Andrade (PR-MG), que disputaram o governo estadual em 1998.
Produzido pelo site com base em imagens da TV Justiça, o vídeo acima mostra a tentativa do então presidente e relator do caso, ministro Carlos Ayres Britto, de levar a julgamento uma questão técnica para destravar o andamento da denúncia do Ministério Público, proposta em 2003 pelo então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles.
Apesar de pautado duas vezes em maio de 2012, a última antes do intervalo para um lanche, o caso não foi julgado até hoje. Duas semanas depois, em 6 de junho de 2012, o STF definiria o calendário do mensalão do PT. Ayres Britto disse que esse calendário contribuiu para adiar o valerioduto do PSDB. “Qual foi a intercorrência? O mensalão. Fizemos uma pauta temática para ganhar um pouco de tempo enquanto não viesse o julgamento do mensalão”, disse ele.
Ouvidos pela reportagem nas últimas semanas, os ministros disseram não se lembrar de eventuais conversas no cafezinho que teriam tirado o mensalão mineiro de pauta pela segunda vez.
Leia: Calendário do mensalão do PT atrapalhou caso tucano, diz Britto

Ministros em falta
O objetivo do julgamento do mensalão mineiro nem era o conteúdo da denúncia da primeira versão do valerioduto, mas apenas julgar se um caso de improbidade administrativa como aquele deveria ser analisado pela Justiça de primeira instância de Minas Gerais ou pelo próprio STF. Em 2005, o Supremo já havia decidido, na ação direta de inconstitucionalidade (Adin) 2797, que situações de improbidade deveriam ser analisadas nos estados, sem direito a foro privilegiado para deputados e senadores. Mas Eduardo Azeredo e Ruy Lage, outro réu no mensalão do PSDB, recorreram para manter o caso no Supremo.
Em 16 de maio de 2012, os ministros tinham acabado de julgar justamente recurso sobre a Adin 2797, cujas decisões determinaram que casos de improbidade deveriam correr nos estados, sem foro especial.
Ao anunciar o julgamento do recurso no mensalão mineiro cível (petição PET 3067), Ayres Britto, relator do caso, informa que o ministro Gilmar Mendes havia pedido o adiamento do caso. O motivo era a ausência de Dias Toffoli e Celso de Mello no plenário. Pela mesma lógica, também seria adiado um outro processo semelhante (PET 3030), que decidiria se mantinha no Supremo ou mandava para a primeira instância de Rondônia uma ação de improbidade contra políticos locais.
“Por que não julgar?”
Inicialmente, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio questionam o motivo de adiar o mensalão mineiro e o outro processo. O atual presidente do STF lembra que, pouco antes, haviam acabado de julgar uma Adin sobre o mesmo tema com a ausência de ministros.
“Se nós julgamos o mais importante, por que não podemos julgar o agravo regimental [no mensalão mineiro]?”, questionou Joaquim. “É consequência do que ficou acertado ainda há pouco”, continuou.
Ricardo Lewandowski é um dos que defendem o adiamento para a semana seguinte, quando o plenário estivesse completo. Ayres Britto se diz, então, pronto para julgar o valerioduto do PSDB, mas consulta o plenário. Joaquim Barbosa desiste da tese e apoia a postergação do caso, mas Marco Aurélio mantém-se contra. “Há quórum até para matéria de maior envergadura [Adin]”, reclamou. O caso é adiado para 23 de maio de 2012.
Voto longo
Naquela data, os ministros julgam o outro caso de improbidade administrativa, a PET 3030. Como era de se esperar, mandam o processo para a primeira instância de origem. Chega a vez de julgar a PET 3067 e Ayres Britto anuncia seu voto. “Mas é um voto longo. Faço o pregão propriamente dito quando do retorno”, disse ele. Os ministros vão para o lanche.
Entretanto, o presidente volta do intervalo e não chama o processo. Procurado pela Revista Congresso em Foco, o hoje ex-ministro diz que provavelmente não teve condições de pautar o processo na volta do intervalo. “É porque eu não obtive condições de colocar [em votação]”. “Sou uma pessoa atenciosa, eu converso com os ministros, ninguém vai me negar essa qualidade de buscar a todo instante o consenso”, disse ele.
O voto de Britto fora feito em 2005, determinando a remessa da papelada do mensalão mineiro para a Justiça de primeira instância de Minas Gerais. O ex-ministro é um conhecido opositor do foro privilegiado. O caso agora está com o ministro Roberto Barroso, que ainda não estudou o processo porque, segundo sua assessoria, está concentrado nos embargos de declaração do mensalão do PT.
Os mensalões
No caso do PT, o Supremo condenou réus por esquema que desviou dinheiro público e privado para a compra de apoio político de deputados durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula por meio do empresário Marcos Valério e dos bancos Rural e BMG entre 2002 e 2004. O esquema, segundo a PGR e o STF, era chefiado pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
No caso do PSDB, o Ministério Público abriu três ações no STF por esquema de desvio de dinheiro do governo de Minas Gerais em benefício da campanha eleitoral do hoje deputado Eduardo Azeredo e do atual senador Clésio Andrade, que disputaram o governo estadual em 1998. Os valores foram repassados, segundo a denúncia, por patrocínios operados pela agência de publicidade de Marcos Valério.

domingo, 25 de agosto de 2013

Folha de S.Paulo - Poder - Na hora dos recursos - 25/08/2013

Folha de S.Paulo - Poder - Na hora dos recursos - 25/08/2013
Janio de Freitas
Na hora dos recursos
Se o 'recurso declaratório' corrige contradições no acórdão, ele é sim capaz de mudar sentenças
O julgamento do mensalão é tão rico, em significações e em contestações a ideias estabelecidas, que resulta em uma torrente de temas exploráveis inexplorados.
Antes de sua sessão mais recente, o ministro Gilmar Mendes, por exemplo, ensinava à opinião pública, por meio dos repórteres, que os chamados "recursos infringentes" das defesas, teoricamente capazes de modificar as penas fixadas, não passam de "gasto inútil de energia", coisa para ganhar tempo. A sessão do julgamento ainda seria dedicada, porém, ao exame dos recursos mais superficiais, chamados "de declaração".
Sobre estes, o ensinamento repetido exaustivamente por ministros e pela imprensa é sua capacidade de apenas corrigir contradições, omissões e imprecisões no acórdão, que reúne em sua forma final os votos de cada ministro e as sentenças de cada réu. E então, chegada a vez do "recurso declaratório" do corretor Enivaldo Quadrado, evidenciam-se erros na sentença que o condenou a três anos e seis meses de prisão. Consequência? Com o voto até do relator Joaquim Barbosa, a pena de prisão foi reduzida a multa e pequeno serviço comunitário.
Com o voto também de Gilmar Mendes. Se lhe custou alguma energia, sua fisionomia não o mostrou, conservada no permanente "ritus" de tédio e perda de tempo. Mas lá estava a correção não só de uma sentença de cadeia. Muito ao contrário do propalado à exaustão, ficou demonstrada a obviedade de que "recurso declaratório", se corrige contradições no acórdão, é capaz de mudar sentenças.
Condenação por erro de julgamento é talvez o mais triste ato possível no interior de instituições democráticas. Mesmo que o exame dos "recursos declaratórios" concluísse com o único benefício da extinta pena de cadeia de um réu, estariam justificados o cansaço, as tensões, os dias de trabalho dos ministros com esses recursos. O Supremo Tribunal Federal deixou de cometer o erro de uma injustiça. Como só os recursos o permitem.
Outro tema suscitado no julgamento: está difundida a conclusão de que a lerdeza da Justiça brasileira decorre do excesso de recursos possíveis. Acusam-se os advogados de usá-los com objetivo protelatório. O ministro Luís Roberto Barroso, em sua primeira sessão dedicada ao mensalão, investiu contra as numerosas possibilidades de recursos judiciais no Brasil. E sugeriu que, ao deduzir o objetivo protelatório de um recurso, o juiz devesse simplesmente dar a ação por encerrada.
Ainda bem que Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Luiz Fux puderam acusar à vontade os advogados do mensalão de fazer recursos só para ganhar tempo, mas não puderam encerrar o julgamento sem os apreciar. Salvaram-se um réu da prisão injusta e o Supremo de um erro.
A realidade é que não há certeza sobre a causa da lentidão. Por que não seria, em vez do excesso de recursos, a lentidão burocrática por uso de sistemas superados? Ou a insuficiência dos recursos humanos em relação à demanda de um país de quase 200 milhões de habitantes e com uma carência de condutas corretas entre as maiores do mundo? Ou causas distintas conforme o nível ou a região?
Uma constatação inquestionável: quando o Conselho Nacional de Justiça apertou os tribunais, no país todo, para reduzir os respectivos milhares de processos em atraso ou estagnados, muitas montanhas de papel desapareceram. Números recentes indicam resultados bastante bons do esforço, embora ainda falte muito, como ocorre no montanhoso São Paulo. A redução da ineficiência não dependeu de se reduzirem os recursos de defesa ou qualquer providência diferente da presteza. Ela própria, outro recurso que no Judiciário, está comprovado, ajuda a fazer justiça.

sábado, 24 de agosto de 2013

Prêmio Empreendedor Social - Notícias - Inimiga nº1 dos transgênicos, física indiana denuncia ditadura da indústria alimentícia - 24/08/2013

Prêmio Empreendedor Social - Notícias - Inimiga nº1 dos transgênicos, física indiana denuncia ditadura da indústria alimentícia - 24/08/2013
TATIANE RIBEIRO
ENVIADA ESPECIAL A BOTUCATU
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
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Considerada a inimiga número um da indústria de transgênicos, a física e ativista indiana Vandana Shiva afirma que há uma ditadura do alimento, onde poucas e grandes corporações controlam toda a cadeia produtiva. E dá nome aos bois: Nestlé, Cargil, Monsanto, Pepsico e Walmart.
"Essas empresas querem se apropriar da alimentação humana e da evolução das sementes, que são um patrimônio da humanidade e resultado de milhões de anos de evolução das espécies", diz.
Crítica feroz à biopirataria, Shiva ressalta que a única maneira de combater o controle sobre a alimentação é o ativismo individual na hora de consumir produtos mais saudáveis e de melhor qualidade.
Leia os principais trechos da exclusiva à Folha durante o 3º Encontro Internacional de Agroecologia, em Botucatu.
É possível alimentar o planeta sem usar transgênicos?
O único modo de alimentar o mundo é livrando-se das sementes transgênicas. Essas sementes não produzem alimentos, mas produtos industrializados. Como isso poderia ser a solução para fome? Só estão criando mais controle sobre as sementes. Desde 1995, quando as corporações obtiveram o direito de controlar as sementes, 284 mil fazendeiros cometeram suicídio na Índia. Nós perdemos 15 milhões de agricultores por causa de um design de produção agrária criado para acabar com a agricultura familiar.
Como mudar a alimentação do modelo agroindustrial para outro baseado na produção familiar e na distribuição local?
As pequenas fazendas produzem 80% dos alimentos comidos no mundo. As indústrias produzem commodities. Apenas 10% dos grãos de milho e soja são comidos por pessoas; o resto é 'comido' pelos carros, como biocombustíveis, e por animais. É possível elevar esses 80% para 100% protegendo a biodiversidade, a terra, os fazendeiros e a saúde pública. É apenas por meio da agroecologia que a produtividade agrícola pode aumentar.
Como as grandes corporações dominam a cadeia mundial de alimentos?
Se você olha para as quatro faces que determinam nossa comida, são todas controladas por grandes corporações. As sementes são controladas pela Monsanto por meio dos transgênicos; o comércio internacional é controlado por cinco empresas gigantes; o processamento é controlado por outras cinco, como a Nestlé e a PepsiCo; e o varejo está nas mãos de gigantes como o Walmart, que gosta de tirar o varejo dos pequenos comércios comunitários e com conexões muito diretas entre os produtores de comida e os consumidores. São correntes longas e invisíveis, onde 50% dos alimentos são perdidos.
Temos sim uma ditadura do alimento. A razão que eu viajei todo esse caminho até o Brasil é porque eu sou totalmente a favor da liberdade alimentícia, porque uma ditadura do alimento não é só uma ditadura. É o fim da vida.
Como as corporações chegaram a esse domínio?
Infelizmente, o chamado livre comércio trouxe a liberdade para as corporações, mas não para as pessoas. As corporações estão escrevendo as regras e se tornando os governantes.
Os direitos intelectuais acordados entre as organizações mundiais foram escritos pela Monsanto. Para eles, o problema era que os fazendeiros estavam guardando as sementes. E a solução que ofereceram foi dizer que guardar as sementes agora é um crime de propriedade intelectual. É isso o que dizem as regras da OMC. A Índia, o Brasil, a América Latina e a África deveriam dizer: 'Você não pode patentear a vida porque a vida não foi inventada. Pare com a biopirataria'.
Até agora, a revisão dessas regras não foi permitida, o que mostra que essas corporações ditam as regras. E não é apenas na OMC. A Monsanto escreveu o ato de proteção para o orçamento nos EUA. O vice-presidente da Cargill foi designado para escrever a lei de comércio e agricultura dos EUA.





É possível modificar esse cenário?
A única maneira de reverter essa situação é cada pessoa fazer seu papel de recuperar a liberdade e a democracia do alimento. Afinal, cada um de nós come duas ou três vezes ao dia. E o que nós comemos decide quem somos, se nosso cérebro está funcionando corretamente, ou nosso metabolismo está saudável ou, se por conta de micronutrientes, estamos nos tornando obesos. Isso afeta todo mundo: os mais pobres porque lhes foi negado o direito à comida; mas até os que podem comer porque não estão comendo comida. Chamo isso de anticomida, porque a comida deveria nos nutrir. A comida mortal que as corporações estão trazendo para nós destrói a capacidade da comida de nos nutrir e no lugar disso está nos causando doenças.
Cada um de nós deve se tornar um forte ativista da liberdade da comida e das sementes no nosso dia a dia. O que significa que temos que apoiar mais os fazendeiros e a agroecologia. Devemos ser comprometidos com a alimentação saudável.
Qual a importância do Brasil nesse jogo?
O Brasil tem um papel muito importante. De um lado, está uma agricultura altamente destrutiva e irresponsável, mantida pelas corporações, levando transgênicos, produtos químicos e piorando a fome. Do outro lado, está o modelo agroecológico, caracterizado pela diversidade, conhecimento popular, o melhor da ciência, e levando efetivamente comida às pessoas. Essa disputa está ocorrendo justamente aqui, no Brasil.
Provavelmente, o Brasil tem a maior proporção de diversidade de alimentos em sua agricultura. No entanto, a maior parte não é usada para a alimentação humana. Por exemplo, as plantações de cana-de-açúcar e soja vão para a alimentação de animais e para fabricação de combustíveis.
O Brasil é parte do que eles chamam de Brics. Eu não gosto de 'tijolos'. Eu prefiro plantas. Mas é um forte jogador na cena global, e os jogadores vão decidir como os outros jogam.
Qual o papel da sociedade urbana em relação à agricultura familiar?
É muito feliz. Não porque eu acredito que as áreas urbanas têm mais riqueza e mais poder, mas porque, por terem mais riqueza, têm mais responsabilidade. E porque eles controlam a tomada de decisões, tanto em termos de governamentais como a sua própria atitude em termos de consumo. Se eles mudassem sua postura de consumo para longe das corporações, comprando, sim, alimentos dos pequenos produtores, eles ajudariam não apenas o agricultor familiar, mas também ajudariam a Terra e seus próprios corpos.
Recentemente o presidente da Nestlé afirmou que é necessário privatizar o fornecimento da água. Quais as consequências desse processo?
Tudo que é essencial à vida desde o começo da história, em todas as culturas, tem sido reconhecido como pertencente à sociedade. E isso inclui a semente, porque a semente é a base da comida, inclui a água porque água é vida. E são esses recursos que essas corporações gigantes querem enclausurar. Essas são as novas inclusões comerciais. Assim como na Inglaterra, eles enclausuraram a terra, e a tiraram dos camponeses para terem a revolução industrial.
Hoje, as corporações gigantes estão assumindo os bens comuns que são as sementes, a biodiversidade, a água. Quando a Nestlé diz que é necessário privatizar a água, eles estão, obviamente, pensando na necessidade de aumentar os lucros deles. Eles não estão pensando na necessidade dos aquíferos de serem sustentados e recarregados, porque corporações somente podem construir uma economia extrativa. Se eles privatizam a água, eles vão somente tirar a água para eles, o que significa que as comunidades locais são deixadas sem água. Então é um assalto.
As Nações Unidas têm de reconhecer que o direito à água é um direito humano. A Coca-Cola agora quer entrar no meu vale, um vale lindo no Himalaia, chamado Dune Valey. Em maio nós iniciamos uma campanha porque a privatização da água por essas empresas de engarrafamento significa, primeiro, que o direito universal à água é destruído. O aquífero, que pertence a todos, está agora engarrafado numa garrafa de 10 rupis que pode é acessível só aos ricos. Os pobres bebem apenas água contaminada.
A segunda coisa é que ela destrói água, e eu não sei por quanto tempo essa mineração poderá aguentar. A terceira é que ela polui. Sobram poucas fontes de águas puras, e, se eles realmente se importassem, deveriam limpar o pouco que sobra, ao invés de roubar o que resta limpo. Isto é roubo de água e, portanto, um crime contra a humanidade.
Essa dependência da Coca-Cola é um dos vícios da vida moderna. Nós temos muito mais bebidas saudáveis.
Na Índia, começamos uma campanha para as avós ensinassem aos seus netos as bebidas geladas que elas costumavam fazer. Somos um país tropical, sabemos como transformar qualquer fruta em uma bebida saborosa: um suco de manga crua, que é ótimo para prevenir insolação, uma mistura maravilhosa de sete grãos, que é como uma refeição completa e, se tomada no café da manhã, você não precisa de mais nada. As bebidas venenosas que são vendidas pela Nestlé e pela Coca-Cola roubam o nosso dinheiro, a nossa água e a nossa cultura.
Qual é a forma alternativa à globalização?
Originalmente, o livre comércio deveria reconhecer a liberdade de todas as espécies e por isso não destruiria nenhuma espécie nem ecossistema. Originalmente, o livre comércio reconheceria os direitos dos camponeses e dos povos indígenas e, por isso, não iria cortar as raízes. Reconheceria também os direitos dos pequenos agricultores familiares e iria cuidar para que existam preços justos, ao invés de tentar debilitar o preço por meio de dumping e jogando fora os produtos.
Um verdadeiro livre comércio seria a liberdade para as pessoas e não a liberdade para as corporações. O que nós temos agora é uma corporatização global com uma negligência total, uma destruição negligente e desatenta. O que precisamos é uma consciência livre que esteja profundamente ciente de nossa interconexão com outras espécies, outras culturas e com toda a humanidade. Temos que ser conscientes do dano que fazemos aos outros. Dessa forma, não vamos incrementar o tamanho de nossa pisada ecológica, mas vamos a reduzi-la.
E, na alimentação, a única forma em que você pode reduzir sua pisada é de mudar de agroindústria para agroecologia, mudar da distribuição global para distribuição local, mudar de um sistema violento, que depende do governo corporativo, para um sistema pacífico, que depende da comunidade e da solidariedade. No momento em que mudamos para isso, a pisada se reduz. Podemos ir do industrial e global para ecológico e local.
Como acelerar o processo de alinhamento entre os vários movimentos para um estilo de vida mais sustentável?
Agroecologistas, camponeses e agricultores familiares são, na minha opinião, os maiores, protetores do planeta. É o momento de os movimentos ecológicos perceberem que os verdadeiros ambientalistas são os agricultores, que realmente reconstroem o solo, que fazem o cultivo de uma forma que os besouros não sejam mortos, que protegem a água.
E o movimento pela saúde tem que perceber que os agricultores são os médicos, que fazer crescer comida saudável é a melhor contribuição que podemos fazer. No momento em que fazemos essas conexões, existe uma nova vida, porque a vida cresce por meio de inter-relações.

Folha de S.Paulo - Cotidiano - País forma milhares de médicos por mês como produto de exportação - 23/08/2013

Folha de S.Paulo - Cotidiano - País forma milhares de médicos por mês como produto de exportação - 23/08/2013
MARCELO LEITE DE SÃO PAULO
Cuba consegue exportar milhares de médicos de uma só vez porque montou uma linha de produção em série. Com 11 milhões de habitantes, o país formou em julho passado 10.526 graduados em medicina, dos quais quase a metade (4.843) é de outros países.
O regime castrista se orgulha por suas realizações na área de saúde pública, como uma taxa de mortalidade infantil (4,76 por mil nascidos vivos) menor que a dos EUA (5,9). Desde 1959, a Revolução Cubana produziu 124.789 médicos para obter avanços na área, que se baseiam na atenção básica de saúde (prevenção de doenças).
O número de formandos quase dobrou de 2011 para 2012 graças à Escola Latino-Americana de Medicina, cujo lema é "Forjando um Exército de Aventais Brancos". Mais do que nunca, profissionais de saúde se tornaram um item prioritário na política externa de Cuba.
A iniciativa do governo Dilma Rousseff, nesse sentido, parece destinada a transformar o Brasil numa pequena Venezuela. A República Bolivariana de Hugo Chávez e Nicolás Maduro abriga 31 mil médicos cubanos, pelos quais retribui com o envio de 100 mil barris de petróleo por dia --que a revista "Foreign Affairs" calculou custarem uns US$ 3 bilhões por ano.
Mesmo descontando os 3.815 latino-americanos graduados na ilha em 2012, ainda sobraram novos 6.724 médicos cubanos. Não é de estranhar, nesse ritmo, que Cuba seja vice-campeã na lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) de médicos por grupo de mil habitantes. Tem 6,72/1.000 e só perde para Mônaco (7,06/1.000).
Mesmo para um sistema fundado em uso intensivo de mão de obra e não de tecnologia, é médico que não acaba mais. Uma conclusão óbvia é que deve ser relativamente fácil entrar numa escola de medicina em Cuba.
Com uma seleção menos elitizada de estudantes, pode-se presumir que o nível acadêmico médio dos cubanos fique aquém do que se encontra em países como o Brasil, onde a malha da peneira é bem mais apertada.
Isso quer dizer que os médicos cubanos são mal formados, ruins ou incompetentes? Não necessariamente. Na medicina preventiva, sua especialidade, é possível que se revelem até mais eficientes que os do Brasil, cuja medicina tem outras prioridades.