tag:blogger.com,1999:blog-62792712006085413692024-02-19T08:50:44.411-08:00Pensar Londrina CIVILIZAÇÃO OU BARBÁRIE É QUESTÃO DE OPÇÃO!Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.comBlogger4069125tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-39740784763502256582021-06-20T17:22:00.005-07:002021-06-20T17:22:44.144-07:00Bolsonarismo vicia<p> </p><p><strong>Milhões sorvem a torpeza bolsonarista como quem degusta um cálice de absinto</strong></p><p><strong>Eugênio Bucci <br /></strong></p>
<p>Em abril do ano passado, em artigo publicado na revista piauí (edição
163), Uma esfinge na presidência, o cientista político Miguel Lago
propôs uma chave intrigante para interpretar o bolsonarismo. Segundo o
autor, quanto maior e mais conflagrado for o confronto nas redes
sociais, mais sustentação terá o presidente da República – e quanto mais
baixo descer a reputação do governante, mais alto soará o alarido
daqueles que o sustentam. Miguel Lago previu que a bandeira do
impeachment não iria minar as bases de apoio de Bolsonaro; ao contrário,
ajudaria a solidificá-las. Previu e acertou. A força política de Jair
Bolsonaro tornou-se tanto mais determinada, embora minoritária, quanto
pior ficou sua imagem perante a opinião pública minimamente esclarecida.</p>
<p>A explicação para essa modalidade pútrida de “quanto pior, melhor”
vem da dinâmica peculiar das mídias sociais. As compactações das
multidões virtuais seguem leis que pouco ou nada têm que ver com a
política dita convencional. Enquanto na cartilha dos politólogos as
alianças políticas resultam da negociação de interesses e se formalizam
em programas propositivos, nos algoritmos das plataformas sociais tudo
acontece de ponta-cabeça: o que rende audiência, empolgação e adesão não
é o que pacifica, mas o que choca, ofende, escarnece – daí o sucesso
das agressões, das manifestações de ódio e da infâmia. Se nos sindicatos
ou nos partidos políticos o que reúne as pessoas são os acordos mais ou
menos racionais, na internet o que as congrega é o êxtase de insultar e
ultrajar um inimigo real ou imaginário, num fragor que não tem parte
com a razão.</p>
<p>Quanto mais desaforado for, quanto mais animalesco e mais boçal, mais
amado será o líder ciberpopulista – para usar aqui o conceito que
Andrés Bruzzone apresenta no livro Ciberpopulismo: democracia e política
no mundo digital, lançado no mês passado pela Editora Contexto. Quanto
mais asqueroso e mais contrário aos bons modos, mais festejado. Essa é a
receita seguida pelo presidente da República. As falanges virtuais o
aclamam não apesar de sua falta de boas maneiras, mas justamente por
causa delas. Quanto mais desclassificado ele for, mais idolatrado será.</p>
<p>Se levarmos essa perspectiva analítica um pouco mais longe, além
daquilo que sustentam Miguel Lago ou Andrés Bruzzone, veremos que há um
nexo nervoso, neuronal, entre a vileza dos discursos da extrema direita
antidemocrática e o prazer das massas. Milhões de anônimos, encolhidos
em suas misérias afetivas, sorvem a torpeza bolsonarista como quem
degusta um cálice de absinto. Vão se entorpecendo de fluxos de gozo.
Esses infelizes, tomados pela paixão da raiva e da intolerância,
encontram nas barbaridades proferidas e alardeadas pelo fascismo de
silício uma satisfação libidinal equivalente à que vai buscar nos sites
pornográficos ou nos jogos online, que sabidamente exploram a
dependência psíquica do freguês.</p>
<p>O caráter viciante das atrações da internet não é uma novidade. Em
artigo para a edição 96 da revista Estudos Avançados (IEA-USP), em 2019,
os professores Ricardo Abramovay e Rafael Zanata documentaram
fartamente como as empresas de tecnologia administram suas
funcionalidades para “gerar adição”. No ano passado, o filme O Dilema
das Redes trouxe depoimentos de altos executivos da indústria
confirmando a estratégia de causar dependência. A propósito, um deles
lembra que o termo “usuário” só é utilizado para designar o consumidor
de drogas e o frequentador das redes sociais, como a dizer que os
traficantes e os gigantes da internet lucram com o mesmo negócio: o
vício. E foi nesse negócio que o trumpismo e o bolsonarismo se deram
muito bem, obrigado.</p>
<p>Quando confessa que veio para destruir, Bolsonaro diz a verdade. Ele é
o herói da devastação, o ídolo dos que culpam o “sistema” por seus
infortúnios pessoais. As almas viciadas na bestialogia querem varrer do
mapa o saber científico, a imprensa crítica e as artes, pois essas
instituições fazem doer, de forma humilhante, a ferida da ignorância
bruta. Os adictos do bolsonarismo querem banir os jornalistas com a
mesma sanguinolência com que os homofóbicos assassinam gays e os
machistas espancam o feminismo, com a mesma tara mortífera com que os
racistas proclamam que o Brasil é uma “democracia” racial. O ódio contra
o tal “sistema” – que no fundo é o que nos resta de civilização – leva o
sujeito a exterminar a própria liberdade para se entregar à tirania. Só
aí deixará de padecer. A visão da beleza é insuportável para ele.</p>
<p>As massas dependentes no ciberbolsonarismo são descendentes diretas
dos espectadores do circo romano, em que gladiadores e feras se retalham
reciprocamente. O frêmito que experimentam é o mesmo. Apontando o
polegar para o chão, plateia do horror, de ontem e de hoje, se imagina
admitida na arena dos assuntos de Estado. A política vai se reduzindo à
celebração gozosa dos linchamentos físicos e morais. Ser cidadão é
esquartejar o outro. Por prazer. Esse vício vai nos matar a todos de
overdose.</p>
<p><em><strong>*</strong>Jornalista, é professor da ECA-USP</em></p>
<p><strong>Fonte:</strong> </p><p>O Estado de S. Paulo</p>
<p><a href="https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,bolsonarismo-vicia,70003749335" rel="noopener" target="_blank">https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,bolsonarismo-vicia,70003749335</a></p>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-79900773531405932452021-06-13T14:49:00.003-07:002021-06-13T14:58:20.137-07:00A brasilianização do mundo<p style="text-align: justify;"> </p><header class="content-header row" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; box-sizing: inherit; color: black; display: block; font-family: savoyregular, Georgia, serif; font-size: 20px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin-left: auto; margin-right: auto; margin-top: 1.5rem; max-width: 60rem; orphans: 2; padding-bottom: 1.5rem; position: relative; text-align: center; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><h1 class="content-title column medium-10 large-8 small-centered" style="box-sizing: inherit; clear: both; color: inherit; float: none; font-family: savoybold, Georgia, serif; font-size: 2.5rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px auto; padding: 0px 0.75rem; text-align: justify; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px; width: 800px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A brasilianização do mundo</span></span></h1><div class="content-meta column large-9 large-centered" style="box-sizing: inherit; clear: both; float: none; margin: 0px auto; padding: 0px 0.75rem; transform-origin: 0px 0px 0px; width: 900px;"><span class="content-author" style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; text-transform: lowercase; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">por<span> </span></span></span><a class="author url fn" href="https://americanaffairsjournal.org/author/alex-hochuli/" rel="author" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; font-family: savoyregular, Georgia, serif; line-height: inherit; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px;" title="Postagens de Alex Hochuli"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Alex Hochuli</span></span></a></span></div></header><div class="row sharing-bar-row" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; box-sizing: inherit; color: black; font-family: savoyregular, Georgia, serif; font-size: 20px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 0px auto; max-width: 60rem; orphans: 2; padding: 0px; position: relative; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: normal; widows: 2; word-spacing: 0px;"><div id="sharing-bar-top" style="box-sizing: inherit; display: block; margin: 0px; padding: 0px; position: absolute; right: 0.5rem; top: 1rem; transform-origin: 0px 0px 0px;"><div class="addthis_inline_share_toolbox_lcwu addthis_tool" data-description="The West’s involution finds its mirror image in the original country of the future, the nation doomed forever to remain the country of the future, the one that never reaches its destination: Brazil. The Brazilianization of the world is our encounter with a future denied, and in which this frustration has become constitutive of our social reality. While the closing of historical horizons has often been a leftist, indeed Marxist, concern, the sense that things don’t work as they should is now widely shared across the political spectrum. Welcome to Brazil. Here the only people satisfied with their situation are financial elites and venal politicians. Everyone complains, but everyone shrugs their shoulders. This slow degradation of society is not so much a runaway train, but more of a jittery rollercoaster, occasionally holding out promise of ascent, yet never breaking free from the tracks. We always come back to where we started, shaken and disoriented, haunted by what might have been..." data-title="The Brazilianization of the World - American Affairs Journal" data-url="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/" style="box-sizing: inherit; clear: both; margin: 0px; padding: 0px; transform-origin: 0px 0px 0px;"><div aria-labelledby="at-85614255-8667-471e-a291-a63a478d1c5d" class="at-share-tbx-element addthis-smartlayers addthis-animated at4-show" id="atstbx" role="region" style="animation-duration: 0.3s; animation-fill-mode: both; animation-timing-function: ease-out; box-sizing: inherit; color: white; display: block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; font-size: 0px; line-height: 0; margin: 0px; opacity: 1; padding: 0px; position: relative; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="at4-visually-hidden" id="at-85614255-8667-471e-a291-a63a478d1c5d" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><div class="at-share-btn-elements" style="box-sizing: inherit; margin: 0px; padding: 0px; transform-origin: 0px 0px 0px;"><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-facebook" role="button" style="background-color: #3b5998; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 5px 5px 0px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-facebook-1" class="at-icon at-icon-facebook" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M22 5.16c-.406-.054-1.806-.16-3.43-.16-3.4 0-5.733 1.825-5.733 5.17v2.882H9v3.913h3.837V27h4.604V16.965h3.823l.587-3.913h-4.41v-2.5c0-1.123.347-1.903 2.198-1.903H22V5.16z" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-twitter" role="button" style="background-color: #1da1f2; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 5px 5px 0px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-twitter-2" class="at-icon at-icon-twitter" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M27.996 10.116c-.81.36-1.68.602-2.592.71a4.526 4.526 0 0 0 1.984-2.496 9.037 9.037 0 0 1-2.866 1.095 4.513 4.513 0 0 0-7.69 4.116 12.81 12.81 0 0 1-9.3-4.715 4.49 4.49 0 0 0-.612 2.27 4.51 4.51 0 0 0 2.008 3.755 4.495 4.495 0 0 1-2.044-.564v.057a4.515 4.515 0 0 0 3.62 4.425 4.52 4.52 0 0 1-2.04.077 4.517 4.517 0 0 0 4.217 3.134 9.055 9.055 0 0 1-5.604 1.93A9.18 9.18 0 0 1 6 23.85a12.773 12.773 0 0 0 6.918 2.027c8.3 0 12.84-6.876 12.84-12.84 0-.195-.005-.39-.014-.583a9.172 9.172 0 0 0 2.252-2.336" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-email" role="button" style="background-color: #848484; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 5px 5px 0px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-email-3" class="at-icon at-icon-email" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><g fill-rule="evenodd"></g><path d="M27 22.757c0 1.24-.988 2.243-2.19 2.243H7.19C5.98 25 5 23.994 5 22.757V13.67c0-.556.39-.773.855-.496l8.78 5.238c.782.467 1.95.467 2.73 0l8.78-5.238c.472-.28.855-.063.855.495v9.087z"></path><path d="M27 9.243C27 8.006 26.02 7 24.81 7H7.19C5.988 7 5 8.004 5 9.243v.465c0 .554.385 1.232.857 1.514l9.61 5.733c.267.16.8.16 1.067 0l9.61-5.733c.473-.283.856-.96.856-1.514v-.465z"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-linkedin" role="button" style="background-color: #0077b5; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 5px 5px 0px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-linkedin-4" class="at-icon at-icon-linkedin" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M26 25.963h-4.185v-6.55c0-1.56-.027-3.57-2.175-3.57-2.18 0-2.51 1.7-2.51 3.46v6.66h-4.182V12.495h4.012v1.84h.058c.558-1.058 1.924-2.174 3.96-2.174 4.24 0 5.022 2.79 5.022 6.417v7.386zM8.23 10.655a2.426 2.426 0 0 1 0-4.855 2.427 2.427 0 0 1 0 4.855zm-2.098 1.84h4.19v13.468h-4.19V12.495z" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-print" role="button" style="background-color: #738a8d; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 5px 5px 0px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-print-5" class="at-icon at-icon-print" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M24.67 10.62h-2.86V7.49H10.82v3.12H7.95c-.5 0-.9.4-.9.9v7.66h3.77v1.31L15 24.66h6.81v-5.44h3.77v-7.7c-.01-.5-.41-.9-.91-.9zM11.88 8.56h8.86v2.06h-8.86V8.56zm10.98 9.18h-1.05v-2.1h-1.06v7.96H16.4c-1.58 0-.82-3.74-.82-3.74s-3.65.89-3.69-.78v-3.43h-1.06v2.06H9.77v-3.58h13.09v3.61zm.75-4.91c-.4 0-.72-.32-.72-.72s.32-.72.72-.72c.4 0 .72.32.72.72s-.32.72-.72.72zm-4.12 2.96h-6.1v1.06h6.1v-1.06zm-6.11 3.15h6.1v-1.06h-6.1v1.06z"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-compact" role="button" style="background-color: #ff6550; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 5px 5px 0px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-addthis-6" class="at-icon at-icon-addthis" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M18 14V8h-4v6H8v4h6v6h4v-6h6v-4h-6z" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a></div></div></div></div></div><div class="article-sections-sidebar-wrapper row column" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; box-sizing: inherit; color: black; float: none; font-family: savoyregular, Georgia, serif; font-size: 20px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin: 4rem auto 0px; max-width: 60rem; orphans: 2; padding: 0px 0.75rem; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-decoration-thickness: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: normal; widows: 2; width: 1200px; word-spacing: 0px;"><div class="content-main clearfix" style="box-sizing: inherit; margin: 0px; padding: 0px; position: relative; transform-origin: 0px 0px 0px;"><blockquote style="border-left: 0px none; box-sizing: inherit; color: black; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px 1rem 0px 4rem; transform-origin: 0px 0px 0px;"><p style="box-sizing: inherit; color: black; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: left; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A periferia é onde o futuro se revela.</span></span><br style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;" /></i><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"> atribuída a JG Ballard por Mark Fisher</span></span></i></p></blockquote><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="dropcap" style="box-sizing: inherit; display: block; float: left; font-size: 5.5rem; line-height: 1; margin: -0.15rem 0.25rem -0.75rem 0px; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">"EU</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">não poderia acontecer aqui. ”<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Supõe-se que as pandemias e outras ameaças à segurança da saúde sejam problemas no hemisfério sul.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas as deficiências que os estados ocidentais enfrentaram para desenvolver e executar planos coerentes, coordenar agências estaduais, comunicar-se com o público ou mesmo apenas produzir e armazenar equipamento médico e farmacêutico suficiente (para não falar da escandalosa distribuição de vacinas da UE), destacaram a falha do estado no coração do capitalismo global.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Capacidades estatais esvaziadas, confusão política, clientelismo, pensamento conspiratório e déficits de confiança expuseram a legitimidade decadente que agora faz com que Estados ricos e poderosos pareçam repúblicas de bananas.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ao pesquisar as classificações de prontidão para pandemia antes do ataque da Covid-19<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, como</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>o Índice de Segurança Global ou o<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Índice de</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Preparação para Epidemias,<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">constatamos que os Estados Unidos e o Reino Unido eram supostamente os dois países mais bem preparados, com os países da UE também bem classificados .<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esses eram estados que achavam que<span> </span></span></span><a href="https://discoversociety.org/2020/05/14/it-could-happen-here/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">nada</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>tinham<span> </span></span><a href="https://discoversociety.org/2020/05/14/it-could-happen-here/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">a aprender com as experiências anteriores</span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>de países como Brasil, China, Libéria, Serra Leoa ou República Democrática do Congo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">E embora os países que administraram bem a pandemia sejam poucos e distantes entre si, o fracasso do Estado no coração do capitalismo ocidental acaba com qualquer noção complacente sobre o Fim da História e a primazia de um modelo sobre o outro.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Todos nós aparentemente vivemos em “países menos desenvolvidos” agora.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A realidade é que o século<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">XX - com</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>suas máquinas de estado confiantes, forjadas na guerra, aplicando-se para determinar<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">resultados</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>sociais<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">-</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>acabou.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O mesmo ocorre com suas outras características: conflito político organizado entre esquerda e direita, ou entre a social-democracia e a democracia cristã;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">competição entre forças universalistas e seculares levando à modernização cultural;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">a integração das massas trabalhadoras à nação por meio de empregos formais e razoavelmente pagos;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">e crescimento rápido e compartilhado.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Agora nos encontramos no<span> </span></span></span><a href="http://bungacast.com/book" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Fim do Fim da História</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ao contrário dos anos 1990 e 2000, hoje muitos estão bem cientes de que as coisas não estão bem.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Estamos sobrecarregados, como escreveu o falecido teórico cultural Mark Fisher, pelo “lento cancelamento do futuro”, de um futuro prometido mas não entregue, da involução no lugar da progressão.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A involução do Ocidente encontra sua imagem espelhada no país originário do futuro, a nação condenada para sempre a ser o país do futuro, aquele que nunca chega ao seu destino: o Brasil.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A brasilianização do mundo é o nosso encontro com um futuro negado, e no qual essa frustração se tornou constitutiva de nossa realidade social.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Embora o fechamento de horizontes históricos muitas vezes tenha sido uma preocupação esquerdista, na verdade marxista, a sensação de que as coisas não funcionam como deveriam agora é amplamente compartilhada por todo o espectro político.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Bem vindo ao Brasil.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Aqui, as únicas pessoas satisfeitas com sua situação são as elites financeiras e os políticos venais.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Todos reclamam, mas todos dão de ombros.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esta lenta degradação da sociedade não é tanto um trem desgovernado, mas mais uma montanha-russa agitada, ocasionalmente oferecendo a promessa de ascensão, mas nunca se libertando dos trilhos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Sempre voltamos ao ponto de partida, abalados e desorientados, assombrados pelo que poderia ter sido.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin-bottom: 1.618rem; margin-right: 0px; margin-top: 0px; padding: 0px; text-align: left; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na maioria das vezes, “Brasil” tem sido sinônimo de desigualdade, com favelas empoleiradas em encostas com vista para arranha-céus milionários.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em seu romance de 1991,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Geração X</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, Douglas Coupland referiu-se à brasilianização como “o abismo crescente entre ricos e pobres e o consequente desaparecimento das classes médias”.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">1</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Mais tarde naquela década, a brasilidade foi implantada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck para significar o ciclo de entrada e saída do emprego formal e informal, com o trabalho se tornando flexível, casual, precário e descentralizado.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">2</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Em outro lugar, o processo de se tornar brasileiro refere-se à<span> </span></span></span><a href="https://www.researchgate.net/publication/271315335_Devenir_ville_des_favelas" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">sua geografia urbana</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, com o crescimento das favelas ou favelas, a gentrificação dos centros das cidades com a pobreza empurrada para as periferias.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para outros, o Brasil conota um novo impasse étnico entre uma<span> </span></span></span><a href="http://www.racismreview.com/blog/2015/08/31/the-coming-white-minority-brazilianization-or-south-africanization-of-u-s/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">classe trabalhadora racialmente mista e uma elite branca</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span></span></span></span></p><a name='more'></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span><!--more--></span></span></span><p></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esse retrato mesclado da brasilianização é superficialmente atraente, à medida que a desigualdade e a precariedade crescentes fraturam as cidades na Europa e na América do Norte.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas por que brasil?<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil é um<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">país de</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>renda média<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- desenvolvido,</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>moderno, industrializado.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas o Brasil também está sobrecarregado pela pobreza em massa, pelo atraso e por uma classe política que parece ter avançado pouco desde seus dias como uma elite proprietária de terras escravistas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">É uma cifra para o passado, para um estágio anterior de desenvolvimento pelo qual o Norte Global passou<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- e</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>pensou ter deixado para trás.</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Norte e Sul, Antes e Agora</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Após o eclipse do conflito Leste-Oeste da Guerra Fria, a nova linha divisória global na era da globalização seria Norte-Sul.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na nova divisão do mundo no final da história, o Sul Global era entendido como uma zona de pobreza e conflito.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Consequentemente, as potências ocidentais assumiriam duas posturas alternativas em relação a ele: uma defensiva (protegendo contra seu terrorismo, degradação ambiental, novas doenças, crime organizado e drogas) e uma paternalista (“ajudando-os a se desenvolver”).<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Enquanto a primeira postura sugeria pouca esperança de que as coisas pudessem melhorar no Sul Global, a última sugeria um telos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Sul gradualmente viria a se assemelhar ao Norte, com uma afluência crescente impulsionada por massas da “nova classe média” desesperadas para emular os padrões de consumo do Norte.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Aqui estava uma versão reaquecida da teoria da modernização da Guerra Fria, adaptada para a era da globalização.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para os países mais pobres, os programas de “desenvolvimento” liderados por ONGs internacionais impulsionaram esquemas de pequena escala, como cavar poços ou microfinanças, desmentindo a falta de convicção de que esses países poderiam realmente “recuperar o atraso”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esses esforços melioristas eram freqüentemente patrocinados pelas mesmas instituições financeiras internacionais que haviam alugado essas sociedades com ajustes estruturais na década de 1980.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para as sociedades em melhor situação no Sul, agora chamadas de "mercados emergentes", o desenvolvimento neoliberal imitou os pressupostos tácitos da teoria da modernização ao assumir que esses países estavam apenas "atrasados", mas que eles chegariam lá<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">eventualmente - eles</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>se tornariam "como nós . ”<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Basta olhar para os shoppings que estão surgindo em São Paulo, Bangkok ou Cairo!<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Só precisamos esperar que essa riqueza se espalhe e em breve esses países entrarão para o clube do mundo rico.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Nas páginas do<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Economist</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, por exemplo, dizia-se que países como o Brasil só precisavam de algumas reformas liberais para que o crescimento voltasse a decolar.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Afinal, México, Coréia do Sul e um punhado de países do Leste Europeu aderiram à OCDE na década de 1990, seguido pelo Chile em 2010. Era apenas uma questão de tempo<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.</span></span></i></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O que essa história ignora é que as ferramentas de política manejadas pela teoria da modernização (como a industrialização por substituição de importações) se foram, assim como o cenário internacional e as relações tecnológicas que possibilitaram o catch-up development.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As tecnologias e indústrias associadas à Segunda Revolução Industrial não estavam mais na vanguarda.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Uma economia baseada em tecnologias de petróleo, borracha e<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">aço - digamos,</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>a fabricação de<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">automóveis -</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>não<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">era</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>mais o tipo de "alto valor agregado".<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">coisas</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>importantes<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- as<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">ideias</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>realmente valiosas<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- eram</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">agora protegido por direitos de propriedade intelectual, inacessível a um país como o Brasil.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Sul e o Norte globais, portanto, não são mais avatares do passado e do presente, com o primeiro alcançando lentamente o segundo, mas agora parecem existir na mesma temporalidade.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Conseqüentemente, o Brasil se encontra<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">preso - preso</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>na flutuação perene entre a esperança e a frustração.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">E o destino de ser moderno, mas não moderno o suficiente, agora parece ser compartilhado por grandes partes do mundo: WhatsApp e favelas, e-commerce e esgoto a céu aberto.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na verdade, deixando de lado a exceção da notável ascensão da China, a história global dos últimos quarenta anos é de retrocesso, qualquer que seja a fanfarronice que possa haver sobre a "nova<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">classe</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>média<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">" - ou,</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>realmente, uma classe trabalhadora que entrou na sociedade de consumo precariamente, agora consegue comprar uma geladeira e uma TV, e quem sabe até ir para a universidade pela primeira vez na história da família, mas que não alcançou uma segurança real.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na verdade, esta história de regressão é agora talvez mais conspícua no Norte Global, que hoje está demonstrando muitas das características que têm atormentado o Sul Global: não apenas desigualdade e informalização do trabalho, mas elites cada vez mais venais, volatilidade política e<span> </span></span></span><a href="https://aufhebungabunga.podbean.com/e/174-social-ungluing-ft-benjamin-fong/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">descolamento social</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O mundo rico também não está se tornando “moderno, mas não moderno o suficiente”, mas ao contrário?</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Modernidade sem Desenvolvimento</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A única forma de entender o que realmente significa a brasilianização, e o que ela nos reserva, é entender a trajetória desenvolvimentista do Brasil e, por extensão, captar o que ela diz sobre nosso presente e futuro.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na verdade, a consciência do Brasil de sua própria promessa, e a conseqüente frustração, levou ao desenvolvimento de uma perspectiva crítica sobre a modernização que o mundo faria bem em estudar.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">perspectiva</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>deslocada do Brasil<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- a</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>de uma<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">sociedade</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>moderna, porém subdesenvolvida<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- foi</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>talvez melhor captada pelo crítico literário Roberto Schwarz, um dos notáveis pensadores que compuseram o Seminário Marx no final dos anos 1950 na Universidade de São Paulo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Participaram do seminário o economista Paul Singer, o filósofo José Arthur Giannotti, os sociólogos Michael Löwy e (futuro presidente do Brasil) Fernando Henrique Cardoso, entre outros.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Eles se basearam na obra de estudiosos como o economista Celso Furtado, o sociólogo Florestan Fernandes e o crítico literário Antonio Candido, que, por sua vez, pisaram nos ombros de uma geração ativa na<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">década de 1930 - a</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">historiadores Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Todas essas figuras (muitas das quais voltaremos a encontrar) estavam unidas pela preocupação em descrever e analisar a formação social do Brasil, a dialética do novo e a persistência do antigo, e na mediação entre a peculiaridade local e a realidade cosmopolita da integração do país no capitalismo global.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">3</span></span></sup></a></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em 1973, Schwarz escreveu o influente ensaio “Ideas Out of Place”.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">4</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Embora a tradução da editora para o inglês tenha o título “Misplaced Ideas”, o título em português não implica em ideias esquecidas, mas sim em ideias inadequadas, inadequadas e mal colocadas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">É essa inadequação para a qual Schwarz chamou a atenção dos leitores: Na Europa do século XIX, as ideias liberais dos direitos do homem e liberdade-igualdade-fraternidade estavam se tornando<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">hegemônicas - uma</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>superestrutura ideológica e legal baseada em um regime de produção centrado no trabalho livre .<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil era diferente, porém.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Nos trópicos, o liberalismo só poderia ser um acessório barroco para uma sociedade onde ainda existia trabalho não-livre.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As elites falavam em termos liberais, mas a realidade era que a escravidão só foi oficialmente abolida em 1888, enquanto outras formas de trabalho não-livre e não-liberdade no trabalho permaneceram na prática por ainda mais tempo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Embora na Europa o liberalismo pudesse servir para ocultar a realidade completa dos moinhos satânicos sombrios, ele pelo menos refletia fielmente uma<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">realidade</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>material<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- aquela</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>na qual os indivíduos eram formalmente livres.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No Brasil, o liberalismo só poderia ser absurdo e, portanto, o teste de realidade ou coerência nunca foi realmente aplicado.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Precisamente a mesma incompatibilidade de idéias e realidade está sendo encontrada nos tempos modernos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Os “conservadores” encorajam as forças que destroem coisas que valem a pena conservar (digamos, a família);<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">liberalismo significa defender o iliberalismo dos aparelhos de vigilância;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">o hiperindividualismo acaba reificando as concepções essencialistas de raça (de modo que pertencer a um grupo é tratado como logicamente anterior à pessoa individual);<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">a esquerda é cada vez mais o partido dos mais instruídos e abastados.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ao nosso redor, somos confrontados com a<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">desatenção</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, uma ideia que o filósofo Adrian Johnston tirou da teoria memética para descrever a maneira como uma estratégia memética inicialmente adaptativa mais tarde se torna inútil ou mesmo contraproducente.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">5</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Se o liberalismo foi um conjunto de ideias adequadas à ascensão da burguesia e então</span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">consolidação - tudo</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>em nome da<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">liberdade - encontra-</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>se hoje em estado de desaprovação, exercida em defesa da hierarquia e da dominação.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Há décadas que os intelectuais brasileiros se enredam com o desânimo e, assim, oferecem uma perspectiva importante para compreender o nosso momento e o desalinhamento entre as ideias e a realidade contemporânea.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Além disso, como observam os estudiosos Luiz Philipe de Caux e Felipe Catalani, “nas situações históricas em que as ideias transplantadas são obrigadas a se reajustar a condições materiais que não as sustentam da mesma forma que suas condições de origem, esse desajustamento não precisa ser descoberto através da reflexão, pois é<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">sempre já um sentimento quotidiano do homem comum</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>. ”<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">6</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>O brasileiro médio sempre sentiu a hipocrisia das ideias fora do lugar.<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Globalização - ou</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>americanização, via<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">internet - significa</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">que as idéias se desprendem de suas condições de origem e das realidades materiais determinadas de que dão testemunho.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As ideias estão fora de lugar em todos os lugares, como visto na Europa quando os jovens, em meio a uma pandemia com devastação econômica iminente,<span> </span></span></span><a href="https://damagemag.com/2020/06/17/the-triumph-of-american-idealism/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">foram às ruas para atacar o “privilégio branco” em países de maioria branca</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, imaginando-se americanos.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Quanto ao Brasil, as pessoas pensavam que o futuro prometido se materializaria quando apagasse a divisão centro-periferia dentro de<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">si - curando</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>o problema das ilhas de riqueza cercadas por oceanos de pobreza.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em vez disso, parece que o Norte Global está alcançando o Sul Global ao replicar esse padrão.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil está mais uma vez na vanguarda global.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O filósofo brasileiro Paulo Arantes apresentou a tese da brasilianização em um notável ensaio de 2004, “A fratura brasileira do mundo”.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">7</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Arantes começou pesquisando vários pensadores do Norte Global que haviam registrado inquietação sobre o curso do desenvolvimento do capitalismo global.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Já em 1995, o estrategista conservador Edward Luttwak escreveu sobre a "Terceira Worldização da América".<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No mesmo ano, Michael Lind se referia diretamente ao Brasil em seu prognóstico de uma sociedade americana dividida por um sistema de castas rígido, embora informal.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As elites brancas governavam uma sociedade racialmente mista, mas as massas, internamente divididas, permitiriam o fortalecimento da oligarquia.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Um ano depois, Christopher Lasch atestaria o auto-fechamento da classe dominante e a separação do resto da sociedade em<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A Revolta das Elites</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Enquanto isso, o ex-thatcherista John Gray escreveria sobre um emergente “<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">regime<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">rentista de</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>estilo latino-americano<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">” no qual as elites fizeram uma matança no novo mundo globalizado, enquanto a classe média perdia seu status e os trabalhadores eram novamente proletarizados, pondo fim ao grandes expectativas provocadas pelo crescimento do pós-guerra.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O sociólogo catalão Manuel Castells viu que muitos seriam excluídos inteiramente, mesmo desta sociedade dividida.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Estava surgindo uma nova realidade em que<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">apenas</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>a burguesia permaneceria como classe social, ainda que transnacional, cosmopolita.</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Nascimento da Belíndia</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil nasceu moderno.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ele passou a existir como uma colônia, um local para extração de recursos, já conectado a um mercado mundial emergente.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil pode ter sido o último país a abolir a escravidão no Hemisfério Ocidental, mas sua escravidão foi um produto do início da modernidade.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil nunca foi pré-moderno ou feudal.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na mesma medida, a brasilidade não significa um simples retorno às relações semifeudais.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O que então explica a persistência do trabalho não-livre, o sistema latifúndio e seus efeitos culturais e políticos, bem no século<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">XX - em</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>suma, todos os elementos “atrasados” do Brasil?<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Precisamente que, no Brasil, o moderno se alimentou do antigo e por sua vez o reforçou e recriou.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Nas áreas rurais, uma oferta elástica de trabalho e terra reproduziu a “acumulação primitiva” na agricultura, impedindo o aperfeiçoamento das técnicas agrícolas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Com a industrialização a partir da década de 1930, esse grupo de pobres rurais passou a servir como um exército de reserva de mão de obra urbana barata.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O que diferenciava o processo do Brasil é que a industrialização e a modernização do país durante o período populista, de meados dos anos 1930 a meados dos anos 60, não exigiram uma ruptura do sistema, como as revoluções burguesas na Europa um século antes.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">8</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Em vez disso, as classes proprietárias rurais permaneceram no poder<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">e</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>continuaram a ganhar com a expansão capitalista.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Como disse o sociólogo Francisco de Oliveira em sua<span> </span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Crítica da Razão Dualista de</span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>1972</span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, a “expansão do capitalismo no Brasil se dá por meio da introdução de novas relações nas arcaicas e da reprodução das relações arcaicas nas novas”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Isso foi reforçado politicamente pela legislação trabalhista corporativa do presidente Getúlio Vargas, modelada na de Mussolini como forma de formalizar e disciplinar o proletariado urbano.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Crucialmente, isentou as relações de trabalho no campo, preservando a pobreza rural e a falta de liberdade.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para Oliveira, o novo mundo<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">preservava</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>assim<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">as relações de classe anteriores.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Considere, por exemplo, que os novos pobres urbanos construiriam suas próprias casas, reduzindo assim o custo de reprodução dessa classe: os empregadores não teriam que pagar salários altos o suficiente para pagar o aluguel.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As favelas, então, não são um índice de atraso, mas algo produzido pelo novo.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ou considere como os serviços pessoais prestados na esfera doméstica reforçam esse modelo de acumulação.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As famílias de classe média alta no Brasil têm empregadas domésticas ou motoristas que os atendem<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- uma</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>relação econômica que só poderia ser substituída por investimentos caros em serviços públicos e infraestrutura (por exemplo, serviços de limpeza industrial ou transporte público).<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Como conseqüência, a classe média brasileira tem um padrão de vida mais alto nesse aspecto do que seus equivalentes nos Estados Unidos ou na Europa.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A exploração de mão de obra barata na esfera doméstica também impede qualquer impulso político para a melhoria dos serviços públicos.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não estamos enfrentando precisamente essa brasilianização do mundo<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">hoje - com</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>uma gama crescente de “serviços de concierge”, por meio dos quais a classe profissional e a elite contratam professores particulares de ioga, chefs particulares e segurança particular?<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Uma família de classe média alta em San Francisco vem para replicar uma mansão aristocrática com toda uma economia de serviços prestados na esfera doméstica, mas agora tudo é terceirizado: plataformas digitais intermediárias entre “contratados” privados (ex-funcionários) e a nova elite .<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A estrutura social do Brasil nos mostrou nosso futuro.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Refletindo sobre a formação social do Brasil mais uma vez em 2003, Oliveira classificou o Brasil como um ornitorrinco: um monstro deformado, nem mais subdesenvolvido (“acumulação primitiva” no campo tendo sido substituída por um poderoso setor do agronegócio), nem ainda tendo as condições para completar sua<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">modernização - isto</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>é, incorporar verdadeiramente as massas à nação.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">9</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Crucialmente, essa não foi uma conclusão precipitada.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O aumento do poder dos trabalhadores antes do golpe de 1964 poderia ter levado a um novo assentamento e ao fim da alta taxa de exploração, enquanto a reforma agrária poderia ter liquidado a fonte do "exército de reserva de trabalho" que inundou as cidades na década de 1970, além de, finalmente, destruir o poder patrimonial no campo.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Tal projeto de modernização, entretanto, teria requerido a participação da burguesia nacional em aliança com os trabalhadores.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em vez disso, a burguesia apoiou o golpe de direita.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Numa grande ironia histórica, apontada por Roberto Schwarz na introdução ao ensaio do ornitorrinco de Oliveira, foi Fernando Henrique<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Cardoso - o</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>presidente neoliberal dos<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">anos 1990 - que</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>observou, como um sociólogo de esquerda na década de 1960, que o nacional a burguesia não queria desenvolvimento.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Cardoso argumentou, em oposição à opinião de esquerda dominante da época, que a burguesia preferia ser uma parceira júnior do capitalismo ocidental a arriscar ver sua hegemonia doméstica sobre as classes subalternas desafiadas no futuro.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">10</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>A elite brasileira optou por não se desenvolver.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Segundo Oliveira, o futuro prometido mas eternamente frustrado do Brasil é visível no fato de ser “uma das sociedades mais desiguais do mundo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">apesar de ter tido uma das taxas de crescimento mais fortes em um longo período.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As determinações mais evidentes desta condição residem na combinação da baixa posição da força de trabalho e dependência externa. ”<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">11 O</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Brasil, portanto, poderia ser uma espécie de utopia, dadas as suas bênçãos naturais, crescimento rápido e cultura invejável.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A realidade, nas palavras de Caux e Catalani, é que se trata de um país “cuja essência consiste em não poder realizar a sua essência”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não é o atraso que impede o Brasil de reivindicar o seu destino;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">seu destino é a frustração sem fim.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Além disso, a exclusão social que parece tão essencial à formação social do Brasil não é um acidente, mas uma<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">dualidade produzida</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No Brasil, isso ficou conhecido como<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Belíndia</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, termo cunhado em 1974 pelo economista Edmar Lisboa Bacha: O Brasil é uma Bélgica rica e urbana situada no topo de uma Índia rural pobre, tudo em um único país.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Os que estão na “Bélgica” brasileira habitam um país que é ostensivamente moderno e funciona bem, mas é retido por aqueles que estão “de fora”, na Índia atrasada e semifeudal.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No entanto, como de Oliveira mostrou, o “interior” depende da exploração do “exterior” para o seu progresso.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não só isso, mas o dualismo molda o interior da própria “Bélgica”;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">cria uma elite corrupta, patrimonial e egoísta, muito feliz em lavar as mãos das condições encontradas em sua própria “Índia”.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Infelizmente, em vez de a<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">metáfora<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">da<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Belíndia</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>se tornar menos relevante nas últimas décadas, ela só se tornou mais relevante.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Considere o que cada país componente representa em nossos tempos: a Bélgica ainda pode ser rica, mas é burocratizada, fragmentada e imóvel;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A Índia ainda pode ser pobre, mas agora também tem alta tecnologia e é governada por um populismo reacionário.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Isso poderia ser facilmente uma imagem da Itália, dos Estados Unidos ou do Reino Unido, com suas profundas desigualdades regionais, política esclerosada e populismo espetacular.</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Lidando com a Modernidade</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Se voltarmos à tese da brasilianização de Arantes, descobriremos que as<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">características<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">culturais</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>do desenvolvimento brasileiro também estão ecoando em nosso novo mundo pós-crescimento.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Certos padrões de comportamento que surgiram quando os brasileiros lidaram com sua<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">modernidade</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>instantânea<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">-</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>relações<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">sociais</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>estruturadas em torno da flexibilidade, em vez de um contrato vinculativo;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">uma necessidade de encontrar soluções alternativas semilícitas, por meio de apressamento;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">uma burguesia não verdadeiramente<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">burguesa - agora</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>marque o mundo ao nosso redor.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil, a ex-colônia “nascida moderna”, não é uma sociedade que surgiu das relações feudais, nem que se anunciou seu próprio nascimento através de uma ruptura revolucionária com o passado.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em vez disso, era um local de produção e distribuição, antes de mais nada.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Escrevendo no início dos anos 1940, o grande historiador brasileiro Caio Prado Jr. analisou a forma colonial do Brasil contemporâneo, observando a eficiência da ordem colonial como uma organização da produção combinada com uma esterilidade em relação às<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">relações</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>sociais de nível superior<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- toda</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>economia , sem cultura.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O que definiu uma periferia moderna moldada pelo colonialismo foi, portanto, uma “falta de nexo moral”, aquele complexo de instituições humanas que mantém os indivíduos ligados e unidos em uma sociedade e que os une em um todo coeso e compacto.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Se já ouvimos ecos da desagregação neoliberal contemporânea da sociedade aqui, não é por acaso.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Historicamente, a “quase sociedade de vanguarda mercantil” brasileira foi condicionada pelo lugar dos homens livres em uma sociedade de elites latifundiárias e escravos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Assim, no Brasil dos séculos XVIII e XIX, encontramos a prática generalizada do<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">favor</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, ou “mediação quase universal”, identificada por Schwarz nos romances de Machado de Assis.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em um mundo de proprietários de escravos e escravos, os homens livres pobres dependiam dos favores da classe proprietária para sobreviver.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em vez de cidadãos dotados de direitos, os homens livres tiveram que se esforçar para obter o patrocínio da classe proprietária.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Já podemos ver as sementes do clientelismo e do clientelismo brasileiro.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Embora o mundo das idéias e instituições se apegasse a concepções liberais modernas, o que se obteve na realidade não foi uma sociedade racionalmente ordenada, mas governada pelas decisões arbitrárias dos<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">ricos - uma</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>situação em que a elite naturalmente se beneficiou, mas também os homens livres em sua condição de beneficiários de favores, como não escravos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esse nexo de<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">favor</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, revestido de ideologia liberal, tem todas as condições para a hipocrisia sistemática: ideias liberais pomposas que justificam o capricho e a venalidade.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ou para aplicar essa relação aos Estados Unidos brasilianizados de hoje, e colocá-lo no jargão de nossa época: “a<span> </span></span></span><a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Information_wants_to_be_free" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">informação quer ser gratuita</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>”, mas não se ela<span> </span></span></span><a href="https://jacobinmag.com/2021/01/censorship-big-tech-facebook-twitter" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">violar “padrões da comunidade”</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>ou</span></span><a href="https://theintercept.com/2020/10/15/facebook-and-twitter-cross-a-line-far-more-dangerous-than-what-they-censor/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">não atende aos interesses da oligarquia</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na mesma linha, Schwarz discute outro elemento central da subjetividade brasileira, a “dialética do<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">malandro</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>” (malandro), conceito avançado por Antonio Candido em sua leitura de romances do século XVIII.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na leitura de Schwarz, a dialética da<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">malandragem</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>acarreta a suspensão dos conflitos históricos concretos por meio da esperteza ou do<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">know-how</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>prático<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- com</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>efeito, uma espécie de evasão.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Isso estava ligado a uma “atitude bem brasileira, de '<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">tolerância corrosiva</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, 'que se origina na Colônia e dura até o século XX, e que se torna um fio condutor da nossa cultura ”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Aqui encontramos a tão elogiada disposição brasileira em relação à acomodação, ao invés do conflito tudo ou nada.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Essa atitude pode parecer inferior aos valores mais puritanos da sociedade capitalista do Atlântico Norte, de claros sim e não, de condenação decisiva (Schwarz faz referência aos julgamentos das bruxas de Salem e ao mundo da<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">letra escarlate</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>).<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas, para Schwarz, pode ser justamente essa atitude que poderia facilitar a inserção do Brasil em um mundo mais “aberto”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O que surge é a imagem de um “mundo sem culpa”.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">12</span></span></sup></a></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esse abrandamento de conflitos é um padrão em toda a história brasileira, em que é raro que as questões sejam resolvidas definitivamente.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Nenhuma grande revolução burguesa, nenhuma ruptura com o passado;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">o novo eventualmente vence o antigo ao custo de incorporar o antigo ao novo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A redemocratização do Brasil na década de 1980, por exemplo, deu origem a uma nova constituição repleta de direitos sociais que prometia às classes excluídas um grau maior de integração do que documentos comparáveis em outros lugares.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ao mesmo tempo, porém, garantiu às velhas elites patrimoniais seu lugar na nova ordem e falhou em neutralizar o latão militar.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As<span> </span></span></span><a href="https://jacobinmag.com/2020/12/anti-politics-authoritarian-restoration-brazil-jair-bolsonaro" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">consequências são muito evidentes hoje</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Regra de indeterminação e irresolução.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ou, no idioma brasileiro,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">tudo acaba em pizza</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>: tudo acaba em pizza.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">13</span></span></sup></a></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Este “mundo sem<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">culpa” - um</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>mundo sem dramas morais, sem convicções ou<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">remorso - é o</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>nosso mundo pós<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">-</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>moderno em grande escala.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A nova elite global é inteiramente<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">desembourgeoisée</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">não existem regras fixas e rígidas, tudo está em negociação.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A moralidade é, no máximo, uma questão individual e subjetiva, senão um motivo de constrangimento;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">a elite prefere as declarações vazias da ética corporativa hoje em dia, não os pronunciamentos morais.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A moralidade não é mais a pedra angular da autoridade paterna e social.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A elite pós-moderna não sente responsabilidade.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não internalizou a lei e, portanto, não sente culpa.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No mundo do trabalho, adaptação e acomodação são fundamentais na nova economia.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Como contratado (não funcionário), você deve buscar constantemente agradar seu cliente.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para Arantes, o “profissionalismo” exigido hoje nada mais é do que uma estilização cínica das qualidades necessárias à sobrevivência em um mundo precário.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Quanto ao<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">malandro</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>brasileiro<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, ou malandro, não há mandamento maior hoje do que “respeitar a correria”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O que de outra forma poderia ser visto como<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">oportunismo</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>generalizado<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- ou,</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>no Brasil do século XIX, pobres homens livres em busca de um<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">“favor” - é</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>reformulado como a nova maneira de ser do mundo.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Notavelmente, o antropólogo Loïc Wacquant encontra uma atitude semelhante nos guetos da América do Norte.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Lá, o traficante é um tipo genérico, “inserindo-se discretamente em situações sociais ou tecendo ao seu redor uma teia de relações enganosas, apenas para que ele possa obter algum lucro mais ou menos extorquido delas”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">(O oposto do traficante é o trabalho assalariado formal, considerado “legal, reconhecido, regular e regulado”.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">14</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>) Essa atitude não se restringe mais ao gueto, mas passa a ser a subjetividade ideal do neoliberal “empresário de si mesmo. ”</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Sempre já pós-moderno</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">É aqui que o passado brasileiro encontra uma contemporaneidade global.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para Ulrich Beck, a brasilidade representa um futuro condenado, não apenas de exclusão social e capitalismo selvagem, mas também o fim do monopólio do estado sobre a violência, o surgimento de poderosos atores não estatais, gangues criminosas etc. nas atitudes brasileiras: flexibilidade, tolerância, adaptabilidade a novas situações, aceitação dos paradoxos da vida com tranquilidade.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">“Por que aceitamos a pluralização da família, mas não a pluralização do trabalho?”<span> </span></span></span><a href="https://www.newstatesman.com/node/148758" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Beck escreveu</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Talvez os brasileiros, muitos dos quais ainda não encontraram plenamente a “primeira modernidade” do pleno emprego, carreiras vitalícias e assim por diante (ou seja, fordismo), já tenham nascido compatíveis com a “segunda modernidade” da flexibilidade (pós-fordismo, pós-modernidade )</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Se a modernidade clássica e a alta modernidade tratavam de segurança, certeza e demarcações claras entre o sim e o não, a pós-modernidade é governada pelo regime de risco, no qual o know-how e a adaptação são reis.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">malandro</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>brasileiro<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">já era um especialista neste mundo, muito antes de sua chegada.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Talvez isso explique a surpreendente popularidade no Brasil dos livros do teórico polonês Zygmunt Bauman sobre “modernidade líquida”, “amor líquido” e assim por<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">diante - estocados</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>até mesmo por jornaleiros de esquina de São Paulo.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">É assim que um país sem uma verdadeira base revolucionária burguesa e, portanto, historicamente sem respeito pela lei, sem cidadania e mesmo sem culpa, se depara com o nosso capitalismo pós-burguês do século XXI.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Sob essa luz, mesmo os Estados Unidos ou a França, países que passaram por dramáticas revoluções burguesas, parecem afligidos por uma irresolução e uma confusão ao estilo brasileiro.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Precisamos apenas pensar na resposta fútil à crise financeira global nos Estados Unidos, salvando bancos, mas deixando intocadas as condições estruturais que levaram à crise;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">a fortiori, podemos pensar no contínuo chute da zona do euro pela estrada, o que Wolfgang Streeck chamou de "ganhar<span> </span></span></span><a href="https://www.versobooks.com/books/2390-buying-time" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">tempo</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>".</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O estilo brasileiro também passa a servir de legitimação útil para o novo capitalismo, no qual a hipocrisia e a corrupção fazem parte do mobiliário.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não é a alternância promíscua entre lícito e<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">ilícito - encontrado</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>igualmente entre os pobres brasileiros (ver<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Cidade de Deus de</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Paulo Lins<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">) e entre os ricos (que têm um pé no capitalismo global “limpo” e outro no<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">patrimonialismo</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>local “sujo”<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">) - não</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>uma cifra para a legalidade cinzenta da financeirização?<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Considere, por exemplo, as vastas somas provenientes do comércio de drogas que são recicladas pelos maiores bancos do mundo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Os Panama Papers foram, naturalmente, recebidos com um encolher de ombros coletivo;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">nada mudou.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas o<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">que você vai fazer?<span> </span></span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não é exatamente uma “tolerância corrosiva” bem brasileira?</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Cinismo e a morte da sátira</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Como era de se esperar, a tolerância à corrupção e à indeterminação gera cinismo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na Europa clássico-moderna, a ironia serviria para demonstrar como os interesses econômicos se escondiam por trás dos ideais liberais.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Já no Brasil, onde as infrações eram a regra, a ironia não podia recorrer às normas liberais, por causa da adoção do liberalismo de seu suposto oposto: a escravidão.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Como argumentam Caux e Catalani, o que se desenvolveu no Brasil foi uma espécie de ironia negativa, mais mórbida do que satírica.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não é esta a nossa situação hoje?<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A morte da sátira foi amplamente comentada.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não podemos mostrar como a realidade falha em corresponder aos ideais, porque desconfiamos dos ideais, considerando-os sempre ideológicos;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">isto é, ocultando interesses egoístas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Uma figura como Trump foi uma encapsulação dessa nova atitude pós-satírica: um homem no cargo mais poderoso do mundo incorporou uma representação satírica de si mesmo em sua bufonaria (nisso ele estava apenas seguindo o caminho traçado por Silvio Berlusconi ao longo de duas décadas mais cedo).<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Trump basicamente disse que era corrupto, mas todos os outros também o eram, e assim seria ele, sem nenhuma preocupação com as sutilezas do sistema, que drenaria o pântano.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">15 O</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>cinismo é generalizado, apenas<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">interrompido - agora,</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>talvez com mais<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">frequência - por</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">denúncia moralista.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Este último é sustentado com base em que a oposição ao cinismo pode ser inscrita na lógica das guerras culturais: as condenações cada vez mais histéricas de cada lado servem para obscurecer seu próprio cinismo.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Aqui o Brasil nos dá outro exemplo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A<span> </span></span></span><a href="http://globaldialogue.isa-sociology.org/the-june-days-in-brazil-2/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">onda de protesto em massa de junho de 2013</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>foi uma revolta do jovem precariado, exigindo direitos sociais, melhores escolas e hospitais, e o fim da corrupção.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Isso pode ser lido como um protesto contra a indeterminação, contra a tolerância à corrosão: “não vamos agüentar mais”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil havia experimentado uma década de crescimento, mas a esfera pública não acompanhou as melhorias no poder de compra privado.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A estratégia de Lula de “inclusão por meio do consumo”, ela própria uma resposta a um<span> </span></span></span><a href="https://newleftreview.org/issues/ii42/articles/francisco-de-oliveira-lula-in-the-labyrinth" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">período anterior de indeterminação após o ataque neoliberal sob Cardoso</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, encontrou um muro, levando a uma explosão pública em massa.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em 2015, no entanto, os protestos mudaram, tornando-se explicitamente antipolíticos e denunciando todos e quaisquer políticos, partidos e instituições.<span> </span></span></span><a href="https://jacobinmag.com/2017/04/brazil-lava-jato-corruption-dilma-rousseff-lula-temer-mani-pulite-italy" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A “anticorrupção” passou a ser o foco</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, estimulada pelas espetaculares investigações “Lava Jato”, que viram políticos e empresários algemados pela primeira vez na história do Brasil.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Foi nessa onda que Bolsonaro acabou sendo eleito em 2018. Mas a anti-política, ao se recusar a tomar o poder em nome de uma ideia e, em vez disso, apenas denunciar todos os candidatos, é, em essência,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">cinismo politizado</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ele acredita que o sistema não é adequado para governar, mas admite que ninguém mais está.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Com o tempo, descobriu-se que a<span> </span></span><a href="https://theintercept.com/2019/06/09/brazil-lula-operation-car-wash-sergio-moro/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">própria</span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Lava Jato<span> </span></span></span><a href="https://theintercept.com/2019/06/09/brazil-lula-operation-car-wash-sergio-moro/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">estava corrompida</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, com o conluio entre juiz e promotoria permitindo que o ex-presidente Lula fosse considerado culpado com base em evidências de baixa qualidade.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Agora, o velho sistema corrupto, do qual Bolsonaro faz parte, conspirou para encerrar essas investigações.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Assim, a “revolta contra o cinismo” de junho de 2013 acabou contribuindo para o desfecho mais cínico de todos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Tudo acabou em pizza.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esses são os “elementos de truncamento que alimentavam a auto-ironia brasileira, às vezes cáustica, mas sempre baseada em fatos”, como já havia dito de Oliveira.<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/#notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 15px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">16</span></span></sup></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Os próprios avanços da América na guerra da lei (não apenas no apoio à cruzada dos juízes no Brasil, mas no uso desses métodos em casa), desde “prendê-la” ao duplo impeachment de Trump, são outra faceta da brasilianização.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No lugar da competição ideológica, a política é reduzida ao jogo cínico de buscar a vitória nos tribunais.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O escrúpulo jurídico esconde a falta de escrúpulos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O resultado é<span> </span></span></span><a href="https://brazilian.report/podcast/2021/03/24/explaining-brazil-143-the-legacy-of-operation-car-wash/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">a judicialização da<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">política - e</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>a politização do judiciário</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A política fica cada vez mais distante do povo.</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Uma elite não nacional</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A brasilianização do mundo leva a uma generalização da indeterminação e da irresolução.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O capitalismo neoliberal, em sua decadência, não consegue encontrar uma maneira de superar sua crise, e seus oponentes estão muito divididos, muito cínicos, muito descrentes de que as coisas possam realmente mudar.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Este é o realismo capitalista de Mark Fisher: não apenas a afirmação de que “não há alternativa”, mas a incapacidade de sequer conceber uma.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não é apenas que a realidade não corresponde e não pode corresponder aos nossos ideais;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">é que desacreditamos totalmente nos ideais.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">E isso ocorre precisamente porque as idéias políticas parecem cúmplices de nossa realidade corrupta.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As ideias estão fora de lugar em todos os lugares agora.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Assim como o Brasil, o mundo ocidental como um todo não vive apenas com a frustração de não termos o futuro que nos foi prometido;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">a frustração tornou-se constitutiva de nossa própria formação social.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No Brasil, a mesma classe dominante que lucrou com o colonialismo, a escravidão e o sistema latifundiário foi também a que apoiou o golpe de 1964 para impedir que os trabalhadores ganhassem mais espaço na sociedade, ato que, com isso, também paralisou o país. chance de autonomia nacional.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As elites preferiam a dependência e a submissão ao capital internacional e aos Estados Unidos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Como resultado, eles também perderam o que pode ter sido a última rampa de entrada para recuperar o atraso.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mais tarde, diante de uma tentativa tardia (embora limitada) de incorporação das massas nas décadas de 2000 e 2010 sob os<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">governos do</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Partido dos Trabalhadores (PT)<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- que</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>poderia ter criado um mercado interno maior e mais próspero e, crucialmente para as elites, comprado a<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">paz</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>social<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">-eles</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">decidiu, em vez disso, expulsar o PT do cargo por meio de um golpe institucional.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Essa ruptura constitucional fez parte de uma cadeia de eventos que viu Lula, liderando as pesquisas antes das eleições de 2018, ser preso, acusado e condenado em um julgamento precipitado e preconceituoso.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A mesma elite que torceu pela lei então descobriu que enfrentava uma “escolha difícil” no segundo turno de 2018 entre um candidato tecnocrático de centro-esquerda (Haddad do PT) e um ex-capitão do exército sociopata.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Dada a generosidade natural do país, sua cultura admirada e amplamente compartilhada (apesar de tudo), e algumas das taxas de crescimento mais rápidas do mundo ao longo de décadas, quando olhamos para a sociedade dualizada do Brasil<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">hoje - este<span> </span></span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">ornitorrinco</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>monstruoso<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- somos</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>levados a concluir que o Brasil tem a pior elite do mundo.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A elite brasileira,<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">no entanto - famosa por</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>morar em condomínios fechados com seguranças particulares<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- é</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>apenas uma versão mais grotesca das elites nas “democracias ocidentais avançadas”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A recusa da responsabilidade pela sociedade encontra seu exemplo mais escandaloso na leitura marítima de<span> </span></span></span><a href="https://www.seasteading.org/31937/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Peter Thiel</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas esse processo é muito mais amplamente distribuído e despersonalizado em todo o Ocidente.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Quando a classe dominante do Brasil opta pela diminuição da soberania para manter sua posição dominante em meio a profundas desigualdades, devemos ver sua imagem refletida na União Europeia.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O bloco regional é mais bem entendido como uma “<span> </span></span></span><a href="https://www.dissentmagazine.org/online_articles/left-case-brexit" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">constituição econômica</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>” concebida para evitar que a política interfira na regulação do mercado, bloqueando assim as escolhas políticas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Quando as elites nacionais optam por ingressar no<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">bloco -</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>apesar da<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">espiral de</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>morte neoliberal da UE<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- elas</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>trocam a autonomia nacional e, com ela, a responsabilidade política pelos resultados sociais.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Basta ver o desespero das elites italianas em continuar a fazer parte do euro, apesar da penúria a que sujeita o país e da destruição de qualquer futuro para ele.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Assim como as elites brasileiras desejam poder fugir permanentemente para Miami, por muito tempo a capital da reação latino-americana, as elites globalizadas da Europa e da América do Norte desejam também escapar das massas que as “detêm”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As elites italianas desejam ser alemãs, os "remanescentes" britânicos fazem o mesmo e as elites liberais americanas desejam ser<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">"europeias" - ou</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>pelo menos que o país sobrevoador da América possa desaparecer.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em nenhum lugar (exceto talvez na China) encontramos elites governantes perseguindo qualquer tipo de “<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">projeto</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>nacional<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">” - algo</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>que, portanto, implica, e visa integrar, as massas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Na medida em que as elites neoliberais têm algum projeto, além da gestão de crises de curto prazo e do governo pela mídia, ele é sempre antinacional.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, que vendeu as joias da família estatais a investidores a preços reduzidos na década de 1990, estava certo o tempo todo: não se pode confiar na burguesia nacional.</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Da Desindustrialização à Morte do Estado</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O crescente desaparecimento de um “nexo moral” na sociedade contemporânea está intimamente ligado ao que deveríamos chamar de fim da modernização.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Estamos vivendo, segundo o falecido marxista alemão Robert Kurz (amplamente citado por Schwarz e Arantes), em sociedades pós-catastróficas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O colapso da modernização</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, escrito no final da Guerra Fria, Kurz critica severamente os regimes do bloco oriental.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para ele, a perpetuação da produção de mercadorias e dos salários significava que não eram sociedades comunistas, mas sim semelhantes aos regimes capitalistas de estado que eram essenciais para dar início à acumulação capitalista na transição do feudalismo para o capitalismo, bem como para impulsionar a<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">industrialização</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>tardia<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">-tal</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">como os projetos realizados por Bismarck no século XIX, ou sob a Restauração Meiji no Japão, ou mesmo pela Coréia no século XX.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em meados do século XX, entretanto, o aparato estatal do socialismo realmente existente havia cumprido seu propósito de coletivizar a agricultura, criar um proletariado urbano, impulsionar a industrialização e coisas do gênero.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">E assim ficou atrás das sociedades capitalistas ocidentais organizadas na base mais produtiva da competição, ao invés do diktat burocrático.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A crise que atingiu o auge no final da década de 1980 no Oriente, portanto, foi apenas o segundo episódio de uma<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">crise</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>mais geral<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- uma</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">que atingiu o Sul, o velho Terceiro Mundo, primeiro.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A crise da dívida marcou o fim do processo de modernização, por meio do qual os países pobres esperavam alcançar os desenvolvidos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No final da década de 1960, a experiência do Brasil com o fordismo já estava minguando e, com ela, a possibilidade de integração das massas por meio do trabalho.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A desindustrialização “prematura” marcou o Brasil nas décadas subsequentes, com a participação da indústria no PIB caindo pela metade desde seu pico em 1985, e a participação do emprego caindo de mais de 15% para cerca de 10% hoje.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O Brasil é agora principalmente uma economia de serviços, com os pobres nas periferias urbanas oferecendo pouca esperança de ascensão pelos meios anteriormente disponíveis para as classes trabalhadoras da Europa Ocidental e da América do Norte: emprego estável e com ele a vantagem que pode oferecer contra os empregadores.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Este não é, entretanto, um processo automático;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">requer ação política.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As regulamentações trabalhistas corporativas do Brasil sobreviveram ao neoliberalismo, até que o PT foi derrubado por um golpe institucional em 2016. O governo provisório resultante, cujos índices de aprovação atingiram o fundo do poço de 1 por cento, rapidamente os desfez, permitindo terceirização infinita, mesmo do núcleo de uma empresa atividades, estendendo assim significativamente a precarização do trabalho já em andamento.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não precisamos ir muito longe para ver movimentos semelhantes acontecendo em outros lugares.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A recente aprovação da<span> </span></span><a href="https://www.npr.org/2020/11/05/931561150/california-voters-give-uber-lyft-a-win-but-some-drivers-arent-so-sure" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Proposta 22</span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>da<span> </span></span></span><a href="https://www.npr.org/2020/11/05/931561150/california-voters-give-uber-lyft-a-win-but-some-drivers-arent-so-sure" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Califórnia</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">(a iniciativa eleitoral mais cara da história) permite que empresas como a nunca-lucrativa Uber continuem classificando seus funcionários como contratados privados, desobrigando-os de fornecer quaisquer benefícios trabalhistas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A empresa, como muitas outras de seu tipo, é um “<span> </span></span></span><a href="http://forbes.com/sites/eriksherman/2019/10/25/galbraiths-bezzle-is-the-machine-that-props-up-income-and-wealth-inequality/?sh=5dfbea29645e" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">bezzle</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>” - o nome de John Kenneth Galbraith para furto legalizado.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Novamente, o ilícito e o lícito são as duas faces da mesma moeda;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">é nesses espaços cinzentos que o traficante floresce.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O ataque aos direitos trabalhistas caminha lado a lado com uma crise de valorização.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Enquanto o capitalismo contemporâneo luta para lucrar com a atividade produtiva, ele se volta para a financeirização.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Cada vez menos trabalhadores no Ocidente estão envolvidos em atividades econômicas produtivas de novo valor.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Essa crise da sociedade do trabalho, ou modernização pelo trabalho formalizado, começou no Terceiro Mundo, depois atingiu o Segundo Mundo e agora está conosco no Primeiro Mundo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">E com ele o sonho de riqueza em massa, autonomia nacional e uma sociedade integrada murcha.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Se o Brasil colonial, sociedade baseada na extração econômica nua e crua, estava na vanguarda do capitalismo, o Brasil contemporâneo está agora na vanguarda da crise da modernidade.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A brasilianização não é o retrocesso.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Nem é a importação de algo estrangeiro.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em vez disso, o Brasil apenas expressou anteriormente as formas e tendências de desenvolvimento social imanentes ao mundo social dos países ricos.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O futuro verdadeiramente sombrio que o Brasil tem reservado para nós é o colapso da autoridade do Estado.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Embora as gangues do narcotráfico que controlam o território nas favelas e periferias sejam bem conhecidas, menos é o crescimento das<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">milícias</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, paramilitares formados por policiais fora de serviço que dirigem extorsões e esquadrões da morte.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A ascensão de atores não estatais tem sido uma preocupação desde a era da alta globalização e da Guerra ao Terror.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas a diminuição da soberania não é apenas um problema “lá”, nos estados falidos do Sul Global.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Menos violentas e mais legalizadas, as negociações entre as prefeituras dos Estados Unidos e as grandes empresas de tecnologia, como se estas fossem entidades soberanas, contam uma história semelhante.</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A brasilianização do mundo</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A modernização em toda parte significou a destruição de velhos vestígios feudais no campo, a urbanização e a incorporação das massas por meio do trabalho formalizado em uma sociedade em industrialização.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esse processo generalizaria riqueza e<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">cidadania - ou,</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>pelo menos, formaria um proletariado urbano que lutaria por esses direitos, ganhando concessões e, assim, disciplinando as elites.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Arrancaria relações patrimoniais e clientelistas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A política se tornaria mais regularizada, ordenada segundo linhas ideológicas, com efeitos salutares sobre o Estado e sua<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">burocracia - pelo</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>menos nos países mais avançados.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A destruição da modernização por meio de seu<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">processo</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>principal<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- o</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>desmembramento do emprego formal e o aumento da<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">precaritização - é</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>a raiz de todo o fenômeno da “brasilianização”: crescente desigualdade, oligarquia, privatização da riqueza e do espaço social e declínio classe média.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A sua dimensão espacial urbana é a sua manifestação mais visível, com o desenvolvimento dos centros urbanos gentrificados e os excluídos empurrados para a periferia.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em termos políticos, brasilianização significa patrimonialismo, clientelismo e corrupção.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em vez de ver isso como aberrações, devemos entendê-los como o estado normal da política quando o progresso econômico amplamente compartilhado não está disponível, e a esquerda socialista não pode atuar como uma força de compensação.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Foi o proletariado industrial e a política socialista que mantiveram o liberalismo honesto e impediram as elites de instrumentalizar o Estado para seus próprios interesses.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A “revolta das<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">elites” - sua</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>fuga da sociedade, fisicamente para espaços privados fortemente protegidos, economicamente para o reino das finanças globais, politicamente para arranjos antidemocráticos que terceirizam a responsabilidade e inibem a<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">responsabilização -</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>criou Estados neoliberais vazios.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">São políticas fechadas às pressões populares, mas abertas àqueles com recursos e redes para influenciar diretamente a política.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A consequência prática não é apenas a corrupção, mas também os estados sem capacidade para empreender quaisquer<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">políticas de</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>desenvolvimento de longo alcance<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- mesmo as</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>básicas que possam promover o crescimento econômico, como a redução das desigualdades regionais.<span> </span></span></span><a href="https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/09692290.2021.1892798" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A falha do Estado na pandemia</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>é apenas o exemplo recente mais flagrante.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A história ignóbil de irresolução e indeterminação do Brasil, juntamente com uma sociedade dualizada em que o tráfico é essencial para a sobrevivência, deu origem ao cinismo brasileiro.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Cada vez mais, o Ocidente está adotando esse mesmo padrão.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não apenas parece não haver como superar a estagnação capitalista, mas a política é caracterizada por<span> </span></span></span><a href="https://www.versobooks.com/books/1447-ruling-the-void" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">um vazio entre as pessoas e a política</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, os cidadãos e o estado.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A relação da classe dominante com as massas é de condescendência.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As elites chamam qualquer pessoa que se revolta contra a ordem contemporânea de racista, sexista ou algum outro termo deslegitimador.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Eles também apresentam teorias de conspiração bizarras sobre por que os eleitorados não votaram em seu<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">candidato</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>favorito<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- mais</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>visivelmente com "Russiagate" nos Estados Unidos e além.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Este fenômeno, apelidado de</span></span><a href="https://damagemag.com/2020/05/08/technocracys-end-of-life-rally/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A Síndrome de Discriminação da Ordem Neoliberal</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>só gera mais cinismo no público ocidental, que está cada vez mais tomado por suas próprias teorias de conspiração.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esta é outra especialidade brasileira: em um país com níveis muito baixos de confiança institucional e<span> </span></span></span><a href="https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2020/09/how-anti-communist-conspiracies-haunt-brazil/614665/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">abundantes exemplos</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>de conspirações reais,<span> </span></span></span><a href="https://brazilian.report/society/2019/07/20/brazil-moon-landing-conspiracy-theories/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">as teorias da conspiração florescem</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As revoltas contra o sistema, quando não são impulsionadas por desarranjos de estilo QA, empunham a arma da anti-política, pela qual não apenas a política formal, mas a representação e a própria autoridade política são rejeitadas.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A antipolítica tende a resultar em uma deslegitimação da própria democracia, levando ao governo autoritário, ou leva os tecnocratas a aprender com os populistas, retornando à cena prometendo o fim da corrupção e uma mudança real.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O resultado é o mesmo tipo de política distante e fora de alcance que gerou revoltas antipolíticas.<span> </span></span></span><a href="https://jacobinmag.com/2020/12/anti-politics-authoritarian-restoration-brazil-jair-bolsonaro" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">História do Brasil de 2013 a 2019</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Esta dinâmica é apresentada em forma pura e cristalizada.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas o mesmo padrão é visível no Movimento Cinco Estrelas da Itália, os protestos anticorrupção que levaram à ascensão de Viktor Orbán na Hungria, Trump e a<span> </span></span></span><a href="https://www.newstatesman.com/international/2020/10/rise-technopopulists" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">tentativa tecnopulista de</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Boris Johnson de<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">neutralizar o Brexit.</span></span></p><h3 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-size: 1.1326rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="small-caps" style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-family: savoycaps_bold, Georgia, serif; font-weight: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Sociedade do Vazio</span></span></b></span></h3><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Como pode ser a resposta à brasilianização?<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Talvez estejamos vendo um movimento em direção a um Estado mais protetor, mais ciumento na guarda da soberania e ávido por oferecer aos cidadãos uma relação mais paternal.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Claramente, a pandemia parece estar empurrando as coisas nesta direção, com apoio do estado e transferências diretas de dinheiro aos cidadãos marcando os primeiros meses do presidente Biden no cargo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas o estado está se transformando de outras maneiras também.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As condições estreitas para a lucratividade parecem estar levando a uma interligação cada vez maior do poder político e econômico, promovendo um processo que tem sido chamado de “<span> </span></span></span><a href="https://isreview.org/issue/95/accumulation-dispossession" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">acumulação por expropriação</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mesmo Robert Brenner, decano do estudo da transição do feudalismo para o capitalismo,<span> </span></span></span><a href="https://live-berkeleynewpoliticaleconomy.pantheon.berkeley.edu/podcast-2/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">sugeriu</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">que podemos estar passando por uma transição do capitalismo para algo totalmente diferente.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">O auge da globalização, tanto nas relações econômicas quanto na ideologia, já passou.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas a dualização da sociedade e a “flexibilização” do trabalho continuam em ritmo acelerado.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Sem dúvida, “elites revoltadas” podem concluir que as coisas só vão piorar a partir daqui e procurar se proteger ainda mais das consequências sociais.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Não apenas isso, mas a crescente dualização das sociedades em todo o Ocidente cria uma sociedade do vazio: o vazio entre os vencedores da nova economia e o resto, e o vazio entre o estado e os cidadãos.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Medos de populismo, reclamações sobre incompetência burocrática, falta de liderança e volatilidade política geral e<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">incoerência - coisas</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>que preocupam as<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">elites</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>econômicas<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- são</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>sintomas desse vazio.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Eles fariam bem em se lembrar disso.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">É aqui que<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">surge<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">o debate sobre<span> </span></span></span><a href="https://americanaffairsjournal.org/2020/05/neo-feudalism-in-california/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">o neofeudalismo</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, com suas<span> </span></span></span><a href="https://lareviewofbooks.org/article/neofeudalism-the-end-of-capitalism/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">quatro características entrelaçadas</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, que se assemelham à brasilianização: soberania parcelada, novos senhores e camponeses, hinterlandização e catastrofismo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas o argumento apresentado aqui é que o que estamos vendo não é precisamente um retorno do antigo.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">É a expressão de tendências imanentes à modernidade capitalista.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Para ver a globalização das condições sociais degradadas e a dependência capitalista do<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Estado - características</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>que há muito são uma realidade na<span> </span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">periferia</span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>global<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">- como</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">um retorno ao “feudalismo” não é apenas equivocado, mas também eurocêntrico.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No entanto, se de fato estamos vivendo o fim da sociedade do trabalho e sua modernização, com as consequências inevitáveis para a integração social e política, então o capitalismo dependerá mais do que nunca do<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Estado - não</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>apenas para regulamentação e provisão de infra-estrutura física e jurídica, mas para participar diretamente na extração de valor ou na garantia de lucros, seja através da transferência de riqueza para cima ou da criação de<span> </span></span></span><a href="https://blogs.lse.ac.uk/politicsandpolicy/vaccines-and-patents/" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">escassez artificial</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Este é um arranjo estável?<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A turbulência incessante do Brasil desde 2013 começou com os brasileiros ficando cansados da mera “inclusão por meio do consumo”.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">É claro que nossa tendência contemporânea não pode continuar indefinidamente.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As transferências de dinheiro podem comprar o tempo das elites, assim como o consumo alimentado pela dívida privada fez nas últimas décadas, enquanto os salários estagnavam.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Mas o mundo pós-pandêmico não vai se acalmar;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">As falhas do Estado brasilianizado nos países mais ricos e poderosos do mundo são expostas para todos verem.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">No<span> </span></span></span><a href="https://www.bungacast.com/book" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Fim do Fim da História</span></span></a><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">, protestos, revoltas e levantes se tornaram um fenômeno global, talvez pressagiando uma insurreição mais geral.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">A denúncia das elites não será suficiente;<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">será necessário assumir o controle coletivo de nosso destino, assumir a responsabilidade por nosso futuro, para que outra onda de agitação popular não acabe em pizza.</span></span></p><h6 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; font-size: 0.85rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Este artigo apareceu originalmente em</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>American Affairs<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Volume V, Número 2 (verão de 2021): 93-115.</span></span></i></h6><hr style="border-bottom-color: rgb(79, 79, 79); border-bottom-style: solid; border-left-color: initial; border-left-style: initial; border-right-color: initial; border-right-style: initial; border-top-color: initial; border-top-style: initial; border-width: 0px 0px 1px; box-sizing: content-box; clear: both; height: 0px; margin: 1rem auto; max-width: 60rem; overflow: visible; transform-origin: 0px 0px 0px;" /><h6 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoycaps, Georgia, serif; font-size: 0.85rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 0px 0px 1.618rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Notas</span></span></h6><div class="article-content-footnotes" style="box-sizing: inherit; font-size: 16px; margin: 0px; padding: 0px; transform-origin: 0px 0px 0px;"><a name="notes" style="background-color: transparent; box-sizing: inherit; color: #04294b; cursor: pointer; line-height: inherit; text-decoration: underline; transform-origin: 0px 0px 0px;"></a><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">1</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Douglas Coupland,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Generation X: Tales for an Accelerated Culture</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(Nova York: St. Martin's, 1991).</span></span><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">2</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Ver, por exemplo, Ulrich Beck,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">The Brave New World of Work</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>, trad.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Patrick Camiller (Cambridge: Polity, 2010).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">3</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Leonardo Belinelli, “O marxismo e as interpretações do Brasil: o caso do Seminário d'O Capital”,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">III Semana de Ciência Política<span> </span></span></span><span class="no-break" style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; white-space: nowrap;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">UFSCar — Democracia,</span></span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Conflito e Desenvolvimento na América Latina</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">4</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Roberto Schwarz,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Misplaced Ideas: Essays on Brazilian Culture</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(Londres: Verso, 1992).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">5</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Adrian Johnston, Ž<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">i<span> </span></span></span></i><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">ž<span> </span></span></span></i><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">ek</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>’s<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ontology: A Transcendental Materialist Theory of Subjectivity</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(Evanston, Ill .: Northwestern University Press, 2008).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">6</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Luiz Philipe de Caux e Felipe Catalani, “Uma passagem do dois ao zero: dualidade e desintegração no pensamento dialético brasileiro (Paulo Arantes, leitor de Roberto Schwarz),” Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">74 (2019): 119–46.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Tradução do próprio autor, ênfase adicionada.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">7</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Paulo Arantes, “A fratura brasileira do mundo”, em<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Zero à esquerda</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(São Paulo: Conrad, 2004).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">8</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Francisco de Oliveira,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Crítica à razão dualista / O ornitorrinco</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(São Paulo: Boitempo, 2003).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">9</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Francisco de Oliveira, “The Duckbilled Playtpus,”<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">New Left Review</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>no.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">24 (novembro / dezembro de 2003).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">10</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Roberto Schwarz, “Prefácio com perguntas”, in Francisco de Oliveria, ed.,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Crítica à razão dualista / O ornitorrinco</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(Boitempo, 2003).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">11</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Francisco de Oliveira, “The Duckbilled Playtpus.”</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">12</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Roberto Schwarz, “Pressupostos, salvo engano, de 'dialética da malandragem'” in<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Que horas são?<span> </span></span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">(São Paulo: Companhia das Letras, 1987).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">13</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>A origem do idioma merece uma história própria.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Os chefes do Palmeiras, clube de futebol de São Paulo, historicamente descendente de italianos, tiveram uma briga toda poderosa, que exigiu uma reunião de quatorze horas para ser resolvida.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Em algum momento, dezoito pizzas grandes foram encomendadas, junto com cerveja e vinho.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Depois da festa, as tensões foram resolvidas e eles conseguiram chegar a um grande compromisso confuso.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Tudo termina em pizza.</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">14</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Loïc Wacquant, "America as Social Dystopia" e "Inside the Zone", em Pierre Bourdieu, et al.,<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">The Weight of the World: Social Suffering in Contemporary Society</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(Stanford: Stanford University Press, 1999).</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">15</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Há uma semelhança aqui com um ex-governador e prefeito de São Paulo da época da ditadura, Paulo Maluf, que<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">defendia</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>o slogan<span> </span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">rouba mas faz</span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(rouba, mas faz as coisas).<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Os populistas contemporâneos que desejam denunciar a hipocrisia dos tecnocratas liberais, ao mesmo tempo que justificam sua própria corrupção, devem tomar nota!</span></span></p><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.618; margin: 0px 0px 0.75rem; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><sup style="box-sizing: inherit; font-size: 12px; line-height: 0; position: relative; top: -0.5em; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: baseline;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">16</span></span></sup><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Francisco de Oliveira, “O adeus do futuro ao país do futuro: uma biografia breve do Brasil,” in<span> </span></span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Brasil, uma biografia não autorizada</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(São Paulo: Boitempo, 2018).</span></span></p></div><div class="at-below-post addthis_tool" data-description="The West’s involution finds its mirror image in the original country of the future, the nation doomed forever to remain the country of the future, the one that never reaches its destination: Brazil. The Brazilianization of the world is our encounter with a future denied, and in which this frustration has become constitutive of our social reality. While the closing of historical horizons has often been a leftist, indeed Marxist, concern, the sense that things don’t work as they should is now widely shared across the political spectrum. Welcome to Brazil. Here the only people satisfied with their situation are financial elites and venal politicians. Everyone complains, but everyone shrugs their shoulders. This slow degradation of society is not so much a runaway train, but more of a jittery rollercoaster, occasionally holding out promise of ascent, yet never breaking free from the tracks. We always come back to where we started, shaken and disoriented, haunted by what might have been..." data-title="The Brazilianization of the World - American Affairs Journal" data-url="https://americanaffairsjournal.org/2021/05/the-brazilianization-of-the-world/" style="box-sizing: inherit; clear: both; margin: 0px; padding: 0px; transform-origin: 0px 0px 0px;"><div aria-labelledby="at-2d519d8d-38fb-422e-a797-ad1235a96b4d" class="at-share-tbx-element addthis-smartlayers addthis-animated at4-show" id="atstbx2" role="region" style="animation-duration: 0.3s; animation-fill-mode: both; animation-timing-function: ease-out; box-sizing: inherit; color: white; display: block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; font-size: 0px; line-height: 0; margin: 0px; opacity: 1; padding: 0px; position: relative; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span class="at4-visually-hidden" id="at-2d519d8d-38fb-422e-a797-ad1235a96b4d" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><div class="at-share-btn-elements" style="box-sizing: inherit; margin: 0px; padding: 0px; transform-origin: 0px 0px 0px;"><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-facebook" role="button" style="background-color: #3b5998; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 0px 5px 5px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-facebook-7" class="at-icon at-icon-facebook" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M22 5.16c-.406-.054-1.806-.16-3.43-.16-3.4 0-5.733 1.825-5.733 5.17v2.882H9v3.913h3.837V27h4.604V16.965h3.823l.587-3.913h-4.41v-2.5c0-1.123.347-1.903 2.198-1.903H22V5.16z" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-twitter" role="button" style="background-color: #1da1f2; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 0px 5px 5px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-twitter-8" class="at-icon at-icon-twitter" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M27.996 10.116c-.81.36-1.68.602-2.592.71a4.526 4.526 0 0 0 1.984-2.496 9.037 9.037 0 0 1-2.866 1.095 4.513 4.513 0 0 0-7.69 4.116 12.81 12.81 0 0 1-9.3-4.715 4.49 4.49 0 0 0-.612 2.27 4.51 4.51 0 0 0 2.008 3.755 4.495 4.495 0 0 1-2.044-.564v.057a4.515 4.515 0 0 0 3.62 4.425 4.52 4.52 0 0 1-2.04.077 4.517 4.517 0 0 0 4.217 3.134 9.055 9.055 0 0 1-5.604 1.93A9.18 9.18 0 0 1 6 23.85a12.773 12.773 0 0 0 6.918 2.027c8.3 0 12.84-6.876 12.84-12.84 0-.195-.005-.39-.014-.583a9.172 9.172 0 0 0 2.252-2.336" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-email" role="button" style="background-color: #848484; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 0px 5px 5px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-email-9" class="at-icon at-icon-email" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><g fill-rule="evenodd"></g><path d="M27 22.757c0 1.24-.988 2.243-2.19 2.243H7.19C5.98 25 5 23.994 5 22.757V13.67c0-.556.39-.773.855-.496l8.78 5.238c.782.467 1.95.467 2.73 0l8.78-5.238c.472-.28.855-.063.855.495v9.087z"></path><path d="M27 9.243C27 8.006 26.02 7 24.81 7H7.19C5.988 7 5 8.004 5 9.243v.465c0 .554.385 1.232.857 1.514l9.61 5.733c.267.16.8.16 1.067 0l9.61-5.733c.473-.283.856-.96.856-1.514v-.465z"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-linkedin" role="button" style="background-color: #0077b5; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 0px 5px 5px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-linkedin-10" class="at-icon at-icon-linkedin" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M26 25.963h-4.185v-6.55c0-1.56-.027-3.57-2.175-3.57-2.18 0-2.51 1.7-2.51 3.46v6.66h-4.182V12.495h4.012v1.84h.058c.558-1.058 1.924-2.174 3.96-2.174 4.24 0 5.022 2.79 5.022 6.417v7.386zM8.23 10.655a2.426 2.426 0 0 1 0-4.855 2.427 2.427 0 0 1 0 4.855zm-2.098 1.84h4.19v13.468h-4.19V12.495z" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-print" role="button" style="background-color: #738a8d; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 0px 5px 5px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-print-11" class="at-icon at-icon-print" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M24.67 10.62h-2.86V7.49H10.82v3.12H7.95c-.5 0-.9.4-.9.9v7.66h3.77v1.31L15 24.66h6.81v-5.44h3.77v-7.7c-.01-.5-.41-.9-.91-.9zM11.88 8.56h8.86v2.06h-8.86V8.56zm10.98 9.18h-1.05v-2.1h-1.06v7.96H16.4c-1.58 0-.82-3.74-.82-3.74s-3.65.89-3.69-.78v-3.43h-1.06v2.06H9.77v-3.58h13.09v3.61zm.75-4.91c-.4 0-.72-.32-.72-.72s.32-.72.72-.72c.4 0 .72.32.72.72s-.32.72-.72.72zm-4.12 2.96h-6.1v1.06h6.1v-1.06zm-6.11 3.15h6.1v-1.06h-6.1v1.06z"></path></g></svg></span></a><a class="at-icon-wrapper at-share-btn at-svc-compact" role="button" style="background-color: #ff6550; border-radius: 0%; border: 0px none; box-shadow: none; box-sizing: inherit; color: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; font-family: "helvetica neue", helvetica, arial, sans-serif; line-height: 0; margin: 0px 0px 5px 5px; overflow: hidden; padding: 0px; text-decoration: none; text-transform: none; transform-origin: 0px 0px 0px; transition: all 0.2s ease-in-out 0s; vertical-align: middle;" tabindex="0"><span class="at4-visually-hidden" style="border: 0px none; box-sizing: inherit; clip: rect(1px, 1px, 1px, 1px); overflow: hidden; padding: 0px; position: absolute; transform-origin: 0px 0px 0px;"></span><span class="at-icon-wrapper" style="box-sizing: inherit; cursor: pointer; display: inline-block; height: 32px; line-height: 32px; overflow: hidden; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: middle; width: 32px;"><svg aria-labelledby="at-svg-addthis-12" class="at-icon at-icon-addthis" style="height: 32px; width: 32px;" viewbox="0 0 32 32" xmlns:xlink="http://www.w3.org/1999/xlink" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g><path d="M18 14V8h-4v6H8v4h6v6h4v-6h6v-4h-6z" fill-rule="evenodd"></path></g></svg></span></a></div></div></div></div><aside class="content-authorbox" style="background-color: #f6f6f6; box-sizing: inherit; display: block; font-size: 0.824rem; margin-top: 4rem; overflow: hidden; padding-bottom: 2rem; position: relative; transform-origin: 0px 0px 0px;"><h4 style="box-sizing: inherit; color: inherit; font-family: savoybold, Georgia, serif; font-size: 0.85rem; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 1.1; margin: 2rem auto 0px; max-width: 60%; padding: 0px; position: relative; text-align: center; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="background-color: #f6f6f6; box-sizing: inherit; margin: 0px 1rem; padding: 0px 1rem; position: relative; transform-origin: 0px 0px 0px; z-index: 1;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Sobre o autor</span></span></span></h4><div class="content-authorbox-bio" style="box-sizing: inherit; margin: 0px; padding: 1rem 2rem 0px; transform-origin: 0px 0px 0px;"><p style="box-sizing: inherit; font-size: inherit; line-height: 1.332; margin: 0px; padding: 0px; text-rendering: optimizelegibility; transform-origin: 0px 0px 0px;"><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><b style="box-sizing: inherit; font-weight: bold; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Alex Hochuli</span></span></b><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>é um escritor freelance e consultor de pesquisa baseado em São Paulo, Brasil.<span> </span></span><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;">Ele é co-apresentador do podcast de política global</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>Aufhebunga Bunga</span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>e co-autor do próximo</span></span></i><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>The End of the End of History</span></span><i style="box-sizing: inherit; font-family: savoyitalic, Georgia, serif; font-style: normal; line-height: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span style="box-sizing: inherit; transform-origin: 0px 0px 0px; vertical-align: inherit;"><span> </span>(Zero Books, 2021).</span></span></i></p></div></aside></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-7550350750093093042021-06-08T15:29:00.004-07:002021-06-08T15:29:44.502-07:00E SE ELE FOR LOUCO?<p> </p><div class="post-header" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Piaui-regular, tahoma, sans-serif; margin: 0px 0px 20px; padding: 0px; text-align: center;"><div class="inner" style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><h2 class="bloco-title" style="box-sizing: border-box; font-family: Piaui; font-size: 60px; line-height: 1; margin: 10px 0px 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">E SE ELE FOR LOUCO?</h2><h3 class="bloco-chamada" style="box-sizing: border-box; color: #4a4a4a; font-family: Piaui-regular; font-size: 24px; font-weight: normal; line-height: 1.2; margin: 10px 0px 0px; padding: 0px;">Suspeitar da sanidade mental de Bolsonaro não permite encurtar caminho para afastá-lo; saída legal é o impeachment</h3><span class="bloco-autor" style="box-sizing: border-box; display: block; font-family: Piaui, sans-serif; font-size: 22px; font-weight: bold; margin: 16px 0px 4px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">RAFAEL MAFEI</span><div class="bloco-data" style="box-sizing: border-box; margin: 5px 0px 0px; padding: 0px;"> Revista Piaui - <b>31mar2020_09h16</b></div><div class="header-share" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; margin: 20px 0px 0px; padding: 20px 0px 0px; position: relative;"><div class="social" style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><a href="http://facebook.com/share.php?u=https://piaui.folha.uol.com.br/e-se-ele-for-louco/&t=E+se+ele+for+louco%3F" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 0px 10px 0px 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; vertical-align: middle;" target="_blank" title="Compartilhar no Facebook"><svg class="icon icon-facebook" viewbox="0 0 1792 1792"><use xlink:href="https://piaui.folha.uol.com.br/wp-content/themes/piaui_2018/images/sprite.svg#icon-facebook"></use></svg></a> <a href="http://twitter.com/intent/tweet?text=E%20se%20ele%20for%20louco?&url=https://piaui.folha.uol.com.br/e-se-ele-for-louco/" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 0px 10px 0px 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; vertical-align: middle;" target="_blank" title="Compartilhar no Twitter"><svg class="icon icon-twitter" viewbox="0 0 1792 1792"><use xlink:href="https://piaui.folha.uol.com.br/wp-content/themes/piaui_2018/images/sprite.svg#icon-twitter"></use></svg></a> <a href="mailto:?Subject=E%20se%20ele%20for%20louco?&Body=E%20se%20ele%20for%20louco?\nhttps://piaui.folha.uol.com.br/e-se-ele-for-louco/" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; height: auto; margin: 0px 10px 0px 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none; vertical-align: middle;"><svg class="icon icon-mail icon-stroke-noFill " viewbox="0 0 26 17"><use xlink:href="https://piaui.folha.uol.com.br/wp-content/themes/piaui_2018/images/sprite.svg#icon-mail"></use></svg></a></div></div></div></div><div class="post-img" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Piaui-regular, tahoma, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;"><img alt="" src="https://piaui.folha.uol.com.br/wp-content/uploads/2020/03/bolsonaro-interna-3.jpg" style="box-sizing: border-box; display: block; height: auto; margin: auto; max-width: 100%; padding: 0px;" /><div class="post-legenda" style="box-sizing: border-box; font-family: Piaui; font-size: 1em; font-weight: 700; margin: 0px; padding: 3px 0px; text-align: justify;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"></span><br /></div></div><div id="" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Piaui-regular, tahoma, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;"><div id="ad-topo" style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; text-align: center;"></div></div><div class="post-inner" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #2b2b2b; font-family: Palatino, serif; font-size: 20px; line-height: 1.4; margin: 50px auto auto; max-width: 620px; padding: 0px;"><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><span class="capitalize" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-family: Piaui, Tahoma, sans-serif !important; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">H</span>á não muito tempo, um país sul-americano elegeu um presidente que disputou a eleição com uma bandeira de oposição ao </span><i style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">establishment</i><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"> político e de proximidade com o povo. Embora não fosse favorito, para surpresa de muitos, acabou vencendo. Na campanha, proferia discursos virulentos contra “a elite” e adotava um estilo de animador de auditório. Seus comícios eram espetáculos de simbiose com a plateia. Por seus desafios aos protocolos da comunicação política, ganhou de seus apoiadores o apelido de “Louco”.</span></p><div class="piaui-miolopost" id="piaui-1929865688" style="box-sizing: border-box; margin: 50px; padding: 0px; text-align: center;"><div class="ad" data-google-query-id="CPvK0cH7iPECFZkDuQYd4OkGjQ" id="banner-300x250-area" style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><div id="google_ads_iframe_/8804/parceiros/revista_piaui_0__container__" style="border: 0pt none; box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><iframe allow="conversion-measurement 'src'" data-google-container-id="1" data-load-complete="true" frameborder="0" height="250" id="google_ads_iframe_/8804/parceiros/revista_piaui_0" marginheight="0" marginwidth="0" name="google_ads_iframe_/8804/parceiros/revista_piaui_0" sandbox="allow-forms allow-popups allow-popups-to-escape-sandbox allow-same-origin allow-scripts allow-top-navigation-by-user-activation" scrolling="no" style="border-style: initial; border-width: 0px; box-sizing: border-box; display: block; margin: 0px auto; padding: 0px; vertical-align: bottom;" title="3rd party ad content" width="320"></iframe></div></div></div><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Uma vez eleito, “Louco” manteve, no exercício da Presidência, o mesmo comportamento excêntrico da campanha: seguiu fazendo shows com astros da música que o apoiavam, cantando e dançando ao lado de animadoras de palco em trajes menores. Envolveu-se com cartolagem futebolística e prometeu 1 milhão de dólares a Maradona caso ele jogasse uma partida por seu time. Tornou-se também um campeão da grosseria política: atacava autoridades e ex-presidentes com linguagem chula; na sua relação com o Legislativo, optava sempre pelo confronto.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">“Louco” nunca fora apreciado pelas elites econômicas, que o tomavam por demagogo e populista. Seu comportamento hostil à liturgia presidencial rapidamente lhe rendeu também a antipatia da imprensa. Ao propor um plano econômico de viés neoliberal, alienou as centrais sindicais e boa parte de sua camada de apoio nas classes mais baixas. Sua grosseria descompensada afastou progressivamente a classe média urbana. Em meio a denúncias de corrupção contra seu governo, o embaixador dos Estados Unidos no país veio a público reclamar da escorchante cobrança de propinas por funcionários de alfândega. </span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Quando as ruas se encheram de manifestantes, o Congresso entendeu o recado: Abdalá “El Loco” Bucaram foi afastado da presidência do Equador após uma sessão relâmpago do Congresso, com fundamento em sua inaptidão mental para exercer o cargo. Foi presidente por breves seis meses, de agosto de 1996 a fevereiro de 1997.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">As reações do presidente Jair Bolsonaro à pandemia de Covid-19, especialmente a partir de seu pronunciamento na noite de 24 de março, contrariando evidências, desafiando cientistas e debochando da realidade, fizeram subir as apostas de que algo muito sério não vai bem em seu juízo. A hipótese da loucura já havia sido cogitada no primeiro semestre de 2019, quando Bolsonaro coroou o errático início de seu governo com ofensas ignóbeis à memória do pai do presidente nacional da OAB, vítima da ditadura militar. “</span><a href="https://guaiba.com.br/2019/07/29/e-caso-de-interdicao-considera-miguel-reale-jr-sobre-bolsonaro/" style="border-bottom: 2px solid rgb(63, 213, 240); box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">O caso de Bolsonaro não é de impeachment, é de interdição”, disse, à época, Miguel Reale Júnior</span></a><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">. A saída para o Brasil de Bolsonaro seria análoga àquela adotada pelo Equador de Bucaram.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A ideia ensaia voltar com força agora. Em face do maior desafio da saúde pública de nossa história, Bolsonaro escolheu embrulhar desinformação epidemiológica (“gripezinha”, “histeria”, “meu passado de atleta”, “pula em esgoto e não acontece nada”, “vidro blindado”) nos trajes de gala dos pronunciamentos presidenciais. Optou por partir para o confronto aberto com profissionais da respeitável tradição sanitarista brasileira, com secretários de Saúde estaduais e até com seu ministro da Saúde. A hashtag #InterdicaoJa disputa espaço entre os </span><i style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">trending topics</i><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"> do Twitter.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A hipótese da loucura é embalada por uma aposta jurídica: seus proponentes acreditam que ela permitiria o afastamento de Bolsonaro por uma via mais expedita que um processo de impeachment, seja porque não ficaria condicionada à comprovação de crimes de responsabilidade, seja porque dispensaria a Câmara e o Senado de se ocuparem, neste momento de emergência nacional, com os desgastantes processos de autorização e julgamento da denúncia contra o presidente. O cálculo é estratégico: se não há clima para um processo de impeachment, tentemos outra via, que não depende das mesmas condicionantes políticas, econômicas e sociais.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A aposta não tem fundamento. O afastamento de um presidente por incapacidade mental, como via alternativa ao impeachment, não é um atalho jurídico disponível para nós. O Brasil não fez a opção de tratar a incapacidade mental superveniente do presidente como hipótese autônoma para sua remoção, e o impeachment serve também para dar conta desses casos.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><span class="capitalize" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-family: Piaui, Tahoma, sans-serif !important; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">A</span>lguns países têm mecanismos jurídicos específicos para salvaguarda de suas instituições na hipótese de o presidente tornar-se mentalmente incapacitado para o exercício do cargo. Além do já citado exemplo do Equador, a constituição do Paquistão prevê afastamento do presidente por “incapacidade física ou mental, ou impeachment por grave ofensa à Constituição”; e previsão semelhante existe nos EUA, desde que o Congresso aprovou a 25</span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">a</span><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"> emenda constitucional, em 1967.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Na falta de um procedimento voltado à superveniência de incapacidade física ou mental do presidente, a situação é muitas vezes enfrentada por acordos, remendos e muitos segredos.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">No Brasil, o mais conhecido exemplo foi o de Artur da Costa e Silva,</span> <span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">segundo presidente da linhagem da ditadura de 1964-1985. O general sofreu uma sequência de acidentes vasculares cerebrais no final de agosto de 1969. Já vinha manifestando sintomas de confusão na fala desde dias antes, quando não conseguiu se expressar em uma solenidade política em Taquari, Rio Grande do Sul, sua cidade natal. Colocou-se a culpa em uma gripe.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Os episódios de perda de fala se renovaram nos dias seguintes. O médico do serviço de saúde da Presidência da República examinou Costa e Silva e concluiu tratar-se de estafa. Já o próprio presidente autodiagnosticou seu caso como baixa glicêmica, e chupou balas de mel para ver se melhorava, conforme relata Elio Gaspari. Não melhorou.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">O quadro era, na verdade, de isquemia: falta de irrigação nas veias cerebrais. Em pouco tempo, Costa e Silva ficou sem fala, perdeu a mobilidade do lado direito do corpo e acabou com a face repuxada, escondida do público por um grande cachecol usado entre o calor do Rio de Janeiro e de Brasília.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Para não dar posse ao vice-presidente Pedro Aleixo, um civil que havia se oposto ao AI-5 na reunião em que foi decidido, em dezembro de 1968, os militares decidiram deixar Costa e Silva dentro do Palácio do Planalto, embora estivesse absolutamente incapacitado. O raciocínio: enquanto ele lá estivesse, e conquanto permanecesse vivo, seria possível sustentar que a Presidência não estava vaga, e que portanto não seria o caso de passar a faixa para Aleixo. A Constituição de 1967, com idêntica redação à atual nesta matéria, dizia que o vice substituiria o presidente “em caso de impedimento” e o sucederia “no de vaga”. </span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">De forma improvisada e sem qualquer previsão legal, o exercício do Poder Executivo foi transmitido a uma junta composta pelos ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Costa e Silva morreu três meses depois, e Pedro Aleixo jamais assumiu o cargo: Emílio Garrastazu Médici foi escolhido presidente após consulta aos generais das Forças Armadas e tomou posse em 30 de outubro de 1969.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><span class="capitalize" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-family: Piaui, Tahoma, sans-serif !important; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">N</span>os Estados Unidos, há abundantes histórias de segredos e arranjos furtivos em razão de incapacidade presidencial antes da aprovação da 25ª emenda. Woodrow Wilson, durante seu segundo mandato (1918-1921), sofreu um derrame que o comprometeu física e mentalmente. Por um ano e meio, sua esposa Edith tornou-se uma espécie de guardiã fiduciária da Presidência: além de agir para ocultar da opinião pública a real condição de saúde do presidente, participava das reuniões ministeriais e decidia quais assuntos eram importantes a ponto de merecer a reduzida atenção de que seu marido ainda dispunha. Segundo a historiadora Judith Weaver, Edith foi decisiva em episódios importantes da história política dos EUA: sua animosidade em relação ao secretário de Estado Robert Lansing levou Wilson a demiti-lo, e sua recusa em permitir que o presidente se aconselhasse com outros políticos foi decisiva para a derrota da proposta de adesão dos EUA à Liga das Nações, ao final da Primeira Guerra Mundial.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A história de Woodrow Wilson não é única: James Madison, durante a Guerra de 1812 entre Estados Unidos e Grã-Bretanha, passou quatro semanas incapacitado por uma febre delirante; Grover Cleveland, em 1893, submeteu-se a uma cirurgia para retirada de um tumor no iate particular de um amigo (nem mesmo seu vice-presidente sabia do plano mirabolante); e Dwight Eisenhower, após sofrer um infarto em 1955 e um derrame anos depois, combinou privadamente com seu vice, Richard Nixon, uma transição suave em caso de eventual incapacidade duradoura.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Esses fatos foram reavivados quando John F. Kennedy foi baleado em Dallas, em 1963. Até que se confirmasse a notícia de sua morte, houve dúvidas sobre como o Executivo seria dirigido caso ele permanecesse vivo, mas acabasse física ou mentalmente incapacitado. Seria Jackie uma nova Edith? Haveria alguma espécie de acordo de cavalheiros com seu vice, Lyndon Johnson? A morte de Kennedy não impediu que a hipótese contrafactual – sua sobrevivência em condições de incapacidade física ou mental – animasse o Congresso a agir. Assim nasceu a 25ª emenda, aprovada em 1967.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Em relação à incapacidade presidencial, a 25ª</span> <span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">emenda da Constituição dos Estados Unidos tem duas partes – uma fácil, outra difícil.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A parte fácil, contida na seção terceira, cuida dos casos em que o presidente requer seu afastamento do cargo por reconhecer que está ou ficará incapacitado: ele pede, o vice-presidente assume e ele volta quando estiver bem. A parte difícil está em sua seção quarta, e diz respeito à situação em que o presidente incapaz se recusa a reconhecer sua condição. Nesses casos, o vice-presidente e a maioria simples da totalidade dos ministros de Estado podem submeter ao Congresso uma declaração de que o chefe do Executivo está incapacitado para o exercício de suas funções. A questão então é decidida pelo Congresso, após uma investigação livre: se dois terços de ambas as casas assim decidirem, o presidente é afastado do cargo.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Comentadores desta emenda apontam que ela é mais complicada do que a hipótese do impeachment, não apenas porque requer ação conjunta do vice-presidente e da maioria dos ministros, mas também porque ela leva não à remoção definitiva, mas ao afastamento enquanto dure a incapacidade: em tese, o presidente pode pedir sua reavaliação periodicamente, buscando provar que está apto a voltar ao cargo.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Há consenso também de que a incapacidade que autoriza o afastamento presidencial deve ser genuína e impeditiva de sua atuação funcional: ela deve ser de tal ordem que o presidente reste impossibilitado de usar suas faculdades mentais usuais para a tomada de decisões. “A questão é saber se ele é capaz de desempenhar suas funções constitucionais”, afirma Cass Sunstein em </span><i style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Impeachment:</i> <i style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">a Citizen’s Guide</i><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">. Consequentemente, “se o presidente é capaz de fazer seu trabalho, a Constituição não autoriza a transferência do poder apenas porque ele não o desempenha bem”, escrevem Tribe e Matz em </span><i style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">To End a Presidency</i><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">.</span> <span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Incompetência, omissão, despreparo intelectual, inexperiência, má escolha de prioridades, estupidez incorrigível, mitomania, pendor autoritário, falta de caráter: nada disso é sinal de incapacidade em sentido próprio, embora sejam ingredientes seguros para uma presidência desastrosa e indigna, e possam levar a um impeachment.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A declaração de incapacidade contra a vontade do presidente é, portanto, um procedimento dificílimo de se sustentar, não só porque seu gatilho é politicamente complexo, mas principalmente porque a duração de seus efeitos é efêmera. Não houve quem cogitasse seriamente essa estratégia contra Donald Trump, por fundadas que sejam as suspeitas de que há parafusos soltos em sua cabeça.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Nos Estados Unidos, o impeachment é cabível contra qualquer autoridade civil, e não apenas contra alguns poucos ocupantes de cargos políticos elevados, como no Brasil. Por lá, já houve outras autoridades que, diante de alegada incapacidade mental, encontraram o destino do impeachment. Nesse tema, os EUA são referência importante para nós, já que nosso desenho do impeachment, em grande parte inalterado desde a Constituição de 1891, foi explicitamente inspirado no modelo norte-americano. O registro é importante pois sugere que, na falta de previsão específica, o remédio para a remoção de uma autoridade mentalmente incapacitada há de ser mesmo o impeachment. </span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">John Pickering, juiz de corte superior no estado de New Hampshire, sofreu impeachment no início do século XIX por incapacidade mental para o exercício da magistratura. Pickering, ao que tudo indica, desenvolveu alcoolismo severo durante sua carreira de juiz: passou a comparecer bêbado às sessões de seu tribunal, usava palavrões contra seus colegas e perambulava delirante pelas ruas da cidade. Deixou de ir ao julgamento de seu caso em Washington, D.C. porque adquiriu um medo paralisante de cruzar rios.</span> <span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Sua conduta foi considerada imprópria, danosa à imagem e à integridade de seu tribunal. O precedente sugere que nada há de incompatível entre o instituto de impeachment e seu uso para defender a dignidade de uma instituição política da incapacidade mental de seu ocupante.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;"><span class="capitalize" style="box-sizing: border-box; display: inline-block; float: left; font-family: Piaui, Tahoma, sans-serif !important; font-size: 100px; font-weight: 700; line-height: 60px; margin: 12px 5px 0px 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">A</span>o Brasil: na justificativa do Projeto de Lei do Senado (PLS) 22, que viria a se tornar a atual Lei do Impeachment (Lei 1.079, de 1950), o deputado Raul Pilla, um dos proponentes do projeto, lembrou oportunamente que o termo “crimes de responsabilidade” é enganoso, e só é guardado entre nós por uma tradição que remonta à legislação do Império. A conduta que enseja afastamento do cargo não precisa ser propriamente </span><i style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">criminosa</i><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">, na estrita acepção jurídica (penal) do termo. Sua maior característica não é a reprovabilidade, mas sim a danosidade às instituições da República, a começar pela própria Presidência. Consequentemente, o que importa é constatar a “inaptidão para exercer a função pública”, discursou Pilla. Em termos de enquadramento legal, o caminho seria considerar o presidente indigno para o exercício do cargo (Lei 1.079, art. 9, n. 7), e afastá-lo por esse motivo ao final de um processo de impeachment.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Assim, não faz diferença se a inaptidão para o exercício da Presidência, e o trauma institucional que ela acarreta, decorrem de malícia, de traços de personalidade, de maquiavelismo político ou de incapacidade mental – ou de tudo isso somado. No sistema brasileiro, o caminho para reconhecê-la será sempre o impeachment. Neste ponto, há uma curiosa semelhança com o sistema dos EUA, embora lá os ritos não se confundam: lá, como aqui, a decisão final sobre a incapacidade do presidente, embora possa considerar opiniões e relatos médicos, </span><a href="https://www.theatlantic.com/politics/archive/2017/05/presidential-disability-is-a-political-question/527703/" style="border-bottom: 2px solid rgb(63, 213, 240); box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration-line: none;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">é uma decisão política, porque tomada pela Câmara de Deputados e pelo Senado Federal</span></a><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">A hipótese da loucura parece sedutora porque sugere a possibilidade de remoção presidencial por um caminho mais breve do que o impeachment. Mas, diante da falta de previsão específica no direito brasileiro, ela seria um improviso descabido.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">No já citado exemplo de Bucaram, no Equador, o Legislativo aproveitou-se de que não se tratava de impeachment propriamente, mas de remoção por incapacidade, para dispensar-se de atingir a maioria qualificada de dois terços. Bucaram foi apeado da Presidência por votação da maioria simples do Congresso, num rito que durou apenas poucas horas.</span> <span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Embora o desfecho final do episódio não tenha sido o de um golpe de Estado clássico, a impressão que sobrou foi a de um remendo acochambrado. Não há qualquer razão institucionalmente respeitável para tratar a remoção de um presidente da República por insanidade mental como algo de seriedade menor, inclusive em comparação à declaração de incapacidade de um cidadão comum, um rito cercado de cuidados com sua dignidade.</span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Jair Bolsonaro não adquiriu a morbidez de espírito que o caracteriza por força de uma decomposição moral progressiva ao longo de sua Presidência. Sua degenerescência política sempre foi ostentada com orgulho: o pendor pela mentira, pelo conflito figadal, pela paranoia desinformada, pela incivilidade e pela descompostura constituem seu figurino de homem público desde sempre. Foi marca de sua campanha, infelizmente referendada pelo eleitorado em 2018, que ele apenas levou consigo para o Planalto. Quem acredita, seriamente, que seu comportamento agora decorre de condição mental </span><i style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">superveniente</i><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">? </span></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.4em; padding: 0px;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px; padding: 0px;">Não faltam motivos para a denúncia, o processo e a condenação de Jair Bolsonaro por crimes de responsabilidade. Seu comportamento na crise da pandemia de Covid-19 sem dúvida aumenta seu rol de ofensas ao decoro e à dignidade presidenciais, às demais instituições e a direitos fundamentais. Mas o caminho para reagir continua sendo o do impeachment. É esse o esforço que a Constituição nos impõe. Não existem atalhos.</span></p></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-4477227434960859862021-06-08T13:42:00.003-07:002021-06-08T13:42:47.618-07:00O país desabando<p> </p><header class="entry-header" style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: "open sans", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><h1 class="entry-title" style="border: 0px; clear: both; font-size: 1.57143rem; font-weight: 400; line-height: 1.2; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><a href="https://www.zebeto.com.br/2021/06/06/o-pais-desabando/" rel="bookmark" style="border: 0px; color: #6d6e70; font-size: 28.6px; margin: 0px; outline: dotted thin; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O país desabando</a></h1></header><div class="entry-content" style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: "open sans", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 1.71429; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="at-above-post-homepage addthis_tool" data-url="https://www.zebeto.com.br/2021/06/06/o-pais-desabando/" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></div><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">por <strong style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Antonio Prata</strong></p><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><em style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Se fosse ‘Star Wars’, vocês estariam do lado de Darth Vader</em></p><div class="block" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="container j-paywall" data-paywall-box="" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="flex-cell" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="row" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="col col--lg-5-18" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="c-more-options" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="c-more-options__footer u-no-print rs_skip" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></div></div></div><div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="c-news__content" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Um edifício irregular, num bairro irregular, numa cidade irregular, num estado irregular, num país irregular, desabou. Quando o delinquente Ricardo Salles fala em <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/pressao-sobre-pf-e-criticas-a-politicos-e-stf-dominaram-reuniao-entenda.shtml" style="border: 0px; color: #21759b; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; vertical-align: baseline;">“passar a boiada”</a>, em desregulamentar, ele está simplesmente aplicando à Amazônia os métodos da milícia em Rio das Pedras. A gente sabe como termina: em escombros, fogo e morte.</p><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Rio das Pedras, o berço das <a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/06/milicia-visa-retorno-financeiro-e-capital-politico-com-expansao-imobiliaria-irregular-diz-sociologo.shtml" style="border: 0px; color: #21759b; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; vertical-align: baseline;">milícias cariocas</a>, do Escritório do Crime, dos assassinos da Marielle, é também curral eleitoral da família Bolsonaro. Local de grande influência do Fabrício Queiroz, capataz do presidente e babá de seus filhos. O MP-RJ tem gravação do Queiroz falando com a mulher sobre ajudar os milicianos do bairro. E isso deve ser só a ponta do iceberg.</p><div class="teads-inread sm-screen" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="teads-player" id="teads0" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></div></div><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Deus do céu, precisa de CPI?! Fabrício Queiroz até outro dia estava escondido na casa do advogado do senador Flávio Bolsonaro. Flávio que, segundo matéria do The Intercept, financiou com dinheiro da “rachadinha”, coletado por Queiroz, construções irregulares de milicianos em Rio das Pedras. Tipo essa que desabou. O dinheiro era dado ao matador Adriano da Nóbrega. Um homem que assassinava por dinheiro, mas também por prazer: se pudesse escolher, preferia a faca. O artesão do homicídio foi homenageado por Flávio Bolsonaro com a maior honraria legislativa do Rio de Janeiro, a Medalha Tiradentes. Bolsonaro disse, em março deste ano, que foi ele quem mandou Flávio fazer a homenagem.</p><div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><div class="c-advertising__banner-area" id="banner-300x250-area-materia" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></div></div><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">O<a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/06/predio-de-quatro-andares-desaba-na-zona-oeste-do-rio-ha-feridos.shtml" style="border: 0px; color: #21759b; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; vertical-align: baseline;"> prédio desabado em Rio das Pedras</a> e a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/06/exercito-decide-nao-punir-pazuello-por-participacao-em-ato-com-bolsonaro-no-rio.shtml" style="border: 0px; color: #21759b; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; vertical-align: baseline;">anistia das Forças Armadas a Pazuello</a> são a mesma coisa: a destruição das estruturas. O desprezo à lei. Como é a mesma coisa o silêncio cúmplice do Conselho Federal de Medicina e dos CRMs diante de profissionais criminosos que recomendaram e seguem recomendando cloroquina. É a mesma coisa o apoio tácito ou explícito dos industriais, dos empresários, do mercado financeiro, do Facebook e do Twitter, que analisam a morte de 500 mil brasileiros de HP na mão. Talvez digam que já estava “precificado”. Se fosse “Star Wars”, vocês estariam do lado de Darth Vader. Como vocês dormem?</p><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Está errado dizer que Bolsonaro é um genocida: o genocida quer acabar exclusivamente com um grupo étnico, religioso ou cultural. Bolsonaro é mais generoso em sua morbidez. Ele passará por cima de quem for preciso para instalar seu projeto miliciano, para perpetuar-se em seu Gabinete do Crime e do Ódio, com a ajuda dos “consiglieri” de pós-doc na parede, óculos de tartaruga na fuça e sangue nas mãos. Guedes e Salles, o contador e o meirinho da máfia. Perdão pela comparação, Corleone, pois este bando não conhece a “omertà”.</p><div class="player_dynad_tv rs_skip" style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;"></div><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Todos os que não estão se insurgindo agora diante do desmoronamento do país terão que explicar aos filhos e netos, um dia, quando esta mortandade for ensinada nas escolas: por que se calaram? Por que não fizeram nada quando os judeus embarcavam em trens de carga e o chicote cantava no pelourinho? Covardes.</p><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;">Eu sei o que direi aos meus filhos. Olivia e Daniel, deixo aqui registrado: eu e muitos à minha volta estávamos lutando pela lei, pela verdade, pela justiça. Estávamos escrevendo, nos manifestando, reportando, unindo forças, arrecadando dinheiro para a resistência e assim continuaremos até o fim, o nosso ou o da tragédia, para que vocês e todos os outros brasileiros, brancos e pretos, homens e mulheres, possam um dia viver num país decente. Pode soar piegas, mas eu não quero ser original, eu quero sobreviver.</p><p style="border: 0px; line-height: 1.71429; margin: 0px 0px 1.71429rem; padding: 0px; vertical-align: baseline;"><em style="border: 0px; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">*Publicado na Folha de S.Paulo</em></p></div></div></div></div></div></div></div></div></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-4976699526527492282021-03-28T13:52:00.004-07:002021-03-28T13:52:42.738-07:00A epidemia fugiu do controle, e só podemos contar com nós mesmos<p> </p><h1 class="entry-title">A epidemia fugiu do controle, e só podemos contar com nós mesmos</h1>
<div class="entry-content">
<p>por <strong>Drauzio Varella</strong></p>
<p><em>Brasileiros decretaram o fim do coronavírus em novembro sob a justificativa de que ninguém aguentava mais ficar em casa</em></p>
<div class="block">
<div class="container j-paywall" data-paywall-box="">
<div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row">
<div class="flex-cell">
<div class="row">
<div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="">
<p>Os brasileiros decretaram o fim da epidemia, em novembro do ano
passado. Os bares lotaram, multidões nas praias, famílias reunidas no
Natal e no Ano-Novo, festas clandestinas à luz da noite espalhadas pelas
cidades, Carnaval.</p>
<p>A justificativa para esse comportamento estúpido era a de que ninguém aguentava mais ficar em casa.</p>
<p>Em janeiro, chegaram as férias. Os hotéis dos recantos turísticos
voltaram a receber hóspedes, as ruas das metrópoles se encheram de gente
aglomerada sem máscara e de ônibus e trens superlotados pelos que não
tinham alternativa senão trabalhar.</p>
<p>Alheio a tudo, o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/08/pergunta-para-o-paulo-guedes-diz-bolsonaro-sobre-piora-em-indicadores.shtml">presidente da República passeava de jet ski</a>, cumprimentava admiradores e posava sem máscara para selfies, o Ministério da Saúde distribuía o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/01/aplicativo-do-ministerio-da-saude-estimula-usar-hidroxicloroquina-para-tratar-covid-ate-em-bebes.shtml">kit Covid</a>, deputados e senadores tentavam aprovar uma <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/02/entenda-a-pec-que-amplia-a-imunidade-parlamentar-e-reduz-as-chances-de-prisao-de-deputados-e-senadores.shtml">emenda à Constituição</a>
para livrá-los da prisão em flagrante e faltava coragem à maioria de
governadores e prefeitos para decretar medidas rígidas de afastamento
social.</p>
<p>Os médicos, os sanitaristas e os epidemiologistas que alertavam para
as dimensões da tragédia em gestação eram considerados alarmistas e
defensores de interesses políticos escusos.</p>
<p>Deu no que deu: <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/brasil-chega-a-300-mil-mortos-por-covid-apenas-75-dias-depois-de-registrar-200-mil.shtml">300 mil mortos</a>, hospitais com<a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/internacoes-em-utis-por-covid-em-sp-estao-85-acima-de-pico-de-2020-ha-avanco-em-todas-as-regioes.shtml"> UTIs</a> sem leitos para oferecer aos doentes graves, milhares de pacientes morrendo<a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/fila-de-espera-por-leito-de-uti-no-brasil-tem-mais-de-6300-pacientes-com-covid.shtml"> à espera de uma vaga</a>.</p>
<p>O que acontecerá nas próximas semanas? Chegaremos a 400 mil mortes?</p>
<p>Os hospitais brasileiros estão em colapso. Os infectados foram tantos
que abrir mais leitos em UTI é enxugar gelo. Os gestores investem em
equipamentos e profissionais para abrir vagas que serão ocupadas em
menos de 24 horas.</p>
<p>O número de óbitos em casa e nas unidades básicas de saúde despreparadas para o atendimento é enorme. Os estoques de<a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2021/03/medicamentos-para-intubar-paciente-devem-acabar-em-20-dias-e-associacoes-pedem-socorro-a-anvisa.shtml"> medicamentos para a sedação</a> dos
doentes entubados chegam ao fim. Começam a faltar até corticosteroides e
anticoagulantes, medicações de baixo custo que o Ministério da Saúde
não se preocupou em adquirir.</p>
<p>As vacinas perderam o “timing” para conter a escalada atual. Ainda
que fosse possível vacinar todos os brasileiros neste fim de semana, as
mortes continuariam a se suceder da mesma forma, pelo menos durante o
mês de abril e uma parte de maio.</p>
<p>Vejam a situação de São Paulo, o estado que conta com o sistema de
saúde mais organizado do país. No pico da primeira onda, dispúnhamos de
cerca de 9.000 leitos de UTI, agora temos 14 mil, lotados. No dia 17 de
março havia pelo menos 1.400 pessoas à espera de internação em UTI.</p>
<p>O maior complexo de saúde do Brasil, o Hospital das Clínicas,
recebia, em fevereiro, a média de 56 pedidos de internação; nos últimos
sete dias foram 364, dos quais 110 estavam em estado grave por outras
doenças e 254 por Covid.</p>
<p>Se esse é o panorama no estado mais rico, caríssima leitora, dá para imaginar o caos no resto do país?</p>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<p><span id="more-455606"></span></p>
<p>Parece que nossos dirigentes despertaram para as dimensões da tragédia que se abateu sobre nós. <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/03/carta-por-medidas-contra-pandemia-tem-quase-1700-assinaturas-jorge-gerdau-aderiu.shtml">Empresários e economistas</a> enviaram um recado duro ao presidente, pena que tardio. O ministro da Economia reconheceu que <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/03/e-muito-pouco-ainda-temos-que-melhorar-muito-diz-guedes-sobre-vacinacao.shtml">sem vacinação a economia não se recupera</a>. Só agora percebeu? Por que não disse nada em julho, quando nos foram oferecidos os <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/governo-negou-3-vezes-ofertas-da-pfizer-e-perdeu-ao-menos-3-milhoes-de-doses-de-vacina.shtml">70 milhões de doses da vacina da </a><a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/governo-negou-3-vezes-ofertas-da-pfizer-e-perdeu-ao-menos-3-milhoes-de-doses-de-vacina.shtml">Pfizer</a> que o Ministério da Saúde rejeitou? Receio de magoar o chefe?</p>
<p>O presidente da Câmara declarou que “tudo tem limite” e que <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/lira-sobe-o-tom-contra-governo-bolsonaro-e-diz-que-crise-pode-provocar-remedios-amargos-alguns-fatais.shtml">apertava “o botão amarelo”</a>. Amarelo, excelência? Enquanto 300 mil famílias perdiam entes queridos, o sinal estava verde?</p>
<p>Deprimente ver os malabarismos circenses do novo ministro da Saúde,
ao justificar que ficava a critério da liberdade milenar do médico
prescrever o<a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/02/grupo-de-medicos-defende-tratamento-precoce-sem-eficacia-contra-covid-19-em-jornais.shtml"> tratamento precoce</a> com
drogas inúteis. Como assim, ministro? Enquanto a medicina foi praticada
como o senhor defende, os colegas que me antecederam receitavam
sangrias e sanguessugas.</p>
<p>Finalmente, sob pressão, o presidente convocou os três Poderes para um convescote político, com o pretexto de<a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/apos-reuniao-com-poderes-bolsonaro-anuncia-comite-defende-vacinacao-e-prega-tratamento-precoce.shtml"> criar um comitê </a>para
gerir a crise sanitária. Incrível, não? Imaginar que uma equipe
comandada por ele será capaz de nos tirar dessa situação é acreditar que
mulher casada com padre vira mula sem cabeça.</p>
<p>A consequência mais nefasta de tantos desmandos, caro leitor, foi a
de que a epidemia fugiu do controle do sistema de saúde. Daqui em
diante, só podemos contar com nós mesmos.</p></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-13439767876143760452021-03-27T16:44:00.000-07:002021-03-27T16:44:02.511-07:00ESTE GOVERNO TEM DE CAIR. PRESERVÁ-LO É SER CÚMPLICE<p><b><u><span style="color: #351c75; font-family: courier; font-size: large;">vladimir safatle</span></u></b></p><div style="text-align: center;"><b><span style="color: #990000; font-family: trebuchet; font-size: x-large;">ESTE GOVERNO TEM DE CAIR. PRESERVÁ-LO É SER CÚMPLICE</span></b></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: verdana; font-size: x-large;">N</span></b><span style="font-family: times;">a última 6</span><span style="text-align: left;"><span style="font-family: times;">ª</span></span><span style="font-family: times;"> feira (19), a imprensa noticiou que </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um homem</span></i></b><span style="font-family: times;">, </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um idoso</span></i></b><span style="font-family: times;"> morreu no chão de uma Unidade de Pronto Atendimento em Teresina. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">O </span><b><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><i>homem</i></span></b><span style="font-family: times;">
apresentava problemas respiratórios, mas a UPA não tinha maca
disponível, não tinha leito e muito menos vaga em UTI. Ao fim, ele
morreu de parada cardíaca. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Sua
foto circulou na imprensa e redes sociais enquanto o Brasil se
consolidava como uma espécie de cemitério mundial, pois é responsável
por 25% das mortes atuais de covid-19. País que agora vê subir contra si
um cordão sanitário internacional, como se fôssemos o ponto global de
aberração.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">O </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">homem</span></i></b><span style="font-family: times;">
em questão era negro e vinha de um bairro pobre na zona sul de
Teresina, o Promorar. Ele morreu sem que veículos de imprensa sequer
dissessem seu nome. Uma morte sem história, sem narrativa, sem drama.
Mais um morto que existiu na opinião pública como um corpo genérico: </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um homem</span></i></b><span style="font-family: times;">, </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um idoso</span></i></b><span style="font-family: times;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Não teve direito à descrição de sua </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">luta pela vida</span></i></b><span style="font-family: times;">, nem da dor em </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">entes queridos</span></i></b><span style="font-family: times;">. Não houve declarações da família, nem comoção ou luto. Afinal, </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um homem</span></i></b><span style="font-family: times;"> não tem família, nem lágrimas. Ele é apenas o elemento de um gênero. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Dele,
vemos apenas seus últimos momentos, no chão branco e frio, enquanto uma
enfermeira, com parcos recursos, está a seu lado, também sentada no
chão, como quem se encontra completamente atravessada pela disparidade
entre os recursos necessários e a situação caótica em sua unidade
hospitalar. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi45jgCck3p2vaIYdxGwKAGWPGYrfWOHN9zARiCMTnc87knQUe9brMOrFexQk1K4HLZVcnzj4L6lzMpiqPiIVFVEY_5dEWMwQu9pmaelefbKiNraBnR5e0GSumdRa-H_h6_Bf1pdlxw6D5z/s800/z22.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="371" data-original-width="800" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi45jgCck3p2vaIYdxGwKAGWPGYrfWOHN9zARiCMTnc87knQUe9brMOrFexQk1K4HLZVcnzj4L6lzMpiqPiIVFVEY_5dEWMwQu9pmaelefbKiNraBnR5e0GSumdRa-H_h6_Bf1pdlxw6D5z/w640-h297/z22.jpg" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b><span style="color: #0b5394; font-size: medium;"><span style="font-family: trebuchet;"></span><span style="font-family: trebuchet;"></span></span></b><br /></td></tr></tbody></table>Reduzido
a um corpo em vias de morrer, ele repete a história imemorial da
maneira como se morre no Brasil, quando se é negro e se vive na em
bairros pobres. A foto de seus momentos finais só chegou até nós porque
sua história tocou a história da pandemia global.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Enquanto </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um homem</span></i></b><span style="font-family: times;"> morria
no chão de uma Unidade de Pronto Atendimento, com o coração lutando
para conseguir ainda encontrar ar, o Brasil assistia o ocupante da
cadeira de presidente a ameaçar o país com </span><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b><u>estado de sítio</u></b></span><span style="font-family: times;"> ou </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">medidas duras</span></i></b><span style="font-family: times;"> caso o STF não acolhesse sua exigência delirante de suspender o </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">lockdown</span></i></b><span style="font-family: times;"> aplicado por governadores e prefeitos desesperados. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Não
se tratava assim apenas de negligencia em relação a ações mínimas de
combate a morte em massa de sua própria população. Nem se tratava mais
da irresponsabilidade na compra e aplicação de vacinas, até agora
fornecidas a menos de 5% da população geral. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Tratava-se,
na verdade, de ameaça de ruptura e de uso deliberado do poder para
preservar situações que generalizarão, para todo o país, o destino do
que ocorreu em Teresina com </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um homem</span></i></b><span style="font-family: times;">.
Generalizar a morte indiferente e seca. Ou seja, via-se claramente uma
ação deliberada de colocar a população diante da morte em massa.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br />Enquanto
nossos concidadãos e concidadãs morriam sem ar, no chão frio de
hospitais, a classe política, os ministros do STF não estavam dedicando
seu tempo a pensar como mobilizar recursos para proteger a população da
morte violenta. Eles estavam se perguntando sobre se Brasília acordaria
ou não em estado de sítio. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Ou
seja, estávamos diante de um governo que trabalha, com afinco e
dedicação, para a consolidação de uma lógica sacrificial e suicidária
cujo foco principal são as classes vulneráveis do país. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Um
governo que não chora pela morte de suas cidadãs e seus cidadãos, mas
que cozinha, no fogo alto da indiferença, o prato envenenado que ele nos
serve goela abaixo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Não por outra razão, </span><b><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><u>genocídio</u></span></b><span style="font-family: times;"> apareceu como a palavra mais precisa para descrever a ação do governo contra seu próprio povo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Um
governo como esse deve ser derrubado. E devemos dizer isto de forma a
mais clara. Preservá-lo é ser cúmplice. Esperar mais um ano e meio será
insanidade, até porque há de se preparar para um governo disposto a não
sair do poder mesmo se perder a eleição. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Vimos
isso nos EUA e, no fundo, sabemos que o que nos espera é um cenário
ainda pior, já que este é um governo das Forças Armadas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Cabe
a todas e todos usar seus recursos, sua capacidade de ação e
mobilização para deixar de simplesmente xingar o governante principal,
gritar para que ele saia, e agir concretamente para derrubá-lo, assim
como a estrutura que o suportou e ainda o suporta. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGwlmRnMj4Iz1O-qd8dZ9HublNvFI4-CCuy8A6rxNfkemvyoTrkqfe2EDjnkc-pdYWYUMobdQ-uuebXkw0hSmXO2C5uKVap8IhqMc4UaC-t5NvM_x0eVBbhs5b-F5nNi-a1xXRH4URiJns/s433/Z33.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="353" data-original-width="433" height="326" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGwlmRnMj4Iz1O-qd8dZ9HublNvFI4-CCuy8A6rxNfkemvyoTrkqfe2EDjnkc-pdYWYUMobdQ-uuebXkw0hSmXO2C5uKVap8IhqMc4UaC-t5NvM_x0eVBbhs5b-F5nNi-a1xXRH4URiJns/w400-h326/Z33.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: #0b5394; font-family: trebuchet; font-size: medium;"><b>"toda ação contra um governo ilegítimo é legítima"</b></span></td></tr></tbody></table><br />A
função elementar, a justificativa básica de todo governo é a proteção
de sua população contra a morte violenta vinda de ataques externos e
crises sanitárias. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Um
governo que não é apenas incapaz de preencher tais funções, mas que
trabalha deliberadamente para aprofundar a catástrofe não pode ser
preservado. Ele funciona como um governo, em situação de guerra, que age
para fortalecer aqueles que nos atacam. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Em situação normal, isso se chama (e afinal, o vocabulário militar é o único que eles são capazes de compreender): </span><u><span style="font-family: georgia; font-size: medium;"><b>alta traição</b></span></u><span style="font-family: times;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Um governo que não tem lágrimas nem ação para impedir que </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">um homem</span></i></b><span style="font-family: times;"> morra
no chão de um hospital, que age deliberadamente para que isso se repita
de forma reiterada, perdeu toda e qualquer legitimidade. Não há pacto
algum que o sustente. E toda ação contra um governo ilegítimo é uma ação
legítima.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Na
verdade, esse governo já nasceu ilegítimo, fruto de uma eleição
farsesca cujos capítulos agora vêm a público. Uma eleição baseada no
afastamento e prisão do candidato </span><i><b><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">indesejável</span></b></i><span style="font-family: times;"> através de um processo no qual se forjaram até mesmo depoimentos de pessoas que nunca depuseram. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Ele nasce de um golpe militar de outra natureza, que não se faz com tanques na rua, mas com </span><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><b>tweets</b></span></i><span style="font-family: times;"> enviados ao STF ameaçando a ruptura caso resultados não desejados pela casta militar ocorressem, influenciando as eleições.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Há
um ano, vários de nós começaram movimentos exigindo o impeachment de
Bolsonaro. Não faltou quem desqualificasse tais demandas, afirmando que,
ao contrário, era momento de o Brasil unificar-se diante dos desafios
da gestão da pandemia, que mais um impeachment seria catastrófico para a
vida política nacional, entre outros. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Um
ano se passou e ficou claro como o sol ao meio-dia que a verdadeira
crise brasileira é Bolsonaro, que não é possível tentar combater a
pandemia com Bolsonaro no governo. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div>Mesmo assim, setores que clamavam por </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">frentes amplas</span></i></b><span style="font-family: times;">
nada fizeram para realizar a única coisa sensata diante de tamanho
descalabro, a saber, derrubar o governo: mobilizar greves, paralisações,
bloqueios, manifestações, ocupações, desobediência civil para preservar
vidas. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Como dizia Brecht, adaptado pelos cineastas Straub e Huillet, </span><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;"><b>só a violência ajuda onde a violência reina</b></span></i><span style="font-family: times;">.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">A
primeira condição para derrubar um governo é querer que ele seja
derrubado, é enunciar claramente que ele deve ser derrubado. É não
procurar mais subterfúgios e palavras outras para descrever aquilo que
compete à sociedade em situações nas quais ela está sob um governo cujas
ações produzem a morte em massa da população. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Há
um setor da população brasileira, envolto numa identificação de tal
ordem, que irá com Bolsonaro, literalmente, até o cemitério. Como já
deve ter ficado claro, nada fará o governo perder esse </span><b><i><span style="font-family: helvetica; font-size: medium;">núcleo duro</span></i></b><span style="font-family: times;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: times;">Cabe aos que não querem seguir essa via lutar, abertamente e sem subterfúgios, para que o governo caia. </span><b><span style="color: #cc0000; font-size: medium;"><span style="font-family: trebuchet;">(por </span><span style="font-family: verdana;"><u>Vladimir Safatle</u></span><span><span style="font-family: trebuchet;">, no jornal global </span><u><span style="font-family: verdana;">El Pais</span></u><span style="font-family: trebuchet;">)</span></span></span></b></div></div><p> </p>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-51319558402686695862021-03-27T15:26:00.004-07:002021-03-27T15:26:56.483-07:00Um juiz parcial e o país destruído<p> </p><h1 class="entry-title"><a href="https://www.zebeto.com.br/2021/03/26/um-juiz-parcial-e-o-pais-destruido/" rel="bookmark">Um juiz parcial e o país destruído</a>
</h1>
<div class="entry-content">
<p>por <strong><em>Mário Montanha Teixeira filho</em></strong></p>
<p>Juiz que não tenha condição de apreciar uma causa com imparcialidade
precisa ser substituído por outro juiz. Esse mandamento, simples em sua
formulação, está nas leis processuais, e pretende garantir ao cidadão
comum julgamento não contaminado por motivações subjetivas. Uma das
alternativas previstas no Código de Processo Penal para evitar limites
indevidos ao direito de defesa está no artigo 254, que determina que “o
juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes”, […] “se for amigo íntimo ou inimigo capital de
qualquer deles” (inciso I), ou “se tiver aconselhado qualquer das
partes” (inciso IV).</p>
<p>Percebe-se, então, que, ao reconhecer a parcialidade do ex-juiz
Sérgio Moro no caso do triplex do Guarujá, no dia 23 de março, a Segunda
Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou o óbvio: a condenação
de Lula estava acertada previamente, fossem quais fossem as provas
obtidas no curso da ação criminal. Moro foi suspeito desde o início,
mesmo antes da exibição grotesca da peça de acusação elaborada pelo
chefe da Lava Jato, o procurador da República Deltan Dallagnol, em 2016,
que reuniu em “powerpoint” os principais fundamentos da sentença que
determinou a prisão de quem se apresentava como candidato a presidente
da República em 2018.</p>
<p>A construção da imagem da dupla Moro & Dallagnol como salvadora
da pátria, alimentada por setores da imprensa interessados em golpear o
resultado das eleições de 2014, valeu-se de técnicas de convencimento
que confundiram processo penal com disputa esportiva ou trama de revista
em quadrinhos. Moro apareceu ao grande público como enxadrista hábil e
capaz de encurralar seu oponente com movimentos estratégicos fatais. Ou
como lutador de boxe a massacrar um adversário cambaleante. Também lhe
emprestaram a fantasia de super-homem, guardião da justiça, defensor do
“povo”, ou de um Batman tropical acompanhado do amigo Robin, vulgo
Dallagnol.</p>
<p>Inacreditavelmente, a distorção que colocou em cantos opostos um juiz
e o “seu” réu, sobre o qual exerceu poderes coercitivos extravagantes,
foi aclamada como símbolo do combate à corrupção. A mídia e as
instituições “que funcionam” não apenas sustentaram esse desequilíbrio
processual – essa mentira, seria mais correto dizer –, mas exigiram dos
atores da farsa judiciária vereditos imediatos e eficazes. Receberam o
que queriam, e o País, livre do “perigo vermelho”, ficou com Bolsonaro,
de quem Moro se aproximou para virar ministro, com a promessa de um
cargo vitalício – que não veio – no STF.</p>
<p>Para quem teve a curiosidade de ler a sentença de Moro que provocou a
prisão de Lula, fica fácil notar, desde a primeira linha dos 962
parágrafos distribuídos em 218 páginas de um texto repetitivo e
truncado, que a condenação havia sido decidida externamente aos autos,
inspirada em razões de pouca juridicidade e muita ideologia.</p>
<p>O subscritor da peça condenatória, já então apontado como parcial
pela defesa do réu, fez algum esforço retórico na tentativa de dizer que
sempre agira com isenção, indicando estar melindrado – expressão de que
parece gostar – com as dúvidas sobre sua conduta. Entre os parágrafos
58 e 152, arriscou explicações, como a que segue: “Na linha da
estratégia da defesa de Luiz Inácio Lula da Silva de desqualificação
deste julgador, por aparentemente temerem (sic) um resultado processual
desfavorável, medidas questionáveis foram tomadas por ela fora desta
ação penal”. A realidade não era bem essa. Naquele momento, a defesa não
temia o resultado desfavorável, mas tinha a certeza de que ele já
estava decretado.</p>
<p>“Mais uma vez”, continuou Moro, “trata-se de mero diversionismo
adotado como estratégia de defesa”. Isso porque, “ao invés de
discutir-se o mérito das acusações, reclama-se do juiz e igualmente dos
responsáveis pela acusação”. E mais: “Nesse contexto de comportamento
processual inadequado por parte da defesa de Luiz Inácio Lula da Silva, é
bastante peculiar a reclamação dela de que este julgador teria agido
com animosidade contra os defensores em questão”.</p>
<p>Para desgosto do herói provinciano e especialista em platitudes, o
tempo cuidou de revelar que foi ele, e não os advogados de Lula, o
centro do que chamou de “comportamento processual inadequado”. Ao se
prestar ao papel de inimigo do acusado, em troca de uma celebridade
traiçoeira, o ex-juiz da ex-república de Curitiba contribuiu para a
destruição das bases da frágil democracia brasileira. Essa
interferência, admitida com excessiva demora pelo STF, reveste de
gravidade excepcional os seus atos. Ao que tudo indica, mais do que
impulsionado por preferências pessoais e políticas, Moro cumpriu funções
ditadas por um esquema que tem outros responsáveis, acima dele na
escala hierárquica do poder.</p>
<p>De toda essa tragédia-quase-burlesca, a figura do justiceiro
desapareceu, abandonada num canto poeirento da história. Ficou o País
devastado pelos delírios terraplanistas de um capitão feito presidente,
agradecido aos bons préstimos da Lava Jato e de outras falsidades.</p></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-37788288310228268102021-03-27T15:04:00.005-07:002021-03-27T15:04:37.541-07:00Cuidado com a nova variante do Bolsonarismo<h1 class="entry-title"><a href="https://www.zebeto.com.br/2021/03/26/cuidado-com-a-nova-variante-do-bolsonarismo/" rel="bookmark">Cuidado com a nova variante do Bolsonarismo</a>
</h1>
<div class="entry-content">
<p>por <em><strong>Renato Terra</strong></em></p>
<div class="c-news__wrap">
</div>
<div class="c-news__content">
<p>Durante um ano, o presidente desarticulou os anticorpos brasileiros. <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/11/mais-uma-que-jair-bolsonaro-ganha-diz-presidente-sobre-suspensao-de-testes-da-coronavac.shtml">Negou a vacina</a>, apostou em <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/12/bolsonaro-volta-a-defender-cloroquina-e-diz-que-ninguem-pode-obrigar-aplicacao-da-vacina-contra-covid.shtml">tratamentos sem eficácia</a>, provocou<a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/estao-esticando-a-corda-faco-qualquer-coisa-pelo-meu-povo-diz-bolsonaro-em-aglomeracao-no-alvorada.shtml"> aglomerações</a>,<a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/02/em-dia-de-recorde-de-mortes-por-covid-19-no-brasil-bolsonaro-fala-contra-uso-de-mascaras.shtml"> questionou o uso de máscaras</a>,<a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/relembre-o-que-bolsonaro-ja-disse-sobre-a-pandemia-de-gripezinha-e-pais-de-maricas-a-frescura-e-mimimi.shtml"> desencorajou a população a acreditar na letalidadade do coronavírus</a>. Agora o agente desestabilizador <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/veja-em-11-pontos-as-diferencas-entre-a-realidade-da-pandemia-e-pronunciamento-de-bolsonaro.shtml">se apresenta como antídoto</a>.</p>
<p>A mutação de Jair Bolsonaro é perversa. Visa salvar um grupo
específico, ensaia um recuo para ganhar sobrevida. Mas seu objetivo é
claro: destruir o organismo inteiro.</p>
<p>A redução do desmatamento da Amazônia, por exemplo, não está incluída
nessa nova variante paz e amor. Segundo o relatório anual feito pelo
MapBiomas, a “área desmatada no Brasil em 2019 equivale a oito cidades
de São Paulo”. E 99% do desflorestamento foi feito de maneira ilegal.</p>
<p><a href="https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-elefante-negro/">“O Elefante Negro”</a>,
reportagem da revista Piauí, mostrou a relação entre o desmatamento e o
surgimento de novas doenças. “Um estudo de 2015 feito pelo Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) concluiu que, ‘para cada 1%
de floresta derrubada anualmente na Amazônia, há um aumento de 23% na
incidência de malária e de 8% a 9% na de leishmaniose’, uma doença que,
se não tratada, causa desfigurações e pode levar à morte”.</p>
<p>Além disso, “a degradação ambiental favorece o salto para espécies
generalistas, as quais abrigam 75% de todos os vírus zoonóticos
conhecidos. Dotadas de grande capacidade de adaptação, essas espécies
tendem a prosperar quando perturbamos seu hábitat natural e extinguimos
seus predadores. É o caso dos roedores ou do Aedes aegypti, na origem um
mosquito silvestre que hoje habita confortavelmente as nossas cidades e
as nossas casas. Da década de 1990 para cá, assistimos à emergência ou
reemergência de oito vírus epidêmicos ou pandêmicos: H5N1 (gripe
aviária), Sars-Cov, H1N1 (pandemia de gripe suína), Ebola, Mers-CoV,
Zika, Chikungunya e Sars-CoV-2 (pandemia de Covid-19). É uma aceleração
sem precedentes desse tipo de acontecimento”.</p>
<p><a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/coronavirus/">A pandemia de Covid-19</a> é causada por um vírus zoonótico, pois tem origem no reino animal. Assim como o<a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/05/mayaro-o-que-se-sabe-sobre-o-virus-transmitido-por-mosquitos-que-pode-estar-circulando-no-rio.shtml"> mayaro</a> e o<a href="https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/07/1903013-desconhecido-oropouche-pode-ser-o-novo-virus-a-preocupar-o-pais.shtml"> oropouche</a>, dois vírus amazônicos que recentemente entraram no radar dos cientistas.</p>
<p>Enquanto Bolsonaro posa de santo em sua perversa variante, sua
política ambiental e a asfixia da ciência estimulam o aparecimento de
novos vírus.</p>
<p>A nova variante do bolsonarismo dá uma sobrevida ao agente desestabilizador. E visa destruir o organismo inteiro.</p>
<p><em>*Publicado na Folha de S.Paulo</em></p>
</div></div><p><br /><span style="color: #2a2a2a; font-family: 'Segoe UI Bold','Segoe UI Semibold','Segoe UI','Helvetica Neue Medium',Arial,sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold;"></span></p>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-52428476606029792212021-03-13T17:47:00.001-08:002021-03-13T17:47:13.966-08:00Tristeza não é doença<p> </p><h1 class="entry-title"><a href="https://www.zebeto.com.br/2021/03/12/tristeza-nao-e-doenca-por-que-os-brasileiros-sao-os-maiores-consumidores-mundiais-de-antidepressivos-ansioliticos-e-remedios-para-dormir/" rel="bookmark">Tristeza não é doença</a>
</h1>
<div class="entry-content">
<p>por <strong>Mirian Goldenberg</strong></p>
<p><em>Por que os brasileiros são os maiores consumidores mundiais de antidepressivos, ansiolíticos e remédios para dormir?</em></p>
<div class="block">
<div class="container j-paywall" data-paywall-box="">
<div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row">
<div class="flex-cell">
<div class="row">
<div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="">
<p>Acordei em um sábado cinza e chuvoso. E escrevi:</p>
<p>“Hoje eu acordei triste.<br />
Na verdade, hoje eu acordei mais triste.<br />
Todos os dias eu acordo e vou dormir triste.<br />
Mas hoje a minha tristeza é ainda maior.<br />
Uma tristeza sem esperança, sem lágrima, sem nada.<br />
Somente triste.<br />
Uma tristeza que já desistiu de ser alegre.<br />
Uma tristeza muito cansada de ser triste.<br />
Uma tristeza sem saudade de um tempo que não volta mais, que também era triste, muito triste.<br />
Uma tristeza exaurida pela dor, pânico e desespero.<br />
Uma tristeza que se alimenta da solidão, do sofrimento e da impotência.<br />
Uma tristeza velha, muito velha, desde criança sempre triste.<br />
Uma tristeza resignada, que sempre foi e sempre será triste.<br />
Uma tristeza que sabe que é impossível ficar alegre hoje e amanhã.<br />
Hoje eu acordei triste”.</p>
<p>Compartilhei o texto nas minhas redes sociais como costumo fazer com algumas reflexões. Recebi um bombardeio de mensagens:</p>
<p>“Estou muito preocupada com você. O que aconteceu?”</p>
<p>“Você precisa urgentemente se tratar, procurar ajuda, ir ao
psiquiatra e tomar algum remédio para curar essa tristeza. Você não pode
se entregar à depressão, ao desespero e à angústia. A tristeza é
perigosa, faz mal à saúde”.</p>
<p>“O texto é ficção? Não acredito que você está tão triste. Logo você
que tem um sorriso tão lindo? Você não tem o direito de ficar triste.
Confie em Deus: vai passar”</p>
<p>Mas recebi também inúmeras mensagens de quem se identificou com a minha tristeza:</p>
<p>“Senti um alívio enorme ao ler o seu texto sensível e corajoso. Até
chorei. Eu me senti menos só. Também estou muito triste, e sofro uma
enorme censura e repressão quando digo que estou triste. É proibido
falar de tristeza aqui em casa. Parece que tenho uma doença grave e
contagiosa”.</p>
<p>“Desde quando tristeza é sinônimo de doença? Estou triste porque não
consigo ter esperança no amanhã. Estou triste porque não acredito mais
que essa <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/em-24h-brasil-registra-mais-de-2300-mortes-por-covid-maior-marca-da-pandemia.shtml">tragédia </a>vai passar. Não consigo imaginar que um ser humano consiga rir, brincar e <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/miriangoldenberg/2021/03/os-imbrochaveis-estao-gozando-com-a-dor-dos-brasileiros.shtml">gozar </a>no meio desse horror, a não ser que seja um sádico genocida. Quem não está triste está doente no coração e na alma”.</p>
<p>Muitos perguntaram: “O que aconteceu com você?”, como se eu
precisasse explicar ou justificar a minha tristeza por algum motivo
pessoal.</p>
<p>Estou triste, profundamente triste, como milhões de brasileiros
estão. Como tantos que estão impotentes, exaustos, massacrados,
sufocados por tanto ódio, violência e perversidade.</p>
<p>Achei estranho acharem o meu texto corajoso. Desde quando falar sobre
tristeza é um ato de coragem? Mas depois de dizerem que não tenho o
direito de ficar triste, de me recomendarem antidepressivos e dezenas de
tratamentos, cheguei à conclusão de que é sim uma escolha corajosa.</p>
<p>Em uma cultura em que existe uma ditadura da felicidade, a obrigação e
o imperativo de ser feliz mesmo em tempos de horror, sentir-se triste é
um exercício da liberdade de resistir ao egoísmo, à mentira e à
maldade. Não irei esconder a minha tristeza em um armário, pois não
tenho vergonha dela. Na verdade, depois de provocar tantas reações, ela
se tornou ainda mais poderosa, empática e generosa. Mais humana!</p>
<p>Qual é o meu antídoto para a tristeza? Vivê-la por inteiro e escrever
sobre ela. Não preciso me curar da tristeza, pois não estou doente. É
apenas o que sinto nesse momento tão triste de viver.</p>
<p>Tristeza não é coisa de maricas. Tristeza não é frescura. Tristeza não é <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/chega-de-frescura-e-mimimi-vao-chorar-ate-quando-diz-bolsonaro-sobre-pandemia.shtml">mimimi</a>.</p>
<p>Você também está triste?</p>
<p><em>*Publicado na Folha de S.Paulo</em></p>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-77801998110929693322021-03-13T17:21:00.004-08:002021-03-13T17:21:35.883-08:00Dantons de araque<h1 class="entry-title">Procuradores da força-tarefa nunca ligaram para ideais, e sim para busca pelo poder</h1>
<div class="entry-content">
<p>por <em><strong>Demétrio Magnoli</strong></em>, na FSP</p>
<p><strong>Dantons de araque</strong></p>
<div class="block">
<div class="container j-paywall" data-paywall-box="">
<div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row">
<div class="flex-cell">
<div class="row">
<div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="">
<p>Danton fez a Convenção fundar o Tribunal Criminal Extraordinário em
março de 1793. Um ano depois, sob o Terror jacobino que ajudou a
implantar, acusado de enriquecimento ilícito, foi submetido a uma
encenação judicial e executado na guilhotina. <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/em-video-folha-explica-decisao-de-fachin-possivel-suspeicao-de-moro-e-impactos-para-lula.shtml">Moro e sua camarilha de procuradores </a>não terão o destino do revolucionário francês, mas merecem sentar no banco dos réus.</p>
<p>Moro, um juiz que sonhou ser presidente, é o elemento passageiro.
Mais perene é o caldo de cultura no qual surgiu a força-tarefa. No seu
voto, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/com-empate-e-ataques-a-lava-jato-stf-suspende-julgamento-sobre-parcialidade-de-moro-em-caso-de-lula.shtml">Gilmar Mendes acertou ao indicar que o timão da Lava Jato foi comandado por uma panelinha de procuradores</a> dispostos a usar a lei como subterfúgio para alavancar um projeto político. Aí é que entra a figura de Danton.</p>
<p>Paralelos têm limites. Danton viveu e morreu por seus ideais. No meio
do caminho, descobriu que parira um monstro e tentou domá-lo, mas já
era tarde. Os procuradores da força-tarefa nunca ligaram para ideais,
preferindo cavalgá-los em benefício de suas carreiras e, sobretudo, da
busca pelo poder. São Dantons de araque, personagens de uma pantomima,
não de uma tragédia. Mesmo assim, o paralelo ilumina algo relevante.</p>
<p>Nosso Ministério Público foi criado como uma espécie de Comitê de
Salvação Pública. Na moldura desse poder estatal sem clara delimitação
de função e sem controle externo, jovens procuradores nutriram-se da
crença na reforma do mundo pela interpretação voluntarista dos códigos
legais. O Brasil seria salvo por fora da política, essa lagoa de dejetos
imundos, graças à ação obstinada de funcionários de Estado armados com a
prerrogativa de investigar e acusar. A força-tarefa foi o fruto maduro
da árvore do jacobinismo judicial.</p>
<p>A Lava Jato começou iluminando as vastas teias corruptas que ligam a
elite política ao meio empresarial, mas degenerou no projeto de implodir
o sistema político <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/03/mensagens-vazadas-da-lava-jato-foram-decisivas-para-formar-conviccao-de-ministros-do-supremo.shtml">para conduzir um juiz ao posto mais alto da República</a>.
No trajeto, borrou a fronteira que separa os atos de processar e
julgar, pisoteou as garantias dos réus, transformou-se em ator político e
arrastou o STF para a lama.<span id="more-453881"></span></p>
<div class="block">
<div class="container j-paywall" data-paywall-box="">
<div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row">
<div class="flex-cell">
<div class="row">
<div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="">
<p> </p>
<p>Xi Jinping cimentou seu poder absoluto por meio de uma campanha
anticorrupção no interior do Estado-Partido. Putin manipula tribunais
amestrados para perseguir supostos corruptos. Só estúpidos acreditam que
os fins justificam os meios. O sequestro político do sistema de Justiça
seleciona e pune corruptos convenientes, junto com inocentes cuja culpa
é fazer oposição, enquanto autoriza a corrupção dos cortesãos. No
Estado de Direito, o produto final do jacobinismo judicial é a anulação
de investigações e o triunfo da impunidade. Os procuradores que pintaram
o sete não têm o direito de atribuir a outros a responsabilidade pelo
melancólico desfecho.</p>
<p>Falta-lhes direito, sobra-lhes cara de pau. <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/demetriomagnoli/2017/07/1897611-janot-da-a-senha-de-combate-para-procuradores-messianicos.shtml">Aqui, em meados de 2017</a>, critiquei as inclinações jacobinas do Partido dos Procuradores. <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/06/ida-de-moro-a-ministerio-de-bolsonaro-contaminou-lava-jato-diz-ex-procurador-da-forca-tarefa.shtml">Carlos Fernando Lima, decano da força-tarefa</a>,
retrucou identificando no meu texto a maléfica intenção oculta de
proteger “a indecorosa festa desses vampiros”. Pouco depois, à provecta
idade de 55, aposentou-se com proventos integrais, atravessou a porta
giratória e foi advogar na área de compliance para clientes que temem
cair nas garras de seus camaradas procuradores.</p>
<p>A postagem do heroico combatente incluía uma citação de Danton e, à
sorrelfa, a tese de que o Terror assegurou a vitória final dos altos
ideais da Revolução Francesa. Não conseguiremos circunscrever a
corrupção às franjas do sistema político sem extirpar a cultura
salvacionista que impregna o Ministério Público, separando as esferas da
Justiça e da política. A cabeça de Danton rolou na guilhotina no 17 do
Germinal do Ano II. Um futuro processo de Moro e dos procuradores deve
ser justo e imparcial, porque isso é o certo e para ensinar-lhes a lição
jurídica que não aprenderam.</p>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><p> </p>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-18859786635675231852021-03-05T14:16:00.001-08:002021-03-05T14:16:18.110-08:00Quantas mortes cabem num dia de trabalho de Bolsonaro?<p> </p><h1 class="entry-title"><a href="https://www.zebeto.com.br/2021/03/05/quantas-mortes-cabem-num-dia-de-trabalho-de-bolsonaro/" rel="bookmark">Quantas mortes cabem num dia de trabalho de Bolsonaro?</a>
</h1>
<div class="entry-content">
<p>por <strong>Bruno Bhogossian</strong></p>
<p><em>Enquanto falava em ‘frescura’ de medidas de proteção, 29 brasileiros morreram</em></p>
<div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="">
<p>Pela manhã, Jair Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada e foi até a
Base Aérea de Brasília. Antes de decolar, repetiu nas redes sociais a
propaganda de sua caçada pelo spray nasal israelense contra a Covid, que
ainda não tem eficácia comprovada. Quando o avião presidencial deixou a
pista, 600 pessoas já tinham morrido da doença no país, segundo a média
dos últimos dias.</p>
<p>Às 9h15, o presidente pousou em Uberlândia (MG). Durante o voo,
outros 55 brasileiros morreram. Antes de seguir para Goiás, Bolsonaro
parou para conversar com apoiadores. A cidade tem 100% dos leitos de UTI
ocupados, mas o governo montou um cercadinho no setor de cargas e
causou aglomeração no aeroporto.</p>
<p>Ali, o presidente disse que quem cobra dele a compra de vacinas é
“idiota”. “Só se for na casa da tua mãe. Não tem para vender no mundo”,
completou. Ele deixou o aeroporto de helicóptero, por volta das 10h da
manhã, 55 mortes depois.</p>
<p>Em meia hora, Bolsonaro chegou a São Simão (GO) para inaugurar um
trecho da ferrovia Norte-Sul. Antes de subir no palanque, ele entrou
numa locomotiva, sorriu para fotos e conversou com os convidados. Quando
o hino nacional começou a tocar, a conta de vítimas da pandemia havia
subido em 168. Quando soou o último acorde, eram mais quatro.</p>
<p>Nos discursos de empresários e autoridades, 74 vidas ficaram para
trás, e mais uma se foi quando Bolsonaro descerrou placa comemorativa da
obra. Foram mais quatro mortos até que o presidente dissesse: “Chega de
frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”. Depois de 21
vítimas, ele voltou a incentivar o uso de cloroquina e, com outros
quatro mortos, encerrou o evento.</p>
<p>O presidente pousou em Brasília às 15h30, quando o país somava quase
1.150 óbitos no dia. Ele apareceu de novo 260 mortes depois, em sua
transmissão semanal nas redes. Repetiu dados falsos sobre máscaras e
atacou medidas de restrição, enquanto o país contava mais 74 vítimas.
Até o fim da quinta-feira, outros 300 brasileiros estariam mortos.</p>
<p><em>*<cite class="c-author__name">Bruno Boghossian, j</cite>ornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).</em></p>
</div>
</div>
<p><em>*Publicado na Folha de S.Paulo</em></p>
</div></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-75846411025147021062020-10-08T15:07:00.003-07:002020-10-08T15:12:45.504-07:00LEITURA DE 'A REPÚBLICA DAS MILÍCIAS' LEVA À CONSTATAÇÃO DE QUE DIAS PIORES VIRÃO<p> </p><h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font: 30px "Paytone One"; letter-spacing: normal; margin: 0px; position: relative; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="background-color: white;"><a href="https://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2020/10/milicias-triunfam-numa-sociedade-que-se.html" style="font: 30px "Paytone One"; text-decoration: underline;">MILÍCIAS TRIUNFAM NUMA SOCIEDADE QUE SE DESINDUSTRIALIZOU, QUE NÃO OFERECE EMPREGOS E NA QUAL A MISÉRIA GRASSA</a></span></h3><div class="post-body entry-content" id="post-body-4144982967748613801" itemprop="description articleBody" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: #255d76; color: #660000; font-family: "Droid Serif"; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; font-weight: 700; letter-spacing: normal; line-height: 1.4; orphans: 2; text-align: start; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 2; width: 670px; word-spacing: 0px;"><div style="text-align: left;"><div style="text-align: center;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><b><span style="font-family: courier; font-size: large;"><u><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://m.media-amazon.com/images/I/51hJxK1pr-L.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-decoration: none;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="329" height="400" src="https://m.media-amazon.com/images/I/51hJxK1pr-L.jpg" style="border: medium none; padding: 8px; position: relative;" width="263" /></a></div>mario sergio conti</u></span></b></span></span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><b style="text-align: left;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: x-large;">LEITURA DE 'A REPÚBLICA DAS MILÍCIAS' LEVA À</span></b></span></span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><b style="text-align: left;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: x-large;">CONSTATAÇÃO DE QUE</span></b></span></span></div><div style="text-align: center;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><b style="text-align: left;"><span style="font-family: trebuchet; font-size: x-large;"> DIAS PIORES VIRÃO</span></b></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><b><span>O</span></b><span><span> </span>clã Bolsonaro sempre exalta o direito dos cidadãos a ter e usar armas. Ignorante que só ela, a primeira família não usa o argumento óbvio: o direito do povo em mandar bala em quem ataca a sua soberania está inscrito na segunda emenda à Constituição estadunidense.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span><br /></span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">Diz ela: "Sendo uma milícia bem regulamentada necessária à segurança de um Estado livre, o direito do povo de manter e portar armas não deve ser violado".</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">Aprovada em 1791, a emenda é fruto de levantes libertários: a revolução inglesa do século anterior; a francesa, que se encontrava no auge; e a guerra estadunidense contra a Coroa inglesa pela independência, vencida poucos anos antes.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">Nos três casos, a mobilização de tropas populares para enfrentar os exércitos da aristocracia foi vital para o triunfo do poder burguês, plebeu e, no caso estadunidense, anticolonial. Assim nasceu o mundo moderno, armado e atirando para matar.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">O discurso de Bolsonaro é outro. Na imunda reunião ministerial de abril, gravada por ordem sua, ele rebaixou a Presidência ao seu nível, o da sarjeta: </span></span></span></div><blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>"</span><b><span>Um bosta de um prefeito faz uma bosta de um decreto, algema e deixa todo mundo dentro de casa. Se tivesse armado, ia para a rua</span></b><span>"</span><span>.</span></span></span></span></div></blockquote><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">O que quis dizer, na sua sintaxe selvagem, é que, armado, o povo acabaria na marra com o confinamento. Fechou sua exortação assim:</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><blockquote><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>"</span><b><span>Quero dar um puta de um recado para esses bostas! Por que eu estou armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura</span></b><span>"</span><span>. </span></span></span></span></blockquote></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br />Cabe o clichê: estilo é o homem.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>Na época, todos os comentaristas concordaram que o rosnado presidencial visava, sim, a imposição de uma ditadura —por meio do armamento de seus cupinchas, do<span> </span></span><b><i><span>núcleo duro</span></i></b><span><span> </span>da sua freguesia e de seu séquito de fanáticos. Mas havia algo mais no baixo calão do<span> </span></span><b><span><i>Cavalão</i></span></b><span>.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>Esse algo mais é o tema de Bruno Paes Manso em<span> </span></span><b><u><span>A República das Milícias – dos Esquadrões da Morte à Era Bolsonaro</span></u></b><span>, um forte candidato a livro mais triste do ano. Ele esmiúça com sobriedade o processo de desagregação fluminense.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">Bolsonaro e seus filhos, p. ex., frequentam com assiduidade clubes de tiro. Pimpões, posam para fotos com fuzis e metralhadoras. Não são apenas infantiloides, perversos, maníacos por símbolos fálicos que simulam disparar armas à la Rambo.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><b><u><span><br /></span></u></b></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><b><u><span>A República das Milícias</span></u></b><span><span> </span>conta que muitos clubes de tiro são mocós para a compra e tráfico de armas de calibre pesado. O comércio de armamento é essencial para as milícias cariocas corromperem, ocuparem novos bairros, aterrorizarem; e assim enriquecerem seus membros e padrinhos —caso de Bolsonaro<span> </span></span><b><span><i>et caterva</i></span></b><span>.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span><br /></span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>A segunda emenda usa<span> </span></span><b><i><span>milícias bem regulamentadas</span></i></b><span><span> </span>como sinônimo de batalhões populares de libertação. Não são essas as milícias do presidente. As dele são gangues que vendem proteção, gás, conexão com a TV paga e até casas. Além de roubar e matar, suas milícias exploram o povo.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">Paes Manso é um cientista político com formação de jornalista. Ele recorre à primeira pessoa para relatar seus encontros com milicianos e a paisagem social na qual se movimentam. O que o espanta é a banalidade do mal. O crime virou norma; o Estado é bandido.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/marielle.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-decoration: none;"><img border="0" data-original-height="453" data-original-width="680" height="266" src="https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/03/marielle.jpg" style="border: medium none; padding: 8px; position: relative;" width="400" /></a></div><br />A condição de paulista circunspecto não o leva ao bairrismo —seu livro anterior,<span> </span></span><b><u><span>A Guerra</span></u></b><span>, com a socióloga Camila Nunes Dias, é um mergulho nos infernos do PCC. Mas o fato de ser estrangeiro ao Rio lhe garante distanciamento crítico de um sistema escabroso.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>É dessa forma que </span><b><u><span>A República das Milícias</span></u></b><span> investiga os estertores de uma sociedade em desagregação. Fala de<span> </span></span><b><i><span>esquadrões da morte</span></i></b><span>; de militares que migraram da tortura para o jogo do bicho; do homicídio de Tim Lopes; da ocupação marqueteira da Cidade de Deus; do fracasso das UPPs; do assassinato de Marielle Franco; do espraiamento da força bruta.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>A eleição de milicianos para o Planalto é o corolário de um estado de coisas. Nele se imbricam a política, a polícia, igrejas, as Forças Armadas, as<span> </span></span><b><i><span>rachadinhas</span></i></b><span>, as Vivendas da Barra, a corrupção, a condescendência das elites.</span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;">O triunfo miliciano espelha uma sociedade que se desindustrializou, não oferece empregos e na qual a miséria grassa. E a ideologia dominante, nessa terra sem lei nem ordem, é a de cortes que desmantelam o Estado —que, justamente, deveria implementar a lei e a ordem.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"><span>Não há força social capaz de fazer frente à anomia que se instala. Por isso </span><b><u><span>A República das Milícias</span></u></b><span> é um livro triste. Ele não oferece soluções porque elas não parecem existir. Sua leitura leva a uma constatação amarga: dias piores virão.<span> </span></span><b><span>(por<span> </span><u>Mario Sergio Conti</u>)</span></b></span></span></span><span style="font-family: times;"><span style="font-family: arial; font-size: medium;"><span style="color: black;"><span style="background-color: white;"> </span></span></span><br /></span></div></div></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-46911385059219824562020-09-19T17:49:00.002-07:002020-09-19T17:49:26.198-07:00Simbiose diabólica <p> </p><p> </p><h1 class="c-content-head__title c-content-head__title--italic" itemprop="headline">
Simbiose diabólica
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Bolsonaro aposta na aliança das bancadas da bala e de Deus
</h2>
<div class="c-tools-share c-tools-share--bordered-md toolbar rs_skip">
<ul aria-label="Opções de compartilhamento" class="c-tools-share__list" data-sharebar-buttons="facebook whatsapp twitter" data-sharebar-channel="colunas/luisfranciscocarvalhofilho" data-sharebar-counter="" data-sharebar-limit="4" data-sharebar-text="Opinião - Luís Francisco Carvalho Filho: Simbiose diabólica" data-sharebar-uolpd-id="content" data-sharebar-url="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/luisfranciscocarvalhofilho/2020/09/simbiose-diabolica.shtml" data-sharebar-utm-campaign-prefix="comp"><li class="c-tools-share__item" data-share-button="facebook">
<cite class="c-author__name">Luís Francisco Carvalho Filho</cite></li></ul></div><br /><div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p>As bancadas policiais e <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/09/bolsonaro-almoca-com-evangelicos-para-apaziguar-relacao-e-reitera-apoio-a-isencao-de-igrejas.shtml">religiosas</a> crescem significativamente no Brasil. Há modalidades de abuso de poder político sem freio institucional.</p>
<p>Não é bom politizar a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/09/sp-reduz-letalidade-policial-pelo-3o-mes-e-prepara-pacote-de-armas-nao-letais.shtml">segurança pública</a>. A revista piauí mostra que o número de parlamentares vinculados às polícias e às forças armadas (28) mais que dobrou em 2018.</p>
<p>Levantamento publicado pelo UOL indica que 336 policiais militares de
São Paulo se afastaram da corporação (sem prejuízo dos salários,
evidentemente) para disputar as eleições municipais de 2020 —um aumento
da 62% em relação a 2016.</p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>Juízes e membros do Ministério Público estão impedidos de ter
atividade partidária. O prazo parece exagerado, mas, para evitar o uso
político dos cargos, o ministro Dias Toffoli sugere o estabelecimento
adicional de um <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/07/entenda-proposta-que-amplia-para-oito-anos-quarentena-de-ex-juiz-para-disputar-eleicoes.shtml">intervalo de inelegibilidade de oito anos</a>, a contar da demissão ou da aposentadoria do candidato.</p>
<p>Não se justifica a ausência de barreira legal rígida <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/07/quarentena-para-juiz-em-eleicao-impulsiona-discussao-no-congresso-sobre-regras-a-militares.shtml">para policiais civis e militares</a>. Assim como juízes e promotores, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/52-dos-brasileiros-sao-contra-presenca-de-militares-no-governo-aponta-datafolha.shtml">deveriam ser impedidos</a> de se candidatarem enquanto estiverem na ativa. É o mínimo.</p>
<p>O policial anda armado, suspeita, vigia, investiga, intimida, prende,
faz e recebe favores, reprime manifestações públicas: a perspectiva de
angariar votos conspira contra o profissionalismo e a eficiência que se
espera da função policial, transforma quartéis e delegacias em
territórios de proselitismo e demagogia, favorece e amplia o poder
marginal das milícias.</p>
<p>A questão religiosa é mais complexa. O Tribunal Superior Eleitoral <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/tse-forma-maioria-contra-punicao-por-abuso-de-poder-religioso.shtml">rejeitou recentemente</a> o posicionamento do ministro Edson Fachin, favorável à perda do mandato por abuso de poder religioso.</p>
<p>A Constituição garante liberdade religiosa e mais de 30% da população
brasileira se declara evangélica. É natural, portanto, que essa
representação tenha reflexo nas casas legislativas. Mas é necessário
controlar, por antecipação, o poder da ascendência religiosa no processo
político.</p>
<div><div class="widget-image rs_skip">
<figure> <figcaption class="widget-image__subtitle"><span class="widget-image__credits"></span>
</figcaption>
</figure>
</div>
</div><p>O Estado é laico e deve zelar para que as religiões não imponham suas crenças, estúpidas ou não.</p>
<p>Igrejas são criadas como padarias. Vigora no país um sistema de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/09/se-deus-quiser-vamos-derrubar-diz-lider-da-bancada-evangelica-sobre-veto-de-bolsonaro.shtml">imunidade tributária</a> que favorece o enriquecimento ilícito de pastores, a lavagem de dinheiro e o charlatanismo.</p>
<p>As igrejas podem criar braços partidários e planejar a ascensão
politica e partidária dos seus pregadores? O voto pode ser objeto de
barganha espiritual? Os templos podem se transformar em currais
eleitorais, ainda que sorrateiramente?</p>
<p>A Lei Complementar 64/1990, editada durante o governo Collor, tem o
propósito de evitar abusos de poder econômico e de poder político nas
disputas eleitorais.</p>
<p>Os acréscimos da Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010) estabelecem
paradigmas vinculados ao princípio da honestidade do homem público. Além
de condenados pelos mais variados crimes e atos de improbidade
administrativa, ficam de fora das eleições os cassados e os que tiverem
as contas rejeitadas. Não é suficiente.</p>
<p>A movimentação desimpedida de religiosos e policiais cria desigualdades no processo eleitoral.</p>
<p>O crescimento descontrolado das bancadas da bala e de Deus parece
inexorável diante do vazio jurídico em vigor. O governo Bolsonaro aposta
na simbiose diabólica destas duas forças para instituir mecanismos de
intolerância moral e de tolerância ao abuso policial.</p>
<p>Se nada for feito, estaremos irremediavelmente condenados à corrupção das liberdades constitucionais e à falta de inteligência.</p>
</div>
<div class="js-continue-reading-hidden">
</div>
<div class="c-news__author c-author">
<div class="c-author__content">
<cite class="c-author__name">Luís Francisco Carvalho Filho</cite>
<p class="c-author__bio">
Advogado criminal, presidiu a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (2001-2004).
</p>
</div>
</div></div></div><div class="row"><header class="c-content-head" data-share-text=""></header><br /></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-9037116888842243352020-09-19T15:48:00.001-07:002020-09-19T15:48:27.354-07:00Liberais se mostram ávidos por normalizar ações autoritárias de Bolsonaro <p> </p><p> </p><h1 class="c-content-head__title c-content-head__title--light" itemprop="headline">
Liberais se mostram ávidos por normalizar ações autoritárias de Bolsonaro
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Para cientista político, Elena Landau e coautores usam retórica anacrônica e vaga sobre o liberalismo
</h2><br /><div class="block"><div class="container"><div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row"><div class="flex-cell"><div class="row"><div class="col col--md-1-1 col--lg-10-15 col-offset--lg-5-18"><div class="c-tools-share c-tools-share--bordered-md toolbar rs_skip">
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="block">
<div class="container j-paywall" data-paywall-box="">
<div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row">
<div class="flex-cell">
<div class="row">
<div class="col col--lg-5-18">
<div class="c-more-options">
<div class="c-more-options__header">
<time class="c-more-options__published-date" datetime="2020-08-19 14:00:00" itemprop="datePublished">
19.ago.2020 às 14h00 </time>
</div>
<div class="c-more-options__footer u-no-print rs_skip">
<ul class="c-more-options__list c-more-options__list--secundary" data-change-font-size="" data-children="[data-link]" data-target="[data-news-content-text], [data-force-change-font-size]"><li>
<div class="readspeaker" data-readspeaker="">
<div class="readspeaker_wrapper rs_skip rs_preserve" id="readspeaker_button">
<a accesskey="L" class="rsbtn_play" data-rsevent-id="rs_703621" href="https://app-na.readspeaker.com/cgi-bin/rsent?customerid=6877&lang=pt_br&readid=c-news&url=" rel="nofollow" role="button" title="Ouvir o texto">
<span class="rsbtn_left rsimg rspart">
<svg class="rs_icon rs_icon_speaker" height="16px" viewbox="0 0 16 16" width="14px" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg">
</svg></span></a></div></div><br /></li></ul></div></div></div></div></div></div></div></div>
<div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-author c-news__author">
<div class="c-author__content">
<cite class="c-author__name">Jorge Chaloub</cite>
<p class="c-author__bio">Doutor em ciência política pela
Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e professor do
Departamento de Ciências Sociais da UFJF (Universidade Federal de Juiz
de Fora) </p>
</div>
</div>
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p><strong>[RESUMO]</strong> Em comentário a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/08/associar-liberalismo-ao-fascismo-nao-e-intelectualmente-honesto.shtml">artigo de pesquisadores que atuam como conselheiros do Livres</a>, cientista político afirma que autores usam critérios de pureza para tratar do liberalismo, afastando a doutrina de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/03/liberalismo-primitivo-de-guedes-nao-leva-a-crescimento-diz-lara-resende.shtml">circunstâncias históricas concretas</a>, e, por meio de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pablo-ortellado/2018/02/bolsonaro-nao-esta-para-a-direita-como-lula-esta-para-a-esquerda.shtml">falsas equivalências com a esquerda</a>, concebem o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/07/eleitores-moderados-de-bolsonaro-falam-sobre-decepcao-e-arrependimento.shtml">governo Bolsonaro</a> como expressão legítima do dissenso na sociedade brasileira.</p>
<p class="newstext-star newstext-star--svg"><svg height="12" viewbox="0 0 16 16" width="12" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"> <g fill-rule="evenodd" fill="none"> </g></svg></p></div></div></div> <p class="newstext-star newstext-star--svg"><svg height="12" viewbox="0 0 16 16" width="12" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g fill-rule="evenodd" fill="none"> </g> </svg></p>
<p>Elena Landau, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/fernando-schuler/">Fernando Schüler</a>, Leandro Piquet Carneiro e <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/">Samuel Pessôa</a> publicaram na Ilustríssima, em 1º de agosto, resposta ao <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/06/por-que-assistimos-a-uma-volta-do-fascismo-a-brasileira.shtml">ensaio de professores da USP sobre a atualização de certa tradição fascista brasileira no bolsonarismo</a>.</p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>Com o título “<a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/08/associar-liberalismo-ao-fascismo-nao-e-intelectualmente-honesto.shtml">Desafios de uma sociedade aberta</a>”,
o artigo requenta uma série de chavões conhecidos sobre liberalismo,
fascismo e comunismo, que pouco contribuem para o debate sobre
ideologias políticas. Ele interessa, todavia, por ser representativo de
certo discurso influente em nossa conjuntura.</p>
<p>Façamos uma brevíssima análise do seu uso do <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/04/democracia-liberal-esta-sendo-corroida-afirma-cientista-politico.shtml">conceito de liberalismo</a>.
Os autores acusam os adversários de anacronismo, mas curiosamente
constroem um conceito completamente anacrônico de liberalismo, a partir
de uma definição que ignora suas transformações e o toma como sinônimo
de democracia e liberdade.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>Nesse discurso, o liberalismo é necessariamente virtuoso e seus
eventuais limites sempre decorrem de uma "ausência" ou realização
parcial. O mundo, ademais, seria ainda mais sombrio e autoritário caso
os liberais, verdadeiros defensores da liberdade, não tivessem insistido
em suas condutas, que soam como erros apenas para os que ignoram
elementos centrais da realidade.</p>
<p>Não faltam bons exemplos de antecedentes desse mesmo padrão
narrativo. Um clássico exercício de “retórica da ameaça”, tão bem
esmiuçado por <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/03/1252070-cientista-social-albert-hirschman-esta-bem-servido-por-seu-biografo.shtml">Albert Hirschman</a> em "<a href="https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10345">A Retórica da Intransigência</a>", é a defesa dos discursos e ações liberais prévios à <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/10/reacao-a-crise-de-29-ainda-estimula-debate-sobre-intervencao-estatal.shtml">crise de 1929</a> em “Uma História Monetária dos Estados Unidos”, de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1711200602.htm">Milton Friedman</a> e Anna Schwartz. Neste livro, o economista responsabiliza as ações do Federal Reserve Bank pela <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/10/reacao-a-crise-de-29-ainda-estimula-debate-sobre-intervencao-estatal.shtml">Grande Depressão</a>,
em uma narrativa que ignora fortes evidências historiográficas em
sentido contrário, a partir de uma definição normativa do que é a ordem
liberal.</p>
<p>Se qualquer tradição intelectual só vier a produzir efeitos em sua
forma pura, nunca poderemos avaliar o lugar das ideologias e ideias no
mundo, pois a propria existência já viola a pureza dos manuais.</p>
<p>Paulo Guedes, atual ministro da Economia, é <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/12/fundamentalismo-de-mercado-pode-ser-calcanhar-de-aquiles-de-bolsonaro.shtml">fervoroso entusiasta da narrativa de Friedman</a>,
que, segundo ele, demonstrou que “uma trágica atuação do Fed, o banco
central americano, e não uma falha sistêmica das economias de mercado”
foi a grande razão da crise .</p>
<p>A tentativa de definir a tradição liberal ou estabelecer um cânone
também é imprecisa, vaga e anacrônica no texto. Ante a profunda
influência do pensamento liberal nos últimos séculos e sua ampla
variedade interna, as menções amplas ao conceito de liberalismo, sem
qualquer adjetivo ou explicação mais precisa, pouco contribuem. Uma
lista de autores que vai de Hayek a Rawls, claros adversários no debate
público e na politica norte-americana, quer dizer pouco ou quase nada.</p>
<p>Como já dito, o debate sobre o liberalismo realizado pelo artigo não
apenas tem pouco de novo, mas não faz jus ao produzido recentemente
sobre o tema. O que mais interessa no texto, entretanto, é sua avaliação
da conjuntura. Além do fato de que alguns dos autores atuam com
frequência como intelectuais públicos, com colunas semanais em jornais
de grande circulação, sua opinião merece ainda maior destaque por seus
cargos em governos anteriores e vínculos com o grande empresariado.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>Uma das teses fundamentais do texto em relação à conjuntura é a
legitimidade de Bolsonaro como ator e portador de ideias toleráveis em
uma ordem democrática. Contrários ao pluralismo liberal-democrático
seriam os seus adversários: "A vitória do capitão reformado é fruto da
emergência de novas forças políticas na sociedade e do exercício
legítimo da alternância de poder. É nessa dimensão que ele deve ser
entendido por aqueles que comungam de uma visão plural da democracia".</p>
<p>De acordo com o argumento do artigo, antidemocráticos são os que questionam e <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/03/e-preciso-por-bolsonaro-em-quarentena-para-superar-crise-do-coronavirus.shtml">defendem a imediata ação contra um governo</a>
que se manifesta publicamente a favor do extermínio de minorias, do
aniquilamente da oposição, de destruição das instituições, da <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/03/coronavirus-e-fascismo-de-bolsonaro-nos-fazem-esperar-por-nova-era-diz-sidarta.shtml">negação da ciência</a> e da <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/06/bolsonaro-defende-armar-a-populacao-para-evitar-golpe-de-estado.shtml">constituição de milícias armadas</a>.</p>
<p>Todos os movimentos do texto caminham no sentido de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/09/elites-economicas-enfrentam-dilema-com-adesao-a-bolsonaro-escreve-autor.shtml">normalizar Bolsonaro e suas ideias</a>,
seja por meio de falsas equivalências com a esquerda, seja por tratá-lo
como expressão de legítimos dissensos da sociedade brasileira perante
uma suposta hegemonia da esquerda que, no artigo, atinge até mesmo a
grande mídia.</p>
<p>No esforço de compreender as <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/08/bolsonarismo-e-a-mais-perversa-maquina-de-destruicao-de-nossa-historia-republicana.shtml">origens do bolsonarismo e as causas da sua eleição</a>,
os autores fogem de elucubrações mais sofisticadas e responsabilizam as
esquerdas, que, com seu afã pela polarização, produziram o presidente:
“Bolsonaro é, antes de qualquer coisa, o resultado de um processo de
polarização política da sociedade brasileira muito anterior a sua
eleição. A raiz contemporânea desse fenômeno remonta à retórica violenta
da esquerda à época imediatamente anterior de sua chegada ao poder, com
o 'Fora, FHC' e seu esforço para estigmatizar e deslegitimar um governo
de clara orientação social-democrata”.</p>
<p>Em interpretação sócio-histórica absurda, eles sugerem uma relação
direta de causalidade entre uma ação política da esquerda de 21 anos
atrás, o “<a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc12099906.htm">Fora, FHC</a>”
—no meu entender, aliás, um erro à epoca— e a emergência do
bolsonarismo. Não há maior justificativa sobre os critérios da escolha,
nem reflexão sobre suas eventuais continuidades.</p>
<p>Gostaria de conhecer melhor os pressupostos que embasam argumento tão
pouco usual, ou mesmo a escolha de 1999 como marco inicial. Por que não
o “Fora, Collor”, as <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/09/das-diretas-ja-a-tancredo-neves-a-longa-transicao-para-a-democracia.shtml">Diretas Já</a> ou o comício da Central?</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget gallery-widget-keydown" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-nova/">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>A demanda de autocrítica das esquerdas vem, por sua vez, acompanhada de tímidas menções aos erros do PSDB, sem referências ao <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1541043-psdb-pede-ao-tse-auditoria-especial-no-resultado-das-eleicoes.shtml">questionamento dos resultados eleitorais em 2014, por Aécio Neves</a>,
ou mesmo à escolha no mínimo "ambígua" de FHC —para utilizar um termo
do texto que sera logo debatido— de lutar por um novo mandato em pleno
exercício do poder, como quando da aprovação da emenda constitucional da
reeleição.</p>
<p>O texto segue com uma longa lista de senões ante as credenciais
democráticas do PT, que para o leitor soam mais graves que os do
bolsonarismo. A lista vai do questionamento do respeito à <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/07/projetos-contra-fake-news-ameacam-liberdade-de-expressao-e-imprensa.shtml">liberdade de imprensa</a> ao auxílio a ditadores vizinhos.</p>
<p>Outra vez acaba pouco justificada a seleção dos episódios: “Há
igualmente contas que pesam sobre a esquerda brasileira [...]. A
primeira delas diz respeito a sua relação ambígua com a democracia e as
instituições. Alguns exemplos: o inaceitável suporte político e
financeiro, via BNDES, à ditadura castrista e à escalada autoritária na
Venezuela; episódios como a 'devolução' dos boxeadores cubanos e a
defesa intransigente de um condenado por homicídios na Itália; a
permanente retórica de 'regulação da mídia' e o processo sistêmico e
amplamente documentado de corrupção do Estado brasileiro”.</p>
<p>A esquerda teria, por esse trecho, uma relação “ambígua” com a
democracia e as instituições. Em um texto que pretende analisar o
bolsonarismo, o raciocínio não tem outro papel que <a href="https://revistaescuta.wordpress.com/2018/09/15/o-abismo-das-falsas-equivalencias-divagacoes-sobre-a-comparacao-entre-as-esquerdas-e-bolsonaro/">reforçar o sistema de falsas equivalências e normalizá-lo</a>.
Os autores constroem toda sua argumentação a partir de uma sugestão das
afinidades entre o petismo e o bolsonarismo, que, em ultima medida, se
amparariam nas similaridades entre comunismo e fascismo, ambos inimigos
da "sociedade aberta".</p>
<p>A associação direta do PT com o comunismo nem mesmo merece maior
reflexão no artigo, mas surge de crenças não ditas, que nesse ponto,
aliás, muito se aproximam da retórica de Jair Bolsonaro, que sempre
atribuiu aos petistas a intenção de transformar o Brasil em uma ditadura
comunista.</p>
<p>Para os autores, os liberais ocupam um lugar neutro, de recusa às
práticas antidemocráticas cultivadas por comunistas, ou seja, pelo PT, e
por fascistas: “É possível fazer de conta que nada disso é importante,
que tudo é justificável à luz do 'embate político' e de uma estranha
lógica seletiva sobre boas e más ditaduras. Na visão dos liberais, não. A
democracia não comporta esse tipo de seletividade, estejam no poder
forças à esquerda ou à direita do espectro político".</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>Esse apurado senso de justiça permite aos autores concluir que, apesar da gritaria da esquerda, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/fernando-schuler/2020/01/apesar-dos-alarmistas-um-pais-normal.shtml">as instituições funcionam</a>:
“Dizer que as instituições funcionam não significa concordar com toda e
qualquer decisão tomada, seja pelo Congresso, seja pelo STF”.</p>
<p>Segundo os autoproclamados liberais, não se pode confundir o combate
ao autoritarismo com a proibição do dissenso. O texto mais uma vez
sugere que não apenas Bolsonaro defende pautas autoritárias, mas que a
esquerda também o faz. A defesa do “Fora, Bolsonaro” seria uma delas.</p>
<p>“A democracia liberal é avessa à proibição estatal do dissenso. É
preocupante assistir à atuação de grupos que defendem pautas
autoritárias, em diversas direções. Sua atuação reflete, antes de
qualquer coisa, a permanência de cultura despótica na base da sociedade
brasileira.”</p>
<p>O texto não define quem deseja proibir o dissenso. Pela argumentação,
eu pensaria na esquerda, e talvez até mesmo incluísse o bolsonarismo
nesse grupo. Os autores preferem, todavia, recorrer ao termo cultura e
classificar Bolsonaro como populista, dois excelentes conceitos para
fazer acusações genéricas e definir com pouco rigor o objeto da sua
crítica.</p>
<p>Nesse ponto do artigo surge uma possível razão da escolha do “Fora,
FHC” como marco inicial do processo que levaria ao bolsonarismo. Nas
entrelinhas, o texto sugere que a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/04/impeachment-de-bolsonaro-depende-de-acordo-entre-direita-e-esquerda.shtml">defesa do impeachment de Bolsonaro</a> é mais uma das manifestações do autoritarismo da esquerda.</p>
<p>Ainda de acordo com os autores, o governo Bolsonaro decorreria de um
“conjunto relevante de tendências da vida política brasileira”, como
“pensamento conservador”, “uma demanda difusa pela ética na vida
pública” e “uma ampla e difusa aliança com o mercado a partir da pauta
econômica formulada por Paulo Guedes e sua equipe”.</p><br /><p>A naturalização, simplista perante os olhos de qualquer teoria
da representação política sofisticada, dos vínculos entre sociedade e
governo, interessa pouco. Mais sugestivos são os adjetivos que
qualificam a aliança com o mercado: ampla e difusa. Eles se vinculam a
outros termos, dessa vez usados para qualificar o lugar da agenda
liberal no governo, que seria objeto de um “consenso frágil” e dotada de
resultados “bastante tímidos”.</p>
<p>A moderação revela que a ambiguidade em relação à democracia,
atribuída à esquerda, talvez seja característica dos autores, ávidos por
normalizar as ações autoritárias e o discurso fascista do governo
Bolsonaro ante a esperança de “reformas liberais”.</p>
<p>O objetivo é dissociar o governo Bolsonaro da tradição liberal: “Tudo
isso reflete o fato de que, apesar de iniciativas e intenções liberais,
o governo Bolsonaro não é, em seu conjunto, um governo liberal. Não vai
aí uma distinção trivial. O liberalismo supõe compromissos que vão
muito além dos temas relativos ao livre mercado, como respeito a
instituições, afirmação de direitos, cultivo de valores associados à
liberdade. O atual governo anda longe disso”.</p>
<p>De acordo com os critérios de pureza estabelecidos pelos autores para
definir o liberalismo, dificilmente o encontraríamos na história. Não
creio que seria muito diferente, caso seguidos os mesmo requisitos, os
casos do comunismo e do conservadorismo.</p>
<p>O texto ignora a evidência de que, perante grande parte do empresariado, da grande mídia e de outros grupos sociais relevantes, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/08/quem-sao-os-libertarios-e-anarcocapitalistas-que-pregam-o-fim-do-estado.shtml">a retórica do liberalismo econômico, em sua versão mais radical, próxima ao anarcocapitalismo</a>,
é central para a construção da legitimidade de um governo que adota,
para sermos moderados, uma retórica de extração claramente fascista.</p>
<p>Em meio a formulações vagas sobre ideologias políticas e do esforço
para equiparar a esquerda ao bolsonarismo, a indicação explícita do
texto é: esperemos 2022, pois as instituições e a democracia funcionam.
Quem discorda e defende o impeachment do presidente é, segundo os
autores, autoritário.</p><div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody"><header class="c-content-head" data-share-text=""></header><br /></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-5864366779522858482020-09-19T15:45:00.003-07:002020-09-19T15:45:37.635-07:00Por que assistimos a uma volta do fascismo à brasileira <p> </p><p> </p><h1 class="c-content-head__title c-content-head__title--light" itemprop="headline">
Por que assistimos a uma volta do fascismo à brasileira
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Intelectuais da USP comparam bolsonarismo ao movimento integralista da década de 1930
</h2><br /><div class="c-modal-drop__controls u-hidden-md">
</div><div class="c-modal-drop__controls u-hidden-md">
</div>
<div class="c-tools-share--larger">
<ul class="c-tools-share__list" data-sharebar-buttons="facebook whatsapp twitter messenger linkedIn rss email" data-sharebar-channel="ilustrissima" data-sharebar-text="Opinião: Por que assistimos a uma volta do fascismo à brasileira" data-sharebar-uolpd-id="content" data-sharebar-url="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/06/por-que-assistimos-a-uma-volta-do-fascismo-a-brasileira.shtml" data-sharebar-utm-campaign-prefix="comp" data-triggered-byclick=".c-modal-drop [data-trigger]"><li class="c-tools-share__item">
<br /></li></ul></div>
<div class="block"><div class="container"><div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row"><div class="flex-cell"><div class="row"><div class="col col--md-1-1 col--lg-10-15 col-offset--lg-5-18"><div class="c-tools-share c-tools-share--bordered-md toolbar rs_skip">
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="block">
<div class="container j-paywall" data-paywall-box="">
<div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row">
<div class="flex-cell">
<div class="row">
<div class="col col--lg-5-18">
<div class="c-more-options">
<div class="c-more-options__header">
<time class="c-more-options__published-date" datetime="2020-06-09 12:00:00" itemprop="datePublished">
9.jun.2020 </time><time class="c-more-options__modified-date" datetime="2020-06-09 15:30:00" itemprop="dateModified"></time>
</div></div></div></div></div></div></div></div><div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p class="tagline"><strong>VÁRIOS AUTORES</strong> (nomes ao final do texto)</p>
<p><strong>[RESUMO]</strong> <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/04/coronavirus-reforca-urgencia-da-uniao-de-forcas-democraticas-contra-bolsonaro.shtml">Professores da área de humanas da USP</a>
argumentam que a extrema direita brasileira atualiza, com
particularidades históricas, discursos e estratégias da tradição
fascista do país —visíveis no fundamentalismo religioso, na defesa da
família patriarcal e no culto à violência—, que remonta ao <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/12/com-lema-copiado-por-bolsonaro-integralismo-tem-raro-acervo-preservado-no-rs.shtml">integralismo liderado por Plínio Salgado</a>.</p>
<p class="newstext-star newstext-star--svg"><svg height="12" viewbox="0 0 16 16" width="12" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"> <g fill-rule="evenodd" fill="none"> </g></svg></p></div></div></div> <p class="newstext-star newstext-star--svg"><svg height="12" viewbox="0 0 16 16" width="12" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><g fill-rule="evenodd" fill="none"> </g> </svg></p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>A proposta presidencial, na <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/leia-a-integra-das-falas-de-bolsonaro-e-ministros-em-reuniao-ministerial-gravada.shtml">reunião ministerial gravada em 22 de abril</a>, de armar a população para a defesa daquilo que Jair Bolsonaro chama de “liberdade”; as <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/bolsonaro-manda-reporteres-calarem-a-boca-ataca-a-folha-e-nega-interferencia-na-pf.shtml">agressões físicas e as tentativas de intimidação a jornalistas</a> e a membros do Supremo Tribunal Federal (STF); o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/05/grupo-pro-bolsonaro-protesta-em-frente-ao-stf-com-tochas-e-mascaras.shtml">acampamento dos 300 do Brasil</a> em Brasília —um grupo armado bolsonarista, segundo o Ministério Público do Distrito Federal; e a propalada <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/05/uniao-para-derrotar-bolsonaro-e-urgente-diz-freixo.shtml">ligação do bolsonarismo com as milícias</a> são fatos que deram urgência à pergunta sobre se estamos diante de uma ascensão fascista no país.</p>
<p>Não existe um consenso entre estudiosos sobre a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/10/avanco-da-violencia-mostra-que-movimento-fascista-ja-comecou-diz-autor.shtml">definição de fascismo</a>.
Em parte, a dificuldade vem da própria natureza do fenômeno, que escapa
a identificações fáceis. O fascismo foi reacionário e revolucionário;
buscou a tradição, mas admirava a tecnologia; pregava a ordem por meio
da rebelião; apresentava-se contra o sistema, mas tinha fortes ligações
com as elites; falava em povo, apesar de ser profundamente autoritário e
de sufocar qualquer crítica à liderança.</p>
<p>Como argumenta o historiador Robert Paxton, talvez seja melhor
guiar-se pela estrutura das paixões que caracterizaram o fascismo.
Algumas delas foram o culto à violência e ao militarismo; a crença de
que a salvação da pátria requer a eliminação dos inimigos internos por
meio da mobilização permanente; o uso da identidade nacional através de
uma concepção imunitária e agressiva de corpo social. Unindo tudo, a
obediência ao líder, percebido como uma encarnação da vontade nacional.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg><br /></a></div></div></div></div><p>Não se pretende enfrentar aqui a complicada e necessária
discussão acadêmica sobre o caráter do fascismo em geral, que foge ao
escopo de um artigo voltado para os temas urgentes da conjuntura
brasileira. Deseja-se, antes, lembrar que<a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/10/afinal-jair-bolsonaro-e-ou-nao-e-fascista.shtml"> o bolsonarismo ressoa discursos e estratégias de uma velha tradição fascista local,</a> cuja atualização, nos parece, ajuda a explicar o que está acontecendo.</p>
<p>A <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/12/movimento-integralista-resiste-e-ve-bom-momento-para-difusao-de-suas-ideias.shtml">AIB (Ação Integralista Brasileira)</a>, liderada por Plínio Salgado, formada em 1932, no contexto dos efeitos da <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/10/reacao-a-crise-de-29-ainda-estimula-debate-sobre-intervencao-estatal.shtml">Grande Depressão</a>,
constituiu uma importante iniciativa fascista. No seu auge, chegou a
ter ao redor de um milhão de aderentes. Em 1938, após um fracassado
golpe armado contra o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/08/1327487-o-lado-escuro-de-getulio-vargas.shtml">Estado Novo varguista</a>, a AIB se desintegraria, levando Plínio Salgado para o exílio em Portugal.</p>
<p>O líder integralista voltaria ao Brasil em 1946 para assumir a
presidência do PRP (Partido de Representação Popular), agremiação que
daria roupagem pseudodemocrática ao integralismo no contexto da
democracia do pós-guerra. Após o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/03/historiador-rebate-mitos-sobre-o-golpe-de-1964.shtml">golpe militar de 1964</a>, o PRP seria extinto, dessa vez com a decretação do AI-2 por Castelo Branco.</p>
<p>A filiação de Plínio Salgado e de seus seguidores mais fiéis ao
partido pró-ditadura (Arena) acabaria por dispersar os herdeiros da AIB,
tendência reforçada pela morte do líder integralista em 1975.</p>
<p>Os integralistas enxergavam a nação como um organismo em estado de
profunda crise, ameaçada em sua unidade e ferida de morte pela corrupção
oligárquica e por graves conflitos estaduais. Para os seguidores de
Plínio Salgado, a nação também sangrava em função do materialismo e da
insensibilidade dos liberais. Se ideologias radicais ateias e
internacionalistas vingassem, alertavam os membros da AIB, isso
representaria a própria morte do corpo social: a escravização do Brasil
frente ao movimento comunista planetário.</p>
<p>Para salvar a nação, os integralistas defendiam o desmantelamento da
democracia liberal e a construção de um “Estado orgânico”, baseado em
representações corporativas (classes e grupos de interesse) e
intermediadas por uma liderança incontestável —o “chefe nacional”.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>A corrupção oligárquica, o separatismo, o materialismo burguês,
a desordem e os conflitos de classe representariam um repúdio profundo
aos valores fundamentais e imutáveis da “alma brasileira”, entre os
quais “os princípios eternos da religião do povo” e o “sentimento da
família e dos deveres para com ela”.</p>
<p>Como se vê, a religião cristã e a família constituíam os pilares do
projeto fascista brasileiro nos anos 1930. A partir da família
patriarcal se ergueriam as bases da “família brasileira”, imersa nos
princípios atemporais do cristianismo. Não à toa, o lema integralista
era “Deus, Pátria, Família”. Colocava-se a pátria no meio dos dois
sustentáculos da alma nacional —Deus e família— exatamente porque ela
constituía, nos termos de Plínio Salgado, a “síntese do Estado e da
nação”.</p>
<p>Há paralelismos na retórica de integralistas e bolsonaristas. A
retomada da religião cristã —agora em versão neopentecostal—, da família
e da pátria parece servir para rearticular um núcleo fascistizante de
longa data na sociedade brasileira. É notória a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/08/em-almoco-com-bolsonaro-evangelicos-defendem-pacote-tributario-para-igrejas.shtml">relação existente entre Bolsonaro e parte dos líderes evangélicos</a>.
Uma aliança que repercute na popularidade de Bolsonaro entre os fiéis,
assim como na adesão da chamada bancada da Bíblia aos projetos do
governo federal.</p>
<p>A proximidade de Bolsonaro com um tipo de fundamentalismo religioso
permite sublinhar a contraposição, tão cara às milícias virtuais
alinhadas ao presidente, entre o “vagabundo” e o “pai de família”. Essa
polaridade revela a intenção das hostes bolsonaristas de purificar
violentamente a nação de seus “inimigos”.</p>
<p>Tal como o bordão deixa claro (“Brasil acima de tudo, Deus acima de
todos”), a saída para acabar com a sangria do país, causada pela
corrupção, crise na segurança pública e avanço do globalismo comunista,
envolve colocar uma suposta homogeneidade nacional acima de quaisquer
outras identidades e compromissos, respeitando seu pilar fundamental —a
religião cristã—, algo que vai ao encontro das tradições do fascismo à
brasileira.</p>
<p>O <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/11/em-manifesto-partido-de-bolsonaro-diz-querer-livrar-pais-de-larapios-e-traidores.shtml">manifesto da Aliança pelo Brasil</a>,
partido em construção por Bolsonaro, afirma que o primeiro e mais
importante objetivo da nova agremiação política será o de “respeitar
Deus e a religião”, reconhecendo “o lugar de Deus na vida, na história e
na alma do povo brasileiro”.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg><br /></a></div></div></div></div><p>Segundo o manifesto, o brasileiro caracteriza-se por ser um
povo “religioso e solidamente educado nas bases do cristianismo”. Mais
do que isso: haveria no Brasil um verdadeiro amálgama entre Deus e
nação, uma vez que esta última teria sido fundada sob a cruz (“Terra de
Santa Cruz”), portanto alfabetizada e educada desde o início segundo o
primado da religião cristã.</p>
<p>O mesmo manifesto da Aliança pelo Brasil caracteriza a família como
“núcleo natural e fundamental da sociedade”. Trata-se, logicamente, de
um tipo particular de família: patriarcal, monogâmica, heteronormativa e
baseada em rígidos estereótipos de gênero.</p>
<p>Comportamentos e relações que se afastam desse padrão —de relações
homoafetivas a estruturas familiares alternativas ao paradigma nuclear—
não constituem meras questões de pluralidade afetiva, mas temas de
segurança nacional (“chaga ideológica de nosso país”, diz o manifesto),
sobre os quais o Estado, principalmente por meio de políticas
educacionais e culturais, deve dedicar especial atenção.</p>
<p>A família também ocupa lugar decisivo no discurso de Bolsonaro, tanto
porque se encontraria genericamente em perigo quanto pelo fato de que a
sua família constitui um valor tão supremo que se impõe ostensivamente a
decisões políticas.</p>
<p>A família cristã é ainda um espaço pretensamente idílico, em que
lugares de autoridade não estariam em conflito e divisões sociais de
gênero não seriam questionadas. Em meio a uma sociedade antagônica,
espera-se que a família cristã imponha a paz de uma ordem natural e, por
isso, supostamente inquestionável do ponto de vista moral.</p>
<p>Os deslizes de estilo, as alterações de tom, as inadequações de
vocabulário tornam-se, no interior do sistema de linguagem, a prova e a
marca de autenticidade de Bolsonaro, criada pela dissolução da fronteira
entre público e privado. É a linguagem de um pai que fala com a sua
família, tomado pela cólera da impotência, revertida em delírio de
perseguição, cujo objeto flutuante vai da imprensa às universidades e
aos padrões não heteronormativos, calcado em neologismos como
esquerdopata e gaysista.</p>
<div><div class="widget-image rs_skip">
<figure> <figcaption class="widget-image__subtitle"><span class="widget-image__credits"></span>
</figcaption>
</figure>
</div>
</div><p>Quanto à pátria, o assunto é mais complicado. O integralismo
não só era crítico ao crescente controle da economia pelo “estrangeiro”
—subordinador da pátria “às oscilações caprichosas de Londres e depois
de Nova York”, nas palavras de Salgado—, como defendia a necessidade de
forte intervenção do Estado na economia, coordenando a produção aos
objetivos nacionais e protegendo os mais frágeis dos “abusos do
capitalismo”.</p>
<p>Como sabemos, o bolsonarismo defende o contrário: se apresenta <a href="https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/07/estou-cada-vez-mais-apaixonado-por-trump-diz-bolsonaro.shtml">estranhamente submisso a outro país —no caso, aos Estados Unidos</a>. O <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/11/unica-coisa-rigorosa-no-discurso-de-olavo-sao-os-palavroes-diz-ruy-fausto.shtml">ideólogo máximo do bolsonarismo, Olavo de Carvalho</a>,
vê no trumpismo a trincheira final da defesa da nação contra as garras
do globalismo comunista —justificando, assim, o apoio de Bolsonaro a
Donald Trump. Ao mesmo tempo, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/12/fundamentalismo-de-mercado-pode-ser-calcanhar-de-aquiles-de-bolsonaro.shtml">Bolsonaro vem aprofundando a agenda neoliberal e desmontando o Estado</a>, o que deixa os mais vulneráveis crescentemente desamparados frente ao mercado.</p>
<p>Apesar de invulgar quando considerado do ponto de vista histórico,
porque inverte o sentimento de proteção que liga as massas ao líder nas
experiências clássicas, o script bolsonarista parecia caminhar
relativamente bem até a eclosão da pandemia.</p>
<p>As assim chamadas reformas estruturais, em sua maioria destinadas a
flexibilizar o mercado, retirando direitos e garantias sociais
consagrados na Constituição Federal de 1988, iam sendo efetivadas e
socialmente aceitas; até porque faziam coro com a ideia da meritocracia,
que já grassava há algum tempo dentre os setores médios, e que a
ascensão do pentecostalismo, com sua teologia da prosperidade, ia
ajudando a difundir junto aos pobres.</p>
<p>O fato é que, aclimatada a um país periférico e em tempos ainda de
hegemonia neoliberal, mesmo que decadente, a exortação à nação servia
para convalidar uma política econômica ultraliberal e de destruição
planejada da capacidade de intervenção do Estado, o que claramente a
contradiz. Como não faria nenhum sentido o "make Brazil great again",
fica o “Brasil acima de tudo”, mas abaixo dos Estados Unidos.</p>
<p>Esse traço não estava presente na experiência pretérita do
integralismo, entre outras razões, porque o momento histórico era outro.
Vivia-se um período em que não só as classes médias —de onde provinham
os quadros intelectuais mais importantes do integralismo—, mas parte
significativa das próprias elites econômicas mostravam-se bem mais
dispostas a apostar e agir pela construção, no Brasil, de um Estado
nacional com relativa força.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>Um fascismo ultraliberal como o de Bolsonaro seria viável? Até
que ponto um movimento com essas características pode ser considerado
fascista? É verdade que a maior parte das experiências historicamente
identificadas como fascistas não foram economicamente liberais, bem ao
contrário, mas isso não quer dizer que exista uma relação unívoca entre
fascismo e estatismo.</p>
<p>Ludwig von Mises, no final dos anos 1920, exaltava as virtudes do
líder dos camisas-pretas italianos pelo resgate que este promovera do
princípio da propriedade privada. O próprio Mussolini iniciou seu
governo nos anos 1920 com o economista liberal Alberto De Stefani à
frente do Ministério da Fazenda, concentrando-se inicialmente em
realizar políticas de livre-comércio, redução de impostos, privatizações
e cortes de gastos e empregos públicos.</p>
<p>Foi somente durante a Grande Depressão dos anos 1930 que o governo
fascista passou a investir em obras públicas para a geração de empregos e
na socialização dos prejuízos de setores industriais.</p>
<p>Ainda que o ultraliberalismo econômico não sirva para descaracterizar
o bolsonarismo como movimento fascista, é indubitável que a ideologia
do Estado mínimo de Paulo Guedes distingue substancialmente o atual
momento do fascismo brasileiro daquele dos anos 1930.</p>
<p>No entanto, mesmo considerando as diferenças, o bolsonarismo está
muito mais próximo das marcas características do integralismo do que da
tradicional direita conservadora brasileira, pela simples razão de que
ambos, bolsonarismo e integralismo, representam um fenômeno mobilizador,
que vem de baixo para cima.</p>
<p>Nos termos da historiadora Sandra Deutsch, os conservadores visam,
sobretudo, manter uma ordem considerada em dissolução; os reacionários
vão além, buscando conservar, mas também restaurar um passado mítico.
Conservadores e reacionários podem até pregar vias autoritárias para
atingir seus objetivos, mas não há neles, como há no fascismo, a pulsão
mobilizadora de massas e do culto à violência, profundamente
desumanizadora do “outro” configurado como uma mácula de grupo,
tornando-o alvo de extermínio literal.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-nova/">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>Quando, em 2015-2016, as elites tradicionais voltaram a se unir
para derrubar o lulismo, fizeram-no de forma puramente restritiva, com o
intuito de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/12/espirito-da-constituicao-de-1988-esta-se-degradando-escreve-professor.shtml">esvaziar o conteúdo social da Constituição de 1988</a>.
Pelejando para transformar a democracia em um mero arremedo oligárquico
sem disfarce, o establishment social e econômico parecia então ter
desistido de oferecer ao país uma alternativa crível.</p>
<p>É no vácuo deixado pelas forças tradicionais de direita que se
compreende a possível retomada do fascismo à brasileira. Mesmo tendo
sido oportunisticamente atiçado, no início, por uma oposição sem força
eleitoral suficiente para derrotar a esquerda nas urnas, o bolsonarismo
acabou libertando-se da tutela conservadora.</p>
<p>Eis a novidade: pela primeira vez na história do Brasil republicano,
um autoritarismo vindo de baixo para cima não teve seu voo interceptado
no meio do caminho por uma alternativa conjurada pelas elites, como se
deu com Getúlio Vargas nos anos 1930 e com o golpe de 1964.</p>
<p>Na conjuntura 2015-2018, o bolsonarismo não apenas credenciou-se para
exprimir, a seu modo, a raiva plebeia contra a destrutiva estagnação
econômica, como também capitalizou para si, pelo menos em parte, a
gradual corrosão da legitimidade dos que ocupavam e ocupam as posições
altas do Estado e da sociedade, em sua patente incapacidade para
estender, contra a penúria material e a insegurança crescente, o manto
protetor das estruturas que comandam.</p>
<p>Nesse sentido, a extrema direita soube se aproveitar do<a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/06/junho-de-13-foi-de-sonho-democratico-a-pesadelo-autoritario-diz-bosco.shtml"> impulso anti-institucional desperto pelas manifestações de 2013</a>,
com suas tópicas de antirrepresentação política e refratária aos
modelos de governabilidade característicos da democracia
pós-Constituição de 1988. De modo análogo às experiências clássicas, o
fascismo à brasileira surfou nessa onda, apresentando-se como uma força
que repudiava o jogo institucional predominante na vida política do
país.</p>
<p>Cavalgando, assim, o corcel antissistêmico, Bolsonaro reatou o fio
perdido do fascismo brasileiro com a energia que emergiu em junho de
2013, potencializada pela <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/12/mensagens-vazadas-da-lava-jato-indicam-favorecimento-a-jornalistas-aliados.shtml">Operação Lava Jato</a>.
Depois de 40 anos de silêncio, o movimento bolsonarista resgatou grupos
como TFP (Tradição, Família e Propriedade), as bases do janismo e do
malufismo da década de 1980, caracterizadas pelo sociólogo Flávio
Pierucci como protofascistas, e políticos como Enéas Carneiro, que no
primeiro turno da eleição presidencial de 1994 chegou a ter 7,4% dos
votos.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget gallery-widget-keydown" data-channel="ilustrissima" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter">
</span><br /><p>Diferentemente dos integralistas e seus camisas-verdes, os
bolsonaristas ainda não têm uma estrutura paramilitar organizada, mas
conexões com as milícias policiais e a normalização de “camisas-pardas”
pró-Bolsonaro em espaços públicos apontam para este caminho: a
sedimentação do apoio de massa a uma ideologia e movimento fascista à
brasileira, com o cortejo de horrores que sempre traz consigo.</p>
<p>Parte da história moderna do país e um dos subprodutos de suas fundas
mazelas, o fascismo à brasileira sempre esteve por aí, com seu rosto e
gestos ameaçadores, ainda que, em geral, perambulando nas margens da
vida nacional.</p>
<p>Agora, contudo, galgou um dos centros decisórios do Estado
brasileiro, o que significa que a velha ameaça logrou dar um alarmante
salto de qualidade. É tarefa número um de todos os democratas não só
impedir que ela se consume, mas fazê-la regredir ao espaço marginal de
onde nunca deveria ter saído.</p>
<hr />
<p class="tagline"><strong>André Singer</strong> é professor titular do Departamento de Ciência Política da USP.</p>
<p class="tagline"><strong>Christian Dunker</strong> é professor titular do Instituto de Psicologia da USP.</p>
<p class="tagline"><strong>Cicero Araújo</strong> é professor titular do Departamento de Ciência Política da USP.</p>
<p class="tagline"><strong>Felipe Loureiro</strong> é professor associado do Instituto de Relações Internacionais da USP.</p>
<p class="tagline"><strong>Laura Carvalho</strong> é professora associada do Departamento de Economia da USP.</p>
<p class="tagline"><strong>Leda Paulani</strong> é professora titular do Departamento de Economia da USP.</p>
<p class="tagline"><strong>Ruy Braga</strong> é professor titular do Departamento de Sociologia da USP.</p>
<p class="tagline"><strong>Vladimir Safatle</strong> é professor titular do Departamento de Filosofia da USP.</p><div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody"><header class="c-content-head" data-share-text=""></header><br /></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-4868003974501087842020-09-13T17:28:00.003-07:002020-09-13T17:28:28.638-07:00‘BRASIL É DESIGUAL DEMAIS PARA SE DESENVOLVER’<p> </p><p> </p><div class="copy-snippet fontset1 scale3" style="min-height: 0px;"><article class="art"><header><hgroup><h1 data-bind="text: articleTitle">‘BRASIL É DESIGUAL DEMAIS PARA SE DESENVOLVER’</h1><h2 data-bind="text: articleSubtitle">Economista
francês defende choque de transparência para diminuir ‘distância entre
pessoas e governos’ e também impostos sobre fortunas e heranças no
pós-pandemia</h2></hgroup><ul class="art-byline"><li class="art-source" data-bind="text: issueTitle">O Estado de S. Paulo</li><li class="art-date"><time data-bind="text: shortDateString">13 Sep 2020</time></li><li class="art-author" data-bind="text: byline">THOMAS PIKETTY</li></ul></header><figure class="art-pic"><em data-bind="text: imageByline"></em><figcaption><strong data-bind="text: imageTitle"><br /></strong><span data-bind="text: imageText"></span></figcaption></figure><div data-bind="foreach: articleBlocks"><p data-bind="text: $data">Economista francês defende imposto sobre fortunas e heranças no pós-covid.</p><p data-bind="text: $data">Andrade
tem 33 anos e é filho de Dona Marina e Seu Antonio. Ela sempre cuidou
da casa e dos 7 filhos; ele trazia do mar o sustento da família. A vila
de pescadores no litoral do Ceará foi batizada como Preá. Por lá as
crianças sempre correram soltas pelas ruas de areia, nas idas e vindas
entre a única escola pública, a casa simples e a praia.</p><p data-bind="text: $data">Aos
18 anos, Andrade enxergava a pesca como única opção de futuro, nada
além disso. Decidiu tentar a sorte na cidade grande. Partiu para São
Paulo e lá ficou por quase 10 anos. Começou como cumim em um restaurante
chique até se tornar sommelier.</p><p data-bind="text: $data">Mas os
vinhos e a boa mesa ficaram no passado. Ele resolveu voltar para o
Ceará, assim como uma centena de jovens locais, que, como Andrade, no
passado haviam sido confrontados com o dilema “pescar ou migrar” e
tinham optado pela segunda opção.</p><p data-bind="text: $data">O bom
filho à casa retorna virou uma realidade no Preá por um simples motivo:
oportunidades. Conhecida pelas fortes correntes de vento em boa parte do
ano, a região se transformou na última década em meca mundial para a
prática do kitesurf – esporte aquático em que uma prancha se desloca ao
sabor dos ventos puxada por uma pipa gigante, que atrai cada vez mais
adeptos.</p><p data-bind="text: $data">Hoje, 80% da economia da região
gira em função do kitesurf. E o desenvolvimento do turismo local tem
sido robusto e sustentável, uma boa referência para o Brasil.</p><p data-bind="text: $data">Compartilho
esta história porque ela se conecta à nossa conversa desta edição.
Andrade nasceu em uma das regiões mais pobres e desiguais do país: o
nordeste brasileiro. Ao mesmo tempo, uma das regiões com o maior
potencial de desenvolvimento do planeta: sim, o nordeste brasileiro. O
Preá e a vida deste jovem de 33 anos são a materialização do que pode e
deve ser o nosso futuro: uma nação que gera oportunidades e direito de
escolha aos seus cidadãos, independentemente do CEP de nascimento.</p><p data-bind="text: $data">Para
conversar sobre desigualdades e geração de oportunidades, convidei para
dialogar um dos mais respeitados pensadores e autores da atualidade.
Seu livro O Capital no Século XXI vendeu no mês de lançamento, em 2013,
mais do que qualquer outro livro da Harvard University Press em 101
anos. Nenhuma obra de economia teve impacto tão explosivo. Foi
seguramente o livro de economia mais debatido dos últimos anos.</p><p data-bind="text: $data">A
revista The Economist declarou que a obra poderia “revolucionar o modo
como as pessoas enxergam a história econômica dos últimos dois séculos”.
A também britânica “Prospect” acrescentou o autor à sua lista de
pensadores mais influentes do mundo ocidental.</p><p data-bind="text: $data">Economista
francês, ele é reconhecido mundialmente pelas pesquisas sobre
desigualdade e redistribuição da renda. Partindo de uma fórmula simples,
constatou que, sem mudanças políticas, não há nem haverá como escapar
do aumento da desigualdade, visto que a renda sobre o capital avança em
ritmo mais acelerado do que o crescimento econômico.</p><p data-bind="text: $data">Thomas
Piketty se junta hoje à galeria de notáveis que se dispuseram a
compartilhar, aqui no Estadão, suas visões de vanguarda sobre o mundo
contemporâneo e sobre o pós-pandemia. As ideias e teses do francês não
são uma unanimidade. Mas, sem dúvida, são provocativas. Bem embasadas,
servem de combustível para necessárias reflexões.</p><p data-bind="text: $data">•
O que me traz a você é minha curiosidade. Tenho buscado aprender e
discutir como fazer um Brasil menos desigual, gerador de oportunidades
para todos. A enorme maioria da população brasileira vive uma perversa
pobreza hereditária, sem mobilidade social. Na sua opinião, o que fez do
Brasil um dos países mais desiguais do planeta?</p><p data-bind="text: $data">Uma
das conclusões-chave que trago no livro Capital e Ideologia é que, no
longo prazo, o que traz prosperidade a um país é a diminuição da
desigualdade, um sistema educacional mais inclusivo e uma redução da
concentração de renda. O Brasil não passou pelas grandes transformações
no século 20 que em alguns lugares diminuíram a desigualdade e, com
isso, aumentaram a prosperidade da economia. O Brasil não sofreu tanto
com os horrores das duas Guerras Mundiais, que, nos EUA e no Leste
Europeu, por exemplo, contribuíram bastante para a alteração do cenário
político, para a competição pelo poder entre grupos sociais. A depressão
econômica antes e depois das Guerras ajudou a desacreditar a antiga
elite e a reduzir a legitimidade do sistema de mercado, desse sistema
capitalista do laissez-faire, o que forçou um rebalanceamento das
forças. No Brasil, isso não aconteceu. O legado da escravidão, esse
legado específico da origem do Brasil, não permitiu o desenvolvimento de
novas forças. A história dos partidos políticos do país, a importância
dos militares, é uma situação inicial de muitas desigualdades.</p><p data-bind="text: $data">Está
completamente errada, porém, a visão de que uma cultura de igualdade ou
de desigualdade é uma característica permanente de um país. Observando
diferentes casos, você vê que países que hoje parecem muito
igualitários, como a Suécia, e países ainda mais desiguais do que o
Brasil se transformaram completamente depois de determinadas mudanças
políticas, mudanças até mesmo pacíficas. Na história política do Brasil,
você sabe melhor do que eu, o voto universal é relativamente recente.
Só começou realmente no final dos anos 1980. Todas as Constituições
antes disso excluíam parcelas da população.</p><p data-bind="text: $data">Faço
televisão há mais de 20 anos. Falo com 30 milhões de brasileiros toda
semana. Sou um bom ouvinte e gosto de contar histórias. A desigualdade
brasileira ninguém me relatou: eu vi. E esse desconforto me fez sair da
zona de conforto e começar a procurar soluções para nossos problemas.
Como você explicaria para uma pessoa comum, alguém do povo, que a vida
dos filhos dela e dos netos dela pode melhorar?</p><p data-bind="text: $data">É
difícil estimar prazos e expectativas consistentes quanto ao que pode
ser realizado em 5 ou 10 anos. Há um discurso conservador, especialmente
no Brasil, em que as elites dizem que a redistribuição de renda só
poderá ser feita no futuro, quando o país for mais rico, e que, se feita
agora, será um desastre até mesmo para os pobres. O que eu quero dizer
para os brasileiros é que, pelas evidências internacionais e pelas
evidências históricas, o Brasil é hoje desigual demais para conseguir se
desenvolver. Não estou sugerindo zerar a desigualdade e taxar as
pessoas ricas em 100%. Mas, no Brasil, hoje você paga altos impostos
indiretos – de 20%, 30%, na sua conta de eletricidade, por exemplo. E,
se você herda uma herança imensa, você paga somente 1% ou 2% de
impostos. Em muitos países, inclusive alguns dos mais ricos do mundo, as
pessoas pagam menos impostos na conta de eletricidade e mais impostos
sobre altas quantias de dinheiro.</p><p data-bind="text: $data">• Sempre
que discutimos políticas de proteção social, de diminuição das
desigualdades e geração de oportunidades, temos que ficar atentos para
que não se torne uma equação de soma zero. Qual o melhor caminho para o
Brasil considerando a estrutura do Estado brasileiro: cara, pesada,
ineficiente, corrupta e com pouquíssima capacidade de investimento?</p><p data-bind="text: $data">Vocês
precisam de mais transparência sobre quem está pagando o quê e sobre
quem está recebendo o quê. No Brasil, é muito difícil de saber, em nível
de bens econômicos, quem está pagando tais e tais impostos e quem está
acessando tais e tais serviços. Para gerar confiança no Estado
brasileiro e para aumentar a capacidade do governo de investir, essa
transparência é fundamental. Supostamente nós vivemos a era da bigdata,
mas, na prática, a nossa bigdata é falsa, não passa de um grande
monopólio privado das grandes empresas de tecnologia. Estamos, na
verdade, na era da grande opacidade no que se refere à administração
pública. Da capacidade do governo de rastrear a desigualdade, de
rastrear dados de saúde pública etc, tudo é muito mais restrito do que
deveria ser. Acho importante municiar as pessoas, dar as informações,
dar a possibilidade de as pessoas acompanharem e avaliarem o que o
governo está fazendo, acompanhando os progressos e fracassos. Se vo</p><p data-bind="text: $data">‘O Brasil é desigual demais para se desenvolver’ Thomas Piketty</p><p data-bind="text: $data">cê
tem uma certa distribuição da carga tributária no Brasil em 2020 e
2021, é importante fixar uma meta para 2022, 2023, 2024, 2025, e
divulgar isso publicamente para mostrar o que foi feito o que não foi.
Por enquanto existe um grande discurso sobre justiça social, mas não os
meios para rastrear e monitorar se estão realmente indo nessa direção.</p><p data-bind="text: $data">Tem
uma frase que você repete com frequência: “Vamos aos fatos”. E isso me
conecta a você. Mas os seus fatos vêm dos dados e análises históricas.
Já os meus fatos vêm da rua. Entre tantas deficiências e ineficiências
que a pandemia veio iluminar no Brasil, chama a atenção a maneira como
lidamos mal com dados e tecnologia no governo. Temos uma população
conectada, com mais de 200 milhões de chips de celular ativos, mas um
governo ainda muito distante do que poderia ser um governo digital. Como
você avalia a ideia de transformar os governos em plataformas digitais e
como isso poderia impactar na redução de desigualdades?</p><p data-bind="text: $data">É
muito importante disponibilizar informações aos cidadãos. Isso é
relativamente fácil agora, ou pelo menos deveria ser relativamente
fácil, considerando as novas tecnologias disponíveis. Mas ainda há uma
grande distância entre as pessoas e os governos. Acho que temos que
criar uma linguagem que traduza princípios e aspirações gerais em ações
concretas e notáveis. Quando você diz “nós vamos trazer 90% das crianças
para o ensino fundamental e ter um professor para cada 25 ou 30
alunos”, você divulga um objetivo simples, quantitativo, que pode ser
monitorado, que pode ser acessado. As grandes transformações históricas
precisam conseguir se expressar em termos quantitativos.</p><p data-bind="text: $data">No
livro você mostra como a França diminuiu desigualdades muito mais
depois da guerra do que depois da Revolução Francesa. O Brasil também
nunca reduziu tanto sua desigualdade como nesta pandemia, com o
necessário auxílio emergencial. Mas é um voo de galinha, porque não está
ancorado em nenhum planejamento e porque falta excelência de execução.
Muito se tem discutido sobre a origem de recursos para programas de
proteção social e investimentos de infraestrutura. Qual sua opinião
sobre a necessidade de rigor fiscal e sobre a emissão de dívidas de
curto prazo e moeda por países como o Brasil?</p><p data-bind="text: $data">Numa
crise como esta, é muito tentador dizer “ok nós vamos fazer o Estado
bancar tudo, aumentar a dívida pública, etc.”. Vejo, na Europa e nos
EUA, pessoas de lados diferentes do espectro político defendendo que o
governo se endivide e pague tudo, que os bancos centrais são fortes e
que não é preciso se preocupar com os impostos neste momento. Eu entendo
essa lógica, mas ela é perigosa. Não é algo que você pode fazer em
qualquer lugar do mundo. Os mercados financeiros mundiais podem
perseguir e machucar mais intensamente os países que não operam em dólar
ou em euro. Mas, mesmo na zona do dólar ou do euro, em algum momento
você terá que quitar as dívidas, pagar pelos gastos públicos. É
necessário indicar agora em qual direção nós iremos.</p><p data-bind="text: $data">Precisamos
de um sistema tributário mais igualitário, com mais justiça fiscal,
aumentando os impostos dos bilionários, dos milionários. O imposto de
renda é importante, mas os impostos sobre as fortunas são mais
importantes ainda. Porque o que acontece no topo da pirâmide social é
que algumas pessoas concentram sua riqueza em empresas, sem
caracterizá-la como renda – e sem serem devidamente taxadas, portanto.
Nós vivemos numa época em que, em qualquer país, os bilionários
aumentaram as suas fortunas, os seus lucros e os seus bens muito mais
rapidamente do que a média das pessoas. Então é natural que em algum
momento você peça mais a essas pessoas que cresceram mais o seu
patrimônio. Tudo bem existirem pessoas ricas e pessoas pobres, contanto
que a diferença não seja muito grande e que todos consigam crescer na
mesma velocidade. Se você olha para dez anos atrás, as maiores fortunas
eram de US$ 30 bilhões, US$ 40 bilhões; hoje, elas são de US$ 100
bilhões, US$ 150 bilhões, quase US$ 200 bilhões, como é o caso do Jeff
Bezos (Amazon). E a economia norteamericana não cresceu nessa
velocidade. É importante deixar claro desde já que uma fatia maior vai
ser cobrada desses grupos – em parte, para pagar pela nova
infraestrutura e pelos novos investimentos e, em parte, para pagar as
dívidas que aumentaram por causa da pandemia.</p><p data-bind="text: $data">Estes
1% mais ricos sempre foram acusados de passividade em relação às
questões da desigualdade. E neste momento da história ou nos
comprometemos de fato em sermos parte da solução ou vamos colapsar. Como
você entende que deveria ser este comprometimento? Qual o papel do
Estado nessa relação?</p><p data-bind="text: $data">O que você vê na
história é que isso não acontece voluntariamente. Você precisa da força
do Estado. Eu acho a filantropia ótima. Mas ela deve ser algo além dos
impostos, e não substituí-los. No final das contas, eu defendo que haja
um imposto compulsório sobre as fortunas. Foi interessante observar as
discussões que aconteceram durante as primárias do Partido Democrático
dos</p><p data-bind="text: $data">EUA. Tanto a Elizabeth Warren quanto o
Bernie Sanders, que não venceram as primárias, conseguiram um apoio
imenso dos eleitores com menos de 50 anos ao fazer duas propostas: um
imposto anual sobre o patrimônio total dos bilionários e uma taxa de
saída para aqueles que quiserem mudar de cidadania para fugir da
tributação. Se você quiser ficar nos EUA, você vai continuar pagando os
impostos de lá, mas, se você quiser sair dos EUA, desistir da
nacionalidade norte-americana para conseguir outra, uma nacionalidade
suíça, por exemplo, você tem antes que deixar de 40% a 60% da sua
fortuna nos EUA. Acho que necessitamos de algo assim. Nossa ideia de
fluxo de capital livre precisa mudar. Nós praticamente sacralizamos os
direitos de alguém construir fortunas e poder apertar um botão e tirar
seus bens do país. Isso não é sustentável, porque, no final, vai ser a
classe média, a classe média-baixa que vai pagar todos os impostos do
país. E isso, em algum momento, vai fragilizar o nosso contrato social.</p><p data-bind="text: $data">Nessas
conversas em que tento iluminar o debate pós-pandemia, eu ouvi do
geneticista Peter Diamandis a seguinte frase: “Se você quer ser um
bilionário, cause um impacto positivo na vida de um bilhão de pessoas”. O
que você acha dela?</p><p data-bind="text: $data">Bom, há muitos
bilionários e oligarcas no mundo que eu não vejo fazendo nada. É
importante observar que todos os bens, todas as coisas boas que
acontecem no mundo são naturalmente coletivas. O Bill Gates não inventou
o computador sozinho – existem milhares, milhões de engenheiros, de
cientistas da computação, de técnicos, de pesquisadores, e nós não
colocamos o valor deles no final de cada produto. Sem esse estoque de
conhecimento comum, que foi acumulado pela humanidade por centenas de
anos, nada seria possível. Então nós temos que ser mais conscientes de
que a riqueza não é um passe de mágica de um único indivíduo. As coisas
não funcionam assim. Nos EUA, houve uma grande mudança nos anos 1980. O
governo decidiu ir atrás de mais inovação, e o presidente Ronald Reagan,
em mensagem clara, disse que talvez aumentasse a desigualdade, mas que
seriam tantas as inovações, tantas as descobertas úteis realizadas por
bilionários que a renda média iria aumentar. Mas o que nós vimos 30 anos
depois foi que o crescimento do PIB per capita nos EUA caiu à metade:
ele foi de 1,1% por ano no período de 1990 a 2020, e, no período de 1950
a 1990, ou no período de 1910 a 1950, ele era de 2,2%.</p><p data-bind="text: $data">No
seus livros você discute a riqueza e os sistemas sociais ao longo da
história. Também faz uma extensa discussão sobre a evolução da
escravidão e da servidão. O Brasil tem uma terrível herança
escravocrata, que, mesmo mais de 130 anos depois da abolição, ainda não
foi devidamente endereçada. Nossas políticas reparadoras foram muito
tímidas e ineficientes. Hoje somos uma sociedade que não gera
oportunidades de maneira equilibrada entre brancos e negros. Nossa
violência urbana mata de maneira desproporcional muito mais negros do
que brancos. Durante a pandemia, o debate sobre racismo e antirracismo
ganhou enorme relevância pelo mundo. No Brasil, não foi diferente.
Pessoalmente entendo que temos que reconhecer nossos privilégios como
homens brancos e ricos, sair da inação e mergulhar na defesa de
narrativas antirracistas. Como você enxerga essa questão?</p><p data-bind="text: $data">Essas
questões foram negligenciadas por tempo demais, não só no Brasil, mas
nos EUA, e também em países como a França e a Inglaterra, onde a
história colonial, a experiência com a escravidão e a experiência após a
escravidão tiveram um papel imenso no processo de industrialização. Na
França, o Estado obrigou as antigas colônias de escravos, como o Haiti, a
pagarem, de 1825 até 1950, uma compensação pela perda de propriedades
dos antigos donos de escravos. Esse pagamento, aliás, gerou grande
dívida e acabou afetando o PIB desses países. Então não houve uma
reparação da escravidão; houve, sim, reparação para o outro lado, para
os donos dos escravos. Recentemente, um dos maiores defensores brancos
da abolição da escravidão, Victor Schoelcher, teve suas estátuas
derrubadas na Martinica e em Guadalupe, e os franceses ficaram chocados,
perguntando “por que estão com raiva do Schoelcher?”. Na verdade, o
Schoelcher, a exemplo de muitos intelectuais liberais da época, como o
Alexis de Tocqueville, defendiam a indenização dos donos de escravos.
Para eles, não deveria haver nenhuma compensação para os escravos, e sim
para os donos.</p><p data-bind="text: $data">Mas nós não podemos falar
só em reparação. Precisamos também de uma política antidiscriminatória
combinada a uma política de renda universal. Em Capital e Ideologia, eu
falo de um sistema de herança para todos, onde todos receberiam um valor
mínimo ao completar 25 anos. Ela não substituiria as outras partes do
nosso sistema social, como as escolas públicas, a rede pública de saúde
ou a renda básica. Seria algo a mais. E universal, não importa quais os
seus antepassados, nós não vamos fazer um estudo de genealogia.</p><p data-bind="text: $data">Em
alguns casos específicos, porém, isso se uniria a um programa de
reparação e a uma política antidiscriminatória devido a injustiças
passadas. A França deveria hoje devolver os impostos que foram pagos
pelo Haiti, por exemplo. Nos EUA, em 1998 o Congresso aprovou uma
indenização aos nipo-americanos que foram prisioneiros durante a Segunda
Guerra Mundial. No caso dos nipoamericanos, não era muito, eram US$
400, para pessoas que ainda estavam vivas em 1998 e passaram um, dois ou
três anos num como prisioneiros durante a Segunda Guerra. Não houve
nada assim para as pessoas que sofreram com a escravidão. E, de certa
maneira, é tarde demais. Mas, para os afrodescendentes que sofreram com a
segregação racial até os anos 1960, ainda há tempo.</p><p data-bind="text: $data">No
Brasil, as questões agrárias poderiam servir como uma ferramenta de
reparação por injustiças do passado. No caso da Guiana Francesa, da
Martinica, de Guadalupe, foram feitas propostas concretas nesse sentido.
Eu não sei tanto sobre o Brasil, mas existem áreas nas Guianas, na
Martinica, e em Guadalupe que ainda pertencem aos descendentes dos
antigos donos de escravos, enquanto que os descendentes dos próprios
escravos não têm terra nenhuma. É possível formar uma comissão para
redistribuir parte dessas terras. Hoje existe o mesmo problema na África
do Sul. Depois do fim do apartheid, não houve reforma agrária. Está na
hora de pensar sobre isso.</p><p data-bind="text: $data">• A reforma
agrária no Brasil lidou mais com o lado social e pouco com a viabilidade
econômica das terras distribuídas. Por isso acho que não funcionou tão
bem. Ouço com atenção a ideia, mas eu não consigo enxergar de onde virá o
dinheiro para esta herança mínima. Como pagar uma quantia para todas as
pessoas de 25 anos?</p><p data-bind="text: $data">Hoje, a herança média
em um país como a França é de ¤ 200 mil. Mais da metade da população,
porém, não recebe nada. As pessoas do topo recebem milhões. Algumas
recebem bilhões. O sistema que estou propondo não é muito radical. Eu
defendo que todas as pessoas com 25 anos recebam ¤ 120 mil – e que os
herdeiros de milionários recebam ¤ 600 mil, bem mais do que os ¤ 120 mil
dos demais. Então ainda estamos muito longe da igualdade de
oportunidades. As pessoas gostam de falar sobre a igualdade de
oportunidades, mas, quando se trata de aplicar o princípio,
principalmente quando se trata do imposto sobre a herança, elas rechaçam
o conceito. Existem muitas pessoas que, em termos de patrimônio, estão
na metade de baixo da população e, mesmo assim, têm ideias boas de
negócios: ¤ 120 mil, em vez de zero, farão muita diferença para elas.</p><p data-bind="text: $data">Eu
e você somos parte da geração 1971. Segundo o filósofo austríaco Rudolf
Steiner, a vida humana se desenvolve ao longo de setênios. Estamos
fechando o nosso sétimo setênio, que, segundo a teoria de Steiner, é o
setênio do altruísmo, de uma fase expansiva, do questionamento diante do
medo do envelhecimento, um período sedento por novidades. Qual deveria
ser o legado da nossa geração?</p><p data-bind="text: $data">Eu fiz 18
anos no fim do comunismo na Europa. O início do meu trabalho, das minhas
pesquisas, foi observando esse fracasso imenso do comunismo soviético e
do Leste Europeu. E, na época, se alguém me dissesse que, 30 anos
depois, eu seria a favor do socialismo participativo, eu ia achar isso
uma piada. Na época, eu era bastante anticomunista – eu ainda sou, na
verdade – e muito mais a favor do livre mercado. A tarefa da nossa
geração, pelo menos para mim, na Europa, é perceber que nós fomos muito
longe na direção do hipercapitalismo e tentar construir alternativas
econômicas, alguma esperança em outro sistema econômico. O nosso sistema
capitalista atual está danificando o planeta, criando muita
desigualdade. Depois do desastre comunista do século 20, nós precisamos
pensar em uma nova forma de socialismo, muito mais descentralizada, mais
participativa, democrática, federal. Precisamos continuar pensando. As
pessoas da geração da Guerra Fria ou eram tentadas a serem comunistas ou
eram muito anticomunistas – e elas ainda estão vivendo na Guerra Fria e
não querem saber de alternativas econômicas. Penso que nós temos que
reabrir a discussão. E penso que o crescimento das políticas
identitárias é uma consequência de termos encerrado as discussões
econômicas. Então, se você continuar dizendo para as pessoas que há
apenas uma forma de política econômica e que os governos não podem fazer
nada além de controlarem suas fronteiras e suas identidades, não é de
se surpreender que, 20 anos depois, as pessoas só falem do controle de
fronteiras e de proteção de identidade. Nós precisamos retomar a
discussão econômica. Precisamos refletir sobre os desastres do século 20
e partir para um novo século.</p><br /></div></article></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-39267182131993274482020-09-06T11:48:00.005-07:002020-09-06T11:48:51.005-07:00Milícias se tornaram parte do problema da ineficiência do Rio <p> </p><p> </p><header class="c-content-head" data-share-text="">
<div class="c-content-head__wrap">
<h1 class="c-content-head__title c-content-head__title--italic" itemprop="headline">
Milícias se tornaram parte do problema da ineficiência do Rio
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Minha realidade de mãe burguesa e a do pelotão preparado para
combate me obrigou a admitir que eu vivia numa zona de guerra
</h2>
</div>
</header><cite class="c-author__name">Fernanda Torres</cite><div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p>Da minha janela, vejo a Lagoa, Ipanema e as
Cagarras; à direita, o morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea; à esquerda,
o Cantagalo e, nos fundos, o parque da Catacumba, com o Cristo ao
longe.</p>
<p>É uma visão de tirar o fôlego que compensa, não mais, a tristeza de
ter nascido, crescido no Rio e testemunhado a degradação de uma cidade
fundada num dos mais belos acidentes geográficos do planeta.</p>
<p>À noite, as luzes da Rocinha e do Vidigal se acendem. Uma vastidão de
barracos que viraram prédios; comunidades que, como tantas outras, se
desenvolveram à margem do interesse público e sob o mando de
organizações paraestatais.</p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>A história dos feudos que controlam as diferentes áreas da cidade,
onde habita a mão de obra empregada na construção civil, nos trabalhos
domésticos e no setor de serviços, é formada por um<br />
obscuro emaranhado de facções, milícias e bicheiros.</p>
<p>No vácuo do Estado, barões, traficantes e justiceiros assumiram para
si a administração do caos, com a muda condescendência dos que, como eu,
viviam sob a ilusão idílica da Cidade Maravilhosa.</p>
<p>Em 2018, a escola do meu filho menor, vizinha à Rocinha, enfrentou o
assustador cotidiano da guerra travada entre o ADA e o Comando Vermelho,
pelo lucrativo mercado de drogas que abastece a cidade.</p>
<p>Helicópteros sobrevoavam o pátio do recreio em voos rasante,
acompanhados do som ensurdecedor de granadas e rajadas de metralhadora
que ecoavam pelo vale. Para se proteger de possíveis balas de fuzis, as
crianças foram treinadas a reagir ao alarme, formando filas ordeiras
para retornar às salas de aula em meio ao terror.</p>
<div><div class="widget-image rs_skip">
<figure> </figure>
</div>
</div><p>Eu já havia enfrentado uma disputa de território na Rocinha,
dez anos antes daquela, com meu filho mais velho criança, aluno da mesma
escola. Era noite, fui buscá-lo no horário extenso e dei com um
caveirão em frente ao portão do colégio, na ladeira que dá acesso à
comunidade. Tensos, dez soldados armados de metralhadora faziam escolta
para um companheiro que trocava o pneu do blindado às pressas. Todos
vestiam coletes à prova de bala.</p>
<p>O paralelo entre a minha realidade de mãe burguesa e a do pelotão que
se preparava para o combate me obrigou a admitir o óbvio: eu vivia numa
zona de guerra. Entre deprimida e assustada, blindei o carro.</p>
<p>O calibre das armas usadas em uma ocasião e na outra mede o
aprofundamento da crise de segurança no Rio. O caveirão lidava com uma
batalha ainda invisível para os ouvidos e olhos dos que passeiam na
orla. Uma década depois, era Beirute, a Síria e Sarajevo.</p>
<p>Certa feita, perguntei a um alto magistrado se era verdade que o PCC
planejava se estabelecer no Rio. Com autoridade, ele negou a informação,
dizendo que a facção paulista abortara a expansão carioca por
considerar a divisão de poder da cidade confusa demais. “Aquilo lá é<br />
uma zona”, teria dito um capo.</p>
<p>De fato. À velha guarda do bicho, ao CV, ao TC, ao TCP e ao ADA, se
somaram as milícias de Santa Cruz e Jacarepaguá, que prometiam livrar a
população dos bandidos e acabaram no Escritório do Crime. Os ducados
levaram décadas para estabelecer seu poderio sempre avesso a um controle
unificado, público ou paralelo.</p>
<p>O desmando crônico prosperou e, hoje, controla todos os setores da
vida urbana: saúde, transporte, habitação, distribuição de gás, luz,
cabo e, é claro, a política. O crime tanto calça Rider quanto abotoa o
terno, é laico e religioso; e formou bancadas na Alerj, na Câmara, no
Senado e no Executivo. De Flordelis a Sérgio Cabral, de Ronnie a Miro, a
contravenção reina na ex-capital.</p>
<p>É quase impossível traçar um histórico claro dessa tragédia
insolúvel, uma tarefa que Bruno Paes Manso tomou para si no assombroso
livro “República das Milícias”, que a editora Todavia está prestes a
lançar.</p>
<p>Trata-se de um minucioso estudo sobre o descaso do poder público e da
própria sociedade para com a miséria; um documento sobre a
terceirização de setores estratégicos; sobre a ascensão, desde os anos
1960, de Anjos 45 e esquadrões da morte que, jurando proteção, seja da
polícia, seja de criminosos, terminam por tiranizar, oprimir e explorar
favelas, bairros e municípios.</p>
<p>O Rio acreditou que as milícias resolveriam a ineficiência do Estado.
Não só não resolveram, como se tornaram parte do problema. É uma lição e
tanto para os que apostam na aplicação do modelo para além das
fronteiras fluminenses. “República das Milícias” é leitura obrigatória.</p>
</div>
<div class="js-continue-reading-hidden">
</div>
<div class="c-news__author c-author">
<div class="c-author__content">
<cite class="c-author__name">Fernanda Torres</cite>
<p class="c-author__bio"> Atriz e roteirista, </p></div></div></div></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-77460783068081666342020-08-30T15:02:00.002-07:002020-08-30T15:02:13.613-07:00Na internet, o senso comum ganhou o mesmo status da expertise técnica<p> </p><p> </p><header class="c-content-head" data-share-text="">
<div class="c-content-head__wrap">
<h1 class="c-content-head__title c-content-head__title--italic" itemprop="headline">
Na internet, o senso comum ganhou o mesmo status da expertise técnica
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Ativistas do movimento antivacina, terraplanistas e defensores de teorias conspiratórias divulgam ideias estapafúrdias
</h2>
</div>
</header><cite class="c-author__name">Drauzio Varella</cite><div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p>A ciência é uma ilha cercada de incompreensões
por todos os lados. A um só tempo, ela contradiz o senso comum, o
misticismo e o pensamento mágico, formas de interpretar o mundo adotadas
pela maioria.</p>
<p>Nos países mais desenvolvidos, as crianças ouvem falar dos princípios
que regem a ciência, já nos primeiros anos da vida escolar.
Infelizmente, entre nós, os estudantes entram e saem das universidades
sem noção de como deve ser articulado o pensamento científico.</p>
<p>Quando Galileu Galilei afirmou que a Terra era um dos planetas que
giravam ao redor do Sol, quase foi condenado à morte pela Inquisição. O
senso comum era o de que ficávamos parados no centro do Universo,
enquanto o Sol, a Lua e os demais astros orbitavam à nossa volta.</p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>Muito mais fácil para os religiosos defender que a Terra era imóvel,
como afirmava a Bíblia, do que para Galileu explicar os movimentos de
translação e rotação, que ninguém conseguia enxergar nem sentir.</p>
<div><div class="widget-image rs_skip">
<figure><figcaption class="widget-image__subtitle"><span class="widget-image__credits"><br /></span>
</figcaption>
</figure>
</div>
</div>
<p>Quando Charles Darwin e Alfred Wallace demonstraram que a vida na
Terra —e em qualquer planeta em que venha a existir— é uma eterna
competição por recursos naturais limitados, na qual os menos aptos
perdem a oportunidade de deixar descendentes, a reação foi tão feroz que
150 anos mais tarde<br />
ainda existem contestadores.</p>
<p>No mundo da internet, o senso comum ganhou status de expertise técnica. Ativistas do <a href="https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2019/01/movimentos-antivacinas-ameacam-saude-global-em-2019-diz-oms.shtml">movimento antivacina</a>, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2019/07/7-dos-brasileiros-afirmam-que-terra-e-plana-mostra-pesquisa.shtml">terraplanistas</a>,
charlatães e os defensores de teorias conspiratórias e de tratamentos
de eficácia jamais comprovada divulgam ideias estapafúrdias, como se
tivessem o nível de conhecimento de cientistas brilhantes.</p>
<p>A ciência é uma frágil conquista civilizatória da sociedade, baseada
no raciocínio lógico, na observação empírica, na significância
estatística, no confronto de dados e na reprodutibilidade dos
experimentos, regra segundo a qual a repetição de uma experiência deve
levar aos mesmos resultados, independentemente do observador.</p>
<p>Não é tarefa simples convencer sociedades inteiras de conceitos tão
abstratos. Veja o caso do uso da hidroxicloroquina no tratamento da
infecção pelo atual coronavírus, droga dotada de ação antiviral no tubo
de ensaio, já testada sem sucesso contra dengue, gripe, zika,
chikungunya e outras viroses.</p>
<p>Para demonstrar atividade de um medicamento contra determinada
enfermidade, para a qual não há tratamento conhecido, o estudo deve
pertencer à categoria dos ensaios clínicos controlados, randomizados,
prospectivos, em duplo cego.</p>
<p>Isso quer dizer, que os participantes precisam ser alocados ao acaso
para dois grupos: um deles servirá de controle, outro receberá pela
primeira vez a droga em teste. No entanto, como o simples ato de tomar
remédio altera a percepção dos sintomas que nos afligem, os pacientes
não devem saber para que grupo foram sorteados. Da mesma forma, é
preciso evitar que o julgamento do médico seja comprometido.</p>
<p>Para evitar esses vieses, há necessidade de administrar um placebo
para o grupo-controle, comprimido inerte (geralmente talco) com
aparência idêntica à do que contém a droga em teste, de modo que nem o
participante nem o médico possam identificar quem está em cada grupo
(duplo cego).</p>
<p>Os participantes serão seguidos até que o número de desfechos
clínicos nos dois grupos (cura, piora, mortalidade, sobrevida ou outro)
seja suficiente para que os dados nos deem pelo menos 95% de certeza de
que são significantes do ponto de vista estatístico.</p>
<p>Como explicar a necessidade de estudos tão detalhados para quem não
teve formação científica? É muito mais fácil para os mistificadores
contestá-los com base em crenças pessoais, opiniões, dados falsos,
interesses políticos ou financeiros. Nem precisam se dar ao trabalho de
contra-argumentar, basta pôr os resultados em dúvida: “não é bem assim”,
“eu não acredito nisso”.</p>
<p>Médicos criteriosos se baseiam em estudos conduzidos com tanto rigor,
porque foi graças a eles que a medicina contribuiu para duplicar a
expectativa de vida da população, no decorrer do século 20.</p>
<p>No caso da hidroxicloroquina, nenhum estudo prospectivo, randomizado,
controlado, em duplo cego, mostrou que pacientes tiveram qualquer
benefício em comparação com os que receberam placebo.</p>
<p>Então, por que há médicos que a receitam? A resposta, prezado leitor, deixo a seu critério.</p>
</div>
<div class="js-continue-reading-hidden">
</div>
<div class="c-news__author c-author">
<div class="c-author__content">
<cite class="c-author__name">Drauzio Varella</cite></div></div></div></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-38687824278306755362020-08-30T14:23:00.004-07:002020-08-30T14:23:40.569-07:00Fala aos moços<p> </p><p> </p><h1 class="entry-title">Fala aos moços</h1>
<div class="entry-content">
<p>de <strong><em>Darcy Ribeiro</em></strong></p>
<p>Sou um homem de causas. Vivi sempre pregando e lutando, como um
cruzado, pelas causas que me comovem. Elas são muitas, demais: a
salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o
socialismo em liberdade, a universidade necessária. Na verdade, somei
mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isto não importa.
Horrível seria ter ficado ao lado dos que nos venceram nessas batalhas.</p>
<p>Tudo que diz respeito ao humano, suas vidas, suas criações, me
importam supremamente. Dentro do humano, o povo brasileiro, seu destino é
o que mais me mobiliza. Nele, a ínvia indianidade brasileira, que
consegue milagrosamente sobreviver. Mas, sobretudo, a massa de gente
nossa, ainda em fusão, esforçando-se para florescer numa nova
civilização tropical, mestiça e alegre.</p>
<p>Acho que aprendi isso, ainda muito jovem, com os antigos
comunistas.Imbatíveis em sua predisposição generosa de se oferecerem à
luta, por qualquer causa justa, sem mais querer que o bem geral. Estou
certo de que a dignidade, e até o gozo de viver que tenho, me vêm dessa
atitude básica de combatente de causas impessoais. Tanto, que me atrevo a
recomendar duas coisas aos jovens de hoje.</p>
<p>Primeiro, que não respeitem seus pais, porque estão recebendo, como
herança, um Brasil muito feio e injusto, por culpa deles. Minha também, é
claro. Segundo, que não se deixem subornar por pequenas vantagens em
carreirinhas burocráticas ou empresariais pelo dinheirinho ou dinheirão
que poderiam render.</p>
<p>Mais vale ser um militante cruzado, acho eu.</p>
<p>Vejo os jovens de hoje esvaziados de juventude, enquanto flama,
combatividade e indignação. Deserdados do sentimento juvenil de
solidariedade humana e de patriotismo e de orgulho por nosso povo.</p>
<p>Incapacitados para assumir as carências dos brasileiros como defeitos
próprios e sanáveis de todos nós. Ignorantes de que o atraso, a fome e a
pobreza só existem e persistem, entre nós, porque são lucrativos para
uma elite infecunda e cobiçosa de patrões medíocres e de políticos
corruptos.</p>
<p>Afortunadamente, podemos nos orgulhar de muitos jovens brasileiros
que são o sémen de nosso povo sofredor. Sem eles, nossa Pátria estaria
perdida. É indispensável, porém, ganhar a totalidade da juventude
brasileira para si mesma e para o Brasil. O dano maior que nos fez a
ditadura militar, perseguindo, torturando e assassinando aos jovens mais
ardentemente combativos da última geração, foi difundir o medo,
promover a indiferença e a apatia. Aquilo de que o Brasil mais
necessita, hoje, é de uma juventude iracunda, que se encha de indignação
contra tanta dor e tanta miséria. Uma juventude que não abdique de sua
missão política de cidadãos responsáveis pelo destino do Brasil, porque
sua ausência é imediatamente ocupada pela canalha.</p>
<p>Talvez eu veja tanto desencantamento, onde o que há é apenas o normal
das coisas ou o sentimento do mundo que corresponde às novas gerações.
Talvez seja assim, mas isso me desgosta muito. Desgosta, principalmente,
porque sinto no fundo do peito que é obra da ditadura militar tamanha
juventude abúlica, despolitizada e desinteressada de qualquer coisa que
não corresponda ao imediatismo de seus interesses pessoais. É por isso
que não me canso de praguejar e xingar, exaltado, dizendo e repetindo
obviedades.</p>
<p>Sobretudo, quando falo à gente jovem em pregações sobre valores que
considero fundamentais e que não ressoam neles como eu quisera.</p>
<p>Primeiro de tudo, o sentimento profundo de que esse nosso paísão
descomunal e esse povão multitudinário, que temos e somos, não nos caiu
ao acaso, nem nos veio de graça. É fruto e produto de séculos de lutas e
sacrifícios de incontáveis gerações. O território brasileiro é do
tamanho que é graças à obsessão portuguesa de fronteira, impressa neles
por um milênio de resistência, para não serem absorvidos pela Espanha,
como ocorreu com todos os outros povos ibéricos. Desde os primeiros dias
de nosso fazimento estava o lusitano preocupadíssimo em marcar posses,
gastando nesse esforço gerações de índios e caboclos que nem podiam
compreender que nos faziam.</p>
<span id="more-433040"></span>
<p>Meu apego apaixonado pela unidade nacional começa pela preservação
desse território como a base física em que nosso povo viverá seu
destino. Encho-me da mais furiosa indignação contra quem quer que
manifeste qualquer tendência separatista. Acho até que não poderia nunca
ser um ditador, porque mandaria fuzilar quem revelasse tais pendores.<br />Outro
valor supremo, e até sagrado, que quero comunicar à juventude, é o
sentimento de responsabilidade pelo atroz processo de fazimento de nosso
povo, que custou a vida e a felicidade de tantos milhões de índios
caçados nas matas e de negros trazidos de África, para serem desgastados
no moinho brasileiro de gastar gente. Nós viemos dos zés-ninguém
gerados pela índia prenhada pelo invasor ou pela negra coberta pelo amo
ou pelo feitor. Aqueles caboclos e mulatos, já não sendo índios nem
africanos e não sendo também admitidos como europeus, caíram na
ninguendade. A partir desta carência de identificação étnica é que
plasmaram nossa identidade de brasileiros.</p>
<p>Fizeram-no um século depois, quando, através dos insurgentes
mineiros, tomamos consciência de nós brasileiros como um povo em si,
aspirando existir para si.</p>
<p>Surgimos, portanto, como um produto “inesperado e indesejado do
empreendimento colonial que só pretendia ser uma feitoria. A empresa
Brasil se destinava era a prover o açúcar de adoçar boca de europeu, o
ouro de enricá-los e, depois, minerais e quantidades de gêneros de
exportação.</p>
<p>Éramos, ainda somos, um proletariado externo aqui posto para servir
ao mercado mundial. Criá-lo foi a façanha e a glória das classes
dominantes brasileiras, cujo empenho maior consistia, e ainda consiste,
em nos manter nessa condição.</p>
<p>Foi sobre esse Povo-Nação, já constituído e levado à independência
com milhões de caboclos e mulatos, que se derramou a avalancha européia
quando seus trabalhadores se tornaram descartáveis e disponíveis para a
exportação como imigrantes. Os melhores deles se identificaram com o
povo antigo da terra e até se tornaram indistinguíveis de nós, por sua
mentalidade, língua, cultura e identificação nacional. Ajudaram
substancialmente a modernizar o país e a fazê-lo progredir, gerando uma
prosperidade ampliada, a inda que muito restrita, e que beneficiou
principalmente aos recém-vindos.</p>
<p>É de lamentar, porém, que vez por outra surja, entre eles, uns
idiotinhas alegando orgulhos de estrangeiridade. O fazem como se isso
fosse um valor, mas principalmente porque estão predispostos seja a
quebrar a unidade nacional em razão de eventuais vantagens regionais,
seja a retornarem eles mesmos para outras terras, como fizeram seus
avós. Afortunadamente, são uns poucos. Com um pito se acomodam e se
comportam.</p>
<p>Compreendem, afinal, que não há nesse mundo glória maior que
participar da criação, aqui, da civilização bela e justa que havemos de
ser.</p>
<p>Tal como ocorreu com nossos antepassados, hoje, o Brasil é nossa
tarefa, essencialmente de vocês, meus jovens. A história está a exigir
de nós que enfrentemos alguns desafios cruciais que, em vão, tentamos
superar há décadas. Primeiro que tudo, reformar nossa institucionalidade
para criar aqui uma sociedade de economia nacional e socialmente
responsável, a fim de alcançarmos uma prosperidade generalizada a todos
os brasileiros. O caminho para isso é desmonopolizar a propriedade da
terra, tirando-a das mãos de uma minoria estéril de latifundiários que
não plantam nem deixam plantar. Eles são responsáveis pelo êxodo rural e
o crescimento caótico de nossas cidades e, conseqüentemente, pela Fome
do povo brasileiro. Fome absolutamente desnecessária, que só existe e só
se amplia porque se mantém uma ordem social e um modelo econômico
compostos para enriquecer os ricos, com total desprezo pelos direitos e
necessidades do povo.</p>
<p>Simultaneamente, teremos de derrubar o corpo de interesses que nos
quer manter atados, servilmente, ao mercado mundial, exigindo
privilégios aos estrangeiros e a privatização das empresas que dão ser e
substância à economia nacional, para manter o Brasil como o paraíso dos
banqueiros. Não se trata de criar aqui nenhuma economia autárquica,
mesmo porque nascemos no mercado mundial e só nele sobreviveremos.</p>
<p>Trata-se é de deixar de ser um reles proletariado externo para ser um
povo que exista para si mesmo, ocupado primacialmente em promover sua
própria felicidade.</p>
<p>Essas lutas só podem ser travadas com chance de vitória desmontando a
ordem política e o sistema econômico vigentes. Seu objetivo expresso é
preservar o latifúndio improdutivo e aprofundar a dependência externa
para manter uma elite rural esfomeadora e enriquecer um empresariado
urbano servil a interesses alheios. Todos eles estão contentes com o
Brasil tal qual é. Se não anularmos seu poderio, eles farão do Brasil do
futuro o país que corresponda aos interesses dos países que nos
exploram.</p>
<p>Nestas singelas proposições se condensa para mim o que é substancial
da ideologia política que faz dos brasileiros, brasileiros dignos. Tais
são o zelo pela unidade nacional, o orgulho de nossa identidade de povo
que se fez a si mesmo pela mestiçagem da carne e do espírito; a
implantação de uma sociedade democrática onde imperem o direito e a
justiça para todos; a democratização do acesso à terra para quem nela
queira morar ou cultivar; a criação de uma economia industrial autônoma
como o são todas as nações desenvolvidas.</p>
<p>Eis o que peço a cada jovem brasileiro: repense estas ideias,
reavalie estes sentimentos e assuma, afinal, uma posição clara e
agressiva no quadro político brasileiro.</p>
<p><em>*Publicado em agosto de 1994</em></p></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-82598325543922234602020-08-30T13:26:00.001-07:002020-08-30T13:26:09.989-07:00Nazistas, assassinos, abusadores, corruptos e milicianos estão no poder <p> </p><p> </p><header class="c-content-head" data-share-text="">
<div class="c-content-head__wrap">
<h1 class="c-content-head__title c-content-head__title--italic" itemprop="headline">
Nazistas, assassinos, abusadores, corruptos e milicianos estão no poder
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Caso Flordelis é um resumo perfeito do Brasil sob Bolsonaro
</h2>
</div>
</header>
<div class="c-tools-share c-tools-share--bordered-md toolbar rs_skip">
<ul aria-label="Opções de compartilhamento" class="c-tools-share__list" data-sharebar-buttons="facebook whatsapp twitter" data-sharebar-channel="colunas/antonioprata" data-sharebar-counter="" data-sharebar-limit="4" data-sharebar-text="Opinião - Antonio Prata : Nazistas, assassinos, abusadores, corruptos e milicianos estão no poder" data-sharebar-uolpd-id="content" data-sharebar-url="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2020/08/para-nao-dizer-que-nao-falei-das-flores.shtml" data-sharebar-utm-campaign-prefix="comp"><li class="c-tools-share__item" data-share-button="facebook">
<cite class="c-author__name">Antonio Prata</cite></li></ul></div><br /><div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p>A cantora, deputada e pastora evangélica
Flordelis não podia se separar do filho adotivo com quem havia se casado
—ex-marido de uma de suas filhas também adotadas— porque um divórcio<a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/08/ministerio-publico-denuncia-deputada-flordelis-por-suspeita-de-arquitetar-morte-do-marido.shtml"> escandalizaria a Deus</a>:
então, obviamente, decidiu matá-lo. Com a ajuda dos filhos, claro. Essa
lógica tão cristalina quanto um bloco de granito é um resumo perfeito
do bolsonarismo.</p>
<p>Nas eleições de 2018, Bolsonaro se apresentou como anti-establishment
e antipolítico, embora tivesse passado as últimas três décadas bundando
na Câmara dos Deputados. Durante os anos em que bundou em Brasília,
Bolsonaro mantinha um apartamento funcional, pago por nós, embora
contasse com um imóvel próprio. Quando questionado, disse que o
apartamento funcional, pago por nós, era <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1949837-daqui-a-pouco-vao-querer-pegar-minha-mae-diz-bolsonaro.shtml">“pra comer gente”</a>.
E quem mama nas tetas do Estado, segundo ele e seu asseclas, é o
coreógrafo, o ator de teatro, o aluno cotista, o pesquisador da Capes,
do CNPq que contam, ou, em grande parte, contavam, com incentivos
estatais.</p>
<p>Este velho político que usava o nosso dinheiro “pra comer gente”, que
está no terceiro casamento, que elogia publicamente o músico espancador
da namorada, coloca-se como “defensor da família”. É uma defesa da
família bem parecida com a da deputada Flordelis. Um duplo twist carpado
na lógica já torta do Maluf, “estupra, mas não mata”: é o “mata, mas
não desquita”.</p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>Os cruzados da família não vão atrás do <a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/08/exame-de-dna-confirma-que-tio-estuprou-e-engravidou-crianca-de-dez-anos-no-espirito-santo-diz-tv.shtml">tio pedófilo que violentava a criança </a>dos
seis aos dez anos, vão atrás é da menina no hospital para fazer um
aborto legal depois de ser engravidada pelo estuprador. A criança teve
que entrar no hospital dentro do porta-malas de um carro, enquanto os
defensores da família gritavam “assassina!”. A neonazista Sara Winter
(leiam o perfil na última Piauí) <a href="https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/08/extremista-que-divulgou-nome-de-crianca-gravida-viola-constituicao-codigo-penal-e-eca.shtml">divulgou os dados da criança em suas redes</a>,
de forma a garantir que ela siga sendo para sempre abusada, agora não
mais pelo tio, mas por todos os cidadãos e cidadãs “de bem”.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget gallery-widget-keydown" data-channel="antonioprata" id="gallery-widget-nova/">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter"><span class="gallery-widget__header-counter-value"></span></span><div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody"><p>“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos." Quando eu ouvi
pela primeira vez o slogan inconstitucional com que Bolsonaro batizou
nosso Estado laico, lamentei profundamente. Hoje em dia, diante da
demolição moral, institucional, ambiental, enfim, da implosão
civilizacional a que estamos assistindo, lamento profundamente é que não
tenhamos no lugar deste herege um presidente “profundamente
evangélico”.</p>
<p>Ao contrário do presidente, que não leu sequer a bula da cloroquina,
li a Bíblia de cabo a rabo. Não encontrei nos Evangelhos um versículo
sequer que justifique ter como braço direito da família um miliciano
assassino suspeito de organizar rachadinhas no gabinete do filho e <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/quebra-de-sigilo-revela-27-depositos-da-familia-queiroz-a-michelle-e-coloca-em-duvida-versao-de-bolsonaro.shtml">repassar dinheiro para a mulher do pai</a>.
Tampouco encontrei nos Evangelhos —o Velho Testamento é outra coisa,
ali El Shadai bota pra quebrar— nada que embase o extermínio de 30 mil
ímpios. Porrada na boca. Rato na vagina. (Uma tara do ídolo do
Bolsonaro, Brilhante Ustra). Jesus fez-se conhecido principalmente por
curar doentes. Não por dar as costas a leprosos dizendo que era “só uma
micosezinha” e deixar morrer 120 mil em poucos meses.</p>
<p>Jesus sacrificou-se para salvar a humanidade. Bolsonaro sacrifica a
humanidade para salvar o próprio rabo. Não é um bundão, é um serial
killer. Quando a crise econômica bater feio, ele dirá como Pôncio
Pilatos, algoz de Cristo: “Lavo minhas mãos”. As mãos de Pilatos estão
sujas até hoje, 2020 anos depois.</p>
<p>Nazistas, assassinos, abusadores de crianças, corruptos, delinquentes
e milicianos estão no poder, hoje, no Brasil, em nome da família, de
Deus e da liberdade. Amém.</p>
</div>
<div class="js-continue-reading-hidden">
</div>
<div class="c-news__author c-author">
<div class="c-author__content">
<cite class="c-author__name">Antonio Prata</cite></div></div><div class="c-news__content"><br /></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-82106751103642518642020-08-23T17:45:00.005-07:002020-08-23T17:45:53.749-07:00Steve Bannon, o Trotsky da Internacional dos Populista<p> </p><p> </p><header class="td-post-title">
<h1 class="entry-title">Steve Bannon, o Trotsky da Internacional dos Populistas, por Fernando Nogueira da Costa</h1>
<p class="td-post-sub-title">Steve
Bannon é originário da classe trabalhadora americana e nunca superou sua
raiva original. Abomina a elite esnobe em relação a gente como ele. Ele
luta para arrancar da intelligentsia liberal (esquerda norte-americana)
a hegemonia cultural.</p>
<div class="td-module-meta-info">
<div class="td-post-author-name"><div class="td-author-by">Por</div> <a href="https://jornalggn.com.br/author/fernando-nogueira-da-costa/">Fernando Nogueira da Costa</a><div class="td-author-line"> - </div> </div> <span class="td-post-date td-post-date-no-dot"><time class="entry-date updated td-module-date" datetime="2020-08-23T12:39:12+00:00">23/08/2020</time></span> </div>
</header><br /><p>Steve Bannon, um dos mentores da vitória de Donald Trump nas eleições
de 2016, foi preso em um iate. É acusado de enganar milhares de
doadores por meio de uma plataforma de financiamento coletivo chamada “<em>We Build the Wall</em>” (“Nós Construímos o Muro”). Acumulou US$ 25 milhões para o muro na fronteira entre EUA e México.</p>
<p>Bannon usou centenas de milhares de dólares desse dinheiro para
expandir despesas pessoais. Entende-se porque pregou esse bordão
xenófobo na campanha Trump…</p>
<p>Segundo Giuliano da Empoli, em seu livro “<em>Os Engenheiros do Caos</em>”
(tradução Arnaldo Bloch. 1ª. ed. São Paulo: Vestígio, 2019), Steve
Bannon é, de certo modo, o Trotsky do movimento populista, misto de
ideólogo e organizador da Internacional dos populistas. Apresentarem-se
como <em>nacionalistas</em> seria uma <em>contradição em termos</em>.
Tais como seus representantes no Brasil, pertencentes ao clã Bolsonaro
da casta dos militares, não rejeitam a submissão aos Estados Unidos,
presidido por Donald Trump.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-1">
</div></div>
<p>Steve Bannon é originário da classe trabalhadora americana e nunca
superou sua raiva original. Abomina a elite esnobe em relação a gente
como ele. Ele luta para arrancar da <em>intelligentsia liberal</em> (esquerda norte-americana) a hegemonia cultural.</p>
<p>Antes de se integrar a campanha de Trump, Bannon comandou o site de
contrainformação, Breitbart News, do movimento “direita alternativa” dos
EUA. Abriga nacionalistas, supremacistas brancos, neonazistas e
antissemitas radicais. Bannon logo aprendeu com seu mestre Andrew
Breitbart, fundador do site homônimo: “a política deriva da cultura”.
Aliás, Antônio Gramsci, à esquerda, sugeriu isso muito antes.</p>
<p>Seus membros se imaginam conspiradores contra o <em>establishment</em>.
São militaristas ou, simplesmente, indivíduos raivosos. Sempre estão
decididos a impor um ponto de vista diferente com “negacionismo
científico” sobre as principais questões no centro do debate: a
imigração, o livre-comércio, a defesa das minorias e os direitos civis.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-2">
</div></div>
<p>A internet revolucionou a política em diversos países. O populismo
neofascista se iniciou na Itália. Lá, pela primeira vez, o poder foi
conquistado por uma forma nova de tecnopopulismo pós-ideológico, fundado
não em ideias, mas em algoritmos formadores de opiniões extremistas,
disponibilizados pelos engenheiros do caos.</p>
<p>Segundo Empoli, um tecnólogo de informações (Gasaleggio),
especialista em marketing digital, dirigiu o Movimento 5 Estrelas,
aliado a um comediante popularíssimo (Grillo). Depois de constituir sua
rede social a partir de um blog, fundou o partido e escolheu os
candidatos submetidos à sua visão até assumir o controle do governo de
toda a nação.</p>
<div style="clear: both; margin-bottom: 10px; margin-top: 5px;"><a class="uab4c358988d6f99f7732ed7e33e551b8" href="https://jornalggn.com.br/artigos/responsabilizar-ou-nao-responsabilizar-a-condicao-de-chefes-de-estado-no-direito-internacional-penal-por-hannah-de-gregorio-leao/" rel="nofollow" target="_blank"><div style="padding-left: 1em; padding-right: 1em;"><span class="ctaText">Leia também:</span> <span class="postTitle">Responsabilizar,
ou não responsabilizar: a condição de chefes de Estado no direito
internacional penal, por Hannah De Gregorio Leão</span></div></a></div><p>No
dia 8 de setembro de 2007, em toda a Itália, praças foram tomadas por
apoiadores do movimento populista. Direita e esquerda se confundiam, tal
como nas “gloriosas (sic) jornadas de junho de 2013” no Brasil,
abertura da porta para a direita “sair do armário”, onde tinha se metido
desde a Campanha Diretas Já, há 30 anos.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-3">
</div></div>
<p>Insuflados por Grillo, os italianos raivosos manifestaram o <em>Vaffanculo</em>
[Vão se fuder, políticos!] à casta dos homens políticos corruptos,
pressuposta opressora de toda “gente de bem”. Em plena recessão, com uma
taxa de desemprego de 13% e uma carga tributária recorde, os italianos
estavam cada vez mais receptivos às palavras de ordem simplórias do
Movimento 5 Estrelas, organizado por uma <em>rede social de ódio</em>.</p>
<p>Em poucos meses, ele se torna o único verdadeiro partido nacional do
país, popular do Norte ao Sul, entre jovens e velhos, capaz de captar
vozes tanto à esquerda quanto à direita. Nas eleições de fevereiro de
2013, o Movimento 5 Estrelas, com pouco menos de 9 milhões de votos e
25% do sufrágio, se torna o partido mais votado da Itália.</p>
<p>A Física Social, há dois séculos, foi definida como “ciência cujo
objeto é o estudo de fenômenos sociais, considerados similares aos
fenômenos astronômicos, físicos, químicos e psicológicos”. Eles estariam
sujeitos às leis naturais invariáveis, cuja descoberta é a meta das
pesquisas: reduzir a sociedade a uma equação matemática.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-4">
</div></div>
<p>Nunca atingiu o objetivo de tornar mais previsível a evolução da
sociedade. Mas, nos últimos anos, os comportamentos humanos começaram a
produzir um fluxo maciço de dados por conta da digitalização de todos os
celulares. Graças à internet e às redes sociais, nossos hábitos, nossas
preferências, opiniões e mesmo emoções passaram a ser mensuráveis.
Somos rastreáveis e mobilizáveis dentro de nossas “câmaras de ecos”.</p>
<p>Quantos “amigos” ou seguidores você tem na internet? Quinhentos? Mil?
Não se iluda. O limite das relações humanas é determinado pela biologia
evolutiva. O ser humano tem capacidade de manter uma rede de amizade
composta por, em média, 150 pessoas.</p>
<div style="clear: both; margin-bottom: 10px; margin-top: 5px;"><a class="u241120348777e6324c86fd367a599db7" href="https://jornalggn.com.br/desenvolvimento/surto-de-queimadas-e-ofuscado-pela-pandemia-de-covid-19/" rel="nofollow" target="_blank"><div style="padding-left: 1em; padding-right: 1em;"><span class="ctaText">Leia também:</span> <span class="postTitle">Surto de queimadas é ofuscado pela pandemia de covid-19</span></div></a></div><p>Conhecido
como “número de Dunbar”, ele foi estipulado, na década de 90, pelo
antropólogo inglês Robin Dunbar. Compartilhar informações pessoais com
quem não se tem intimidade, em rede social, cria a falsa sensação de
amizade.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-5">
</div></div>
<p>Na Física, o comportamento de cada componente de um sistema não é
previsível. Cada um, porém, é submetido a interações com uma infinidade
de outros. O comportamento de um aglomerado é previsível. Através da
observação do sistema é possível deduzir o comportamento médio de certos
nódulos centrais com múltiplas interconexões.</p>
<p>As interações contam mais em vez das unidades individuais. O sistema
emergente, tomado em seu conjunto, possui características – e obedece a
regras – passíveis de tornar previsíveis e manipuláveis tanto suas
opiniões quantos suas ações. As leis da Física, em análise de <em>big data</em>, se aplicam aos comportamentos humanos aglomerados.</p>
<p>Um sistema de seres humanos, interativos entre si, pode ser um sistema caótico. Uma <em>fake news</em>
pode ser a pequena modificação inicial capaz de produzir imensos
efeitos secundários. Provoca até uma comoção social influente em uma
eleição.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-6">
</div></div>
<p>O Facebook, por exemplo, permite testar simultaneamente dezenas de
milhares de mensagens diferentes, selecionando em tempo real as com um
retorno positivo e bem-sucedido. Por um processo de otimização contínua,
consegue-se elaborar versões mais eficazes para mobilizar partidários e
convencer os céticos. Graças ao trabalho de físicos, aplicado à
comunicação, <em>cada categoria de eleitores recebe uma mensagem sob medida.</em></p>
<p>Pode-se, por exemplo, abordar os argumentos mais controversos,
endereçando-os somente àquelas pessoas sensíveis a eles, sem correr o
risco de perder o apoio de outros eleitores com pensamento diferente.
Chama-se “<em>dog whistle politics</em>” [“política do apito para cão”], quando só alguns percebem o chamado, enquanto outros não ouvem nada.</p>
<p>A Física Newtoniana era baseada na observação a olho nu ou pelo
telescópio. Ela descrevia um universo mecânico, regido por leis
imutáveis, no qual certas causas produziam certas consequências. A
Física Quântica desafia essas antigas leis da racionalidade científica.
Revela um mundo de <em>relatividade</em>, no qual nada é estável e onde
uma realidade objetiva não pode existir, porque, inevitavelmente, cada
observador a modifica na perspectiva de seu ponto de vista pessoal.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-7">
</div></div>
<p>De maneira análoga, a Política Newtoniana estava adaptada a um mundo
mais ou menos racional, controlável, no qual a uma ação correspondia uma
reação. Os eleitores podiam ser considerados como componentes dotados
de pertencimentos ideológicos, de classe ou de território, dos quais
derivavam escolhas políticas definidas e constantes.</p>
<div style="clear: both; margin-bottom: 10px; margin-top: 5px;"><a class="u5ac9581fd442ae122322fec160a4ccea" href="https://jornalggn.com.br/cidadania/o-aborto-no-caso-da-menina-estuprada-o-fanatismo-desumaniza-por-dora-incontri/" rel="nofollow" target="_blank"><div style="padding-left: 1em; padding-right: 1em;"><span class="ctaText">Leia também:</span> <span class="postTitle">O aborto no caso da menina estuprada – o fanatismo desumaniza! Por Dora Incontri</span></div></a></div><p>Com
a Política Quântica, a realidade objetiva não existe. Cada coisa se
define, provisoriamente, em relação a uma outra, e, sobretudo, cada
internauta determina sua própria realidade. Em sua bolha, recebe apenas
informações pelas quais se interessa.</p>
<p>Na Política Quântica, a versão do mundo vista por cada um é
literalmente invisível aos olhos de outros. Afasta cada vez mais a
possibilidade de um entendimento coletivo.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-8">
</div></div>
<p>Cada um fica dentro de sua própria bolha, no interior da qual só
certas vozes se fazem ouvir. Apenas alguns fatos existem. Na
ultrapassada Política Newtoniana, cada um tinha direito a suas próprias
opiniões, mas não a seus próprios fatos, mas na Política Quântica esse
princípio não é mais viável. A verdade passa a ser a interpretação.</p>
<p>Alguns analistas comparam a política norte-americana atual ao clima
de 1860, antes da Guerra Civil. Os democratas querem acabar com as
injustiças históricas, para conquistar um país multicultural, negro,
branco, pardo, gay, transgênero, com necessidades especiais e
cosmopolita. Os republicanos têm a aparência predominantemente branca,
suburbana, provinciana e quase exclusivamente heterossexual. Os
conservadores buscam restaurar a situação histórica a uma época anterior
ao “politicamente correto”.</p>
<p>No Brasil, como diz Maria Rita Kehl, “para o machista, homofóbico,
misógino e conservador em costumes religiosos deve ser um osso duro de
roer ver a alegria, a liberdade e a autossuficiência da geração do
#EleNão”. Acumula ressentimento.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-9">
</div></div>
<p>Os apoiadores do autoritarismo militar se ressentiram de ficar de
fora da festa da reconquista da democracia. Eles não se veem como
perdedores na competição social, mas como “prejudicados”. Ressentidos,
acusam a gente culta de esquerda por isso.</p>
<strong><em>Fernando Nogueira da Costa – Professor Titular do
IE-UNICAMP. Autor de “Golpe Econômico: Locaute ou Nocaute da Economia
Brasileira” (2020). Baixe em “Obras (Quase) Completas”: <a href="https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/">http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/</a> </em></strong>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-51546999819161142112020-08-23T17:36:00.000-07:002020-08-23T17:36:24.191-07:00Boaventura de Sousa Santos: “credibilidade do sistema judicial do Brasil foi tremendamente corroída pela Lava-Jato”<p> </p><p> </p><header class="td-post-title">
<h1 class="entry-title">Boaventura de Sousa Santos:
“credibilidade do sistema judicial do Brasil foi tremendamente corroída
pela Lava-Jato”,</h1><h1 class="entry-title"> por Cesar Calejon</h1>
<p class="td-post-sub-title">Em sua
nova obra, o professor português utiliza o livro A Ascensão do
bolsonarismo no Brasil do século XXI como referência bibliográfica e
estabelece uma comparação entre as ascensões de Jair Bolsonaro e Adolf
Hitler</p>
<div class="td-module-meta-info">
<div class="td-post-author-name"><div class="td-author-by">Por</div> <a href="https://jornalggn.com.br/author/cesarcalejon/">Cesar Calejon</a><div class="td-author-line"> - </div> </div> <span class="td-post-date td-post-date-no-dot"><time class="entry-date updated td-module-date" datetime="2020-08-23T14:12:06+00:00">23/08/2020</time></span> </div>
</header><br /><p>Em sua mais recente obra, a terceira edição do livro <em>Toward a New Legal Common Sense: Law, Globalization and Emancipation</em>,
que será lançada na próxima semana (31 de agosto) pela Cambridge
University Press, na Inglaterra, o professor português Boaventura de
Sousa Santos aborda a judicialização da política como um dos principais
eventos transnacionais da nossa época. Ele afirma que, no caso
brasileiro (Lava-Jato), existe um componente fortíssimo de influência
externa e cita o livro A Ascensão do bolsonarismo no Brasil do Século
XXI como referência bibliográfica para compreender o bolsonarismo e
demonstrar as similaridades das ascensões de Jair Bolsonaro e Adolf
Hitler, considerando a atuação da operação Lava-Jato.</p>
<p>“Por que a Operação Lava Jato foi muito além dos limites das
polêmicas que habitualmente surgem na esteira de qualquer caso
proeminente de ativismo judicial?”, questiona Boaventura no sexto
capítulo do seu novo livro. “Permitam-me salientar que a semelhança com a
investigação italiana, Mãos Limpas, tem sido frequentemente invocada
para justificar a exibição pública e a agitação social causadas por este
ativismo judicial. Embora as semelhanças sejam aparentemente óbvias, há
de fato duas diferenças bem definidas entre as duas investigações”,
prossegue o acadêmico.</p>
<p>Segundo ele, “(…) por um lado, os magistrados italianos sempre
mantiveram o respeito escrupuloso pelo processo penal e, no máximo, não
fizeram nada além de aplicar regras que haviam sido estrategicamente
ignoradas por um sistema judicial que não era apenas complacente, mas
também cúmplice dos privilégios dos políticos governantes e das elites
na política do pós-guerra da Itália”.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-1">
</div></div>
<p>“Por outro lado, procuraram aplicar o mesmo zelo invariável na
investigação dos crimes cometidos pelos dirigentes dos vários partidos
políticos. Eles assumiram uma posição politicamente neutra justamente
para defender o sistema judiciário dos ataques a que certamente seria
submetido pelos visados por suas investigações e processos. Essa é a
própria antítese do triste espetáculo que atualmente oferece ao mundo um
setor do sistema judiciário brasileiro. O impacto causado pelo ativismo
dos magistrados italianos passou a ser denominado República dos Juízes.
No caso do ativismo do setor associado à Lava Jato, talvez fosse mais
correto falar de uma república judiciária da Banana”, afirma Boaventura.</p>
<div style="clear: both; margin-bottom: 10px; margin-top: 5px;"><a class="ud7797b6aadfa34fc0b4735a43e4525c5" href="https://jornalggn.com.br/cidadania/leste-e-sudeste-da-asia-tem-o-maior-encarceramento-de-mulheres-do-mundo/" rel="nofollow" target="_blank"><div style="padding-left: 1em; padding-right: 1em;"><span class="ctaText">Leia também:</span> <span class="postTitle">Leste e sudeste da Ásia têm o maior encarceramento de mulheres do mundo</span></div></a></div><p>Ainda
de acordo com ele, “a influência externa que está claramente por trás
desse caso particular de ativismo judicial brasileiro estava amplamente
ausente no caso italiano. Essa influência é o que está ditando a
seletividade flagrante de tal procedimento investigativo e acusatório.
Pois embora envolva dirigentes de vários partidos, o fato é que a
Operação Lava Jato – e seus cúmplices da mídia – tem se mostrado
extremamente inclinada a envolver as lideranças do PT (Partido dos
Trabalhadores).”</p>
<p>Na página 386 do seu novo trabalho, Boaventura argumenta que a
Lava-Jato tem menos semelhanças com a operação Mãos Limpas do que com o
processo judicial que precedeu a ascensão do nazismo após o fim da
primeira guerra mundial na Alemanha.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-2">
</div></div>
<p>“A Operação Lava Jato tem mais semelhanças com outra investigação
judicial, que ocorreu na República de Weimar após o fracasso da
revolução alemã de 1918. A partir daquele ano, e em um contexto de
violência política originada tanto na extrema esquerda quanto na extrema
direita , os tribunais alemães mostraram uma chocante demonstração de
dois pesos e duas medidas, punindo com severidade o tipo de violência
cometida pela extrema esquerda e mostrando grande leniência com a
violência da extrema direita – a mesma direita que em poucos anos
colocaria Hitler no poder. No Brasil, isso levou à eleição de Jair
Bolsonaro”, escreve o autor, que, neste parágrafo, oferece o livro A
Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI como referência
bibliográfica sobre o bolsonarismo.</p>
<p>“A credibilidade do sistema judicial do Brasil foi tremendamente
corroída pela manipulação grosseira a que foi submetido. Mas este é um
sistema internamente diverso, com um número significativo de magistrados
que entendem que a sua missão institucional e democrática consiste em
respeitar o devido procedimento e falar exclusivamente no âmbito do
processo”, acrescenta Boaventura.</p>
<div style="clear: both; margin-bottom: 10px; margin-top: 5px;"><a class="uac71b5ddfc0f492f72aed4656ace3fa8" href="https://jornalggn.com.br/artigos/militares-stf-e-as-elites-do-kit-gay-a-piroca-azul-turquesa-por-armando-coelho-neto/" rel="nofollow" target="_blank"><div style="padding-left: 1em; padding-right: 1em;"><span class="ctaText">Leia também:</span> <span class="postTitle">Militares, STF e as elites: do “kit gay” à piroca azul turquesa, por Armando Coelho Neto</span></div></a></div><p>Por
fim, ele pondera que “(…) a grosseira violação desta missão, exposta
pela Vaza -Jato (“Car-Leak”), está forçando as organizações
profissionais a se distinguirem dos amadores. Uma recente declaração
pública da Associação Brasileira de Juízes pela Democracia, chamando o
ex-presidente Lula da Silva de prisioneiro político, é um sinal
promissor de que o sistema judiciário está se preparando para recuperar a
credibilidade perdida”, conclui.</p><div class="code-block code-block-19" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
</div>
<div class="code-block code-block-8" style="clear: both; display: block; margin: 8px auto; text-align: center;">
<div class="plabel" id="dmp-v-par-3">
</div></div>
<p><strong>* <em>Cesar Calejon </em></strong><em>é jornalista com
especialização em Relações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela
Universidade de São Paulo (EACH-USP). É, também, autor do livro “A
Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI” (Lura Editorial).</em></p>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-75314412006992182442020-08-23T11:50:00.004-07:002020-08-23T11:50:51.772-07:00Fachin vê, como todos, e diz, como poucos, sobre futuro contaminado por despotismo <p> </p><header class="c-content-head" data-share-text="">
<div class="c-content-head__wrap">
<h1 class="c-content-head__title" itemprop="headline">
Fachin vê, como todos, e diz, como poucos, sobre futuro contaminado por despotismo
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Ministro do STF faz diagnóstico forte e destemido ao tratar da escalada do autoritarismo no Brasil após eleições de 2018
</h2>
</div>
</header><cite class="c-author__name">Janio de Freitas</cite><div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p>A repercussão negada pelos jornalistas não nega ao exame da atualidade pelo ministro Edson Fachin, do Supremo, a condição de <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/fachin-diz-que-tse-deveria-ter-autorizado-candidatura-de-lula-e-critica-escalada-autoritaria-apos-2018.shtml">mais importante pronunciamento de um integrante das altas instituições brasileiras</a>, ao menos desde iniciado o governo Bolsonaro, se não desde a queda de Dilma Rousseff.</p>
<div><div class="widget-image rs_skip">
<figure><figcaption class="widget-image__subtitle"><span class="widget-image__credits"><br /></span>
</figcaption>
</figure>
</div>
</div>
<p>A “recessão democrática” ainda não recebera nada no nível adotado por Fachin, exceto em parte pelo ministro Celso de Mello.</p>
<p>Objetivo como os magistrados evitam ser, claro e simples como os
magistrados detestam ser, franco e lúcido como deveriam ser as
considerações necessárias dos magistrados, Fachin advertiu que “as
eleições de 2022 [as presidenciais] podem ser comprometidas se não se
proteger o consenso em torno das instituições democráticas”. Proteger de
quê ou de quem?</p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>O diagnóstico é forte e destemido: há “uma <a href="https://www1.folha.uol.com.br/colunas/silvio-almeida/2020/08/regimes-autoritarios-sempre-tem-os-seus-juristas-de-estimacao.shtml">escalada do autoritarismo no Brasil</a> após as eleições de 2018”, gerada pela existência de “um cavalo de Troia dentro da legalidade constitucional” do país.</p>
<p>“Esse cavalo de Troia apresenta<a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/06/powerpoint-dos-bolsonaros-conheca-novas-revelacoes-do-elo-familia-queiroz-e-milicias.shtml"> laços com milícias </a>e
organizações envolvidas com atividades ilícitas. Conduta de quem elogia
ou se recusa a condenar ato de violência política no passado”. O<br />
que inflama o presente com “surtos arrogantes e ameaças de intervenção”.</p>
<p>Fachin vê, como todos, e diz, como poucos: “O futuro está sendo contaminado por despotismo”.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget gallery-widget-keydown" data-channel="janiodefreitas" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg>
</a></div></div></div></div></div></div></div><span class="gallery-widget__header-counter"><span class="gallery-widget__header-counter-value"></span></span><div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody"><p>No Supremo, a ministra Cármen Lúcia pareceu dar eco às palavras
de Fachin no Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral. Considerou
triste a volta forçada do tribunal, diante do<a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/relatorio-existe-mas-nao-dossie-diz-ministro-sobre-monitoramento-de-antifascistas.shtml"> dossiê do Ministério da Justiça contra antifascistas</a>,
“a este assunto quando já se acreditava ser apenas”, ou ter sido, “uma
fase mais negra da nossa História”. Nada a ver com o dito por Fachin, se
até agora Cármen Lúcia tinha tal crença. Mesmo a tristeza soa
irrealista.</p>
<p>Não faltaram ocasiões em que o Supremo e o TSE foram chamados a sustar a candidatura que atacou a democracia com a<a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/01/o-heroi-de-bolsonaro-me-torturou-diz-jornalista-preso-por-9-anos-pela-ditadura.shtml"> defesa da ditadura e da tortura</a>,
atacou as instituições constitucionais, prometeu acabar com os petistas
e outros, anunciou uma população armada, transpirou ódios
preconceituosos e vocação homicida. Isso tudo expelido por uma
perturbação mental indisfarçável e com histórico comprovado.</p>
<p>Hoje<a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/veja-crimes-de-responsabilidade-que-bolsonaro-pode-ter-cometido-desde-o-inicio-do-mandato.shtml"> não faltam crimes de responsabilidade acumulados</a>.
Como não faltam mortes pela Covid, não combatida de fato e inocentada
para os incautos. E nem é só o figurante principal que continua
inatingível pela defesa da ordem constitucional e do devido à população.</p>
<p>Flávio Bolsonaro não precisa controlar as <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/pgr-investigara-transacoes-da-jbs-com-advogado-ligado-aos-bolsonaro.shtml">revelações que se sucedem sobre sua delinquência</a>,
porque controla a passividade do Senado e o vagar dos seus inquéritos.
Carlos Bolsonaro nem interesse demonstrou pelas revelações que o
atingem. <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/06/queiroz-e-advogado-dos-bolsonaros-atuaram-para-contatar-miliciano-foragido-afirma-promotoria.shtml">Fabrício Queiroz e seus contatos milicianos </a>estão protegidos.</p>
<p>A instauração e a ameaçadora continuidade do descrito por Edson
Fachin, como ninguém ousou fazer nas altas instituições, têm
corresponsabilidades no Judiciário e no Congresso. Mas aí mesmo, na
impossibilidade de negar o exposto pelo ministro, ficará mais difícil
não ver o que está vendo, para não fazer o que deve.</p>
<h3 class="c-news__subtitle">Os bons moços</h3>
<p>Desde que passou de senador a deputado, para que seus processos
saíssem de Brasília rumo à sua Minas, Aécio Neves não cessa de receber
benesses.</p>
<p>Agora é o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/duvida-sobre-paradeiro-de-documentos-vira-entrave-em-inquerito-sobre-aecio-neves.shtml">desaparecimento de delações premiadas integrantes dos seus processos</a>, que por isso param... na Justiça (sic) de Minas.</p>
<p>O que importa é poder usufruir bem, com sua vocação de playboy, os milhões que extorquiu por aí com a irmã. Enquanto <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/apos-mirar-pt-e-centrao-lava-jato-vira-algoz-de-tucanos-saiba-o-que-pesa-contra-aecio-serra-e-alckmin.shtml">Geraldo Alckmin e José Serra </a>seguem
suas vidas discretas e bem providas. Aos bons moços do PSDB
correspondem bons moços no Ministério Público e nos tribunais.</p>
</div>
<div class="js-continue-reading-hidden">
</div>
<div class="c-news__author c-author">
<div class="c-author__content">
<cite class="c-author__name">Janio de Freitas</cite></div></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-77543594336776878252020-08-17T15:28:00.004-07:002020-08-17T15:28:31.595-07:00Lei Antidrogas, 14 anos <p> </p><h1 class="c-content-head__title c-content-head__title--italic" itemprop="headline">
Lei Antidrogas, 14 anos
</h1>
<h2 class="c-content-head__subtitle" itemprop="alternativeHeadline">
Como está, lei só amplia prisão de pequenos traficantes, facilmente substituíveis
</h2><br /><div class="block"><div class="container"><div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row"><div class="flex-cell"><div class="row"><div class="col col--md-1-1 col--lg-10-15 col-offset--lg-5-18"><div class="c-tools-share c-tools-share--bordered-md toolbar rs_skip">
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="block">
<div class="container j-paywall" data-paywall-box="">
<div class="flex flex--gutter flex--col flex--md-row">
<div class="flex-cell">
<div class="row">
<div class="col col--lg-5-18">
<div class="c-more-options">
<div class="c-more-options__header">
<time class="c-more-options__published-date" datetime="2020-08-17 14:59:00" itemprop="datePublished">
17.ago.2020</time><time class="c-more-options__modified-date" datetime="2020-08-17 15:40:00" itemprop="dateModified"></time>
</div>
<div class="c-more-options__footer u-no-print rs_skip">
<ul class="c-more-options__list c-more-options__list--secundary" data-change-font-size="" data-children="[data-link]" data-target="[data-news-content-text], [data-force-change-font-size]"><li>
<div class="readspeaker" data-readspeaker="">
<div class="readspeaker_wrapper rs_skip rs_preserve" id="readspeaker_button">
<a accesskey="L" class="rsbtn_play" data-rsevent-id="rs_776084" href="https://app-na.readspeaker.com/cgi-bin/rsent?customerid=6877&lang=pt_br&readid=c-news&url=" rel="nofollow" role="button" title="Ouvir o texto">
<span class="rsbtn_left rsimg rspart">
<svg class="rs_icon rs_icon_speaker" height="16px" viewbox="0 0 16 16" width="14px" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg">
</svg></span></a></div></div><br /></li></ul></div></div></div></div></div></div></div></div>
<div class="col col--md-1-1 col--lg-12-18">
<div class="c-author c-news__author">
<div class="c-author__content">
<cite class="c-author__name">Willian Sampaio</cite> </div><div class="c-author__content">Advogado, foi subsecretário de
Assuntos Estratégicos e secretário-adjunto da Secretaria de Segurança
Pública do Estado de São Paulo (2007-10)<cite class="c-author__name"></cite><p class="c-author__bio"> </p>
</div>
</div>
<div class="c-news__content">
<div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody">
<p>No próximo domingo (23) a <a href="https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u43738.shtml">atual legislação antidrogas do Brasil</a>,
lei 11.343/2006, completa 14 anos. De lá para cá viu-se aprofundar o
modelo equivocado de política criminal do país. Desde 1940, nossa
legislação penal é amparada por deturpada axiologia. É só ler o Código
Penal: a honra e integridade física, por exemplo, valem menos que uma
cabeça de gado. Explica-se: as penas para a calúnia, difamação e injúria
vão de três meses a dois anos de detenção; para lesão corporal, três
meses a um ano. Mas basta ocorrer um abigeato (furto de gado), que a
pena será de dois a cinco anos de reclusão.</p>
<p>Assim andou a Lei Antidrogas. Ao tipificar o crime de tráfico de
entorpecente, a lei trouxe, no artigo 33, 18 condutas. Juntou-se tudo:
“Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,
vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer
consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer
drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="opiniao" id="gallery-widget-nova/">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg><br /></a></div></div></div></div></div></div></div><p>Já a posse de substância entorpecente foi despenalizada —não
confundir com descriminalizada— pela previsão do artigo 28. Mas a lei
deixou ao critério discricionário sua aferição. Ao aplicar ao caso
concreto, modula-se a posse pela quantidade, local e circunstâncias
sociais e pessoais da pessoa.</p>
<p>Estudo realizado pela Associação Brasileira de Jurimetria, com base
nos dados do estado de São Paulo de 2010 a 2017, trouxe algumas
conclusões: como a lei não definiu critério objetivo na quantidade para
distinguir o uso do tráfico, esta operação é exercida pela autoridade
policial no momento da lavratura do boletim de ocorrência.</p>
<div class="c-advertising c-advertising--300x250 u-hidden-xs rs_skip">
</div>
<p>A tipificação temporária do fato como tráfico varia conforme a região
do estado. Na capital a classificação ocorre diante de apreensões de
quantidades entre 20 e 40 gramas de substância, a depender da região da
cidade. A <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/229229-ha-legiao-de-usuarios-presos-confundidos-com-traficantes.shtml">valoração sobre a quantidade de drogas no geral é suficiente para classificar o suspeito como traficante ou como usuário</a>, considerando a relativa raridade de outros elementos de prova, está sob a discricionariedade policial.</p>
<p>Também na capital é considerado tráfico de drogas o <a href="https://www1.folha.uol.com.br/bbc/2015/09/1679453-liberar-porte-de-droga-sem-diferenciar-traficante-e-usuario-e-injusto-diz-ativista.shtml">porte </a>de
33 g de cocaína, 17 g de crack e 51,2 g de maconha. Já no restante do
estado, considera-se tráfico o porte de 20 g de cocaína, 9 g de crack e
32,1 g de maconha. Critérios objetivos para distinção poderiam ser uma
forma de reduzir a discricionariedade e definir fronteiras claras para
reformulação da atual política de drogas.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget" data-channel="opiniao" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg><br /></a></div></div></div></div><p>Não obstante, ainda segundo o estudo, a utilização de critérios
objetivos poderia gerar dois outros tipos de distorção: criminalizar
usuários e ser leniente com traficantes. Apontou, entretanto, ser
possível propor valores de corte ideais que balanceiam os dois tipos de
injustiça. O Supremo Tribunal Federal está julgando, desde 2011, recurso
extraordinário que visa declarar inconstitucional o artigo 28 da
referida lei —os três primeiros votos foram nesse sentido, dois deles
restritos à posse da maconha.</p>
<p>Mas, enquanto não se decide a questão e não se altera a lei, quais os
efeitos? Sob vigência atual, verificou-se o aumento exponencial de
presos por crime de “tráfico” e outros delitos ligados às drogas, a
maior parte pequenos vendedores nas “biqueiras”, pessoas facilmente
substituíveis por outras.</p>
<p>Dados do Infopen, do Departamento Penitenciário Nacional (Depen),
mostram que a população carcerária do Brasil, somente entre 2010 e 2014,
cresceu 33%, enquanto outros países reduziam o número de presos, como
os Estados Unidos (-8%), a China (-9%) e a Rússia (-25%). O Brasil
passou de 361 mil presos em 2005 para 755 mil em 2019. Em taxa por 100
mil habitantes, foi de 196, em 2005, para 359 em 2019. São jovens, dos
quais 45% com idade entre 18 e 29 anos, 46% são pardos e 51% com ensino
fundamental incompleto. Mais de 30% dos presos do Brasil estão sob
custódia provisória, em alguns estados mais de 50%.</p>
<div>
<div class="js-gallery-widget rs_skip">
<div class="gallery-widget gallery-widget-keydown" data-channel="opiniao" id="gallery-widget-undefined">
<div class="gallery-widget__header">
<a class="gallery-widget__header-mosaic">
<svg class="icon icon-grid-three" height="16" viewbox="0 0 16 16" width="16" xmlns="//www.w3.org/2000/svg"></svg></a><br /></div></div></div></div><p>Da análise dos dados verifica-se um ponto relevante do perfil
de população carcerária e seus reflexos. Aqueles que ingressaram no
sistema penitenciário em 2008-2009, mais de um terço pela Lei das
Drogas, começaram a sair do sistema prisional entre 2013 e 2017. É de se
notar que até 2013 o número de roubos no estado de São Paulo era, em
média, 240 mil por ano. Em 2014, saltou para 310 mil e assim se manteve
nos anos subsequentes.</p>
<p>Criou-se um ciclo perverso:<a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/229229-ha-legiao-de-usuarios-presos-confundidos-com-traficantes.shtml"> prende-se o pequeno vendedor de drogas </a>que
anos depois volta às ruas, já estigmatizado e com poucas oportunidades,
como “roubador” e, o pior, muitas vezes para pagar a “cebola” —dinheiro
mensal destinado à facção criminosa que domina a maioria do tráfico de
drogas em São Paulo.</p>
<p>A população carcerária feminina também aumentou: 116% entre 2006 e
2019; 64% ligadas ao tráfico. Boa parte incorreu em um dos 18
verbos-núcleos típicos do artigo 33 —guardar a droga, e em casa.</p>
<p>O Brasil prende muito e prende mal —mas não é a polícia, que observa a
lei nas suas ações, nem o Judiciário, que entrega jurisdição. A lei
está errada. Errada ao colocar no mesmo dispositivo (artigo 33) pequenos
vendedores, com a mesma pena mínima aplicada a maiores traficantes
(cinco anos). Errada ao não estabelecer critérios objetivos para
verificar-se a posse de entorpecente. Errada ao vincular a Secretaria
Nacional de Política sobre Drogas (Senad) à atividade de Justiça e
segurança pública, quando deveria ser uma das competências da área da
saúde. Melhor seria que essa lei, na forma como está, não debutasse.</p><div class="c-news__body" data-continue-reading-hide-others=".js-continue-reading-hidden" data-continue-reading="" data-disable-copy="" data-news-content-text="" data-share-text="" itemprop="articleBody"><header class="c-content-head" data-share-text=""></header><br /></div>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6279271200608541369.post-85164118177438233632020-08-12T16:56:00.001-07:002020-08-12T16:56:23.603-07:00A história de um Brasil de Quatro / Aha Uhu a justiça é nossa<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/DuaTmDLCJzA" width="480"></iframe>Francisco Limahttp://www.blogger.com/profile/06232529586438750444noreply@blogger.com0