Aula magna de jornalismo
Brilhante. Tocante. Esclarecedor. Imperdível.
Não sei que adjetivos mais empregar para designar o documentário A Guerra Que Você Não Vê, de John Pilger, um jornalista nascido na Austrália e radicado em Londres. Pilger, 71 anos, é aquele jornalista que todos sonhamos ser no início da carreira – quando temos a convicção de que o jornalismo pode mudar o mundo. O dia a dia logo nos rouba as ilusões e nos dá em troca uma quantidade suficiente de cinismo para olharmos para o espelho sem a auto-recriminação dos que traem a si próprios.
Pilger não desistiu do sonho – e por isso acabou construindo como jornalista uma obra simplesmente única. Em seus artigos, livros e documentários, Pilger cumpre um dos objetivos mais nobres e mais esquecidos do jornalismo: dar voz a quem não tem.
Em A Guerra Que Você Não Vê, Pilger dá uma aula magna de história moderna e de jornalismo. (No YouTube, ele aparece fatiado, como mostra o vídeo que abre este texto.) Pilger põe foco na Guerra do Iraque, mas também fala de outras.
Dois fatores, lembram ele, foram determinantes que os Estados Unidos e a Inglaterra de Tony Blair invadissem o Iraque em 2003. O primeiro é que o regime de Saddam Hussein teria armas de alto poder destrutivo. Não era verdade. O segundo é que Hussein teria vínculo com a Al-Qaeda de bin Laden. Também não era verdade.
A mídia comprou as duas mentiras. Não fez o que deveria ter feito: checar as informações oficiais. Os jornais e os jornalistas fizeram não jornalismo, mas propaganda – e isso como que legitimou a Guerra do Iraque.
Quando as falácias vieram à tona, era tarde demais. Dezenas de milhares de civis iraquianos estavam mortos. Crianças, mulheres, velhos em quantidade pavorosa numa guerra cuja única causa era – e é – o petróleo.
Pilger entrevistou alguns dos grandes jornalistas que não fizeram o que deveriam ter feito. Quase todos estão claramente embaraçados e envergonhados. O âncora Dan Rather, que era o principal nome do telejornalismo americano naqueles dias, reconhece que, se os jornalistas tivessem feito um trabalho de investigação decente diante das alegações de Bush, provavelmente os Estados Unidos não invadiriam o Iraque.
A cobertura ocidental da guerra fazia crer que os iraquianos estavam felizes com a chegada das tropas aliadas. Quando o mundo tomou ciência do sofrimento e da revolta dos iraquianos, foi por obra da rede árabe Al Jazeera, bancada pelo governo do Catar. Um jornalista britânico que cobria a guerra para a BBC lembra, no documentário, que escritórios da Jazeera no Iraque foram objeto de atentados. Era uma tentativa de intimidar jornalistas que estavam mostrando uma guerra que não era exatamente a que se via nas emissoras americanas ou inglesas. Ou matá-los.
A guerra real – e Pilger dá o crédito – só seria revelada ao público ocidental pelo Wikileaks, no célebre vídeo que mostra soldados americanos em dois helicópteros matando por engano civis numa Bagdá destroçada.
O documentário produz uma reação ambígua. Você amaldiçoa o jornalismo por conta de coisas como seu papel na Guerra do Iraque – mas ao mesmo tempo o abençoa por causa de gente como John Pilger.
Brilhante. Tocante. Esclarecedor. Imperdível.
Não sei que adjetivos mais empregar para designar o documentário A Guerra Que Você Não Vê, de John Pilger, um jornalista nascido na Austrália e radicado em Londres. Pilger, 71 anos, é aquele jornalista que todos sonhamos ser no início da carreira – quando temos a convicção de que o jornalismo pode mudar o mundo. O dia a dia logo nos rouba as ilusões e nos dá em troca uma quantidade suficiente de cinismo para olharmos para o espelho sem a auto-recriminação dos que traem a si próprios.
Pilger não desistiu do sonho – e por isso acabou construindo como jornalista uma obra simplesmente única. Em seus artigos, livros e documentários, Pilger cumpre um dos objetivos mais nobres e mais esquecidos do jornalismo: dar voz a quem não tem.
Em A Guerra Que Você Não Vê, Pilger dá uma aula magna de história moderna e de jornalismo. (No YouTube, ele aparece fatiado, como mostra o vídeo que abre este texto.) Pilger põe foco na Guerra do Iraque, mas também fala de outras.
Dois fatores, lembram ele, foram determinantes que os Estados Unidos e a Inglaterra de Tony Blair invadissem o Iraque em 2003. O primeiro é que o regime de Saddam Hussein teria armas de alto poder destrutivo. Não era verdade. O segundo é que Hussein teria vínculo com a Al-Qaeda de bin Laden. Também não era verdade.
A mídia comprou as duas mentiras. Não fez o que deveria ter feito: checar as informações oficiais. Os jornais e os jornalistas fizeram não jornalismo, mas propaganda – e isso como que legitimou a Guerra do Iraque.
Quando as falácias vieram à tona, era tarde demais. Dezenas de milhares de civis iraquianos estavam mortos. Crianças, mulheres, velhos em quantidade pavorosa numa guerra cuja única causa era – e é – o petróleo.
Pilger entrevistou alguns dos grandes jornalistas que não fizeram o que deveriam ter feito. Quase todos estão claramente embaraçados e envergonhados. O âncora Dan Rather, que era o principal nome do telejornalismo americano naqueles dias, reconhece que, se os jornalistas tivessem feito um trabalho de investigação decente diante das alegações de Bush, provavelmente os Estados Unidos não invadiriam o Iraque.
A cobertura ocidental da guerra fazia crer que os iraquianos estavam felizes com a chegada das tropas aliadas. Quando o mundo tomou ciência do sofrimento e da revolta dos iraquianos, foi por obra da rede árabe Al Jazeera, bancada pelo governo do Catar. Um jornalista britânico que cobria a guerra para a BBC lembra, no documentário, que escritórios da Jazeera no Iraque foram objeto de atentados. Era uma tentativa de intimidar jornalistas que estavam mostrando uma guerra que não era exatamente a que se via nas emissoras americanas ou inglesas. Ou matá-los.
A guerra real – e Pilger dá o crédito – só seria revelada ao público ocidental pelo Wikileaks, no célebre vídeo que mostra soldados americanos em dois helicópteros matando por engano civis numa Bagdá destroçada.
O documentário produz uma reação ambígua. Você amaldiçoa o jornalismo por conta de coisas como seu papel na Guerra do Iraque – mas ao mesmo tempo o abençoa por causa de gente como John Pilger.
3rd abril
2012
Brilhante. Tocante. Esclarecedor. Imperdível.
Não sei que adjetivos mais empregar para designar o documentário A Guerra Que Você Não Vê, de John Pilger, um jornalista nascido na Austrália e radicado em Londres. Pilger, 71 anos, é aquele jornalista que todos sonhamos ser no início da carreira – quando temos a convicção de que o jornalismo pode mudar o mundo. O dia a dia logo nos rouba as ilusões e nos dá em troca uma quantidade suficiente de cinismo para olharmos para o espelho sem a auto-recriminação dos que traem a si próprios.
Pilger não desistiu do sonho – e por isso acabou construindo como jornalista uma obra simplesmente única. Em seus artigos, livros e documentários, Pilger cumpre um dos objetivos mais nobres e mais esquecidos do jornalismo: dar voz a quem não tem.
Em A Guerra Que Você Não Vê, Pilger dá uma aula magna de história moderna e de jornalismo. (No YouTube, ele aparece fatiado, como mostra o vídeo que abre este texto.) Pilger põe foco na Guerra do Iraque, mas também fala de outras.
Dois fatores, lembram ele, foram determinantes que os Estados Unidos e a Inglaterra de Tony Blair invadissem o Iraque em 2003. O primeiro é que o regime de Saddam Hussein teria armas de alto poder destrutivo. Não era verdade. O segundo é que Hussein teria vínculo com a Al-Qaeda de bin Laden. Também não era verdade.
A mídia comprou as duas mentiras. Não fez o que deveria ter feito: checar as informações oficiais. Os jornais e os jornalistas fizeram não jornalismo, mas propaganda – e isso como que legitimou a Guerra do Iraque.
Quando as falácias vieram à tona, era tarde demais. Dezenas de milhares de civis iraquianos estavam mortos. Crianças, mulheres, velhos em quantidade pavorosa numa guerra cuja única causa era – e é – o petróleo.
Pilger entrevistou alguns dos grandes jornalistas que não fizeram o que deveriam ter feito. Quase todos estão claramente embaraçados e envergonhados. O âncora Dan Rather, que era o principal nome do telejornalismo americano naqueles dias, reconhece que, se os jornalistas tivessem feito um trabalho de investigação decente diante das alegações de Bush, provavelmente os Estados Unidos não invadiriam o Iraque.
A cobertura ocidental da guerra fazia crer que os iraquianos estavam felizes com a chegada das tropas aliadas. Quando o mundo tomou ciência do sofrimento e da revolta dos iraquianos, foi por obra da rede árabe Al Jazeera, bancada pelo governo do Catar. Um jornalista britânico que cobria a guerra para a BBC lembra, no documentário, que escritórios da Jazeera no Iraque foram objeto de atentados. Era uma tentativa de intimidar jornalistas que estavam mostrando uma guerra que não era exatamente a que se via nas emissoras americanas ou inglesas. Ou matá-los.
A guerra real – e Pilger dá o crédito – só seria revelada ao público ocidental pelo Wikileaks, no célebre vídeo que mostra soldados americanos em dois helicópteros matando por engano civis numa Bagdá destroçada.
O documentário produz uma reação ambígua. Você amaldiçoa o jornalismo por conta de coisas como seu papel na Guerra do Iraque – mas ao mesmo tempo o abençoa por causa de gente como John Pilger.
Brilhante. Tocante. Esclarecedor. Imperdível.
Não sei que adjetivos mais empregar para designar o documentário A Guerra Que Você Não Vê, de John Pilger, um jornalista nascido na Austrália e radicado em Londres. Pilger, 71 anos, é aquele jornalista que todos sonhamos ser no início da carreira – quando temos a convicção de que o jornalismo pode mudar o mundo. O dia a dia logo nos rouba as ilusões e nos dá em troca uma quantidade suficiente de cinismo para olharmos para o espelho sem a auto-recriminação dos que traem a si próprios.
Pilger não desistiu do sonho – e por isso acabou construindo como jornalista uma obra simplesmente única. Em seus artigos, livros e documentários, Pilger cumpre um dos objetivos mais nobres e mais esquecidos do jornalismo: dar voz a quem não tem.
Em A Guerra Que Você Não Vê, Pilger dá uma aula magna de história moderna e de jornalismo. (No YouTube, ele aparece fatiado, como mostra o vídeo que abre este texto.) Pilger põe foco na Guerra do Iraque, mas também fala de outras.
Dois fatores, lembram ele, foram determinantes que os Estados Unidos e a Inglaterra de Tony Blair invadissem o Iraque em 2003. O primeiro é que o regime de Saddam Hussein teria armas de alto poder destrutivo. Não era verdade. O segundo é que Hussein teria vínculo com a Al-Qaeda de bin Laden. Também não era verdade.
A mídia comprou as duas mentiras. Não fez o que deveria ter feito: checar as informações oficiais. Os jornais e os jornalistas fizeram não jornalismo, mas propaganda – e isso como que legitimou a Guerra do Iraque.
Quando as falácias vieram à tona, era tarde demais. Dezenas de milhares de civis iraquianos estavam mortos. Crianças, mulheres, velhos em quantidade pavorosa numa guerra cuja única causa era – e é – o petróleo.
Pilger entrevistou alguns dos grandes jornalistas que não fizeram o que deveriam ter feito. Quase todos estão claramente embaraçados e envergonhados. O âncora Dan Rather, que era o principal nome do telejornalismo americano naqueles dias, reconhece que, se os jornalistas tivessem feito um trabalho de investigação decente diante das alegações de Bush, provavelmente os Estados Unidos não invadiriam o Iraque.
A cobertura ocidental da guerra fazia crer que os iraquianos estavam felizes com a chegada das tropas aliadas. Quando o mundo tomou ciência do sofrimento e da revolta dos iraquianos, foi por obra da rede árabe Al Jazeera, bancada pelo governo do Catar. Um jornalista britânico que cobria a guerra para a BBC lembra, no documentário, que escritórios da Jazeera no Iraque foram objeto de atentados. Era uma tentativa de intimidar jornalistas que estavam mostrando uma guerra que não era exatamente a que se via nas emissoras americanas ou inglesas. Ou matá-los.
A guerra real – e Pilger dá o crédito – só seria revelada ao público ocidental pelo Wikileaks, no célebre vídeo que mostra soldados americanos em dois helicópteros matando por engano civis numa Bagdá destroçada.
O documentário produz uma reação ambígua. Você amaldiçoa o jornalismo por conta de coisas como seu papel na Guerra do Iraque – mas ao mesmo tempo o abençoa por causa de gente como John Pilger.
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