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sábado, 25 de outubro de 2014

A peleja do "PT Malvado" contra o "Pobre Tucano"

A peleja do "PT Malvado" contra o "Pobre Tucano" – Ricardo Kotscho – R7

A peleja do “PT Malvado” contra o “Pobre Tucano”

Em busca de uma razão para explicar a nova onda vermelha de Dilma e
o derretimento de Aécio, na antevéspera da eleição presidencial, a
velha imprensa familiar criou uma narrativa comum que, de tão
fantástica, lembra a literatura de cordel: "A Peleja do PT Malvado
contra o Pobre Tucano".


Dava até pena de ver experimentados profissionais se contorcendo nas
cadeiras dos telejornais noturnos, visivelmente contrariados, diante das
novas pesquisas divulgadas no final da tarde desta quinta-feira, que
apontavam a reeleição de Dilma no domingo, por uma diferença entre 6 e 8
pontos dos votos válidos. Ver análise sobre os números do Datafolha e
do Ibope neste link:



O chororô do pensamento único vinha acontecendo já há alguns dias,
desde que o Datafolha e o Vox Populi mostraram Dilma na frente de Aécio,
no início da semana, pela primeira vez no segundo turno, e foi chegando
próximo à histeria, diante da confirmação da inversão das curvas nas
novas pesquisas, abrindo a boca do jacaré.


Tudo era culpa do "PT Malvado": baixo nível, jogo sujo, má-fé,
mentiras, leviandades, agressividade, terrorismo, desconstrução. Ou
seja, acusa-se o adversário pelas dificuldades enfrentadas por Aécio na
reta final da campanha, depois de entrar com a bola toda no segundo
turno.


Se procurassem as razões da derrocada na própria campanha tucana, os
"istas" e "ólogos" de plantão poderiam descobrir que as entrevistas
desastradas de Fernando Henrique Cardoso sobre os eleitores do PT e de
Armínio Fraga sobre bancos públicos foram mais danosas para Aécio do que
todas as propagandas negativas do PT focadas no nepotismo e no
patrimonialismo, tão coisas nossas.





Em política, como sabemos, o papel de vítima indefesa diante do
adversário malvado não funciona. O coitadismo nunca deu certo, o povo
não aceita. Lula e o PT só passaram a ganhar eleições quando perceberam
isso.


Por acreditar demais na mídia amiga, Aécio parece ter levado um susto
ao ver a ave de bico grande indo para o brejo, quando já posava de
presidente eleito, e não se conformava de ter sido chamado de "filhinho
de papai" pelo ex-presidente Lula: "Ver um ex-presidente sendo
protagonista dessa campanha sórdida, e a meu ver criminosa, é
lamentável", queixou-se.


Após visita a d. Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, Aécio
ainda pediu aos seus eleitores que saiam no sábado vestidos com as cores
da bandeira brasileira, sem se dar conta de que o mesmo apelo já tinha
sido feito por Fernando Collor, pouco antes de ser afastado da
Presidência da República, em 1992, acusado de corrupção.


"Nos aguardem. Domingo falarei com vocês como presidente eleito",
anunciou o candidato tucano, após incorporar um Collor básico, que não
combina com ele. Algum assessor deveria lembrá-lo que naquele episódio,
em vez de verde-amarelo, o povo se vestiu foi de preto para protestar
contra o então presidente.


Desta vez, a cor predominante nestas últimas horas de campanha
eleitoral, fora de São Paulo, claro, é o vermelho. Por aqui também já
bateu o desespero nos tucanos pouco antes da divulgação das pesquisas,
como relata Nilson Hernandes, de O Globo, sobre o confronto entre
tucanos e petistas diante do Teatro Municipal, no centro da cidade,
envolvendo 500 apoiadores de Aécio:



"Ao se depararem com cerca de 50 petistas que faziam campanha para a
presidente Dilma Rousseff, com bandeiras e distribuição de material de
campanha, um dos cabos eleitorais de Aécio atirou uma bandeira em
direção a um correligionário de Dilma. O militante petista, então,
revidou contra o ônibus no qual os apoiadores do PSDB estavam
embarcados. Nesse momento, cerca de dez militantes tucanos desceram e
começaram a dar socos e pontapés contra os petistas, que também
desferiram agressões contra os adversários".


Era previsível e até estava demorando: todo o clima de ódio e
agressões do Fla-Flu eleitoral alimentado por pitbulls nas redes sociais
e também por blogueiros da grande imprensa acabou chegando às ruas, em
cenas que lembraram os recentes confrontos entre torcidas organizadas do
futebol.


Uma nota pitoresca em meio à batalha final entre tucanos e petistas
foi registrada pela revista britânica "The Economist", que apoia
abertamente Aécio Neves, em despacho do seu correspondente Jan
Piotrowski, sobre a manifestação tucana da véspera, que reuniu 10 mil
pessoas no largo da Batata, em São Paulo.


Encantado com o que viu, o jornalista chamou o ato pró-Aécio de
"Revolução da Cashmere", uma referência à lã macia usada em roupas
caras. "Foi um espetáculo talvez sem precedentes na história das
eleições e não apenas do Brasil. Vestidos com camisas com iniciais
bordadas e bem passadas empunhavam bandeiras de Aécio. Socialites
bem-vestidas protegidas por pashminas para se proteger do frio fora de
época entoavam frases anti-PT. As únicas coisas que faltaram foram taças
de champanhe e o próprio sr. Neves, que fazia campanha em Minas",
escreveu o correspondente.


Agora, meus caros leitores, como diria o professor Heródoto Barbeiro
em bom latim, "alea jacta est!". A sorte já está lançada, o jogo está
jogado. Só faltam dois programas de televisão, na hora do almoço e à
noite, e depois o debate na TV Globo. A campanha está acabando. Faltam
menos de 48 horas para a abertura das urnas.

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