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sábado, 1 de novembro de 2014

Brasil dividido? A culpa não é dos nordestinos

Brasil dividido? A culpa não é dos nordestinos

Brasil dividido? A culpa não é dos nordestinos




Ricardo Kotcho

"A eleição presidencial mais parelha dos 125 anos de República
deixa o país dividido entre os que produzem e pagam impostos e os
beneficiários de programas sociais. O desenho esboçado no primeiro
turno, com a divisão do país em dois grandes blocos, recebeu traços mais
fortes: grosso modo, o Norte-Nordeste perfilado ao PT, o
Sudeste-Sul-Centro/Oeste com a oposição. Fica evidente que o país que
produz e paga impostos _ pesados, ressalte-se _ deseja o PT longe do
Planalto, enquanto aquele Brasil cuja população se beneficia dos lautos
programas sociais _ não só o Bolsa Família _ financiados pelos impostos,
não quer mudanças em Brasília, por razões óbvias".


Engana-se quem atribuir a análise acima ao sociólogo Fernando
Henrique Cardoso, na mesma linha da que o ex-presidente já havia feito
ao final do primeiro turno das eleições presidenciais.


Desta vez, o pensamento único dos que dividem o Brasil entre quem
produz e os vagabundos que vivem de bolsas está no editorial do jornal
carioca O Globo, sob o título "A Mensagem das Urnas", publicado em sua
edição desta terça-feira _ de resto, é o que está na raiz das
manifestações racistas e preconceituosas contra os nordestinos que
invadiram as redes sociais desde que foi anunciada a vitória de Dilma
Rousseff na noite de domingo.


Grosso modo, como diria o jornal, os números finais divulgados pelo TSE desmentem esta teoria. Vamos a eles.


Quem assegurou a vitória do PT foram exatamente os eleitores do Sul e
Sudeste, que deram 26,6 milhões dos votos totais obtidos por Dilma, ou
seja, mais de 2 milhões de votos a mais do que os obtidos por ela
no Norte e Nordeste, com 24,5 milhões de votos.


Ao contrário do que afirmam o editorial de "O Globo" e dez entre dez
analistas da grande mídia, isto significa que Dilma recolheu 48,8% dos
seus 54,5 milhões de votos na chamada região "rica e produtiva" do Sul e
Sudeste, e 45% vieram do "pobre e dependente" eleitorado do Norte e
Nordeste.


Quem diz e escreve o contrário, como se fosse a verdade absoluta das
coisas, é porque não conhece o Brasil e se baseia nos mapas eleitorais
produzidos nas eleições americanas, em que o candidato leva todos os
votos dos delegados de Estados onde venceu as eleições.


Aqui não é assim. Nos mapas publicados pela imprensa brasileira, o
Rio Grande do Sul, por exemplo, onde Aécio Neves venceu, aparece em
azul, mas lá Dilma conseguiu 46,47% dos votos, quer dizer, quase a
metade. No Rio de Janeiro, que aparece em vermelho no mapa, aconteceu o
contrário: Dilma venceu, mas Aécio teve 45,06% dos votos.


Se prestassem mais atenção nos números do TSE, editorialistas,
sociólogos e analistas perceberiam que não é o país que está dividido ao
meio, geográfica e socialmente, mas apenas os votos dos partidos, que
se espalharam por todos os Estados, com predominância de um ou outro
candidato, dando na soma final a vitória a Dilma por uma diferença de
apenas 3 milhões de votos.


Assim, não se pode afirmar que quem derrotou o candidato tucano foi o
Nordeste, onde o PSDB sempre foi muito fraco e o PT é hegemônico. Mais
justo seria buscar as razões da derrota de Aécio em Minas Gerais, Estado
por ele governado durante oito anos, que agora aparece em vermelho no
mapa. Era de lá que o PSDB planejava sair com uma vantagem de três
milhões de votos, exatamente o que lhe faltou para vencer as eleições. E
lá Aécio acabou ficando com 548 mil votos a menos do que Dilma. "Nem na
pior projeção pensamos nesse resultado, após o Aécio sair do governo
com 92% de aprovação", lamentou-se Marcus Pestana, presidente do PSDB
mineiro.


Não é justo, portanto, colocar a culpa nos nordestinos.


Vida que segue

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