Suicídio no Peru: quem comanda o mecanismo da Lava Jato que arruinou o continente?
“O único benefício pessoal, ainda investigado pela procuradoria,
seria o pagamento de US$ 100 mil por uma palestra que ele efetivamente
deu na brasileira Fiesp. A ação foi delatada por um advogado
terceirizado da Odebrecht”, informa a coluna de Mônica Bergamo na Folha.
Ao ler esta notícia me lembrei que o ex-presidente Lula foi condenado
e preso sem provas, há mais de um ano, acusado de receber de propina um
“triplex” no Guarujá que não é dele.
São os dois casos mais emblemáticos, até agora, do imenso mecanismo
lançado há cinco anos, por um juiz de primeira instância, em Curitiba,
com o nome de Operação Lava Jato, que abriria filiais nos principais
países da América do Sul em nome do combate à corrupção.
Mas será que foi ele mesmo, por sua conta e risco, ?
Pelas demonstrações de total falta de competência que deu até agora
como ministro da Justiça do governo Bolsonaro, é óbvio que não é o tosco
Sergio Moro quem comanda esta operação que destrói tudo o que encontra
pela frente: a política, os partidos, as lideranças políticas, as
empresas, os empregos e degrada o Judiciário dos países em que atua.
Por onde passa, esse mecanismo de destruição em massa só deixou terra arrasada.
Com que objetivos?
Se foi criado só para combater a corrupção, fracassou, com as novas
denúncias e delações diárias, num processo sem fim que quer se
eternizar.
Para que serviu, então, depois de fazer tanto estardalhaço com apoio das mídias e das elites locais?
Pela dimensão que ganhou, a Lava Jato mudou as relações de poder e a
própria geopolítica do continente, que havia se livrado do secular jugo
do Grande Irmão do Norte, e agora volta a ser um quintal dos interesses
americanos, com governantes submissos e populações amedrontadas.
Após o ciclo das ditaduras militares aliadas dos EUA nos anos 60 a 80
do século passado, esta pobre região do mundo havia reconquistado a
democracia e a dignidade, agora novamente ameaçadas pela ofensiva
conservadora que saiu do armário.
O que está em jogo, do Brasil à Venezuela, são os interesses das
grandes indústrias petrolíferas e de armamentos, que constituem o
verdadeiro poder americano.
Na marcha batida do retrocesso institucional, voltaremos apenas a ser
colonias exportadoras de matéria prima barata e importadores de
tecnologias e manufaturados do império.
Alan Garcia pode ter sido apenas a primeira vítima fatal desta guerra sem quartel entre quem manda e quem obedece.
Cabe lembrar aqui um áspero diálogo entre o grande empresário José
Alencar e o grande banqueiro Olavo Setubal, pouco antes das eleições
presidenciais de 2002 que deram a vitória a Lula.
Durante um jantar no apartamento do banqueiro, Lula e Alencar
começaram a falar dos seus planos de governo para incrementar o mercado
interno com distribuição de renda, quando começaram a ser interrompidos a
toda hora por Setubal, com sua voz de trovão:
“Mas isso o império não vai deixar! Não vai dar certo!”
Na décima vez em que ouviu a advertência, Alencar reagiu:
“Que império não vai deixar? Nós não somos um país livre e independente?”
Não tinha jeito. Sem precisar nominar o império a que se referia, o
banqueiro insistiu na sua tese, e o empresário perdeu a paciência.
“Pois fique sabendo, doutor Setubal, que se o império não deixar nós vamos pegar em armas!”
Até Lula se assustou com o radicalismo de seu parceiro de chapa e a conversa terminou sem acordo.
Pode agora até parecer engraçado e ingênuo este diálogo, mas ele
resume bem a divisão da nossa elite entre quem produz e quem se submete
ao deus mercado.
Em 2018, para evitar a volta do PT ao governo, o mercado se uniria a
outros setores empresariais para apoiar e bancar financeiramente o
capitão reformado, que eles mal conheciam.
O resto, tudo o que estamos vendo agora, é apenas consequência do
cumprimento do cronograma estabelecido a partir de março de 2014,
certamente não apenas por operadores brasileiros, que aqui levou os
militares de volta ao poder e se alastrou por todo o continente.
Nas economias em crise, nos sistemas políticos dizimados, nas
instituições em frangalhos, pode-se sempre encontrar as digitais da Lava
Jato, o nome de fantasia criado em Curitiba que mudou radicalmente a
cara da América do Sul em tão pouco tempo.
Neste cenário, a batalha jurídica de Lula para se livrar da prisão
será no futuro apenas uma nota de rodapé na verdadeira história a ser
contada daqui a 30 anos, quando o Pentágono liberar seus documentos
secretos.
A palestra de Alan Garcia na Fiesp e o “triplex” de Lula ficarão como
símbolos folclóricos de um tempo em que as togas se uniram às fardas
para impedir que o povo escolha livremente seus governantes _ um tempo
de trevas, de terra sem lei, de arbítrio, de idiotas desfilando pelas
redes sociais, de destruição da Educação e da Cultura e de todas as
conquistas sociais das últimas décadas.
O buraco é mais embaixo. É bom a gente abrir os olhos antes que seja tarde demais.
Brasileiros como José Alencar saíram de moda.
Vida que segue.
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