domingo, 31 de agosto de 2014

Lula na Casa Civil ?

Carta Maior prega Lula como chefe da Casa Civil de Dilma | Brasil 24/7

Em texto que retrata
a influência de líderes religiosos, como Silas Malafaia, na política
brasileira e na postura da candidata a presidente da República Marina
Silva (PSB), Saul Leblon, de Carta Maior, prega que a presidente Dilma
Rousseff e o PT enxerguem que, em eventual segundo mandato da
presidente, requererá "um chefe de Casa Civil dotado ao mesmo tempo de
inexcedível sintonia com a Presidenta Dilma , e de incontrastável
representatividade popular. Essa referência existe. Seu nome é Lula"


31 de Agosto de 2014 às 15:00






247 - Em texto que retrata a influência de líderes
religiosos, como Silas Malafaia, na política brasileira e na postura da
candidata a presidente da República Marina Silva (PSB), Saul Leblon, de
Carta Capital, expõe a proximidade e o conservadorismo dos de direita
com os princípios religiosos e exemplifica ainda a campanha de José
Serra (PSDB) para a Prefeitura de São Paulo em 2012. Saul vê os mesmos
vícios de Malafaia, de Marco Feliciano (PSC) e cia. encampados na figura
de Marina.


Por fim, o editorialista de Carta Capital prega que Dilma e o PT
enxerguem que, em eventual segundo mantado da presidente, requererá "um
chefe de Casa Civil dotado ao mesmo tempo de inexcedível sintonia com a
Presidenta Dilma , e de incontrastável representatividade popular. Essa
referência existe; já funciona de fato como líder político do campo
progressista; deveria ser oficializado desde já na nova estrutura de um
segundo governo Dilma. Seu nome é Lula".


Leia abaixo a íntegra do editorial de Saul Leblon.


Ousar e vencer ou entregar o Brasil aos mercados passivamente?


Silas Malafaia, pastor e radialista evangélico, de larga audiência no
Rio de Janeiro, é um símbolo exclamativo daquilo que se convenciona
chamar um estereótipo.


Certas características nele são tão acentuadas que mais se assemelha a um personagem de desenho animado.


Mas Malafaia é de verdade.


E personifica um dos mais buliçosos marcadores do extremismo conservador nos ciclos eleitorais brasileiros.


Malafaia é velho conhecido no ramo do palanque de rebanho.


Com a retórica adestrada na radiofonia da fé, o pastor evangélico se
notabiliza como uma ferramenta implacável no exorcismo de gays e
lésbicas; na condenação do aborto e da educação sexual; na demonização
de petistas, esquerdistas e libertários em geral.


Não necessariamente nessa ordem, mas com essa vivacidade. Sempre em
nome da pureza da sociedade, dos costumes e do que mais se engata a esse
comboio.


Em 2012, já descendo a ladeira do seu moderado escrúpulo, na largada
do 2º turno em São Paulo quando foi derrotado por Fernando Haddad, Serra
importou o animador cirúrgico para reforçar a musculatura na hora do
vale tudo na disputa.
Silas Malafaia desembarcou na cidade festejado então em manchete graúda do caderno de política da'Folha de SP', em 10/10/2012.


Assim:


"Líder evangélico diz que vai 'arrebentar' candidato petista -- Silas Malafaia afirma que Haddad apoia ativistas gay".


Em entrevista ao diário dos Frias, de imoderados pendores tucanos, o
bispo disse que Serra agradeceu o apoio recebido no primeiro turno,
quando fez um vídeo em que pedia votos ao candidato do PSDB e ligava
Haddad ao 'kit anti-homofobia'.


Carimbado de "kit gay" pelos evangélicos, o material consistia de uma
cartilha contra a homofobia encomendada pelo Ministério da Educação em
2011, para ser distribuída nas escolas na gestão Haddad.


A pressão da mídia e evangélicos obrigou o governo a recuar. "O
Haddad já está marcado pelos evangélicos como o candidato do 'kit gay'.
Não vamos dar moleza a ele", fuzilou Malafaia, após o encontro com
Serra.


Arrebentar a tolerância, de um lado, para resgatar o voto da 'pureza'
de outro; esse, o fundamento regressivo representado pela restauração
do filtro religioso na política.


A especialidade de Silas Malafaia está prestes a ser direcionado agora no apoio à candidata do PSB.


O bispo anunciou que apoiará Marina Silva no provável 2º turno das
eleições presidenciais deste ano, embora a tenha trocado por Serra, em
2010, quando Marina sugeriu um plebiscito sobre o aborto.


Malafaia é um estereótipo.


Como qualquer marcador, cola onde encontra aderência.


A adesão a Marina foi revelada em blog de uma revista semanal, ela
também um marcador sanguíneo dos pecados incluídos na lista de Malafaia.


No 1º escrutínio, 'para marcar posição', informa a revista, o voto do
influente bispo terá outro dono: o pastor e presidenciável Everaldo, do
PSC, -como ele e Marina, também da Assembleia de Deus, e cujo bordão
eleitoral é 'vou privatizar tudo'.


Na decisão para valer, Malafaia vai de Marina.


Outro conhecido político e pastor evangélico, o deputado federal
Marco Feliciano (PSC), envolvido recentemente em acusações de homofobia e
rompido com o governo pela falta de solidariedade dos petistas, anuncia
a mesma dobradinha.


Porém, com uma ênfase mais representativa dos dias que correm: 'no segundo turno, qualquer um, menos o PT', proclama Feliciano.


O bordão é o mesmo empunhado pelos operadores de outra confissão de
fé arrebatada: a do mercado financeiro, que aspira à multiplicação
bíblica do pão e do peixe na forma dinheiro.


O vertedouro desse sortido aluvião de intolerância e cobiça é a
proposta de higienizar 'a velha política', apresentada ora como uma
instância devassa de uma sociedade pia; ora como uma interferência suja
na pureza lógica do maquinismo rentista.


A purgação desses pecados uiva na fogueira programática mais
festejada da praça nesse momento. Das labaredas emana o espírito santo
de um Banco Central autônomo ; de um mercado financeiro independente e
de um moralismo a salvo dos incréus.


Todos abrigados da ingerência do Estado belzebu e das liberdades democráticas e individuais.


O tucano Aécio Neves, no debate da Bandeirantes, ao criticar Marina
Silva, que se autonomeia a semente dessa 'nova política' (a limpa),
acabou na verdade reiterando a falsa disjuntiva.


Aécio trocou a dualidade higiênica de Malafaia e assemelhados pelo maniqueísmo da 'boa e a má política'.


Boa política para o candidato do PSDB era a política de Tancredo
...Naturalmente não a de Vargas, não a de Morales, não a de Chávez, não a
de Lula.


A ideia de uma salubridade externa à história que deve ser tomada
como referência limpa e boa na construção da sociedade é um daqueles
mantras aos quais se agarram os interesses dominantes de todos os
tempos.


Pode assumir a forma de uma religião (leia o indispensável artigo de
Katarina Peixoto; nesta pág). Ou a da judicialização da 'velha e má'
política. Ou ainda encarnar no monopólio de um dispositivo midiático que
se avoca a prerrogativa de um Bonaparte, a emitir interditos e sanções
em defesa dos interesses que nomeia como 'a ordem'.


O mercadismo rentista, o fanatismo religioso, assim como o barbosismo
togado ou o bonnerismo midiático sempre tiveram dificuldade em se
expressar através de um palanque unitário que emprestasse carisma a um
credo excludente em seus próprios termos.


Agora parece que não mais, graças à ascensão desse super-bonder chamado 'nova política'.


Trata-se de um retrofit da desgastada terceira via.


Retro, do latim "movimentar-se para trás" e fit do inglês, adaptação, ajuste.


O termo emprestado da arquitetura adequa-se à descrição da
candidatura sensação nesse momento que os mais entusiasmados, a partir
de dados do Datafolha, enxergam em escalada irreversível rumo a
Brasília.


O retrofit é recomendável quando um edifício chega ao fim de sua vida
útil, oferecendo-se como opção para corrigir o desgaste e a decadência
do longo tempo de uso, todavia sem alterar seus alicerces e estruturas
de sustentação.


É mais barato e funcional.


No caso da política, o retrofit consiste em vender como novo a velho
ardil conservador que evoca uma ordem natural naquilo que cabe ao
conflito democrático resolver: ou seja, as escolhas inerentes à luta
pelo desenvolvimento da economia e da sociedade.


Objetivamente, a candidatura Marina Silva é um retrofit do neoliberalismo e da terceira via.


Não qualquer retrofit , mas o estuário do higienismo político
diuturnamente inoculado no imaginário brasileiro pelo intercurso de
mídia, togas e elites nos últimos anos.


O desafio de vida ou morte do campo progressista nesse momento é
restaurar a transparência dos dois campos em confronto na sociedade
brasileira, dissimulados sob o xale da 'nova política'.


O calcanhar de aquiles do retrofit conservador é o antagonismo entre a
maquiagem da fachada e de alguns equipamentos e a rigidez dos pilares e
colunas estruturais.


Num edifício isso é contornável com algum jogo de decoração.


Numa sociedade pode ser insuportável.


A participação soberana e democrática da população nas decisões sobre
o desenvolvimento frequentemente evoca mudanças que colidem com as
velhas estruturas que a 'nova política' visa preservar.


Marina Silva afirma apoiar o decreto de Dilma, demonizado pela elite que a festeja, da Política Nacional de Participação Social.


Como, porém, se a mesma Marina defende, por exemplo, a independência
sagrada do Banco Central em relação à democracia e ao governo?


Como, se terceiriza aos operadores do mercado a hegemonia plena sobre
a fixação de um dos principais preços da economia: a taxa de juros?
(Leia esclarecedor artigo de Paulo Kliass sobre esse tema; nesta pág).


Marina e seus formuladores defendem a mesma autonomia em relação a
outro preço estratégico: o câmbio, que segundo eles, deve flutuar
livremente. E abjuram, em relação ao salários (o terceiro preço decisivo
no capitalismo) , a política de valorização do salário mínimo adotada
pelos governos petistas –da qual Dilma avisa que não abdicará.


É justo perguntar: assim encapsulada a economia nas mãos do mercado, o
que sobra então à participação social endossada por Marina Silva?


O Brasil, desde 2003 –com todas as limitações e contradições
intrínsecas a um governo de base heterogênea-- tem figurado aos olhos do
mundo como uma da estacas de resistência à retroescavadeira ortodoxa
que demole e tritura direitos sociais e soberania econômica urbi et
orbi.


Essa resistência criou um dos maiores mercados de massa do mundo numa demografia de 202 milhões de habitantes.


Não há dúvida de que isso se fez às custas de afrontar a lógica de
uma globalização financeira cujo colapso apenas acentuou sua natureza
intrinsicamente excludente.


O assoalho macroeconômico brasileiro range e ruge sob o peso da
inadequação entre a emergência desse protagonista de massa, que
constitui a nova força motriz da economia, e estruturas pensadas para
atender a 1/3 da população mais rica.


A solução da 'nova política' é reconduzir a agenda do desenvolvimento
aos fundamentos estritos de sua autorregulação pelas forças dos
mercados globais.


Higienizar 'a sujeira' do intervencionismo em todas as frentes.


Com as consequências sociais sabidas. E a dose de repressão
necessária que faz do endosso de Marina à participação social pouco mais
que um retrofit na palavra simulacro.


Não é uma acusação eleitoreira; é uma operação em marcha promovido por massas de forças ferozes.


Curto e grosso: está em jogo colocar o Estado esfericamente na mira
dos jagunços de gravata de seda italiana e Rolex, dos quais Neca do Itaú
é só a face elegante, para que façam o serviço sangrento.


Sobrepor o interesse privado aos da sociedade implica capturar o sistema democrático integralmente para o mesmo fim.


É uma operação de potencial lucrativo tão elevado que ao mercado
compensa tolerar o xale dissipador de Marina Silva –desde que o
bangue-bangue da faxina econômica esteja liberado às mãos e bicos que
dão conta do serviço.


Não é só uma sucessão presidencial, portanto.


Estamos diante de um divisor histórico do desenvolvimento brasileiro.


Ao aluvião de malafaias, rentistas e bem intencionados --seduzidos
estes pelo glamour da 'nova política', não basta contrapor o exaustivo
balancete publicitário do que se conquistou nestes últimos 12 anos.


É importante, mas não é suficiente.


É forçoso contrapor à 'nova política' aquilo que a desnuda e afronta.


É urgente dizer pelo que se luta e contra quem se trava a batalha dos próximos dias e noites.


Essa é uma batalha entre a democracia social e as forças regressivas do galeão malafaico-rentista.


É preciso escancarar a contradição entre o retrofit messiânico e as estruturas calcificadas que ele maquia.


Contrapor , enfim, ao galope conservador um salto efetivo da democracia participativa em um novo governo Dilma.


Tornar esse salto palpável aos olhos da população requer um símbolo
de magnetismo equivalente às tarefas que essa agenda encerra em termos
de negociação de pactos, metas, concessões, salvaguardas e organização.


Um novo governo estruturado em torno dessa renegociação do
desenvolvimento requer um chefe de Casa Civil dotado ao mesmo tempo de
inexcedível sintonia com a Presidenta Dilma , e de incontrastável
representatividade popular.


Essa referência existe; já funciona de fato como líder político do
campo progressista; deveria ser oficializado desde já na nova estrutura
de um segundo governo Dilma.


Seu nome é Lula.

Um em dois - Janio de Freitas

BLOG DO SARAIVA



O tiro que, há 60 anos, Getúlio Vargas
deu no próprio coração para salvar as riquezas nacionais parece pronto a
ser disparado, agora contra elas.


Quis criar liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa
esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma,
disse Vargas, ao explicar as razões de seu gesto.


O ódio à ideia de que o Brasil venha a
ser independente ressurge, agora que mal começa a jorrar o tesouro de
petróleo da camada do pré-sal.


Pelas mãos dos inimigos de sempre da
soberania e do progresso nacional mas, também, mal disfarçado numa  capa
primária de “ecologia” hipócrita, que encapuza os verdadeiros motivos:
hoje como sempre ter o apoio político de um sistema de comunicação
antinacional.


Janio de Freitas, em artigo primoroso na Folha de S. Paulo,
neste e em outros temas, expõe como são siamesas as de Aécio Neves as
propostas de Marina Silva no seu “programa de Governo” – neste momento
em revisão pelo senhor Silas Malafaia.




Um em dois

Janio de Freitas

O catatau dado como programa de
governo de Marina Silva e do PSB, mas que contraria tudo o que PSB
defendeu até hoje, leva a uma originalidade mais do que eleitoral: na
disputa pela Presidência, ou há duas Marinas Silvas ou há dois Aécios
Neves. As propostas definidoras dos respectivos governos não têm
diferença, dando aos dois uma só identidade. O que exigiu dos dois
candidatos iguais movimentos: contra as posições refletidas nas críticas
anteriores de Marina e contra a representação do avô Tancredo Neves
invocada por Aécio.


Ao justificar sua proposta para a
Petrobras, assunto da moda, diz Marina: “Temos que sair da Idade do
Petróleo. Não é por faltar petróleo, é porque já estamos encontrando
outras fontes de energia”. Por isso, o programa de Marina informa que,
se eleita, ela fará reduzir a exploração de petróleo do pré-sal.


Reduzir o pré-sal e atingir a
Petrobras no coração são a mesma coisa. Sustar o retorno do investimento
astronômico feito no pré-sal já seria destrutivo. Há mais, porém.
Concessões e contratos impedem a interferência na produção das empresas
estrangeiras no pré-sal. Logo, a tal redução recairia toda na Petrobras,
com efeito devastador sobre ela e em benefício para as estrangeiras.


Marina Silva demonstra ignorar o que é
a Idade do Petróleo, que lhe parece restringir-se à energia. Hoje o
petróleo está, e estará cada vez mais, por muito tempo, na liderança das
matérias-primas mais usadas no mundo. Os seus derivados estão na
indústria dos plásticos que nos inundam a vida, na produção química que
vai das tintas aos alimentos (pelos fertilizantes), na indústria
farmacêutica e na de cosméticos, na pavimentação, nos tecidos, enfim,
parte do homem atual é de petróleo. Apesar de Marina da Silva. Cuja
proposta para o petróleo significaria, em última instância, a carência e
importação do que o Brasil possui.


A Petrobras é o tema predileto de
Aécio Neves nos últimos meses. Não em ataque a possíveis atos e autores
de corrupção na empresa, mas à empresa, sem diferenciação. Que seja por
distraída simplificação, vá lá. Mas, além do que está implícito na
candidatura pelo PSDB, Aécio Neves tem como ideólogo, já anunciado para
principal figura do eventual ministerial, Armínio Fraga — consagrado
como especialista em aplicações financeiras, privatista absoluto e
presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique, ou seja,
quando da pretensão de privatizar a Petrobras.


A propósito, no debate pela TV
Bandeirantes, Dilma Rousseff citou a tentativa de mudança do nome
Petrobras para Petrobrax, no governo Fernando Henrique, e atribuiu-a à
conveniência de pronúncia no exterior. Assim foi, de fato, a ridícula
explicação dada por Philipe Reichstuhl, então presidente da empresa. Mas
quem pronuncia o S até no nome do país, com States, não teme o S de
Petrobras. A mudança era uma providência preparatória. Destinava-se a
retirar antes de tudo, por seu potencial gerador de reações à
desnacionalização, a carga sentimental ou cívica assinalada no sufixo
“bras”.


Ainda a propósito de Petrobras, e
oportuno também pelo agosto de Getúlio, no vol. “Agosto – 1954″ da
trilogia “A Era Vargas”, em edição agora enriquecida pelo jornalista
José Augusto Ribeiro, está um episódio tão singelo quanto sugestivo.
Incomodado com o uso feroz da TV Tupi por Carlos Lacerda, o general
Mozart Dornelles, da Casa Civil da Presidência, foi conversar a respeito
com Assis Chateaubriand, dono da emissora. Resposta ouvida pelo general
(pai do hoje senador e candidato a vice no Rio, Francisco Dornelles):
se Getúlio desistisse da Petrobras, em criação na época, o uso das tevês
passaria de Lacerda para quem o presidente indicasse. De lá para cá, os
diálogos em torno da Petrobras mudaram; sua finalidade, nem tanto.


De volta aos projetos de governo,
Marina e Aécio desejam uma posição brasileira que, por si só, expressa
toda uma política exterior. Pretendem o esvaziamento do empenho na
consolidação do Mercosul, passando à prática de acordos bilaterais. Como
os Estados Unidos há anos pressionam para que seja a política geral da
América do Sul e, em especial, a do Brasil.


Em política interna, tudo se define,
igualmente para ambos, em dois segmentos que condicionam toda a
administração federal e seus efeitos na sociedade. Um, é o Banco Central
dito independente; outro, é a prioridade absoluta à inflação mínima
(com essa intenção, mas sem o êxito desejado, Armínio Fraga chegou a
elevar os juros a 45% em 1999) e contenção de gastos para obter o
chamado superavit primário elevado. É prioridade já conhecida no Brasil.


Pelo visto, Marina e Aécio disputam para ver quem dos dois, se eleito, fará o que o derrotado deseja.

sábado, 30 de agosto de 2014

Partido político, um negócio melhor que tráfico de drogas

Partido político, um negócio melhor que tráfico de drogas, por J. Carlos de Assis | GGN

Pastor Everaldo, aquele que se for eleito presidente vai vender a
Petrobrás para combater a corrupção, comprou no próprio nome o
PSC-Partido Social Cristão por R$ 20 milhões, a pedido e financiado pelo
então governador Garotinho, que queria ter uma legenda auxiliar na sua
candidatura à Presidência. Os dois brigaram algum tempo depois e o
pastor ficou com o partido apenas para si na condição formal de
vice-presidente. É negócio como poucos no Brasil. O investimento inicial
foi dinheiro desviado de obras públicas e, no caso do PSC, dá um
retorno só de Fundo Partidário a pequena fortuna de R$ 32 milhões
anuais.


De dois em dois anos, nos períodos de eleição, a fortuna partidária
cresce exponencialmente. Pastor Everaldo, como os donos de todos os
partidos que se coligam em eleições proporcionais ou majoritárias, vende
“seu” tempo de televisão para o líder da coligação. Às vezes a
negociação não se completa por causa da ganância. De fato, Pastor
Everaldo pediu ao PT R$ 20 milhões para se coligar com Dilma. A proposta
foi recusada porque pareceu um excesso. (Aliás, R$ 20 milhões foi o que
o PT na eleição de 2004 havia prometido a Roberto Jefferson, que disse
ter recebido apenas R$ 4 milhões. A cobrança da diferença gerou um
transtorno que veio a ser nacionalmente conhecido como mensalão!)


Indignado com a recusa do PT em comprar “seu” tempo na televisão para
a disputa majoritária, o bravo pastor decidiu ele mesmo, a despeito de
nunca ter tido cargo eletivo, lançar-se candidato nada menos do que à
Presidência da República. Isso não diminui em nada sua renda. É que ele
não tem só o Fundo Partidário e a venda de legenda para candidatura
majoritária como fonte de renda pessoal na qualidade de dono absoluto do
partido. O tempo de televisão é vendido também em todo o país para as
eleições majoritárias e proporcionais locais, e parte da receita,
milhões, vem para a presidência.



E não é só isso. O presidente do PSC em nível municipal contribui com
R$ 5 mil para o presidente da legenda no nível estadual. No Estado do
Rio, isso representa R$ 450 mil por mês. Desses, R$ 100 mil são
encaminhados religiosamente para o presidente nacional, a saber, para o
pastor Everaldo. E ainda não é só isso. Com o dinheiro do Fundo
Partidário e da venda da legenda para a propaganda eleitoral, o partido
nos últimos anos fez um considerável patrimônio imobiliário para suas
sedes e outros serviços. Tudo está em nome do presidente ou de laranjas.
O dinheiro reflui para o caminho certo, na forma de aluguéis, mês a
mês.


Alguém poderá perguntar: como um presidente de partido em nível
municipal consegue R$ 5 mil mensais para alimentar as caixas estadual e
nacional? Muito simples, ensina o pastor Everaldo: nas eleições, os
partidos “emitem” dinheiro, ou seja, bônus para contribuição por parte
de empresas e pessoas físicas os quais podem ser abatidos do imposto de
renda. Talvez você pergunte qual seria o interesse maior de uma empresa
ou de uma pessoa física em contribuir para um partido em época de
eleição, mesmo abatendo essa contribuição no imposto. Elementar, meu
caro Watson. Como o bônus é deduzido do imposto de renda, nada impede
que o “doador” compre 100 e o partido lhe devolva 50 na forma de dedução
do imposto de forma a que ele embolse pessoalmente os outros 50 sacado
diretamente do imposto pago ou a pagar.


O que estou contando é a história relativa a apenas um partido.
Foi-me relatada por quem a ouviu diretamente do pastor Everaldo. Não lhe
direi o nome, por enquanto, podendo revelá-lo em juízo na hipótese de o
pastor Everaldo me processar por difamação. Quanto aos demais partidos,
disse o que afirmou Marx em outro contexto: não investiguei os
detalhes, mas de te fabula narratur (a fábula trata também de
ti). Sim, porque todas as complexas negociações de alianças envolvendo
36 partidos políticos existentes no país, em época de eleição, é um
festival inacreditável de patifarias com privatização de dinheiro
público que acaba por financiar barbaridades inacreditáveis em tempo
pago pelo povo para se fazer, por exemplo, a “promessa” em tempo
nacional de televisão de vender a Petrobras.


Insista-se. O tempo de televisão que esses mercadores de legenda
vendem uns para os outros é bancado diretamente pelo povo, pois as
emissoras (e rádios) cobram as maiores tarifas pelo tempo de horário
nobre transcorrido na propaganda eleitoral e as rebatem diretamente do
imposto de renda. Aliás, é justamente porque isso se tornou uma fonte
fácil de negócios da mídia, em horário nobre apresentado como
“gratuito”, que praticamente não existe na imprensa crítica a esse
sistema absolutamente imoral. É esse sistema espúrio, não o voto
obrigatório, não a escolha entre parlamentarismo e presidencialismo que
deveria ser visado numa reforma partidário. A rigor, teria que ser
extinto, em nome da moralidade política brasileira. Do jeito que está é
uma indecência, um acinte ao povo, e um estupro contra a democracia
brasileira. Muitos se perguntam, ingenuamente, por que temos 36 partidos
políticos no Brasil. A resposta é simples: porque ter partido, quando
transformado em propriedade privada fora do controle de um diretório
autêntico, dá a seus donos mais dinheiro que tráfico de drogas, sem os
inconvenientes da ilegalidade.


J. Carlos de Assis - Economista, doutor em Engenharia de
Produção pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB,
autor de mais de 20 livros sobre economia política brasileira.


A difícil tarefa diante de Dilma

Celulares na mão, jovens empurram Marina; a difícil tarefa diante de Dilma « Viomundo - O que você não vê na mídia

Celulares na mão, jovens empurram Marina; a difícil tarefa diante de Dilma

publicado em 26 de agosto de 2014 às 20:06
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pesquisa publicada no Estadão


por Luiz Carlos Azenha


Primeiro, as advertências: em 2012, por um bom tempo, Celso Russomano
acreditava estar a caminho de se eleger prefeito de São Paulo.


Recuando um pouco mais no tempo, nos anos 80, em São Paulo, eu
participei pessoalmente de um dos maiores vexames já dados no Brasil por
uma empresa de pesquisas. Da redação da Folha de S. Paulo, na
Barão de Limeira, anunciei pessoalmente, ao vivo, na TV Manchete, o
resultado da pesquisa de boca-de-urna do Datafolha que dava vitória de
Fernando Henrique Cardoso sobre Jânio Quadros na disputa pela Prefeitura
de São Paulo. Jânio venceu com 4% de vantagem. Narrei este episódio aqui.


O que quero dizer é que os quadros eleitorais são altamente fluidos e
que as pesquisas de opinião, pelo menos as que não são feitas de má fé,
também erram muito. Para ler sobre um pesquisa maldosa, de encomenda, feita para influenciar as eleições na Venezuela, clique aqui.


Dito isso, é preciso considerar que o Brasil é um país extremamente
provinciano. Todas as mais importantes emissoras de televisão do país
estão sediadas no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Assim é com os grandes
jornais. Com a academia, menos agora, mas USP, Unicamp e PUC do Rio
continuam ocupando um espaço desigual na formulação do pensamento
econômico. Os jornalistas dos aquários, porta-vozes dos patrões, formam
uma imensa panela, que fica exposta quando a Veja publica uma resenha elogiosa do livro de um jornalista da Globo, que retribui convidando o jornalista da Veja para uma entrevista na TV.


Todos pontuam desde estes supostos centros irradiadores de opinião
como se não houvesse mais Brasil. Outro Brasil. Muitos Brasis.


O ex-presidente Lula entendeu isso. Derivou da constatação a política
adotada por ele de distribuir para um maior número de veículos, de todo
o país, a publicidade oficial. Foi resultado disso, também, a ênfase
dele e, posteriormente, de Dilma, nas entrevistas às rádios do interior.


O erro dos estrategistas do Planalto foi não considerar que havia e
continua existindo uma matriz a partir da qual as notícias se disseminam
em território nacional: Organizações Globo, grupos Folha, Abril e
Estadão, muitas vezes atuando de forma conjunta. Como já escrevi
anteriormente — nadando contra a corrente, diga-se — as redes sociais
aumentaram, não diminuiram o poder destes grupos. Eles foram capazes,
por seu alcance, de mobilizar milhões de usuários das redes sociais para
reproduzir seu conteúdo, de graça. O contraponto da blogosfera também
se fortaleceu, mas em menor escala.


Há mais de dez anos estas grandes corporações investem no discurso
antipolítica. Este discurso as fortalece, na medida em que os barões da
mídia podem extrair maiores concessões da iniciativa privada e de todos
os poderes da República. Como? Por exemplo, atacando uma empresa que se
negue a fazer campanhas publicitárias. Atacando um governo que contrarie
interesses dos patrocinadores.Promovendo mutirões investigativos — como
o que assistimos contra a Petrobras — com o objetivo de obter lucro
direto ou indireto com a privatização do patrimônio público.


“Política é corrupção, todos os políticos são corruptos, o Congresso
deveria ser bombardeado” — estas ideias foram incorporadas quase que
naturalmente ao discurso dos brasileiros. O objetivo original do
consórcio midiático era, naturalmente, tirar do poder governos voltados
para reduzir a imensa desigualdade social do Brasil — ainda que cheios
de defeitos, montados sobre alianças esdrúxulas e com uma boa dose de
corrupção.


É fundamental, aqui, considerar o tratamento desigual dado aos casos
de corrupção: os mensalões do DEM e do PSDB, hoje, nem parece que
aconteceram, assim como o bilionário desfalque do trensalão em São
Paulo, sem considerar casos mais graves e remotos, como a criminosa
privatização da Companhia Vale do Rio Doce.


O fenômeno de Marina Silva é caudatário disso. Ela é a papisa da
antipolítica, que inclui mas não abrange apenas o antipetismo. A essa
altura, o fenômeno é semelhante à onda que levou Jânio Quadros a
derrotar o favorito pelo controle da Prefeitura de São Paulo, que
descrevi acima. Naquela ocasião, FHC contava com apoio majoritário e
algumas vezes escandaloso da mídia. Jânio não dava entrevistas à Globo,
por exemplo. Abertamente com ele, só a rádio Jovem Pan, que promovia
pesquisas não científicas, com entrevistas de pessoas nas ruas.
Pesquisas que, naturalmente, apontavam o petebista como provável
vencedor.


Ou seja, foi uma onda do boca-a-boca, fora dos meios de comunicação
convencionais, quase um protesto contra o partido que pretendia submeter
São Paulo “ao candidato da Sorbonne”, como dizia Jânio, quando ele era
produto legítimo do bairro de classe média baixa da Vila Maria.


Em 2010, eu estava em Manaus na véspera do primeiro turno das
eleições presidenciais, quando ainda havia dúvidas se Dilma venceria ou
não no primeiro turno. Estava em um lugar público quando testemunhei
jovens engajados em levar a eleição para o segundo turno. Todos falavam
em Marina. Era uma espécie de onda, de febre de última hora.


Em minha opinião, “fenômenos” como as manifestações de 2013 e ondas
eleitorais como a deste momento continuam pegando de surpresa os
próprios partidos, os “especialistas” e a “opinião publicada” por conta
da desconexão entre os Brasis a que me referi acima.


A mídia que nos “forma e informa”, com seus repórteres e articulistas
extremamente concentrados no eixo do Rio-São Paulo-Brasília, não
conhece ou demora a reconhecer o país dos jovens brasileiros, conectados
entre si por seus telefones celulares e facebooks, mas desconectados de
partidos, sindicatos e outras instituições.


Cerca de 35% do eleitorado brasileiro tem menos de 30 anos de idade. É
gente que não experimentou a ditadura militar na pele, tem vaga
lembrança da inflação descontrolada dos tempos de José Sarney no
Planalto, não viveu o desastre resultante da aventura de Fernando Collor
e seu Partido da Reconstrução Nacional (PRN).  É gente que, ainda que
tenha tirado proveito dos programas sociais do governo Lula — que
reduziram a desigualdade e promoveram o consumismo — fez isso de forma
despolitizada, em contato com as eleições quando muito através daquela
“chatice” que consideram a propaganda eleitoral obrigatória, de dois em
dois anos.


Estes jovens são politicamente voláteis, querem mudanças e, por conta
da habilidade com as redes sociais, exercem uma influência sobre o
eleitorado que nunca exerceram no passado. Na casa de dona Irla, em
Itapajé, no interior do Ceará — modesta, de três cômodos, que sempre
teve TV mas só agora tem geladeira de verdade — são os filhos conectados
à internet que trazem as informações para dentro de casa, para os mais
velhos da família. São eles que ensinam os pais a lidar com o celular e a
montar uma página no Facebook. São eles que trocam mensagens, links,
indicam vídeos e dizem que o filho do Lula é o dono da Friboi.


Estes jovens foram intensamente bombardeados pela propaganda
“antipolítica” em anos recentes. Talvez não saibam absolutamente nada
sobre os planos e projetos de Marina Silva, mas pouco importa. Ela é de
origem humilde, evangélica — sinal, para muitos, de que leva a religião a
sério — e, acima de tudo, “nova”, ainda não contaminada. É o voto de
protesto. É o “Cacareco” do século 21, aquele rinoceronte do zoológico
de São Paulo que recebeu um recorde de votos para a Câmara Municipal, no
final dos anos 50.


O curioso é que, diante de tantas pesquisas qualitativas,
milionárias, Dilma apareça com estes jovens de forma quase institucional
em sua propaganda, separada por grades, embora rompa a barreira
geracional com os selfies em que posa ao lado de muitos deles. Também é
curioso que Aécio Neves, que se pretende candidato da mudança, tenha
sido mostrado em seu primeiro programa de terno escuro, distante,
oficial, como se precisasse antes de tudo provar sua seriedade.


Quando convidei petistas a refletirem profundamente sobre a irupção
das ruas em 2013 — e não a criminalizá-la, atribuindo tudo a “coxinhas” —
era justamente no sentido de tentar entender o que move estes jovens.
Com certeza, é uma resposta complexa e repleta de nuances. Talvez nem a
propaganda eleitoral, nem os debates entre os candidatos, nesta campanha
de 2014, sejam suficientes para movê-los de forma maciça em outra
direção. Duvido que muitos deles estejam na audiência.


A eleição de 2014, como alertei no primeiro parágrafo, está longe de
ser definida. Quando muito, há tendências fortes: Dilma x Marina no
segundo turno parece uma forte possibilidade.


Nos Estados Unidos, em 2008, quando Barack Obama se elegeu pela
primeira vez, as novas tecnologias foram essenciais para promover a
“mudança na qual se pode confiar”, especialmente com a arrecadação de
campanha e a arregimentação de milhares de voluntários. Obama apostou
quase todas as fichas no entusiasmo e no idealismo da molecada.
Lembro-me que Obama fez mais de um evento de campanha em que se reunia
num anfiteatro, cercado por jovens, para compartilhar ideias e sugestões
com eles. Desceu da tribuna. Arregaçou as mangas. Ouviu. A ideia era se
desfazer da tradicional hierarquia que tanto afasta os mais jovens da
política institucional. Obama certamente frustrou muitos de seus
apoiadores iniciais. Mais tarde, revelou-se mais do mesmo.


No Brasil, o que me parece extremamente curioso é que nem Dilma, nem
Aécio, que exerceram cargos executivos simultaneamente, tenham se dado
conta das mudanças que, cada um a seu jeito, ajudaram a promover no
país, mudanças que alimentaram o desejo do novo dos que foram às ruas em
2013. Como disse Lula, sabiamente, quem experimenta mudanças quer mais e
melhor. É natural.


Às vezes parece que ambos, Dilma e Aécio, se acostumaram com ou foram consumidos pela política dos bastidores.


Temos, ainda, um longo mês de campanha pela frente. Quase com
certeza, outro tanto antecedendo o segundo turno. Pelo menos hoje, Dilma
e Aécio são candidatos a reviver, do lado perdedor, 1989. Para o
Brasil, com os mesmos riscos envolvidos 25 anos atrás.

Ironia avassaladora do destino: ‘caos aéreo’ atinge Marina Silva e Aécio Neves | CartaCampinas

Ironia avassaladora do destino: ‘caos aéreo’ atinge Marina Silva e Aécio Neves | CartaCampinas

O destino e suas ironias parecem ter tomado conta das eleições
presidenciais de 2014. Depois da morte de Eduardo Campos, que causou
grande surpresa e consternação, surge uma ironia avassaladora: o caos
aéreo dos adversários de Dilma Rousseff (PT).


Durante o governo de Dilma , ela foi criticada de forma veemente pela
imprensa e pela oposição de que o Brasil viveria um ‘caos aéreo’:
riscos de acidentes, lotação dos aeroportos, atrasos nos vôos, etc.
“Imagina na Copa”, era uma espécie de slogan do caos.


A avassaladora ironia é que o caos não se comprovou e, muito pior,
são os principais adversários que agora vivem de fato em uma situação de
‘caos aéreo’.  Estão em situação embaraçosa por causa, vejam só, de
avião.


O caos de Aécio Neves (PSDB) seria a construção de não um, mas de
duas belas pistas em dois aeroportos para uso particular em cidades
próximas de suas fazendas no interior de Minas Gerais. Uma fica na
fazenda do tio avô, que pede indenização milionária do governo de Minas,
ou seja, pede indenização ao povo mineiro. Detalhe, o aeroporto tem
cadeados. É uso exclusivo.


O caos de Marina Silva (PSB) parece ainda mais grave porque foi
ocasionado após a tragédia com Eduardo Campos. A compra do avião
totalmente irregular está sendo investigada pela Polícia Federal. A
suspeita é de que o avião que caiu em Santos e havia transportado Marina
Silva algumas vezes em campanha, foi comprado com laranjas pelo próprio
Eduardo Campos e sócios de um possível caixa 2 de campanha. Eduardo Campos testou a aeronave antes de comprar, dizem vendedores.


Por essas e outras, que surpresa ainda nos reserva o destino dessa eleição?

Retoque na maquiagem — CartaCapital

Retoque na maquiagem — CartaCapital

 por Mauricio Dias







publicado
30/08/2014 02:10


Acontecimentos inesperados, como o que se vê agora com a
presidenciável Marina Silva, não são um fenômeno decorrente do acaso ou
provocado pela força do destino. A surpreendente ascensão eleitoral dela
se dá por razões explicáveis, palpáveis, criadas antes e imediatamente
após o acidente fatal com Eduardo Campos.


Não há fenômenos na política como há fenômenos na natureza.
Resgatada do ostracismo, por cálculo
político da mídia conservadora, em duas semanas ela deixou de ser a
sombra de Campos e desarrumou uma eleição que parecia arrumada.
Atropelou a candidatura do tucano Aécio Neves e ameaça ultrapassar a petista Dilma Rousseff, com quem poderá disputar o segundo turno.
Uma parte do sucesso de agora foi
plantada após a chegada dela em Brasília, em 1995, já eleita senadora
pelo PT do Acre. Foi reeleita em 2003. Sustentou um discurso
ambientalista rigoroso. Provocou confrontos internos e externos.
Finalmente, rompeu com o governo Lula e com o PT ao se demitir do
Ministério do Meio Ambiente.
Marina sempre foi contra a
comercialização da soja modificada geneticamente. E reagiu à proposta de
transposição das águas do São Francisco. A permissão para a realização
das obras só foi dada após ela ter deixado o governo. São apena
s dois exemplos.
Ao se despedir do ministério, em 2008, já
tinha planos políticos e o olho na disputa da eleição presidencial de
2010. Concorreu pelo PV e perdeu. Recusou-se a apoiar, no segundo turno,
a petista Dilma ou o tucano Serra.
Foi uma fuga clara e transparente do processo político-eleitoral.
Marina é, teoricamente, a expressão de uma política que
não existe. Prega um comportamento quase calvinista. Nesse ponto ela é
um retrocesso social.
A mídia conservadora, antigovernista, fez dela um ícone.
E, para sacudir a base de administrações petistas, passou a fazer
marcação a aliados de Lula e Dilma.
Além da sucessão de denúncias contra políticos, às vezes
com razão e outras vezes sem sustentação, a mídia agia com sinais
indiretos de que o Brasil seria melhor se não houvesse o Congresso.
Quiçá também os políticos.
O caldo disso foi a fantástica
mobilização popular nos meses de junho e julho de 2013. Se o turbilhão
de manifestantes formasse um clube, haveria na porta de entrada a
divisa: “Político não entra”. Talvez alguém acrescentasse: “Exceto
Marina”.
Embalada por essas jornadas, ela passou a pregar uma
indefinida “nova política” e, para isso, mobilizou militantes fiéis para
criar um partido novo. Fracassou. Juntou-se ao PSB e tornou-se vice na
chapa do partido.
A morte de Eduardo Campos promoveu a ascensão dela.
Após isso, ela mudou. Amenizou o discurso
político mais agressivo e negou o que chamou de “lendas” sobre posições
políticas ambientais.
Nos debates, farejando uma possível
vitória, acentua que “em todos os partidos há quadros de qualidade”.
Nesse momento é mais ardilosa do que Eduardo Campos, que satanizava
nomes já satanizados como os de José Sarney, Renan Calheiros e Fernando
Collor, entre outros.
A nova Marina age como uma velha raposa. Não dá nome aos bois.
Assim agiam os políticos matreiros nos tempos da “velha política”.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A volta do parafuso -

A volta do parafuso -

A volta do parafuso


Por Luciano Martins Costa em 27/08/2014 na edição 813
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 27/8/2014















Os jornais de quarta-feira (27/8) se esbaldam com os números da
primeira pesquisa Ibope de intenção de voto feita após a morte do
ex-governador Eduardo Campos e sua substituição pela ex-ministra Marina
Silva na chapa do PSB. A tendência dos analistas é considerar que esse
retrato pode ser alterado nas próximas semanas, em função da propaganda
eleitoral na televisão e por conta de um novo posicionamento estratégico
dos candidatos Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB, diante da
rápida ascensão da ex-ministra.
A imprensa também dá grande repercussão ao primeiro debate direto entre
os candidatos, transmitido na noite de terça (26) pela TV Bandeirantes.
As avaliações dos três principais jornais do país são muito parecidas, e
mostram como Marina Silva procurou se inserir como uma cunha na disputa
polarizada entre o PT e o PSDB, tentando consolidar-se como uma
“terceira via”. No entanto, segundo observadores credenciados pela
mídia, ela teve dificuldade para explicar como pretende reformar os
paradigmas da política com uma base partidária predominantemente
conservadora.
Analistas consideraram Dilma Rousseff mais segura que seus contendores,
dedicada a ressaltar números positivos de seu governo, apesar de ter se
transformado em alvo direto do bombardeio de todos os outros
participantes.
Aécio Neves é apresentado como tendo tido um desempenho mediano,
ocupado em se mostrar como o principal antagonista da atual presidente, e
baseou todos os seu ataques a Dilma Rousseff em temas exaustivamente
tratados pelos jornais.
Marina Silva, segundo os analistas, procurou se impor como protagonista
importante, mas começou o debate de forma tímida e confusa, ao tentar
capitalizar os protestos que ocuparam as ruas das grandes cidades
brasileiras no segundo semestre do ano passado. No fim, conseguiu se
inserir no centro do debate, mas ainda ficou a dever um esclarecimento
definitivo sobre como produziria uma “nova política” tendo como
candidato a vice-presidente um parlamentar apoiado por seus velhos
desafetos do agronegócio. De qualquer modo, há quem diga que a
ex-ministra apertou um parafuso no esquife da candidatura de Aécio
Neves.
O peso da mídia
Debates eleitorais pela televisão não têm o objetivo de esclarecer o
eleitor. Pelo contrário, quase sempre a intenção é criar confusão com
números e usar meias-verdades para constranger o oponente.
No caso em questão, é natural que o nome que aparece na liderança nas
pesquisas seja o alvo de todos os debatedores, e foi o que aconteceu.
Mas há uma nova dinâmica, mostrada pelo Ibope, o que potencializa
mudanças bruscas no cenário eleitoral. Por exemplo, embora a candidata
Marina Silva tenha se apresentado como aquela que vai reformar os modos
da política, as edições dos jornais de quarta-feira (27) insistem em
explorar as suspeitas de uso irregular de recursos por seu partido.
Os três principais diários de circulação nacional destacam investigação
da Polícia Federal dando conta de que o avião em que se acidentou o
ex-governador Eduardo Campos no dia 13/8 foi comprado com dinheiro de
empresas-fantasmas. Esse é o tipo de armadilha que se esconde no caminho
da ex-ministra.
Para consolidar o potencial de votos que aparece na pesquisa Ibope, ela
terá que manter a mística da heroína que pretende resgatar a moralidade
na política, convencer os cidadãos de que não será influenciada pelo
dinheiro que financia seu partido e ainda conquistar a confiança dos
eleitores de oposição que começam a abandonar o barco de Aécio Neves.
Além disso, precisa administrar os conflitos de interesse que a opõem a
seu candidato a vice, o deputado gaúcho Beto Albuquerque.
O principal trunfo de Marina Silva ainda é a herança idealista de seus
tempos de defensora da floresta, ao lado do seringalista Chico Mendes,
que cultivou como militante do Partido dos Trabalhadores. Aécio Neves
precisará reinventar sua estratégia, se quiser continuar no jogo. A
presidente Dilma Rousseff tem o desafio de estancar a evasão entre os
próprios simpatizantes do PT, que sentem saudade da inocência perdida.
De qualquer modo, embora tenha caído 4 pontos percentuais em relação à
pesquisa anterior, a avaliação positiva de seu governo cresceu 2 pontos,
o que mostra espaço para consolidar sua liderança.
Nessa situação volátil, aumenta o valor da propaganda eleitoral – que
tem em média quase quatro vezes o pico da audiência alcançada pelo
debate na TV Bandeirantes – e cresce a influência da mídia.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A política do Blog, a política no Blog, Marina Silva e meu voto em Dilma

A política do Blog, a política no Blog, Marina Silva e meu voto em Dilma

A política do Blog, a política no Blog, Marina Silva e meu voto em Dilma




Escócia-Reino Unido, 1:00 am. O sono se foi, e os meus botões ainda
tratando da abertura recente do Blog para dois posts consecutivos
declarando voto em Marina Silva. A questão não é ser contra a opção de
cada um, mas o que está por trás desse cenário.


Todos nós, cadastrados ou não, temos a convicção que o jornalista
Luis Nassif tem como bandeira a pluralidade. Tanto é que diversos
colegas, inclusive eu, temos nossas opiniões elevadas a post em algumas
ocasiões. Isso é louvável, mas o esforço do Nassif para ser plural nos
faz lembrar como a Política é a base de todas as relações, e aqui no
Blog não poderia ser diferente.


Eu, Francy Lisboa, sou reconhecidamente votante de Dilma e poderia
muito bem elencar série de fatores que contradizem os recentes  loas
para a candidata Marina Silva. Mas, primeiro, eu gostaria de fazer a
reflexão sobre o jogo político dentro dos quatros linhas do campo do
GGN.


Volto ao esforço do capitão do Blog em ser e parecer ser plural.
Sintomas dessa necessidade é a constante contradição dos posts em
relação à chamada polarização PSDB x PT. São diversos os posts dando
conta das politicas de Estado desenvolvidas e operacionalizadas nos
Governos petistas, como por exemplo, aquela referente ao renascimento da
indústria naval brasileira. Contudo, ao mesmo tempo, parece haver
esforço para tentar passar a crença de que PT e PSDB são “iguais”. Não,
eles não são Nassif!



Não sou eu quem está dizendo. São os posts aqui desse espaço que
mostram como a necessidade de fazer política é vital para respirar os
ares de imparcialidade e não cair desgraçadamente na alçada dos chamados
“Blogs sujos”. É como se os posts dissessem: é diferente, mas é igual.
Fala-se das politicas sociais, do projeto nacional desenvolvimentista se
contrapondo ao projeto mais liberal, e no final, o esforço para
contrabalancear a narrativa e assim nadar nas águas da imparcialidade.


Pois bem, ao elevar duas claras propagandas políticas em favor de
Marina Silva, o Blog nada mais faz do que continuar na toada de se
vestir de pluralidade, o que é louvável, mas no meu entendimento, esse
esforço não precisaria chegar a este ponto. Como disse um colega, a fama
do Blog como imparcial já está estabelecida. Falou em Nassif, falou em
ter vozes divergentes, pois mesmo que aqui pareça ter o predominio
governista petista, todos tem voz. Aliás, esse é um ponto interessante e
eu não saberia responder. Qual a proporção relativa de pessoas que
comentam ou escrevem posts no Blog? Será mesmo que todos que frequentam o
Blog são governistas como alguns afirmam? Ou será que os simpatizantes
do Governo são aqueles com maior disposição para escrever e comentar?
Isso somente o Nassif poderia nos brindar.


Existem historias de vida que podem servir de base para intitular um
post como “Por que eu votarei em Dilma nesse ano”, ou “Por que votarei
em Aécio”, apesar de achar este último título mais complicado. As razões
para votar em A ou B dependem de cada um, e é ai que entramos em choque
com a opinião alheia, não com ânimo belicoso, mas para argumentar.
Pois, assim como nós reconhecidamente incomodamos alguns, também podemos
ficar incomodados com opiniões que não concordamos.


Ai entra o debate Marina x Dilma. Há uma palavra bastante utilizada:
“credibilidade”. Primeiro precisamos definir: credibilidade em relação
ao que? Segundo, credibilidade para quem? Existe um enorme vácuo entre o
desejo e a realidade. A retórica da preservação ambiental é algo que
particularmente irritante para mim uma vez que estou diretamente
envolvido com a pesquisa na área. O cetismo que possuo, e acredito ser
compartilhado por muitos, é fruto da constatação óbvia de que o Brasil
não pode ficar a mercê do sopro dos ventos, assim como as chamada
mudanças climáticas estão sendo utilizadas como barreiras protecionistas
não convencionais, as quais ainda não estão sujeitas ao julgo da
Organização Mundial do Comércio.


O Brasil precisa melhorar infraestrutura para atender os anseios de
uma população que começa a ter destaque no cenário mundial não apenas
como o país das bundas e do futebol. A população começa a fazer o êxodo
contrário, se espalhando cada vez mais pelo inteiro do Brasil, o que já
gera e gerará pressão sobre os recursos naturais. No nível atua de
demanda, que tem como modelo o país do Walt Disney, a população não vai
querer saber se os bagres podem ou não namorar, ou se a perereca é
endêmica. Como Marina vai resolver isso? Marina tem credibilidade para
quem? Para as pessoas que já atingiram seu potencial de consumo ou para a
massa sedenta para consumir mais?


É um erro associar somente Marina Silva ao esforça de um Brasil
sustentável. As políticas agrícolas dos Governos petistas possuem
méritos que vão além da vontade de “parar para conservar”. Exemplo é o
volume cada vez maior de recursos destinado ao programa Agricultura de
Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), o qual tem como objetivo base
reduzir as emissões de gases do efeito estufa por meio de incentivos
financeiros aos produtores querendo se adequar a atividades agrícolas
menos intensiva, preservando desde nascentes até a capacidade
regenerativa dos solos. Apesar da contratação dos primeiros dois anos
2009 e 2010 ter sido baixa, o numero de contratos no plano ABC vem
crescendo desde 2011 (Ângelo, 2012), e mostra que produtores brasileiros
estão se conscientizando de que barreiras ambientais não convencionais
poderão afetar suas vendas em futuro próximo.


Percebam. Essa grande ação não é vista como preservativa, pois não
tem a aura messiânica por trás, mas sim o trabalho de gestores, tais 
como meus colegas engenheiros agrônomos, florestais, agrícolas, 
zootecnias, veterinários, biólogos e cientistas sociais. Sem a figura
central em que se possa vestida a roupa da conservação ambiental
estéril. Afinal, não se trata disso, é preciso casar as coisas. Nossas
necessidades e a preservação, e isso os Governos petistas vem se
empenhando. Mas é claro, falou em natureza, pensou em Marina Silva, como
se a defesa da Amazônia  por esta fosse a única coisa a representar
anseio “verdadeiro” de preservação.


É até engraçado quando se joga o jogo de tabuleiro do
“emcimadomurismo” e se afirma que Dilma, Aécio e Marina têm projetos
similares, e o que definirá é a credibilidade. Ora. A tal credibilidade
“mariniana” vem sendo desmoronada ao longo dos últimos quatro anos
quando a imaculada Marina se acercou da nata da matilha financista.
Lobos que depois de se forrarem degradando recursos naturais e vidas
aqui, mesmo que indiretamente,  posam agora como protetores da natureza.
O discurso de Lara Resende de que quem chegou, chegou, e quem não
chegou não chega mais, é de causar arrepios. Mas mostra a má fé de se
colocar o projeto atual, claramente destoante, como sendo igual ao dos
outros candidatos. Ora, se é igual então porque eles esbravejam?


Alguém aqui realmente acha que Belo Monte, transposição, Jirau, etc,
sairiam se Marina estivesse no poder? Claro que não! Logo, não dá para
dizer que são iguais. Ficar falando em sustentabilidade me lembra de
palavras chaves que alguns cientistas usam para impressionar as bancas
editorias munda afora, afinal, escrever “esse estudo busca
sustentabilidade das sustentações em um mundo que precisa se sustentar
sustentando a natureza” leva as lágrimas os editores encantados pelo
tema do aquecimento Global.


Mas e quanto ao nosso agronegócio? Sei bem que aqui temos um ranço
conservador histórico, mas é inegável o seu papel ontem, hoje, e no
amanhã, como o Brasil sendo um dos poucos que dispões de áreas ociosas
para manter a produção de proteína animal sem a necessidade de pressão
sobre o meio ambiente (Strassburgh et al., 2014). É preciso negociar com
os que lhe veem com desconfiança. O Agronegócio sempre viu no PT a
“ameaça vermelha”, mesmo assim o Governo não para de rolar a divida
desse setor e ano após ano a Plana Safra aumenta seu quinhão com
financiamento de maquinas a se perder de vista e com juros baixíssimos.
Marina iria ter disposição para ir em frente com as negociações ou iria
dizer: “para que mais maquinas e equipamentos, vamos ser sustentáveis e
blá blá blá?


Por fim, as opiniões são bem vindas, desde que sejamos honestos.
Certa a vez eu escrevi que explorar as contradições é técnica corrente
por aqui. E eu acabo de fazer exatamente isso. Não se trata de
arrependimento. Não voto em Marina e voto em Dilma porque ela tem
CREDIBILIDADE relacionada ao gerenciamento de projeto de nação e mais,
tem coragem de colocar a cara à tapa, faz sim política, simplesmente
cede e exige contrapartidas. A CREDIBILIDADE relacionada ao salvamento
da natureza é importante, e ela vem sendo feita sem a necessidade de se
criar personagens messiânicos, sem o intento de parar tudo para
preservar, como fazem os verdadeiros gerentes e pensantes de uma nação.
Marina Silva precisa aprender que o povo brasileiro não tem vocação para
extrativista. Para chegar e apenas dizer salve a Mãe Terra! Só mesmo
com a ajuda de anéis em dedos com valores e intenções bem definidos e
DIVERSOS dentro mosaico chamado  Brasil. Para que todos unam seus
poderes, pobre Marina, terá que ceder. Perceberá então que o país não
precisa de ativista na presidência e sim de uma politica gerente, e essa
se chama Dilma Rouseef.





Literatura citada





Angelo, C., 2012. Brazil’s fund for low-carbon agriculture lies fallow. Nature, http://


dx.doi.org/10.1038/nature.2012.11111.


Strassburgh et al. 2014. http://dx.doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2014.06.001

‘Desperdício é problema grave na Saúde brasileira’

‘Desperdício é problema grave na Saúde brasileira’

Fundador da rede de clínicas do Instituto de Oncologia do Vale, no Vale
do Paraíba, interior de São Paulo, o oncologista Carlos Frederico Pinto é
um crítico enfático da gestão da saúde no Brasil. Desperdiçadora e, por
isso, de má qualidade, diz ele, que há mais de 7 anos pesquisa a
implementação do Lean, filosofia de gestão nascida na fabricante
japonesa de automóveis Toyota, mas atualmente adotada por empresas de
diversos setores.

Pinto, ao aplicar o Lean em sua rede de
clínicas, obteve resultados positivos que incluem um aumento de mais de
170% na capacidade de atendimento. A experiência está sendo narrada pelo
médico no livro Em busca do cuidado perfeito – aplicando lean na saúde,
obra que tem como objetivo disseminar uma nova forma de pensar a
gestão, eliminando desperdícios e melhorando o cuidado com os pacientes.

Segundo
o autor, a obra é a primeira sobre a aplicação do Lean na gestão da
saúde brasileira - as obras anteriores, diz, foram traduzidas de outros
países – editada pelo Lean Institute Brasil, de São Paulo. Até então
apenas livros e manuais de autores estrangeiros haviam sido publicados.

Há muito desperdício de recursos na gestão da saúde no Brasil? Carlos Frederico Pinto:
O desperdício de recursos é hoje um problema grave no sistema de saúde.
Certamente, 40% daquilo que se faz é desperdício. Pelo menos. Em alguns
locais, muito mais. Esse desperdício ocorre de várias formas: exames e
procedimentos desnecessários, uma quantidade assustadoramente grande de
retrabalho gerado por cancelamentos e atrasos que exigem reiniciar todo
um processo, repetições desnecessárias de entrevistas feitas por médicos
e assistentes... Isso sem contar infecções adquiridas em hospitais –
que é uma forma muito grave de desperdício, pois é um tratamento que não
precisaria ser realizado se a pessoa não tivesse adquirido a infecção
hospitalar – e também os erros médicos. Enfim, há uma enormidade de
etapas e processos assistenciais que são absolutamente desnecessários e,
portanto, são desperdícios de recursos. Poderiam ser simplesmente
eliminadas ou prevenidas, como as infecções hospitalares. Assim, os
custos cairiam muito e poderia haver mais atendimentos e com mais
qualidade. Erros nos processos – incluindo os erros médicos e as
infecções hospitalares – podem ser vistos só como desperdícios se não
fossem algo muito mais grave: colocam vidas em risco. Mas todo esse
desperdício é um problema, pois no sistema de saúde brasileiro o
“cobertor” é curto, o sistema tem poucos recursos disponíveis para uma
população que não para de crescer e, felizmente, envelhecer, pois nós
estamos vivendo mais. O que implica também em mais gastos com saúde.

No setor público isso aumenta?
Pinto:
Não
acredito que haja, nesse caso do desperdício de recursos, uma diferença
grande entre setor público e privado. A cultura do desperdício é comum
ao sistema de saúde. No privado, temos mais recursos disponíveis, é
claro, mas talvez o desperdício seja também mais exuberante.

Sobre
a prática de se exigir muitos exames, há uma “cultura” que estimula
isso? Que diz que “médico bom é aquele que pede mais exames”?
Pinto:

sim, no sistema de saúde brasileiro, um volume grande de exames que são
realizados sem necessidade, mas que geram uma quantidade de gastos
desnecessários ao sistema. Isso ocorre porque consultas que são
geralmente mal remuneradas induzem o médico a querer gastar menos tempo
com o paciente. E uma maneira mais “fácil” de fazer isso é pedindo uma
enormidade de exames. Outra maneira mais trabalhosa é realizando um
exame clínico mais demorado, mais detalhado, uma entrevista cuidadosa e
pedindo apenas os exames realmente necessários. Ao longo do tempo, os
pacientes passaram a se sentir mais confortáveis com a ideia de ter ido
ao médico e ter feito um check-up completo. Mas do ponto de vista
clínico, isso talvez não tenha significado algum: não ajuda, nem
atrapalha, mas custa muito mais caro ao sistema. O paciente fica com uma
falsa sensação de segurança. Assim como o médico se sente mais
"protegido" dos riscos legais de não ter feito um diagnóstico detalhado.
Um exemplo muito comum disso na oncologia é o uso de cintilografia
óssea para diagnosticar metástases nos ossos de pacientes com câncer de
mama. A única indicação desse exame no acompanhamento dessas pacientes,
após o tratamento inicial, é quando ela tiver alguma queixa de "dor nos
ossos". No entanto, milhares de pacientes fazem esse tipo de exame
anualmente sem necessidade real.

Então, “gastar muito” não significa, necessariamente, melhor cuidado com a saúde?
Pinto:
Exatamente.
Existe hoje um movimento nos EUA chamado “choose wisely” – que pode ser
traduzido por "escolha sabiamente", que busca refletir sobre isso. Há
diversos tipos de exames complementares, como tomografias,
densitometrias ósseas ou procedimentos clínicos ou cirúrgicos, que não
melhoram a qualidade de vida dos pacientes, nem aumentam a chance de um
diagnóstico precoce de alguma doença. Há também discussões sobre
procedimentos que não melhoram a qualidade de vida dos pacientes. Por
exemplo, a discussão corrente sobre operar ou não uma hérnia de disco
lombar (problema de coluna). Muitos pacientes melhoram disso sem
tratamento cirúrgico e muitos pacientes operados não melhoram nada, com
uma diferença de custos de dezenas de milhares de reais.

O fato do sistema de saúde ser, também, um “mercado” que movimenta muito dinheiro também agrava isso?
Pinto:
Sim.
Acredito que um grande problema é que o sistema de saúde está muito
organizado num modelo de “pagar por procedimentos”. Ou seja, eu só ganho
se operar ou se "executar algum procedimento". Isso também contribui
para o aumento dos custos do sistema. Há decisões técnicas que podem
produzir resultados similares com custos dramaticamente menores. Alguns
tratamentos de câncer, por exemplo, podem produzir o mesmo resultado,
mas com custos substancialmente menores, com diferenças superiores a
100%. Isso também é válido para outras especialidades, como cardiologia e
endocrinologia. Outra área de controvérsia, por exemplo, é o uso de
stents para doença coronariana (angina de peito). Existe uma grande
discussão se a quantidade dessas indicações é, hoje, capaz de trazer
algum benefício de expectativa de vida para os pacientes com "angina de
peito". Mas esses procedimentos custam de 30 mil a 50 mil dólares nos
EUA, onde são realizados perto de um milhão de procedimentos por ano,
30% considerados "ineficazes ou desnecessários". Uma revista médica
muito importante dos EUA chamada JAMA publicou em 2013 um estudo
comparando os custos de uma cirurgia ortopédica para implantar uma
prótese de quadril. Entre os 20 melhores hospitais americanos
especializados nesse tipo de cirurgia, o preço variou de 12 mil dólares
até 120 mil dólares. Como explicar essa diferença? Um hospital é dez
vezes melhor que outro? Ou tem instalações dez vezes mais caras?

De que forma essa gestão tradicional, desperdiçadora, da saúde contribui ou estimula o erro médico?
Pinto:
Uma
característica básica de um ambiente onde a segurança é uma prioridade é
o compartilhamento da responsabilidade em times. Nesses ambientes, a
liderança não é impositiva ou autocrática. Todos são responsáveis. Por
isso, há mais segurança. O problema é que a autocracia é uma
característica do sistema de saúde. Ou seja, nosso sistema reside na
autoridade médica como autoridade máxima. Assim, a autonomia do médico
se sobrepõe aos padrões de segurança. Sabemos que o uso do checklist da
Organização Mundial da Saúde de “cirurgia segura” é capaz de reduzir a
mortalidade e os índices de complicações pós-operatórias em até 30%.
Mas, mesmo com essas informações, às vezes não é possível "dobrar" a
autoridade do cirurgião. Em alguns hospitais, cirurgias são simplesmente
canceladas quando o cirurgião se recusa a cumprir esse checklist, que
seria a coisa certa a ser feita. Mas a autocracia do médico sempre
vence, na marra. Então, a gestão tradicional dos serviços de saúde tem
um modelo cultural propenso ao erro, no qual apenas a opinião da
autoridade máxima tem valor. Na "cultura da segurança", a opinião de
todos tem valor – e as decisões são tomadas ouvindo a opinião de todos.
Dessa forma, os riscos são mais facilmente identificados e mitigados. Em
nossas clínicas, no Instituto de Oncologia do Vale, no Vale do Paraíba,
enxergamos que erros – defeitos nos processos – são problemas que
comprometem a qualidade e a eficiência dos nossos processos, mas,
fundamentalmente, precisam ser evitados porque podem colocar em risco
vidas humanas. E isso é a base da busca do "defeito zero". Com essa
mentalidade e compartilhando responsabilidades, colhemos ótimos
resultados. O segredo é tornar cada vez mais fácil identificar os
defeitos nos processos, de forma precoce, sem permitir jamais que
cheguem ao paciente.

Você acredita que o Sistema Lean tem realmente a capacidade de diminuir, minimizar ou até eliminar os erros médicos?
Pinto:
Quando
se fala em buscar a perfeição, está se falando sobre eliminar defeitos
dos processos produtivos. Isso significa executar correto da primeira
vez que se faz uma coisa, sem defeito. Se isso pode ser padronizado numa
indústria – executar corretamente, sem erros, da primeira vez – também
pode ser replicado no hospital, em que é muito mais fundamental fazer
tudo certo da primeira vez. Para nós da área da saúde, o “defeito” é
muito cruel porque ele pode significar uma vida perdida. Um erro básico,
por exemplo, de trocar os nomes dos pacientes pode significar matar uma
pessoa involuntariamente. Por isso, é necessário aplicar técnicas lean
que podem, sim, aumentar e muito a segurança do processo, para eliminar o
defeito. Por exemplo, quando nós aplicamos na gestão da saúde conceitos
e “ferramentas” lean como jidokas e poka-yokes (métodos da gestão lean
para prevenir erros em qualquer coisa que se produza). Com isso,
conseguimos aumentar e muito a segurança do processo.

Detalhe
um pouco mais de que forma os desperdícios na gestão da saúde podem
aumentar custos, ao mesmo tempo em que pioram os cuidados com o
paciente.
Pinto:
Muitas etapas do processo assistencial
estão desconectadas entre si e demandam muito mais tempo e processamento
para produzirem os mesmos resultados. Em um de nossos projetos, nas
clínicas do IOV, apenas conectando as informações necessárias para a
execução do atendimento, fomos capazes de aumentar a capacidade de
atendimento de 12 para 15 pacientes por médico por período. Muito do
tempo do atendimento é consumido com tarefas que tem pouco a ver com
atendimento ou com assistência – como procurar exames, entender um
histórico mal redigido, coletar informações repetidas vezes. Ao se criar
um processo organizado para tarefas como essas, somos capazes de
produzir mais com menos – ou com a mesma estrutura. Também é importante
deixar claro que há falta de recursos no sistema de saúde. Não faz
sentido "produzir mais com menos". Mas faz sentido produzir mais com os
mesmos recursos. Mais recursos são necessários no sistema de saúde, mas
sem organizar e administrar melhor os processos, eles não serão
utilizados de forma efetiva, que é o que acontece com uma parte dos
recursos dirigidos à saúde.

Quais são os maiores
desperdícios "tradicionais" de uma gestão tradicional da saúde que o
Sistema Lean pode minimizar ou eliminar?
Pinto:
A lista é
gigantesca. Tomemos um exemplo básico do sistema: há uma ideia geral de
que faltam vagas para atendimento à saúde – e é verdade. Mas das
consultas marcadas, há uma taxa muito alta de não comparecimento – que
em alguns locais é superior a 30%. Então, faltam vagas, mas das que
foram agendadas, 30% ficam ociosas. E isso é um "padrão" Brasil a fora.
Poucos são os serviços de saúde com um sistema de agendamento capaz de
administrar esse problema de "não comparecimento", o que poderia
aumentar a capacidade. Outro exemplo: o sistema de entrega de
medicamentos. Há alguns anos participei de um projeto de farmácia em um
município da região da região do Vale da Paraíba, onde havia um
desperdício assustador de medicamentos, pois muitos deles ficavam
estocados e parados na farmácia central e, ao mesmo tempo, estavam em
falta nos postos de saúde. Além disso, havia postos de saúde com excesso
de determinados medicamentos que estavam em falta em outros postos.
Promovemos uma melhor gestão disso, e em poucos meses o projeto gerou
uma significativa melhora da qualidade do serviço prestado ao paciente,
além de uma economia de um milhão de reais para o município (10% do
orçamento da saúde), apenas com medicamentos básicos de dor, diabetes e
pressão alta.

E a burocracia típica dos hospitais com “papelada”: formulários, fichas, relatórios... Poderia ser minimizada?
Pinto:
Sim,
poderia. Criar um “fluxo único” de informações no processo assistencial
pode eliminar entre 50% a 60% desse tipo de papelada. Muito do que está
sendo preenchido hoje nesse processo tradicional são apenas “dados” que
já foram preenchidos por outra pessoa anteriormente. Mas as pessoas
preenchem mais uma vez e mais uma vez e mais uma vez... É necessário,
então, redesenhar o fluxo informacional da assistência à saúde para
criar um processo mais enxuto, mais “lean”. E ainda existe uma ilusão,
um pensamento mágico, de que informatizando o processo isso acaba. Bem,
no nosso caso, em nossas clínicas do IOV, só piorou. E todo mundo que
converso que informatizou seu sistema também acha que piorou. O ganho
foi na maioria das vezes no processamento de contas, no faturamento, na
contabilidade, mas raramente na assistência à saúde.

Como o Sistema Lean pode “liberar” o médico desses serviços administrativos para focá-lo no norte verdadeiro da medicina?
Pinto:
Quando
entendemos quais são, efetivamente, as informações importantes e quais
as que não são importantes, a gente consegue criar um processo que deixa
a relação médico-paciente ou enfermeiro-paciente livre de
processamentos informacionais que são desnecessários, de vai e vem, de
movimentações desnecessárias. Esse tipo de repadronização, de
reorganização do local de trabalho e dos processos aumenta
substancialmente a disponibilidade do profissional de saúde de se
relacionar com o paciente visando o que realmente importa: o cuidado.

Para se fazer essa mudança de gestão na saúde é também preciso mudar a mentalidade das pessoas que atuam nessa área?
Pinto:
Sim.
A grande diferença de um sistema de gestão lean para um sistema
tradicional é a forma de enxergar os problemas. Todos têm por objetivo
cuidados melhores e mais qualidade nos processos. Mas num sistema de
qualidade comum não fica claro que a principal causa da baixa qualidade
está intimamente ligada ao desperdício. Enquanto um projeto lean foca em
aumentar a qualidade ao mesmo tempo em que elimina custos
desnecessários ligados ao desperdício, um projeto de qualidade comum
pode, inclusive, implicar em aumento dos custos, impondo novos recursos
ao sistema e que serão desnecessários. O modo de pensar lean é muito
diferente. Uma das grandes qualidades do pensamento lean é o objetivo de
tornar os problemas visíveis. E, além disso, promover um esforço diário
para resolvê-los no ponto mais próximo da origem desses problemas, o
que definitivamente melhora a qualidade do atendimento e reduz também os
custos associados a esses problemas ou defeitos. Num sistema de gestão
lean todos os envolvidos são "resolvedores de problemas", todos
participam do processo de qualidade. Além disso, no sistema lean há um
claro esforço para padronizar e nivelar os processos, produzindo um
"fluxo suave" no processo assistencial. Com a padronização, é possível
investir em melhorar ainda mais os processos, e é possível também
identificar mais facilmente os problemas, como um moto-continuo.

Há um movimento de aplicação do Sistema Lean na gestão da saúde no Brasil ou ainda são casos isolados?
Pinto:
Está
se tornando um movimento, mas os casos mais avançados ainda são
isolados. Mas eu tenho percebido que muita gente do setor está olhando
para os resultados que alguns têm conseguido. Estão ganhando confiança
em cima desses resultados e partindo para esses projetos. Então, eu
acredito que nós estamos no começo de um novo movimento, sim. Lean é de
fato uma forma de você olhar para o sistema de saúde de maneira
inovadora. Isso já é realidade para muitas organizações nos EUA, na
Escócia, no Canadá, na Austrália...

E na saúde pública brasileira? O Sistema Lean poderia ser adotado rapidamente?
Pinto:
Acho
que o sistema público vai demorar a absorver esse pensando. Mas já há
uma percepção de que isso é importante. Há uma resistência natural em
aplicar o Sistema Lean na gestão da saúde, pois é um modelo de gestão
que nasceu na Toyota, ou seja, vem da indústria automotiva. E isso cria
resistências entre os profissionais da saúde que são de uma área bem
distinta. Mas nós precisamos trabalhar para quebrar isso e mostrar que o
modelo lean pode e deve ser aplicado em qualquer tipo de processo
produtivo – incluindo na gestão da saúde.

sábado, 23 de agosto de 2014

O que está pior, a economia ou a mídia?

Assaz Atroz

O que está pior, a economia ou a mídia?





23/08/2014

Por Fábio Jammal Makhul, na Revista do Brasil

Não
é improvável um espectador do telejornal noturno ter o sono perturbado
com vozes soturnas de apresentadores e analistas. Pelo que se vê e se
ouve, não se sabe o que aquele apresentador sério quer dizer com "boa
noite". Afinal, a economia do Brasil pode estar à beira da bancarrota.
Tampouco se perdoa o "bom dia" do apresentador da manhã, pois os jornais
do dia também trarão o apocalipse. Não é para menos.A preocupação com a
economia move o dia a dia das pessoas, inclusive as que dormem mais
cedo que os jornais noturnos. Ninguém passa um único e escasso dia sem
fazer contas. Foi entendendo a importância dessa ciência, nem sempre
exata, que o estrategista James Carville, do Partido Democrata,
eternizou a frase "é a economia, estúpido!"
Era 1992, e com esse aprendizado Bill
Clinton superaria o favoritismo do republicano George Bush, o pai,
demonstrando sintonia com as angústias cotidianas dos norte-americanos
nesse quesito. Eis o segredo do homem que faria história no Salão Oval
da Casa Branca pelos próximos oito anos: saber o que, com quem e por que
estava falando.O noticiário econômico cumpre vários objetivos. Um
deles, saciar os humores do mercado financeiro, servir de ponte para
suscitar apostas nos cassinos da especulação, detectar (ou criar) o
clima do ambiente eleitoral, entre outros, inclusive informar de vez em
quando. Porém, pelo que algumas pesquisas têm demonstrado, a opinião
pública talvez não veja a economia do Brasil como a veem os
especialistas.
Pesquisas
do Datafolha apuram o índice de confiança do brasileiro em relação ao
país. Numa escala de 0 a 200, um levantamento feito no início de julho
revelou que a expectativa da situação econômica pessoal é de 160 pontos,
sendo um dos "aspectos para os quais os brasileiros demonstram um
sentimento positivo acima da média", no relato do instituto. Já a
expectativa da situação econômica do país¬ registrou 102 pontos em
julho, alta de 6 pontos na comparação com maio. Os eleitores brasileiros
também foram consultados sobre a situação econômica pessoal e 48%
esperam que ela vá melhorar nos próximos meses. Outros 38% acreditam que
ficará como está.
E
apenas 12%, que vai piorar. Pela pesquisa, pode-se constatar que há um
grande descompasso entre o sentimento positivo do brasileiro com relação
à economia e o cenário catastrófico divulgado pela mídia tradicional.
O
jornal ou o caixaO comerciante Mário Paixão da Silva, de 46 anos, tem
uma pequena loja de roupas no centro do Recife (PE) há mais de 20 anos. E
diz que basta conferir as vendas para saber se a economia está bem ou
não.
"Você
acha que vou acreditar no jornal ou no meu caixa?", brinca, ainda
comemorando as vendas que fez durante a Copa do Mundo. "A gente precisa
ser criativo e se reinventar a cada dia. Durante a Copa, por exemplo,
troquei as tradicionais roupas da vitrine por camisas da seleção ou por
peças que privilegiassem o verde e o amarelo. Vendi muito, não posso
reclamar. E, nos últimos meses, minhas vendas estão no mesmo patamar dos
anos anteriores", diz.Mesma opinião tem a auxiliar de serviços gerais
Vilma Silva de Lima, de 57 anos.
O
noticiário econômico não é algo que a perturbe, ou atraia. Moradora de
um bairro pobre de Camaragibe, região metropolitana do Recife, Vilma diz
que as principais preocupações são com a saúde pública e a segurança.
"Aliás, nas próximas eleições, vou prestar atenção no que os candidatos
vão dizer sobre esses problemas", afirma.Com a aproximação do pleito, a
mídia tradicional começa a definir candidatos que querem ajudar ou
atrapalhar.
E,
diferentemente de quase um quarto do eleitorado, parece não estar
indecisa, analisa o jornalista e sociólogo Venício Artur de Lima,
professor titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de
Brasília (UnB). Ele analisa o comportamento midiático em eleições há
três décadas e tem vários livros sobre o tema.Lima avalia que a profusão
de informações parciais para privilegiar uns e prejudicar outros dá o
tom. "Seguem a mesma conduta das eleições passadas, talvez de forma
ainda mais exacerbada."O pesquisador pondera, porém, que o Brasil mudou e
o eleitor está mais capacitado e dispõe de meios diversos de informação
para decidir o voto.
"Tenho
uma visão diferente da que tinha quando comecei a estudar eleições, nos
anos 80. As pessoas buscam muito mais informação fora do esquema da
grande mídia. É claro que a TV aberta continua sendo a principal fonte
de informação, mas as fontes alternativas têm peso muito grande desde
2006", avalia. Isso não significa, observa Lima, que a mídia
convencional não seja importante para influenciar comportamentos em
longo prazo.
"A
percepção das pessoas sobre corrupção e a estigmatização dos partidos
ainda é influenciada pela mídia, mas no comportamento eleitoral em si, o
peso do que é publicado nos principais jornais, na TV e no rádio
diminuiu, graças a meios que antes não existiam", comenta.Pessimismo
militanteUsar o jornalismo econômico para fazer política no Brasil é uma
estratégia que tem sido bastante criticada por Luis Nassif, jornalista
econômico com 45 anos de experiência e organizador do portal GGN.
Para
ele, há muitas críticas à condução da política econômica do governo
federal e vulnerabilidades que precisam ser enfrentadas - especialmente o
desequilíbrio nas contas externas do país. "Mas nada que, nem de longe,
se pareça com o quadro pintado nos grandes veículos. Aumentos de meio
ponto percentual ao ano nos índices inflacionários são tratados como
prenúncio de hiperinflação; acomodamento das vendas do varejo, em níveis
elevados, como prenúncio de recessão", comenta.
O
que ele chama de "pessimismo militante" compromete a crítica necessária
sobre os pontos efetivamente vulneráveis da política econômica e do
processo de desenvolvimento do Brasil. "Há uma guerra política
inaugurada em 2005, que sacrifica a notícia no altar das disputas
partidárias. É evidente que há muito a melhorar no ambiente e na
política econômica, mas quem está em crise exposta, hoje em dia, é certo
tipo de jornalismo que acabou subordinando os fatos a disputas
menores."
O
fotógrafo Alexandre Lombardi, de 38 anos, não gosta de generalizar uma
má conduta da mídia. Ele não duvida que todo veículo favoreça um lado e
prejudique outro. Lê os jornais tradicionais, procura na internet por
blogs, fóruns de discussão e mídias sociais com pensamentos diferentes,
mas desconfia à esquerda e à direita, e procura consistência:"Gosto da
pluralidade de pensamentos", conta Alexandre, que mora em Sorocaba,
interior paulista. "A internet deixou tudo muito fácil.
É
possível comparar versões. Analiso, converso com os amigos e formo a
minha própria opinião. Não tiro conclusões baseadas em uma única fonte",
explica. Ele ainda não definiu candidatos para a próxima eleição, mas
levará em conta as¬ propostas, inclusive para a economia.Transmitir
confiança, credibilidade e consistência, com propostas claras, será o
melhor meio de ganhar o voto do eleitor em outubro.
Quem
afirma é o publicitário Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto
Data Popular - empresa de pesquisa especializada no conhecimento das
classes C e D, onde se concentra a maioria dos brasileiros.
"O
que vai decidir o voto é a capacidade das candidaturas de entender os
problemas reais que o eleitor enfrenta e de oferecer perspectivas de
futuro", observa.Para Meirelles, será, antes de tudo, uma eleição sobre o
futuro e não de legado. "Os eleitores estão mais preocupados em saber o
que vai levar o Brasil adiante e não o que trouxe o país até aqui. Isso
-coloca a discussão em outro patamar. Os candidatos devem fazer uma
campanha muito mais propositiva em vez de ficar falando do passado",
explica.
A
queda na credibilidade da mídia, as novas tecnologias da informação e a
recente ascensão social no Brasil criaram um novo formador de opinião
que terá peso nestas eleições. Trata-se do jovem da classe C. "Esses
jovens estudaram mais que os pais, estão mais conectados, contribuem
mais com a renda familiar do que o jovem da elite. Ele é provedor de
conteúdo em casa e sua opinião vai ajudar a definir o voto da família",
afirma Meirelles.
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(Re)leia também...

Renda per capita de Absurdil



 

Fernando Soares Campos – Brasil, janeiro de 2005 

Absurdil
era uma republiqueta perdida entre o Atlântico e o Pacífico, lá todos
os cidadãos pagavam a mesma taxa de imposto, não importava se o sujeito
ganhava uma relíquia (RL$, a moeda corrente de Absurdil) ou mil
relíquias, a taxa de imposto era a mesma: 20%.


A
distribuição de renda em Absurdil somente podia ser comparada à de
certo país sul-americano, pois, dos seus 1010 habitantes, 1000 ganhavam
RL$10,00/ano, cada; enquanto os 10 privilegiados cidadãos faturavam
RL$10.000,00 anuais, cada. A renda bruta da população era, portanto,
RL$110.000,00 anuais. Em cima disso, os cofres públicos de Absurdil
arrecadavam RL$22.000,00 por ano, deixando para a população
RL$88.000,00. Assim, a renda per capita líquida dos absurdileiros era de
RL$87,12. Este era o quadro macroeconômico de Absurdil, e assim vivia
seu povo, numa tranqüila e eterna infelicidade.

Um
dia a população rebelou-se e colocou outro presidente no poder. Já nos
primeiros momentos, o novo mandatário e seu gabinete ministerial
trataram de acelerar o PIB que, há muitos anos, andava em baixa. O
presidente correu mundo para vender os produtos absurdileiros no
exterior. Conquistou mercados que nunca haviam sido bem explorados pelos
governos anteriores. Incentivou a qualificação da mão-de-obra local e
promoveu melhores condições de trabalho, além de apoiar o empresariado,
combatendo o contrabando, estimulando pesquisas científicas e melhorando
a qualidade dos seus produtos. Esses foram alguns dos fatores que
impulsionaram a economia de Absurdil. Foi tudo muito surpreendente, em
pouco tempo, o país apresentou resultados estatísticos que assombravam
os descontentes: superavit astronômico! Risco Absurdil despencando; era o
mundo passando a acreditar e respeitar aquela ex-republiqueta
casa-de-mãe-joana.

Chegada
a hora, o novo governo, que havia prometido mudanças na área econômica e
social do país, tomou as primeiras decisões: a partir daquele momento,
os absurdileiro mais pobres passaram a ganhar RL$11,00 por ano, e,
igualmente, foram aumentadas as rendas de cada um dos 10 privilegiados
para RL$11.000,00 anuais. No entanto, a taxa de IR de Absurdil foi
modificada: os menos favorecidos passariam a pagar 15% de IR e os
privilegiados 30%. No primeiro ano de governo, a renda bruta da
população bateu recorde:RL$121.000,00. Descontados RL$ 1.650,00 da renda
total de RL$11.000,00 da camada mais desgraçada, e RL$33.000,00 dos
privilegiados que ganhavam juntos RL$110.000,00 por ano, a população em
geral ficou com RL$86.350,00, o que representou uma renda per capita de
RL$85,49.

Entretanto
os miseráveis ficaram menos miseráveis, passando a receber RL$9,35
líquidos por ano, quando recebiam RL$8,00, e os privilegiados
continuaram com seus privilégios, só que um pouco menores, bobagem:
RL$7.700,00 líquidos anuais, cada, contra os RL$8.000,00 que ganhavam no
governo anterior. Mesmo começando a recuperar suas "perdas" com o
aumento da produção e das novas oportunidades, os privilegiados chiaram.
E chiaram muito!! Queriam o poder de volta. Precisavam convencer a
população de que aquilo tudo era ruim para ela. Foi aí que tiveram uma
brilhante idéia: pegaram as estatísticas do ano anterior e extraíram
aquele item que indicava "queda" na renda per capita, em relação àquele
período. Com esse suposto paradoxo econômico, os privilegiados gritaram
veementemente para os absurdileiros mais pobres:
- Vocês foram enganados!!! A renda per capita caiu de RL$87,13 para RL$85,49.

Moral da história recente de Absurdil: Os números não mentem; quem mente são os numerólogos quando mexem nos seus numerários.