domingo, 29 de maio de 2016

O silêncio e a ata do golpe - 24 de maio de 2016

24 de maio de 2016






O silêncio e a ata do golpe





De repente, não mais de que repente, fez-se um enorme silêncio.


Aécio Neves ficou calado.


A Avenida Paulista não se encheu de gente de verde e amarelo.


Não se ouviu uma panela repicar no Parcão.


O MBL, o Vem pra Rua e o Revoltados Online ficaram em casa.


A mídia falava da salvação do país pelos novos donos do poder.


Silêncio retumbante sobre a ata do golpe, a escritura da trama, o recibo da operação.


Romero Jucá entregou tudo.


Este fragmento da sua conversa gravada com Sérgio Machado será
estudado pelos historiadores do futuro como um dos documentos mais
insólitos da era do golpe hipermoderno:


JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do
Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela
[Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar
ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando
com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras
dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não
perturbar.


juca


Na ata do golpe, o golpista nomeia seus parceiros: ministros do STF, comandantes militares…


Silêncio ensurdecedor.


Os golpistas trabalham para implantar um programa neoliberal de reformas.


Que importa se alguns deles são corruptos?


Glenn Greenwald, do site The Intercept e colaborador da CNN no
Brasil, anotou no twitter: “Basicamente, se vc é um dos q disse ou
acreditou que não há golpe no Brasil, seus argumentos foram destruídos
hoje”.


Por Romero Jucá.


Só os ingênuos e os mal-intencionados acreditam na neutralidade do STF e dos militares.


Bernardo Mello Franco, colunista da Folha de S. Paulo, rendeu-se: “O
medo do camburão, que deu o tom da conversa, foi o fator decisivo para
estilhaçar a aliança parlamentar que sustentava o petismo. Esse medo
alçou Michel Temer ao comando do que já se chamou, com elegância, de
novo bloco de poder. A gravação revelada pela Folha atesta como
os investigados viram no impeachment a ‘solução mais fácil’ para frear a
Lava Jato, que ameaçava desmontar todo o sistema partidário”.


O golpe, apelidado de impeachment, não foi dado para acabar com a corrupção, mas para mantê-la.


A moralização do país pelo PMDB, PP e PSDB, com ajuda de Paulinho da
Força e outros personagens bizarros, era só um roteiro tão
(in)verossímil como qualquer outro de novela de tevê.


Michel Temer no papel de moralizador é tão convincente quanto o
coronel Saruê de Antônio Fagundes na novela global que dá continuidade
às ficções do Jornal Nacional.


O jornal britânico “The Guardian”, mais uma vez, viu o evidente, o
golpe: uma “trama maquiavélica” para derrubar o governo Dilma Rousseff:
“A credibilidade do governo interino foi abalada na segunda-feira (23)
quando um ministro foi forçado a se afastar em meio a revelações sobre a
trama maquiavélica para levar ao impeachment da presidente Dilma
Rousseff.”


Diante da estupefação nacional, o juiz Sergio Moro soltou a trigésima fase da Lava Jato.


Contra José Dirceu.


Ufa!


Como diria o outro em Casablanca: “Prendam os suspeitos de sempre”.


É vício.

Feitiçaria, golpe e fim de ciclo

Feitiçaria, golpe e fim de ciclo



Feitiçaria, golpe e fim de ciclo

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160427-Ritual


Como em certos rituais indígenas, sistema político busca, pelo
impeachment, purgar seus fantasmas… e se acomodar com isso. Mas tal
farsa só é possível porque um projeto político está esgotado



Por Ricardo Cavalcanti-Schiel | Imagem: Coppo di Marcovaldo, Inferno (1260-70)



O Brasil tem vivido nas últimas semanas uma intensa guerra discursiva.
Na noite do último dia 17 teve lugar seu primeiro desenlace. Por
impressionantes 25 votos além dos dois terços necessários do plenário, a
Câmara dos Deputados aprovou a continuidade do processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff, que vai agora para o Senado, casa que,
conforme a Constituição, tem a “competência privativa” para julgar os
presumidos “crimes de responsabilidade” imputados à presidente e
destituí-la do cargo em consequência disso. No entanto, trata-se de um
julgamento político, no qual o reconhecimento desses “crimes” poderia
não demandar una estrita definição jurídica, como recentemente chegou a
insinuar o STF, cujo presidente dirigirá a sessão de julgamento do
Senado. Disso se trata a guerra discursiva, pois o casuísmo de todo o
processo o torna muito próximo de um simples golpe de Estado.


Algo similar ocorre em algumas sociedades indígenas, com o fenômeno
que os antropólogos chamamos de “acusação de feitiçaria”. Não se trata,
nesse caso, de comprovar a feitiçaria em si, como encadeamento causal
objetivo, mas, uma vez tomada ela como pacífica, põem-se em movimento
outros mecanismos sociais (outros encadeamentos lógicos) que
especificarão a figura do feiticeiro, atribuindo-a a alguém em
particular, seja por conta de seus defeitos éticos seja simplesmente por
conta da fragilidade da sua posição social. A partir daí, vários
destinos podem aguardar os eventuais feiticeiros, inclusive (como em uma
das sociedades em que trabalhei) sua morte a golpes de facão. A
acusação de feitiçaria é quase sempre uma maneira (talvez a mais
contundente) de uma sociedade se purgar dos seus fantasmas… e se
acomodar com isso. Evidentemente que a ausência de objetividade
intrínseca, no caso da acusação de feitiçaria, conspira contra a
episteme jurídica moderna, daí a que os ocidentais muitas vezes chamarem
procedimentos dessa classe de “medievais”. Mas… e na política? pode-se
tudo? inclusive em casos em que se trata de uma irremediável imbricação
com a lógica jurídica, da qual um processo qualquer extrai seu próprio
fundamento de legalidade?


Mais que fragilidade, o governo Dilma parece ter chegado ao ápice da
sua nulidade. Sem iniciativa política, encastelado no mito tecnocrata da
suficiência da gestão, perdendo-se em iniciativas equivocadas,
abraçando programas que traem tudo o que prometeu nas eleições,
caçoando, enfim, dos seus próprios eleitores, o atual governo do Partido
dos Trabalhadores (PT) não se parece em nada com o programa histórico
que alentou essa sigla em suas duas primeiras décadas de existência.
Reflexo pálido do “lulismo”, de seu programa de conciliação de classes e
de uma inclusão via consumo ― sem mover uma palha nos termos da
regulação da cidadania, conforme a lógica pré-existente do privilégio―, o
governo Dilma pretendeu ser a governanta de una casa política em
processo de ruína, uma vez ido abaixo o boom das commodities.
Estabeleceu-se com ministérios provavelmente os mais inexpressivos de
toda a história política brasileira e não soube (tanto quanto não quis)
estabelecer canais de entendimento, seja com os movimentos sociais seja
com os setores produtivos (exceto o agronegócio latifundiário ―para
desespero dos ambientalistas e defensores dos direitos indígenas). Para
culminar, abraçou toscamente o austericídio neoliberal e lançou o país
na maior recessão econômica dos últimos cem anos.


Por outro lado, o programa político do lulismo, sua opção
maximizada pelo consumo e sua escusação da cidadania por meio da
pretensa suficiência dos expedientes assistenciais, engendraram uma
forma de antipolítica que esvaziou não apenas a antes pujante mediação
organizativa da representação social, como também os valores do coletivo
e da participação, em nome do individualismo das “oportunidades”. A
miragem do lulismo consistiu na ideia de que a gestão da máquina
governativa e seus programas cosméticos de distribuição seriam
suficientes para proporcionar uma inclusão social que não precisaria se
traduzir em ampliação de direitos e em nos valores de uma sociabilidade
não excludente. A miragem do lulismo expressou-se, em último
termo, como uma recusa da política, uma recusa da dimensão coletiva e da
representação. A reificação da “gestão”, na figura de Dilma Rousseff, é
apenas a lapidação lógica dessa miragem.


O resultado,
por fim, foi a eleição, junto com o segundo mandato de Dilma, do
parlamento mais conservador desde o final da ditadura; um parlamento
fragmentado em 28 partidos, mas que, na prática, é dominado por um grupo
de 120 deputados pessoalmente fieis ao presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, inimigo encarniçado da presidente, e sobre quem, há 25 anos,
pesam consistentes acusações judiciais por corrupção. A renúncia do PT
em fazer política por meio da mobilização social produziu esse mesmo
Congresso que no último domingo assestou um pesado golpe contra o
mandato da presidente.


Ao se absolutizar o processo de impeachment como julgamento
político, o que os fatos desse domingo propiciariam seria a caução da
absoluta fragilidade do governo no Executivo diante da Câmara ―
presumidamente, esta, uma representação mais “capilarizada” da
sociedade: os representantes do povo “no varejo”. De maneira que,
simbolicamente, o julgamento sobre o mandato da presidente já chegaria
ao Senado em condições de desvantagem para ela. Mais uma vez, estamos em
plena guerra discursiva: se se trata de uma confrontação de
legitimidades ou se se trata de um golpe de força, pura e simplesmente.


Se as acusações de feitiçaria prosperam, em parte, por conta da
fragilidade daquele sobre quem é posta a carapuça de feiticeiro, por
outra parte, a própria feitiçaria precisa ser pressuposta como dada, que
é o que torna eficaz e inexorável a imputação. Aqui entra o discurso
reducionista e messiânico sobre a corrupção, sua mágica de servir como
explicação suficiente e totalizadora para a muita saúva e pouca saúde do
país, como também a midiática mágica seletiva de tornar o PT o padrinho
da corrupção no Brasil, silenciando, oportuna e concertadamente, sobre a
aritmética óbvia que lembraria que a recente Operação Zelotes apurou,
sob a forma de sonegação de impostos por bancos e grandes empresas, um
desvio de 3 vezes o valor apurado como desvios da Petrobrás, e que o
caso Banestado desviou para o exterior, durante os governos FHC
(sobretudo em propinas da privatização das teles), entre 15 e 20 vezes o
valor apurado no mesmo caso Petrobrás. Não é difícil suspeitar que até
hoje as offshores tucanas financiem suas campanhas, comprem fábrica de sorvete e sabe-se lá o que mais.


No que respeita à guerra discursiva, o esforço da direita por caracterizar, a posteriori,
as manobras de compensação orçamentária do Executivo federal,
usualmente praticadas pelos governos anteriores, como crime, consumando
uma tentativa de retroatividade legal, impossibilita que, objetivamente,
se reconheça a existência de crime de responsabilidade. Juridicamente,
ninguém comete crime quando não existe reconhecimento legal do crime. A
retroatividade da lei foi um recurso largamente utilizado pelo Estado
nazista para culpabilizar tanto os seus indesejáveis quanto a
resistência dos países ocupados, como nos lembra Costa-Gavras no
clássico “Sessão Especial de Justiça” (1975). Nossos ilustres deputados,
no dantesco espetáculo de mediocridade proporcionado no domingo,
recusaram-se a sustentar seus votos sobre qualquer argumento
processualmente objetivo. Tratava-se apenas de manejar os códigos de uma
acusação de feitiçaria, na qual, curiosamente, “Deus”, tal como em
processos análogos séculos atrás, foi chamado a ser um dos principais
partícipes. Torna-se bastante óbvio que o processo de impeachment, sobre as bases em que se desenrola, configura um golpe de força por parte da direita, a saber, tão apenas um golpe de Estado.


Nessa guerra, o argumento da defesa da democracia animou a oposição ao impeachment
a ocupar um patamar discursivo mais universal, o da defesa de
princípios elementares da convivência política, congregando toda a
esquerda e a cidadania íntegra, e recusando o particularismo de uma
estrita defesa do “governo Dilma” (ainda que muitos petistas, tão
empedernidos quanto obtusos, assim o queiram entender); governo que
hoje, claramente e por todos os seus méritos, não é defensável senão por
algo como 9% da população.


A direita, como sempre, não está nem um pouco preocupada com esses
escrúpulos. Como é usual, quando se trata da lógica do privilegio, os
caprichos oligárquicos não se pautam por outra coisa senão… seus
caprichos mesmos. Essa sempre foi sua pragmática implacável. Aplicá-la
nunca foi uma questão de necessidade ou de sobrevivência, mas meramente
uma questão de oportunidade. Os governos do PT sempre estiveram cegos
para isso; foram tão arrogantes em suas ingênuas verdades “republicanas”
que desprezaram irresponsavelmente o inimigo. Neste momento, com seus
recursos institucionais, econômicos e midiáticos, é a direita que está
na dianteira. Mas a eficácia da acusação de feitiçaria que ela arremeteu
não seria possível sem um Congresso venal e cínico e, sobre tudo, sem
os erros e a recusa da política por parte do lulismo e da tecnocracia autoritária de Dilma Rousseff.


É possível que o eventual (e até provável) impeachment de
Dilma, dada a crescentemente flagrante ilegitimidade desse processo (aí
incluída sua repercussão na imprensa internacional), acabe, por ironia,
por colocar Lula, o patrimônio carismático maior do PT, em excelentes
condições para fazer frente às próximas eleições presidenciais, caso não
seja antes alcançado pela caçada judicial que já se espera que a
direita lançará contra ele. Não obstante, a novidade de tudo isso é que,
por conta do seu crônico esgotamento político, o PT se mostre incapaz
de capitalizar a indignação gerada no âmbito dessa guerra discursiva,
exatamente no patamar mais universal em que agora está posta ― tal como
outrora, na década de 80, pôde fazê-lo ―; uma indignação que vem também
lastreada como reação ao discurso de ódio propalado pela direita, a
mesma que deixou escapar seus mais íntimos fantasmas: aqueles que têm
como fantasia erótica dar cabo de todos os feiticeiros esquerdistas a
golpes de facão.


A esperança que resta ao PT, portanto, parece ser, cada vez mais
exclusivamente, Lula; o que dobraria a aposta e a expectativa em um
populismo tout court. Ou então, o que se poderia vislumbrar, a
partir da esquerda, seria o começo da gestação de algo para além do
progressismo petista, tal como ele se instalou, e que não parece, na
atual conformação de referências, de forma alguma representado por um
insípido marinismo oportunista que se basta em permanecer à espreita,
alheio à guerra discursiva e às contingências que ela instaura.


Por diferentes meios e diferentes modos, o progressismo
latino-americano parece estar em refluxo nos espaços de governo (não
necessariamente equivalentes a espaços do poder) que vem ocupando no
continente, seja através de eleições, golpes parlamentares ou crises
intermináveis. O que parece comum a todos os casos não é a existência ou
legitimidade de projetos alternativos ― a direita, de sua parte, não
tem outra alternativa que não reinstaurar a plenitude institucional e
regulatória da lógica do privilegio ―, mas sim os impasses a que
conduziram suas próprias insuficiências.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Camila Pitanga: "Cadê o panelaço agora?" | Brasil 24/7

Camila Pitanga: "Cadê o panelaço agora?" | Brasil 24/7










Por Revista Forum


Camila Pitanga foi com a filha ao Edifício Gustavo Capanema, no Rio
de Janeiro, para prestar solidariedade aos artistas que permanecem
mobilizados contra o governo de Michel Temer. A atriz gravou um vídeo em
que afirma que as manifestações continuarão, mesmo com a decisão do
presidente interino de recriar o Ministério da Cultura.


No depoimento, ela ainda questionou aqueles que foram às ruas para
pedir a saída da presidenta Dilma Rousseff. “Acho importante chamar a
atenção para essas pessoas que brigaram tanto contra a corrupção e que
lutaram a favor do impeachment. Será que não dá para haver uma reflexão
do que a gente está vivendo agora? Do que está significando esse
desgoverno? Será que era isso que as pessoas estavam querendo? Cadê o
panelaço? A briga é nossa”, enfatizou.


Assista:


 












Cadê os paneleiros hipócritas, mentirosos e desavergonhados?

Cadê os paneleiros hipócritas, mentirosos e desavergonhados?

 







Cadê os paneleiros hipócritas, mentirosos e desavergonhados?





:





Apoiar quem está no governo é extremamente penoso, a menos que você
esteja entre os que são beneficiados pessoalmente por seu governismo.
Como esse nunca foi o caso deste blogueiro – tanto nos governos do PT
como nos anteriores –, estou amando ser oposição de novo, em um momento
em que os ex-oposicionistas têm que mostrar a que vieram.


Ser governo implica em o governista ter que explicar por que defende
aquele projeto político-administrativo – e, convenhamos, durante 11 dos
13 anos de governos do PT nunca foi muito difícil explicar meu apoio aos
governos Lula e Dilma.


Até 2014, quando me perguntavam por que eu apoiava o PT eu mandava
quem me questionasse ir vasculhar o site do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). A perscrutação do referido site revela
que os governos Lula e Dilma civilizaram o Brasil. A pobreza, a miséria,
a desigualdade e o desemprego despencaram e dispararam a renda média do
trabalhador, os empregos formais, o ingresso no superior, enfim, subiu
muito o padrão de vida dos brasileiros de todas as classes sociais.


A vida melhorou mais, obviamente, entre os mais pobres, entre os que
mais precisavam melhorar, entre aqueles que era justo que melhorassem
antes. E aí estava a razão para o topo da pirâmide social querer tirar o
PT do poder.


Agora, porém, ficou claro que a gritaria da elite, da grande imprensa
e de partidos políticos oposicionistas contra os governos do PT, sob
alegação de que aquele comportamento era “combate à corrupção”, nunca
passou de balela.


Desde a madrugada de segunda-feira 23 de maio, os fatos desmascararam
hipócritas que, ao longo de uma trinca de anos, com suas manifestações
desavergonhadas vinham vendendo a teoria de que não toleravam nenhum
tipo de corrupção. Balela. Não toleram corrupção – ou suposta corrupção –
dos outros, mas amam a dos amigos, sócios, parentes, aliados ou mesmo
dos políticos que vociferam “ideias” e “ideais” com os quais concordam


Se tivessem um pingo de ética, um pingo de decência, o mínimo que os
paneleiros deveriam fazer, após a gravação de Jucá desmascarar o golpe,
seria repudiar a armação que resultou no afastamento da presidente da
República.


Senão, vejamos: um dos artífices do processo que culminou no
afastamento de Dilma é flagrado em escutas nas quais confessa que esse
afastamento é uma trama destinada a atrapalhar investigações policiais
contra quem a tirou do cargo. Precisa de mais o quê para entender que o
impeachment fez uma pessoa inocente ser punida em troca da impunidade
dos culpados?


Seja como for, no primeiro dia útil desta semana caiu uma infinidade
de máscaras. Além das máscaras dos golpistas e dos paneleiros das
varandas gourmet, caiu máscara da mídia golpista, a comandante do golpe.


A Globo resistiu o dia todo a divulgar a gravidade do caso envolvendo
o agora ex-ministro do Planejamento Romero Jucá. Na noite da última
segunda-feira, porém, ela teve que se render ao cataclísmico noticiário
na internet e, assim, o Jornal Nacional teve que fazer barba, cabelo e
bigode sobre fatos que comprovaram, cabalmente, que o golpe era mesmo
golpe.


O JN teve que divulgar um verdadeiro linchamento público dos tucanos,
feito por Romero Jucá, enquanto este reinventava o conceito de
“boi-de-piranha” (bode expiatório)





O JN teve que mostrar Temer sendo chamado de golpista





O JN teve até que noticiar elogios de Temer a Romero Jucá, que acaba
de ser flagrado planejando um golpe de Estado com a finalidade de
obstruir a Justiça





O noticiário da Globo sobre o surgimento da prova de que o golpe é
golpe, por sua vez, não foi voluntário; foi, digamos assim, coercitivo. A
emissora pretendia manter o clima “banal” que Jucá tentou conferir às
próprias declarações criminosas, mas não colou.


O noticiário sobre Jucá foi jogado para o fim do Jornal Nacional
porque foi feito às pressas, após o ministro “renunciar”. Isso é o que
explica o telejornal ter anunciado a matéria sobre o caso em sua
“escalada” – apresentação das manchetes do dia, no começo da edição do
telejornal –, mas só ter veiculado a matéria no fim da edição.


O fato é que, com liberdade de informação e opinião, é muito difícil,
se não impossível, sustentar a versão de que um golpe não é golpe.


Em termos históricos, já é cabalmente impossível manter a versão de
que o impeachment de Dilma foi um ato legal. A avalanche de fatos que
desmascaram o golpe não deixa a menor possibilidade de os livros de
história negarem que em 2016 o Brasil sofreu um golpe de Estado
engendrado e perpetrado por setores do Judiciário, grupos de mídia e
partidos de oposição.


Na prática, o Brasil vive hoje uma ditadura judiciária. Romero Jucá
revelou ao mundo que houve um golpe no Brasil, denunciou a Justiça
brasileira, disse que ela pararia a Lava Jato se o governo Dilma fosse
derrubado.


Enquanto o Judiciário e a própria Lava Jato não prenderem aqueles que
Jucá disse que acabariam sendo presos pela Operação se Dilma não fosse
derrubada, restará intocada a suspeita (agora) escandalosamente
disseminada de que a presidente foi derrubada para interromper
investigações que poderiam atingir inclusive a oposição e, quem sabe,
até a própria mídia oposicionista.


A derrubada de Dilma tira o PT de cena e coloca o PMDB e o PSDB.
Viraram vidraça. Não adianta acharem que poderão começar a berrar
“Lula”, “Dilma”, “PT” quando forem cobrados ou quando começarem a surgir
denúncias.


Diante das gravações envolvendo Romero Juca que mostraram que Dilma
foi derrubada para interromper a Lava Jato, é ensurdecedor o silêncio
das varandas gourmet, onde as panelas, antes tão eloquentes, agora
permaneceram silentes, cúmplices de Cunha, Jucá, Temer e do resto da
quadrilha golpista que estuprou a democracia rasgando 54 milhões de
votos.


Não foi só o golpe que foi desmascarado, foram desmascarados os
grupos que pregaram o impeachment e, assim, foram cúmplices de um crime.

A trama do golpe

Quem paga o pacto? - 26/05/2016 - Laura Carvalho - Colunistas - Folha de S.Paulo

Quem paga o pacto? - 26/05/2016 - Laura Carvalho - Colunistas - Folha de S.Paulo




laura carvalho
Laura Carvalho é professora do
Departamento de Economia da FEA-USP com doutorado na New School for
Social Research (NYC). Escreve às quintas-feiras.











Quem paga o pacto?

O presidente interino, Michel Temer, ao comunicar o afastamento de
Romero Jucá do seu ministério, registrou "o trabalho competente e a
dedicação do ministro Jucá no correto diagnóstico de nossa crise
financeira e na excepcional formulação de medidas (...) para a correção
do deficit fiscal e da retomada do crescimento da economia".





O pacto confessado por Jucá na gravação de Sérgio Machado, cujo conteúdo
foi divulgado nesta Folha na segunda-feira (23), não deve conseguir nem
uma coisa nem outra. Em vez de técnicos notáveis, fica claro que quem
manda na economia do governo provisório são os políticos. E que
políticos! Temer esclarece, aliás, que Jucá continuará dando as cartas
desde o Senado.





A redução da meta fiscal para um deficit de R$ 170,5 bilhões em 2016
apresentada pelo ex-ministro interino –que teve muito mais tempo para
planejar o golpe do que o Orçamento deste ano– difere da proposta de R$
96,7 bilhões do ministro Nelson Barbosa ao prever menor
contingenciamento de despesas e nenhuma nova fonte de receita.





A política econômica começa, assim, a acertar as contas. No que poderia
ser classificado como mais um caso de keynesianismo fisiológico, o
aumento da previsão de deficit já aprovado no Congresso, em vez de abrir
mais espaço para os investimentos e a criação de empregos, garante
recursos para os sócios do golpe nos Poderes Executivo e Legislativo.





Já para os que conspiravam de fora da Esplanada, o governo sinaliza que
manterá o regime de tributação regressivo, as desonerações fiscais e os
fundos necessários para, por exemplo, o escandaloso reajuste do
Judiciário.





Seguiu-se na terça-feira (24) a apresentação de um conjunto de medidas
de médio prazo para a contenção de gastos. A antecipação de pagamento de
R$ 100 bilhões dos R$ 480 bilhões repassados do Tesouro ao BNDES, além
de possivelmente ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal, não tem efeito
imediato sobre a dívida líquida (que deduz o valor dos ativos do
governo).





A manobra, que poderia gerar uma economia de R$ 7 bilhões anuais em
subsídios, deve prejudicar o financiamento de longo prazo para
investimentos em infraestrutura em caso de retomada do crescimento.
Pouco importa. O BNDES sempre pode voltar ao papel de mero vendedor de
ativos públicos que tinha nos anos 1990.





O roteiro é velho conhecido. Identificada a crise, exige-se um ajuste
fiscal rápido e brusco pela via do corte de gastos e investimentos. Com a
crise agravada e os juros mais altos, a dívida pública continua a
aumentar. Pronto. A oportunidade está criada para promover as
privatizações e a redução estrutural do papel do Estado na economia.





Já as vítimas do golpe terão de sofrer, por exemplo, com o cancelamento
da terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, a desvinculação do piso
previdenciário do salário mínimo e, por meio do artifício do
estabelecimento de um teto para o crescimento das despesas dado pela
inflação do ano anterior, com a desobrigação dos gastos constitucionais
com saúde e educação.





Os analistas agora saúdam o deficit maior como um exemplo de
transparência, responsabilidade e pragmatismo fiscal. Garantidos os
privilégios e a perpetuação da desigualdade na renda, sanar as contas
públicas deixa de ser uma palavra de ordem. Na Patópolis, a verdade é a
história da fraude.

S.O.S. - 26/05/2016 - Janio de Freitas - Colunistas - Folha de S.Paulo

S.O.S. - 26/05/2016 - Janio de Freitas - Colunistas - Folha de S.Paulo












S.O.S.

Um país com suas continhas orçamentárias bem ajustadas, dívida em
extinção –e, pior do que estagnado, de volta aos níveis imorais de
miséria, pobreza, desordem, ensino em retrocesso constante, saúde
pública em coma terminal, indústria nacional desmantelada, desemprego e
violência urbana. É o que se pode vislumbrar para os anos vindouros, se
efetivadas as medidas que Henrique Meirelles e Michel Temer apresentaram
–com o devido cuidado da imprensa para maquiar umas e encobrir outras–
como pacote primordial da aventura que iniciam.





A medida central, que consiste em estabelecer um teto permanente para os
gastos do governo, só aumentado na proporção da inflação anual
anterior, traz para o país uma perspectiva fácil de se presumir.





Mesmo Dilma Rousseff reconhece, entrevistada para a revista "Carta
Capital", o desastre econômico que foi 2015. Tudo no Brasil se
deteriorou com intensidade assombrosa. A desgraceira que cresce, a ponto
de atingir o olimpo das empresas financeiras, é apenas a continuidade
de 2015 (por favor, nada de dizer "o ano que não acabou"). Os serviços
públicos estão em pandarecos, os investimentos desabaram, as
universidades desmilinguem, tudo é assim. Apesar disso, o gasto
contabilizado do governo no ano passado foi de R$ 1,16 trilhão.





A esse montante, um exercício de Gustavo Patu, na Folha desta
quarta-feira (25), aplicou as medidas propostas por Meirelles sob o
olhar um tanto vago de Temer. Constatação: o 2015 de Meirelles teria os
seus gastos limitados a R$ 600,7 bilhões. Metade, pode-se dizer, do
gasto realizado. Por mais que tenha havido desperdício de dinheiro
público naquele trilhão, não há como evitar a conclusão de que a
brutalidade do corte proposto para a nova política econômica só pode
trazer ao país a degradação da degradação. Se com um trilhão o país está
em estado deplorável, com gastos pela metade pode-se imaginar como
estará.





Ou melhor, nem estará. O crescimento econômico depende do investimento
estatal que o inicie e o estimule. A iniciativa privada no Brasil (e não
somente no Brasil) é privada mas não iniciativa. Meirelles não se
ocupou dos investimentos, na apresentação inicial do plano, porque nem
era necessário: o teto do Orçamento, corrigido só pela inflação, já
indica a exiguidade de investimento em proporções mobilizadoras e de
interesse por tê-lo.





Por falar em nisso, Michel Temer comparou-se de raspão a Juscelino. Mas
quem Temer faz lembrar é Collor com a combinação de loucuras e violência
que aplicou como plano econômico. Não é inovadora, portanto, a
complacência quase envergonhada com que a imprensa se faz colaboradora
de Temer, como preço –autêntica liquidação de outono –de não ter o PT no
governo nem o risco de Lula em 2018. Depois, lava-se a história, com ou
sem jato. Mas o malabarismo praticado por muitos comentaristas oferece
um lado cômico nessa história de salvar o salvador perdido.





Do cômico ao trágico: o corte proposto contra a educação é também contra
os jovens de hoje e as próximas gerações de estudantes; o corte
proposto contra a saúde é também contra as gestantes, as crianças e
todos os carentes. Ambos são agressões ao espírito da Constituição e
suas intenções de reparação social da nossa história de injustiças e
perversidades.





A educação tem hoje, por garantia constitucional, ao menos 18% do
arrecadado com impostos. A saúde tem garantia semelhante, em menor
percentual. O plano Meirelles retira da educação e da saúde essa
garantia de um mínimo que leve a ampliar e estender a educação, como se
deu nas últimas décadas, e atenuar os problemas persistentes na saúde
pública. Os valores ficarão congelados, com futuros acréscimos
correspondentes apenas à fictícia correção pela inflação. Note-se que o
ponto de partida, nesse congelamento, é o percentual deste ano de baixa
arrecadação. Logo, educação e saúde já começam com perda substanciosa.





Contas certinhas (no diminutivo, sim, porque serão cada vez menores),
que beleza. Para um futuro condenado sobre um presente caótico.

A MAIOR AMEAÇA QUE PAIRA SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO

A MAIOR AMEAÇA QUE PAIRA SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO



A MAIOR AMEAÇA QUE PAIRA SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO


Por Dalton Rosado
“O Poder Judiciário é o 
cutelo dos poderosos”
                                                            (frase pichada num muro)
O
capitalismo é uma corrupção em si. Para comprovar essa afirmação, basta
responder a quatro perguntas: a) como o capital se acumula? b) por que
aquele que trabalha produzindo valor não tem acesso a todas as
mercadorias por ele produzidas? c) o que é o mercado? o que é o estado?



Respondendo sucintamente:
a)
o capital somente se acumula a partir da apropriação indébita pelo
capital do valor produzido pelo trabalhador, processo que se opera com a
chamada extração da mais-valia, na qual o trabalhador não recebe
integralmente o quantitativo de horas trabalhadas expresso em valor. As
horas não pagas (trabalho excedente, segundo Marx nos
Grundrisse, Editora Boi Tempo, 2011) são apropriadas pelo capital, e essa é a corrupção original; 
 
b) o trabalhador, excluindo-se apenas uma pequena parte da população trabalhadora (a chamada aristocracia operária,
profissionais liberais, altos funcionários públicos, etc.) não consegue
comprar as mercadorias caras que ele próprio fabrica. Por exemplo, o
pedreiro que constrói um apartamento de luxo, depois de pronto, sequer
pode atravessar os umbrais da portaria. Isso ocorre porque os valores
dos bens produzidos são sempre superiores ao valor que ele recebe por
essa produção, e assim, ele vai morar na favela ou no
minha casa, minha dívida, e ainda se dando por satisfeito; 
 
c)
é no mercado, onde se comercializam as mercadorias produzidas pelo
trabalhador, que se opera a circulação das mercadorias, que nada mais é
do que o local onde o capital é trocado de modo cumulativo, ou seja,
troca-se dinheiro (representado por uma mercadoria qualquer) por mais
dinheiro em espécie, e ali o capital embolsa aquilo que roubou do
trabalhador; 
 
d) o Estado é a esfera de poder que dá sustentação material e jurídico-institucional ao capitalismo. 
Para
dar sustentação a essa corrupção original, da qual deriva toda a
miséria social que ora se aprofunda pelas contradições próprias do
sistema produtor de mercadorias, existe todo um sistema
jurídico-institucional que separa o que é legal do que é ilegal. 




O
roubo capitalista original, que como vimos é patrocinado pela
apropriação indébita de parte das horas de trabalho do trabalhador, é
permitido pela lei; o roubo de galinha é punido como crime. Assim,
vivemos numa estrutura jurídica na qual acumular riqueza por cima da
mesa (leia-se:
roubando o trabalhador) é permitido 
—assim como era legal, no Brasil de pouco mais de 120 anos atrás, ser-se proprietário de um ser humano escravizado—, mas o Código Penal considera crime aquilo que seja tipificado como obter dinheiro por baixo da mesa. 



Graças
esse regramento que define o que é roubo permitido e o que não é,
enquadra-se o peculato (apropriação indébita do dinheiro do Estado) como
uma prática passiva de punição, em defesa desse mesmo Estado que cumpre
importante função na negatividade sistêmica.




Mas,
além de corrupto, o capitalismo é, também, a contradição em si. Graças
às suas contradições é que o processo de escolha dos dirigentes das
instituições estatais do Legislativo e do Executivo pelo voto é maculado
pelo corruptor poder econômico. 


Todos
nós sabemos que a hegemonia eleitoral é determinada por quem detém o
poder econômico; e como os altos salários dos dirigentes não são
suficientes para o financiamento de campanha, a corrupção eleitoral
entra no processo como faca amolada em melancia. 




É o grande capital quem financia as campanhas eleitorais mundo afora, por interesse de manutenção do status quo
sistêmico, principalmente; mas, também, porque o grande capital obtém
do Estado concessões de serviços públicos e construções gigantescas das
quais retiram seus lucros. O repasse de parte desses lucros para os
políticos e seus partidos é uma prática sistêmica histórica, atual e
futura.   
O
que se assiste no Brasil, atualmente, é a iniciativa de um magistrado
que pegou a ponta do fio da corrupção nacional endêmica e histórica, e
resolveu puxar todo o novelo com o auxílio das instituições do estado
que teoricamente existem para combater o que seja considerado crime, ou
seja, a Polícia Federal e Ministério Público (razões subjetivas para o
denodo ora observado à parte). 




E
aí a podridão do sistema foi escancarada, pois se adotou um mecanismo
de pressão que oportuniza a delação como prêmio e os envolvidos passaram
a denunciar-se uns aos outros.




Mas,
como o sistema é corrupto na essência e não funciona sem a corrupção,
estabelece-se mais uma contradição: as maiores empresas nacionais
definham; a economia, que já está paralisada por seus próprios
fundamentos, é ainda mais paralisada; o segmento político e a política
se desmoralizam; enfraquece-se a credibilidade creditícia financeira
pública e privada; a insatisfação popular alcança limites do
insuportável; evidencia-se a incapacidade do Estado de prover as
demandas sociais básicas e até do pagamento do funcionalismo público,
etc., etc., etc. 




Resumo
da opereta: o combate à corrupção não permitida conspira contra a
natureza do capital, e não o contrário. Nesse contexto, a função
jurisdicional patrocinada pelo Poder Judiciário, órgão do Estado, é que é
financiado pelo próprio sistema produtor de mercadorias, evidencia mais
essa contradição estrutural sistêmica. 


O
Poder Judiciário é parte da engrenagem estatal que dá sustentação ao
capitalismo, e, neste sentido, é parte da corrupção oficial,
capitalista, legalmente permitida. Paradoxalmente, quando a Justiça
Pública estatal se propõe a combater a corrupção não permitida, coloca
em xeque o próprio sistema e a si própria, razão pela qual já há muita
gente grande
querendo barrar as investigações da Operação Lava Jato e suas
consequências, embora não admitam isso publicamente (vide conversa
vazada do já ex-ministro do Planejamento do governo do Presidente
Temerário, Romero Jucá, o brevíssimo). 



A Operação
Lava Jato nada mais é do que uma explicitação das contradições de um
sistema corrupto por natureza, além de uma evidência da sua completa
exaustão como modo de relação social. 




A
Justiça Federal do Paraná, que promove o combate à corrupção, vai
decerto sofrer, já e já (infelizmente!), as consequências das
contradições sistêmicas que afloram a partir dos seus próprios êxitos.
Sabe-se lá quanto restará da aclamada faxina depois de as esferas dos
Tribunais Federais Superiores coibirem seus  ditos 
excessos. ..




É esperar pra ver.