domingo, 27 de maio de 2012

Repórter ouve o desmentido... e pede desculpas pelo furo

Repórter ouve o desmentido... e pede desculpas pelo furo

Um belo repórter que consegue um furo -  Nelson Jobim desmentindo com detalhes a versão de Veja. Mas que se sente obrigado a pedir desculpas por fazer jornalismo e a questionar o que acabou de ouvir valendo-se do teste da "voz estranha".
Meu Deus, onde jogaram o jornalismo desse país, que precisa se desculpar quando trabalha corretamente?
PS - Pessoal, sem condenação do repórter. Ele trabalhou dentro das limitações que acometem os jornalistas atuais. Mas passou seu recado.
Da Rádio do Moreno
VAZAMENTO

Um fato e duas versões: Gilmar e Jobim

Um fato e duas versões. Em "furo" de reportagem, a Revista Veja revela um encontro de Lula com Gilmar Mendes no escritório de Nelson Jobim em Brasília. A conversa foi tenebrosa, pelo que se lê na revista. Indignado com o assédio, Gilmar Mendes, num gesto de coragem, confirmou tudo à revista.
Pois bem, acabo de falar com o anfitrião do encontro, Nelson Jobim, que está neste momento passeando por uma feira em Itaipava, em companhia da mulher Adrienne e de amigos do casal. Jobim confirma o encontro, mas nega seu conteúdo. Eis o resumo do seu relato à Radio do Moreno;
Conteúdo da conversa: ---- Não houve nada disso do que a Veja, segundo me informaram, está publicando. Estou aqui em Itaipava e soube desse conteúdo através de um repórter do Estadão, que me procurou há pouco. Portanto, estou falando sem ter lido a revista. Mas, posso assegurar que, se o conteúdo for mesmo esse, o de que Lula teria pedido a Gilmar para votar no mensalão, não é verdade. Quem tocou no assunto mensalão fui eu, no meio da conversa, fazendo a seguinte pergunta: " Vem cá, essa coisa do mensalão vai ser votada quando?". No mais, a conversa girou sobre assuntos diversos da atualidade."
Razão do encontro: ' ---- Desde que deixei o ministério, o presidente Lula tem me prometido uma visita. Três dias antes, a assessora Clara Ant me ligou dizendo que o presidente Lula iria a Brasília conversar com a presidente Dilma numa quarta-feira e que retornaria no dia seguinte, mas antes queria falar comigo. De pronto, respondi que o encontro poderia ser na minha casa, no meu escritório ou em qualquer outro lugar que o presidente quisesse. Lula optou pelo meu escritório, não só porque tinha prometido conhecê-lo, mas, também, porque fica perto do aeroporto. E assim ocorreu."
Presença do Gilmar --- O Gilmar e eu estamos envolvidos num projeto sobre a Constituição de 88 e temos nos reunidos sistematicamente para tratar do assunto. Por coincidência, o Gilmar estava no meu escritório, quando o presidente Lula apareceu para a visita. Conversaram cerca de uma hora, mas só amenidades. Em nenhum momento, Lula e Gilmar conversaram na cozinha. Aliás, Lula não esteve na cozinha do escritório.
Repercussões do fato --- Agora, não posso controlar as versões, especulações, que a mídia e as pessoas fazem desse encontro. Faz parte do jogo. O que eu posso dizer é que não houve nada disso.
Diante do relato de Jobim, eu, como repórter crédulo, diante de fonte tão idônea, poderia me dar por satisfeito e fazer um texto jornalisticamente convencional, tipo " Jobim nega pressão de Lula" ou, como nós furados gostamos de fazer, com muita satisfação: " Jobim DESMENTE a Veja".
Mas, durante a conversa, eu notei a voz estranha do Jobim. Ele estava cumprindo um rito, um protocolo, um dever de anfitrião de evitar mais constrangimento a si e a outros atores do espetáculo. Os bons repórteres, como os meninos da Veja, Cabral á frente, são uma espécie de Eike Batista às avessas: "Vazou, furou". Com a notícia na rua, o encontro secreto de Jobim, que tinha um proposito, pode ter outro, o de tentativa de coação de juíz ou coisa que valha. Seria coerção? sei lá.
Nelson Jobim, meu velho amigo de guerra, não ia me deixar na mão. Repito, como anfitrião, não poderia confirmar o escândalo. Mas me deu uma pista através de um controvertido depoimento. Inicialmente, me disse que a presença de Gilmar foi mera coincidência, do tipo " ah, eu estava passando por aqui...". Só que o próprio Jobim deixou escapar que o encontro fora marcado com três dias de antecedência. Logo, Gilmar sabia que naquele horário daquela quinta-feira, Jobim estaria recebendo Lula. Então, não foi surpresa nem coincidência coisa nenhuma.
E deixo pra botar no pé, o fim do mistério. Amiga minha, de Diamantino (MT), terra de Gilmar Mendes, a meu pedido, localiza Gilmar. E se atreve a perguntar se era tudo verdade:
   ---- Claro que é! Eu mesmo confirmei tudo à revista.

Jornalista Moreno se defendeu nas entrelinhas


Por Weden
Sobre a história inventada pela Veja, observamos dois momentos fabulosos de como jornalistas podem se defender, mesmo quando pressionados. Um foi o próprio modo como ele construiu o post. O outro, o modo como ele jogou com o twitter.
Sábio, o experiente jornalista Jorge Bastos Moreno deixou escapar dicas para os leitores mais atentos.
A primeira é como ele mostra que "o encontro não foi casual".
Vamos ao trecho:
"Só que o próprio Jobim deixou escapar que o encontro fora marcado com três dias de antecedência. Logo, Gilmar sabia que naquele horário daquela quinta-feira, Jobim estaria recebendo Lula. Então, não foi surpresa nem coincidência coisa nenhuma"
Viram? Nesta versão, Gilmar sabia do encontro de Jobim com Lula e foi até lá. Ora, se déssemos crédito, poderíamos dizer que GIlmar foi procurar Lula para ser pressionado.
Mas é lógico que Moreno não afirmaria isso. Deixou que esta versão insólita vazasse justamente para alertar seus leitores de que a história da Veja não tem pé nem cabeça.
Por outro lado, ao dizer que Gilmar sabia do encontro e nada disso foi coincidência, Moreno nos informa, nas entrelinhas, que foi Gilmar quem procurou o encontro a três, bem antes da asessoria de imprensa de Lula informar.
Ou seja, Moreno trouxe uma contra-informação capital (fingindo, no entanto, que só reforçava a versão da Veja).
A pergunta óbvia seria: Para quê? Qual o motivo que levaria Gilmar a pedir o encontro?
O próprio Moreno responde no final de um parágrafo cheio de ambiguidade: Coerção? Sei lá.
Além disso, no fim do post, ele usa a ironia, que lhe é típica:

E deixo pra botar no pé, o fim do mistério. Amiga minha, de Diamantino (MT), terra de Gilmar Mendes, a meu pedido, localiza Gilmar. E se atreve a perguntar se era tudo verdade:

   ---- Claro que é! Eu mesmo confirmei tudo à revista.
Observem ainda qual é a palavra que aparece toda em caixa alta (maiúsculas?): "DESMENTE".

Outro expediente usado por Moreno foi uma retuitagem. Ele simplesmente retuíta uma acusação. O que se transforma numa auto-acusação.
É lógico que Moreno, não intervindo na acusação, quis mostrar que não tinha o controle sobre a estranha versão do blog.
Ao final, ele deixa a mensagem mais forte: Surreal!
Observe:
@RadiodoMoreno Mas o próprio Jobim, que testemunhou tudo, desmente a versão do Gilmar e da Veja o Moreno ainda insiste??????? Surreal!

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