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Publicada no jornal O Sul em 11/06/2011
A METÁFORA DA CORRUPÇÃO E A CHURRASQUEIRA – O INÍCIO
Era uma vez um povo que vivia feliz em uma floresta. Vegetariano, não sabia dos prazeres da carne (fixemo-nos na ambiguidade). A falta de predadores naturais fez com que a população de porcos explodisse. Certo dia, um incêndio, fortuito, dizimou parte da floresta, queimando muitos porcos. O povo sentiu pela primeira vez o cheiro de leitão à pururuca…! E caiu de boca. Desbragadamente. Passado algum tempo, as pessoas queriam mais carne assada. E, prontamente, incendiaram mais florestas. E assim se sucedia. Fome por carne, florestas ardendo.
O EXTRATIVISMO I – SUGAR TUDO DO FLORESTÃO
Com o tempo, as florestas escassearam. Alguém teve a ideia de plantar novas florestas, para que pudessem ser queimadas e, assim, assar mais porcos. E assim se fez. Mesmo assim, faltou floresta. Então, implantaram faculdades onde se estudavam técnicas pelas quais se plantavam árvores que cresciam mais rapidamente e, assim, mais porcos podiam ser assados… Novos métodos chegaram a multiplicar o espaço plantado e a redução no tempo de crescimento das árvores em até vinte (captaram?) vezes. Havia florestas “classe A” que já produziam porcos temperados. Suculentos. E sem colesterol.
O EXTRATIVISMO II – O CRESCIMENTO DA “MÁQUINA”
O ápice foi quando criaram um sistema complexo de controle estatal do plantio de árvores, das queimadas, dos impostos sobre os porcos, etc. Siglas e mais siglas. Controladorias, polícias, ministérios, juizados, tribunais, defensorias (sem falar nos milhares de cursinhos de preparação para os concursos públicos…). Ah, também havia TC’s (Us e Es). Tudo para controlar esse “sistema”. Sim, havia muitas consultorias. E ONG’s. Tudo gravitava em torno do “florestão” (chamemos de Estado). Festa! Um senador (socialista) gastou 25 mil pés de porco (essa era a moeda) com dentista, mandando a conta para o Senado (sim, havia Senado). Claro, para comer tanta carne, bons dentes. Vagas nos hospitais? Nem falar. Ora, os florestinos (nome dos nativos) que mastiguem folhas.
SÓ LADRÕES DE PORQUINHOS…
Como funcionava isso tudo? Bem, toda essa estrutura servia para “pegar” os “ladrões de porquinhos” (choldra) e proteger as grandes plantações de árvores e os grandes vendedores de porcos assados. Nos últimos anos, não havia notícia de que algum “ladrão de porco de colarinho branco” (ou seria “ladrão de colarinho branco de porco”?) tenha sido apanhado. Bem, até houve um caso (o de um banqueiro, dono de muitas florestas), pego pela famosa operação “sátira-agarra”. Esta, no entanto, foi anulada pela aplicação da tese dos “frutos da árvore envenenada”. Percebem? Árvores, florestas… Sem fazer trocadilho, mas dizem que não havia a “fumaça do bom direito” (fumaça, fumus, florestas…). Outro dado: enquanto pela Lei da Lavagem de Pés-de-Porco foram condenados apenas 17 pessoas em 13 anos, houve mais de 150.000 condenações de ladrões de rabo-de-porco (conhecidos na Floresta como “pés-de-chinelo”).
O SUPERFATURAMENTO
Para se ter uma ideia: todo o material vendido para o Florestão, como mudas, adubo, fósforos, máquinas de ensacar fumaça, custava, segundo a revista “de olho na floresta”, até 145% a mais. Consta, ainda, que a Copa das Florestas iria custar 25 bilhões de dólares (1 U$ = 1,60 PDP). Para isso, será acelerada a queima de florestas. Serão plantadas 9 novas florestas. Houve até a liberação das licitações para compras de mudas e fósforos.
CONCLUSÃO
Tudo anda(va) “bem” até que chegou um sujeito e disse: não entendo. Para que incendiar tanta floresta, para que tanta tecnologia para multiplicação de florestas, imensas e caras estruturas superpostas, etc? Não seria mais fácil construir churrasqueiras para assar a carne? Fácil de controlar, menos corrupção, menos gastos estatais. Ao que os líderes, com os bigodes engraxados, responderam: isso a gente já sabe. O problema é: “o que é que a gente vai fazer com toda essa estrutura já montada”? Ao longe, era possível ver novos incêndios…! E todos se regozijavam. Afinal, onde há fumaça, há fogo! Sem trocadilho.
PS: esta metáfora me foi contada em um supermercado de terrae florestalis. Na hora em que eu estocava comida…!
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