domingo, 28 de junho de 2015

Só um idiota para acreditar no ‘escândalo’ da UTC

Diário do Centro do Mundo » Só um idiota para acreditar no ‘escândalo’ da UTC. Por Paulo Nogueira



Só um idiota para acreditar no ‘escândalo’ da UTC. Por Paulo Nogueira





Postado em 28 jun 2015

Somos todos idiotas.


É, pelo menos, o que a grande mídia pensa.



O ridículo estardalhaço em torno das alardeadas revelações do dono da
UTC ultrapassa todos os limites do descaro, da hipocrisia e da
desonestidade.


Colunistas – os suspeitos de sempre –parecem fingir que acreditam nos disparates que escrevem.


Mais uma, o coro é pelo impeachment de Dilma. Dia sim, dia não,
aparecem supostas novidades que levam os colunistas das empresas de
mídia a gritar, histéricos, pelo fim de um governo eleito há pouco tempo
com 54 milhões de votos.


O caso particular do UTC é icônico.


Todos os holofotes vão, condenatórios, para Dilma e para o PT, pelo dinheiro dado para a campanha petista.


Foram, segundo cálculos de um site ligado à Transparência Brasil, 7,5 milhões de reais.


Não é doação: é achacamento, propina, roubo.


Ninguém diz que a campanha de Aécio levou ainda mais da UTC: 8,7 milhões.


Neste caso, não é propina, não é achaque, não é roubo. É demonstração
de afeto e reconhecimento pelos dentes brancos do candidato Aécio.


E eles querem que a sociedade acredite nesse tipo de embuste.


A mídia presta mais um enorme desserviço ao Brasil com essa manipulação grosseira e farisaica.


Você foge do real problema: o financiamento privado de campanhas, a forma como a plutocracia tomou de assalto a democracia.


É um problema mundial, e não apenas brasileiro. Dezenas de países já
trataram de evitar que doações de grandes empresas desvirtuem a voz
rouca das ruas e das urnas.


No Brasil, a mídia não trata desse assunto, em conluio com políticos
atrasados e guiados pelo dinheiro, porque se beneficia da situação.


Nem o mais rematado crédulo compra a história de que as doações empresariais são desinteressadas.


A conta vem depois do resultado, na forma de obras ou leis que beneficiam os doadores.


Veja os projetos de Eduardo Cunha, para ficar num caso clássico, e depois observe as companhias que o têm patrocinado.


Em alguma publicação, li até uma lição de moral na forma como o PT
teria abordado o dono da UTC para pedir dinheiro para a campanha de
Dilma.


A abordagem não teria sido “elegante”.


Imagina-se que quando o PSDB solicita dinheiro seja coisa de lorde
inglês, pelo que pude entender: ninguém fala em dinheiro, ninguém toca
em dinheiro. É como uma reunião social, entre amigos, em que o dinheiro é
a última coisa que importa.


Como disse Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.


Outro crime jornalístico que é cometido é dar como verdadeiras quaisquer coisas ditas nas delações, como se elas estivessem acima de suspeita.


Quer dizer, esse tratamento só vale contra o PT. Quando se trata dos
amigos da mídia, aí sim entram as ressalvas. Há que investigar, provar
etc – coisas que absolutamente não valem para o PT.


Que a imprensa, movida pelo interesse de seus donos, aja assim, até que você pode entender.


O que não dá para aceitar é que a justiça faça a mesma coisa, e com ela a Polícia Federal.


Porque aí você subverte, por completo, o conceito de justiça, e retrocede aos tempos de João V no Brasil.


Sua mulher, a rainha Carlota Joaquina, mandou matar uma rival no amor.


Dom João pediu investigação rigorosa.


Quando chegaram a ele os resultados do trabalho, com Carlota Joaquina
comprovadamente culpada da morte, ele refletiu, refletiu – e queimou os
documentos que a incriminavam.


Aquela era a justiça, e esta nossa não é muito diferente quando se trata da plutocracia.

UTC doou mais a Aécio que a Dilma; “novas” denúncias são requentadas | Blog da Cidadania

UTC doou mais a Aécio que a Dilma; “novas” denúncias são requentadas | Blog da Cidadania



UTC doou mais a Aécio que a Dilma; “novas” denúncias são requentadas

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UTC capa





Não dá para entender por que tanta celeuma em torno das acusações do
dono da UTC, Ricardo Pessoa, a políticos de vários partidos. E muito
menos por que razão só as acusações dele à campanha de Dilma Rousseff e
ao seu partido ganharam as manchetes.


UTC 1


Quem lê os principais jornais dando conta de que a UTC doou 7,5
milhões de reais à campanha de Dilma Rousseff fica com a impressão de
que há, aí, uma grande descoberta e que a presidente foi especialmente
beneficiada por essa empresa. Nada mais falso.


Em primeiro lugar, se esses grandes veículos fizessem jornalismo
deveriam esclarecer que essa empresa doou inclusive mais dinheiro à
campanha de Aécio Neves no ano passado do que à de Dilma Rousseff.


Levantamento feito pelo site Às Claras,
ligado à ONG Transparência Brasil, mostra que a UTC doou R$
8.722.566,00 para a campanha a presidente de Aécio Neves, no ano
passado. O valor é R$ 1,22 milhão superior ao valor doado à campanha de
Dilma Rousseff na mesma época.


UTC 2





Diz o noticiário que Pessoa sentiu-se pressionado a doar a Dilma e ao
PT porque tinha medo de que, se não doasse, o governo petista
prejudicaria seus negócios. A pergunta que é obrigatório fazer, diante
de tal acusação, é muito simples: por que Aécio, sem pressionar, recebeu
mais do que Dilma?


Uma campanha recebeu 7,5 milhões de reais do empresário porque o
intimidou e a outra – que, conforme a omissão do noticiário em citá-la,
subentende-se que não intimidou – recebe 8,7 milhões de reais.


A primeira doação decorre de chantagem e a segunda de “amor” ao candidato?


Ora, façam-me o favor…


Mas o pior não é isso. Uma simples busca na internet revela que essa
celeuma que dominou a grande mídia a partir da última sexta-feira (26)
por conta das “novas” revelações de Ricardo Pessoa, da UTC, não tem a
menor justificativa porque é matéria requentada.


Os três maiores jornais do país (Folha, Globo e Estadão) publicaram,
neste sábado (27/06), praticamente a mesma matéria sobre o tema,
inclusive com manchetes praticamente idênticas. Desse modo, tomemos como
exemplo a matéria da Folha, que afirma que “Revelações de empreiteiro
ampliam pressão sobre o PT”.


FOLHA DE SÃO PAULO
27 de junho de 2015
PETROLÃO
Dono da UTC cita doações a campanhas de Dilma e Mercadante em delação
Partido afirma que todas as contribuições que recebeu foram feitas conforme a lei e declaradas à Justiça
DE BRASÍLIA
DE CURITIBA
DE SÃO PAULO
Depoimentos prestados pelo
empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, aos procuradores da
Operação Lava Jato ampliaram a pressão sobre o governo da presidente
Dilma Rousseff e seu partido, o PT, lançando novas suspeitas sobre
doações feitas à sua campanha à reeleição em 2014.
Apontado como um dos líderes do
cartel de empreiteiras acusadas de participar do esquema de corrupção na
Petrobras, Pessoa fez acordo com a Procuradoria-Geral da República para
colaborar com as investigações em troca de uma pena reduzida. O acordo
foi homologado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta quinta-feira
(25).
Pessoa doou R$ 7,5 milhões para a
campanha de Dilma. A contribuição foi declarada à Justiça Eleitoral
pelo PT, mas, como a Folha revelou em maio, Pessoa disse que só fez a
doação por temer prejuízos em seus negócios na Petrobras se não ajudasse
o partido. Ele disse que tratou da contribuição com o tesoureiro da
campanha de Dilma, o atual ministro da Secretaria de Comunicação Social
da Presidência, Edinho Silva.
Nesta sexta (26), a revista
“Veja” afirmou que Pessoa detalhou também contribuições feitas para 18
campanhas políticas, incluindo repasses de R$ 15 milhões para o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e de R$ 750 mil ao ex-deputado
José de Fillipi (PT-SP), que foi tesoureiro da campanha de Dilma em 2010
e hoje é secretário da administração do prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad (PT).
Segundo o jornal “O Estado de S.
Paulo”, Pessoa indicou aos procuradores que os repasses para Vaccari e
Fillipi foram feitos de maneira ilegal, e não por meio de doações
oficiais. Em nota, o PT afirmou que todas as doações recebidas pelo
partido foram declaradas à Justiça Eleitoral.
Como a Folha informou nesta sexta
(26), Pessoa também detalhou a maneira como foi negociada uma
contribuição à campanha do petista Aloizio Mercadante ao governo do
Estado de São Paulo, em 2010. Em 2010, Mercadante declarou à Justiça
Eleitoral uma doação de R$ 250 mil da UTC. Hoje ministro da Casa Civil,
Mercadante é o principal auxiliar de Dilma.
As novas revelações sobre os
depoimentos de Pessoa fizeram Dilma convocar uma reunião de emergência
nesta sexta. Participaram Mercadante, Edinho Silva e o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo. Nenhum se manifestou sobre o assunto.
Em avaliações internas, ministros
afirmavam que o episódio poderá contribuir para abalar ainda mais a
frágil popularidade da presidente, que tem 10% de aprovação, segundo o
Datafolha.
Preso desde novembro de 2014 e
hoje em prisão domiciliar, Ricardo Pessoa negociou durante meses o
acordo de delação premiada. A Folha apurou que Pessoa descreveu em
detalhes a maneira como acertava o repasse de recursos destinados ao PT.
‘PIXULECO’
Segundo ele, o então diretor da
Petrobras Renato Duque, ligado ao PT, avisava João Vaccari sempre que a
estatal fechava um contrato com a UTC e o tesoureiro então procurava o
empreiteiro para cobrar o “pixuleco”, como ele chamava a propina de 1%
que seria destinada ao PT.
Segundo Pessoa, eles então combinavam de que forma, e em quantas parcelas, esse pagamento seria feito.
Na maior parte das vezes, Pessoa
disse que optou por fazer doações oficiais ao PT ou a candidatos do
partido. Às vezes, disse, Vaccari pedia que o pagamento fosse feito por
fora. Segundo Pessoa, nesses casos o dinheiro era passado em espécie ao
partido.
Na delação, Pessoa também citou
contribuições a políticos de outros partidos, entre eles os senadores
Aloysio Nunes (PSB-SP), Fernando Collor (PTB-AL) e Edison Lobão
(PMDB-MA). Todos negam irregularidades.
(ANDRÉIA SADI, MARINA DIAS, NATUZA NERY, ESTELITA HASS CARAZZAI E FLÁVIO FERREIRA)
O que você, atento leitor, entende dessa matéria e, sobretudo, da
manchete que a intitula é que surgiu alguma novidade que “ampliou” a
“pressão” sobre “o PT”. Ou seja, o que se subentende da manchete é que
alguma coisa nova veio à tona.


Pois bem. Vejamos, então, matéria da mesma Folha de São Paulo
publicada 49 dias antes, de autoria da mesma Estelita Hass Carazzai que
assina a matéria publicada pelo jornal neste sábado.


FOLHA DE SÃO PAULO
9 de maio de 2015
FLÁVIO FERREIRA
DE ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA
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O empresário Ricardo Pessoa, dono
da empreiteira UTC, disse a procuradores da Operação Lava Jato que doou
R$ 7,5 milhões à campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff por
temer prejuízos em seus negócios na Petrobras se não ajudasse o PT.
Segundo Pessoa, a contribuição da
empresa foi tratada diretamente com o tesoureiro da campanha de Dilma, o
atual ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência,
Edinho Silva.
Preso desde novembro do ano
passado e hoje em regime de prisão domiciliar, o empresário negocia
desde janeiro com o Ministério Público Federal um acordo para colaborar
com as investigações em troca de uma pena reduzida.
Nos contatos com os procuradores e
no documento em que indicou as revelações que está disposto a fazer
caso feche o acordo, Pessoa descreveu de forma vaga sua conversa com
Edinho, mas afirmou que havia vinculação entre as doações eleitorais e
seus negócios na Petrobras.
O empreiteiro contou ter se
reunido com Edinho a pedido do então tesoureiro do PT, João Vaccari
Neto, apontado como o principal operador do partido no esquema de
corrupção descoberto na Petrobras e hoje preso em Curitiba.
As doações à campanha de Dilma
foram feitas legalmente. Segundo os registros do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), foram três: duas em agosto e outra em outubro de 2014, dias
antes do segundo turno da eleição.
Se Pessoa fechar o acordo de
delação premiada com os procuradores, ele terá então que fornecer provas
e detalhar suas denúncias em depoimentos ao Ministério Público e à
Polícia Federal.
Em janeiro, Pessoa já havia
indicado sua disposição de falar sobre a campanha de Dilma Rousseff em
documento escrito na cadeia e publicado pela revista “Veja”. “Edinho
Silva está preocupadíssimo”, escreveu o empresário.
CAIXA DOIS
Pessoa também afirmou aos
procuradores que fez contribuições clandestinas para a campanha do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, em 2006, e a do
prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, em 2012.
O empreiteiro disse que deu R$
2,4 milhões à campanha de Lula, via caixa dois. O dinheiro teria sido
trazido do exterior por um fornecedor de um consórcio formado pela UTC
com as empresas Queiroz Galvão e Iesa e entregue em espécie no comitê
petista.
Pessoa afirmou também que, a
pedido de Vaccari, pagou outros R$ 2,4 milhões para quitar dívida que a
campanha de Haddad teria deixado com uma gráfica em 2012. O doleiro
Alberto Youssef, outro operador do esquema de corrupção na Petrobras,
teria viabilizado o pagamento.
Segundo o empreiteiro, o valor
foi descontado de uma espécie de conta corrente que ele diz ter mantido
com Vaccari para controlar o pagamento de propinas associadas a seus
contratos na Petrobras.
Pessoa também promete revelar às
autoridades detalhes sobre seus negócios com o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu, que hoje cumpre prisão domiciliar por seu envolvimento com
o mensalão.
O empreiteiro, que pagou R$ 3,1
milhões à empresa de consultoria de Dirceu entre 2012 e 2014, diz que o
contratou para prospectar negócios no Peru, mas afirmou aos procuradores
que a maior parte dos repasses foi feita após a prisão do ex-ministro,
para atender a um pedido de ajuda financeira da sua família, em razão de
sua influência no PT.
OUTRO LADO
O PT rejeitou as acusações do
empresário Ricardo Pessoa e afirmou em nota que todas as doações à
campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 foram feitas de acordo com
a legislação eleitoral.
O partido ressaltou que as contas da campanha de Dilma foram aprovadas por unanimidade na Justiça Eleitoral.
A assessoria do ministro Edinho
Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social, que foi o tesoureiro
da campanha presidenical, informou que a nota do PT deveria ser
considerada sua reposta às alegações do empreiteiro.
A Presidência da República e a
assessoria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disseram que não
fariam comentários sobre o assunto.
O prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad, afirmou que as doações à sua campanha foram todas feitas de
acordo com a lei, e que as dívidas foram absorvidas e quitadas
posteriormente pelo PT.
O advogado Luiz Flávio Borges
D’Urso, que defende o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, disse que
ele só captou doações legais para o partido e não participou do esquema
de corrupção descoberto na Petrobras.
O advogado do ex-ministro José
Dirceu, Roberto Podval, informou que seu contrato de consultoria com a
UTC tinha como objetivo prospectar negócios no Peru, sem qualquer
relação com a Petrobras.
Alguém, por favor, ajude este desorientado blogueiro: o que é,
diabos, que há de novo nas notícias recém-publicadas sobre as denúncias
do empreiteiro Ricardo Pessoa? O que é que ele acrescentou ao que já
havia dito que justifique que a mídia e a oposição façam esse
estardalhaço e digam que, à luz das “novas” revelações, há que tirar o
mandato de Dilma Rousseff?


O que esse estardalhaço todo significa é, no fim das contas, um
imenso desrespeito pela opinião pública, obviamente vista pela mídia e
pela oposição como desmemoriada, idiotizada, incapaz de juntar fatos
escandalosamente óbvios e deles tirar uma simples conclusão.


Infelizmente, pensando bem, tanto a mídia quanto a oposição têm boas
doses de razão para enxergar assim a sociedade brasileira, ou ao menos
sua maioria esmagadora.

Colunista da Folha vê “violações” e “sadismo” na Lava Jato | Esmael Morais

Colunista da Folha vê “violações” e “sadismo” na Lava Jato | Esmael Morais



O jornalista Janio de Freitas desfere duras críticas em diversos
aspectos da Operação Lava Jato em sua coluna deste domingo 28. “É
preciso estar muito entregue ao sentimento de vingança para não perceber
certo sadismo na Lava Jato”, conclui o colunista, que aponta
“violações” e “sadismo” na investigação comandada pelo juiz Sérgio Moro.


Para ele, “o exemplo mais perceptível e menos importante” do citado
“sadismo” são “as prisões nas sextas-feiras, para um fim de semana
apenas de expectativa penosa do preso ainda sem culpa comprovada”. Entre
os políticos, diz Janio, “a hipocrisia domina”, uma vez que “são
milhares” os que recebem doações de empreiteiras e bancos. “Houve mesmo
jantares de arrecadação no Alvorada e pagos pelos cofres públicos.
Ninguém na Lava Jato sabe disso?”, pergunta, em menção a FHC.


Janio critica o “jorro contínuo de vazamentos” de informações que
seriam “sigilosas” da Polícia Federal, mas ressalta que “a imprensa é
que faz o sensacionalismo. É. Com o vazamento deformado e o incentivo
deformante vindos da Lava Jato”. O jornalista aponta ainda que ocorre,
com os “vazamentos deformantes”, o “desvio da suspeita”, como no caso do
bilhete de Marcelo Odebrecht, que teria pedido para “destruir” um
e-mail.


Abaixo, leia a íntegra do artigo de Janio de Freitas:




Jatos que mancham


É preciso estar muito entregue ao sentimento de vingança para não perceber certo sadismo na Lava Jato


Janio de Freitas


Como inquérito “sob segredo de Justiça”, a Operação Lava Jato lembra
melhor uma agência de propaganda. Ou, em tempos da pedante expressão
“crise hídrica”, traz a memória saudosa de uma adutora sem seca.


Em princípio, os vazamentos seriam uma transgressão favorável à
opinião pública ansiosa por um sistema policial/judicial sem as
impunidades tradicionais. Mas, com o jorro contínuo dos tais vazamentos,
nos desvãos do sensacionalismo não cessam os indícios que fazem a “nova
Justiça” — a dos juízes e procuradores/promotores da nova geração — um
perigo equivalente à velha Justiça acusada de discriminação social e
inoperância judicial.


É preciso estar muito entregue ao sentimento de vingança para não
perceber um certo sadismo na Lava Jato. O exemplo mais perceptível e
menos importante: as prisões nas sextas-feiras, para um fim de semana
apenas de expectativa penosa do preso ainda sem culpa comprovada.
Depois, a distribuição de insinuações e informações a partir de mera
menção por um dos inescrupulosos delatores, do tipo “Fulano recebeu
dinheiro da Odebrecht”. Era dinheiro lícito ou provou-se ser ilícito? É
certo que o recebedor sabia da origem, no caso de ilícita?


A hipocrisia domina. São milhares os políticos que receberam doações
de empreiteiras e bancos desde que, por conveniência dos candidatos e
artimanha dos doadores, esse dinheiro pôde se mover, nas eleições, sob o
nome de empresas. Nos últimos 60 anos, todos os presidentes tiveram
relações próximas com empreiteiros. Alguns destes foram comensais da
residência presidencial em diferentes mandatos. Os mesmos e outros
viajaram para participar, convidados, de homenagens arranjadas no
exterior para presidente brasileiro. Banqueiros e empreiteiros doaram
para os institutos de ex-presidentes. Houve mesmo jantares de
arrecadação no Alvorada e pagos pelos cofres públicos. Ninguém na Lava
Jato sabe disso?


Mas a imprensa é que faz o sensacionalismo. É. Com o vazamento deformado e o incentivo deformante vindos da Lava Jato.


A partir de Juscelino, e incluídos todos os generais-presidentes, só
de Itamar Franco e Jânio Quadros nunca se soube que tivessem relações
próximas com empreiteiros e banqueiros. A íntima amizade de José Sarney
foi mal e muito comentada, sem que ficasse evidenciada, porém, mais do
que a relação pessoal. Benefícios recebidos, sob a forma de trabalhos
feitos pela Andrade Gutierrez, foram para outros.


Ocorre mesmo, com os vazamentos deformantes, o deslocamento da
suspeita. Não importa, no caso, o sentido com que o presidente da
Odebrecht usou a palavra “destruir”, referindo-se a um e-mail, em
anotação lida e divulgada pela Lava Jato. O episódio foi descrito como
um bilhete que Marcelo Odebrecht escreveu com instruções para o seu
advogado, e cuja entrega “pediu a um policial” que, no entanto, ao ver a
palavra “destruir”, levou o bilhete ao grupo da Lava Jato.


Muito inteligível. Até que alguém, talvez meio distraído, ao contar o
episódio acrescentasse que Marcelo, quando entregou o bilhete e fez o
pedido ao policial, já estava fora da cela e a caminho de encontrar seu
defensor.


Então por que pediria ao policial que entregasse o bilhete a quem ele mesmo ia encontrar logo?


As partes da historinha não convivem bem. Não só entre si. Também com
a vedação à interferência na comunicação entre um acusado e seu
defensor, considerada cerceamento do pleno direito de defesa assegurado
pela Constituição.


Já objeto de providências da OAB, a apreensão de material dos
advogados de uma empreiteira, em suas salas na empresa, foi uma
transgressão à inviolabilidade legal da advocacia. Com esta explicação
da Lava Jato: só os documentos referentes ao tema da Lava Jato seriam
recolhidos, mas, dada a dificuldade de selecioná-los na própria empresa,
entre 25 mil documentos, foram apreendidos todos para coleta dos
desejados e posterior devolução dos demais.


Pior que uma, duas violações: a apreensão de documentos invioláveis,
porque seus detentores não são suspeitos de ilicitude, e o exame
violador de todos para identificar os desejados. Até documentos secretos
de natureza militar, referentes a trabalhos e negócios da Odebrecht na
área, podem estar vulneráveis.


Exemplos assim se sucedem. Em descompasso com uma banalidade:
condenar alguém em nome da legalidade e da ética pede, no mínimo,
permanentes legalidade e ética. Na “nova Justiça” como reclamado da
“velha Justiça” – Artigo de Janio de Freitas. Na Folha de S. Paulo.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Ai, meu jornalismo…Ou como destruir um e-mail em uma lição… | TIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”

Ai, meu jornalismo…Ou como destruir um e-mail em uma lição… 

 









Ai, meu jornalismo…Ou como destruir um e-mail em uma lição…

24 de junho de 2015 | 15:48 Autor: Fernando Brito
fogo


Maldita idade que me faz conservar certo modo cartesiano de pensar.


Daí que li a manchete do Estadão sobre o bilhete onde Marcelo Odebrecht manda “destruir o e-mail sondas”, escrito na cela da PF e xerocopiado pelos sherlocks da Polícia Federal.


Esqueça-se o que disse a defesa,
alegando que era destruir juridicamente um e-mail sobre sondas arrolado
como prova, tanto que era um item do ” pontos para o habeas corpus” (a imagem o Estadão deixa claro) e que, logo a seguir o texto explica como rebater: “lembrar que naquela época, a Sete…” etc.


Vamos ficar na questão da destruição física, mesmo.


Se o cidadão está pedindo para os advogados destruírem, das duas uma: ou o e-mail não foi apreendido, ou foi.


Se não foi, apareceria o pedido assim, sem especificação. Como os
advogados dariam, abririam a caixa de mensagens de Marcelo e
procurariam, entre milhares de e-mails, qual deles se referia a sondas.


Como sonda é um negócio de vulto, deve haver dezenas. Qual deles, o
doutor e a doutora causídica iam destruir? E será que eles não sabem
que, apreendido o computador ou através do servidor de e-mails, mesmo
que se delete algo, isso pode ser recuperado?


Isso é canja para qualquer perito em informática da Polícia, ora. E o
megaempresário e seus advogados estão carecas de saber disso. E-mail
fica armazenado no servidor, tanto que você pode abrir sua caixa de
mensagens em outro computador, na Conchinchina e estarão todos lá,
porque estavam no servidor e é só pesquisar os arquivos apagados e
reconstituir.


Mas se o e-mail foi apreendido, como destruí-lo? Quem sabe entrar um
casal de advogados, ela com roupas bem provocantes, distraem o jovem e
impetuoso agente da  lei e ele, num golpe de prestidigitador, arrancam o
e-mail do processo?


Assim, coisa de Mata-Hari, né?


Se não fosse o apagão mental que parece ter tomado conta da meganhagem, inclusive a jornalística, era só um bobagem policialesca.


Aliás, o delegado diz que “deixou passar”o bilhete para ver se o
advogado do acusado viria “acusar” o seu cliente de estar cometendo
crime de destruição de provas… Pode rir à vontade.


Ou então foi delírio de quem andou vendo demais “Missão Impossível” e
aqueles gravadores de fita que diziam “esta mensagem se autodestruirá
em cinco segundos”…


Mas é manchete e grande acontecimento jurídico.


PS. Embora fosse óbvio, só a Folha percebeu e noticia, discretamente: “Bilhete de presidente da Odebrecht revela estratégias de defesa“. Simples assim.

Enquanto a tevê aberta for uma terra de ninguém, malafaias vão se reproduzir e prosperar

Diário do Centro do Mundo » Enquanto a tevê aberta for uma terra de ninguém, malafaias vão se reproduzir e prosperar. Por Leandro Fortes



Você vai sentir vontade de vomitar, mas é preciso ver um vídeo que
está circulando pelas redes sociais, no qual o pastor Silas Malafaia, da
Assembleia de Deus, ensina seus incautos fiéis a tirar dinheiro do
aluguel e dar para ele.


É uma espécie de manual cristão do achaque, mas serve para dar a
dimensão exata do tipo de gente que está influenciando parte
considerável da sociedade brasileira, além de impor uma agenda política
retrógrada e perigosamente medieval ao Congresso Nacional.



Malafaia é uma figura lamentável, mas não teria esse despudor de ir à
televisão ludibriar multidões de ignorantes sem contar com um ambiente
favorável e algumas condições prévias.


A primeira, e mais importante delas: a leniência do governo com a programação da tevê aberta.


Em um Estado laico, a veiculação de programas religiosos por emissoras concessionárias é, por si só, um absurdo total.


As emissoras vendem malandramente esses horários como se fossem
propaganda, e muito além do limite de 25% da programação, conforme prevê
o confuso conjunto de normas do setor. A saber: Código Brasileiro de
Telecomunicações, Lei Geral de Telecomunicações e outras
regulamentações.


Ou seja, são programas que não fazem parte sequer da grade oficial
das emissoras, vendidos em um esquema de terceirização criminoso sem que
uma única autoridade do Ministério das Comunicações tenha tido coragem,
até hoje, de acabar sumariamente com essa pilantragem.


Recentemente, o jornalista Ricardo Boechat, da Rede Bandeirantes,
lavou a alma nacional ao escrachar Malafaia, a quem mandou “procurar uma
rola”, chamou de “tomador de grana” e acusou de homofóbico. Tudo isso
ao vivo, nas ondas da Band News.


Ocorre que, desde o ano passado, o Ministério Público Federal luta,
em São Paulo, para conter a sanha da Rede 21, do Grupo Band. Desde 2008,
100% do horário do canal era alugado para a Igreja Mundial do Poder de
Deus, chefiada pelo pastor Valdomiro Santiago.


A partir de 2013, a Rede 21 passou a ter 22 horas de programação da
Igreja Universal do Reino de Deus, do pastor Edir Macedo, dono de outra
emissora concessionária, a Rede Record.


O MPF acusou Paulo Saad Jafet, vice-presidente da Band, e José Carlos
Anguita, superintendente de Relações com Mercado da emissora, de violar
a legislação e fomentar “enriquecimento sem causa” com o uso de uma
concessão pública.


Em janeiro passado, o juiz federal Djalma Moreira Gomes, da 25ª Vara
de São Paulo, negou o pedido de suspensão do MPF. Segundo ele, a liminar
só poderia ser concedida se, antes, autoridades administrativas
responsáveis por fiscalizar as infrações apontadas se pronunciassem. Em
seguida, determinou ao Ministério das Comunicações que instaurasse
procedimento administrativo para apurar as infrações ao Código
Brasileiro de Comunicações.


Não por acaso, e dentro de uma tradição que inclui também a igreja
católica, o fundamentalismo cristão é um aliado importante da direita
liberal, no Ocidente. Forma com ela um padrão ideológico gelatinoso onde
políticos profissionais se unem a fanáticos para, no ventre de embustes
patrióticos, tentar emplacar projetos fascistas de poder.


Uma selfie feita, recentemente, durante a Marcha para Jesus, em São Paulo, é um emblema perfeito dessa miscelânea ideológica.


Na foto, amplamente divulgada nas redes, Malafaia aparece ao lado de
dois potentados da extrema direita nacional: o deputado Jair Bolsonaro
(PP-RJ), apologista da tortura e do assassinato de opositores políticos;
e o senador Magno Malta (PR-ES), que costuma comparar Lula e o PT ao
diabo.


Essa percepção tornou-se palatável na campanha presidencial de 2010.
Na época, José Serra, candidato do PSDB, transformou-se em um beato
ecumênico e botou a mulher, Monica, para disseminar a informação de que
Dilma Rousseff era a favor de “matar criancinhas”, de forma a ligar a
candidata do PT à prática de abortos.


Detalhe: antes do fim da campanha, uma ex-aluna de Monica revelou que
ela havia feito um aborto, fato jamais desmentido. Mais tarde, Serra e
Monica, sempre tão ciosos dos valores da família, se separaram.


De lá para cá, os tucanos passaram a se aliar, sem pudor algum, a
todo esgoto religioso disponível, sobretudo aqueles comandados por
lideranças pentecostais ultraconservadoras, como Malafaia, Valdemiro e o
pastor Everaldo, candidato do PSC à Presidência, nas eleições de 2014.


Foi dessa mistura de fanatismo, ignorância, leniência e
pusilanimidade que nasceu a vitoriosa candidatura de Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados.


Evangélico, Cunha é a exata simbiose desse triste momento nacional.
Nele estão presentes todos os piores elementos dessa circunstância:
fanatismo religioso, conservadorismo tacanho e fisiologismo político.


E algo me diz que as coisas ainda vão piorar antes de melhorar.

Ódio - Jornal O Globo

Ódio - Jornal O Globo



Luiz Fernando Veríssimo

Sentimento está no DNA da classe dominante brasileira, que
historicamente derruba, pelas armas se for preciso, toda ameaça ao seu
domínio, seja qual for a sigla

Não vi a entrevista do Jô
com a Dilma, mas, conhecendo o Jô, sei que ele não foi diferente do que é
no seu programa: um homem civilizado, sintonizado com seu tempo, que
tem suas convicções — muitas vezes críticas ao governo — mas respeita a
diversidade de opiniões e o direito dos outros de expressá-las. Que Jô
fez uma matéria jornalística importante e correta, não é surpresa. Como
não é surpresa, com todo esse vitríolo no ar, a reação furiosa que
causou pelo simples fato de ter sido feita.

A deterioração do
debate político no Brasil é consequência direta de um antipetismo
justificável, dado os desmandos do próprio PT no governo, e de um ódio
ao PT que ultrapassa a razão. O antipetismo decorre, em partes iguais,
da frustração sincera com as promessas irrealizadas do PT e do
oportunismo político de quem ataca o adversário enfraquecido. Já o ódio
ao PT existiria mesmo que o PT tivesse sido um grande sucesso e o Brasil
fosse hoje, depois de 12 anos de pseudossocialismo no poder, uma Suécia
tropical. O antipetismo é consequência, o ódio ao PT é inato. O
antipetismo começou com o PT, o ódio ao PT nasceu antes do PT. Está no
DNA da classe dominante brasileira, que historicamente derruba, pelas
armas se for preciso, toda ameaça ao seu domínio, seja qual for sua
sigla.

É inútil tentar debater com o ódio exemplificado pela
reação à entrevista do Jô e argumentar que, em alguns aspectos, o PT
justificou-se no poder. Distribuiu renda, tirou gente da miséria e
diminuiu um pouco a desigualdade social — feito que, pelo menos pra mim,
entra como crédito na contabilidade moral de qualquer governo. O
argumento seria inútil porque são justamente estas conquistas que
revoltam o conservadorismo raivoso, para o qual “justiça social” virou
uma senha do inimigo.

Tudo isto é lamentável mas irrelevante, já
que o próprio Lula parece ter desesperado do PT. Se é verdade que o PT
morreu, uma tarefa para investigadores do futuro será descobrir se foi
suicídio ou assassinato. Ele se embrenhou nas suas próprias contradições
e nunca mais foi visto ou pensou que poderia ser a primeira alternativa
bem-sucedida ao domínio dos donos do poder e acordou um dia com um tiro
na testa?

De qualquer maneira, será uma história triste.

Ódio - Jornal O Globo

Ódio - Jornal O Globo



Luiz Fernando Veríssimo

Sentimento está no DNA da classe dominante brasileira, que
historicamente derruba, pelas armas se for preciso, toda ameaça ao seu
domínio, seja qual for a sigla

Não vi a entrevista do Jô
com a Dilma, mas, conhecendo o Jô, sei que ele não foi diferente do que é
no seu programa: um homem civilizado, sintonizado com seu tempo, que
tem suas convicções — muitas vezes críticas ao governo — mas respeita a
diversidade de opiniões e o direito dos outros de expressá-las. Que Jô
fez uma matéria jornalística importante e correta, não é surpresa. Como
não é surpresa, com todo esse vitríolo no ar, a reação furiosa que
causou pelo simples fato de ter sido feita.

A deterioração do
debate político no Brasil é consequência direta de um antipetismo
justificável, dado os desmandos do próprio PT no governo, e de um ódio
ao PT que ultrapassa a razão. O antipetismo decorre, em partes iguais,
da frustração sincera com as promessas irrealizadas do PT e do
oportunismo político de quem ataca o adversário enfraquecido. Já o ódio
ao PT existiria mesmo que o PT tivesse sido um grande sucesso e o Brasil
fosse hoje, depois de 12 anos de pseudossocialismo no poder, uma Suécia
tropical. O antipetismo é consequência, o ódio ao PT é inato. O
antipetismo começou com o PT, o ódio ao PT nasceu antes do PT. Está no
DNA da classe dominante brasileira, que historicamente derruba, pelas
armas se for preciso, toda ameaça ao seu domínio, seja qual for sua
sigla.

É inútil tentar debater com o ódio exemplificado pela
reação à entrevista do Jô e argumentar que, em alguns aspectos, o PT
justificou-se no poder. Distribuiu renda, tirou gente da miséria e
diminuiu um pouco a desigualdade social — feito que, pelo menos pra mim,
entra como crédito na contabilidade moral de qualquer governo. O
argumento seria inútil porque são justamente estas conquistas que
revoltam o conservadorismo raivoso, para o qual “justiça social” virou
uma senha do inimigo.

Tudo isto é lamentável mas irrelevante, já
que o próprio Lula parece ter desesperado do PT. Se é verdade que o PT
morreu, uma tarefa para investigadores do futuro será descobrir se foi
suicídio ou assassinato. Ele se embrenhou nas suas próprias contradições
e nunca mais foi visto ou pensou que poderia ser a primeira alternativa
bem-sucedida ao domínio dos donos do poder e acordou um dia com um tiro
na testa?

De qualquer maneira, será uma história triste.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Um dos dois está mentindo | Paulo Moreira Leite

Um dos dois está mentindo | Paulo Moreira Leite



A acareação entre o doleiro Alberto Yousseff e o
ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa terminou num conflito
inconciliável de versões, levando a uma conclusão óbvia: um dos dois
está mentindo.
Ocorreu aquela situação na qual, com o perdão do vocabulário, mas
apenas em respeito às palavras originais de um procurador que alertou
para o risco que uma acareação representar. Lembrou o que costuma
acontecer quando se mexe em “bosta seca….” Você pode imaginar, certo?


É razoável perguntar o que acontece daqui para a frente.

Foi a partir da delação premiada dos dois que o Ministério Público
construiu a denuncia da Lava Jato, emparedou Lula, esvaziou o governo
Dilma e criou um ambiente de terror nos meios políticos e na economia.


A base da delação premiada reside na confiança absoluta do delator
que, obviamente, não pode mentir. Também não pode fantasiar fatos, nem
permitir-se um exercício que os psicanalistas chamam de fabulação. A
simples delação premiada de Alberto Yousseff já era colocada em dúvida
antes disso. Está provado que ele mentiu em outra investigação, sobre o
Banestado. Por esse motivo, o juiz aposentado Gilson Dipp, um dos
maiores especialistas no assunto já questionou seu depoimento, em
parecer enviado ao Supremo.


Sabemos agora que Costa e Yousseff não lembram dos mesmos fatos
quando falam de uma possível entrega de R$ 2 milhões para a campanha de
Dilma, num pagamento que teria Antonio Palocci como intermediários.
Sabemos também que enxergaram coisas diferentes quando se referem a um
pagamento para Roseana Sarney.

Do que mais não irão lembrar-se daqui para a frente? Do que mais irão esquecer?


Vamos contratar psicólogos a quem se atribui o poder de reavivar a memória de crianças traumatizadas?


Embora a delação premiada seja aceita em várias partes do mundo, o
método empregado nas investigação da Lava Jato não é garantia de um
esforço para se obter a verdade. Numa forma óbvia de coerção, os
acusados enfrentaram longos períodos de prisão preventiva antes de serem
convencidos a falar.


Por isso, é sempre bom repetir aqui os ensinamentos da Suprema Corte
dos Estados Unidos, em 1966, quando estabeleceu regras para garantir que
um acusado tivesse o direito de não ser induzido, pela polícia, a
confessar um crime. Veja só. Não se falava de delação. A preocupação era
impedir impedir que o sujeito seja levado a se auto-acusar. Imagine as
cautelas necessárias para impedir que ele acuse outra pessoa — um
exercício menos doloroso, vamos combinar, ainda mais quando pode trazer
vantagens a quem acusa. Diz que a resolução:


“Concluímos que, sem salvaguardas próprias, o interrogatório sob
custódia de pessoas suspeitas ou acusadas de crime contém pressões que
operam para minar a vontade individual de resistir para que não seja
compelido a falar quando não o faria em outra circunstância. Para
combater essas pressões e permitir uma oportunidade ampla do exercício
do privilégio contra a autoincriminação, o acusado deve ser
adequadamente informado de seus direitos e o exercício desses direitos
deve ser completamente honrado.”


Preste atenção o princípio: a delação tem valor quando é voluntária,
livre de ” pressões que operam para minar a vontade individual de
resistir.”


Quem se der ao trabalho de conhecer uma teoria chamada Dilema do
Prisioneiro, irá entender o que digo. A base se encontra na internet mas
é possível fazer um resumo. Estudiosos das técnicas de interrogatório
compreenderam que é possível manipular membros de uma mesma quadrilha,
já aprisionados, jogando uns contra os outros, quebrando a confiança que
possa existir entre eles e convencendo todos a falar mais do que
gostariam. A experiencia ensina que a teoria funciona.


Mas, como tudo que envolve pontos sensíveis da alma humana, produz
depoimentos longos, detalhadas mas que nem de longe são garantia de
verdade. Essa é a questão.


Ouvi, há quinze anos, o depoimento reservado de um engenheiro que
dizia ter testemunhado o funcionamento de um milionário esquema de
superfaturamento de obras e lavagem de dinheiro na gestão de Paulo Maluf
na prefeitura de São Paulo. O assunto virou manchete por meses. Na hora
de depor a Justiça, quando suas palavras teriam o poder de inocentar ou
condenar, ele voltou atrás, disse que havia se enganado e o caso foi
encerrado.

O escândalo de delação premiada contra o governo de José Roberto Arruda,
do Distrito Federal, baseava-se na delação premiada de um secretário de
Estado. Instruído pelo Ministério Público, ele gravou vídeos que
continham diálogos e imagens nas quais entregava-se dinheiro para
parlamentares, secretários — e o próprio governador. O problema é que os
vídeos eram editados, não era possível verificar quando a gravação
havia começado e quando havia terminado — o que alimentava a suspeita de
montagem. As provas foram anuladas.


Uma delação é sempre um depoimento complicado. Isso porque ela é
motivada pelo interesse de uma pessoa acusada em livrar-se, de qualquer
maneira, de uma acusação. A palavra do co-réu é sempre colocada em
dúvida, aprende-se nos cursinhos preparatórios de uma faculdade de
Direito.

Quando falamos de delação premiada, estamos acrescentando uma
complicação a mais: a pessoa negocia cada palavra, cada frase, em troca
de um benefício. O acerto é consciente, escancarado. De certa forma, é
um negócio.

Uma mentira — ou duas, para ser mais preciso — é tão preocupante que os
advogados dos réus anunciam para breve uma reconciliação de versões.
Isso quer dizer que teremos, em breve, a versão premiada?

domingo, 21 de junho de 2015

Falta governo e falta oposição no país | GGN

Falta governo e falta oposição no país | GGN



O que garante a governabilidade não são apenas as prerrogativas
institucionais da presidência, mas a existência de um conjunto coerente
de ideias




Tem-se uma quadra complicada na vida do país.


O governo Dilma acabou. Pode ser que renasça mais à frente. Mas, no
momento atual, não há comprovação de que os sinais vitais estejam
preservados.


Com o esfacelamento do centro de poder, o país tornou-se um salve-se
quem puder. Ritos, procedimentos, processos deixam de ser observados, a
própria racionalidade é colocada de lado, provocando a ascensão de
pequenos tiranetes invadindo todos os poros da vida nacional.


As relações sociais são atropeladas por bandos de trogloditas saindo do baú da inquisição e invadindo as ruas e as instituições.


***


Na Câmara Federal, o presidente Eduardo Cunha passou a atropelar os
ritos e a impor sua vontade pessoal e a do baixíssimo clero da casa.


No STF (Supremo Tribunal Federal), o Ministro Gilmar Mendes se vale
desde o uso da gaveta até procedimentos, que em outras quadras da
história, seriam considerados escandalosos: como obter,  para eventos do
IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), de sua propriedade,
patrocínios de empresas com extensas demandas no Supremo.


Um procurador lotado no TCU (Tribunal de Contas da União), militante
de passeatas pró-impeachment, se vê no direito de opinar sobre a
viabilidade de empresas-chave na política industrial do pré-sal.


A imprensa ajuda a demolir os financiamentos de serviços do BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) duramente
construídos nos governos FHC e Lula.


Em Curitiba, um juiz de primeira instância, procuradores e delegados,
distribuem prisões preventivas sem a menor preocupação de legitimá-las.


No Banco Central, um grupo de burocratas define a seu talante o nível
das taxas de juros da economia, cria um cenário claramente
insustentável para a dívida pública, sem que ninguém se interponha no
seu caminho.


***


O que garante a governabilidade não são apenas as prerrogativas
institucionais da presidência da República, mas a existência de um
conjunto coerente de ideias, não só econômicas, mas legitimadoras,
capazes de juntar setores dos mais diversos em torno da ideia de nação.


A presidência já não consegue mais estruturar nenhum discurso.


***


A segunda âncora deveriam ser os partidos políticos. Mas também não existem programaticamente.


O vácuo de poder e de propostas seria a oportunidade da oposição
apresentar-se como verdadeira alternativa de poder. Mas consegue ser
ainda pior e menos séria do que a situação que combate.


Hoje em dia, o jogo político consiste na fabricação diuturna de factoides para aparecer na mídia.


O jogo de cena armado por Aécio Neves e troupe na visita à Venezuela
seria um episódio vergonhoso em qualquer circunstância, uma mera
molecagem de praia, não tivesse sido protagonizado por um candidato à
presidência da República e por senadores da República.


Transformam um problema de trânsito – registrado inclusive por
jornais de oposição na Venezuela - e meras manifestações de rua em
incidente diplomático. E ainda conseguem a solidariedade do líder do PT
na Câmara. O outro candidato oposicionista, José Serra, aproveita o
vácuo de poder para parcerias de negócio com o presidente do Senado
Renan Calheiros.


É uma quadra vergonhosa da história, uma comprovação trágica de que
falta governo e falta oposição ao país tornam absolutamente incerto a
saída política da crise.