domingo, 28 de dezembro de 2014

Belluzzo: tem gente interessada na crise da Petrobras

Belluzzo critica ação dos cartéis

Belluzzo critica ação dos cartéis da construção e da informação na crise — Rede Brasil Atual

Belluzzo critica ação dos cartéis da construção e da informação na crise

Economista, diz que Dilma é uma
das poucas pessoas por quem põe ‘a mão no fogo’. Para ele, presidenta é
‘atormentada’ por cartéis e o que ‘estão fazendo com a Petrobras é
imperdoável’






por Redação RBA






publicado 27/12/2014 09:58

Belluzzo
'Defendo as empresas, não seus donos: os que cometeram malfeitos têm de cumprir o que a lei manda'
São Paulo – “A economia brasileira
tem os seus cartéis, dentre os quais os mais importantes são as empresas
de construção”, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da
Unicamp. Em entrevista ao Seu Jornal, da TVT,
Belluzo afirma que a importância do setor de construção da economia –
junto com a Petrobras responde por sete a nove pontos percentuais da
taxa de investimentos no país – não exime os empresários do setor de
serem punidos com o rigor da lei. “Estou defendendo as empresas, e não
os empresários, os que cometeram malfeitos têm de cumprir o que a lei
manda.”
Ele vê no entanto, que a crise da Petrobras envolve,
além os casos de corrupção – que têm de ser investigados e solucionados
para que a empresa se recupere –, questões geopolíticas externas e
interesse internos: “Está lá no Congresso o senador Aloysio Nunes
Ferreira (PSDB-SP) clamando pela mudança do modelo de partilha para o
modelo de concessão. Concessão é adequado para quando você vai descobrir
as reservas de petróleo. Você não pode aplicar isso a reservas já
descobertas, seria uma impropriedade. Isso envolve uma questão
geopolítica, de interesse, no fundo, de se privatizar ao máximo a
exploração do petróleo e tirar do controle da Petrobras”, observa. “Por
isso o caso da Petrobras é muito grave. Isso que foi feito é
imperdoável, porque fragiliza muito a empresa.”
O economista se solidariza com a presidenta Dilma
Rousseff: “É uma das poucas pessoas pelas quais eu ponho a mão no fogo.
Eu sei que ela deve estar atormentada e é inacreditável que tentem
imputar a ela alguma coisa parecida com corrupção”, diz. E faz uma
referência à atuação da imprensa brasileira. “A imprensa brasileira é um
cartel. Um cartel da informação, o que é grave para um país que quer
avançar na democracia, na melhoria dos padrões de convivência. É preciso
diversificar os meios de comunicação e não permitir que o cartel
continue operando. E o cartel está operando.”
Assista à entrevista concedida a Talita Galli, da TVT.

http://youtu.be/D3WmJpifJn0

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Notícia boa da Petrobras não vale

Notícia boa da Petrobras não vale | TIJOLAÇO 











Notícia boa da Petrobras não vale

23 de dezembro de 2014 | 15:42 Autor: Fernando Brito
nyse1


A Petrobras, depois de uma pesada queda, está se recuperando fortemente nas bolsas do Brasil e dos Estados Unidos.


Aqui, do ponto pior de R$ 8,52 no dia 15, chegou hoje à tarde (14;40h) a RS 10,34, uma alta de 21,36%.


Em Nova York, subiu, nos últimos três dias, muito acima das outras petroleiras, como se vê no gráfico lá em cima.


Muita gente, como o megainvestidor George Soros, está rindo a toa com os lucros que embolsou esta semana.


E vai embolsar mais, porque a ação ainda está valendo pouco mais da
metade do que deveria estar, mesmo com a queda no preço do petróleo.


Porque a Petrobras tem, como se diz no jargão empresarial, “resultado para entregar”.


Hoje a empresa anunciou um novo recorde na produção de poços exclusivos ou operados por ela com parceiros: 2,47 milhões de barris de petróleo por dia, no dia 21. Há um ano, eram 1,96 milhão/dia.


Com uma média mensal proxima disso, serão 25% a mais do que há um ano.


E 700 mil barris no pré-sal, contra 371 mil/dia em dezembro passado.


Ou 88,6% de aumento na produção destas áreas de enorme profundidade, onde a média por poço supera os 20 mil barris diários.


Isso com a companhia trabalhando em que só Deus sabe que está, com
todo o tipo de insegurança que a campanha de mídia está provocando
internamente.


A roubalheira de Paulo Roberto Costa e de todos os que tenham entrado
neste esquema é séria e merece ser duplamente punida: porque é roubo e
porque é roubo contra a empresa mais importante para o futuro do Brasil.


Mas ela não justifica – nem sequer explica – a paralisação e a
desvalorização de um empresa de petróleo que tira óleo do chão marinho
como nenhuma outra faz.


Mas isso não sai na mídia, ou sai sem nenhum destaque.


Querem fazer crer ao povo brasileiro que, como lhe roubaram alguns
ovos, a galinha dos ovos de ouro é um bicho inútil e sem valor.


Quem desdenha, já dizia a minha avó, quer comprar.


E baratinho, baratinho, na bacia das almas, como conseguiram
com Fernando Henrique que vendeu  quase 30% do capital da empresa, a
maior parte para investidores estrangeiros.

EUA e a estratégia de guerra contra Rússia na Ucrânia,

EUA e a estratégia de guerra contra Rússia na Ucrânia,

EUA e a estratégia de guerra contra Rússia na Ucrânia



 
Os Estados Unidos do Prêmio Nobel da Paz Barak Obama empreendem uma
guerra virtual contra a Rússia e preparam obstinadamente uma guerra
real para ser travada em território ucraniano. Não importa a
inviabilidade dessa aventura militar, do ponto de vista estratégico. O
objetivo não é controlar o território ucraniano e “salvá-lo para a
democracia”, mas esgotar em combate o poderio russo mediante seu
estrangulamento econômico e militar numa guerra convencional em terceiro
país. É que nem os lunáticos neoconservadores instalados no Pentágono,
no Departamento de Estado e no Conselho de Segurança Nacional proporiam
um ataque direto à nação russa, dada sua condição de potência nuclear de
primeira linha.
 
A estratégia central norte-americana é afirmar sua hegemonia
mundial a partir da força. É-lhe intolerável a realidade de um mundo
apolar ou multipolar em face da presença de um competidor nuclear como a
Rússia e de uma potência econômica ascendente como a China, também
ameaçadora, a médio prazo,  no campo militar. Para os neoconservadores, a
hora de agir é agora, antes que essas forças rivais criem raízes mais
profundas. O pretexto ucraniano vem a calhar. Depois de derrubar um
governo legítimo e colocar em seu lugar um bando de facínoras, o próximo
passo é a incorporação da Ucrânia à OTAN, em aberto desafio à Rússia.
Só com muito sangue frio Putin poderá contornar mais essa provocação no
quintal da Rússia.
 
É muito fácil começar uma guerra de grandes proporções na terra dos
outros,  sobretudo quando se tem a ilusão de um poder assimétrico em
relação ao adversário  e mesmo quando não se tem certeza quanto aos
efeitos. É que, uma vez instalado o caos que se segue a uma guerra, não
basta ter imensa superioridade miliar para controlar suas consequências.
Os Estados Unidos são peritos em começar guerras inacabadas: foi assim
na Coreia, no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão; mais recentemente
insuflaram revoluções no norte da África, que resultaram em dramática
carnificina e permanente instabilidade na Líbia e no Egito. Entretanto,
quando se trata de conseguir a paz, os Estados Unidos lavam as mãos. Os
outros é que cuidem do estrago que provocam, como no Haiti e no Iraque.
 
É muito fácil entender a estratégia dos chamados neoconservadores
americanos que acabaram de colocar agora um representante na principal
cadeira no Departamento de Defesa. Querem repetir o processo que levou à
exaustão a antiga União Soviética. Dado que Estados Unidos e Rússia
estão em virtual paridade nuclear, a solução é levar a Rússia à
capitulação através de uma guerra convencional, não em território russo,
que arriscaria uma guerra nuclear, mas no território de um terceiro
país. Nada melhor, pois, que a Ucrânia. 
 
O objetivo dos neoconservadores é tentar repetir uma estratégia
que, embora tendo dado certo na liquidação da União Soviética, não
liquidou o Estado russo que estava em seu coração. O Estado socialista
desmoronou, mas a nação russa, mesmo ferida, continuou de pé. Putin
tratou de recuperá-la por inteiro colocando-a na condição de um estorvo
nuclear que limita a vontade de poder ilimitada de Washington. A
intenção norte-americana de atacar o governo sírio esbarrou efetivamente
no veto russo e chinês. Isso, claramente, expôs a impossibilidade
prática do exercício de um poder hegemônico na era nuclear partilhada.
Transformado num boneco operado pelos neoconservadores, Obama resolveu
“estrangular” a Rússia com embargos econômicos.
 
Recordemos os passos que levaram à extinção da União Soviética a
fim de examinarmos os paralelos atuais. Em meados dos anos 70, foi
refundada em Washington por influência do então diretor da CIA, George
Bush pai, a ONG denominada “Comitee on the present danger”, ou Comitê
para o Perigo Presente (CPD). Tinha como principal objetivo estatutário
“levar a União Soviética à rendição, se necessário por meios militares”.
Do Comitê faziam parte 60 personalidades notáveis do círculo
conservador norte-americano, sendo que o futuro Presidente Ronald Reagan
filiou-se à ela pouco antes de eleger-se em 1979. Como Presidente,
levou a posições de alto destaque no Departamento de Defesa, no
Departamento de Estado e no Conselho de Segurança Nacional 33
integrantes do Comitê.
 
Em 1985, quando estive na Alemanha para cobrir a reunião dos Sete
Grandes, andava por lá o chefe do Conselho de Segurança Nacional dos
EUA, Richard Perle, membro do CPD, fazendo conferências sobre o conceito
subjacente ao programa de escudo nuclear, então conhecido como Guerra
nas Estrelas, que se baseava no princípio de “guerra nuclear protegida”.
Perguntei aos alemães o que achavam daquilo, pois a guerra nuclear
“protegida” no contexto de Guerra nas Estrelas implicava a proteção
nuclear do território norte-americano, mas não do europeu. Os alemães
com quem conversei estavam perplexos. Imagino que estejam perplexos de
novo com a marcha forçada pela guerra em território da Ucrânia, que os
expõe diretamente às forças militares russas convencionais em seu
próprio território.
 
É importante assinalar que não se tratava apenas de retórica.
Diretivas presidenciais de Reagan, na virada do primeiro para o segundo
mandato, introduziram mudanças cruciais nos programas de computador que
põem em posição de ataque os três sistemas estratégicos baseados em
terra, mar e ar das forças nucleares norte-americanas. Através de
vazamentos de imprensa, soube-se de mudanças fundamentais  no SIOP
(Single Integrated Operational Program, ou Programa Operacional
Integrado Único), a parafernália eletrônica capaz de desencadear uma
guerra nuclear contra a então União Soviética a partir do teatro
europeu.
 
A principal alteração no SIOP, de acordo com os fragmentos de
diretivas presidenciais secretas,  recolhidos e reconstituídos por um
cientista canadense, F. Knelman (em “America, God and the Bomb”),
consistiu em recuar para oito minutos, pelo princípio do prêmio por
resposta rápida, o início de um ataque nuclear total à União Soviética a
partir do primeiro alarme. Não se tratava de uma questão acadêmica.
Como um hipotético míssil soviético em cruzeiro levaria 36 minutos para
mergulhar em território nacional norte-americano (trata-se de míssil
disparado de terra: não se menciona a frota indetectável de submarinos
nucleares, por expediente elusivo de convencimento), o programa Guerra
nas Estrelas só se justifica se houver uma capacidade efetiva de
interceptá-lo no meio da trajetória, isto é, no mínimo 18 minutos depois
do disparo. 
 
O mesmo tempo é o que levaria um míssil americano disparado de
terra para alcançar o míssil hostil na estratosfera. Entretanto, seria
necessário um sistema de detecção instantânea do início do ataque. Para
qualquer efeito prático, não há possibilidade de alcançar o míssil antes
que cruze o ponto médio da trajetória, a não ser de uma base em órbita.
O programa Guerra nas Estrelas pretendia pôr bases em órbita, mas até
lá seria necessário contar com a boa vontade dos estrategistas
soviéticos para não atacarem primeiro. Por isso reduziram o tempo de
resposta do SIOP a oito minutos, pelo que ficou limitado a um nível de
redundância o processo de checagem para confirmar se um disparo captado
na tela de controle eletrônico era um disparo real. Com isso ficamos
todos expostos à possibilidade de uma guerra nuclear casual na medida em
que o SIOP reagiria automaticamente a uma checagem errada sem tempo de
consulta para resposta ao falso ataque do Presidente da República.
 
O primeiro passo para implementar Guerra nas Estrelas era ignorar o
tratado SALT II, que vedava a construção de sistemas antibalísticos por
parte de EUA e União Soviética. A lógica do SALT II, jamais aprovado
pelo Senado norte-americano mas até então respeitado pelo Executivo, era
simples: a dissuasão nuclear só se efetiva na base da autodestruição
assegurada por quem iniciar uma guerra nuclear. Se um dos lados
conseguir construir um sistema operacional que efetivamente proteja seu
território de um contra-ataque nuclear, ele estará livre para
desencadear um primeiro ataque sem medo de retaliação. Cientistas de
todo mundo, inclusive americanos, questionaram as bases técnicas de
Guerra nas Estrelas, mas Reagan, a fim de esgotar a União Soviética numa
corrida tecnológica para construir seu próprio escudo, levou Gorbachev a
uma posição insustentável por falta de condições econômicas e técnicas
para isso.
 
Foi a combinação de pressão tecnológica, econômica e política
norte-americana que levou a União Soviética à autodestruição. É este
mesmo caminho que está sendo seguido agora para levar a Rússia à
exaustão econômica e à rendição política. Não se trata de teoria
conspiratória. Os norte-americanos, conscientes de sua superioridade
militar e econômica, nunca escondem suas reais intenções. Seus
movimentos são explícitos e claramente apresentados em documentos
estratégicos públicos. Assim, eis como a intenção de eliminar qualquer
possibilidade de “um novo rival” era colocada em 1992, imediatamente
depois da derrota da União Soviética, pelo neoconservador Paul
Wolfowitz, do CPD, então Subsecretário da Defesa, no Manual de
Planejamento de Defesa: 
“Nosso primeiro objetivo é prevenir a re-emergência de um novo
rival, seja no território da antiga União Soviética seja em outro lugar,
que coloque uma ameaça do tipo que foi colocado pela antiga União
Soviética. Isso é uma consideração dominante sublinhando a nova
estratégia de defesa regional e requer que previnamos qualquer
 tentativa de um poder hostil de dominar uma região cujos recursos
poderiam, sob controle consolidado, ser suficiente para gerar poder
global.”
 
Essa linha estratégica está sendo trilhada religiosamente no
sentido de evitar que a Rússia seja um embaraço para a hegemonia militar
absoluta norte-americana, contornando a realidade elidida da virtual
paridade nuclear. O SALT II foi revogado,  unilateralmente, pelos EUA.
Eles se recusam, por outro lado, a fazer um tratado de desmilitarização
do espaço.  Assim, é necessário recuar à geopolítica anterior à Guerra
Fria para entender os movimentos americanos. De fato, há uma década e
meia a possibilidade real de uma guerra na Ucrânia está sendo preparada
metodicamente pela OTAN, que agora mesmo acaba de decidir aumentar o
comprometimento de orçamento militar de seus membros (2% do PIB) por
pressão americana. Desde 1999 que a Organização avança para o Leste.
Naquele ano, incluiu a República Checa, a Hungria e a Polônia. Uma
segunda expansão se deu em 2004, incluindo Bulgária, Estônia, Latvia,
Lituânia, România, Eslováquia e Eslovênia.  Com isso, quase metade dos
países atualmente membros da OTAN foram incorporados, rumo ao Leste,
depois do fim da URSS. Paralelamente expandia-se para Leste a União
Europeia, cujo último movimento seria a tentativa de tomada de posse da
Ucrânia. E só não houve a efetiva incorporação da Ucrânia e da Geórgia,
formalmente sinalizada na cúpula de Bucareste em 2008, porque dessa vez
Putin reagiu pela força, pois se tratava, a seu ver, de colocar uma
fortaleza militar hostil no quintal de seu país.
 
O cerco militar à Rússia segue uma tríplice estratégia: alargamento
da OTAN, expansão da União Europeia e promoção da “democracia”,
obviamente desconsiderando o risco de uma guerra aberta. Diante do baile
estratégico que foi a absorção da Crimeia pela Rússia, com apoio
esmagador da população da península, os Estados Unidos se movem na
direção da guerra através inicialmente de sanções econômicas, a partir
de uma posição forte, recém-conquistada, no campo da energia. Contudo,
não nos iludamos. Uma guerra convencional seria de alto interesse
norte-americano, desde que ela pudesse esgotar a capacidade militar e
econômica russa sem o risco de escalar para uma guerra nuclear. É com
essa possibilidade que os neoconservadores contam para iniciar a
guerra. 
 
Sabemos, por outro lado, pela experiência histórica, que os Estados
Unidos não se preocupam muito em como acabar com guerras. Para eles
trata-se de um jogo estratégico para assegurar a afirmação da hegemonia
mundial. Por isso, no momento, a única força capaz de parar a máquina de
guerra americana é o povo dos Estados Unidos, tocado pela consciência
de solidariedade com os bilhões de inocentes do mundo, e eles próprios,
que sofreriam as consequência de uma guerra proto-nuclear. É necessário
que os inocentes rompam com a passividade, falem e votem. De fato, os
Estados Unidos podem esgotar as forças econômicas e militares dos russos
numa guerra em território de terceiro. Mas o que acontece com uma
potência derrotada, humilhada, sitiada, e não obstante de posse de um
imenso arsenal nuclear?
 
Aos que consideram essa análise exagerada peço que leiam “Foreign
Affairs”, uma das mais prestigiosas revistas do estabelecimento
norte-americano, em detalhados e esclarecedores artigos sobre a “crise”
na Ucrânia, na edição de setembro último. Um deles diz claramente: “a
crise na Ucrânia é nossa culpa”, referindo-se aos Estados Unidos. No
corpo da matéria vem a narrativa da marcha da OTAN para Leste, em
confronto direto com entendimentos anteriores com os russos e sob
constantes protestos destes. Ali também se encontra o relato do caos
planejado pelo Departamento de Estado e ONGs patrocinadas pelo Governo
norte-americano para derrubar o governo legítimo pró-russo de Kiev,
colocando em seu lugar um governo que tem pelo menos quatro membros
proeminentes neofacistas.
 
Ainda em termos de medidas provocativas contra a Rússia, destaca-se
a monstruosa derrubada do avião comercial MH 17 sobre o Leste da
Ucrânia, um típico atentado terrorista que os Estados Unidos pretenderam
atribuir a forças pró-russas. Falso. O avião, de que já não se fala
mais muito sintomaticamente, foi derrubado por forças do governo de
Kiev, conforme denunciou o presidente russo Vladmir Putin, numa reunião
internacional, com base em investigações independentes, e com
praticamente nula repercussão no Ocidente.
 
O ânimo dos neoconservadores  norte-americanos para o confronto
global com os russos, a partir da economia, ganhou força com a revolução
energética representada pela exploração de gás de xisto nos Estados
Unidos através de uma das mais criminosas tecnologias do ponto de vista
ambiental, o fracting. O sucesso comercial do empreendimento, com rápida
expansão de produção de gás e petróleo de xisto, possibilitou atacar o
principal pilar da economia russa, grande produtora e exportadora de
petróleo e gás, e, simultaneamente, “tranquilizar” os europeus quanto à
possibilidade de cessação de suprimento de gás russo à Europa, o qual
seria substituído pelo norte-americano.
 
Não se sabe se os sauditas entraram nesse jogo por razões
geopolíticas, evitando reduzir a produção de petróleo para prejudicar os
russos, ou por suas próprias razões de tentar inviabilizar
economicamente a produção de hidrocarbonetos por fracting. O fato é que
também grandes empresas norte-americanas, que investiram pesadamente no
petróleo e gás de xisto, estão tendo pesados prejuízos com a redução do
preço do petróleo, que agrada mesmo só ao consumidor. Por outro lado, as
promessas supostamente infinitas do fracting  se revelaram
surpreendentemente  limitadas nos últimos meses:  em Monterey, na
Califórnia, reservas de petróleo de xisto antes avaliadas em 13,7
bilhões de barris foram reavaliadas oficialmente para 600 milhões, ou
96% menos. Além disso, a opinião pública norte-americana começa a ser
mover contra o fracting: segundo uma pesquisa de opinião recente, em
2008, 48% a 38% dos norte-americanos apoiavam essa tecnologia; em
novembro último, 47% a 41% se manifestaram contra. Isso certamente
reflete a comprovação inequívoca da destruição ambiental, sobretudo de
aquíferos, que essa tecnologia suja provoca no meio ambiente de forma
irreversível. 
 
Enquanto o mercado de hidrocarbonetos não sofrer nova reviravolta,
refletindo o fracasso da Califórnia, a Rússia, sem dúvida, será
penalizada pela estratégia norte-americana de seu estrangulamento
econômico. Putin, com sua frieza característica, ponderou que a Rússia é
um país autossuficiente e, de qualquer modo, tem meios de retaliação –
imaginando certamente um embargo na exportação de gás para a Europa. Uma
importante ficha para a Rússia é certamente a China, que já lhe
garantiu um contrato de fornecimento de gás por 20 anos no montante de
400 bilhões de dólares, e que tem se alinhado com ela em questões
geopolíticas, como no caso da Síria. Contudo, estamos claramente diante
de uma escalada.
 
O novo passo estimulado pelos EUA foi a recente decisão do
Parlamento da Ucrânia de renegar sua neutralidade. Note-se que o próprio
Kissinger, num artigo recente, assinalou que a solução definitiva para a
crise ucraniana, de uma forma aceitável pela Rússia, seria transformar a
Ucrânia num país neutro entre a União Europeia/OTAN e a Rússia, como
aconteceu com a Finlândia na Guerra Fria. Contudo, Kissinger é um velho
conservador lúcido, não um neoconservador alucinado. Os EUA, sob
controle destes, indicam que não aceitarão perder mais essa oportunidade
de guerra. Tudo indica que forçarão a Rússia a aceitá-la. Com a
integração da Ucrânia na OTAN, numa iniciativa indiferente aos milhões
de russos e russófilos no Leste do país, a aliança militar ocidental
estaria nas costas da Rússia, o que significa ameaça direta a seu
território. O mínimo que a Rússia buscaria seria retalhar a Ucrânia com
apoio local, o que de uma certa forma foi ensaiado na Crimeia. Seria
então uma guerra global em território ucraniano? 
 
E nós, que temos a ver com tudo isso? Os inocentes entre nós acham
que os neoconservadores norte-americanos veem com muita naturalidade
nossa aproximação, via BRICS, com sua arqui-inimiga Rússia. Acreditam
que a gravação das conversas da Presidenta foi mero divertimento. Acham
que as tentativas de desestabilização do legítimo Governo brasileiro
atual, assim como o reeleito, são fenômenos exclusivamente internos, ou
resultantes dos impulsos éticos de alguns tribunais. Pelo fato de termos
passado à margem de guerras, e estarmos no centro de um continente
 peculiarmente pacífico, nos acostumamos a não pensar geopoliticamente –
mesmo porque, na era nuclear, a geopolítica devia estar definitivamente
fora de moda. Contudo, querendo ou não, estamos no jogo. Se o preço do
petróleo cair abaixo de 40 dólares o barril, a exploração do pré-sal
estará inviabilizada. Se os Estados Unidos fizeram a guerra contra a
Rússia em território ucraniano, teremos de fazer difíceis escolhas.  
 
 
J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

domingo, 21 de dezembro de 2014

Petrobras: sob a lei dos Estados Unidos?

Petrobras: sob a lei dos Estados Unidos?

Petrobras: sob a lei dos Estados Unidos?


141215-Petrobras


Como uma decisão do governo FHC, mantida por seus sucessores,
ameaça empresa e Pré-Sal. Possível alternativa: recomprar ações,
tornando companhia 100% brasileira 



Por J. Carlos de Assis


Somos um país que se contenta com aparências. Quando o Governo
Fernando Henrique decidiu colocar a Petrobrás sob a ordem jurídica
americana, nos anos 90, não nos demos conta de que era irrelevante mudar
o nome de Petrobrás para Petrobrax, ou para Petrobras sem o acento no a,
como acabou prevalecendo. O que muitos não perceberam é que, por trás
da troca de nomes para “facilitar” a internacionalização da empresa via
lançamento de ações na Bolsa de Nova Iorque, havia a inevitável
consequência de mudança de soberania sob a qual a empresa passaria a
atuar.


Não me atrevo a dizer que havia um propósito deliberado de colocar a
Petrobras, a maior empresa da América Latina, sob a ordem jurídica
norte-americana. Havia, sim, o propósito econômico de internacionalizar a
empresa. A questão jurídica seria mera consequência, aparentemente sem
maiores problemas na visão dos economistas neoliberais da época. Dado
que nos anos 90 se tinha como consumado o processo de globalização sob a
doutrina neoliberal, os ideólogos econômicos do Governo FHC acharam
natural aproveitar a onda da internacionalização sem medir as
consequências jurídicas disso. Aliás, há muito se sabe nesse círculo que
o que é bom para os EUA é bom para o Brasil!



TEXTO-MEIO




Agora essas consequências estão aí. A Petrobras, uma empresa de
economia mista sob controle do Estado brasileiro, está sob investigação
do Departamento de Justiça dos Estados Unidos por conta do escândalo
Paulo Roberto. Se os economistas que internacionalizaram a Petrobras
acham que também isso é irrelevante, atentem-se para o que aconteceu com
o pagamento pela Argentina dos credores de sua dívida externa
renegociada. O acordo foi questionado porque os títulos haviam sido
registrados em Nova Iorque. Os juízes norte-americanos se acham donos do
mundo. Não há ordem superior à deles. Fazem o que querem, sem medir
consequências sociais e econômicas, ou com relação a soberania.


Se o Departamento de Justiça norte-americano identificar como
irregularidades de mercado, reais ou inventadas, certos procedimentos da
diretoria da Petrobras, poderá propor multas da ordem de bilhões de
dólares, abalando a situação econômico-financeira da empresa. Para se
ter uma ideia, Citigroup e Bank America se submeteram, cada um, a multas
de 20 bilhões de dólares por conta de fraudes no mercado de títulos
imobiliários no contexto da crise financeira. No caso da Petrobras,
acionistas individuais que se sintam lesados também terão cobertura da
SEC, a agência de regulação, para propor ações judiciais, entupindo a
capacidade de resposta da empresa que terá de manter um batalhão de
advogados em Nova Iorque.


Nacionalistas, como eu, se sentirão ultrajados. Mas o que poderemos
fazer diante de uma situação criada pelos economistas de FHC quando
tinham a liberdade de não fazer a internacionalização da empresa? De
fato, as vantagens trazidas pela internacionalização da Petrobrás –
venda na Bolsa de Nova Iorque de mais de 30% de suas ações – eram
ínfimas em relação aos riscos incorridos. Note-se que a indústria
automobilística americana tem ganhado bilhões aqui e nunca abriu seu
capital para brasileiros. Só quem acredita que a ordem jurídica do país
hegemônico deve ser a ordem universal, sem contestação, pode encarar
como normais, e suportáveis, as consequências jurídicas da
internacionalização da Petrobrás.


Se antes havia dúvida quanto aos riscos, a situação atual, que
qualquer advogado razoável poderia prever, revela friamente que a
internacionalização da Petrobras foi um crime de lesa-pátria. Não se
diga que era imprevisível. Houve muitos protestos, interpretados na
época como estatizantes e anacrônicos. O resultado agora é que a “causa”
da Petrobras está nas mãos de uma Justiça discricionária, privatista,
anti-setor público, regulada pelo princípio do Direito consuetudinário,
não do Direito positivo, e que se arvora, não raro, prerrogativas de
extraterritorialidade. Uma Justiça desse tipo pode tentar quebrar a
Petrobras em nome dos interesses do acionista minoritário americano, e
da ideologia neoliberal anti-Estado.


Objetivamente, temos como fato concreto, ainda a ser definitivamente
apurado, fraudes bilionárias articuladas por um diretor bandido em favor
de si mesmo e de alguns partidos políticos por ele mencionados, mas por
enquanto sem provas. Consideremos que todas as acusações sejam
verdadeiras. A Petrobrás é vítima, não autora do crime. Ela seria
implicitamente conivente, como foi o caso do Bank of America e do
Citigroup, se decidisse acobertá-lo com o pagamento de multa para se
livrar do processo criminal. Não é o caso da Petrobras, que não fez
nenhum movimento para acobertar do crime seu ex-diretor. Contudo, uma
Justiça privatista pode torcer os fatos. Seria melhor não estar
subordinado a ela. Para isso, talvez teremos que comprar as ações da
internacionalização de volta ao custo de um valor substancial de nossas
reservas internacionais.

O significado da indiferença

janio de freitas




O significado da indiferença











Os 53 anos do bloqueio americano a Cuba não foram ao regime comunista
cubano. Foram a milhões de crianças, e a milhões de mulheres, e a
milhões de homens, que compuseram na infância, na juventude, como
adultos e como velhos as sucessivas gerações submetidas a mais de meio
século do flagelo inútil de carências terríveis.





O regime sobreviveu muito bem, deu-se mesmo ao luxo de derrotar todas as
investidas, nas mais variadas formas, que a maior potência bélica não
cessou de lhe dirigir. As afirmações de que o regime mudou não são
inteligentes, são apenas vulgares. O que mudou foi o mundo, e o regime
se adaptou às circunstâncias, como sempre fizera, e por isso sobreviveu.
Em Nova York, há 50 anos, ver negros entrando no elevador com brancos
era prova de estar na ONU. Hoje a discriminação continua, porque o
segregacionismo está na índole do país, mas os brancos vão à Casa Branca
(um nome sugestivo) para falar com um negro.





E por que tantos anos de sofrimento imposto a um povo cujo país nada poderia contra os Estados Unidos?





Os motivos do bloqueio e seus antecedentes perderam-se na vaguidão
"cultural" da atualidade. Mas não diferem dos outros que têm movido os
Estados Unidos mundo afora. Apoiadores da ditadura de Fulgencio Batista
–simbolizável nos órgãos genitais mandados à noiva do estudante
oposicionista que os perdeu em tortura–, os Estados Unidos exigiam que a
revolução democrática de Fidel Castro preservasse os negócios de
americanos no seu quintal cubano: a maior concentração de cassinos e
bordéis do mundo, bebidas alcoólicas, grandes plantações de cana com mão
de obra semiescrava e exportação de açúcar. Cuba era dividida entre
negócios e grupos da máfia americana.





Os problemas começaram com o fechamento dos cassinos e bordéis. Os
chefes mafiosos haviam sido importantes para a eleição de Kennedy. A
escalada foi intensa: reação americana, avanços revolucionários com
nacionalizações e com reforma agrária. Kennedy ordenou a invasão,
derrotada pelos cubanos, e o bloqueio total a Cuba. Fidel, em seu
primeiro grande movimento de manipulação das circunstâncias, compõe-se
com a oferta de ajuda da União Soviética, típica da Guerra Fria. Até
então, e desde a luta contra Batista, o grupo de Fidel e os comunistas
mantinham hostilidade frontal. Também isso mudaria, e mudaria tudo mais.





Dez anos depois da morte de Stálin, o Partido Comunista Cubano
conservava o stalinismo em sua forma mais ortodoxa. Integrado a um
governo que precisava apegar-se às relações com a União Soviética, o PCC
e suas concepções tornaram-se a força predominante na caracterização do
regime.





A crise da União Soviética desnorteou o regime cubano, e o fim do
comunismo soviético lançou-o em circunstâncias que enfraqueceram a
ortodoxia. No tempo das aberturas, o poder voltou ao reformismo, com uma
peculiaridade: passou de irmão a irmão, com o sisudo e inflexível Raul
retomando o Fidel extrovertido e aberto do princípio. E agora, o papa
Francisco, o segundo papa cristão em nosso tempo, com João 23.





A tão longa indiferença americana com o sofrimento de milhões de vítimas
do bloqueio não tem originalidade. É a mesma que, em certa manhã de
verão, lançou sobre os habitantes de Hiroshima uma tempestade de fogo e
gases que os carbonizou, quando o seu país já queria discutir os termos
da rendição. E, passadas pouco mais de 48 horas, a mesma indiferença
jogou uma segunda bomba atômica, sobre os habitantes de Nagasaki,
incandescendo-os todos. É a mesma indiferença que lançou sobre o pequeno
Vietnã mais bombas com o fogo pegajoso do napalm do que todas as suas
bombas lançadas na Europa e na Ásia durante a Segunda Guerra Mundial. É a
mesma indiferença de um país, em palavras recentes do seu presidente,
que "está em guerra permanente".





Indiferença pode ser sinônimo de perversão e de perversidade.
Significado que, parece provável, os futuros historiadores vão preferir.

















Janio de Freitas,

sábado, 20 de dezembro de 2014

Gigolette em Estocolmo — CartaCapital

Gigolette em Estocolmo — CartaCapital

Política

Editorial

Gigolette em Estocolmo

O governo enche as burras de quem bate nele dia e noite e não hesita em manipular, omitir, inventar e mentir

por Mino Carta



publicado
19/12/2014 10:16


A Folha de S.Paulo está de parabéns: na sua edição de quarta 17 provou que o governo federal tem acentuadíssima vocação para mulher de apache, a gigolette
que gosta de apanhar do gigolô. Ou se trataria de uma forma aguda da
síndrome de Estocolmo? De todo modo, a reportagem desdobrada a partir da
manchete da primeira página demonstra, com precisão de teorema
pitagórico, que o governo cumula de favores aqueles que o denigrem
ferozmente dia após dia.


O trabalho em questão, de página inteira no interior da edição,
informa que entre os anos 2000 e 2013 as Organizações Globo ganharam 5,2
bilhões em publicidade das estatais e a Editora Abril mais de 500
milhões. A Folha faz questão de dividir a mídia nativa em dois
campos. De um lado, a maioria das empresas, reunidas neste canto sem
maiores esclarecimentos. Do outro, as “empresas alinhadas ao governo”,
encabeçadas pela Editora Confiança, que publica CartaCapital, Carta na Escola e Carta Fundamental. E nós não passamos de 44,3 milhões.


Dirá o desavisado: alinhados e mal pagos. Vale aqui, antes de mais
nada, uma reflexão. Que significa alinhado? No governo de Fernando
Henrique, não vimos a cor de um único, escasso anúncio de estatal. E
como se deu a nossa sobrevivência nos oito anos tucanos? Teria nos
socorrido o ouro de Cuba ou de Moscou?


Apoiamos a candidatura de Lula em 2002 e 2006 e a de Dilma em 2010 e
2014, de acordo com uma prática comum em países democráticos e
civilizados. Apoiamos, de início, e confirmamos ao longo do tempo, por
razões larga e frequentemente esclarecidas aos leitores. Os governos de
Lula e Dilma são pioneiros na realização de uma política de inclusão
social muito bem-sucedida e de uma política exterior independente dos
interesses do império americano, ambas vitais para o País. Em outros
pontos, no decorrer desses 12 anos, fomos críticos severos. Por exemplo,
em relação a uma política industrial ineficaz. Ou à rendição aos
transgênicos. Ou a toda e qualquer medida econômica embebida em
neoliberalismo. Quanto ao PT, de pronto consideramos, e sublinhamos, que
no poder porta-se como os demais.


Ao listar os pretensos alinhados e ao não qualificar os demais, a Folha
nos atribui o papel de jornalistas de partido e com isso fornece outra
prova: como sempre, obedece aos seus naturais pendores e, no caso,
manipula a informação e omite a qualidade dos demais, alinhados de um
lado só, guiados pelo pensamento único enquanto, hipócritas inveterados,
declamam sua isenção, equidistância, pluralidade. Ou seja, inventam e
mentem.


Vale entender que na visão de CartaCapital, o problema número 1
é a herança de três séculos e meio de escravidão a manter de pé, até
hoje, a casa-grande e a senzala. Eis a primeira razão do atraso do
Brasil. Desde a precariedade de Educação e Saúde oferecidas à maioria
até a falta total de um Prêmio Nobel. Desde a atuação de juízes
dedicados à política em vez de fazer justiça até os oligopólios
midiáticos. Desde a Ficha Limpa de Paulo Maluf até o enterro da
Satiagraha. E este é um aspecto capital: jornalões, revistões,
televisões e quejandos são os porta-vozes da casa-grande. De resto, é do
conhecimento do mundo mineral que os patrões da mídia nativa são
moradores remidos do edifício colonial, daí a naturalidade dos seus
comportamentos. Ideológicos? Pois é, ideológicos. E depois dizem que a
ideologia morreu...


Ressalve-se que uma parte conspícua da chamada classe média fica um
degrau abaixo do mundo mineral em matéria de conhecimento, mas é claro a
olhos mais treinados que deste profundo desequilíbrio social, a
contrariar mesmo o capitalismo domesticado, conforme a definição do
professor Belluzzo, brotam o instinto de predação, a impunidade dos
graúdos, e a vexatória peculiaridade da democracia à brasileira. Pois
inovamos Montesquieu, temos aqui Executivo, Legislativo, Judiciário e
Forças Armadas, o inesgotável poder militar. Há quem sugira um quinto
poder, o Mercado, o qual, no entanto, infesta o planeta todo, cada vez
mais imbecilizado.


Até agora não entendi por que o governo convocou uma Comissão da
Verdade para esforçar-se à toa em busca da própria e descobrir ao cabo
que, desde a saída, estava decidida a confirmação da dita lei da anistia
imposta pela ditadura. O resto da humanidade não sabe que crimes
cometidos contra o gênero humano prescrevem, como está a ser
sacramentado por aqui, e sequer imagina que a democracia possa conviver
com um tribunal militar, habilitado a condenar o próprio relatório da
comissão convocada pelo governo.


Mas não há trégua para nossos padecimentos. Surge quem proponha
julgar a justíssima causa dos resistentes à ditadura. É como sustentar
que, terminada a Segunda Guerra Mundial, caberia na Itália esclarecer ao
mesmo tempo as responsabilidades de Hitler e Mussolini, em um canto, e
dos partigiani da Resistência no outro. Ou na França, de Hitler e
de Petain, e dos maquis. Só falta imaginar que, à margem do riacho, o
cordeiro merece ser investigado tanto quanto o lobo.


O Brasil vive não somente uma crise moral, mas também a da razão.
Talvez prepare o caminho para outra, maior e fatal. Algo é certo: o
Brasil não está maduro para o jornalismo honesto.

Barroso: ‘O sistema político é uma usina do mal’

Barroso: ‘O sistema político é uma usina do mal’

Barroso: ‘O sistema político é uma usina do mal’

Josias de Souza
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Josias de Souza entrevista o ministro do STF Luís Roberto Barroso - 10 vídeos

.
Ministro
do STF há um ano e meio, Luís Roberto Barroso revela-se convencido de
que, enquanto não for reformado o modelo político brasileiro, a
principal consequência de um escândalo será a produção de outro, e
outro, e mais outro… “Houve o mensalão, agora tem este que chamam de
petrolão e, certamente, enquanto a gente conversa, continuam acontecendo
coisas erradas”, disse ele, em entrevista ao blog. “O sistema político brasileiro é uma usina do mal”, acrescentou.

Para
Barroso, o sistema tornou-se “indutor da criminalidade”. Move-se na
contramão do movimento civilizatório. “A vida civilizada existe para
reprimir o mal e potencializar o bem”, disse o ministro. “O sistema
político brasileiro faz exatamente o contrário. Ele reprime o bem e
potencializa o mal.”

Há no Brasil 32
agremiações partidárias com registro na Justiça Eleitoral. Isso não é
bom. Mas o ministro receia que fique muito pior. “Eu li que existem mais
três dezenas de partidos políticos pedindo registro e se habilitando
para participar da cena política”, alarmou-se Barroso. “E ninguém se
ilude, achando que é um surto de idealismo, um surto de patriotismo, um
surto de pessoas querendo discutir ideias para o país. É porque isso
virou um negócio. A política não pode ser um negócio.”

Na visão de
Barroso, é na caixa registradora dos comitês eleitorais que a natureza
mercantil da política se manifesta de maneira mais explícita. “O modo
como as empresas participam do financiamento eleitoral é antidemocrático
e antirrepublicano. Portanto, gera um problema de constitucionalidade.”

Por
quê? “Não há nenhum tipo de disciplina jurídica, nenhum tipo de limite.
Então, a mesma empresa —e isso acontece corriqueiramente, e aconteceu
de novo— pode financiar os três candidatos a presidente da República.
Bom, se está financiando os três não é uma questão ideológica.”

De
duas, uma: “Ou as empresas são achacadas para dar dinheiro ou estão
comprando um favor futuro dando dinheiro”, afirmou Barroso. “Qualquer
uma das duas alternativas é péssima. […] Depois da eleição, esta empresa
que financiou pode contratar diretamente com a administração pública. E
pode ser contratada —às vezes sem licitação. […] Ou ela vai obter um
belo financiamento do BNDES, quando já não esteja financiando a campanha
política com o dinheiro do BNDES. Ou seja, tudo errado.”

Como se
sabe, a “usina do mal” de que fala o ministro Barroso produz réus
ilustres. São autoridades que usufruem do chamado foro por prerrogativa
de função —só podem ser processadas e julgadas no Supremo. O
procurador-geral da República Rodrigo Janot anunciou para fevereiro o
envio ao STF das denúncias contra os políticos pilhados recebendo
propinas na Petrobras.

Graças a uma proposta formulada por
Barroso, em coautoria com o colega Teori Zavascki, os políticos
encrencados em ações penais passaram a ser julgados mais rapidamente.
Relator do mensalão desde que Joaquim Barbosa aposentou-se, Barroso
propôs que as denúncias da Procuradoria da República contra
congressistas e ministros passassem a ser analisadas nas duas turmas do
STF, não mais no plenário da Corte.

Zavascki, hoje responsável
pelo caso do petrolão na Suprema Corte, propôs que, além da análise
sobre a procedência das denúncias da Procuradoria, o próprio julgamento
dos réus ficasse sob a responsabilidade das turmas do Supremo.

“Quando
eu sugeri, minha principal motivação era desobstruir o plenário”,
declarou Barroso. “O plenário do Supremo deve ser uma Corte
constitucional, deve julgar grandes temas de interesse da nacionalidade,
em ações diretas de inconstitucionalidade ou em repercussão geral.”

O
que vinha acontecendo, recordou o ministro, é que “o Supremo passava
tardes no plenário para receber uma denúncia, com 11 ministros se
pronunciando, às vezes sobre uma questão simples.” No julgamento do
mensalão, a situação chegou às raias do paroxismo. “Na ação penal 470,
que foi a do mensalão, o tribunal passou um ano praticamente em função
disso. E há outras coisas importantes.”

Barroso celebrou o êxito
da novidade que ajudou a introduzir na rotina do STF. “A partir do
momento que nós passamos para a turma, que não tem televisão, tem menos
pessoas e uma dinâmica muito mais ágil, nós já recebemos quase três
dezenas de denúncias na Primeira Turma, que é a minha. E já julgamos dez
ou 15 ações penais em pouco mais de seis meses. Ou seja, o que estava
atravancado no plenário passou a andar nas turmas.”

A falta de
televisionamento não compremete a transparência das decisões? “A turma é
transmitida internamente com acesso aos jornalistas. Portanto, as
sessões são públicas”, disse Barroso. “Todos os jornalistas que cobrem o
Supremo assistem às sessões das turmas. Ela não passa na TV aberta. […]
Mas não há nenhum tipo de impedimento de que, havendo um julgamento
relevante feito pela turma, ela seja transmitida pela TV Justiça.”

A
transmissão televisiva das futuras sessões de julgamento dos prováveis
réus do petrolão não está assegurada. Mas Barroso esclarece que não se
opõe à entrada das câmeras. “Os advogados reclamavam muito de
julgamentos criminais transmitidos pela TV Justiça. Mas não há nenhum
impedimento regimental, constitucional ou legal. E acho que, nessas
grandes questões públicas, a transparência, a visibilidade, é
prioritária.”

Barroso falou ao blog nesta
quinta-feira (18), em seu gabinete. Entre outros temas, discorreu sobre:
1) a urgência de o Congresso aprovar uma reforma política, a
conveniência de retirar do STF a atribuição de julgar ações penais
contra congressistas e ministros; 2) a decisão de conceder aos
condenados José Dirceu, Delúbio Soares e Valdemar Costa Neto a
“progressão de regime” que os converteu em beneficiários da prisão
domiciliar; 3) o despacho que negou ao condenado João Paulo Cunha o
mesmo benefício; e 4) o futuro da Lei da Anistia no STF. Não deixe de
assistir aos principais trechos da entrevista, disponíveis nos vídeos lá
do alto.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Provas contra Daniel Dantas não valem, decide STF

Provas contra Daniel Dantas não valem, decide STF. Estavam no andar errado… | TIJOLAÇO 


Provas contra Daniel Dantas não valem, decide STF. Estavam no andar errado…

16 de dezembro de 2014 | 18:49 Autor: Fernando Brito



O juiz Sérgio Moro, diz o UOL, começou investigando um “posto de
combustível Lava Jato. Depois “evoluiu” e apura fraudes bilionárias.


Agora, o STF anula as provas obtidas nas operações Satiagraha e
Chacal sobre Daniel Dantas e o banco Oppurtunity porque elas estavam nos
“dados de um disco rígido (de um computador) da instituição financeira”
em um andar diferente do 28° andar de um edifício no Rio de Janeiro”.


Andar errado, portanto e o relator, Ministro Gilmar Mendes, disse que
“os policiais identificaram um novo local de interesse, fora do âmbito
do mandado expressamente direcionado ao 28º andar”, e a Ministra Carmem
Lúcia completou dizendo que isso era “invasão de espaço privado”.


Leia o texto do Valor e imagine se, no julgamento da Lava-Jato, forem usados os mesmos critérios…


Thiago Resende | Valor


BRASÍLIA  –  O
Supremo Tribunal Federal (STF) declarou como ilegais provas obtidas na
sede do Banco Opportunity contra o empresário Daniel Valente Dantas,
investigado pelas operações Satiagraha e Chacal, da Polícia Federal
(PF), envolvendo crimes financeiros. O habeas corpus foi julgado pela
Segunda Turma da Corte e cabe recurso da decisão, que foi unânime.



A defesa de Dantas alegou que dados de um disco rígido da instituição financeira foram copiados sem ordem judicial específica.


Em outubro de 2004, policiais federais cumpriam mandado de busca e
apreensão no endereço profissional do empresário, localizado no 28º
andar de um edifício no Rio de Janeiro. O documento foi expedido pelo
juiz da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo. A sede do banco, no
entanto, ficava em outro andar do mesmo prédio. Então, um juiz
substituto autorizou a cópia de informações da instituição financeira.



O relator do processo, ministro Gilmar Mendes, já havia votado a
favor da ilegalidade das provas e da devolução do material apreendido na
sede do banco e de eventuais cópias dos dados. Para ele, um mandado
como esse deve indicar, da forma mais precisa possível, o local em que
será realizada a ação.



“Ocorreu que os policiais identificaram um novo local de
interesse, fora do âmbito do mandado expressamente direcionado ao 28º
andar”, afirmou Mendes.



A ministra Cármen Lúcia, que tinha pedido vista (mais tempo para
analisar) do caso, reabriu o julgamento do habeas corpus, concordando
com o voto do relator. A ação dos agentes foi uma “intrusão em espaço
privado”, o que descumpre normas constitucionais, argumentou ela.



“Ninguém pode ser investigado, ninguém pode ser denunciado,
ninguém pode ser processado e muito menos condenado com base unicamente
em provas ilícitas”, disse o ministro Celso de Mello, elogiando o voto
do relator, que, segundo ele, é “preciso, coerente e integralmente
compatível com o nosso sistema judicial”.



“Não podemos, não importa de quem se cuide, de quem se trate, não
importa de que infração penal se cogite, o fato é que todos estamos
sobre o império e a proteção da autoridade das leis e da Constituição da
República. E esse é o anteparo que nos protege contra eventuais abusos,
conscientes ou não, dolosos ou não, de agentes da autoridade pública”,
completou Mello.



O presidente da Turma, Teori Zavascki, pouco comentou sobre o
caso – apenas declarou que concordava com o voto do relator, o que
tornou a decisão unânime.

Na “lista da propina”, falta dinheiro, ou faltam políticos ou falta verdade

Na “lista da propina”, falta dinheiro, ou faltam políticos ou falta verdade | TIJOLAÇO 

Muito estranha a lista dos beneficiários de dinheiro de empreiteiras que trabalhavam para a Petrobras, divulgada hoje pelo Estadão.


Dois valores citados, chega-se á conclusão que os maiores foram
para políticos de oposição, em valores que, de forma alguma, poderia ser
confundidos com doações eleitorais: Eduardo Campos (R$ 20 milhões) e
Sérgio Guerra (R$ 10 milhões).


Supõe-se que, embora hoje ambos estejam mortos, Costa tem os meios de demonstrar como e por que meios foram feitos os repasses.


Aliás, o mesmo deve se aplicar àqueles que, diz o jornal, “segundo o
ex-diretor de Abastecimento, recebiam repasses com frequência ou valores
que chegaram a superar R$ 1 milhão”.


Mas, estranhamente, a reportagem afirma que “sobre vários políticos, o
ex-diretor da estatal apenas mencionou o nome. Não revelou valores que
teriam sido distribuídos a eles ou a suas agremiações”.


Muito pouco para quem está “enojado”, “arrependido” e disposto a “entregar tudo”.


E para quem vai sair livre depois de ter roubado – com todo este
“nojo” alegado – R$ 23 milhões de dólares, com a ajuda da família,
também perdoada.


Não tenho a menor simpatia por nenhum dos citados – muito ao
contrário, na maioria dos casos – mas é preciso discernir entre o que é
pedir para conseguir doações e negociar contratos para receber propina.


Porque se pedir doações eleitorais de empresas for crime, dos 513 deputados e 81 senadores sobraria uma dúzia, se tanto.


Nenhuma empresa doará se não se lhe pedir, não é?


Goste-se ou não (viu, Ministro Gilmar Mendes?) é assim que funcionam eleições com financiamento privado de campanhas.


É algo completamente diferente, senão do ponto de vista moral, do ponto de vista jurídico.


O tráfico de influência, juridicamente, liga o pedido à promessa de uma vantagem.


Dizem as metáforas jurídicas que teria vindo de  um certo Vetronio
Turino, que vendia supostos favores do imperador romano Alessandro
Severo e que foi executado com fumaça, pois fumaça vendia.


Não duvido que os demais políticos citados tenham pedido a Paulo
Roberto Costa que conseguisse doações de empreiteiras para suas
campanhas.


Centenas de  candidatos a deputado, a senador, a governador, a
vereador pediram diretamente ou solicitaram a alguém que pedisse
dinheiro a empreiteiras. No mínimo, aceitaram que alguém pedisse em seu
nome.


Será que as empreiteiras, as  citadas na Lava Jato  e outras, foram
bater espontaneamente na porta de Aécio Neves e dizer “queremos te doar
R$ 50 milhões”?


Será que a Odebrecht (diretamente ou através de sua controlada Foz do
Jaceaba) doou espontaneamente mais de R$ 7 milhões a Aécio, sem contar
os R$ 4 milhões da Braskem, da qual é sócia?


Será que os candidatos mandam pedir ao contínuo das empresas?


Se esta lista for tratada sem hipocrisia, ela é muito pequena.


Se for olhada frente à realidade política, que faz as campanhas
mergulharem em tenebrosa promiscuidade, pode-se incluir quem não fez
nada além de pedir que pedisse, sem prometer ou acenar com vantagem.


E se for olhada pelo ângulo do dinheiro, está faltando, se chegou à casa dos bilhões que se diz ter chegado.


Tem contra-sensos evidentes, como dar 20 milhões de reais à campanha
de um governador e, supostamente, um décimo disso a uma campanha
presidencial. Aliás, a Odebrecht deu o mesmo valor às campanhas de Dilma
e de José Serra, naquele ano…


Ou será que foi Costa que prometeu conseguir doações para construir
uma teia de simpatias para que ele próprio pudesse, “enojadamente”,
roubar a Petrobras?


De qualquer forma, a registrar que o “vazamento seletivo”, antes
circunscrito aos Ministério Público Federal do Paraná, chegou à
Procuradoria Geral da República.


A ver como reagirá o Procurador-Geral Rodrigo Janot a isto.


Porque, se ele mantém estes depoimentos a sete chaves, deve saber quem deles poderia “catar” nomes.


Ou se quem os enviou a ele está fazendo isso, traindo seu dever funcional.

Os dois lados

Os dois lados - 







Verissimo








Os dois lados

É desonesto não aceitar a diferença entre a violência
clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a violência que arrasta toda
a nação para os porões da tortura

Na reação ao relatório da Comissão da Verdade sobre as vítimas da ditadura,
afirma-se que, para ser justo, ele deveria ter incluído o outro lado, o das
vítimas da ação armada contra a ditadura. Invoca-se uma simetria que não
existe. Nenhum dos mortos de um lado está em sepultura ignorada como tantos
mortos do outro lado. Os meios de repressão de um lado eram tão mais fortes do
que os meios de resistência do outro que o resultado só poderia ser uma chacina
como a que houve no Araguaia, uma estranha batalha que — ao contrário da
batalha de Itararé — houve, mas não deixou vestígio ou registro, nem
prisioneiros. A contabilidade tétrica que se quer fazer agora — meus mortos
contra os teus mortos — é um insulto a todas as vítimas daquele triste período,
de ambos os lados.



Mas a principal diferença entre um lado e outro é que os crimes de um lado,
justificados ou não, foram de uma sublevação contra o regime, e os crimes do
outro lado foram do regime. Foram crimes do Estado brasileiro. Agentes
públicos, pagos por mim e por você, torturaram e mataram dentro de prédios
públicos pagos por nós. E, enquanto a aberração que levou a tortura e outros
excessos da repressão não for reconhecida, tudo o que aconteceu nos porões da
ditadura continua a ter a nossa cumplicidade tácita. Não aceitar a diferença
entre a violência clandestina de contestação a um regime ilegítimo e a
violência que arrasta toda a nação para os porões da tortura é desonesto.



O senador John McCain é um republicano “moderado”, o que, hoje, significa
dizer que ainda não sucumbiu à direita maluca do seu partido. Foi o único
republicano do Congresso americano a defender a publicação do relatório sobre a
tortura praticada pela CIA, que saiu quase ao mesmo tempo do relatório da nossa
Comissão da Verdade. McCain, que foi prisioneiro torturado no Vietnã, disse
simplesmente que uma nação precisa saber o que é feito em seu nome. O relatório
da Comissão da Verdade, como o relatório sobre os métodos até então secretos da
CIA, é um informe à nação sobre o que foi feito em seu nome. Há quem aplauda o
que foi feito. Há até quem quer que volte a ser feito. São pessoas que não se
comovem com os mortos, nem de um lado nem do outro. Paciência.



Enquanto perdurar o silêncio dos militares, perdura a aberração. E você eu
não sei, mas eu não quero mais ser cúmplice.

 


O que não estão contando para você sobre a crise mundial do petróleo

O que não estão contando para você sobre a crise mundial do petróleo






Paulo NogueiraEm sua eterna luta para jogar mais sombras onde já não existe luz, a
imprensa brasileira está ignorando o fato mais importante do ano na
economia mundial: a dramática queda do preço do petróleo.



É
um fato que terá impactos brutais no mundo globalizado, mas a mídia
nacional prefere centrar seus holofotes na Petrobras, como se se
tratasse de um caso único de depressão num ambiente de extrema alegria.



Desde junho, quando atingiu o pico de 115 dólares o barril, o preço
do petróleo caiu pela metade. Nesta semana, o barril está sendo vendido
na casa dos 60 dólares.



Vários fatores se somaram para que isso acontecesse, mas você pode
resumir a explicação na tradicional lei da demanda e da oferta.



A produção de petróleo, hoje, supera amplamente o consumo.



Isso está ligado à crise econômica mundial. Com sua economia se
desacelerando, a China consome hoje muito menos petróleo do que fazia. O
mesmo ocorre com outra potência, a Alemanha.



Os Estados Unidos, tradicionalmente os maiores importadores, está
quase auto-suficiente, graças ao “shale oil” —  saudado como uma
revolução no campo energético.



Trata-se, essencialmente, da extração de gás e petróleo do xisto, um tipo de rocha.



Reduzida a demanda, era esperado que a OPEP, a organização que
congrega os maiores exportadores, baixasse sua produção, para defender o
preço.



Mas não.



Para surpresa generalizada, a OPEP, numa reunião em novembro, decidiu manter a produção nos mesmos níveis.



Foi quando o universo do petróleo entrou em convulsão.



Mas por que os produtores tomaram essa decisão?



Especialistas acham que o objetivo maior é matar o “shale oil”
americano. A extração é muito mais cara. Caso o barril fique barato, a
indústria do “shale oil” tende a se inviabilizar, e esta seria uma
excelente notícia para os países da OPEP.



Mas efeitos muito mais imediatos da baixa da cotação estão já sendo
sentidos em países como a Rússia, o Irã e a Venezuela. Todos eles
dependem visceralmente das exportações de petróleo.

Para o orçamento russo se manter equilibrado, o barril deve estar na faixa dos 100 dólares.



Economistas já preveem uma queda de 5% do PIB russo em 2015. O
sofrimento russo deu margem a que fosse ventilada a teoria de que por
trás de tudo estariam os Estados Unidos, empenhados em criar problemas
para Putin.



Faz sentido? Faz. Ou pode fazer. Mas o custo, para os americanos, é
elevado. Sua florescente indústria de “shale oil” pode simplesmente se
desintegrar.



E o Brasil, no meio disso tudo?



O quadro ainda não é totalmente claro. Há alguns benefícios: apesar
de produzir como nunca, o Brasil ainda é um grande consumidor de
petróleo.



Isso significa que as despesas de importação se reduzirão
substancialmente. É, também, um alívio financeiro para a Petrobras, que
subsidia os consumidores brasileiros.



A Petrobras vende a gasolina no Brasil por um preço inferior àquele
pelo qual ela compra. O subsídio se destina, primeiro e acima de tudo, a
controlar a inflação.



A ameaça mais séria, para o Brasil, vem do pré-sal. Como o “shale
oil” americano, a extração do pré-sal é mais cara que a convencional.



Alguns estudos sugerem que com o barril a 40 dólares o pré-sal se
inviabilizaria. Mas antes disso a vítima seria a indústria americana de
óleo alternativo.



É razoável supor que o barril não descerá muito além dos 60 dólares.



A OPEP disse que ia esperar uns meses para ver o que ocorria. Um
preço muito baixo, por um tempo longo, poderia ser fatal para a OPEP.



Assim, é presumível que, em algum momento nos primeiros meses de 2015, a produção seja reduzida para que o preço se recomponha.



Enquanto isso, as companhias petrolíferas são ferozmente castigadas.
Nos últimos seis meses, as ações da Goodrich Petroleum caíram 86%. As da
Oasis Petroleum, 75%.



A Petrobras é um caso entre muitos, e não um caso único, ao contrário do que a imprensa brasileira noticia.



Nada na economia mundial, em 2014, foi tão importante quanto o
colapso dos preços do petróleo – mas a mídia brasileira, no afã de bater
na Petrobras e consequentemente no governo, parece que não percebeu.





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Paulo Nogueira. Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

O problema da fome

Blog do Sakamoto

O problema da fome não é de falta de comida. É de distribuição de riqueza

Leonardo Sakamoto

O IBGE divulgou
pesquisa, nesta quinta (18), apontando que a insegurança alimentar
grave caiu de 6,9% dos domicílios (2004), passando a 5% (2009) até 3,2%
(2013)
. Em 2009, eram 11,2 milhões de pessoas. Agora, 7,2 milhões.

Ainda é muita gente.

Nunca
senti fome de verdade para poder entender de verdade e falar a
respeito. Passar um dia ou dois dias sem comer por alguma catástrofe não
conta. É diferente da dor sentida por aqueles que realmente não têm
acesso a alimento e têm que ir para cama mais cedo encarar o ronco do
sono para não encarar o ronco do estômago. Fome é sensação de ser comido
por dentro, em uma angústia longa de rogar por ajuda, esperar por
ajuda. E a ajuda não vir.

Os programas de transferência de renda,
como o Bolsa Família, e todo o pacote de ações públicas que vem com
eles, e a geração de empregos merecem crédito pela redução. Mas esse
processo ainda está lento demais. Pode soar demagógico, mas fome é algo
que não se pode dar mais tempo.

Até porque o problema da fome no
Brasil não é de falta e sim de distribuição. Há riqueza para todo mundo,
a questão é distribuí-la.

A cantilena é antiga, mas garantir
terra e, principalmente, condições de produção, com apoio técnico,
irrigação e financiamento, e facilitar o escoamento das mercadorias é
uma das soluções poderosas não pontuais para o problema na região rural.
Sim, reforma agrária.

A pesquisa mostra que, entre 2009 e agora, mais de 90 mil domicílios rurais passaram a ter medo de passar fome.

Sem
contar que isso ajuda a garantir mais alimentos na mesa do brasileiro –
uma vez que a pequena agricultura familiar é responsável por boa parte
dos produtos in natura que consumimos. Hoje a maior parte dos
recursos e das prioridades ainda passa longe desse pessoal, por mais que
a atenção dada eles tenha crescido nos últimos tempos.

Em certas
regiões, as famílias podem até ser ignoradas pelo “céu”, que não manda a
chuva, mas se estrepam mesmo é com a ação direta do pessoal de carne e
osso (que está de olho em suas terras ou sua força de trabalho), a
inação do Estado e a complacência de muitos de nós.

O mundo está
acordando para o fato de que é necessário mais apoio para a produção
agropecuária como instrumento de combate à fome. O que não significa
apenas garantir mais produtividade através de tecnologia (que, se por um
lado, gera mais alimentos, por outro cria uma dependência econômica
onde antes não havia – como o caso dos transgênicos). Ou amenizar a
guerra de subsídios. Mas também discutir que tipo de modelo será capaz
de garantir a segurança alimentar para bilhões de pessoas no desenrolar
deste século.

De acordo com a FAO, a agência das Nações Unidas
para agricultura e alimentação, o aumento na produção de alimentos terá
que ser da ordem de 70% para suprir uma população de 9 bilhões de
pessoas em 2050. Quem vai produzir essa comida extra? Segundo as Nações
Unidas, os pequenos produtores e suas famílias (que representam cerca de
2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo) têm um papel fundamental,
atuando com menos impacto trabalhista, social e ambiental e sustentando
eles próprios que são os primeiros a passarem fome. Há muita gente
querendo plantar no Brasil e em outros países, principalmente na África,
onde a questão da fome tem contornos dramáticos. Só lhes falta terra,
recursos, escoamento, capacitação, tecnologia.

Adoramos culpar as
velhas oligarquias, mas esquecemos que elas deram sustentação para todos
os governos desde redemocratização. Sem contar o fato de que a economia
lucra sim com essa estrutura de exploração. Ou você acha que o seu
tanque de etanol é realmente limpo e barato com esse exército de
trabalhadores rurais temporários superexplorados que se esfolam na cana
aqui e ali?

O objetivo deste texto não é fomentar a culpa em
tempos de festas – apesar de ser um sentimento bastante presente entre
os cristãos e que não leva a lugar nenhum. Mas lembrar que comemorar
significa também “lembrar junto''. Ter em mente que nossa caminhada é
longa, mas não fará lá muito sentido se chegarmos lá sozinhos.

Garantir
que todos tenham acesso às mesmas oportunidades e ao mesmo quinhão de
Justiça. Para isso, nossa geração terá que ter a coragem de demolir
estruturas arraigadas desde a fundação do país, que garantem que uns
tenham tudo e outros nada.

E a pior das estruturas é nossa vergonhosa e humilhante concentração de riqueza. Sem combatê-la, o fim da fome é sonho distante.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Golpe do petróleo dos EUA visa perpetuar "reciclagem extorsionista" do dólar

Golpe do petróleo dos EUA visa perpetuar "reciclagem extorsionista" do dólar « Viomundo - O que você não vê na mídia

Golpe do petróleo dos EUA visa perpetuar “reciclagem extorsionista” do dólar

publicado em 17 de dezembro de 2014 às 11:36
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Acabou a alegria dos produtores


Subterfúgio saudi-estadunidense derruba ações e crédito


O Golpe do Petróleo


por MIKE WHITNEY, no Counterpunch, em 16.12.2014, reprodução parcial


“John Kerry, secretário de Estado dos Estados Unidos, alegadamente
fechou um acordo com o rei Abdullah em setembro sob o qual os sauditas
venderiam petróleo cru abaixo do preço de mercado. Isso ajudaria a
explicar a queda do preço num momento em que, dada a confusão causada no
Iraque e na Síria pelo Estado Islâmico, normalmente o preço estaria
subindo”.  (Stakes are high as US plays the oil card against Iran and Russia, Larry Eliot, no diário britânico Guardian)


Os poderosos dos Estados Unidos estão colocando o país sob o risco de
outra crise financeira para intensificar sua guerra econômica contra
Moscou e para avançar em seu plano de “controle da Ásia”.


O que está acontecendo: Washington persuadiu os sauditas a abarrotar o
mercado de petróleo para derrubar os preços, dizimar a economia da
Rússia e reduzir a resistência de Moscou ao crescente cerco da OTAN e às
novas bases militares dos Estados Unidos na Ásia Central.


O esquema saudita-estadunidense derrubou os preços do petróleo à metade desde o pico de junho.


O grande declínio dos preços ameaça estourar a bolha dos endividados,
aumentou a turbulência nos mercados de crédito e derrubou as ações
globais.


Os mercados em polvorosa e o contágio econômico não detiveram
Washington e seu plano irresponsável, um plano que usa o regime
marionete de Riyadh para a guerra dos Estados Unidos por recursos
naturais.


Aqui vai um breve resumo de um artigo de F. William Engdahl intitulado “The Secret Stupid Saudi-US Deal on Syria”:


Detalhes emergem de um acordo secreto e estúpido da
Arábia Saudita com os Estados Unidos sobre a Síria e o assim chamado
Estado Islâmico. Envolve o controle de gás e petróleo em toda a região e
o enfraquecimento da Rússia e do Irã, com os sauditas abarrotando o
mercado mundial com petróleo barato. Os detalhes foram acertados em
setembro numa reunião entre o secretário de Estado John Kerry e o rei
saudita…


…o reino da Arábia Saudita está invadindo os mercados com petróleo
barato, causando uma guerra de preço dentro da OPEP… Os sauditas estão
dirigindo as vendas para a Ásia, em particular para seu grande comprador
asiático, a China, com oferta de petróleo entre 50 e 60 dólares o
barril, em vez do preço anterior de 100 dólares. A operação de desconto
dos sauditas parece coordenada com uma operação de guerra do Tesouro dos
Estados Unidos, através de seu Office of Terrorism and Financial
Intelligence, em cooperação com um punhado de operadores de Wall Street
que controlam os negócios com derivativos de petróleo. O resultado é
pânico no mercado, que ganha impulso diariamente. A China está feliz de
comprar petróleo barato, mas seus aliados — a Rússia e o Irã — estão
sofrendo severamente…


De acordo com Rashid Abanmy,  presidente do Saudi Arabia Oil Policies and Strategic Expectations Center,
baseado na capital saudita, o dramático colapso dos preços está sendo
causado deliberadamente pelo maior produtor da OPEP. A razão pública
alegada é a conquista de novos mercados, por conta da queda de demanda
global. A razão real, segundo ele, é colocar pressão no Irã por causa de
seu programa nuclear e na Rússia, para acabar com o apoio ao regime de
Bashar al-Assad na Síria… Mais de 50% do orçamento russo vem da
exportação de gás e petróleo. A manipulação do preço por parte dos
Estados Unidos e da Arábia Saudita visa desestabilizar fortes oponentes
das políticas globalistas dos Estados Unidos. Alvos incluem Irã e Síria,
ambos aliados da Rússia na oposição aos Estados Unidos como único
superpoder. O alvo principal, no entanto, é a Rússia de Putin, a maior
ameaça hoje à hegemonia dos Estados Unidos (The Secret Stupid Saudi-US Deal on Syria, F. William Engdahl, BFP)
Os Estados Unidos precisam atingir seus objetivos na Ásia Central ou
abrir mão da posição de único superpoder do mundo. É por isso que os
formuladores de política dos Estados Unidos embarcaram numa aventura tão
arriscada. Não há outra forma de sustentar o status quo que permite aos
Estados Unidos impor o sistema dólar ao mundo, um sistema pelo qual os
Estados Unidos trocam papel moeda produzido à vontade pelo seu Banco
Central por recursos naturais, produtos manufaturados e trabalho duro.
Washington está preparada para defender sua extorsionista reciclagem de
petrodólares até o fim, mesmo se o resultado for guerra nuclear.


Como a inundação do mercado causa instabilidade


Os efeitos destrutivos e desestabilizadores deste plano lunático
podem ser vistos em toda parte. Preços do petróleo em queda tornam mais
difícil para as empresas de energia conseguir financiamento para rolar
suas dívidas ou manter as operações atuais.


As companhias emprestam com base no tamanho de suas reservas, mas
quando os preços caem quase 50% — como aconteceu nos últimos seis meses —
o valor destas reservas cai, o que reduz o acesso delas ao mercado de
crédito e força os dirigentes a vender bens a preço de liquidação ou
enfrentar bancarrota.


Se o problema ficasse contido no setor, não haveria razão para se
preocupar. Mas o que preocupa Wall Street é que a falencia de empresas
de energia poderia afetar todo o sistema financeiro e engolir os bancos.
Apesar de seis anos de taxas de juros zero e do chamado monetary
easing, os grandes bancos estadunidenses estão perigosamente
descapitalizados, o que significa que uma onda inesperada de falencias
poderia causar o colapso das instituições mais fracas e jogar todo o
sistema em nova crise. Aqui está um excerto de um post do Automatic Earth intitulado “O petróleo vai matar os bancos zumbis?”:


Se os preços cairem ainda mais, significa que a maior parte do edifício construído em torno do gás de xisto desabaria [PS do Viomundo:
Um negócio que teve crescimento espetacular nos Estados Unidos em anos
recentes]. E isso causaria um terremoto no mundo financeiro, já que
alguém ofereceu os empréstimos sobre os quais o edifício se assentou. Um
número imenso de investidores se endividou com taxas altas de juros,
inclusive investidores institucionais, e eles estão quase se queimando…
se o preço do petróleo continuar neste caminho, o Banco Central deve
começar a pensar em outro resgate dos bancos de Wall Street. (Will Oil Kill the Zombies?, Raúl Ilargi Meijer, Automatic Earth)
O problema com a queda dos preços do petróleo não é apenas com a
deflação ou a redução dos lucros; é o fato de que todos os setores da
indústria — exploração, desenvolvimento e produção — está sobre uma
montanha de tinta vermelha (junk bonds). Quando aquela dívida não puder
mais ser refinanciada, os emprestadores primários (instituições
financeiras e garantidores) vão enfrentar grandes perdas, que causarão
efeito dominó em todo o sistema.


[...]


Na semana passada, preços do petróleo em queda começaram a impactar
os mercados de crédito, com os investidores se livrando de dívidas que
parecem impagáveis. Os sinais de contágio já são aparentes e devem
piorar. Investidores temem que se não acionarem o botão de vendas agora,
não encontrarão compradores mais tarde. Em outras palavras, a liquidez
está secando rapidamente, o que por sua vez acelera o declínio do
mercado. Naturalmente, isso afeta os papéis do Tesouro americano, que
são vistos como livres de risco. Com os investidores jogando tudo nos
papéis do Tesouro, as taxas de juros de longo prazo estão coladas no
chão. Na sexta-feira a taxa de juros nos papéis de 10 anos do Tesouro
bateu em minúsculos 2,08%, o que seria de se esperar no meio de uma
Depressão.


A insurgência liderada pelos sauditas reverteu a direção do mercado,
colocou as ações globais em mergulho e causou pânico nos mercados de
crédito. Enquanto o sistema financeiro se aproxima de uma nova crise,
autoridades de Washington permanecem em silêncio, nunca soltando mais
que um pio sobre a política saudita que pode ser descrita como um ato
deliberado de terrorismo financeiro.


Por que? Por que Obama e companhia ficam calados enquanto os preços
do petróleo desabam, uma indústria nacional é demolida e as ações caem
de um precipício? Pode ser porque atuam em conjunto com os sauditas num
grande jogo para aniquilar os inimigos da gloriosa New World Order?


Tudo indica que sim.


MIKE WHITNEY lives in Washington state. He is a
contributor to Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK
Press). Hopeless is also available in a Kindle edition. He can be
reached at fergiewhitney@msn.com.



PS do Viomundo: E o chamado PIG quer fazer você crer que quem está derrubando as ações da Petrobras na Bolsa é a Graça Foster!