sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O que não estão contando para você sobre a crise mundial do petróleo

O que não estão contando para você sobre a crise mundial do petróleo






Paulo NogueiraEm sua eterna luta para jogar mais sombras onde já não existe luz, a
imprensa brasileira está ignorando o fato mais importante do ano na
economia mundial: a dramática queda do preço do petróleo.



É
um fato que terá impactos brutais no mundo globalizado, mas a mídia
nacional prefere centrar seus holofotes na Petrobras, como se se
tratasse de um caso único de depressão num ambiente de extrema alegria.



Desde junho, quando atingiu o pico de 115 dólares o barril, o preço
do petróleo caiu pela metade. Nesta semana, o barril está sendo vendido
na casa dos 60 dólares.



Vários fatores se somaram para que isso acontecesse, mas você pode
resumir a explicação na tradicional lei da demanda e da oferta.



A produção de petróleo, hoje, supera amplamente o consumo.



Isso está ligado à crise econômica mundial. Com sua economia se
desacelerando, a China consome hoje muito menos petróleo do que fazia. O
mesmo ocorre com outra potência, a Alemanha.



Os Estados Unidos, tradicionalmente os maiores importadores, está
quase auto-suficiente, graças ao “shale oil” —  saudado como uma
revolução no campo energético.



Trata-se, essencialmente, da extração de gás e petróleo do xisto, um tipo de rocha.



Reduzida a demanda, era esperado que a OPEP, a organização que
congrega os maiores exportadores, baixasse sua produção, para defender o
preço.



Mas não.



Para surpresa generalizada, a OPEP, numa reunião em novembro, decidiu manter a produção nos mesmos níveis.



Foi quando o universo do petróleo entrou em convulsão.



Mas por que os produtores tomaram essa decisão?



Especialistas acham que o objetivo maior é matar o “shale oil”
americano. A extração é muito mais cara. Caso o barril fique barato, a
indústria do “shale oil” tende a se inviabilizar, e esta seria uma
excelente notícia para os países da OPEP.



Mas efeitos muito mais imediatos da baixa da cotação estão já sendo
sentidos em países como a Rússia, o Irã e a Venezuela. Todos eles
dependem visceralmente das exportações de petróleo.

Para o orçamento russo se manter equilibrado, o barril deve estar na faixa dos 100 dólares.



Economistas já preveem uma queda de 5% do PIB russo em 2015. O
sofrimento russo deu margem a que fosse ventilada a teoria de que por
trás de tudo estariam os Estados Unidos, empenhados em criar problemas
para Putin.



Faz sentido? Faz. Ou pode fazer. Mas o custo, para os americanos, é
elevado. Sua florescente indústria de “shale oil” pode simplesmente se
desintegrar.



E o Brasil, no meio disso tudo?



O quadro ainda não é totalmente claro. Há alguns benefícios: apesar
de produzir como nunca, o Brasil ainda é um grande consumidor de
petróleo.



Isso significa que as despesas de importação se reduzirão
substancialmente. É, também, um alívio financeiro para a Petrobras, que
subsidia os consumidores brasileiros.



A Petrobras vende a gasolina no Brasil por um preço inferior àquele
pelo qual ela compra. O subsídio se destina, primeiro e acima de tudo, a
controlar a inflação.



A ameaça mais séria, para o Brasil, vem do pré-sal. Como o “shale
oil” americano, a extração do pré-sal é mais cara que a convencional.



Alguns estudos sugerem que com o barril a 40 dólares o pré-sal se
inviabilizaria. Mas antes disso a vítima seria a indústria americana de
óleo alternativo.



É razoável supor que o barril não descerá muito além dos 60 dólares.



A OPEP disse que ia esperar uns meses para ver o que ocorria. Um
preço muito baixo, por um tempo longo, poderia ser fatal para a OPEP.



Assim, é presumível que, em algum momento nos primeiros meses de 2015, a produção seja reduzida para que o preço se recomponha.



Enquanto isso, as companhias petrolíferas são ferozmente castigadas.
Nos últimos seis meses, as ações da Goodrich Petroleum caíram 86%. As da
Oasis Petroleum, 75%.



A Petrobras é um caso entre muitos, e não um caso único, ao contrário do que a imprensa brasileira noticia.



Nada na economia mundial, em 2014, foi tão importante quanto o
colapso dos preços do petróleo – mas a mídia brasileira, no afã de bater
na Petrobras e consequentemente no governo, parece que não percebeu.





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Paulo Nogueira. Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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