sábado, 31 de março de 2018

Mensagem para uma grande amiga:



Mensagem para uma grande amiga: o texto de Alceu Valença que viralizou

"Mensagem para uma grande amiga". Texto de Alceu Valença 

que mais parece poesia vai fundo na crítica à hipocrisia e toca 

nas feridas de todas as mazelas que estamos enfrentando. 

Conteúdo viralizou

alceu valença texto







MENSAGEM PARA UMA GRANDE AMIGA
Bato palmas para sua boa intenção.
Infelizmente, você não percebe que a ideologia que nos sobrou, domina o mundo e é aquela que promove a ganância, o acúmulo e o individualismo.
Sou e serei sempre contra as grandes corporações.
Nunca, o poeta chegará perto de ideologias mesquinhas como muita gente, sem notar, vai se engajando.
Precisamos ficar atentos porque Hitler está renascendo das cinzas.
Lembram da campanha contra Marielle?
-“Ela era a favor do tráfico”.
-“Ela era a favor da legalização das drogas”.
Ninguém pode ter essas duas posições ao mesmo tempo. São antagônicas.
Lamento, mas não sou a favor da mão de ferro do Estado.
Por outro lado, o poeta nunca será a favor do Estado Mínimo.
No mínimo, o Estado tem que ser equilibrado. Senão, nunca existirá a meritocracia.
Sou mais Lisboa do que Orlando, viu amiguinha?
Escola, saúde, educação, moradia para todos.
Jesus, o humanista e revolucionário, é o meu guia.
Foi crucificado entre dois ladrões.
Pilatos lavou as mãos.
Salve a transposição imaginada desde Dom Pedro II. Salve a água no sertão.
A Justiça também é dominada pelas grandes corporações? Claro. Existe algo por trás da cortina do teatro.
Cuidado com Rússia, China e o Tio Sam? Cuidado com quem nos domina.
Cuidado com Facebook! Olha a eleição de Trump!
As grandes corporações adoram…privatizações!
O último apagão foi promovido por uma empresa de energia chinesa.
Água…
Metais.
Natureza.
Valeu a pena privatizar a Vale?
Virou um mar de lama.
Afogou Mariana. Sabias que a Samarco é Australiana? A culpa foi do canguru?
A Vale do Rio Doce empurra com a barriga uma dívida ao IR que se fosse paga e usada na saúde e educação, resolveria esse crucial problema.
O Judiciário é corrompido o induzido para empurrar o processo com a barriga. Daqui a dez anos, não tenhas dúvidas, a dívida será perdoada.
BILHÕES, BILHÕES e BILHÕES !!!!
A internet, nos transforma em mulas e repassadores de mensagens enviadas por marqueteiros que nos usam e nem sequer desconfiamos. Cuidado com os marqueteiros…
Como não pertenço a grupos virtuais, me salvo da “Bolha do Domínio.”
Felizmente, permaneço menino, traquino…
Já falava, há muito que estávamos sendo usados, escravizados como mulas e, por isso, sempre foi contestado por aqueles que argumentam:
– “Ele é um adepto da Teoria da Conspiração”.
Acredite, não sou não.
Sempre fui um questionador.
A minha professora de filosofia, Bernadete Pedrosa, me ensinou a raciocinar com lógica.
O silogismo é a salvação. Mas, cuidado com as premissas! Quando uma delas é falsa, a conclusão também se torna falsa.
Estávamos em tournée na Europa, no fim da década de 80, e ao passar pela Alemanha Oriental, previ a queda do Muro de Berlim.
Por quê?
Por causa do papel higiênico.
Falei:
-A bunda dos comunistas não aguenta mais essa lixa.
O saudoso Clávio Valença ouviu, sorriu e não acreditou na afirmação do primo doidão.
Conclusão:
Acertei!!!!
O Muro caiu, logo após minha louca afirmação.
Cagada? Não!
Sou chegado ao uso de metáforas e por isso, não agrado a quem não se permite soltar a imaginação. Práticos, retilíneos, dogmáticos!
Sempre levei porrada de todos os lados.
Não, não tenha pena de mim. Já estou acostumado.
Na faculdade de Direito era tido como meio torto.
Doido.
Fui preso no DOPS e nunca vesti a camisa de herói.
Devo confessar que não fui torturado fisicamente, mas aquilo parecia coisa da ditadura do Diabo.
Não gosto do Super-Man.
Prefiro João Grilo.
Lampião para mim é uma metáfora.
O que existe por trás do Cangaço e da Justiça?
Malícia. Milícias.
– O Poder é irmão da policia que é prima carnal do Estado e de uma cega chamada Justiça…
Cega não, dissimulada. Tem um olhinho aberto, que por vezes, só enxerga os inimigos do donos do Poder e do cifrão $$$$$.
Morro de pena dos moradores do Morro.
Olha a previsão:
Um dia desses eu tive um sonho
Que havia começado a grande guerra entre o morro e a cidade,
E meu amigo Melodia era o comandante em chefe
Da primeira bateria lá do Morro de São Carlos.
Ele falava, eu entendia:
Você precisa escutar a rebeldia!
Pantera Negra, FM Rebeldia,
Transmitindo da Rocinha primeiro comunicado:
Por pão e circo e o poder da maioria,
O país bem poderia ter seu povo alimentado.
E era um sonho ao som de um samba tão aflito
Que eu quase não acredito, não queria acordar…
Profecia? Não.
Pensar livremente.
Escola, Saúde, Educação.
Eis a solução para diminuir a violência.
Cuidado com a Bancada da Bala!!!
Cuidado com o boato.
Eu era tido como drogado e nunca fumei um baseado.
Na Ditadura fui Censurado pelo Cenimar,
Continuei a compor e a me expressar.
Segui em frente sem Medo e sem Ódio.
Finalizando, minha doce e querida amiga, atente para isso:
O pré-sal que há pouco era ridicularizado, como inviável, hoje está sendo explorado pela Chevron, EUA Shell, Holandesa
Companhia Norueguesa e de outros países …
Estranho, não é?
Você devia
deveria adivinhar
Que atrás do Samba havia o Semba
Que atrás do Semba havia a África
Que atrás de tudo havia o Açúcar
E a Companhia das Índias Ocidentais.
Primeira multinacional do Planeta.
Açucar é doce,
Doce, doce, doce
como mel
Doce, doce
Doce como o fel
Não acredite,
não tem mistério
O velho é novo
e o novo é velho
É como o Ovo e a Galinha
Se a culpa é nossa
A culpa é minha
Mas que nunca
é preciso DESCONFIAR
Eu desconfio no sentido estrito
Eu desconfio no sentido lato
Eu desconfio dos cabelos longos
Eu desconfio do Diabo a Quatro.
Alceu Valença

Juros: o marketing e os fatos



Juros: o marketing e os fatos

Se os juros pagos pelo Estado caíram — como frisam governo e mídia — por que a dívida pública cresceu tanto?  Paradoxo ajuda a compreender os diversos caminhos da dominação financeira sobre o país
Por Paulo Kliass
Os responsáveis pelas editorias de economia dos grandes meios de comunicação estão em posição um tanto desconfortável. Receberam como missão prioritária a garimpagem refinada por notícias “menos ruins” no front econômico. A intenção explícita é estabelecer uma estratégia de convencimento da maioria da população de que as coisas “deixaram de piorar” ao longo dos últimos meses. Com isso, tenta-se cacifar as diversas pré-candidaturas à Presidência da República de figuras que se alinharam desde o início em prol do “golpeachment” de Dilma Roussef.
Até o momento, os possíveis postulantes ao Palácio do Planalto pelo campo da direita só fazem bater cabeça e disputar o espólio da terra arrasada provocada pelo austericídio. Rodrigo Maia, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Michel Temer – para ficar apenas na versão reduzida da lista – pretendem se apresentar como candidatos de um suposto “centro”, uma vez que qualificam a candidatura extremista de Bolsonaro apenas como sendo de “direita”. O problema político e eleitoral para eles é que os respectivos aquecimentos de campanhas não deslancham. Afinal, um governo com índices tão rastejantes de popularidade não colabora mesmo para quem se pretende herdeiro do desmonte.
TEXTO-MEIO
Se é verdade que a inflação realmente baixou e os juros oficiais também tiveram comportamento semelhante, o fato inegável é que a população percebe que o custo social e econômico da receita neoliberal não compensou a destruição monumental de empregos, a falência generalizada de empresas, o desmantelamento das políticas públicas e o retorno da pobreza e da miséria a níveis inimagináveis até então. A cada dia que passa fica mais evidente a falácia do apelo para o engajamento no “ajuste fiscal responsável”, tão martelado pelo discurso oficial e replicado pelos jornais e telinhas. Afinal, quem pagou – e continua pagando – o pato não foram os empresários da FIESP nem os banqueiros, mas a grande maioria do povo desempregado e sem recursos para chegar ao final do mês.
Apesar de Meirelles, a dívida pública cresce
A informação oficial mais recente vem do Ministério da Fazenda (MF), cujo titular parece oscilar em suas pretensões políticas futuras a cada instante. A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) acaba de divulgar seu relatório mensal a respeito do comportamento da dívida pública federal. As estatísticas confirmam a tendência mais recente dos últimos meses. O estoque total da Dívida Pública Federal (DPF) atingiu o montante de R$ 3,6 trilhões em fevereiro passado. A exemplo do que vem ocorrendo há muitos anos, o componente de dívida externa desse total permanece bastante reduzido. Apenas 3% dos títulos do governo federal são denominados em moeda estrangeiro. Esse fato marca uma diferença essencial com as crises anteriores ao Plano Real, quando o peso excessivo da parcela externa da dívida comprometia ainda mais a capacidade de ajuste interno.
Apesar da magnitude trilionária do valor da DPF, a gritaria generalizada contra essa dimensão da política econômica parece ter se acalmado. Afinal, já faz um bom tempo que o comando da nossa economia está nas mãos da duplinha dinâmica Meirelles & Goldfajn. Os dois legítimos representantes dos bancos foram efusivamente apresentados como o “time dos sonhos” do financismo para botar a economia brasileira nos trilhos. O resultado está aí na forma do fracasso empacotado para quem quiser. Assim, talvez não convenha muito mesmo alardear alguns probleminhas, como a continuidade da evolução do crescimento da dívida. Até a antevéspera da usurpação praticada por Temer, 11 em cada 10 representantes da ortodoxia diziam que esse nível de endividamento público era insustentável, que o Brasil iria explodir e blá-blá-bá.
Endividamento público brasileiro não é alarmante
Ocorre que qualquer economista sincero e honesto sabe que a proporção de nossa dívida pública em relação ao produto não é nada alarmante. As próprias instituições oficiais brasileiras operam com o conceito de Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), que atinge o patamar de 52 % do PIB para o final de 2017. Até mesmo na comparação com os demais países da OCDE, por exemplo, o Brasil está muito bem situado no quesito, inclusive quando se utiliza o conceito de “dívida bruta”. Estamos com um endividamento público total que representa 70% do nosso PIB, enquanto a média dos países da OCDE é 113%. Alemanha, França, Canadá e Estados Unidos apresentam índices superiores ao nosso e o Japão chega a 222%.
No entanto, o que chama a atenção é o ritmo do crescimento do DPF (Dívida Pública Federal) nos tempos mais atuais. Ao longo dos últimos 12 meses, por exemplo, houve um crescimento de 14% entre os R$ 3,1 tri atingidos em fevereiro de 2017 e os níveis registrados no mês passado. Em tese, a elevação da dívida pública não é um problema em si. Afinal, trata-se de um importante instrumento de política econômica utilizado pelos mais variados países no mundo. Se o governo pretende investir no longo prazo ou não consegue equilibrar sua estrutura de receita e despesas no curto prazo por alguma razão, nada mais rotineiro do que lançar títulos da dívida e arrecadar recursos junto aos chamados “agentes econômicos” para esse fim.
A questão fica mais problemática quando se observam quais são os fatores que estão mais influenciando o crescimento mais recente da dívida. Afinal, se o lema do governo é promover cortes e mais cortes no orçamento para atingir o tal do equilíbrio fiscal, como poderia estar crescendo a dívida? A resposta é simples. De um lado, temos o êxito do austericídio em promover a tão desejada recessão. Com isso, caíram drasticamente as receitas do governo. E por outro lado, o mais dramático é o crescimento das despesas financeiras do governo federal, que permanecem livres e soltas para cumprir com as absurdas metas de superávit primário. Traduzindo o economês: continuamos gastando uma parcela ponderável de nosso esforço econômico gerado por toda a sociedade para pagar juros e serviços da dívida pública que beneficiam muito poucos.
De acordo com dados do Banco Central (BC), entre os meses de janeiro de 2017 e 2018, o governo brasileiro gastou exatos R$ 392 bilhões de seu orçamento federal com o pagamento de juros. Uma loucura para um país que está atravessando a maior recessão de sua História, com legiões de desempregados e com a sua a estrutura de serviços públicos deixada em frangalhos. Lembremo-nos da pressão realizada pelo governo Temer sobre o Congresso Nacional para que fosse aprovada a Emenda Constitucional nº 95, ainda em dezembro de 2016. Por meio dela, ficaram congelados todos os gastos orçamentários na área social, pessoal, investimentos, dentre outros itens. Mas o financismo conseguiu assegurar a exceção das despesas com juros. Estas obtiveram licença para matar.
O problema maior é o pagamento de juros
Os números impressionam. Desde que a série histórica passou a ser registrada no MF em 1997, o Brasil destinou o equivalente a R$ 4,7 trilhões a valores atuais de seu orçamento federal para o pagamento de juros. Isso nos dá uma média anual ao longo desses 21 anos correspondente a R$ 221 bi. Para quem quiser raciocinar em termos mensais, a média é de R$ 19 bi por cada um dos 252 meses. A título de comparação, esse valor de apenas 30 dias de juros corresponde a 8 meses do total previsto para o Bolsa Família em 2018.
Esse valor dos juros acumulados pagos por mais de duas décadas é ligeiramente inferior aos R$ 5,6 tri destinados ao pagamento dos benefícios previdenciários dos trabalhadores urbanos ao longo do mesmo período. Com a diferença de que o total das receitas arrecadadas pelo INSS correspondente às contribuições previdenciárias (patronal e do assalariado) durante os mesmos 21 anos foi de R$ 5,8 tri. Ou seja, enquanto esse grupo do regime da previdência social foi superavitário, o gasto de juros confirmou sua natureza espoliadora. Na verdade, trata-se da conta mais estruturalmente deficitária de todo o Orçamento da União.
Para aqueles que enchem a boca para louvar a seriedade com que os países da OCDE tratariam a questão fiscal, vale aqui a observação de que o Brasil é um ponto fora da curva também nesse quesito. A comparação abaixo demonstra que somos campeões mundiais no montante de gastos públicos com o pagamento de juros sobre o PIB. Ao contrário do ocorrido com a porcentagem de dívida/PIB vista no gráfico anterior, os dados para 2016 demonstram que destinamos o equivalente a 6,5% do PIB para essa despesa parasita, valor mais do que três vezes superior à média dos países da OCDE (1,9%).
Esse gráfico evidencia que somos realmente uma jabuticaba no quesito do financismo. Nosso BC decide pela maior taxa oficial de juros do mundo. Temos os maiores spreads bancários praticados no planeta. Oferecemos a maior taxa real de juros do globo. Nossas instituições financeiras são as mais lucrativas do mundo. E somos o país que gasta a maior percentagem de seu PIB com juros da dívida pública. Enfim, um verdadeiro paraíso para o rentismo e o financismo.
Em tempos de debate eleitoral, faz-se necessária uma profunda discussão a respeito de que projeto de país a parcela majoritária da sociedade brasileira deseja. O primeiro aspecto passa pela convocação de um Referendo Revogatório no início do ano que vem, para desfazer todas as maldades cometidas pelo governo Temer. Dentre elas, encontra-se o cancelamento da regra que congela os gastos, o fim da flexibilização da CLT, a anulação das privatizações e retorno da exploração do Pré Sal para a Petrobrás.
Mas não poderemos fugir mais uma vez a dar um tratamento adequado a essa desproporção entre o lado real e o lado financeiro de nossa economia. Essa dominância do financismo deve ser enfrentada de forma urgente, com o objetivo de que esse setor se subordine aos interesses da maioria. Afinal, já foi que dito que governar é estabelecer prioridades.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Nenhuma bala é perdida


Nenhuma bala é perdida 

Quem naturaliza atentados, ajuda a abrir a porta para a naturalização de toda forma de reação 

Vladimir Safatle
"Ele colheu o que plantou". Foi com esta frase singela que o governador de São Paulo e candidato a presidente da República, Geraldo Alckmin, comentou os tiros que atacaram a caravana eleitoral de um ex-presidente. No que o vice-rei da província de São Paulo foi seguido por outros personagens da fauna política local a repetir análises no mesmo tom.
Reações desta natureza demonstram a explicitação de uma dinâmica de guerra civil que há tempos orienta a vida nacional. Ela vem semanas depois do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, que caminha calmamente para o esquecimento e para a blindagem dos envolvidos. Ela vem meses depois que manifestantes foram recebidos a bala em Brasília enquanto brigavam contra as "reformas" do atual desgoverno.
Mas analisemos o momento de honestidade de quem afirma, diante de balas: "Ele colheu o que plantou". A ideia por trás é que os que acirram conflitos sociais, os que "jogam um lado da sociedade brasileira contra o outro" (como se fosse necessário realmente jogar um lado contra o outro, como se isto já não fosse a situação real desde há muito), não devem reclamar quando são acolhidos a bala. Ou seja, tudo se passa como se não houvesse diferença alguma entre a violência simbólica da política e a violência real da eliminação física do outro.
No entanto, esta diferença existe. Primeiro, devemos falar de violência simbólica porque a política é uma atividade violenta, ela sempre foi e sempre será. Ela é a atividade produzida pela consciência de que nossas sociedades são antagônicas, por isto ela mobiliza continuamente as divisões existentes na vida social, ela as nomeia enquanto os verdadeiros antipolíticos querem escondê-las para melhor perpetuá-las. Eles querem vender a paz, a necessidade de unidade enquanto continuam a guerra social e a acumulação a partir de interesses particulares. Em política, quem fala em unidade normalmente mente, pois a única unidade possível é aquela que reconhece o caráter originário da divisão.
Por isto, a política é indissociável do uso da força da pressão, da paralisação, da resistência, da não colaboração, da desobediência, da revolta. Isto, no entanto, não significa a eliminação física do outro. Significa lutar pela constituição de novas hegemonias e partilhas do poder. Significa destituir o poder de certos grupos e eliminar sua força, o que não significa atirar contra quem questiona seus privilégios (mesmo que este não seja exatamente o caso do ex-presidente Lula, diga-se de passagem).
E nem há, é sempre bom lembrar, linha direta alguma que vá da tensão simbólica em redes sociais à bala.
Neste sentido, as balas que correm nos nossos dias não são consequência de uma maior divisão e antagonismo da sociedade brasileira. Elas são, na verdade, a reação desesperada para tentar barrar tal divisão, para amedrontar os que começam a perceber sua impressionante resiliência. No Brasil, todas as vezes que a consciência dos antagonismos sociais aflora, balas começam a chover e discursos do tipo: "Quem semeia vento, colhe tempestade" retornam. Há um bestiário enorme de discursos desta natureza desde a República Velha: a mesma república da qual a classe política brasileira parece nunca ter saído. Neste sentido, a melhor resposta a tais situações é lembrar que não precisamos de mais unidade, precisamos de mais divisão, de parar de temê-la e começar a aceitá-la.
Já a estes que gostam de justificar a violência real ou que demonstram uma complacência explícita com ela, talvez seja o caso de lembrar que não há lei nenhuma da física que garanta que balas só correm da direita para a esquerda. Ao que se sabe, a fraca resistência do ar é a mesma dos dois lados. Quem naturaliza ou minimiza atentados, ajuda a abrir a porta para a naturalização de toda forma de reação. No entanto, não me parece que seja este o horizonte que queremos. Seria, por isto, mais prudente parar por aqui.
Vladimir Safatle
Filósofo, é professor livre-docente do Departamento de Filosofia da USP (Universidade de São Paulo).

Nietzsche explica

Nietzsche explica "O Mecanismo": série explora o veneno psíquico nacional do ressentimento

blog cinegnose


http://cinegnose.blogspot.com.br/2018/03/nietzsche-explica-o-mecanismo-serie.html





O diretor José Padilha rebate às acusações de “Fake News” à série brasileira Netflix “O Mecanismo” alegando que é uma obra de ficção: uma “dramatização” da Operação Lava Jato. Porém, como obra de ficção, Padilha atirou no que viu e acertou no que não viu: sem a prisão de Lula, planejada para a semana do lançamento de “O Mecanismo”, a série foi deixada por si mesma. Sem o apoteótico final que a impulsionaria, a série revelou ser feita do mesmo material de propaganda indireta da atual guerra híbrida brasileira – o envenenamento psíquico pela doença do ressentimento. Como narrativa ficcional, “O Mecanismo” nada mais é do que uma tentativa de transformar ressentimento, ódio e frustração dos protagonistas em valores estoicos, nobres e patrióticos. A grande “virtude” de “O Mecanismo” é ser uma prova de como a “doença do ressentimento”, a “condição mais perigosa do homem” para Nietzsche, transformou-se em matéria-prima de propaganda política indireta.

A concessão da liminar a Lula pelo Supremo Tribunal Federal nessa última quinta-feira melou o que seria uma perfeita bomba semiótica dentro do quadro atual de guerra híbrida que mal os brasileiros estão percebendo.

Na semana em que a plataforma Netlix lançava a série de José Padilha O Mecanismo (baseado nos acontecimentos da Operação Lava Jato), a presidente do STF Carmen Lúcia manipulava a pauta do Supremo para que Lula fosse preso nesses próximos dias. E como planejado, tudo se encerraria numa  entrevista com o juiz Sérgio Moro, no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo, nessa segunda-feira. E (por que não?) dando a ordem de prisão ao vivo em uma final apoteótica para o distinto público.

Mas os juízes do Supremo adiaram tudo para depois da Páscoa. E restou para a série  O Mecanismo tentar sustentar-se por si mesma, sem o bombástico contexto que seria criado com a prisão do líder trabalhista.

E deixada por si mesma, a obra de José Padilha não consegue se sustentar: a necessidade insistente de voice over para explicar buracos no roteiro e os sentimentos que motivam as ações dos personagens, roteiro sem sutilezas (Rigo, o Juiz Sérgio Moro de Padilha, lê um HQ chamado “Vigilante Sombrio”), protagonistas idealizados e pairando sobre o bem e o mal e um roteiro que mal esconde o desequilíbrio – embora, a certa altura, a narração em of reivindique à Justiça brasileira equilíbrio e imparcialidade.  

Sem a razão, motivo e propósito de sua existência (a prisão de Lula), O Mecanismo no entanto revela involuntariamente um segredo: a matéria-prima psíquica que foi mobilizada pelas bombas semióticas, nos últimos anos, para produzir aquilo que o russo Andrew Korybko chama de “caos sistêmico” ou “caos estruturado” na sua obra “Hybrid Wars: The Indirect Adaptive Approach to Regime Change” (clique aqui, em inglês) – o envenenamento do psiquismo nacional pelo mecanismo regressivo do ressentimento.


Imprecisões oportunas


Todas as oportunas “imprecisões” na série (por exemplo, fala-se do esquema de corrupção do “Banco do Estado” que teria começado em 2003 – na verdade, o caso Banestado começou nos anos 1990 nos governos FHC) podem ser interpretadas como “licença poética” como logo no início Padilha alerta aos espectadores: “essa é uma obra de ficção livremente adaptada... etc.”.

Porém, como obra de ficção é uma perfeita e didática bomba semiótica por expor, in natura, o esgoto psíquico de onde foi retirado todo o ressentimento que alimentou mal estar, ódio, intolerância, polarizações cuja propaganda indireta da guerra híbrida deu forma e sentido... ou seja, o “caos estruturado” do qual se refere Korybko.

O tema central da série é o ressentimento, muito mais do que uma suposta dramatização da Lava Jato. O que comprova a natureza da produção Netflix: é mais um veículo de propaganda, como muitos outros desde 2013, a incutir o ódio e o ressentimento como doença psíquica nacional que legitimou todo o golpe e a crise política.

Tirando os vilões (doleiros, empreiteiros e as caricaturas de Lula e Dilma Rousseff), todas as motivações dos “mocinhos” são originadas no ressentimento – o ódio e desejo de vingança por descobrirem que “Deus não é brasileiro”, que a Justiça não existe, por descobrir que depois 20 anos de trabalho na Polícia Federal o protagonista vai apenas receber migalhas de auxílio-doença da Previdência.

Ou por dó por ver “heróis anônimos” levando uma vida miserável enquanto doleiros enriquecem e sustentam “as mais caras campanhas eleitorais à presidência”... Logicamente, as campanhas das parodias de Lula e Dilma.  

Por isso, a obsessiva necessidade narrativa de voice over para tentar explicar as motivações dos protagonistas. É a única maneira dos criadores José Padilha e Elena Soarez tentar atribuir alguma motivação nobre, patriótica ou estoica para os heróis. Mas o que as imagens nos mostram mesmo é o mesmo envenenamento psíquico que a propaganda indireta da Guerra Híbrida (as “bombas semióticas”) inoculou nos corações e mentes de uma nação.


A série


A dupla Padilha e Soarez também tenta nos vender a ideia de que o tal “mecanismo” do título está por trás de tudo como “um câncer” como obsessivamente repete o policial federal Marco Ruffo (Selton Mello): na esquerda, na direita, na presidência, na empresa estatal, na “cervejinha” paga ao policial, na falsa carteirinha de estudante.

Mas o “câncer” mesmo está no clone de Lula: ele fala em “estacar a sangria” da Lava Jato e em “grande acordo nacional”. Na verdade, quem usou essas frases foi Romero Jucá no infame diálogo com Sérgio Machado... Mas, afinal, quem se importa. Ele já estaria preso, não fosse a “tremedeira” do STF. O que  daria um belo empurrão promocional à série.

Ruffo fica obcecado pelo esquema corrupto do doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz). Junto com a sua companheira de investigações e aprendiz Verena (Croline Abras), Ruffo descobre um gigantesco mecanismo de corrupção envolvendo, logicamente, todo o fornecimento de dinheiro para as campanhas eleitorais de uma alusão ao PT e superfaturamento na “Petrobrasil”.

Padilha e Soarez fazem questão de reforçar ao espectador o contraste entre a vida contida financeiramente do herói (“levei 20 anos para dar um carro para minha esposa”, lamenta Ruffo), numa casa humilde e com uma filha que necessita de cuidados especiais, e as cifras milionárias manipuladas pelo doleiro Ibrahim.

Ruffo não se conforma em olhar para sua esposa e filha como um perdedor e a precária vida material que consegue dar a elas. Sua motivação profunda é a vingança, a justiça custe o que custar. Ressentido, sofrendo derrotas atrás de derrotas, sente-se paralisado pela Justiça (“às vezes tenho vontade de meter uma balas na sua cabeça!”) e quase a dupla Ruffo/Ibrahim se transforma na dupla atormentada Batman/Coringa do cinema e das HQs.


Ressentimento como arma política


Ressentimento sempre foi uma arma da propaganda política. Para Nietzsche, o ressentimento se transforma em doença quando as forças ativas perdem a capacidade de atuar e o indivíduo deixa-se contaminar. Então a sede de vingança começa a ganhar forma e buscar por um sentido.

E a propaganda política com seus bodes expiatórios e soluções finais está sempre atenta: golpes, intervenções militares, sanha persecutória, linchamentos etc oferecem a tradução política para essa doença.

Para Nietzsche, o ressentimento surge da oposição entre duas visões de mundo: a ativa, aceitar o mundo como é e tentar adaptar-se a ele aplicando seus instintos; e a reativa, que não aceita esse mundo e nega os instintos por pertencerem a esse mundo.

Logo cresce o sentimento de que alguma coisa é a culpada pela inércia, paralisia e o mal-estar. De imediato vem a ideia de vingança, mas é necessário agir. O que foge da capacidade do ressentido. 

O ressentimento é introjetado, criando o ódio – a matéria-prima à espera de uma tradução em um slogan, uma campanha, um bode expiatório. Mas, principalmente, à espera de alguém que, por delegação, faça o trabalho de vingança: um herói, um vingador que esteja acima do bem e do mal. Acima da Lei, da Constituição, do Estado de Direito – na verdade, para o ressentido, instituições que só dificultam a justiça.


O Mecanismo gasta os primeiros episódios para descrever esse cenário de impotência, esforço e sacrifício de destemidos investigadores federais e do Ministério Público (destacando o caso de um policial que veio da favela e graças ao esforço e mérito tornou-se um servidor público), da tragédia pessoal e familiar de Ruffo até os esforços inúteis daquele que lutaram toda uma vida para serem servidores concursados. Enquanto doleiros e políticos corruptos se locupletam em dinheiro e poder.

Tudo para criar esse quadro de frustração e ressentimento. Na verdade,O Mecanismo tenta transformar em motivações nobres a doença do ressentimento que tanto Nietzsche denunciava.

Doença que levou o País a ficar eletrizado pelo espetáculo de meganhamento da Justiça, com policiais federais encapuzados empunhando escopetas negras, ao vivo na TV.

A dupla de criadores Padilha e Soarez atirou no que viu e acertou no que não viu. Se a “dramatização” da Operação Lava Jato foi paródica e tosca, por outro lado, O Mecanismo é um documento exemplar do espírito do seu tempo: o ressentimento em estado bruto explorado como arma semiótica política.

A Guerra Híbrida ainda está em curso até o seu objetivo final: ódio, ressentimento e medo como atmosfera psíquica dominante que transformará, para os cidadãos, até razoável o impedimento das eleições desse ano. Afinal, não foi para isso que foi dado o golpe político?  

Ameaças no STF e tiros a ônibus de Lula colocam Brasil em espiral intimidatória

Ameaças no STF e tiros a ônibus de Lula colocam Brasil em espiral intimidatória

apud Jornal El País

Ministro Fachin relata ameaças, enquanto tiros atingem ônibus da caravana petista.

País vive escalada de tensão às vésperas do julgamento de habeas corpus de Lula

Edson Fachin e ex-presidente Lula
O ministro Edson Fachin (à esq.) e o ex-presidente Lula.
Faz só duas semanas que o Brasil parou estarrecido diante do assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, com quatro tiros que estouraram a sua cabeça. Agora, a execução da política do PSOL e do motorista Anderson Gomes parecem ser apenas mais um episódio dentro da escalada de violência e intimidações em que o país mergulhou nas últimas semanas. Nesta terça, três disparos de arma de fogo atingiram dois dos três ônibus da caravana do ex-presidente Lula pelos Estados do sul do Brasil, entre os municípios de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, no Paraná. As balas danificaram a lataria dos ônibus mas não atingiram ninguém. O ex-presidente não estava em nenhum dos ônibus atingidos.
Poucas horas antes, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator da operação Lava Jato, Edson Fachin, disse em entrevista à Globo News, que ele e sua família estão sofrendo ameaças, embora não tenha especificado o teor das intimidações. As ameaças ocorreram há três semanas e, desde então, a segurança de Fachin começou a ser reforçada. “Nos dias atuais uma das preocupações que tenho não é só com julgamentos, mas também com segurança de membros de minha família”, disse o ministro ao jornalista Roberto D'Ávila.
A caravana de Lula, por sua vez, já vinha experimentando um clima de hostilidade, com o bloqueio de acesso a algumas áreas, barricadas, ovos e até pedras arremessados contra Lula e sua militância. Nesta segunda-feira, a equipe do ex-presidente foi flagrada em uma cena censurável: um segurança de Lula agrediu o jornalista Sergio Roxo, do jornal O Globo quando ele filmava com o celular cenas de protestos contra a caravana.
Mas os tiros inesperados aumentaram o fogo do caldeirão em que o país se meteu neste ano eleitoral, ainda imerso na polarização política. Desde que o ex-presidente, que lidera as pesquisas de intenção de voto, foi condenado a 12 anos e um mês de prisão no Tribunal Regional Federal da Região 4 em (TRF-4), em janeiro por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, o partido decidiu mantê-lo como pré-candidato. O gesto tem sido visto como uma afronta pelos antipetistas que fazem questão de hostilizá-lo publicamente. As cenas filmadas da chuva de ovos atirada contra a caravana mostram bem essa realidade.
O Supremo, por outro lado, vive os reflexos da polarização mais radical com o julgamento do habeas corpus de Lula, marcado para o dia 4 próximo. Se a Corte acatar o pedido da defesa do petista, poderia livrá-lo da prisão no caso do triplex do Guarujá. A pressão aumentou, seja por ameaças veladas como as relatadas por Fachin, mas também em comentários públicos, como o tuíte do general Paulo Chagas, que faz um alerta ao STF. “Cumpro o dever cívico e cristão de alertá-los para o risco de brincar com a passividade do povo e com a paciência de quem, em silêncio, apenas observa e avalia, porque, quando o futuro e a segurança da Nação estão em jogo, tanto quanto o silêncio do lobo, a passividade pode, num repente, dar lugar à cólera das multidões”, afirmou. Também o grupo Movimento Brasil Livre tem feito convocatórias para protestos no dia 3, sob o lema "Ou você vai, ou ele [Lula] volta".

Reações sob clima belicoso e eleitoral

Na noite de terça, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, foi o primeiro do staff do Governo Temer a repudiar os tiros à caravana petista. “Isso é absolutamente antidemocrático”, disse em uma entrevista coletiva em Brasília afirmando que não se pode “admitir confrontos”. Nesta quarta, foi a vez do próprio presidente Michel Temer se manifestar pelas redes sociais. “Lamento o que aconteceu com a caravana do ex-presidente Lula. Desde quando assumi o governo, venho dizendo que nós precisamos reunificar os brasileiros. Precisamos pacificar o País. Essa onda de violência, esse clima de ‘uns contra outros’ não pode continuar”, escreveu ele, mencionando o jargão adotado por Lula do “nós contra eles”, que inflama ainda mais a divisão do país.
Foto de um dos buracos deixados pelos tiros em um dos ônibus.
Foto de um dos buracos deixados pelos tiros em um dos ônibus.
O clima belicoso – e eleitoral – também abriu espaço para declarações infelizes, como a do governador e pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) que afirmou na noite de terça que com os tiros à caravana “o PT colhe o que plantaram”. A frase foi lida como a legitimação da violência que poderia ter matado integrantes da comitiva além dos jornalistas que acompanham a carreata, e que estavam no ônibus atingido pelos disparos. O prefeito de São Paulo e pré-candidato ao governo paulista,João Doria (PSDB), seguiu na mesma linha ao afirmar que “o PT sempre utilizou de violência, agora sofreu da própria violência”.
O mal-estar com a frase dos dois tucanos foi a deixa para que outros políticos moldassem os discursos desta quarta. De Henrique Meirelles, ministro da Fazenda e potencial pré-candidato, ao próprio Alckmin e Ciro Gomes (PDT), se manifestaram pelas redes sociais repudiando os tiros. “Toda forma de violência tem que ser condenada. É papel das autoridades apurar e punir os tiros contra a caravana do PT. E é papel de homens públicos pregar a paz e a união entre os brasileiros. O país está cansado de divisão e da convocação ao conflito”, escreveu Alckmin no twitter. Marina Silva, da Rede, Guilherme Boulous, do PSOL, já haviam se posicionado apontando a gravidade dos disparos na própria terça. O silêncio de Jair Bolsonaro também foi notado diante da gravidade dos fatos.

"Bang bang"

A caravana do ex-presidente Lula começou a percorrer o país em agosto do ano passado, a partir da região Nordeste. Depois disso, o pré-candidato e sua militância passaram por Minas Gerais, Rio de Janeiro e agora percorrem a região Sul. Três ônibus formam o comboio pelas estradas. Olhando de fora, não é possível saber em qual deles Lula está.
Os Estados do sul, onde o ex-presidente têm o menor percentual de intenções de voto - cerca de 20%, de acordo com a última pesquisa Datafolha, contra 37% no âmbito nacional –, foi a que mais registrou cenas de tensão e hostilidade contra a caravana.
No momento em que os ônibus foram alvejados, não havia nenhuma manifestação ocorrendo. Antes dos disparos, um dos ônibus passou por cima de alguns miguelitos, espécie de estrelas de prego. Os pneus foram furados, o que fez com que a velocidade fosse reduzida, e então os disparos aconteceram. A sequência dos fatos reforça a tese da militância de que a caravana foi alvo de uma emboscada. “Podemos dizer isso claramente”, disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que acompanhava a viagem. A jornalista Eleonora de Lucena, que estava num dos ônibus alvejados, classificou o episódio como um “atentado”. "A escalada fascista subiu mais um degrau. Grupos ultradireitistas não enxergam limites", escreveu ela na Folha de S. Paulo.
Na busca pelos autores dos disparos, o PT e a Secretaria de Segurança Pública do Paraná atribuem a responsabilidade um ao outro. Gleisi Hoffmann disse que mandaram “as informações [sobre a caravana] ao governo do Estado do Paraná e falamos com o comando da Polícia Militar”. Mas a secretaria de Segurança informou que “não houve pedido formal de escolta da caravana do ex-presidente e no o próprio ex-presidente, embora ele tenha esta prerrogativa”. Diz ainda que houve “alteração, por parte dos organizadores da caravana, do roteiro e do cronograma que foram informados previamente às forças de segurança do Estado”.
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná informou, por meio de nota, que será feita uma perícia no ônibus e “se constatado um disparo de arma de fogo, será aberto um inquérito policial para apurar os fatos”. Mas o delegado de Laranjeiras do Sul, onde ocorreu o incidente, afirmou ao jornal O Globo que vai tratar o caso como “tentativa de homicídio”. Ele acredita que ao menos duas pessoas participaram da ação, já que há tiros dos dois lados de um mesmo ônibus.
Hoffmann também diz que enviou ao ministro Raul Jungmann um ofício da caravana pedindo apoio e segurança. A informação não foi confirmada e nem desmentida pela assessoria de imprensa do ministério até o fechamento desta reportagem. “O fato é que não temos proteção”, afirmou a senadora. “Vamos deixar se transformar nisso a política? Vai virar um bang bang? Nós poderíamos ter uma pessoa morta ou mais aqui”.
O encerramento da caravana será nesta quarta-feira em Curitiba, sede da Justiça Federal do Paraná, espécie de quartel-general da primeira instância da Operação Lava Jato. Por coincidência, o deputado pré-candidato Jair Bolsonaro também terá compromisso na capital paranaense na mesma data. Outros pré-candidatos da esquerda à presidência, Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D’Ávila (PCdoB) confirmaram que estarão com Lula no ato final em apoio ao petista depois do ocorrido. A Polícia Militar afirma que reforçou o policiamento em todos os locais indicados pelos representantes da caravana.