sábado, 28 de novembro de 2015

Prisões: promiscuidade entre público e privado dilapida patrimônio público

Prisões: promiscuidade entre público e privado dilapida patrimônio público



Prisões: promiscuidade entre público e privado dilapida patrimônio público

Mário Magalhães
Por Angeli, na “Folha'', 26.11.2015


A
impunidade é combustível indispensável à expansão da corrupção,
modalidade criminosa que exige quem dê e quem receba, o corruptor e o
corrupto. Quando bandidos acabam na cadeia, emite-se um aviso: quem
reeditar práticas semelhantes se arrisca a ter idêntico destino. Se
prevalece a impunidade, o combustível da gatunagem ganha aditivo.

Faz
bem ao Brasil que o senador petista Delcídio do Amaral tenha ido para o
xilindró e que o banqueiro amigo de tantos partidos André Esteves lhe
faça companhia. É saudável que o STF tenha respondido com altivez às
provas e que, no caso do líder do governo no Senado, a maioria dos seus
pares tenha autorizado a prisão, nos termos da lei.

Por mais óbvio
que seja a muita gente, para outros passa despercebido quem é a maior
vítima da corrupção. É o patrimônio público, bem coletivo dos cidadãos,
mais caro ainda aos que dependem do Estado para sobreviver. Num exemplo:
se há quem tenha dinheiro para pagar o colégio privado da gurizada,
parcela expressiva dos brasileiros depende de estabelecimentos públicos
de ensino; a corrupção retira do Estado condições de manter escolas e
oferecer educação de qualidade _no contraste com o desempenho das
particulares, amplia-se o desnível de oportunidades. (Sem falar que os
ricos costumam preferir faculdades públicas, bancadas por todos, em
especial os mais pobres.)

A promiscuidade entre o segmento público
e o privado serve ao segundo. Não que não devam existir parcerias,
pactos, vínculos que promovam vantagens lá e cá. O setor público
melhorando a vida das pessoas. O privado auferindo lucro legítimo.
Relações não promíscuas. O problema é quando o público é prejudicado,
favorecendo o privado, rompendo o equilíbrio na balança de interesses.
Pior ainda, quando o patrimônio público é dilapidado em proveito de
companhias e bolsos particulares.

A Petrobras é exemplar. Sua
constituição foi uma batalha cívica de décadas, vencida contra
petrolíferas privadas nacionais e sobretudo estrangeiras. Sabotagem
nunca faltou contra a Petrobras. Por um bom tempo, opuseram-se opiniões
distintas sobre o monopólio estatal do petróleo, hoje erradicado.

A
partir de determinada quadra, uniram-se para pilhar a Petrobras aqueles
que alardeavam a privatização e os que discursavam em alto brados
contra ela. Associaram-se para roubar. Na prática, para privatizar,
transferindo ilegalmente patrimônio público para mãos de larápios.

Que
independência tem um governante ou legislador cuja campanha é
financiada por empreiteiras, estaleiros e bancos, como o BTG Pactual de
Esteves? Assim como não existe almoço gratuito, “doação de campanha'' é
história da carochinha. As empresas não doam, elas investem. O que o
administrador público e o legislador têm a oferecer em troca, a não ser
abrir mão de interesses públicos, privilegiando os de conglomerados
privados? Podem falar em “contribuição'' em nome de valores da
cidadania, de veleidades sociais, do pragmatismo de o país ir bem, para
as empresas avançarem. Não creio. Basta observar a atuação dos
beneficiários das “doações'', a quem eles servem, por que causas
batalham. Por que a Vale foi tão bem tratada depois da tragédia
criminosa de Mariana?

A promiscuidade é a antessala do crime.

O
senador do PT é o mesmo sujeito nomeado diretor da Petrobras no governo
FHC. O banqueiro seu camarada destinou milhões de reais às campanhas de
Dilma Rousseff e Aécio Neves em 2014. E um trocado ao caixa 1 de
Delcídio _sem contar eventuais pixulecos por baixo do pano.

A verborragia radicalíssima no choque entre vultos da politicalha brasileira disfarça comportamentos parecidos.

Nada
foi tão constrangedor ontem como assistir aos senadores, aos menos de
PT, PSDB e PMDB se humilhando ao elogiar Delcídio do Amaral. O que
temem? A convicção de que lugar de ladrão é na cadeia?

Até quando esperar? — CartaCapital

Até quando esperar? — CartaCapital



Economia

Crescimento

Até quando esperar?

Três anos de escalada dos juros e um semestre de recessão abalam a defesa da atual política econômica






por Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo







publicado
27/11/2015 14h04,



última modificação
28/11/2015 00h37














De 2013 para cá, a Selic, taxa básica, quase dobrou, sem conter a inflação
Em artigo
publicado em outubro deste ano, Orsola Costantini, economista sênior do
Institute for New Economic Thinking, nos oferece uma exegese do conceito
de orçamento ciclicamente ajustado, palmilhando o tortuoso caminho da
proclamada e não comprovada “evolução” do pensamento econômico. 
Um dos economistas mais influentes da Escola de Estocolmo,
Gunnar Myrdal, foi pioneiro em propor regras que permitiam ao governo
equilibrar seu orçamento durante todo o ciclo econômico, em vez de
considerá-lo ano a ano.
Na época, a preocupação era estabelecer uma política fiscal capaz
de suavizar as flutuações econômicas, apoiada na ideia de que o governo
deve proporcionar estímulos fiscais durante o período de retração e,
simetricamente, implementar medidas restritivas durante a expansão,
contendo pressões inflacionárias e garantindo uma transição suave da
parte descendente do ciclo. 
Apesar de a ideia
assemelhar-se à proposta posterior de Keynes para um orçamento de
capital, Myrdal, em 1930, via o investimento público como uma linha de
defesa contra flutuações cíclicas, a ser ativada tão somente quando as
circunstâncias assim determinarem. Recomendava, portanto, intervenções
pontuais de curto prazo.
Dados-Recessão
A ideia de Keynes, por contraposição, é
formulada no capítulo XXIV da Teoria Geral como um projeto de longo
prazo. Na proposta keynesiana, a “socialização do investimento” junta-se
ao sistema tributário progressivo, à eutanásia do rentista e ao
controle do movimento internacional de capitais para prevenir a
instabilidade inerente à economia capitalista. Entre outras coisas,
Keynes pretendia neutralizar os desvarios da finança nacional e
internacional. Sua proposta jamais foi implementada, nem sequer
ensaiada.
Contudo, o debate acerca dos instrumentos para a suavização dos ciclos econômicos, tendo como meta o pleno emprego
a ser alcançado pela socialização do investimento, foi substituído por
um positivismo tardio, que nega a possibilidade de políticas públicas
exercerem efeitos de longo prazo no nível de emprego.
A “hipótese das expectativas racionais”
aliou-se aos modelos de equilíbrio geral, deterministas ou estocásticos,
para deslocar o debate. A incerteza que afetava as decisões
empresariais no capitalismo de Keynes cede lugar à “otimização” dos
indivíduos racionais que conhecem a estrutura da economia, bem como sua
trajetória provável. Esse super-homem não se deixa enganar por
“truques nominais” da política monetária e da política fiscal. A
política econômica para reduzir o desemprego só resultaria em maiores
taxas de inflação e necessidade de maiores impostos no futuro. Segundo o
“teorema da equivalência ricardiana”, o agente racional sabe que o
déficit fiscal de hoje será corrigido “estruturalmente” por mais
impostos amanhã.  
A força e o sucesso dessa
teoria repousam em um conjunto de pressupostos simples: os indivíduos
baseiam suas decisões em expectativas racionais; os mercados são bem
organizados e o sistema de preços, rígidos ou flexíveis, funciona para
alocar eficientemente os recursos; as flutuações da economia em torno de
sua trajetória de equilíbrio decorrem de “choques exógenos”, como
mudanças tecnológicas ou na preferência dos consumidores; os mecanismos
automáticos de ajuste operarão forte e rapidamente; a demanda de moeda é
estável, porque a função reserva de valor que suscita a demanda
especulativa sumiu do mapa; por isso, os ativos financeiros e reais são
altamente intercambiáveis; o consumo depende do valor descontado de
todas as receitas futuras e não da receita corrente; o tropismo em
direção à teoria quantitativa da moeda arquitetou a Nairu (taxa de
desemprego não aceleradora da inflação), concebida para mimetizar o
conceito de taxa natural de desemprego, como advertência aos perigos de
estímulos “pelo lado da demanda”.
A economia tenderia automaticamente ao
equilíbrio a longo prazo, graças à operação das “forças naturais” do
mercado. A austeridade monetária e fiscal é reivindicada como panaceia
destinada a restaurar rapidamente as “condições econômicas normais”.
Isso significa o seguinte: uma vez desvendado o hiato do produto para
definir o produto potencial, emerge a “realidade” escondida sob o véu
dos valores nominais. 
 
 A pedra angular das
estimativas do hiato do produto é a confiança na inflação como
indicador principal dos desvios do produto potencial. Em trabalho
recente do Bank of International Settlements sobre o tema,
Borio, Disyatat e Juselius mostram a tautologia dos cálculos do hiato
do produto: se há fortes tensões inflacionárias, a economia está sendo
pressionada a crescer acima do produto potencial. Se há deflação, está
crescendo abaixo. 
Borio constata que a verificação empírica
dos modelos amparados nessa hipótese apresenta um dilema: ou os
resultados não são economicamente plausíveis ou a hipótese supracitada
da correlação entre inflação e desemprego é irrelevante para o cálculo
do produto. Gentilmente, Borio et al estão dizendo que o
tratamento do hiato do produto está irremediavelmente comprometido com o
vício da tautologia. Os resultados estão contidos nos supostos. Resta à
política econômica satisfazer as expectativas dos agentes racionais,
sinalizando que vai tomar as decisões necessárias para que todos
acreditem na recondução da economia à trilha do “produto natural de
equilíbrio”. E assim estamos de volta ao Nirvana da “economia da
oferta”. 
Resultados
Essas bugigangas encontram guarida nos
argumentos para justificar as elevadas taxas de juros praticadas no
Brasil, sob a lógica de que uma das principais funções do modelo de
metas da inflação é exercida pelo canal das expectativas. Juros
inferiores seriam uma sinalização de renúncia ao comprometimento de
fazer o IPCA convergir para a meta. A deterioração das expectativas
teria impacto na inflação de 2016 e 2017.
De 2013 para cá, a Selic praticamente
dobrou, com um acréscimo de 7 pontos, mas a política monetária vem
apresentando pouco sucesso em trazer a inflação para a meta; entre março
de 2013 e outubro de 2015, o IPCA subiu 19,97%, depois de um choque de
tarifas destinado a alinhar os preços relativos. O argumento de que a
política monetária leva tempo para fazer efeito e o diagnóstico de
inflação de demanda sucumbem ao peso de 33 meses de escalada dos juros e
dois trimestres de recessão.
A mesma lógica patrocina a esperança que
afirma o ajuste fiscal como condição suficiente para a retomada do
crescimento. Comparando o período entre janeiro e setembro de 2014 e
2015, o ajuste fiscal proporcionou uma redução de 4% das despesas
totais, 5,5% nas transferências e 41% dos investimentos do PAC. No
entanto, o déficit primário previsto para o fim de 2015 é quase três
vezes maior do que em 2014 (de 0,37% para 0,9% do PIB).
Partindo das condições estáticas
de equilíbrio, os modelos de expectativas racionais desconsideram a
dinâmica concreta da economia monetária da produção. Na hipótese
keynesiana, as antecipações que sustentam as decisões dos empresários a
respeito dos rendimentos do seu estoque de capital existente ou do
investimento em nova capacidade são tomadas em condições de incerteza
radical. Seria um prodígio se empresários e consumidores antecipassem
o “reequilíbrio” das condições de crescimento depois de um choque de
preços dos insumos universais, choque de juros, subida da inflação e
contração dos gastos públicos. Auguramos que se materializem os efeitos
da bem-vinda desvalorização cambial. 
Qualquer sujeito racional mobilizaria seu
ceticismo quanto ao diagnóstico inicial e faria uma revisão da
prescrição. Expectativas alienadas da experiência reduzem-se a dogmas
irracionais: a pretexto de praticar “ciência”, escapam ao pragmatismo da
arte da política econômica

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Prisão de Delcídio expõe o risco da delação "genérica"

Prisão de Delcídio expõe o risco da delação "genérica" e a eficácia do "Rhum Creosotado" - TIJOLAÇO



Prisão de Delcídio expõe o risco da delação “genérica” e a eficácia do “Rhum Creosotado”

rhum


Repare o leitor que não houve – e nem poderia haver, tamanha a
imundície – um pio de protesto ante a prisão do Senador Delcídio Amaral.


E não pode haver, porque é inequívoca a prova de que não apenas ele
estava praticando um crime como perpetrando outro, o de dar fuga a
Nestor Cerveró.


Abstenho-me de comentar o nojo da situação porque mantenho este blog limpo.


Curioso é que as provas não foram obtidas pela Polícia Federal nem
pelos guapos rapazes do Ministério Público, mas pelo filho de Cerveró,
animado pelo legítimo direito de – já que estamos numa feira judicial –
de negociar (veja como o termo é adequado) a delação premiada do pai.


E ponto, terminam aí as virtudes do episódio.


Começam, então, os episódios, características e, pior, as projeções lógicas que traz com ele, tão ou mais repugnantes.


A primeira delas é a tristíssima constatação que o senso de Justiça
do Supremo Tribunal Federal só é como deveria ser para todos quando
 ofendida a honra de seus integrantes.


Se o senhor – já antecipo a perda iminente do título de Senador –
Delcídio Amaral tivesse dito que “já conversou” comigo ou com o prezado
leitor e a querida leitora sobre como livrar Cerveró, estaríamos nós,
inapelavelmente, execrados nas páginas dos jornais como cúmplices.


Sem dó nem piedade.


Aliás, estariam assim os senhores Ministros do STF se a gravação
tivesse, antes de chegar ao conhecimento do Supremo, sido entregue ao Superior Tribunal da Veja.
Ou, talvez, tenha chegado – tal é a cumplicidade que se formou entre
ela e a República do Paraná e os tenha salvo, coitados, pelo “Rhum
Creosotado” da citação ao Ministro Gilmar Mendes, o qual, claro, não vem
ao caso.


Ninguém irá imaginar se “ser conversado” é prática no STF ou se, como Esteves, o banqueiro Daniel Dantas “conversou” com alguém.


Com toda a razão – e sobretudo, com todos os meios – Suas Excelências
puderam dar fim, desde o início, a qualquer especulação, sem prova,
sobre sua honra e honestidade.


Mas, a esta altura, manifestarem-se indignados pelo vazamento de
informações da Lava-Jato é, convenhamos, reafirmar a refrescância da
pimenta em olhos alheios.


Daí vem a segunda inevitável reflexão.


A delação premiada de Cerveró, está evidente, foi negociada com uma
ratoeira para pegar Delcídio – e, de quebra, o banqueiro André Esteves,
que apesar de eleitor de Aécio e pagador de suas despesas pessoais , virou petista de carteirinha na mídia – e o episódio de ontem terá desdobramentos.


Quanto valerá agora o único caminho da defesa de Delcídio Amaral e de André Esteves, uma nova delação premiada?


Devo estimular a imaginação dos leitores sobre o que ela conteria?


E preciso perguntar se a credibilidade do “conversei com o Lula”
 teria seria a mesma que se teve  ante o “conversei com o Teori” ou o
“conversei com o Tóffoli” ou ainda o “vou pedir ao Temer para conversar
com o Gilmar”.


A espiral de delações, que empresta credibilidade a tudo o
que dizem homens desesperados diante da evidência de suas falcatruas,
turbinada por um Ministério Público e uma Polícia que têm alvos
pré-determinados e uma imprensa histericamente partidarizada
inevitavelmente conduz a isso.


Agora imagine se, para completar a “cruzada moral”, sob o apoio da
indignação moral de todos com o papel dos roedores que caíram na
ratoeira, os ratos passam a guinchar suas delações, para fruir de tudo,
embora com as anilhas eletrônicas do laboratório do Dr. Moro  presas às
patinhas?


Ah, sim, porque queijo guardado eles têm e muito.


Deu-se assim o resultado da ausência da política e da polêmica.


Quando ela passa a um plano inferior, sobram os Esteves, os Delcídios, os Cunha.


Os que “viabilizam”.


E, quando podem ser lenha para fazer arder uma política progressista,
nacionalista e inclusiva, são solenemente lançados ao fogo por seus
pares. Diga-se, não sem “méritos” para isso, embora sejam apenas uns
entre muitos que se beneficiam do inverso desta política.


O Supremo fez o que muita gente neste país desaprendeu a fazer: exerceu seu poder.


Quem não faz isso, cai.


A menos que o ilustre passageiro seja salvo por algum Rhum Creosotado.

O "japonês bonzinho"

Não ponha todas as fichas dos vazamentos no "japonês bonzinho" - TIJOLAÇO |



Não ponha todas as fichas dos vazamentos no “japonês bonzinho”

redherring


A Folha anuncia que a Polícia Federal no Paraná instaurou ontem “um inquérito para apurar quem vazou a minuta da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró“, que teria ido parar nas mãos do banqueiro André Esteves.


Já há um suspeito, obvio, para o vazamento: o agente Newton Hidenoi Ishii, citado na conversa gravada pelo filho de Cerveró:


BERNARDO: os caras não tinham uma escuta em cima da.. da cela?
DELCÍDIO: Alguém pegou isso aí e deve ter reproduzido. Agora quem fez isso é que a gente não sabe.
EDSON: É o japonês. Se for alguém é o japonês.
DIOGO: É o japonês bonzinho.
DELCÍDIO: O japonês bonzinho?
EDSON: É. Ele vende as informações para as revistas.
BERNARDO: É, é.
E, adiante, citam nominalmente Ishii.


Fácil, não é? Fácil demais, porém.


Primeiro, porque o nome de Newton Ishii circula na internet como o
possível vazador de informações pelo menos desde julho deste ano, desde
que a Época publicou reportagem
sobre ele e seu passado (leia adiante), sem que houvesse qualquer
manifestação concreta de que se pudesse considerá-lo suspeito disso o
que, claro, levaria a seu afastamento, ao menos informal, da operação.


Uma semana antes, havia sido escalado pela PF para uma palestra
a jornalistas sobre os riscos – não se sabe de onde veio isso- de que
“snipers” poderiam estar espreitando os homens que Moro mandava prender
para executá-los, sabe-se lá, a tiro de fuzil. Como as operações eram do
conhecimento, em tese, apenas da PF, do MP e do Gabinete do Dr. Sérgio
Moro, seria interessante saber de onde vem esta suspeita e porque, ao
menos para as teleobjetivas dos fotógrafos, os acusados estiveram sempre
“na mira”.


Ishii, no entanto, continua chefiando as operações da PF e e
participando, como se vê insistentemente nas fotografias, das prisões
mais “atraentes” para a mídia.


Segundo, porque Ishii é chefe de Operações da PF e os acordos de
delação premiada são negociados com os membros do Ministério Público.
Como são, legalmente, sigilosos até que sejam homologados pelo juiz, não
se compreende que haja, durante as conversas, agentes policiais
presentes. Mesmo que, por absurdo, houvesse policiais federais
presentes, estes seriam delegados, não agentes. E Newton Ishii é simples
agente e agente que deveria, ao menos, despertar prudência por seus
antecedentes.


Porque  Ishii já  foi preso e demitido da Polícia por acusação de
contrabando, na Operação Sucuri, realizada lá mesmo no Paraná, em 2003.
Demitido pelo Processo Administrativo Disciplinar n.
007/006-NUDIS/COR/SR/DPF/PR, só  muito tempo depois foi reintegrado, por
ordem judicial, por irregularidades processuais em sua demissão. A
União recorreu e apenas em 2012 esta reintegração foi confirmada pelo STJ.


O “japonês bonzinho”, portanto, seja ou não o vazador que “vende
informações para as revistas”, é o suspeito ideal. Visível e com um
passado suspeito. E, pela mesma razão, para ser a própria expressão
inglesa do red herring, a pista falsa, porque ilude o olfato dos cães farejadores.


Não obstante Delcídio Amaral ser um rato, é preciso saber as
circunstâncias em que lhe armaram a ratoeira e se houve nisso “mãos de
gato”. Por mais que o desempenho naturalíssimo do autor das gravações,
que não denota medo ou mesmo qualquer temor de ser descoberto possa ser
explicado por Bernardo ser ator profissional (o
que não é razão para desqualificar sua ação)  há muitos anos,
há situações que são de enredo de filme de espionagem, como a de atrair a
atenção para um chaveiro-gravador desativado preso à sua mochila – e
devidamente percebida e guardada num armário – que não excluem a
possibilidade de as gravações não terem sido feitas sem a orientação de
quem costuma profissionalmente fazê-las.


O fácil, muitas vezes, é o caminho da ilusão.


A plutocracia na política nacional

Andre Esteves simboliza o poder da plutocracia na política nacional. Por Paulo Nogueira



Andre Esteves simboliza o poder da plutocracia na política nacional. 

 Paulo Nogueira

O que acontece quando a plutocracia toma de assalto a democracia?


Bem, os episódios das últimas horas contam tudo.



O banqueiro Andre Esteves simboliza os estragos que o dinheiro sem freios e limites promove na cena política.


André Esteves, do BTG Pactual, deu 9,5 milhões de reais para a campanha de Dilma e 7,5 milhões para a de Aécio.


Para Eduardo Cunha, ele deu 500 mil reais. Quer dizer: deu entre aspas. Ninguém dinheiro, sobretudo nos montantes de Esteves.


Seu banco só deu menos dinheiro na campanha de 2014, entre os gigantes do sistema financeiro, que o Bradesco.


O dinheiro não destrói tudo, naturalmente. Pode construir coisas boas, na verdade.


Mas o dinheiro simplesmente destruiu as bases da política brasileira.


O dinheiro compra até o amor verdadeiro, disse, numa frase célebre,
Nelson Rodrigues. Na política brasileira, como se viu com Esteves,
compra até uma delação confinada, supostamente, a um pequeno núcleo da
Lava Jato.


Plutocratas como Andre Esteves são os responsáveis pelo pior Congresso que o dinheiro poderia comprar.


A obra magna deles foi Cunha, um mestre na arrecadação de dinheiro
que acabou financiando campanhas para outros candidatos socialmente
deletérios como ele próprio.


São, ou eram, seus paus mandados, na expressão consagrada de delatores que temiam até por sua vida ao falar em Cunha.


Controlando-os pelo dinheiro, Cunha chegou à presidência da Câmara e,
com seus métodos brutais, impôs uma pauta que representa a essência do
atraso.


Como esquecer a votação para suprimir direitos trabalhistas pela terceirização?


Como esquecer as gambiarras para preservar aquilo que o fez ser o que é ou foi, o financiamento privado das campanhas?


E no entanto nada, rigorosamente nada é tão importante para o combate
à corrupção quanto o fim da farra do dinheiro privado nas eleições.


A plutocracia não dinheiro. Ela investe. São
coisas bem diferentes. O papel dos candidatos bancados pelos plutocratas
é defender os interesses de um ínfimo grupo privilegiado.


Para um país cuja marca é a desigualdade social, é uma tragédia.


Você dá ares de legitimidade, através do Congresso, a um processo de pilhagem sobre os brasileiros mais humildes.


Onde estão os congressistas mais combativos pelos direitos sociais,
como Jean Wyllys? Não por acaso, no PSOL, o único partido que rejeita
dinheiro da plutocracia.


Pelas circunstâncias, Andre Esteves é o rosto da ocupação do Congresso pelo dinheiro.


É preciso promover, com urgência, uma desocupação.


E o primeiro e imprescindível passo é controlar, rigidamente, o dinheiro por trás das campanhas.

Carta aberta à ministra Carmen Lúcia, do STF | Brasil 24/7

Carta aberta à ministra Carmen Lúcia, do STF | Brasil 24/7



Dom Orvandil








Carta aberta à ministra Carmen Lúcia, do STF









Prezada Ministra Carmem Lúcia


Nosso País acordou estupefato com a prisão de um senador da
República. Por outro lado, alivio-me com a prisão de um banqueiro, um
dos mais ricos do Brasil.


Não guardo intimidade com o pensamento do Senador Delcídio do Amaral
em virtude de suas origens políticas, ligadas à privatizações e ao
nefasto neoliberalismo. Porém, sua prisão nos coloca sob espanto pelo
colorido de arbitrariedade em face da imunidade parlamentar de que gozam
os eleitos pelo povo para ocupar cadeira na mais alta casa legislativa.


Perdoe-me, ministra Carmem, por me dirigir a senhora sem o traquejo
jurídico próprio dos advogados, já que não sou um e sem a formalidade de
um tribunal, já que não pertenço a nenhum.


Aqui tenho o objetivo de questioná-la pelo que disse na 2ª turma do
STF ao justificar seu voto na decisão do ministro Teori Zavascki ao
ordenar a prisão do Senador Delcídio do Amaral e do Banqueiro André
Esteves.


É de se esperar que os homens e as mulheres eleitos e eleitas sejam
honestos, honestas, probos e probas nas suas atividades parlamentares,
embora alguns afrontem e desrespeitem a sensibilidade social e a
cidadania, como é o caso do Senador Ronaldo Caiado, que frequentemente
usa camiseta amarela com os sinais de 9 dedos, em deboche a deficiência
física do ex-presidente Luiz Inácio Luiz da Silva, sem que seja
incomodado em momento algum por esse preconceito e crime.


Nesta carta singela desejo lhe dizer que me senti ofendido e
desrespeitado como cidadão com seu discurso ao justificar seu voto a
favor da prisão de Delcídio do Amaral, nesta manhã.


A senhora disse que antes nos fizeram acreditar que a esperança
venceu o medo. É evidente que a senhora se referiu à campanha eleitoral e
eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem citá-lo.


E vencemos mesmo, ministra Carmem. Milhões de brasileiros fomos
ameaçados com o estouro do dólar, com a fuga dos empresários que
investiriam em outros Países abandonando o Brasil ao desemprego e à
pobreza. Uma atriz da TV Globo apareceu em noticiários e na propaganda
eleitoral do PSDB fazendo caras teatrais de assustada e dizendo: "ai,
estou com medo". Pois vencemos essa tentativa. Os milhões de votos
investidos em Lula transcenderam fronteiras partidárias para afirmar
nossa esperança contra as ameaças rasteiras e desonestas. Vencemos o
medo, com muita esperança. O Brasil se sentiu recompensado com essa
vitória. A senhora sabe!


Como cidadão e como povo me sinto ofendido e agredido em minha
esperança e em minha fé com essa sua fala, para mim irônica e sem
nenhuma relação com o mensalão da mídia, com muitos casos dúbios e
influenciados pela opinião publicada.


A senhora carregou sobre a ironia sem nexo ao afirmar que "agora o escárnio venceu o cinismo".


Qual a relação do possível crime do Senador Delcídio do Amaral, nem
investigado totalmente e, muito menos julgado e condenado, com a vitória
da esperança em 2002?


A senhora quer nos envolver em todos os possíveis crimes de Delcídio?
A senhora falou pensando em investigação e condenação do ex-presidente
Lula, o candidato a respeito de quem se usou o slogan "a esperança
venceu o medo"? A senhora já sabe, mesmo sem julgamento, que o Senador
Delcídio do Amaral é criminoso, até mesmo antes da manifestação da casa
onde ele é parlamentar?


Na fundamentação de seu voto a favor da prisão do aludido senador a senhora asseverou que " agora o escárnio venceu o cinismo".


Pergunto se o seu voto não se referia a um senador? Se se referia ao
Senador Delcídio do Amaral qual a relação da ironia com os votos de
milhões de brasileiros que tiveram esperança de mudar aquela realidade
triste de desemprego, de miséria e de pobreza em 2002?


A senhora ameaçou quem ao afirmar posteriormente que "criminosos não
passarão sobre a justiça", alertando a todos do mundo da corrupção?


Perdão, ministra, mas a minha ofensa também vem do fato de a senhora
misturar ironicamente fatos e valores sem nenhuma relação, sendo que a
esperança realmente venceu o medo e sempre vencerá as vilanias da classe
dominante, principalmente da rapinagem dos poderosos internacionais,
que atuam por meio de jagunços nacionais.


Pior, a sua referência de falso senso de oportunidade choca por
estabelecer nexos irreais entre um senador atual, preso acusado de
atrapalhar investigações, com toda a força da esperança de um povo.


Choca mais o fato de a senhora não fazer nenhuma menção ao banqueiro
André Esteves, dono do Banco BTG Pactual, também preso como suspeito de
fazer uma operação polêmica na área internacional da Petrobras, ao
comprar poços de petróleo na África, sendo ele um dos homens mais ricos
do Brasil, um País pobre e, mesmo assim, de esperanças que vencem os
medos.


A senhora não disse nada sobre André Esteves foi pelo fato de ele ser
banqueiro e rico? Haveria na senhora algum senso de seletividade, como o
há na mídia que reforçou com grande destaque as suas palavras?


Enfim, perdoe-me pela ousadia de exercer o direito de questionar, de
me indignar contra as seletividades e contra o deboche em relação ao
povo que tem esperança, apesar do medo que diuturnamente lhe impingem.


• Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.

Dom Orvandil, OSF: bispo cabano, farrapo e republicano, presidente da
Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário,
trabalhando duro sem explorar ninguém

Eleitor e financiador de Aécio, na mídia banqueiro preso vira “amigo de Lula”

Eleitor e financiador de Aécio, na mídia banqueiro preso vira “amigo de Lula”

Eduardo Guimarães

Eleitor e financiador de Aécio, na mídia banqueiro preso vira “amigo de Lula”




:


O Brasil foi subjugado por uma ditadura de
idiotas amnésicos. Qualquer cidadão que tenha nascido e crescido neste
país sabe muito bem o que todo mundo sempre soube: empreiteiros e
banqueiros fazem negociatas, corrompem políticos. E quando é que
passaram a ser incomodados pela lei? Só após o PT chegar ao poder.
Ponto.


Mas o pior mesmo é a tentativa escandalosa da mídia de vincular a Lula e ao PT o banqueiro André Esteves, do banco BTG-PACTUAL, preso na última quarta-feira por conspirar com o senador Delcídio do Amaral para atrapalharem a Operação Lava Jato.


Na Folha de São Paulo, por exemplo, matéria afirma que Esteves seria “empresário do PT”. Diz a matéria:


Nos anos Lula-Dilma, muitos empresários se aproximaram do
governo em busca de benesses e bons negócios. Quatro deles se
notabilizaram pelo crescimento do seu império no período: Marcelo
Odebrecht, André Esteves, Eike Batista e Joesley Batista



Epa! Esteves? Que papo é esse? Por que ele é “empresário do PT”?


Em O Globo desta quinta-feira, Esteves vira amigo “sobretudo do PT”


esteves 2


Como todos sabem, Esteves transitava com desenvoltura entre a classe política. Na mesma Folha, na coluna de Monica Bergamo, informação que mostra que classificar Esteves como “empresário do PT” é uma piada.


O banqueiro André Esteves era tão próximo de Lula que,
quando visitava o ex-presidente no Hospital Sírio-Libanês quando ele se
tratava de um câncer na laringe, subia ao quarto do petista por um
elevador privativo. Amigo também do senador Aécio Neves (PSDB-MG),
Esteves não escondia de ninguém que tinha votado nele para presidente em
2014. Ele foi inclusive a jantares de apoio ao tucano. O banqueiro
gostava de Lula -mas não do governo de Dilma Rousseff
“.


Que papo furado é esse? Todos os que Lula recebia no Hospital
Sírio-Libanês, quando esteve doente, subiam ao quarto dele pelo elevador
privativo. Lula, por óbvio, não recebia no hospital qualquer um que
quisesse visitá-lo. Só personalidades e amigos íntimos.


O mais incrível é isso ser dito no momento em que está sendo lembrado
que esse banqueiro pagou a lua-de-mel de Aécio, nos EUA, em 2013,
quando o tucano se casou com uma modelo para ter “família” para
apresentar na campanha de 2014.


Vale rever matéria de O Globo publicada em 11 de outubro de 2013.


esteves 1


No ano passado, Esteves doou R$ 6,2 milhões à campanha de Dilma
Rousseff e R$ 5 milhões à de Aécio. O deputado Eduardo Cunha recebeu R$
500 mil.


Como é que faz? O dinheiro para Aécio é limpo e o dinheiro para Dilma
se deve negócios escusos do banqueiro com o governo? Se for por isso,
Esteves, e tantos outros banqueiros e empreiteiros acusados, também têm
negócios, por exemplo, com Estados e municípios governados pelo PSDB,
ora bolas.


Causa engulhos a tentativa de vincular Esteves ao PT e a Lula. Quer
dizer que o banqueiro doa dinheiro para a campanha de Aécio, declara
voto em Aécio, paga a lua-de-mel de Aécio, mas é “amigo íntimo” de Lula?


Esteves, como qualquer outro empreiteiro ou banqueiro, faz agrados a
políticos importantes como seguro contra antipatia. Isso sempre foi
assim. E é óbvio que sempre que for possível um governo petista ou
tucano ser “gentil” com seus doadores, isso fatalmente ocorrerá.


Eis por que financiamento privado de campanhas é uma excrescência.
Qualquer campanha eleitoral custa uma pequena fortuna. Qualquer partido
que tente disputar uma eleição sem essas doações certamente estará
condenado a jamais vencer.


Quem realmente apoia a corrupção é quem tenta vender a história de
que toda a corrupção que finalmente está sendo investigada e punida por
ação exclusiva dos governos do PT só passou a existir depois que esse
partido chegou ao poder. Essa versão pretende proteger corruptos de
outros partidos para que roubem em paz se voltarem ao poder.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

A pior empresa do mundo | Brasil de Fato

A pior empresa do mundo | Brasil de Fato

Folha reconhece que processos contra o PT andam mais rápido

Folha reconhece que processos contra o PT andam mais rápido | Brasil 24/7









247 - A ‘Folha
de S. Paulo’ critica a lentidão nas investigações do cartel de trem e
metrô em São Paulo, em governos tucanos desde 1998, e sinaliza
favorecimento ao PSDB:


“Como estas atingem governos do PSDB, se cristaliza em parte da
opinião pública a suspeita de que os processos andam mais rápido quando
na mira se acha o PT; a Polícia Federal (PF), o Ministério Público
Federal (MPF) e a Justiça têm a obrigação de demonstrar que esse não é o
caso; os sinais, no entanto, não são alentadores”.


Leia abaixo o editorial:


O lento trem do PSDB


Diante da celeridade com que transcorreram investigações do mensalão e
do petrolão, causa espécie a modorra com que são apuradas as alegadas
fraudes em serviços ferroviários metropolitanos no Estado de São Paulo.


Como estas atingem governos do PSDB, se cristaliza em parte da
opinião pública a suspeita de que os processos andam mais rápido quando
na mira se acha o PT.


A Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF) e a
Justiça têm a obrigação de demonstrar que esse não é o caso. Os sinais,
no entanto, não são alentadores.


Completou-se um ano, afinal, desde que a PF concluiu o alentado
inquérito criminal sobre o cartel que manipulou licitações de trens nas
administrações dos tucanos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, de
1998 a 2008. O processo, contudo, estacionou no MPF.


Ao todo, 33 pessoas foram indiciadas pela PF por diversos crimes,
como corrupção ativa e passiva, formação de cartel e fraude a
licitações. Entre elas figuram ex-dirigentes da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) e das suas fornecedoras Siemens, Alstom,
CAF, Bombardier, Daimler-Chrysler, Mitsui e TTrans.


Para o procurador da República encarregado do caso, Rodrigo de
Grandis, a demora em apresentar denúncia à Justiça decorre da
necessidade de aguardar documentos de países estrangeiros que comprovem
lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Faltariam provas para fechar o
cerco a contas bancárias no exterior e empresas offshore.


O procurador, evidentemente, não deve atropelar procedimentos. O
problema é que Grandis já esteve na berlinda, inclusive com processo
disciplinar na corregedoria do MPF depois suspenso pelo Supremo Tribunal
Federal, por atrasar por quase três anos resposta a pedido da Suíça
para colaborar na investigação da companhia Alstom.


Para a PF, já há indícios suficientes para uma ação penal. A
inclinação da Justiça a instaurá-la já teria sido evidenciada com sua
decisão de decretar o bloqueio de R$ 600 milhões das empresas
envolvidas.


A precipitação nunca garantiu –ao contrário– que um processo será bem
instruído e levará à condenação dos culpados e ao ressarcimento dos
prejuízos. O mesmo, ou ainda mais, se deve dizer da morosidade na
investigação, sobretudo quando pode ser entendida como proteção a certo
partido político.

sábado, 21 de novembro de 2015

Cientistas descobrem mutação que torna bactérias imbatíveis por antibióticos - BBC Brasil

Cientistas descobrem mutação que torna bactérias imbatíveis por antibióticos - BBC Brasil



Cientistas descobrem mutação que torna bactérias imbatíveis por antibióticos

  • 19 novembro 2015
O mundo está no
limiar de uma "era pós-antibiótico", alertam cientistas após a
descoberta de bactérias resistentes a medicamentos da última linha de
defesa humana contra infecções.
Um estudo divulgado na revista científica

Lancet
identificou, em pacientes e animais na China, bactérias que resistem à colistina, um potente antibiótico.

Os autores concluem que essa resistência pode se espalhar pelo mundo, trazendo consigo a ameaça de infecções intratáveis.



Leia também: O planeta com ventos mais rápidos que o som (e temperatura de 1.200ºC)


Especialistas afirmam que esse desdobramento precisa ser visto como um alerta mundial.

Se
bactérias se tornarem completamente resistentes a tratamentos - o
chamado "apocalipse antibiótico" -, a medicina pode ser lançada
novamente em uma espécie de Idade Média.

Infecções comuns
voltariam a causar mortes, enquanto cirurgias e tratamentos de câncer,
que apostam em antibióticos, ficariam sob ameaça.

Mutação

Cientistas
chineses identificaram uma mutação genética, denominada gene MCR-1, que
permite às bactérias se tornarem altamente resistentes à colistina
(também conhecida como polimixina), antibiótico geralmente usado como
último recurso no caso de ineficácia de medicamentos.

Ela foi encontrada em um quinto dos animais testados, 15% de amostras de carne crua e em 16 pacientes.








Image copyright
RIA Novosti




Image caption

A resistência foi descoberta em porcos, que costumam receber antibióticos com frequência na China



E a resistência se espalhou por um leque de cepas e espécies de bactérias, como E. coli, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa.

Também há evidências de que a resistência já chegou ao Laos e à Malásia.

O
colaborador do estudo Timothy Walsh, da Universidade de Cardiff,
afirmou à BBC: "Todos os atores chave estão agora em campo para tornar o
mundo pós-antibiótico uma realidade.



Leia também: Por que em toda tragédia surgem heróis anônimos?


"Se
o MRC-1 se tornar global, o que é uma questão de tempo, e se o gene se
alinhar com outros genes resistentes a antibióticos, o que é inevitável,
então teremos provavelmente chegado ao começo de uma era
pós-antibiótico.

"E se nesse ponto um paciente estiver gravemente doente, por exemplo, com E. coli, não haverá praticamente nada a se fazer."










A resistência à colistina já havia sido detectada antes.

Contudo, a diferença desta vez é que a mutação surgiu numa forma em que é facilmente compartilhada entre bactérias.

"A
taxa de transferência desse gene de resistência é ridiculamente alta, e
isso não é bom", disse o microbiologista Mark Wilcox, do centro de
hospitais universitários de Leeds, na Inglaterra.

O centro de
Wilcox agora está lidando com inúmeros casos por mês em que "lutam para
encontrar um antibiótico" - algo que há cinco anos seria muito raro, ele
diz.

Para o microbiologista, não houve um evento a marcar o
começo do "apocalipse antibiótico", mas está claro que "estamos perdendo
a batalha".

'Intratável'

A
preocupação é que o novo gene da resistência se associe a outros que
assolam hospitais, produzindo bactérias resistentes a todos os
tratamentos, o que é conhecido como pan-resistência.

"Se eu temo
que chegaremos a uma situação de um organismo intratável? Basicamente,
sim. Se acontecerá neste ano, no outro ou no seguinte, é muito difícil
dizer", afirmou Wilcox.

Há sinais de que o governo chinês está agindo de forma rápida para combater esse problema.





Walsh, da Universidade de Cardiff, terá encontros
com os ministros da Agricultura e da Saúde da China para discutir um
eventual banimento da colistina para uso na agricultura.

A professora Laura Piddock, do grupo de ativismo britânico

Antibiotic Action
, disse que esse mesmo antibiótico "não deveria ser usado em saúde humana e animal".

"Espero que a era pós-antibiótico ainda não tenha chegado. Mas esse é um alerta para o mundo."

Ela
diz considerar que a chegada dessa era "depende da infecção, do
paciente e se há tratamentos alternativos disponíveis", pois combinações
de antibióticos ainda poderão ser efetivas.

Um comentário feito ao artigo da revista científica Lancet
aponta que as implicações do novo estudo são "enormes", e a menos que
haja mudanças significativas, médicos irão enfrentar "um número
crescente de pacientes para os quais teremos que dizer: 'Desculpe, não
há nada que eu possa fazer para curar sua infecção'".

Como transformar o crime da Samarco em casas para o povo

Olha aí, Dilma, como transformar o crime da Samarco em casas para o povo - TIJOLAÇO |



Olha aí, Dilma, como transformar o crime da Samarco em casas para o povo

roosevelt


Presidenta Dilma, sei que o exercício do Governo exige ponderação,
regras, estudos de viabilidade, arcabouço legal, etc, etc, etc…


Mas exige, também, que o governante seja ousado, visionário, até um pouco delirante…


Se não fosse assim, não teríamos JK, Brizola, Darcy. Os mineiros não teriam tido Israel Pinheiro.


E os americanos não teriam tido o Roosevelt. Ali em cima estão as fotos do WPA, o  Works Progress Administration, com Eleanor, sua mulher, à testa. Precisavam dar trabalho aos veteranos da Primeira Gerra e às vítimas do crash de 1929. E criaram os Civilian Conservation Corps,que
estão ali, n foto,assentando blocos de calçamento. E também estão na
imagem os desabrigados do Vale do Tennessee, onde o governo fez
barragens. Lembram o pessoal do Vale do Rio Doce, rio que a Vale,
privatizada, renegou até no seu nome, não é? Pois é, eles já foram
assim, e não são mais.


Por isso, modestamente, quero dar um pitaco, destes de velho brizolista, que pensa fora da caixinha.


A essa altura, Presidenta, tem um monte de ONGs com as boquinhas mais abertas que os peixes sem ar do Rio Doce.


Mesmo como o acordo “camarada” com o Ministério Público, a Samarco –
leia-se aí a Vale e os australianos da BHP Billiton – terão de pagar
bilhões de indenização, uma parte deles que ficará na mão de gente
bacana, consultores, homens do blá-blá-blá e burocratas. Vai ter um
monte de “responsabilidade social”, que é aquele negócio em que a
Samarco ganhava prêmios e publicações elogiosas da Fiesp, mas que não deu para instalar uma mísera sirenezinha para o pessoal de Bento Rodrigues poder fugir da lama.


Presidente, chame ao Palácio um cidadão chamado Ricardo Fiorotti Peixoto.


Ricardo é professor da Universidade Federal de Ouro Preto e chefia o
Laboratório de Materiais da Construção Civil da Universidade Federal de
Ouro Preto, ali pertinho do desastre, e o Reciclos, que é um grupo de
pesquisa do CNPq-Capes que desenvolve conhecimento para transformar a
lama de mineração em tijolos e argamassa.


Não são marqueteiros atrás de promoção, trabalham nisso faz tempo e tem muitos trabalhos e experiências publicados (aqui, aqui, aqui e aqui
estão alguns) sobre a utilização de rejeitos de mineração (e de
siderurgia em geral) na produção de blocos de alvenaria, de
pavimentação, de argamassa e até de concreto para habitação e
urbanização.


Eles têm sonhos e conhecimentos, mas não têm dinheiro nem meios de levá-los além de seu pequeno laboratório de experimentação.


Chame o Ricardo e sua turma e os desafie: vocês topam montar isso em
escala industrial para um programa habitacional ali na região e na
Grande BH, que estão a uma distância viável para o transporte do que
produzirem?


Se ele vacilar, pergunte-lhe como é o lema da Escola de Minas, que ele integra. Eu já sopro para a senhora: “Cum Mente et Malleo“, com a mente e o martelo, conhecimento e ação.


Depois chame o Murilo Ferreira, da Vale, e algum Crocodilo Dundee da BHP e diga: “ó, cês vão pagar isso…” Não adianta chamar o presidente da Samarco, que é gravatinha contratado e daqui a pouco vai rodar, com um monte de indenizações.


E vão pagar também para fazer uma faixa de desapropriação em todas as
margens devastadas do Rio Doce, de onde vai sair a lama e vai entrar o
reflorestamento.


Vai ser trabalho por toda parte, Presidenta. Para tirar a lama, para
transformar em tijolos, para assentar os tijolos em ruas e em casas,
vendidos quase de graça, para produzir dezenas de milhões de mudas, para
plantá-las. E se um dia a lama acabar, tem mais, vinda da mineração,
que eles têm aos milhões de toneladas pendurada lá no alto dos morros.


Ah, e não esqueça de chamar o Levy, o Nelson Barbosa, a presidente da
Caixa, o Ministro das Cidades e dizer-lhes: “olha, este pessoal é meu,
não é docês


Rompa a barragem da burocracia, Presidenta, a dos “técnicos” que fazem relatórios e pareceres que não levam a lugar nenhum.


Chame uns doidos, Presidenta, que ficam horas, dias, meses e anos
estudando como fazer algo de útil do lixo da mineração e deixe os
“sabidos” que têm sempre uma “placa de resistência” quando se trata de
fazer alguma coisa.


O que eles nos deram foram um rastro de destruição e milhões de
toneladas de lama. Então, Presidenta, pegue o pessoal que delira e que
quer fazer o barro se tornar vida.


AS "PEDALADAS", AS RESERVAS INTERNACIONAIS E A CPMF.

AS "PEDALADAS", AS RESERVAS INTERNACIONAIS E A CPMF.



AS "PEDALADAS", AS RESERVAS INTERNACIONAIS E A CPMF.




Mauro Santayana

(Carta Maior) -
Fiel à sua tática de continuar produzindo novos factoides, a imprensa
conservadora anuncia que o TCU pode "obrigar" o governo a “pagar” R$ 60
bilhões de reais em pedaladas fiscais.


Colocando os pingos nos is, o TCU não pode obrigar o governo a fazer nada.

O
Tribunal de Contas da União não é órgão do Judiciário, seus membros
nunca passaram em concurso para magistrados e suas recomendações
dependem de aprovação do Congresso Nacional, de quem não passa de um
órgão auxiliar.

Caso o governo resolva “pagar” essas “pedaladas”
fiscais – que o professor Dalmo Dallari, em entrevista na Globo News,
afirmou que não acarretaram nenhum prejuízo para o país, porque não
passam de um acerto de contas dentro do próprio setor público e "fazem
parte das atribuições da Presidente da República" de manter em
funcionamento os programas sociais de interesse da população, bastaria à
Presidente Dilma Roussef converter 15 dos 370 bilhões de dólares que o
país dispõe em reservas internacionais para "pagar" esses 60 bilhões de
reais.

E ainda sobrariam, nas arcas do tesouro, o equivalente a 1
trilhão e 440 bilhões de reais em reservas internacionais, em dólares,
ali colocados nos últimos 10 anos, depois do pagamento, ao FMI, da conta
de 40 bilhões de dólares deixada pelo economicamente tão decantado, em
prosa e verso, governo de Fernando Henrique Cardoso, que também deixou
como herança uma dívida pública líquida de 60%, duplicada com relação à
do governo Itamar Franco, que representa, hoje, diminuída pela metade,
aproximadamente 34% do PIB.

Ao admitir - montada nas sextas
maiores reservas internacionais do mundo, e na condição de que o Brasil
goza, neste momento, de terceiro maior credor individual externo dos
EUA, como se pode ver pela página oficial do tesouro norte-americano, o
discurso da mídia de que o país está em uma crise sem saída, a senhora
Dilma Roussef - que já deveria ter convocado cadeia nacional de rádio e
televisão para apresentar esses dados - não apenas comete um suicídio
político e um verdadeiro desastre do ponto de vista da comunicação,  mas
também continua a fazer o jogo de seus adversários, deixando-se
mansamente pautar pelos "moralistas sem moral" a que se referiu outro
dia em discurso, e pela mídia de oposição.

O mesmo vale para a
CPMF, mais uma faca que a Presidente da República coloca nas mãos de
seus adversários, junto a uma opinião pública que, desinformada e
intoxicada, dia a dia, semana a semana, pelo discurso neoliberal
vigente, acredita no dogma de que o Brasil tem uma das maiores cargas
tributárias do planeta e um dos estados mais inchados do mundo. Algo
que, nos dois casos, não resiste a uma comparação ligeira com países da
Europa ou os próprios EUA, ou a uma mera leitura das estatísticas de
instituições e órgãos financeiros internacionais.

Como disse o
Prêmio Nobel de Economia, e colunista do New York Times, Paul Krugman,
em recente entrevista à Folha de São Paulo - na qual reduziu
praticamente à insignificância os recentes "rebaixamentos" do Brasil
pelas agências internacionais - o Brasil tem problemas, boa parte deles
derivado de uma situação econômica internacional negativa, que atinge
boa parte do mundo, mas vive uma situação macroeconômica ímpar, que não
pode ser comparada às enfrentadas e vividas no passado.

A
Presidente Dilma – aproveitando uma eventual troca de Ministro da
Fazenda -  poderia lançar mão de parte das reservas para resolver os
problemas pontuais e imediatos que o país enfrenta.

Assim, ela evitaria pisar nas cascas de banana que lhe atiram todos os dias.

E
caso também diminuísse os juros, sem aumentar impostos, beneficiando
ainda mais a indústria e setores como o turismo interno, que tendem a se
fortalecer com as recentes altas do dólar, o Brasil poderia começar o
ano que vem sob outra perspectiva econômica e institucional.

Isso,
se fosse possível superar a incompetência estratégica do governo - que
há muito tempo deveria ter lançado uma campanha nacional com os reais
dados macroeconômicos para combater a "crise"- que é de dar lástima, em
sua comunicação com o povo brasileiro.

domingo, 15 de novembro de 2015

Crash | Juro de 400% no cartão: não tem preço

Crash | Juro de 400% no cartão: não tem preço



Juro de 400% no cartão: não tem preço


Por

Atualizado em
22/09/2015


Juros anuais-sn


Bateu crise, bateu juro alto. Mas o caso dos juros do cartão rotativo
no Brasil atravessa as fronteiras da realidade. Em 2012, com a Selic
minúscula, na casa dos 7%, nossos bancos cobravam em média 200%. Hoje,
com a Selic em 14,25%, os juros médios do cartão dobraram também, para
quase 400% – e isso é a média, porque tem cartão que cobra mais de 700%.


Não faltam justificativas para essa distorção toda: inadimplência,
falta de confiança na política, a chuva, os 50 km/h de velocidade máxima
na Marginal. Mas prefiro levar uma só em conta: esse juro de agiota
existe porque a gente deixa existir. De cabeça baixa.


A crise tá feia? Tá. Mas na Venezuela e na Argentina está pior. As
duas já atravessaram o horizonte de eventos do buraco negro das agências
de risco, e ainda assim os bancos instalados ali cobram uma fração dos
juros praticados pelos que estão aqui. Até por isso, como observou o
jornalista Maurício Horta numa matéria aqui da SUPER, três das
quatro empresas de capital aberto mais lucrativas da América Latina são
bancos brasileiros: Itaú (7,6 bilhões em 2014), Bradesco (US$ 5,6
bilhões) e Banco do Brasil (US$ 4,2 bilhões).


É. Para quem cobra 400% de juros por ano não existe crise. Até porque
demanda por agiotagem tem em qualquer lugar, seja aqui seja na
Dinamarca. A diferença é que, nesse caso específico, estamos diante de
uma agiotagem legalizada. Os bancos estimulam os clientes a entrar no
rotativo – mostrando em letras grandes e negritadas na fatura o valor do
pagamento mínimo; e quando você faz só  pagamento mínimo, já entra
nesse carrossel dos 400% ao ano. Pior. Imagina um cara que acabou de
perder o emprego. Ele é quem mais tende a cair na tentação de pagar só
uma parte da fatura. Se o sujeito não ler as letras miúdas da fatura,
não vai saber que está pagando esse tanto de juros. E se alguém quisesse
que ele soubesse, essa informação estaria em letras mais bem nutridas.
 Logo, quanto mais crise, maior a demanda por esses juros de agiota. E
quando o cara que perdeu o emprego não pude pagar seus juros de 400%, o
perpetrador da agiotagem nem precisa contratar um capanga para fazer a
cobrança- ele já conta com a lei. É o Estado protegendo uma prática que,
como você vê na tabela ali em cima, já foi devidamente banida na maior
parte do mundo.


Durmamos com isso. E que um dia a gente acorde.

Lava Jato pode ativar uma crise bancária, diz Belluzo | GGN

Lava Jato pode ativar uma crise bancária, diz Belluzo | GGN



Do Portal Vermelho


 
Destravar o investimento em infraestrutura e reativar o setor
de petróleo e gás. De acordo com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo,
estas são as duas medidas necessárias para ajudar o Brasil a enfrentar a
crise. Em entrevista ao Vermelho, ele teceu críticas aos procuradores
da Operação Lava Jato, pelo fato de as investigações estarem paralisando
setores importantes da economia brasileira. E alertou para o risco de a
situação derivar para uma crise bancária.
 
Por Joana Rozowykwiat
 
“Não teve nenhuma iniciativa do governo de dizer: vamos combinar,
você prende quem você quer prender [na Operação Lava Jato], mas vamos
soltar as empresas para elas funcionarem. Porque isso que está
acontecendo... Esses promotores de Curitiba são completamente
insensatos, um bando de loucos, gente que não sabe nada”, condenou.

Belluzzo
referia-se aos impactos que os desdobramentos da Lava Jato estão tendo
na atividade econômica brasileira. Ao atingir a estratégica cadeia de
óleo e gás e as maiores empreiteiras do país, a operação desencadeou uma
espécie de efeito dominó, imobilizando obras e projetos. Um estudo do
Ministério da Fazenda, divulgado em outubro, indicou que apenas a
redução de investimentos na Petrobras poderia provocar uma contração
acima de 2 pontos percentuais do PIB este ano.

“E não é só a
Petrobras, são as empresas chamadas de empreiteiras – que na verdade são
conglomerados empresariais –, que têm fornecedores, e há os
fornecedores desses fornecedores e por aí vai. Então é todo um circuito
que você foi e cortou”, disse Belluzzo.



O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, André Calixtre,
também já havia chamado a atenção para as repercussões da operação.
“Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais
operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é
que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto”, afirmou,
lembrando também seu reflexo sobre a construção civil.

De acordo
com Belluzzo, nesse cenário, o governo precisa sair do imobilismo para
evitar um aprofundamento dos problemas. “A gente precisa ter coragem de
fazer as coisas. Se você ficar acoelhado, não faz nada. Você tem esses
projetos de concessão de infraestrutura, mais o setor de óleo e gás.
Precisa então resolver o problema da Petrobras, porque esse é um dos
centros do afundamento da economia, está paralisando tudo. Tem que
reativar isso, botar isso aí para funcionar”, opinou.


O economista avaliou que esta seria uma forma de puxar a aceleração
da economia e, caso isso não aconteça, há chances de a crise contaminar
outras áreas. “Você corre o risco de ter uma crise bancária, porque as
empresas estão assim: ninguém paga ninguém. Eles não pagam nem os juros
da dívida. Sabe quanto tem no ativo dos bancos brasileiros? Praticamente
R$1 trilhão, que é desse sistema [afetado pela Lava Jato]. E, se o
banco não paga, o que acontece? O banco é obrigado a registrar como
empréstimos que precisam de provisão e, como resultado, as agências de
risco vão e rebaixam [as notas de crédito]”, declarou.

No embalo
das 23 empreiteiras que estão sendo investigadas pela Polícia Federal,
outras 51 mil empresas – responsáveis por 500 mil empregos – tiveram
seus negócios prejudicados. Segundo informação do próprio presidente da
Petrobras, Aldemir Bendine, 32 empresas foram bloqueadas cautelarmente
no trabalho com a companhia devido às investigações.

O “cavalo de pau” na política econômica 

Belluzzo
lembrou que o Brasil reagiu bem ao momento mais agudo da crise
internacional, desencadeada em 2008, conseguindo rapidamente recuperar
sua taxa de crescimento. Mas, quando os fatores favoráveis à economia
brasileira começaram a se dissipar, o governo demorou a definir projetos
de concessão e a promover os programas de infraestrutura, avaliou.

“O
PIB caiu um pouco em 2009, mas em 2010 já cresceu, então reagiu muito
bem. Só que terminou aquele frenesi do ciclo de consumo americano e de
commodities chinês. Então rapidamente os efeitos positivos se dissiparam
e o Brasil foi incapaz de dar uma resposta mais compatível. Demorou a
definir projetos de infraestrutura e tal e a economia foi desacelerando.
Não foi desacelerando tanto quanto as pessoas pensam, mas foi
desacelerando e, em 2014, ela estava mal”, analisou.

De acordo
com ele, o crescimento da China – principal parceiro comercial do
Brasil – começou a desacelerar e o Brasil passou a ter problemas com o
balanço de pagamentos e um aumento importante no deficit de conta
corrente. Para Belluzzo, “a situação fiscal começou a ficar difícil, mas
não catastrófica”.

“E o que o governo fez? Deu um cavalo de pau
na política econômica. Deu essa subida absurda dos juros, choque
fiscal, e a economia entrou em recessão. E a situação internacional é o
quadro dentro do qual isso aí se desenvolveu”, afirmou.

Questionado
sobre os impactos que a crise política tem sobre a economia, o
economista avaliou que isso tem atrapalhado bastante a situação. “O
governo ficou imobilizado. Você não consegue nem passar a CPMF, que é a
coisa mais razoável que tem. Mas eles estão bloqueando”, lamentou.

Avesso
ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy,
Belluzzo criticou a política de juros altos praticada pelo Banco
Central, que não ajudaria a combater uma inflação de custos. Segundo
ele, falta coordenação entre as políticas do governo.

“Juntou
tarifa de energia com tarifa de água e aí a inflação foi a 10%. E aí,
como você vai pegar um choque de tarifas, que é um choque de custos,
numa economia que tem inclinação à indexação de tudo... Então você tem o
pior dos mundos: um choque inflacionário, com uma renitência ao longo
do tempo, e o Banco Central pode ter a ideia de continuar aumentando os
juros. E isso vai jogar a economia mais para baixo ainda.”

Para
ele, a recente desvalorização do câmbio pode ajudar a dar um fôlego à
indústria brasileira, apesar de a situação do comércio internacional
também estar difícil. Em 2004, a participação da indústria no PIB era de
18%. Este ano, deverá ser de 9%.

“Com a recessão e a
desvalorização do câmbio, você produziu uma redução das importações. Mas
as exportações não estão crescendo, estão caindo. Só que as importações
estão caindo mais. Por causa dos números da atividade, mais o
encarecimento dos insumos importados. Isso pode dar um pouco de fôlego à
indústria, porque começa a haver encomenda no mercado doméstico de
coisas que eles compravam mais barato e agora estão ficando caras.”

O tripé

Na
entrevista, Belluzo comentou a prevalência do chamado tripé
macroeconômico, que consiste em câmbio flutuante, metas de inflação e
superavit primário. “Eu sempre dou um exemplo: por acaso um importador
francês e um exportador japonês podem denominar transação em reais?
Parece que não. Vão denominar ou em euro ou em dólar. Essa circunstância
faz com que o câmbio flutuante num país como o Brasil seja muito
arriscado. Você tem muita volatilidade, muita instabilidade do câmbio.
Por que os chineses de deram bem? Porque eles controlaram o câmbio”,
avaliou.

“O tripé é uma criação dos anos 90. Tem a ver com a
política econômica da globalização neoliberal e os países que se
entregaram a ela. Você tem dois tipos de países: os chineses, que
aproveitaram as mudanças para fazer políticas nacionais, exercer
controle sobre o que era crucial – que era comércio exterior, o câmbio e
o sistema financeiro –, e os países que fizeram essa abertura que o
Brasil fez”, disse.

Belluzzo, contudo, não vê, hoje, condições
políticas para romper com a lógica do tripé macroeconômico. “Veja, por
exemplo, com essa desvalorização do câmbio, você reduziu muito as
viagens ao exterior. Tinha cabimento você estar subsidiando o cara para
viajar para o exterior, ao invés de viajar para Natal? Então precisa ter
condições políticas. Você precisa convencer a sua base de que isso
[romper com o tripé] é importante”, concluiu.

SRZD | Sidney Rezende

SRZD | Sidney Rezende



Chega de notícias ruins


Sidney Rezende

Em
todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou
questionado: "Por que vocês da imprensa só dão 'notícia ruim'?"


O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão
diferentes no território nacional, já deveria ser motivo de profunda
reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta padrão de que "é o
que temos para hoje". Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também.
Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.


Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!


Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e
economia. A obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do
mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a sociedade e
engessando o setor produtivo.


O "ministro" Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do
Brasil, disse há poucas semanas que todos estamos tão focados em sermos
"líquidos" que acabaremos "morrendo afogados". Ele está certo.


Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: "o que
houve?". Ele respondeu: "está cada vez mais difícil defender o
governo".


Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da
presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção
nacional que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato,
perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não
sobre o que pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas
neuroses loucas e querem nos enlouquecer também.


O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na
dimensão precisa. Da mesma forma que os acertos também devem ser
publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas, não
nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.


Se pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e
"soluções" que quando adotadas deram errado daria para construir um
monumento maior do que as pirâmides do Egito. Nós erramos. E não é
pouco. Erramos muito.


Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e
digam o que pensam. Mas nem por isso devem cultivar a "má vontade" e o
"ódio" como princípio do seu trabalho. Tem um grupo grande que, para ser
aceito, simplesmente se inscreve na "igrejinha", ganha carteirinha da
banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.


Certa vez, um homem público disse sobre a imprensa: "será que não tem
uma noticiazinha de nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez
nada de bom hoje?". Se depender da imprensa brasileira, está muito
difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.


É hora de mudar. O povo já percebeu que esta "nossa vibe" é só nossa e
das forças que ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos
compromisso com o governo anterior, com este e nem com o próximo. Temos
responsabilidade diante da nação.


Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.


Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?

sábado, 14 de novembro de 2015

"O Brasil não cabe nesse buraco!"

"O Brasil não cabe nesse buraco!" — Conversa Afiada



"O Brasil não cabe nesse buraco!"

























publicado
14/11/2015



















O Conversa Afiada reproduz, da Carta Maior, entrevista com a economista Maria da Conceição Tavares:


Conceição: 'A arma deles é a desesperança. Não passarão'

Não se amarrota uma nação dessas na vala
comum das economias aleijadas pelos mercados. O destino do país não pode
ser se encolher e se entregar.


Por Saul Leblon:


A decana dos economistas brasileiros tem se recusado a dar entrevistas, a participar de conferências ou debates.

A parcimônia obedece a um diagnóstico.

Maria
da Conceição Tavares, um feixe de 85 anos de argúcia intelectual,
inquietação metabólica e vivência histórica enciclopédica depara-se com
um problema singular, mesmo para quem acumula longa trajetória de
engajamento apaixonado na luta pela construção da nação brasileira.

O país vive uma nova encruzilhada do seu desenvolvimento.

Mais
uma das tantas das quais essa portuguesa de nascimento participou,
desde que desembarcou aqui no ano em que Getúlio Vargas, com um único
tiro, impôs uma década de protelação ao golpe que a coalizão
empresarial-militar só lograria desfechar em 1964.

Conceição
militou ativamente no esforço progressista de dilatar o tempo histórico e
empurrar a roda do desenvolvimento até o ponto em que ele se tornasse
autossustentado pelas forças por ele favorecidas.

Em 1964 não deu.

O
percurso interrompido, da forma como se sabe, seria parcialmente
resgatado nos anos 80, com a derrubada do regime militar e a tentativa
frustrada do Cruzado –da qual participaria diretamente também; esforço
interrompido com a ascensão neoliberal nos anos 90.

A agenda da
construção de uma democracia social na oitava maior economia da terra
seria resgatada com a vitória presidencial do metalúrgico, e amigo, Luís
Inácio Lula da Silva, em 2002.

Reeleito em 2006, ele conduziria
outra admiradora de Conceição, Dilma Rousseff, ao Planalto em 2010. E é
justamente essa ex-aluna, reeleita em 2014, que pilota agora um país
encurralado em um redil de três malhas: a crise política, a crise
econômica e aquela que a economista considera a mais grave de todas, ‘a
crise da esperança’.

Obra demolidora do martelete conservador, a
falta de esperança no país é um problema com o qual a professora nunca
havia se deparado antes. Razão de ser de seu recolhimento recente –‘não
cabia falar se não fosse para afrontar isso’.

‘A economia tem
jeito’, diz a voz grave, cujo fraseado característico foi pontuado
durante décadas pelo cigarro inseparável.  ‘Nosso pesadelo é a
desesperança no Brasil’, dispara em bemol autoexplicativo.

Não é um problema narrativo apenas.

A doença infecciosa disseminada das usinas conservadoras tem peso material na crise.

Ao
magnificar os impasses e interditar o debate desassombrado das
alternativas, faz terra arrasada do discernimento histórico e instala a
ditadura da fatalidade no imaginário social.

O saldo é a gosma em curso.

Não sobra pedra sobre pedra. Ou melhor, sobra um pesadelo chamado desesperança, como diz Conceição.

A usina de desconsolo age no manejo das expectativas com aplicada disciplina.

Ordena-as
em duas direções: de um lado, ao produzir a sensação do caos  -- ‘mesmo
que ele inexista’, sublinha a professora, e, sobretudo, de outro lado,
ao vetar qualquer alternativa capaz de preveni-lo.

A voz grave não isenta o governo da amiga Dilma Rousseff de responsabilidade nessa arapuca.

‘Sanear
cortando, cortando?’, ressoa com má vontade para elevar o tom depois,
aliviada com o próprio desabafo: ‘Pode cortar o quanto quiser; corte por
15 anos seguidos; não vai sanear nada. Sem receita, por conta da
recessão, como é que você vai pagar a dívida? Ainda por cima com esse
nível de juros? Isso não é viável. Em nenhum lugar do mundo, como a
Europa deixa claro’, arremata agora em agudo sustenido.

A
economista tem uma opinião serena, cirúrgica, sobre o centurião dos
mercados praticamente imposto no comando da Fazenda do governo Dilma
pelo cerco pós-eleitoral: ‘É fraco’.

E outra, pragmática, sobre
as alternativas: ‘Alguém como o Trabuco teria sido melhor; é banqueiro,
mas é menos rentista do que os economistas de banco; enxerga o Brasil
acima do mercado’, diz sobre o presidente do Bradesco, Luiz Carlos
Trabuco Cappi, cogitado originalmente como ministro da área econômica de
Dilma.

O garrote da desesperança ao mesmo tempo que empurrou
Conceição para uma vigília cuidadosa da palavra –‘falar para piorar?’ --
nunca deixou de incomodá-la.

Até que atingiu proporções tais
que a economista se obrigou a reagir por entender que persistir na
abstinência seria endossar a ocupação do espaço pelos coveiros do país.

Na primeira semana de outubro, ela aceitou duas homenagens, compareceu a ambas e voltou a falar.

A
metralhadora giratória temida e respeitada voltou com um alvo: demolir a
tese de que o Brasil é um caso perdido de futuro, exceto se aceitar ser
lixado ao ponto de se reduzir a um substrato de recursos manejados
livremente pelos mercados.

‘Resolvi fazer uns discursos animosos
e ao faze-los eu mesmo me animei mais com o Brasil, o que prova que a
variável das expectativas tem peso decisivo nesse momento’, brinca ao
mesmo tempo em que fala sério.

‘A primeira coisa da qual temos
que nos conscientizar é sobre o tamanho do Brasil, a sua importância
como mercado, o polo geopolítico que introduz no jogo mundial’, disserta
a guerreira cansada da rendição, de volta à batalha com a paixão
atravessada na voz.

‘Esperem um pouco: isso aqui é o Brasil’,
indigna-se. ‘E o Brasil não é qualquer coisa. Não se amarrota uma nação
dessas na vala comum das economias aleijadas pelos mercados’, picota a
metralhadora para disparar a bala de misericórdia: ‘O Brasil não cabe
nesse buraco; isso em primeiro lugar’, pontifica senhora das armas e dos
seus trunfos.

‘Temos essa responsabilidade. Temos que explicar
o que é este país a quem insiste em não reconhece-lo’,  prossegue na
definição da ampla paisagem que se abre aos nossos olhos, à medida em
que a voz ora grave, ora rouca, ora em sustenidos descortina o mural da
oitava economia da terra, um dos cinco maiores mercados do planeta,
autossuficiente em praticamente tudo, mas acossada por forças
determinadas a impedir que o conjunto se transforme em um projeto de
desenvolvimento justo, soberano, popular, no coração da América Latina,
no século 21.

‘Agora que saímos do arrocho cambial, que nos
impelia a déficits em contas correntes’, explica a professora de volta à
conjuntura para esgrimir a desesperança, ‘temos espaço para recomeçar’.

Conceição
chama a atenção para a importância de o país ter recuperado a
competitividade cambial, deixando de ser um túnel complacente às
importações de um mundo sem demanda. ‘Foi crucial corrigir esse erro’,
aquiesce, ‘mas insuficiente’, contrapõe.

A professora emérita da
UFRJ, que chegou ao Brasil como matemática e aqui descobriu a economia
política ao lado do mestre Celso Furtado, descarta a hipótese de se
reerguer a economia pelo lado das exportações.

‘A demanda
mundial rasteja desde 2008, o nó das finanças desreguladas não foi
desatado e a China pilota uma transição da qual não sabemos a
abrangência, a profundidade e a duração’.

Logo?

‘Logo
temos que olhar o Brasil –e digo aos sem esperança que isso não é pouco,
se nos deixarem olhar o todo, não só o roto’, retruca rápida no gatilho
como se tivesse vinte anos na voz.

A professora vê na nova
realidade cambial muito mais um trunfo para substituição de importações,
do que para crescer para fora – ‘embora isso deva ser explorado em cada
fresta’, pontua.

A substituição de importações de que fala hoje
não significa ressuscitar conceitos e metas do ciclo dos anos 50,
quando a manufatura importada passou a ser produzida internamente para
atender a um consumo sedento.

‘O ciclo recente de expansão pelo
consumo exauriu-se’, adverte. ‘Não é que falte crédito ao consumidor, é
que não existe quem vá tomar crédito a essa altura com o desemprego
solto na praça e a incerteza farejando cada lar. Da mesma forma, não é
que o BNDES tenha parado de financiar o investimento. É que ninguém está
tomando dinheiro para investir’.

O mural de onde desponta o
alto-relevo da esperança no Brasil ordena-se pelo investimento público,
risca a economista em traços desassombrados e estendidos.

‘Ninguém
vai investir se o Estado não puxar’, suspira, toma fôlego e debulha o
roteiro delicado que imagina para vencer o desalento que delega a nação à
tutela dos mercados predadores.

‘Resolvida a coisa cambial,
temos que ganhar fôlego tributário para o investimento público que
puxará as concessões. Mas isso não é tarefa para economista’, adverte
entre modesta e imperativa.

‘Isso é coisa para uma frente ampla
de interesses progressistas, partidários, não partidários, de movimentos
sociais, de intelectuais, centrais sindicais e do capital produtivo –o
que inclui inclusive banqueiros que financiam a produção porque se isso
não acontecer eles  também serão penalizados, caso seus clientes
corporativos afundem no arrocho’, adverte.

Nisso, essencialmente
nisso, Conceição vê semelhanças com o cenário de 1982, quando ao lado
de Luiz Gonzaga Belluzzo, Carlos Lessa e Luciano Coutinho, ajudou a
escrever o lendário programa do PMDB, ‘Esperança e Mudança’, que puxou o
partido para a liderança da frente política contra a ditadura e contra a
recessão desencadeada pela crise da dívida externa.

‘Nenhuma
nação sai de uma crise de transição de ciclo econômico dessas proporções
sem recompor seu rumo político, como se fez em 82, 88, 2002...’

Com
uma diferença hoje, diz a voz em novo rebote de sustenido: ‘Não estamos
enforcados do lado cambial –e isso é quase inédito em relação às
travessias de ciclos anteriores; nossas reservas cambiais são recordes,
da ordem de US$ 370 bi. Ninguém nos chantageará no guichê do FMI, como
tiveram que se render os tucanos. O nome disso é margem de manobra’.

Não só.

‘O
Brasil tem um recomeço esboçado e em vias de implantação’, dispara essa
militante de 85 anos que se impôs a tarefa de puxar contrafogos
‘animosos’ contra as milícias desanimosas.

‘Temos o pré-sal e a
Petrobrás’, lista Maria da Conceição ágil na técnica de erguer a bola e
com ela ainda no ar desarmar as resistências entrincheiras no campo
conservador. Drible número um: a Agência Internacional de Energia (IEA)
projeta que o barril de petróleo dentro de curtos cinco anos voltará ao
patamar de 80 dólares. É hora de entregar o pré-sal, como advoga seu
conhecido José Serra?

Mais que isso.

Conceição sabe que o
entreguismo contra o pre-sal joga com um dado objetivo: o elevado
endividamento da Petrobras que consome seu fluxo de caixa e dificulta o
investimento na exploração das novas reservas.

E isso é razão para trair a semente de futuro em forma de poupança de bilhões de barris no fundo do mar?

Conceição até ri.

‘Ademais
de não enfrentarmos uma crise cambial dispomos agora do banco dos
BRICs’, lembra a economista que, provocada, cogita com entusiasmo: ‘Por
conta do interesse da China, da Índia e mesmo da África do Sul no
petróleo, pode-se montar uma operação com o banco, capaz de propiciar o
alívio financeiro de que a Petrobrás necessita para investir e elevar a
produção’.

A imensidão da infraestrutura por erguer, renovar e
ampliar no Brasil –entre investimentos públicos, parcerias e concessões—
compõe as pinceladas finais do mural que Maria da Conceição desbasta em
largas e firmes pinceladas contra a desesperança.

Se fosse
preciso dar um nome a essa obra, ela por certo faria do batismo uma
advertência aos que, mesmo nascidos aqui, acreditam menos nesta nação do
que ela que a escolheu por pátria;e fez do seu desenvolvimento a razão
de ser de sua vida, para dizer-lhes mais uma vez: ‘Não passarão’.