domingo, 15 de novembro de 2015

Lava Jato pode ativar uma crise bancária, diz Belluzo | GGN

Lava Jato pode ativar uma crise bancária, diz Belluzo | GGN



Do Portal Vermelho


 
Destravar o investimento em infraestrutura e reativar o setor
de petróleo e gás. De acordo com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo,
estas são as duas medidas necessárias para ajudar o Brasil a enfrentar a
crise. Em entrevista ao Vermelho, ele teceu críticas aos procuradores
da Operação Lava Jato, pelo fato de as investigações estarem paralisando
setores importantes da economia brasileira. E alertou para o risco de a
situação derivar para uma crise bancária.
 
Por Joana Rozowykwiat
 
“Não teve nenhuma iniciativa do governo de dizer: vamos combinar,
você prende quem você quer prender [na Operação Lava Jato], mas vamos
soltar as empresas para elas funcionarem. Porque isso que está
acontecendo... Esses promotores de Curitiba são completamente
insensatos, um bando de loucos, gente que não sabe nada”, condenou.

Belluzzo
referia-se aos impactos que os desdobramentos da Lava Jato estão tendo
na atividade econômica brasileira. Ao atingir a estratégica cadeia de
óleo e gás e as maiores empreiteiras do país, a operação desencadeou uma
espécie de efeito dominó, imobilizando obras e projetos. Um estudo do
Ministério da Fazenda, divulgado em outubro, indicou que apenas a
redução de investimentos na Petrobras poderia provocar uma contração
acima de 2 pontos percentuais do PIB este ano.

“E não é só a
Petrobras, são as empresas chamadas de empreiteiras – que na verdade são
conglomerados empresariais –, que têm fornecedores, e há os
fornecedores desses fornecedores e por aí vai. Então é todo um circuito
que você foi e cortou”, disse Belluzzo.



O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, André Calixtre,
também já havia chamado a atenção para as repercussões da operação.
“Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais
operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é
que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto”, afirmou,
lembrando também seu reflexo sobre a construção civil.

De acordo
com Belluzzo, nesse cenário, o governo precisa sair do imobilismo para
evitar um aprofundamento dos problemas. “A gente precisa ter coragem de
fazer as coisas. Se você ficar acoelhado, não faz nada. Você tem esses
projetos de concessão de infraestrutura, mais o setor de óleo e gás.
Precisa então resolver o problema da Petrobras, porque esse é um dos
centros do afundamento da economia, está paralisando tudo. Tem que
reativar isso, botar isso aí para funcionar”, opinou.


O economista avaliou que esta seria uma forma de puxar a aceleração
da economia e, caso isso não aconteça, há chances de a crise contaminar
outras áreas. “Você corre o risco de ter uma crise bancária, porque as
empresas estão assim: ninguém paga ninguém. Eles não pagam nem os juros
da dívida. Sabe quanto tem no ativo dos bancos brasileiros? Praticamente
R$1 trilhão, que é desse sistema [afetado pela Lava Jato]. E, se o
banco não paga, o que acontece? O banco é obrigado a registrar como
empréstimos que precisam de provisão e, como resultado, as agências de
risco vão e rebaixam [as notas de crédito]”, declarou.

No embalo
das 23 empreiteiras que estão sendo investigadas pela Polícia Federal,
outras 51 mil empresas – responsáveis por 500 mil empregos – tiveram
seus negócios prejudicados. Segundo informação do próprio presidente da
Petrobras, Aldemir Bendine, 32 empresas foram bloqueadas cautelarmente
no trabalho com a companhia devido às investigações.

O “cavalo de pau” na política econômica 

Belluzzo
lembrou que o Brasil reagiu bem ao momento mais agudo da crise
internacional, desencadeada em 2008, conseguindo rapidamente recuperar
sua taxa de crescimento. Mas, quando os fatores favoráveis à economia
brasileira começaram a se dissipar, o governo demorou a definir projetos
de concessão e a promover os programas de infraestrutura, avaliou.

“O
PIB caiu um pouco em 2009, mas em 2010 já cresceu, então reagiu muito
bem. Só que terminou aquele frenesi do ciclo de consumo americano e de
commodities chinês. Então rapidamente os efeitos positivos se dissiparam
e o Brasil foi incapaz de dar uma resposta mais compatível. Demorou a
definir projetos de infraestrutura e tal e a economia foi desacelerando.
Não foi desacelerando tanto quanto as pessoas pensam, mas foi
desacelerando e, em 2014, ela estava mal”, analisou.

De acordo
com ele, o crescimento da China – principal parceiro comercial do
Brasil – começou a desacelerar e o Brasil passou a ter problemas com o
balanço de pagamentos e um aumento importante no deficit de conta
corrente. Para Belluzzo, “a situação fiscal começou a ficar difícil, mas
não catastrófica”.

“E o que o governo fez? Deu um cavalo de pau
na política econômica. Deu essa subida absurda dos juros, choque
fiscal, e a economia entrou em recessão. E a situação internacional é o
quadro dentro do qual isso aí se desenvolveu”, afirmou.

Questionado
sobre os impactos que a crise política tem sobre a economia, o
economista avaliou que isso tem atrapalhado bastante a situação. “O
governo ficou imobilizado. Você não consegue nem passar a CPMF, que é a
coisa mais razoável que tem. Mas eles estão bloqueando”, lamentou.

Avesso
ao ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy,
Belluzzo criticou a política de juros altos praticada pelo Banco
Central, que não ajudaria a combater uma inflação de custos. Segundo
ele, falta coordenação entre as políticas do governo.

“Juntou
tarifa de energia com tarifa de água e aí a inflação foi a 10%. E aí,
como você vai pegar um choque de tarifas, que é um choque de custos,
numa economia que tem inclinação à indexação de tudo... Então você tem o
pior dos mundos: um choque inflacionário, com uma renitência ao longo
do tempo, e o Banco Central pode ter a ideia de continuar aumentando os
juros. E isso vai jogar a economia mais para baixo ainda.”

Para
ele, a recente desvalorização do câmbio pode ajudar a dar um fôlego à
indústria brasileira, apesar de a situação do comércio internacional
também estar difícil. Em 2004, a participação da indústria no PIB era de
18%. Este ano, deverá ser de 9%.

“Com a recessão e a
desvalorização do câmbio, você produziu uma redução das importações. Mas
as exportações não estão crescendo, estão caindo. Só que as importações
estão caindo mais. Por causa dos números da atividade, mais o
encarecimento dos insumos importados. Isso pode dar um pouco de fôlego à
indústria, porque começa a haver encomenda no mercado doméstico de
coisas que eles compravam mais barato e agora estão ficando caras.”

O tripé

Na
entrevista, Belluzo comentou a prevalência do chamado tripé
macroeconômico, que consiste em câmbio flutuante, metas de inflação e
superavit primário. “Eu sempre dou um exemplo: por acaso um importador
francês e um exportador japonês podem denominar transação em reais?
Parece que não. Vão denominar ou em euro ou em dólar. Essa circunstância
faz com que o câmbio flutuante num país como o Brasil seja muito
arriscado. Você tem muita volatilidade, muita instabilidade do câmbio.
Por que os chineses de deram bem? Porque eles controlaram o câmbio”,
avaliou.

“O tripé é uma criação dos anos 90. Tem a ver com a
política econômica da globalização neoliberal e os países que se
entregaram a ela. Você tem dois tipos de países: os chineses, que
aproveitaram as mudanças para fazer políticas nacionais, exercer
controle sobre o que era crucial – que era comércio exterior, o câmbio e
o sistema financeiro –, e os países que fizeram essa abertura que o
Brasil fez”, disse.

Belluzzo, contudo, não vê, hoje, condições
políticas para romper com a lógica do tripé macroeconômico. “Veja, por
exemplo, com essa desvalorização do câmbio, você reduziu muito as
viagens ao exterior. Tinha cabimento você estar subsidiando o cara para
viajar para o exterior, ao invés de viajar para Natal? Então precisa ter
condições políticas. Você precisa convencer a sua base de que isso
[romper com o tripé] é importante”, concluiu.

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