sábado, 7 de novembro de 2015

Os R$ 975 mil do iFHC são agulha no palheiro tucano

Os R$ 975 mil do iFHC são agulha no palheiro tucano



Os R$ 975 mil do iFHC são agulha no palheiro tucano







O aspecto
mais interessante na revelação do contrato de R$ 975 000 entre a
Odebrecht e o Instituto Fernando Henrique Cardoso reside no próprio
vazamento.



Pudemos saber que entre dezembro de
2011 e dezembro de 2012, o Instituto de Fernando Henrique recebeu R$ 75
000 durante dez meses e uma contribuição de R$ 150 000 da empresa de
Marcelo Odebrecht.



Também pudemos tomar conhecimento de
uma instrutiva troca de e-mails entre uma funcionária da Brasken – uma
das empresas do grupo – e o IFHC. Negociando o pagamento de uma palestra
de Fernando Henrique, que acabou cancelada, uma funcionária esclareceu
que “há duas maneiras de se fazer "a doação": uma "doação direta", que
geraria um recibo, ou "a elaboração de um contrato, porém não podemos
citar que a prestação de serviço será uma palestra do presidente".



Logo depois que uma das empresas de
Luis Claudio Lula da Silva ter sido alvo de uma operação de busca e
apreensão, FHC disse que Lula precisa “esclarecer” acusações que têm
sido veiculadas contra ele.



O contrato de R$ 975 000 e o e mail
com a historinha sobre o pagamento de uma palestra ajuda a colocar algum
realismo na discussão que o país tem feito na última década.



Mostram que ambos viveram e
frequentaram um mesmo universo, um mundo “opaco”, como gosta de dizer o
filósofo José Arthur Gianotti, amigo de FHC desde os anos 1960.



Estamos falando do não-transparente,
do obscuro, sustentado por uma hipocrisia de conveniência, que tenta
convencer o país inteiro que não é preciso discutir política, nem
diferenças entre pobres e ricos, nem necessidades diversas e até opostas
– mas uma caricatura de mocinhos e bandidos, ou intelectuais
sofisticados e sindicalistas aproveitadores ou, porque  é aí que eles
querem chegar, entre ricos educados e pobres sem instrução.



Na realidade, os R$ 975 000 são uma
agulha num imenso palheiro que as autoridades não investigam, não
apuram. A Polícia Federal só chegou a esses dados porque foi investigar a
Odebrecht durante o governo Lula e, tchan, tchan, tchan... apareceram
as contribuições para o Instituto de Fernando Henrique. Assim, por
acaso. Quem sabe por azar. Certamente por azar.



Imagino -- isso é pura ficção meus
amigos, um minuto de comédia no sábado a tarde -- a reação de policiais 
que em 2014 fizeram campanha feroz contra Dilma e Lula pela internet no
momento em que apareceram essas revelações. " Putz!," disse um. "Meu
Deus, o que será de nós," disse outro. Um terceiro olha para os céus,
mãos na cabeça.  



Em 2002, quando  Fernando Henrique
montou o IFHC, a bolada inicial foi oferecida por um grupo de
empresários amigos, reunidos no Alvorada para um jantar. Detalhe:
naquele momento,  FHC ainda não deixara o Planalto. A caneta
presidencial ainda estava em seu poder. Mesmo assim, o baronato
entregou, com alguma chiadeira pelo volume necessário para cada doação
individual, um total de R$ 7 milhões. O caso causou um certo
constrangimento naquele momento, levando o repórter Gerson Camarotti, da
Época, perguntar ao procurador Rodrigo Janot -- que 12 anos depois se
tornaria procurador-geral da República -- se ele via alguma coisa de
errada nos pedidos de doação. Janot respondeu que não. Alegou que,
naquele momento, FHC cuidava de seu futuro, fora da presidência.
Esclareceu que seus compromissos eram diferentes, pois se tratavam de um
cidadão privado. O caso seria diferente se estivesse no exercício da
presidência.



 


No mesmo palheiro se encontram o
metroduto de São Paulo, as privatizações, o esquema de compra de votos
que permitiu a reeleição de FHC, o mensalão PSDB-MG. 



Mesmo o dinheiro das empresas que
operam com a Petrobras só é propina quando se dirige a partidos que
apoiam o governo Lula-Dilma. É moeda patriótica quando vai para seus
adversários.



A investigação sobre o Instituto
Lula, como sabemos todos, ajuda a mostrar que alguns brasileiros tem
direito a vida privada -- e outros não. É mais um ensinamento no
palheiro.



Sempre se pode perguntar, numa
operação dirigida por delegados reconhecidamente simpáticos ao PSDB se o
vazamento de R$ 975 000 é um recado a seus protetores políticos, num
momento em que sua atuação é questionada em vários aspectos, a começar
pelos grampos ilegais na carceragem de Curitiba. Há uma relação entre
uma coisa e outra?



De vez quando desse mundo encantado, do silêncio absoluto, acaba vazando alguma coisa. Foi o que aconteceu.  

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