sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Prisão de Delcídio expõe o risco da delação "genérica"

Prisão de Delcídio expõe o risco da delação "genérica" e a eficácia do "Rhum Creosotado" - TIJOLAÇO



Prisão de Delcídio expõe o risco da delação “genérica” e a eficácia do “Rhum Creosotado”

rhum


Repare o leitor que não houve – e nem poderia haver, tamanha a
imundície – um pio de protesto ante a prisão do Senador Delcídio Amaral.


E não pode haver, porque é inequívoca a prova de que não apenas ele
estava praticando um crime como perpetrando outro, o de dar fuga a
Nestor Cerveró.


Abstenho-me de comentar o nojo da situação porque mantenho este blog limpo.


Curioso é que as provas não foram obtidas pela Polícia Federal nem
pelos guapos rapazes do Ministério Público, mas pelo filho de Cerveró,
animado pelo legítimo direito de – já que estamos numa feira judicial –
de negociar (veja como o termo é adequado) a delação premiada do pai.


E ponto, terminam aí as virtudes do episódio.


Começam, então, os episódios, características e, pior, as projeções lógicas que traz com ele, tão ou mais repugnantes.


A primeira delas é a tristíssima constatação que o senso de Justiça
do Supremo Tribunal Federal só é como deveria ser para todos quando
 ofendida a honra de seus integrantes.


Se o senhor – já antecipo a perda iminente do título de Senador –
Delcídio Amaral tivesse dito que “já conversou” comigo ou com o prezado
leitor e a querida leitora sobre como livrar Cerveró, estaríamos nós,
inapelavelmente, execrados nas páginas dos jornais como cúmplices.


Sem dó nem piedade.


Aliás, estariam assim os senhores Ministros do STF se a gravação
tivesse, antes de chegar ao conhecimento do Supremo, sido entregue ao Superior Tribunal da Veja.
Ou, talvez, tenha chegado – tal é a cumplicidade que se formou entre
ela e a República do Paraná e os tenha salvo, coitados, pelo “Rhum
Creosotado” da citação ao Ministro Gilmar Mendes, o qual, claro, não vem
ao caso.


Ninguém irá imaginar se “ser conversado” é prática no STF ou se, como Esteves, o banqueiro Daniel Dantas “conversou” com alguém.


Com toda a razão – e sobretudo, com todos os meios – Suas Excelências
puderam dar fim, desde o início, a qualquer especulação, sem prova,
sobre sua honra e honestidade.


Mas, a esta altura, manifestarem-se indignados pelo vazamento de
informações da Lava-Jato é, convenhamos, reafirmar a refrescância da
pimenta em olhos alheios.


Daí vem a segunda inevitável reflexão.


A delação premiada de Cerveró, está evidente, foi negociada com uma
ratoeira para pegar Delcídio – e, de quebra, o banqueiro André Esteves,
que apesar de eleitor de Aécio e pagador de suas despesas pessoais , virou petista de carteirinha na mídia – e o episódio de ontem terá desdobramentos.


Quanto valerá agora o único caminho da defesa de Delcídio Amaral e de André Esteves, uma nova delação premiada?


Devo estimular a imaginação dos leitores sobre o que ela conteria?


E preciso perguntar se a credibilidade do “conversei com o Lula”
 teria seria a mesma que se teve  ante o “conversei com o Teori” ou o
“conversei com o Tóffoli” ou ainda o “vou pedir ao Temer para conversar
com o Gilmar”.


A espiral de delações, que empresta credibilidade a tudo o
que dizem homens desesperados diante da evidência de suas falcatruas,
turbinada por um Ministério Público e uma Polícia que têm alvos
pré-determinados e uma imprensa histericamente partidarizada
inevitavelmente conduz a isso.


Agora imagine se, para completar a “cruzada moral”, sob o apoio da
indignação moral de todos com o papel dos roedores que caíram na
ratoeira, os ratos passam a guinchar suas delações, para fruir de tudo,
embora com as anilhas eletrônicas do laboratório do Dr. Moro  presas às
patinhas?


Ah, sim, porque queijo guardado eles têm e muito.


Deu-se assim o resultado da ausência da política e da polêmica.


Quando ela passa a um plano inferior, sobram os Esteves, os Delcídios, os Cunha.


Os que “viabilizam”.


E, quando podem ser lenha para fazer arder uma política progressista,
nacionalista e inclusiva, são solenemente lançados ao fogo por seus
pares. Diga-se, não sem “méritos” para isso, embora sejam apenas uns
entre muitos que se beneficiam do inverso desta política.


O Supremo fez o que muita gente neste país desaprendeu a fazer: exerceu seu poder.


Quem não faz isso, cai.


A menos que o ilustre passageiro seja salvo por algum Rhum Creosotado.

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