domingo, 30 de março de 2014

Para NÃO entender Pasadena

Para NÃO entender Pasadena

Para NÃO entender Pasadena

Por Jotavê


Eu ainda não entendo o que aconteceu em Pasadena. Não sou economista e
mal sei distinguir um poço de petróleo de uma refinaria. Sou um
eleitor, para quem o eventual desperdício de um bilhão de dólares é,
sim, uma questão relevante. Gostaria muito de entender o que aconteceu
em Pasadena, e dependo de informações da imprensa para formar uma
opinião sobre o assunto. O artigo escrito por Gustavo Patu para a Folha
de hoje é um bom exemplo de como a imprensa tem falhado em desempenhar
esse papel.


Vamos a ele, com o texto de Patu em itálico.


Para começar, o fato incontestado: a Petrobras fez um mau negócio
ao comprar em 2006 uma refinaria em Pasadena, nos EUA, como admitem os
dirigentes de ontem e de hoje da estatal. Não só porque o montante
desembolsado supera em muito o atual valor de mercado da refinaria;
também não faz mais sentido refinar petróleo brasileiro para o mercado
americano, agora que é preciso importar combustíveis para o Brasil
.


Já comecei não entendendo. Por que o fato de o Brasil importar
combustíveis tornaria o refino de petróleo para o mercado americano algo
"sem sentido"? Talvez Patu esteja querendo dizer que, se o negócio
estivesse sendo feito HOJE, faria mais sentido pegar o dinheiro e
investir em refinarias no Brasil. Mas o negócio não está sendo feito
hoje. Foi feito antes da crise de 2008. Feito o negócio, por que eu,
leitor e eleitor ignorante, devo concluir que "não faz mais sentido
refinar petróleo brasileiro para o mercado americano"? Patu não explica.
E eu fico na mesma.



Há três hipóteses, não excludentes entre si, para explicar a
trapalhada: 1) azar, na forma de reviravoltas imprevisíveis da economia;
2) imperícia, por riscos subestimados ou decisões equivocadas; 3) dolo,
se funcionários e autoridades provocaram propositalmente as perdas para
desviar recursos em proveito próprio. A primeira e mais benigna das
versões foi a apresentada pela Petrobras. A presidente Dilma Rousseff
surpreendeu ao escolher a segunda: em nota, disse que o negócio só foi
aprovado porque cláusulas fundamentais eram desconhecidas. As piores
suspeitas — investigadas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e
pelo Tribunal de Contas da União — derivam de lacunas nas narrativas da
má sorte e da falha empresarial
.


Sou ignorante, mas leio jornais. É mentira que a presidente Dilma
tenha "escolhido" a segunda hipótese — a de imperícia. Como Gustavo
Patu, ela considera que essas hipóteses não são excludentes, e
"escolheu" uma combinação das duas primeiras: a reviravolta de 2008
agravada pela imperícia daquelas duas cláusulas famosas. Esses dois
fatores, conjugados, teriam criado a armadilha em que a Petrobrás acabou
envolvida.


As justificativas para a compra da refinaria (uma usina que
transforma petróleo em combustíveis e outros derivados) parecem
razoáveis. Argumenta-se que o consumo de combustíveis, então estagnado
no Brasil, disparava nos Estados Unidos, em meio à euforia generalizada
da economia americana. O plano era adquirir uma refinaria obsoleta, mais
barata, melhorar suas instalações e adaptá-las ao tipo de petróleo mais
produzido no Brasil
.


O leitor e eleitor ignorante (eu) começa a ficar de orelha em pé. A
Petrobrás comprou uma refinaria "obsoleta". Vou ao dicionário. Era uma
refinaria "ultrapassada", segundo Patu. Muito bem. Anotado.


Os dados nebulosos começam com o pagamento de US$ 360 milhões por
metade da refinaria de Pasadena, uma sucata adquirida um ano antes pela
empresa belga Astra Oil por US$ 42,5 milhões. Segundo a Petrobras, o
valor da compra foi US$ 190 milhões; os US$ 170 milhões restantes seriam
referentes aos estoques de petróleo e derivados da refinaria
.


Vimos no parágrafo anterior que a Petrobrás teria comprado uma
refinaria "obsoleta" por U$190 milhões. Um ano antes, a Astra teria
comprado uma "sucata" por U$42,5 milhões. Eu, leitor ignorante,
irrito-me, em primeiro lugar, com o acréscimo insistente dos
U$170 milhões referentes aos estoques no preço final. Comprar por 190 o
que o outro comprou um ano antes por 40 e tantos já é pagar uma
diferença brutal — quase quatro vezes mais. Não preciso que jornalistas
como Gustavo Patu "contrabandeiem" o preço do estoque para "piorar ainda
mais as coisas", e me fazer ver, com lentes de aumento, aquilo que ele
me julga incapaz de enxergar a olho nu. Não sou cego, sr. Patu. Um pulo
de 40 para quase 200 exige explicações. Mas, já que o próprio
articulista admite que passamos de uma "sucata" para uma usina
"obsoleta", gostaria que ele me dissesse quais são os dados em que essa
gradação adjetiva está baseada. Ele tem conhecimento de melhorias feitas
pela Astra na usina? Que melhorias foram essas? E por que o leitor
ignorante tem que ser tratado como se, além de ignorante, fosse uma
criança a quem não devem ser ditas certas coisas?


Alega-se que a escalada dos preços acompanhava o aumento das
margens de lucro do refino do petróleo na época. Uma evidência disso
seria a recomendação favorável do Citibank à transação. Dito de outra
maneira, pagou-se muito porque se acreditava que o retorno futuro seria
elevado. A Petrobras se juntava aos investidores e especuladores que
apostaram no prolongamento da era de prosperidade --e perderam.



Isso, mesmo. Foi o que eu li nos jornais, dito não apenas por
técnicos e diretores da Petrobrás, mas também por gente muito séria e
responsável, com assento no conselho.


Oito anos atrás, o Conselho de Administração da estatal,
presidido por Dilma, aprovou a transação, que tornava a empresa sócia da
Astra. Já surgiam sinais de mudança nos ventos do mercado
.


Que os sinais de mudança "já surgiam" quando o Conselho aprovou a
decisão talvez seja verdade. Que fossem percebidos assim, naquela época,
é algo que o sr. Patu não se preocupa em demonstrar. A decisão foi
tomada antes da crise, e a crise pegou todo mundo — aí incluídos eu e o
sr. Gustavo Patu — de surpresa. Quero dizer o seguinte: talvez tenha
sido um péssimo negócio, talvez tenha havido imperícia, talvez tenha
havido ladroagem. Mas se, num assunto complicado como esse, o
jornalista, ao invés de argumentar com sobriedade vai introduzindo essa
multidão de "malandragens retóricas" pelo caminho, eu, leitor e eleitor
ignorante mas sedendo de informações, fico na mesma. É tão difícil assim
ser honesto intelectualmente?


A Petrobras havia identificado a tendência de aceleração do
consumo de combustíveis no Brasil, que se intensificaria nos anos
seguintes; nos EUA, a economia começava uma parada que culminaria no
colapso de 2008
.


"Começava uma parada", percebe, sr. Patu? O senhor previu o colapso
de 2008 àquela época? Publicou muitos artigos alertando o mundo a esse
respeito? Alguns jornalistas o fizeram. O senhor lhes deu bola? Ao menos
considerou seus argurmentos?


O preço do petróleo e as margens de lucro do refino caíram; os
investimentos programados em Pasadena não saíram do papel; o casamento
entre Petrobras e Astra chegou rapidamente ao fim. Com o divórcio, Dilma
e os demais conselheiros da estatal descobriram — oficialmente, ao
menos — a extensão das vantagens oferecidas aos belgas na sociedade
.


"Oficialmente, ao menos" — perceberam? Extraoficialmente, é bem capaz
que Dilma, Jorge Gerdau e demais membros do Conselho soubessem de
antemão que os belgas estavam com a faca e o queijo na mão, que a crise
vinha aí, mesmo, e que a Astra iria esfolar a Petrobrás na Justiça
americana por conta disso. Repito. Por que me tratar como se eu fosse um
tolo, alguém incapaz de tirar conclusões a partir de premissas, e que
necessita, por isso, que insinuações maldosas vão me guiando ao longo do
raciocínio?


À Astra havia sido garantida uma rentabilidade anual de 6,9% ao
ano, como compensação ao investimento necessário para processar o
petróleo brasileiro. E, em caso de discórdia, o direito de vender à
Petrobras sua metade no negócio. A direção da empresa brasileira se
dispunha a pagar espantosos US$ 788 milhões pelo restante da operação
fracassada, um valor ainda sem explicação. Em 2008, o Conselho de
Administração negou o aval à ideia, e o caso foi parar na Justiça
.


Epa! Malandragem novamente. Reparem nos tempos verbais. "Havia sido
garantida" à Astra a tal rentabilidade mínima e o tal direito de venda
forçada. Ao mesmo tempo (é o que se infere, não é?) a direção da
Petrobrás "se dispunha a pagar" U$ 788 milhões. Detalhe. Entre uma coisa
e outra há uma crise internacional imprevista e uma disputa empresarial
que iria acabar na Justiça. Até eu, que sou ignorante, sei disso. O
sr. Patu, no entanto, tenta me fazer esquecer desse detalhe, manipulando
o passado gramatical.


A partir daí, Petrobras e governo brasileiro tomam providências
contraditórias. Em março daquele ano, o até então diretor da área
internacional da estatal, Nestor Cerveró, foi retirado do posto.
Responsável pelas informações prestadas aos conselheiros, Cerveró não
foi, porém, punido. Ganhou o cargo de diretor financeiro da BR
Distribuidora, ligada à Petrobras e administradora dos postos de
gasolina. Só perdeu o emprego neste mês, depois da nota do Palácio do
Planalto que atribuiu a aprovação da compra da refinaria a um resumo
"técnica e juridicamente falho" das condições do contrato
.


Também acho que, se o sr. Cerveró fez uma besteira monumental,
deveria ter sido posto no olho da rua, e não deslocado para uma outra
área da empresa. Mas não vejo motivos para achar que "a partir daí"
(isto é, de 2008, quando o Conselho nega o seu aval para a venda por
U$ 788 milhões) a empresa e o governo tenham passado a tomar
"providências contraditórias". Não há uma "sequência" de providências
contraditórias entre si — é isso que o texto está insinuando. Há uma
providência tomada em 2008 (deslocamento do funcionário para outro setor
da empresa) que se choca com essa, tomada há poucos dias (demissão).
Não é preciso transformar uma atitude certamente estranha e que pede
explicações numa suposta SEQUÊNCIA de atitudes estranhas para que eu,
ignaro leitor, perceba que existe, sim, uma estranheza a ser explicada
nessa demissão tardia. Não sou retardado mental, sr. Patu.


Em 2009, a Justiça estabeleceu que a Petrobras deveria pagar US$
639 milhões à Astra — US$ 296 milhões pela segunda metade da refinaria,
US$ 170 milhões pelos estoques restantes de petróleo e US$ 173 milhões
em custos associados ao processo. Era menos do que a direção da estatal
estava disposta a desembolsar um ano antes, mas, ainda assim, a empresa
decidiu recorrer da decisão. Os belgas também seguiram em busca do valor
mais elevado acertado antes
.


O correto seria não ter recorrido? É isso? Também acho estranha a
oferta generosa feita por Cerveró um ano antes e recusada pelo Conselho.
Só não entendo a linha de raciocínio de Gustavo Patu. O que ele insinua
é que, como Cerveró havia oferecido U$ 788 milhões, quando a Justiça
determinou o pagamento de U$ 639 milhões, a diretoria e o Conselho da
Petrobrás deveriam ter pulado de alegria e pagado a dívida sem recorrer.
É isso que o sr. Gustavo Patu faria se fosse diretor da Petrobrás? É
esse o conselho que daria, caso fosse membro do Conselho da estatal?


Em 2012, com a perspectiva de derrota judicial, a Petrobras fez
um acordo que custou ainda mais: US$ 821 milhões, porque os custos
relacionados ao processo subiram para ainda inexplicáveis US$ 355
milhões. Também no governo Dilma, a estatal tentou vender a refinaria,
mas não conseguiu nada que chegasse perto do US$ 1,18 bilhão gasto ao
todo no negócio fracassado. Com pelo menos seis anos de atraso, a
empresa decidiu agora apurar responsabilidades
.


A Petrobrás não deveria ter recorrido, segundo o senhor Patu. Ele já
havia dato uma razão estapafúrdia para isso: a oferta feita um ano antes
da primeira sentença por Cerveró (e recusada pelo Conselho da
Petrobrás). Agora, dá uma outra razão, ainda mais estapafúrdia. Em 2008,
os advogados da empresa deveriam ter previsto que levariam um nabo na
Justiça americana em 2012. Deveriam ter aceitado pagar os U$639 milhões,
pois como tinham bola de cristal, bastaria uma rápida consulta à mágica
esfera para saber que, quatro anos depois, teriam que pagar U$821
milhões.





Vejam a malandragem final, oculta num dado que o articulista
certamente tem em mãos, mas resolveu sonegar a seus leitores, para não
atrapalhar a "doutrina". Ele diz que Dilma tentou vender a refinaria,
mas "não conseguiu nada que chegasse perto do U$1,18 bilhão gasto ao
todo no negócio fracassado". Tá bom. Nada que chegasse perto. Mas —
quanto exatamente? Por quanto seria possível vender, hoje, essa usina
que a Astra comprou, lá atrás, por U$42,5 milhões? Por que esse número
não entra no texto? O número talvez fique bem longe, mesmo, de U$1,18
bilhão. Mas algo me diz que fica mais longe ainda dos U$42,5 milhões
originais. Se revelado, não livraria a cara de Cerveró e dos diretores
que assinaram um contrato, ao que tudo indica, temerário, sonegando
dados fundamentais ao Conselho da empresa. Mas o número certamente
obrigaria o jornalista a contar uma história muito mais complicada do
que essa que tenta nos enfiar goela abaixo.

Petrobrás, chegou a hora de usar o blog! | O Cafezinho

Petrobrás, chegou a hora de usar o blog! | O Cafezinho







Petrobrás, chegou a hora de usar o blog!

Enviado por Miguel do Rosário on 29/03/2014 – 7:25
pm
10
comentários
O Cafezinho obteve mais documentos inéditos que ajudam a explicar um pouco
essa confusão sobre Pasadena.



Antes, um breve comentário político. Permaneço bastante crítico à maneira
como a Petrobrás, através de sua presidenta, Graça Foster, vem conduzindo a
“crise”. Estendo a culpa à própria presidenta da República. Ambas escolheram a
estratégia de sair cortando cabeças à torto e direito, e não estão fazendo
nenhuma defesa política da estatal, nem da refinaria de Pasadena. A oposição
está fazendo a festa.



A última da Foster foi demitir outro alto executivo da empresa, José Orlando
Azevedo, sem oferecer nenhuma explicação. Com isso, a mídia domina a narrativa.
Para cúmulo da trapalhada política, o sujeito é primo de Gabrielli,
ex-presidente da Petrobrás.



Ou seja, tá parecendo que a Foster está se aproveitando da crise para fazer
um ajuste de contas interno. O blog da Petrobrás continua inerte. Não há
informação, então a gente não tem para onde correr senão para a mídia
tradicional, que iniciou mais uma campanha de manipulação.



Tenho a impressão que tanto Dilma quanto Foster estão sendo vítimas de seu
próprio “tecnicismo”. É tiro no pé em cima de tiro no pé.



A refinaria de Pasadena tem de ser defendida. É coisa nossa. Esse é meu
recado como blogueiro político.



Já como blogueiro investigativo, minha função é levantar dados para que as
pessoas entendam melhor a conjuntura.



A primeira coisa para entender o imbróglio é partir do início. O que era a
refinaria de Pasadena antes de ser comprada pela Astra? Era uma sucata? Estava
desativada? Dava lucro? Tinha dívidas?



Como eu ia dizendo, O Cafezinho teve acesso a dois documentos inéditos que
nos ajudarão a responder a essas perguntas.



O documento mais recente, de agosto de 2000, é um informe
da Golnoy Barge Company
, empresa que detinha 14% das ações da refinaria de
Pasadena, aos outros sócios minoritários.



O documento fala da preocupação dos sócios pequenos com a gestão de Henry
Rosenberg, e seus dois filhos, à frente da refinaria. Eles estavam preocupados
com uma operação financeira que Rosenberg tinha iniciado para ampliar sua participação
acionária da refinaria e aumentar seu controle sobre ela.



O final da década de 90 tinha sido bem difícil para o negócio de refinaria.
Em 1998, a
Crown Central (nome antigo da refinaria de Pasadena) havia registrado fortes
prejuízos, e ainda enfrentava inúmeros processos trabalhistas.



O segundo documento obtido por Cafezinho é um artigo publicado no Oil Daily,
onde se lê que o mercado desconfiava que Henry Rosenberg estava se preparando
para vender a companhia. Até aí nada demais, a empresa era dele e ele podia
vender quando quisesse. Acontece que ninguém confiava em Rosenberg, nem os
sócios pequenos, muito menos os sindicatos.



A matéria informa que a Crown registrou prejuízo de 829,4 milhões de dólares
em 1998. Segundo a matéria, parte desse prejuízo se devia ao boicote que os
sindicatos vinham fazendo à empresa. Era uma campanha popular. Ninguém queria
comprar a gasolina vendida nos postos da Crown. A empresa, por sua vez, atribuía
o prejuízo a situação do mercado, e lembrava que todas as empresas estavam
amargando prejuízo aquele ano, o que era verdade.



O caso de Pasadena, contudo, era mais alarmante porque Rosenberg, dono da
empresa, enfrentava um grave problema de crédito na praça. E não estava
conseguindo renegociá-lo junto aos bancos.



No documento de agosto de 2000, da Golnoy Barge Company, somos informados
que o mercado de refinaria se recuperou vigorosamente a partir do início da
nova década. O faturamento líquido (EBITDALL) da Crown nos primeiros seis meses
de 2000 totaliza US$ 66,6 milhões. O lucro líquido no primeiro semestre de 2000
atingiu US$ 5,6 milhões, comparado ao prejuízo de US$ 22 milhões no mesmo
período de 1999.



Os sócios pequenos da refinaria dão duas informações que serão fundamentais
para a gente entender o preço pago pela Astra em 2005.



A Crown tinha promissórias junto a seus acionistas pelas quais “qualquer um
que quisesse adquirir a Crown Central deveria estar preparado para refinanciar
o débito de US$ 125 milhões”.



Isso em 2000! Em 2005, esse débito teria subido para US$ 200 milhões, como
eu disse em outro post. A diferença é que essa fonte agora é mais oficial
ainda. É um documento dos próprios sócios da Crown.



A outra informação importante é sobre os estoques da Crown. A mídia vem
repetindo que a Astra comprou a refinaria por US$ 42,5 milhões. Mentira. A
Astra começou a trabalhar junto à Crown em 2004. Pagou suas dívidas, comprou
seus estoques, e só então adquiriu as ações da refinaria por US$ 42,5 milhões.



O documento da Golnoy nos dá uma ideia do valor dos estoques da Crown no ano
2000. Os sócios achavam que esses podiam ser US$ 83 milhões maiores do que o
informado oficialmente pela empresa. Portanto, o valor dos estoques, no ano
2000, eram um valor X mais US$ 83 milhões. Quanto valiam? US$ 100, 300, 500
milhões? A refinaria tinha capacidade para estocar mais de 6 milhões de barris,
portanto o valor desses estoques poderia até ultrapassar US$ 1 bilhão.



Por que Pasadena tinha uma capacidade tão grande de estoque? A resposta é
fácil. A volatilidade alucinante das cotações do petróleo e seus derivados,
fazem com que seja estratégico, para uma refinaria, ter uma boa capacidade de
estoque, para ordenar a oferta e evitar vender em momento inadequado.



Na sexta-feira, o Valor confirmou uma informação que eu já detectei em vários
documentos, inclusive no relatório da Astra.



“Conforme o acordo de acionistas, ao qual o Valor teve acesso, o prêmio
de 20% valeria tanto para os 50% restantes do ativo refinaria, avaliado em
março de 2006 por US$ 378 milhões, como para a trading,
que
tinha preço de referência inicial de US$ 300 milhões, que era o “capital
comprometido” pela Astra no negócio até a assinatura do acordo.




A Petrobrás não adquiriu somente a refinaria de Pasadena. Ela comprou também
a Astra Trading, que era o braço comercial da refinaria montado pela Astra
quando a assumiu. Essa trading tinha recebido US$ 300 milhões da Astra. Não
está claro se esse valor já embute os estoques. E não se sabe exatamente a
dívida herdada pela Astra quando assumiu o controle da refinaria. O que se tem
certeza é que havia uma dívida de US$ 125 milhões em 2000 e, segundo a
Jefferies, US$ 200 milhões em 2003. Como os americanos nunca pagam uma dívida
de uma vez, pois os juros lá são muito baixos e todos apenas rolam seus
débitos, indefinidamente, é certo que estes deveriam continuar na casa dos oito
dígitos quando houve a compra pela Astra.



Portanto, a Astra quando adquiriu Pasadena, investiu US$ 42,5 milhões pelo
controle acionário, assumiu uma dívida milionária, mobilizou US$ 300 milhões,
comprou estoques, e ainda fez investimentos de quase US$ 100 milhões para
modernizar a refinaria. Os documentos da Astra deixam bem claro que a venda
decorreu de um “processo”, cujos detalhes jamais foram revelados.



Não sei se houve, como dizem os paulistas, alguma treta em algum momento do
negócio. Talvez. Mas pode haver treta na Abreu Lima, no porto de Suape, no
Comperj, em qualquer negócio da Petrobrás em qualquer lugar do mundo. O ser
humano, infelizmente, é corrompível por natureza.



O importante a saber aqui é que essa disparidade absurda de valores com que
a mídia tenta impressionar o cidadão comum não existe. A refinaria de Pasadena
sempre valeu um bocado de dinheiro, sempre esteve operante, e possivelmente se
revele com o tempo uma excelente aquisição para a Petrobrás.



Outra coisa que é preciso deixar claro é que as cláusulas Put Option e,
sobretudo, a Marlim, existiram porque a Petrobrás também tinha suas
prerrogativas. Também haviam cláusulas a favor da Petrobrás: a estatal podia
“forçar investimentos”, ou seja, podia fazer o que quisesse dentro da
refinaria.



Lembro-me que o ex-presidente Lula, certa vez, ensinou que um bom negócio é
o chamado “ganha-ganha”. Um ganha e o outro pensa que ganha. Acho que foi
exatamente o que aconteceu aqui. A Astra pensou que fez um bom negócio, mas
quem agora possui uma refinaria no coração dos EUA é a Petrobrás!



Esta CPI da Petrobrás pode ser uma oportunidade do governo e da estatal
aprimorarem suas estratégias de comunicação. Aliás, o que vemos hoje é
resultado do fiasco comunicativo da Petrobrás. Os brasileiros não têm ideia do
aumento das reservas brasileiras de Petróleo, e do montante que a estatal tem
investido no país.



Na propaganda eleitoral, Eduardo Campos fala em “meia Petrobrás”. Todos
falam no declínio do valor de mercado da empresa. Mas o que tem efeito na
economia brasileira não é o valor especulativo da Petrobrás nas bolsas, e sim a
quantidade real de dinheiro que a empresa tem investido no país, o número de
empregos gerados a partir desses valores, sem falar nos impostos. Além disso, a
Petrobrás continua dando lucro.



Na última vez que a mídia fez uma campanha contra a Petrobrás, a estatal
inovou e criou um blog que fez história, rendeu até mesmo teses de mestrado.
Foi um sucesso. E agora o blog está lá, às moscas, sem participar do debate
político. Neste sábado, após manchete bombástica do Globo, o blog informa que a “Petrobrás patrocinou o Festival de
Curitiba”. Legal que o tenha feito, mas alguém entrará no blog da Petrobrás
para saber isso?



Por que a Petrobrás não faz um belo infográfico com dados atualizados sobre
seu lucro e faturamento?



Ao invés de ocupar o noticiário com demissões talvez desnecessárias, numa lamentável
demonstração de medo, porque não aproveita a visibilidade e expõe suas
estratégias, aqui, no Golfo do México, em Pasadena?



Enquanto demonstrar medo, a Petrobrás vai apanhar. Ela só vai virar o jogo
quando exibir os dentes. Por que não mostra, por exemplo, que paga seus
impostos em dia?



Por que não mostra o Darf?



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Falta de compostura | GGN

Ao criticar Barbosa, Noblat exprimiu uma indignação geral contra a falta de compostura | GGN

  

Marcus Lima



Jamais, em minha sã consciência, eu imaginei que iria defender Joaquim Barbosa.


Não há motivos para fazê-lo, em plano algum. Basta ver sua
verborragia exagerada. Seu julgamento do julgamento de outros juízes,
sua politização de assuntos judiciais, suas grosserias e histrionismo.


Ajudou, junto Gilmar Dantas(mendes), a criar crises entre os poderes,
ao desrespitar os limites que existem entre eles. Porta-se de maneira
indelicada, bruta, enfim. Pode-se disser o que queira dele. Mas dou-lhe
hoje parabéns.


Foi lendo o livro de Nassif, aquele que fala sobre o jornalismo, que
cristalizei em mim aquilo que é uma verdade pós Collor: o jornalismo se
deu conta, com a destituição de Collor, do poder que tinha.


Ao ler o texto de Noblat, me chama a atenção um ponto, ao se referir a Barbosa, afirma: "QUEM ELE PENSA QUE É?"





Pelo mal exercer, pelo mal conduzir, pelo mal portar-se, ainda assim
não se pode negar: é o representante máximo de um dos três poderes da
república.  Nisso, o que me chama a atenção, e destaco tal chamamento,
não está em JB, mas sim em NOBLAT. Quem, ao interpelar desta forma, o
represenante em chefe de um dos poderes da república, o jornalista pensa
que é? Esse é o absurdo que vivemos: o jornalistmo se pondo como
avalizador dos poderes, como um poder aparte, superior, a quem compete
não informar, mas LEGITIMAR OU NÃO, COMO TEM FEITO, OS PODERES DA
REPÚBLICA. Se vivemos uma crise institucional, neste momento, é por um
jornalismo que nos empurra ao facismo exatamente porque move, com unhas e
dentes, uma campanha de descrédito contra as instituições, a política, a
justiça. Se vivemos o que vivemos é porque temos, no jornalismo,
dominado por quatro grandes grupo de mídia e seus interesses, um poder
que não é limitado nunca  pelos demais, pela sacrosanta
liberdade de imprensa,  e que se tornou avaliador legítimo de todos ou
outros. Um poder que constrói e destrói legitimidade, a seu bel prazer. 



Antes de ser cuspido, que ao menos " O Batman de Pindorama"  prove ao criador que nem sempre é possível controlar a criatura.


Rogo, neste momento, é para que o governo Dilma acorde. Rápido. Para
que acordem todos. A criação de um ambiente pesado, o descrédito das
instituições, o estímulo ao povo na rua de forma violenta, e de posições
extremadas, cria ingredientes que pouco se tem lido como deviam.
Criou-se artificilamente, pela insuflação artificial de revolta, pelo
descrédito, pelo estímulo ao " resolva com suas próprias mãos", uma
panela de fervura que indica que articialmente que o páis vive um
péssimo momento, CAOS, CRISE, VIOLÊNCIA, E QUE NÃO HÁ SAÍDA DENTRO DAS
INSTITUIÇÕES, TIDAS COMO PODRES E CORRUPTAS. Cava-se, inclusive com a
construção e erosão rápida de figuras como o "Batman de toga ",
combustível para sim, um golpe. Enquanto isso, os poderes todos dormem,
enquanto são erodidos. Quando acordaremos? Quando o governo Dilma
acordará, tão invertebrado que anda, sempre sem reagir a erosão
continuada das instituições, no imaginário popular?

sábado, 29 de março de 2014

O inaceitável risco da igualdade — CartaCapital

O inaceitável risco da igualdade — CartaCapital

Quando se delineia, mesmo ao longe, a chance da
demolição da casa-grande e da senzala, a vocação golpista dos
privilegiados se estabelece





por Mino Carta







publicado
28/03/2014 06:26,



última modificação
28/03/2014 16:37











Arquivo Agência O Globo


golpe

Foi uma guerra sem inimigo, para derrubar um presidente que sempre se portou como democrata
Faz pouco tempo, a chamavam
Revolução, com r grande, e ainda há quem assim a chame. O Brasil inovou
ao batizar desta forma um golpe de Estado. O ex-ministro do STF e
presidente da Câmara durante o “mandato” do ditador Ernesto Geisel,
Célio Borja, em entrevista à
Folha de S.Paulo,
sustenta hoje, aos 85 anos, que a partir de 1º de abril de 1964 o Brasil
teve “um regime de plenos poderes”. Não sei como o ilustre jurista
definiria ditadura. Primeiro de abril, disse eu, mas se o golpe se deu
nesse dia, ou em 31 de março, tanto faz. De todo modo não ocorreu de
mentirinha. Mentiras monumentais houve para justificá-lo, e algumas
continuam a ser proferidas.
Como Moniz Bandeira logo adiante escreve,
o governo dos Estados Unidos teceu, de caso pensado ou de crença
própria (de americanos tudo cabe esperar), um magistral enredo de pura
ficção para mobilizar, debaixo de sua bandeira, diplomatas, espiões,
mestres em tortura, tropa e até um porta-aviões. Segundo os ficcionistas
de Washington, o Brasil preparava-se para enfrentar uma guerra civil,
provocada pela insurgência de comunistas de inspiração cubana, como se
sabe canibais de criancinhas. Os reacionários nativos, instalados
solidamente na casa-grande, engoliram mais um best seller ianque, e lhe acrescentaram capítulos decisivos, com a colaboração dos editorialistas dos jornalões.
Soprava o entrecho que a subversão
ensaiava sua marcha e a intervenção militar era recomendada, ou melhor,
indispensável. A invocação prolongou-se in crescendo desde o
instante em que o vice-presidente João Goulart assumiu o posto
abandonado por Jânio Quadros, o tragicômico homem da renúncia, antes
contida enquanto durou o imbróglio parlamentarista, enfim em tons de
desespero quando Jango mandou às favas o sistema de governo inventado
para cerceá-lo e retornou ao presidencialismo. A história prova que
Goulart era um democrata sincero, nenhuma das suas atitudes, do começo
ao fim do mandato constitucional, demonstra o contrário. Quanto à marcha
da subversão, nunca a vi passar.
Outra marcha desfilou diante dos meus olhos estupefactos, a “da família, com deus e pela liberdade”. Dirigia então a redação de Quatro Rodas,
instalada na capital paulista em um prédio da Rua João Adolfo, esquina
da Avenida 9 de Julho. Na tarde do 19 de março de 1964, dia de São José,
o resignado padroeiro da família, deixei a redação e andei não mais que
500 metros para alcançar a esquina da Rua Marconi com Barão de
Itapetininga, onde estacionei para assistir ao desfile.
Vinham na frente os sócios do Harmonia,
clube mais elegante de São Paulo, acompanhados por seus fâmulos,
mucamas, aias, capatazes, colonos, jardineiros, motoristas, cocheiros,
massagistas, pedicuros, manicures etc. etc. Em seguida trafegaram os
sócios do Clube Paulistano (sinto por eles, menos faustosos que o
Harmonia), também seguidos por seus serviçais, em número menor e mesmo
assim expressivo. Depois passaram os demais, em ordem decrescente,
ditada ou pelo clube frequentado, ou pelo bairro da residência. Na
rabeira, os remediados, irrefreáveis aspirantes a inquilinos da
casa-grande. Sobrevoava o cortejo o governador Adhemar de Barros, de
helicóptero em voo quase rasante, desfiava o rosário guardado na
algibeira do colete.
A “marcha da família”, capaz de
incomodar o Altíssimo e negar a liberdade que diziam defender, revela a
verdadeira natureza do golpe de Estado que precipitou a ditadura. A qual
é, ou não é. Como a de Hitler, de Mussolini, de Stalin. E não excluamos
Franco, ou Salazar, e os fardados de quepe descomunal em toda a América
Latina. No caso de Fidel Castro, é natural que tenha merecido uma
avaliação especial por parte de quem viveu a condição de relegado ao
quintal dos Estados Unidos. De minha parte, confesso, não me agradam
personagens que atravessam a vida de uniforme.
Irrita, de todo modo, que seja comum ler ou ouvir a
referência à ditadura militar brasileira. Quiséssemos ser precisos,
afirmaríamos ditadura civil e militar. A bem da verdade factual, há de
se reconhecer que nos começos de 1964 não seria missão impossível atiçar
os nossos fardados, e na tarefa o governo americano, e os privilegiados
do Brasil, por meio dos seus porta-vozes midiáticos, saíram-se à
perfeição. A tal ponto que eles próprios, jornalistas inclusive,
acabaram por acreditar no enredo criado em Washington, pelo qual a
guerra civil batia às portas. Houve até civis graúdos que estocaram
armas nos porões e nas adegas.
Calibrados para a intervenção, os
militares cumpriram o seu papel de gendarmes da casa-grande, de exército
de ocupação, e com notável aparato partiram para a refrega de fato
impossível. A renúncia de Jânio Quadros deveria ter sido lição profícua.
Este sim, ao contrário de Jango, pretendia provocar a reação popular e
errou dramaticamente. No mesmo dia, o Santos jogava em terra estrangeira
e o povo comprimia-se nos bares para ouvir a irradiação. Reação houve,
delirante, aos gols de Pelé.
A 1º de abril, ou 31 de março, que seja,
vieram os blindados e os canhões, Carlos Lacerda armou-se de fuzil e fez
do Catete uma trincheira. O golpe se deu, porém, com a imponência de um
corriqueiro desfile de 7 de setembro. Houve um ou outro episódio de
violência aqui e acolá, enfrentamento nunca. As calçadas não ficaram
manchadas de sangue. Os militares executaram o serviço sujo com a
eficácia e o risco de quem vai à guerra sem inimigo. Do outro lado,
havia idealistas, sonhadores, nacionalistas, esperançosos de um futuro
melhor para um país que amadurecia lentamente demais para a
contemporaneidade do mundo.
Brasil padeceu de várias desgraças ao longo de
cinco séculos. A colonização predatória, a matança dos aborígenes, três
séculos e meio de escravidão, uma independência sem sangue, uma
proclamação da República perpetrada por obra de um golpe de Estado
militar, a indicar o caminho convidativo daí para a frente. O entrecho
de desgraças, entre elas a carga mais deletéria representada pela
escravidão, cujos efeitos permanecem até hoje, influenciou profundamente
a história do século passado. Dominada em boa parte por Getúlio Vargas,
um estadista, decerto, ao pensar um Brasil moderno, e também ditador no
primeiro período da sua atuação, o que não depõe a favor.
O golpe de 1964, reforçado
na sua essência daninha pelo golpe dentro do golpe de 1968, uma vez
imposto o Ato Institucional nº 5, é a última das desgraças. A mais
recente, e de repercussões duradouras. Leiam, por exemplo, o texto de
Vladimir Safatle, mais adiante. A derrubada de Goulart assinala o
enterro de um processo que levaria o Brasil bem mais longe do que se
encontra hoje. Não imagino, está claro, a chegada da marcha da subversão
para impor uma ditadura também, embora de esquerda, mesmo porque as
lideranças disponíveis, os cassados daquele momento, estavam longe de
mirar neste alvo. Digo lideranças como o próprio Jango, Brizola, nem se
fale de Juscelino.
Mudanças sensíveis se dariam aos poucos,
caso não ocorresse uma reviravolta armada, no espaço de uma ou mesmo
duas décadas, a partir das chamadas reformas de base, encabeçadas pela
reforma agrária, indispensável em um país em que 1% da população é dona
de cerca de 50% das terras férteis. As circunstâncias favoreceriam o
surgimento de partidos autênticos em lugar de clubes recreativos de uns
poucos sócios, a representarem, quase todos, os interesses do
privilégio. Baseado no parque industrial paulista, o mais desenvolvido
de todo o Hemisfério Sul, brotaria um proletariado consciente da
importância e da força do seu papel, e portanto sindicatos dignos deste
nome.
O golpe de 1964 aconteceu exatamente por causa da
perspectiva renovadora que apavorava os senhores. Chega a ser ridículo
invocar a ameaça da guerra civil, como alega Célio Borja na entrevista à
Folha de S.Paulo, e como alegam muitos outros como ele,
convictos de que é da conveniência do Brasil ser satélite de Tio Sam,
bem como manter de pé a casa-grande e a senzala, da qual vale convocar
eventuais marchadores. Os senhores escravocratas do século XXI ainda se
movem ao sabor das crenças de 50 anos atrás (ou de 500?), certos do
velho axioma, melhor prevenir do que remediar. Daí a oposição
sistemática aos governos Lula e Dilma. Aquele já fez alguns estragos,
esta é sua criatura, donde para ela a berlinda é automática.
Sempre que ouço pronunciar a palavra
redemocratização padeço de um sobressalto entre o fígado e a alma. É
justa e confiável a democracia em um país que ocupa o quarto lugar na
classificação dos mais desiguais do mundo? Os senhores do privilégio
querem é uma democracia sem povo e um capitalismo sem risco. De qualquer
forma, à democracia não basta promover eleições periódicas, mas algo é
mais grave, nesta instância do pós-ditadura: o espírito golpista ainda
lateja nas entranhas da sociedade, como vocação inapagada e impulso
natural.
De um lado há a fé em um recurso extremo, porém disponível ad aeternitatem,
como aspiração latente em caso de necessidade. Do outro lado, o medo,
enraizado nos demais, mal acostumados. Raros os brasileiros que, ao se
arriscarem a vislumbrar a possibilidade de uma situação de agitação
social, não temam a solução golpista. Há quem suponha que, a esta
altura, exageram em temores. Há também quem sustente que basta pensar
para tornar o pior admissível.
Agrada-me relembrar Raymundo Faoro, que
sustentava a competência da direita, tranquila vencedora em 1964. A
respeito discutíamos. Na minha opinião, o nível da competência é
determinado pela qualidade do adversário. O que me impressiona, isto
sim, é a ausência de adversários à altura desta direita tão, como direi,
medieval, responsável pelo brutal oximoro: um país grande por natureza e
forte por vocação se vê tolhido por uma elite prepotente, arrogante e
ignorante. Deste ponto de vista, a ditadura brasileira tem, aquém ou
além da tragédia, ou a despeito da tragédia, um aspecto patético.
Quantos perseguiu e até matou e agora são, ou seriam, tucanos convictos,
inequivocamente bandeados para a reação?
Com a premissa de que o acaso é entidade
insondável, faltou uma esquerda capaz de acuar os donos do poder, como
se deu em muitos outros países habilitados à democracia e à civilidade.
Para ser de esquerda atualmente é suficiente empenhar-se a favor da
igualdade, conforme recomenda Norberto Bobbio, cujo ensaio a respeito
Fernando Henrique leu sem proveito algum. Nesta quadra, pretensamente de
redemocratização ou, pelo menos, de democratização, o Brasil não conta,
na quantidade necessária, com batalhadores da igualdade. Salvo melhor
juízo.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Ilusões pequeno-burguesas podem ser fatais |

Ilusões pequeno-burguesas podem ser fatais | TIJOLAÇO |

O velho Luís Carlos Prestes, certa vez, disse que “governo que não se defende merece cair”.


Os governos petistas, de alguma forma, parecem acreditar em contos da carochinha.


A “reciclagem” do caso da compra da refinaria da Pasadena pela
Petrobras é típico desta tola ingenuidade de achar que, na política, o
fato é mais importante que a versão.


Os fatos são mais importantes,  claro, mas na história, não na disputa política.


Nela, a versão é que viceja e pode, no curto prazo, produzir
consequências inteiramente opostas à ingenuidade de quem não se importou
com versões.


Lógico que o exercício das funções públicas se deva pautar por regras
éticas e morais muito mais severas, até, do que as dos negócios
privados.


E Dilma – assim como Lula – é, neste quesito, inatacável.


Mais ainda: quem é que defende a Petrobras, seu crescimento e seu papel no desenvolvimento do Brasil e em sua soberania?


Dilma e Lula, que a trouxeram ao novo patamar do pré-sal ou quem a
privou do monopólio petroleiro, arrolhou seu crescimento e malbaratou
parte de seu capital na Bolsa de Nova York?


Essa é a história, mas os jornais se enchem, todos os dias, das
versões: a Petrobras está quebrando, está mal-administrada e, ainda por
cima, metida em maracutaias.


Deus nos livre de que ela estivesse “bem gerida” como o Metrô de São Paulo, não é?


Imaginem, por exemplo, que a Petrobras registrasse, como o
subterrâneo paulista, um aumento de 55% no número de acidentes de 2009
para cá? Ou se houvesse  um décimo dos superfaturamentos do “trensalão”?


A ingenuidade tola e perigosa é a de não entender o fato de que  a
imprensa vai publicará- como lembrou lucidamente o papa, em sua fala de
sábado – a parte que lhe convém das informações como fatos e as partes
que não lhe convém, apenas algumas vezes e como simples alegações.


Ou, pior ainda, entender mas se convencer que isso se desfará diante
da força moral de uma governante que mostra não medir atitudes diante de
suspeitas, sejam quais forem.


A “aliança pela CPI da Petrobras”, firmada entre Aécio Neves, Eduardo
Campos e o pró-homem da República Eduardo Cunha, sábado, num baile de debutante em Salvador, já produziu seu primeiro efeito: enquadrou Fernando Henrique no projeto e o fez mudar a posição de defender uma investigação técnica e substituí-la por um escândalo político.


A mídia tem uma arma e vai usar.


Ou será que já se esqueceram da frase da então dirigente da
Associação de Jornais, há quatro anos, de que é ela, a imprensa, a
oposição real neste país?

Se a CVM fosse a SEC, nossos lobos estavam na jaula

Se a CVM fosse a SEC, nossos lobos estavam na jaula. | TIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”




Se a CVM fosse a SEC, nossos lobos estavam na jaula.

27 de março de 2014 | 21:14 Autor: Fernando Brito
UAI





Se o Brasil fosse os Estados Unidos e nossa CVM tivesse a força da SEC - Securities and Exchange Comission-
a esta hora uma dúzia de agentes estariam cruzando, desesperadamente,
todos os dados de compra e venda de ações do Banco do Brasil e da
Petrobras na última semana.


Está claramente configurado que o boato de uma queda de Dilma nas pesquisas na quinta-feira passada “testou” o efeito de uma notícia como essa no mercado.


Ficou claro que haveria, com uma notícia assim, alta expressiva nos papéis das duas estatais.


Não havia uma pesquisa mostrando queda de Dilma.


Ou melhor, havia (verdadeira ou não) uma pesquisa indicando isso.


Guardada há dez dias, sob sete chaves – embora alguém tivesse as tais chaves.


Quem soubesse de seus resultados podia comprar Petrobras e BB, respectivamente, a R$ 13,78 e R$ 21,11, as ações ordinárias.


E vender, hoje, com valorização de uns 8%.


Em um dia.


Se soubesse disso no primeiro boato, dobre a parada e dobre os lucros.


Grana para ninguém botar defeito, dependendo da “bala” que se tinha para apostar na operação.


Dinheiro ganho, claro, dos otários que venderam as ações e dos fundos
que operam com margens mais rígidas de compra e venda, por terem perfil
conservador.


Mas este negócio de desonestidade nos mercados de capitais é ficção, não é?


O “Lobo de Wall Street” é só um filme, coisa de cinema.


Coisa de americano.


Aqui, não.


O Ibope fez duas pesquisas, nos mesmos dias, com a mesma base
amostral, o mesmo número de entrevistados e não as “juntou”, mesmo tendo
que pagar, do próprio bolso, uma legião de entrevistadores.


E guardou por dez dias o resultado de uma delas, claro, apenas porque lhe deu na telha.


Não contou o resultado para ninguém, para o cliente que contratou por R$ 214 mil a tal pesquisa “engavetada”.


E os ganhos de dezenas ou centenas de milhões na bolsa foram só um
acaso ou, claro, fruto da competência espírita de alguns operadores.


O importante é que a Dilma “perdeu” pontos e isso vai para o Jornal Nacional, mesmo que a outra pesquisa – terminada depois, segundo os registros do TSE – mostra que não tenha perdido coisa alguma.


Sabe como é: São Luiz é mais fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é mais fresquinho?

Um jornal a serviço de quem?

Um jornal a serviço de quem?




ContrapontoPIG

ContrapontoPIG

Erro cometido na compra de Pasadena não pode encobrir vitórias recentes na mais bem sucedida empresa da história do país



por Marcelo Zero (*)



A Petrobras incomoda. Na realidade, a Petrobras sempre incomodou os conservadores do país.




Pudera. Nascida da histórica campanha nacionalista “o Petróleo é nosso”,
a Petrobras se converteu naquilo que os paleoliberais consideram
praticamente uma impossibilidade: uma empresa estatal bem-sucedida e
eficiente. Ela é um acabado contraexemplo das teses antiestatais e
antidesenvolvimentistas que sustentavam o fracassado paradigma
privatizante e liberalizante que ruiu no início deste século.



.




Assim, a Petrobras é anátema, nos cânones do (paleo)neoliberalismo
tupiniquim. Não deveria existir, mas existe. Não deveria fazer sucesso,
mas faz. A Petrobras é a maior e mais bem-sucedida empresa do Brasil.



No início, há 60 anos, diziam que o Brasil não tinha petróleo.
Convenientes estudos de geólogos estrangeiros asseguravam que não havia
jazidas de óleo em território nacional. A Petrobras, portanto, não fazia
muito sentido.



Mas ela perseverou e acabou descobrindo, graças a um enorme esforço de
pesquisa, jazidas significativas de petróleo e gás em nosso leito
marítimo. Primeiro no Nordeste; depois na Bacia de Campos. Tais jazidas,
situadas no que hoje se conhece como pós-sal, contribuíram para
diminuir bastante a nossa dependência de importações de hidrocarbonetos.



Mesmo assim, as ofensivas contra a grande estatal brasileira
continuaram. No governo Collor, o Credit Suisse chegou a apresentar um
plano para privatizar a Petrobras. O plano privatizava a companhia por
partes. Primeiro, se venderiam as suas subsidiárias, o que, de fato,
ocorreu posteriormente. Depois, a holding seria fatiada em unidades de
negócio, as quais seriam privatizadas, em seguida.



No entanto, foi no governo FHC, que essas ofensivas se intensificaram e se concretizaram parcialmente.



Com efeito, foi naquele governo que se promulgou a famosa Lei nº 9478/97. Essa norma produziu duas grandes consequências.





Em primeiro lugar, a Petrobrás abriu seu capital social para
investidores estrangeiros. Assim, a estatal teve 36% de suas ações
vendidas na Bolsa de Nova Iorque. Com isso, a União reduziu a sua
participação acionária de cerca de 60% para 32,53% do capital social
total. Ressalte-se que essa operação não representou o ingresso de
recursos para a Petrobras, mas proporcionou na época o aumento na sua
base acionária, principalmente no estrangeiro.



Com tal venda, a Petrobrás teve ainda de cumprir, a partir de 2002, com a
lei americana “Sarbanes–Oxley” (SOX), uma norma bastante rigorosa, que
obriga as empresas que têm ações em bolsas norte-americanas a submeterem
as suas decisões de negócios e informações às autoridades supervisoras
do mercado bursátil dos EUA.



Dessa maneira, os presidentes de Petrobrás são obrigados a ir a Nova
Iorque para prestar contas das ações da empresa e submeter-se aos duros
questionamentos dos acionistas norte-americanos. Lembre-se que muitos
desses acionistas são associados às companhias competidoras da
Petrobrás.



Em segundo lugar, a Lei nº 9.478/97 introduziu, no Brasil, o modelo de
exploração por concessão. Conforme tal modelo, o petróleo e o gás são de
propriedade da empresa privada que os explora. O petróleo, nesse caso,
só pertence à União enquanto não estiver sendo explorado. Assim que uma
empresa começa a explorar uma jazida, pelo modelo de concessão, o
petróleo o gás passam a ser de sua propriedade. Com isso, o país perdeu o
controle estratégico da produção e comercialização de hidrocarbonetos,
pois a empresa concessionária podia fazer o que quiser com a sua jazida.
Com isso, o petróleo deixou de ser nosso.



Na realidade, a citada lei já estava preparando o terreno para uma
futura privatização da Petrobras. Chegou-se mesmo a se anunciar a
mudança de nome da Petrobras para Petrobax, de modo a facilitar a sua
internacionalização.



A gestão tucana da empresa também se esmerou, como de hábito, no
sucateamento da estatal, de forma a justificar a sua ulterior venda. Em
seus oito anos, nenhum concurso público para contratação foi realizado.
Ao final da gestão, a empresa tinha reduzido o seu quadro de
funcionários à metade. Além disso, os funcionários da empresa passaram
os oito anos de FHC sem ter qualquer reajuste salarial, sequer para
repor a inflação.



Não bastasse o sucateamento da Petrobras, toda a cadeia do petróleo, que
sustentava milhares de empresas nacionais, foi consideravelmente
desestruturada, ao longo das gestões neoliberais. No governo Collor
houve redução de redução de 30% das tarifas de importação para o setor.
No Fernando Henrique, foi criado o Repetro, que implantou um regime
aduaneiro especial para os insumos e bens destinados ao setor
petrolífero, pelo qual se isentava as empresas estrangeiras de imposto
de importação. Assim, muitos fornecedores nacionais tiveram de fechar as
portas.



Havia, portanto, um nítido processo de desregulamentação e de
desnacionalização que conduzia à privatização da Petrobras. A clara
intenção de privatizar só não se concretizou porque, na época, (2001), o
governo FHC já estava com sua popularidade no chão e a resistência dos
que defendiam a estatal foi muito grande.



Pois bem, os que enfraqueceram e tentaram privatizar a Petrobras são os
mesmos que agora usam do caso da compra da refinaria em Pasadena para
atacar a empresa e o governo.



Faz sentido, pois foram os governos do PT que reergueram a Petrobras.
Com concursos públicos, seu quadro de funcionários foi reconstituído.
Foi também reconstituído seu programa de investimentos. Hoje, a
Petrobras é a empresa que mais investe em prospecção de petróleo no
mundo. Ela também é a empresa do setor petrolífero que mais expertise
tem na prospecção em águas profundas e ultraprofundas. Devido a esse
esforço em prospecção e pesquisa, a Petrobras é a empresa brasileira que
mais gera patentes.



Graças a essa monumental iniciativa, a Petrobras encontrou os megacampos
do Pré-Sal, a maior descoberta de petróleo das últimas décadas, que
mudou inteiramente o cenário do nosso setor petrolífero.



Na realidade, a situação da Petrobras mudou da água para o vinho, ou da
água para óleo. Em 2002, ela valia apenas cerca de R$ 15 bilhões. Hoje,
ela vale R$ 184 bilhões, mesmo após a crise mundial ter reduzido
fortemente o valor de mercado das empresas petroleiras. Também foi feito
um grande esforço para recuperar as indústrias da cadeia do petróleo.
Plataformas e embarcações voltaram a ser produzidas no Brasil, o que
reergueu a nossa indústria naval, que fora destruída graças à proverbial
competência tucana.



Com a recuperação da empresa e com a nova realidade criada pelo Pré-Sal,
os governos do PT resolveram criar um novo marco regulatório para o
setor, que enterrou o modelo de concessão criado por FHC. Para os campos
do Pré-Sal, o que vale agora é o modelo de partilha. Nesse novo modelo,
o petróleo continua de propriedade da União, mesmo após a jazida ser
eventualmente explorada por uma empresa privada. A empresa apenas recebe
uma participação por seus serviços. Por conseguinte, o novo marco
regulatório assegurou que o petróleo do Pré-Sal seja realmente nosso.
Ademais, a nova norma também determinou que a Petrobras seja a operadora
privilegiada dos megacampos. O petróleo, agora abundante, voltou a ser
nosso.



É isso que incomoda. E muito. Se antes a Petrobras incomodava, hoje ela
incomoda muito mais. As empresas estrangeiras não podem mais se apossar
das megajazidas, como podiam na época de FHC. E, para explorá-las, elas
têm de se associar à Petrobras.



É por isso que ela é tão atacada. Instaurou-se um verdadeiro vale-tudo
para desacreditá-la. Diminuições conjunturais dos valores da empresa, em
função da queda dos preços do petróleo e derivados no mercado mundial,
são apresentadas como provas irrefutáveis de “má gestão”. Dívidas
contraídas para viabilizar a exploração do Pré-Sal são também encaradas
como sinais da “ruína financeira” da empresa. O irônico é que a
Petrobras não tem quaisquer dificuldades para captar recursos no
exterior. Os investidores e bancos estrangeiros têm plena confiança na
Petrobras.



Nesse vale-tudo, vale até apresentar uma simples compra malsucedida, a
da refinaria de Pasadena, como um grande escândalo nacional, com
conotação de negócio escuso.



O único “erro” da Petrobras, nesse caso, foi ter comprado, como várias
outras empresas fizeram, uma refinaria numa época em que havia um boom
do refino nos EUA, com os preços dos derivados aumentando fortemente e
com as margens de lucro disparando, especialmente para o refino de óleo
pesado, que era o único tipo de óleo que o Brasil produzia na época.
Saliente-se que o preço pago pela Petrobras foi inferior aos preços de
mercado, pois a nossa estatal adquiriu a refinaria de Pasadena pagando
um preço de U$ 7.200 por barril de refino, sendo que o preço médio das
aquisições, no período, foi de US$ 9.234 por barril de refino.



Ante tal quadro, até mesmo a tão criticada cláusula “Marlim”, que
assegurava aos sócios belgas uma rentabilidade de 6,9%, não parece tão
despropositada, pois a rentabilidade média das refinarias americanas, no
período, para o refino de óleo pesado, era de cerca de 14%. Assim, a
cláusula Marlim assegurava aos belgas da Astra cerca da metade da
rentabilidade média que havia, no período, para o refino de óleo pesado.



Outro “erro” da Petrobras foi não ter previsto a grande crise mundial, a
qual seria desencadeada dois anos depois, e a descoberta do Pré-Sal,
que mudou totalmente a estratégia de negócios da empresa. Porém, se a
Petrobras é culpada desse erro, então todas as empresas do mundo o são,
até mesmo as agências de risco, que foram criadas justamente para isso,
mas que, às vésperas da crise, davam nota AAA para os papéis podres do
mercado de derivativos.



Um deslize real foi, sem dúvida, não ter alertado os membros do Conselho
da empresa para os riscos contratuais do negócio, o que levou à
aprovação unânime da aquisição, sem todos os questionamentos possíveis.
Disso se aproveitou a nossa imprensa marota para tentar jogar o prejuízo
do negócio no colo da presidenta.



Também de forma marota, para não dizer outra coisa, a imprensa inflou
muito os números de prejuízo. Computou compra de estoques como compra da
refinaria, entre outros truques maliciosos. Na realidade, os primeiros
50% da refinaria foram comprados por US$ 196 milhões e os 50% restantes
por US$ 296 milhões, o que dá um total de US$ 492 milhões. Se a esse
total somarmos os US$ 173 milhões dos custos jurídicos, administrativos e
bancários da aquisição chegaremos a um dispêndio de US$ 665 milhões.



Mas a grande “marotice” é falar apenas do “ralo” e não falar da
“torneira”. Sim, porque a refinaria não parou de funcionar, a não ser
por curto período devido a um incêndio. O ex-presidente da Petrobras,
Sérgio Gabrielli, estima que a refinaria, supondo uma operação de apenas
75% de sua capacidade, e supondo ainda uma rentabilidade nula, em
relação ao barril Brent, tenha faturado cerca de US$ 16 bilhões, entre
2006 e 2012.



Não temos dados sobre a contabilidade específica da refinaria, mas,
mesmo supondo uma rentabilidade negativa em 2008 e 2009, auge da crise, é
muito provável que o prejuízo com a compra de Pasadena já tenha sido
inteiramente amortizado, ou esteja em vias de sê-lo.



Foi por isso, aliás, que a Petrobras montou, em 2010, uma estratégia
para aumentar a capacidade de refino da sua unidade em Pasadena,
estrategicamente localizada no “canal de Houston”, de 100 mil barris/dia
para 200 mil barris/dia.



Esses são os dados verdadeiros sobre o assunto. Mas, como a Petrobras
incomoda os conservadores, e o governo do PT mais ainda, não incomoda à
oposição e à mídia conservadora atacar a imagem da maior empresa
brasileira e, como se diz popularmente, “procurar chifre em cavalo”.



Essa falta de compromisso com o Brasil é o que mais incomoda.




(*) Marcelo Zero é cientista social formado pela UNB e assessor legislativo do Partido dos Trabalhadores

segunda-feira, 24 de março de 2014

Avanço tecnológico desafia capitalismo - Link Estadão – Cultura Digital - Estadao.com.br

Avanço tecnológico desafia capitalismo - Link Estadão – Cultura Digital - Estadao.com.br



Jeremy Rifkin

The New York Times


Estamos começando a testemunhar um paradoxo no coração do
capitalismo. O dinamismo inerente de mercados competidores está baixando
de tal forma os custos que muitos bens e serviços estão se tornando
quase gratuitos, abundantes, e não mais sujeitos às forças do mercado. A
revolução tecnológica está trazendo esses custos a quase zero.


Os primeiros indícios do paradoxo surgiram em 1999 quando o Napster
desenvolveu uma rede permitindo que milhões de pessoas compartilhassem
música de graça, causando estragos na indústria musical. Fenômenos
parecidos abalaram seriamente as indústrias de publicação de jornais e
livros.


A enorme redução dos custos marginais abalou esses setores e agora
está começando a remodelar o setor de energia, a indústria de
transformação e a educação. Apesar de os custos fixos da tecnologia de
energia solar e eólica serem um tanto salgados, o custo de capturar cada
unidade de energia depois de instalada é baixo. Este fenômeno penetrou
até no setor manufatureiro. Milhares de amadores estão fazendo seus
próprios produtos com impressoras de 3-D, software aberto e plástico
reciclado como matéria-prima a um custo quase zero.

Por sua vez, mais de 6 milhões de estudantes estão matriculados em
cursos online cujo conteúdo é distribuído a um custo marginal quase
zero.


Observadores do setor reconhecem a realidade assustadora de uma
economia com custo marginal quase zero, mas argumentam que produtos e
serviços gratuitos atrairão um número suficiente de consumidores para
comprar bens e serviços mais sofisticados, assegurando margens de lucros
suficientes. Mas o número de pessoas dispostas a pagar pelos bens e
serviços especiais é limitado.


Internet das coisas. Agora, o fenômeno está prestes a afetar a
economia como um todo. Uma formidável nova infraestrutura de tecnologia –
a internet das coisas – está surgindo com o potencial de empurrar boa
parte da vida econômica para um custo marginal quase zero nas próximas
duas décadas. Esta nova plataforma tecnológica está começando a conectar
tudo e todos. Hoje, mais de 11 bilhões de sensores estão afixado em
recursos naturais, linhas de produção, a rede elétrica, redes logísticas
e fluxos de reciclagem, e implantados em casas, escritórios, lojas e
veículos, alimentando uma enormidade de dados na internet de coisas. Em
2020, segundo projeções, seriam pelos menos 50 bilhões os sensores a ela
conectados.


A questão não resolvida é como esta economia do futuro funcionará
quando milhões de pessoas puderem fazer e compartilhar bens e serviços
quase de graça? A resposta está na sociedade civil, que consiste de
organizações sem fins lucrativos que atendem às coisas na vida que
fazemos e compartilhamos como comunidade. Em termos monetários, são uma
força poderosa. As receitas dessas organizações cresceram sólidos 41% de
2000 a 2010, mais que o dobro do crescimento do Produto Interno Bruto,
que cresceu 16,4% no mesmo período. Em 2012, o setor sem fins lucrativos
nos Estados Unidos respondeu por 5,5% do PIB.


Inclusão


O que torna a comunidade social mais relevante hoje é que estamos
construindo uma infraestrutura de internet das coisas que aprimora
colaboração e acesso universal, cruciais para a criação de capital
social e marcar o início de uma economia solidária.


Esta abordagem colaborativa em vez de capitalista diz respeito mais
ao acesso compartilhado que à propriedade privada. Por exemplo, 1,7
milhão de pessoas em todo o mundo integram serviços de compartilhamento
de carros. Uma pesquisa recente revelou que o número de veículos
possuídos por participantes desse sistema caiu pela metade após sua
adesão o serviço, pois os membros preferiram acesso em vez de
propriedade. Milhões de pessoas estão usando sites de mídias sociais,
redes de redistribuição, aluguéis e cooperativas para compartilhar não
somente carros, mas também casas, roupas, ferramentas, brinquedos e
outros itens, a um custo marginal baixo ou quase nulo. A economia
solidária teve receitas projetadas de US$ 3,5 bilhões em 2013.


O fenômeno do custo marginal nulo é particularmente impactante no
mercado de trabalho, onde fábricas e escritórios sem trabalhadores,
varejo virtual e redes automatizadas de logística e transporte estão
prevalecendo. Não surpreende que as novas oportunidades de emprego
estejam na comunidade cooperativa em campos que tendem a ser não
lucrativos e fortalecem a infraestrutura social – educação, saúde, ajuda
aos pobres, recuperação ambiental, atendimento infantil e atendimento a
idosos, promoção das artes e recreação.


Nos Estados Unidos, o número de organizações sem fins lucrativos
cresceu aproximadamente 25% entre 2001 e 2011, de 1,3 milhão para 1,6
milhão, enquanto as empresas com fins lucrativos cresceram apenas 0,5%.
Nos EUA , Canadá e Grã-Bretanha, o emprego no setor sem fins lucrativos
excede 10% da força de trabalho.


O sistema capitalista deve permanecer entre nós por muito tempo,
ainda que com um papel mais delimitado, principalmente como agregador de
serviços e soluções de rede e prosperando como um poderoso operador de
nicho. Entramos em um mundo parcialmente fora dos mercados, onde estamos
aprendendo a viver numa comunidade cada vez mais interdependente,
cooperativa e global. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Os incêndios pós modernos do Reichstag - Carta Maior

Os incêndios pós modernos do Reichstag - Carta Maior

 Tarso Genro (*)





Ramiro Furquim/Sul21



Não fosse a importância das
duas personalidades envolvidas - Ministro Presidente do Supremo Joaquim
Barbosa e o jornalista Ricardo Noblat - passaria desapercebida a notícia
de que o primeiro acusa o segundo, perante os Tribunais,  de ter
cometido, em artigo largamente difundido pela mídia nativa,  crime
contra a sua honra, combinado com crime de natureza racial. 

Noblat
escrevera que “há negros que padecem de complexo de inferioridade.
Outros assumem uma postura radicalmente oposta para enfrentar a
discriminação”, aduzindo ainda, que  Joaquim Barbosa não teria sido
escolhido para o Supremo particularmente pelas suas qualidades
jurídicas, mas por ser “negro”. Uma frase, aliás, incompatível com a
coincidência, na figura do Ministro Barbosa (que é negro e  jurista
renomado), dos dois atributos alinhados por Noblat.

No seu texto,
no mínimo infeliz (embora distante de ser doloso em termos penais), 
Noblat deixou-se levar mais pelas tarefas políticas que desempenha com
rara eficiência no seu antilulismo e antipetismo explícito e menos pela
isenção jornalística. Com formação e  doutorado em Universidades de
primeira grandeza, concordemos ou não com  as suas posições
doutrinárias, o Ministro Joaquim Barbosa não está menos preparado do que
a média dos seus  pares, para ser Ministro do nosso Supremo.

Ambos,
Barbosa e Noblat, tiveram um protagonismo importante no último período
do julgamento da ação penal 470: o primeiro, como duro Ministro Relator
do processo, tornando-se um símbolo do “ativismo judicial”,  que hoje
caracteriza praticamente todas as instâncias deste Poder, até há pouco
bastante refratário às luzes midiáticas; o segundo, como uma espécie de
organizador ideológico do massacre midiático a que foram submetidos os 
“quadrilheiros” do mensalão,  aliás absolvidos do crime de formação de
quadrilha, epílogo que joga para a ilegalidade todas as acusações desta
natureza, que receberam da mídia tradicional.

Independentemente
do juízo que tenhamos sobre as opiniões e argumentos destas figuras
importantes do cenário político nacional devemos, mais além de respeitar
as suas trajetórias dentro do jogo democrático, procurar no cenário da
disputa que se abre entre ambos, algo de universal nas suas condutas.
Isso é útil para nos situar em que pé estamos no processo da revolução
democrática em nosso país, cujo marco jurídico mais importante é a
Constituição do 88.

Lembremos que o Ministro Barbosa, mais de uma
vez, disse que a mídia brasileira é de  direita e desentendeu-se com
jornalistas que - passada a fase em que o incensavam pela sua conduta na
ação penal 470  (tornando-o uma espécie de ídolo da moralidade
anti-política) - supunham que ele poderia ser  candidato do mesmo
complexo midiático-direitista, que não cansava de promovê-lo. Causou,
assim, uma mal-disfarçada decepção nos seus propagandistas, tanto  do
campo conservador clássico, como daqueles que apostavam que o moralismo
udenista redivivo, proporcionaria uma restauração neoliberal plena em
nosso país. O narcisismo absolutista da mídia nacional deu lugar a uma
“decepção de resultados”: os que sabem tudo e são incriticáveis 
defrontaram-se com a sua própria ineficiência política.

Está
dando tudo errado. Então as raivas trocam de endereço e o Ministro
Barbosa vira alvo. Precisamos entender a sofisticação desta “troca de
alvo”,  que se tornou agressiva no texto de Noblat. Ela é simbólica de
um processo de ruptura do bloco político espontâneo que se formou para
massacrar Lula e o PT, no  contexto de uma ação penal que foi,
paulatinamente,  transformando-se  num  processo  de julgamento da
política em geral e dos governos Lula, em particular.

Para nós,
da maioria de  esquerda que esteve e está comprometida com a República e
a Democracia e com os avanços conseguidos com os governos Lula e
Dilma,  não se trata de ficar a favor de Noblat ou do Ministro Barbosa,
no contexto atual, embora tenhamos as nossas convicções. Trata-se  de
entender que estamos - a partir das últimas decisões do STF e das
queimações contra o Ministro Barbosa - numa nova etapa da luta política
no país. Nela, as instituições da Constituição de 88 podem recuperar a
sua credibilidade democrática e republicana ou perdê-la para sempre.

Não
concordei com várias das posições do Ministro Barbosa na direção
daquela ação penal, mas reconheço que, quando ele acertou em relação aos
sacerdotes da comunicação no país, cometeu dois erros graves na
apreciação da grande mídia. Estes “erros” é que proporcionaram os
ataques que ele vem sofrendo. Quais são?  Primeiro, disse que a grande
mídia é , na  sua maioria, direitista; e, segundo, não permitiu a 
socialização imediata do seu prestígio para a direita udenista
conservadora e/ou neoliberal, no processo eleitoral em curso.

Toda
a aura de restauração da dignidade das instituições que a grande mídia
promoveu, através do Ministro Barbosa, revelou-se assim insossa e  sem
consequências eleitorais e não contou, nem com a cumplicidade da maioria
do Supremo (que não manteve o crime de “formação de quadrilha”), nem
com a aceitação decisiva do Ministro Barbosa  (que não se deixou
instrumentalizar como candidato-produto ), como fez o Presidente Collor
no passado. 

Mas, em que contexto se dá essa desavença? No
contexto em que dois grandes fatos políticos nacionais, com reflexos
globais, o “mensalão mineiro” (lembrem-se, não é “mensalão tucano”),  e o
caso “Alston” (lembrem-se, é a  empresa “Alston”, não é o PSDB), estão
sendo substituídos no debate político pautado pela mídia tradicional,
por um feroz ataque ao Governo Dilma. Ataque em três frentes: os
problemas do setor elétrico, a tentativa de desvalorização política e
financeira da Petrobras e do BNDES e a suposta debilidade das contas
públicas nacionais.

Tudo isso ocorre num contexto de
transferência dos efeitos da crise - ou melhor aprofundamento da
transferência da crise financeira do capitalismo global - para que  os
BRICS e os países da periferia paguem a conta. E o façam enfraquecendo
as suas moedas e assumindo -ainda que em alguns casos através de doses
homeopáticas- políticas ortodoxas de controle inflacionário. A correia
de transmissão destas políticas é a captura do Estado pela dívida
pública; o método é a submissão no intercâmbio comercial do mercado
global; a finalidade é municiar, politicamente,  os países ricos para a
guerra imediata contra as moedas  fracas.

Ao criar um quadro de
desvalorização dos ativos estatais, como são as suas empresas e  os seus
bancos, como a Petrobras e o BNDES, ao  brandir o fantasma da inflação,
ao enfraquecer as políticas de desenvolvimento do Governo - abalando
assim o seu prestígio político internacional - o que a oposição de
direita pretende é construir o espectro da inadimplência da dívida
externa e estimular, mais uma vez, que os juros subam de forma
artificial, para dar maior potência à ciranda especulativa.

Algo,
porém, não se ajusta. Paul Krugman disse recentemente que o Brasil, ao
contrário do que apregoa o FED, não é mais vulnerável como no passado e
que não se deve esperar dos EUA políticas que não sejam de interesse da
sua exclusiva necessidade para recuperar a própria economia americana. 
No segundo mês deste ano criamos 111% a mais de empregos no país do que o
mesmo mês de 2013.

O crescimento do Brasil, no ano passado,
demonstrou-se razoável na comparação com o crescimento dos principais
países mais industrializados mundo. As grandes jornadas de junho - que
partiram de necessidades reais das grandes massas de moradores nas
grandes regiões metropolitanas em busca de melhor saúde e transporte-
depois de devidamente “glamourizadas” pela mídia como um movimento da
classe média conservadora contra a “corrupção”,  perderam potência e
transformaram-se em escassas cenas de “ação direta”.  Ficaram, então, 
sem a presença das classes trabalhadoras e dos setores médios
dependentes da qualidade destes serviços.

Neste cenário,  o
preocupante não é sequer as eleições de 2014, já que elas são precedidas
de um amplo debate público através das mídias, garantido pela
legislação eleitoral. O preocupante é  a impotência da esquerda e do
centro democrático  reformista,  para se opor a esta ofensiva no próximo
período. Nele, ao que tudo indica,  o jogo democrático ficará mais
bloqueado. O Poder Judiciário sofrerá ainda mais pressões para
adaptar-se às reformas neoliberais  contra as políticas públicas
democráticas realizadas nos últimos dez anos e a reforma política
permanecerá excluída da agenda do país. A secundarização da reforma
política é um verdadeiro suicídio que vem sendo cometido pela “classe
política”, como a sociologia vulgar denomina a representação e os
partidos tradicionais.

A substituição da tentativa do controle
das decisões do Supremo, pela grande mídia,  por um ataque direto ao
Estado, para enfraquecê-lo no cenário global (que hoje induz a
interdependências extremas), permanecerá,  ao longo deste ano, como
questão dominante no cenário eleitoral. A crise singular - um racha
imprevisto - entre a imprensa representada por Noblat e o Ministro
Barbosa, como um dos expoentes do Supremo,  embora tenha o sabor de uma
disputa entre indivíduos, é indicativa de uma mudança na estratégia da
direita

Num primeiro momento ela capturou o Supremo e utilizou um
processo penal  para condenar sem provas e seduzir o povo, pois afinal
estávamos “terminando com os corruptos e a corrupção”. O “mensalão
mineiro” e a “Alston” vem atrapalhando? Bem, passemos para outra
estratégia: é o segundo momento. A grande mídia muda de foco e passa a
denunciar que o Estado, em termos orçamentário-financeiros,  está em
crise aguda - Petrobras, setor elétrico, retorno da inflação -  
aprimorando-se em forjar “notas” nas agências picaretas  para
desmoralizar o Governo e preparar qualquer  um para ganhar as eleições
de 14, menos Dilma com o PT. E agora? As pesquisas não respondem!

A
desigualdade para a circulação da opinião conseguiu combinar-se  com a
liberdade de imprensa na pós-modernidade brasileira, estruturada sobre a
fragmentação da velha sociedade de classes. A separação de
representantes e representados, a desarticulação dos sujeitos políticos
tradicionais, a “guetização”  dos movimentos sociais, permite que as
classes ricas no cenário mundial, abrigadas no poder do capital
financeiro especulativo (que não precisa do trabalho para
reproduzir-se),  promovam sucessivos incêndios simbólicos do Reichstag. 
No seu final, não nos iludamos, estará, à espreita  o apelo às
ditaduras ou a governos expeditos, tecnocráticos, “técnicos”. Os que
dispensem as mediações da política para governar.

A concepção
tradicional do pacto democrático moderno, que “a liberdade de um vai até
onde inicia a liberdade do outro”, verdadeiramente não funciona mais.
Pelo menos nas democracias mais jovens, em países desiguais em poder e
influência como o nosso Brasil. Os limites da nossa liberdade de
disputar em condições de igualdade contra a hegemonia da mídia dominante
- que trocou o debate político  pela divulgação histérica do crime e da
violência e substituiu a informação pela ideologia da crise permanente -
está incendiando as fronteiras da democracia.

Lembremos que a
verdadeira liberdade necessita do “outro” para expressar-se. O “outro”
somos nós - a esquerda que participa do Governo do país  (que é um
governo centrista, progressista e democrático) - e igualmente aquela
esquerda  que não participa do Governo. Nós  somos, não um limite mas
uma condição necessária para o exercício da liberdade: o limite da
democracia na pós-modernidade latino-americano e tardia, é a captura do
Estado pelo capital financeiro e é isso que hoje sufoca a  democracia no
Brasil e que está em jogo no  processo  eleitoral que se avizinha.

Seria
muito bom que os partidos de esquerda entendessem este dilema e
incidissem sobre o Governo para sustentá-lo de forma mais unitária e
organizada. Menos preocupados com as ansiedades eleitorais imediatas e
mais preocupados em não permitir simbólicos incêndios do Reichstag. O
falso recado de que a economia e o Estado estão em crise final é a arma
mais potente da oposição e dos eduardos em evidência.  Seria importante
também que, quem coordena politicamente o Governo Dilma, se abrisse para
um diálogo político mais amplo do que o circunscrito pela conjuntura de
extorsão, originária da “política de resultados” do centrão renascido.

Lucio
Magri relata no seu memorável livro “O alfaiate de Ulm”, testemunho e
história meticulosa do comunismo italiano e da decadência
social-democrata, um fato simbólico inspirado num apólogo de Brecht. Um
artesão, vidrado pela idéia de voar, apresentou-se ao bispo  da sua
região, anunciando que tinha inventado um aparelho para tal. O bispo,
certamente irônico e pragmático, levou-o à torre do Palácio e desafiou-o
a demonstrar. O pobre artesão, que era um alfaiate, lançou-se no espaço
espatifou-se no chão. Foi derrotado, mas séculos depois o homem cruzou
os ares. O homem podia voar. Ele estava certo. O bispo estava errado.
Embora a história seja “dramática e custosa”, como diz Magri, as idéias
ousadas podem vencer e se impor. Para vencer as eleições e governar com
novos avanços na revolução democrática precisamos da grandeza do
alfaiate de Ulm. 

(*) Governador do Rio Grande do Sul

Exclusivo! Documentos comprovam que Astra pagou mais por Pasadena! | O Cafezinho

Exclusivo! Documentos comprovam que Astra pagou mais por Pasadena! | O Cafezinho

 
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Exclusivo! Documentos comprovam que Astra pagou mais por Pasadena!
Enviado por Miguel do Rosário on 24/03/2014 – 4:52 pm 11 comentários
Consegui, finalmente, a confirmação do preço de US$ 42,5 milhões pagos pela Astra pela refinaria de Pasadena em 2005. Um dos documentos obtidos com exclusividade pelo Cafezinho deixa bem claro, todavia, que o valor total investido foi bem além dos US$ 42,5, porque não este preço não inclui os estoques, nem considera a dívida líquida da empresa, que era de US$ 196,7 milhões em 2003.
O blog teve acesso a dois documentos. Um deles é uma análise da Jefferies, uma conceituada corretora de valores com escritórios em Nova York, Europa e Hong Kong.


O trecho acima relata que, no dia 22 de outubro de 2004, a Crown (então proprietária da refinaria) assinou um acordo com a Pasadena Refining Systems, Inc (empresa criada pela Astra para tocar o negócio) para vender a refinaria por US$ 42,5 milhões, MAIS O VALOR DO PETRÓLEO E DOS DERIVADOS EM ESTOQUE NA DATA DO FECHAMENTO.
O relatório da Jefferies qualifica a refinaria como um ativo “strong buy”, ou seja, era uma oportunidade excelente de compra.
Não posso deixar de comentar, contudo, que o autor do relatório, Greg Imbruce, tem uma mancha. Imbruce, alguns anos mais tarde, seria acusado de inúmeras fraudes contra o sistema financeiro. Mas isso acontece quando ele vai trabalhar em outra empresa, a Madoff, que ficaria famosa por suas fraudes contra celebridades. Aqui Imbruce (assim espero) é apenas mais um analista financeiro da Jefferies, compilando dados da refinaria de Pasadena e sugerindo que se tratava de uma boa opção de compra. Na época, o Citibank também emitia notas otimistas para quem comprasse ações da refinaria de Pasadena.
Desconsideremos, portanto, o histórico posterior de Imbruce, até porque vamos nos ater aqui apenas a dados, que podemos confirmar em outras fontes. E a Jefferies é uma empresa séria, que resistiu aos últimos terremotos financeiros que abalaram o mundo, e continua firme e forte.
O relatório traz, por exemplo, uma tabelinha com o desempenho financeiro da refinaria em 2003 e estimativas para 2004 e 2005.

Desempenho da refinaria de Pasadena, de 2003 a 2005.

EBITDA é a sigla de “Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization”, que significa “Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”, em português. Pela tabela, observa-se que Pasadena, em seu pior momento, gerou lucro de US$ 2,8 milhões. Para 2004 e 2005, a expectativa era de um aumento forte nos lucros e também redução da dívida.
Em 2003, a dívida da refinaria correspondia a 70 vezes o seu lucro; em 2004, essa relação cairia para 3,4; no ano seguinte, para 2,7.
A refinaria tinha uma dívida líquida de quase US$ 200 milhões em 2003. Ora, diante desta informação, a pergunta certa a fazer é: a Astra herdou essa dívida? Para mim, está claro que sim, já que se tornou proprietária integral da companhia.
Sendo assim, o custo para a Astra, ao adquirir Pasadena, deve incluir também a integração desta dívida.
E hoje, no jornal Valor, em matéria intitulada “Muitas questões e algumas respostas sobre o caso da refinaria de Pasadena“, há pelo menos uma informação nova.
A operação montada pela Astra para comprar a refinaria de Pasadena incluiu também a capitalização da nova empresa formada, a Astra Oil Trading, com US$ 300 milhões. Nesta capitalização estão incluídos, aparentemente (termo usado pelo Valor), os estoques.
Sendo assim, a Astra investiu os seguintes valores em Pasadena:
- US$ 42,5 milhões para adquirir o controle acionário da refinaria.
- Custo não informado para adquirir os estoques.
- Integração de US$ 197 milhões em dívidas.
- US$ 300 milhões para capitalizar a trading que comercializaria os produtos da refinaria.
- US$ 100 milhões para reduzir a emissão de enxofre e adaptar a refinaria às exigências ambientais do Estado (esse custo, aparentemente, seria repartido com a Petrobrás).
Segundo o Valor, a companhia valia US$ 678 milhões em 2006, incluindo estoques.
Em 2012, quando perde a disputa judicial na Corte de Arbitragem de Nova York, a Petrobrás terá pago, para ficar com 100% da companhia, um total de US$ 825 milhões. Outros US$ 355 milhões foram gastos com multas, juros, honorários e despesas processuais.
O total gasto pela estatal brasileira em Pasadena ficou em US$ 1,18 bilhão.

O outro documento a que tivemos acesso exclusivo é o relatório da NPM/CNP, o grupo que controla todas as companhias da família Frére, incluindo a Astra.
O trecho que menciona o preço pago:

No mesmo documento, informa-se que a Astra comprou, ainda em 2006, um outra refinaria, menor, com capacidade para processar apenas 38 mil barris por dia, pagando US$ 200 milhões.

Voltando ao relatório da Jefferies, ele traz o histórico da Crown, com informações essenciais para se entender o preço pedido por ela por sua refinaria em Pasadena:

O texto acima, em resumo, revela o seguinte:
1) A Crown pertencia aos Rosenberg, que a controlavam através da empresa Rosemore, a qual, por sua vez, estava em processo de liquidação desde 2003. Por isso, os ativos estavam sendo vendidos a preços abaixo do mercado, porque a família estava precisando pagar suas dívidas. Só a refinaria de Pasadena tinha uma dívida de US$ 200 milhões. Não é de se espantar, portanto, que os Rosenberg estivessem ansiosos para vendê-la e dispostos a aceitar qualquer oferta razoável que os livrassem daquele peso.
2) Por outro lado, a Astra não compraria uma refinaria tão endividada se não a considerasse um bom negócio. Um palpite é que boa parte daquelas dívidas era com fornecedores, e que poderiam ser pagas com venda dos estoques e produção. A dívida pode explicar também os US$ 300 milhões que a Astra investiu na capitalização da trading que cuidaria dos negócios da refinaria.
3) Em 2003, seu pior ano, a refinaria de Pasadena refinou em média 76.075 barris por dia, o que correspondia a 76% de sua capacidade, estimada em 100 mil barris por dia (outras estimativas falam e 120 mil por dia).
4) O índice para avaliar o grau de produtividade e modernização de uma refinaria de petróleo é o Nelson Complexity Index. Quanto mais alto o índice, melhor. O de Pasadena era estimado, em 2004, em 8,4. O índice é inferior à média das refinarias americanas, que é de 9,5. Mas é bem acima da média das europeias. No mundo inteiro, a média é de 5,9. Na América Latina, é de 4,7. Considerando que Pasadena é uma refinaria de tamanho médio, e extremamente bem localizada, contando com uma rede comercial e logística estruturada ao longo de seus quase 100 anos de existência, o índice 8,4 me parece bastante razoável. Mais uma prova que Pasadena jamais foi uma “sucata”, conforme os críticos da Petrobrás querem nos fazer acreditar.

Abaixo, trechos de matéria do Valor que considero pertinentes para se entender o imbróglio. Nela, citam-se exemplos de outras aquisições feitas na mesma época, e fica claro que o preço pago pela Petrobrás não era abusivo. Ao contrário, estava inclusive bem abaixo da média de mercado, o que é explicável pelo fato da refinaria ainda não ter completado o processo de adaptação às novas exigências ambientais do governo.
A matéria do Valor também explica, em parte, a cláusula Marlim, que era uma forma da Astra se garantir contra riscos advindos da decisão da Petrobrás de fazer uma verdadeira reviravolta na refinaria, adaptando-a para processar óleos pesados da Bacia de Campos. Outra explicação para a cláusula Marlim é uma compensação para um possível conflito de interesses entre uma empresa fundamentalmente voltada para a produção, como a Petrobrás, e outra focada na comercialização, como a Astra.
*
VALOR
Muitas questões e algumas respostas sobre o caso da refinaria de Pasadena (trechos).
Por Cláudia Schüffner e Fernando Torres | Do Rio e de São Paulo
Quanto a Petrobras pagou pela refinaria?
Embora o desembolso total da estatal com o negócio tenha sido de US$ 1,18 bilhão, esse não foi o valor pago pelo “ativo refinaria”. Pela primeira metade das ações da unidade, a Petrobras diz que pagou, em fevereiro de 2006, US$ 189 milhões. O valor era metade da avaliação feita por 100% do ativo, de US$ 378 milhões, que constava em contrato, e que se compara aos US$ 42,5 milhões pagos pela belga Astra Oil Trading (que depois mudou de nome para Transcor Astra) um ano antes. Soma-se a isso mais US$ 300 milhões, que era o capital investido pela futura sócia na trading (braço comercial da refinaria), que aparentemente eram estoques, e chega-se a um valor de referência de US$ 678 milhões para refinaria e trading, com estoques.
Segundo a versão da Petrobras, além dos US$ 189 milhões, mais US$ 170 milhões teriam sido pagos, também em fevereiro de 2006, por metade dos estoques que estavam na trading na época. (esse valor não coincide exatamente com metade dos US$ 300 milhões citados no contrato, gerando uma diferença de US$ 20 milhões a ser esclarecida).
Após a disputa com o sócio, a corte arbitral determinou, em abril de 2009, que a Petrobras teria que pagar US$ 296 milhões pela outra metade das ações da refinaria (não fica claro porque o valor subiu 56% em relação ao desembolsado pela primeira metade, e se isso tem a ver com as cláusulas do contrato) e mais US$ 170 milhões referentes à segunda metade dos estoques existentes em julho de 2008, além de outros ajustes.
Assim, pelo “ativo refinaria” teriam sido pagos US$ 485 milhões e, incluindo os estoques de US$ 340 milhões, chega-se a um valor de US$ 825 milhões para o negócio. O restante, de US$ 355 milhões, foi pago em multas, juros e reembolsos com honorários motivados pela disputa arbitral, que não estão bem detalhados.
À Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado nos EUA, a Petrobras disse que pagou US$ 416 milhões pela primeira parcela da refinaria, valor distinto do informado no Brasil.
[Nota Cafezinho: foi informado sim, está no relatório da Petrobrás de 2006:

].
Por que a refinaria é avaliada hoje em menos de US$ 200 milhões?
Pouco antes da crise de 2008, o mercado de refino de petróleo viveu uma fase de ouro, com o petróleo batendo recorde e as margens das refinarias nas alturas, o que esticou demais os preços dos ativos. Foi exatamente com essa perspectiva que a compra foi fechada.
Após a queda do Lehman Brothers, tudo mudou. Reportagens da imprensa internacional citam casos em que houve queda de 80% no valor das refinarias americanas depois da crise. Como referência, a Valero Energy, maior empresa independente do setor de refino dos EUA, viu o valor de sua ação sair de US$ 63 em abril de 2006, perto do fechamento do negócio em Pasadena, para menos de US$ 15 em 2010 (queda de 76%). Atualmente, a ação está perto de US$ 50.
O que explica o salto do valor da refinaria de US$ 42,5 milhões em 2005 para US$ 378 milhões em 2006, sem os estoques?
Essa pergunta continua sem resposta. Mas o preço que mais parece fora de lugar é o primeiro, conseguido na negociação da belga Astra com a antiga dona da refinaria, a Crown Refinery, que tentava se desfazer do ativo desde 2001 e fechou negócio em 2005. A Petrobras diz, em sua defesa, que, logo depois da compra, a Astra investiu mais US$ 84 milhões no negócio, o que elevaria o total gasto pela belga para US$ 126 milhões. Ainda assim, o valor está bem abaixo da avaliação inicial de US$ 378 milhões da refinaria (sem estoques) feita em 2006.
Qual era a média de preço de uma refinaria quando a Petrobras fez a aquisição?
Ao se considerar os US$ 378 milhões de avaliação para 100% da refinaria de Pasadena previstos na negociação de fevereiro de 2006, a compra da Petrobras teria sido fechada com um múltiplo de US$ 3,78 mil por barril. Contando o desembolso de US$ 360 milhões (incluindo os estoques), o múltiplo sobe a US$ 7,2 mil.
Em março de 2006, um mês depois de vender 50% de Pasadena para a Petrobras, a própria Transcor Astra comprou outra refinaria nos EUA, na região de Seattle, pagando US$ 200 milhões, para uma capacidade de refino de 38 mil barris por dia, com múltiplo de US$ 5,2 mil por barril. Com essa referência, chegar-se-ia a um valor de US$ 526 milhões para 100% da refinaria texana comprada pela estatal brasileira na mesma época. Em maio de 2005, a americana Valero vendeu uma refinaria antiga em Denver (que precisaria de investimentos para reduzir o nível de enxofre dos derivados) por US$ 30 milhões, com capacidade de refino de 30 mil barris, com múltiplo de US$ 1 mil. Em agosto de 2006, o fundo canadense Harvest Energy comprou uma refinaria de 115 mil barris diários por US$ 1,6 bilhão, com múltiplo de US$ 13,9 mil por barril. Na operação da Astra com a Crown, o múltiplo ficou em apenas US$ 425 por barril, o mais barato.
O que mais parece estranho em relação aos preços?
A informação sobre o preço de compra da refinaria de Pasadena pela Astra, de US$ 42,5 milhões, aparece em um relatório anual da CNP (Compagnie Nationale à Portefeuille), empresa belga que controla a Transcor Energy, referente ao ano de 2005. A CNP, cujo site está fora do ar, pertence ao bilionário belga Albert Frère.
No ano seguinte, a CNP disse em seu relatório anual que conseguiu vender 50% da refinaria de Pasadena para a Petrobras, por US$ 330 milhões, o que lhe daria um lucro de US$ 150 milhões a US$ 180 milhões após impostos. Segundo a empresa, esse seria um ganho fora de “qualquer expectativa razoável”, trecho esse que foi destacado em relatório do TCU que investigou a aquisição. Passado mais um ano, contudo, a mesma CNP diz no relatório anual de 2006 que a venda dos 50% da refinaria para a Petrobras lhe deu um lucro de 75 milhões de euros (US$ 93 milhões da época). Por que o lucro ficou em metade do previsto?
A CNP menciona ainda, em seu relatório, que tinha direito a uma “alocação especial”, pelo seu relacionamento no mercado de trading, que lhe garantiria um retorno de 25 milhões de euros em 2007 e mais 17 milhões de euros em 2008, além da sua fatia de lucro na joint venture. A Petrobras não cita isso em seus comunicados, mas talvez isso explique o valor da segunda metade do negócio.
O que é a cláusula Marlim?
(…)
Essa cláusula garantiria retorno de 6,9% ao ano para a sócia belga, caso a Petrobras tivesse levado adiante seu plano de transformar a refinaria de Pasadena, para que ela processasse petróleo pesado, extraído do campo de Marlim, e não mais óleo leve, conforme seu projeto original. Esse tipo de transformação é chamado de “revamp”, uma modernização que inclui equipamentos mais caros, capazes de transformar óleo pesado (e portanto mais “pobre”) em diversos combustíveis, aumentando a margem. O retorno de 6,9% seria garantido com o ajuste do preço de venda do petróleo bruto da Petrobras para a refinaria. Ou seja, o petróleo seria vendido a preço de mercado. Mas caso fosse necessário, a Petrobras teria que reduzir o preço de venda para assegurar esse retorno para sua sócia na refinaria.
Em tese, como a mudança de configuração da unidade era do interesse da Petrobras, mas não necessariamente da Transcor Astra, que é focada no negócio de trading, a estatal brasileira teria oferecido essa garantia para “convencer” a sócia belga de que seria uma boa estratégia.
Contudo, como a mudança nunca foi feita, já que a Petrobras mudou de planos após a descoberta de viabilidade econômica do pré-sal, a cláusula nunca deveria ter sido aplicada. Não fica claro, entretanto, se ela de alguma forma influenciou a determinação do preço pela Petrobras pela segunda metade da refinaria. A estatal brasileira disse ao TCU que não.


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