domingo, 9 de março de 2014

A Corte da casa-grande — CartaCapital

A Corte da casa-grande — CartaCapital



De como a politização da Justiça comece nas nossas cabeças 
 





por Mino Carta







publicado
07/03/2014 
 


























Dia maldito, 28
de fevereiro, mas por razões outras, na minha visão, que não aquelas
aduzidas por quem assim o considera. Não foi a absolvição de oito
petistas ditos “mensaleiros” do crime de formação de quadrilha a prova
irremediável de que a Justiça nativa não é JUSTIÇA. Até que foi justo o
desfecho de mais um capítulo de uma longa história sempre mal contada,
graças aos argumentos que motivaram o voto do ministro Luís Roberto
Barroso, brandidos há tempo, aliás, pelo ministro Ricardo Henrique
Lewandowski e endossados pelo ministro Teori Zavascki. O que causa
espanto, digamos, é o conjunto da obra. Aqui não há bala perdida.
Por onde começar? Pelo presidente do STF,
ministro Joaquim Barbosa. Candidamente admite que as penas cominadas
inicialmente foram exorbitantes, sim, destinadas, contudo, a evitar a
prescrição. A mesma que, muito pelo contrário, premia aos poucos os
envolvidos no “mensalão” mineiro, anterior ao petista, como se sabe, e
no entanto postergado por oportunos caprichos do calendário. Em odor de
campanha eleitoral, Barbosa exibe redondamente sua incompetência
inclusive na hora de cair na ratoeira armada por ele mesmo.
Bons os argumentos a favor da absolvição apresentados por Barroso na quinta 27, no mínimo eficazes, mas... Tu quoque?
Há meses prejulgou em artigo publicado no Consultor Jurídico, peculiar,
misteriosa entidade que sofre a decisiva influência do ministro Gilmar
Mendes. O qual também prejulgou ao revelar um encontro com Lula, ambos
ex-presidentes, ele do STF, este da República, sem contar que antes
ainda do processo não hesitara em chamar os réus de “bandidos”. Quem
prejulga deveria declarar-se impedido. E o mesmo haveria de fazer o
ministro Dias Toffoli, que já advogou a favor do PT e foi subordinado de
José Dirceu quando chefe da Casa Civil. Quem liga, porém, para certos
detalhes?
Depois da absolvição,
o coro das lamentações teve o ímpeto e o volume das óperas de Verdi, ao
secundar as declarações desalentadas de Joaquim Barbosa e Gilmar
Mendes, para os quais o mundo havia caído. Para a mídia também. Os
jornalões endossaram a ideia do presidente do STF, de que manobra urdida
no Palácio do Planalto criou a maioria para absolver os réus. A Folha de S.Paulo
colocou-a na própria manchete, ao citar os ministros nomeados por Dilma
Rousseff, igual ao inefável Fux, que votou contra. Veja enveredou pela
chacota e definiu melancólica a falta de condenação. Só esta vale.
Marcelo Coelho escreve na Folha de S.Paulo
sobre a derrota de Joaquim Barbosa, um presidente da Suprema Corte que
esqueceu sua responsabilidade e ofendeu a sua importantíssima função.
Montesquieu revolve-se na tumba. Segundo o colunista, Barbosa perdeu “o
poder de construir uma nova maioria”. Mas seria esta a tarefa de um
presidente do STF? O desastre da Justiça brasileira começa pela própria
concepção que temos dela ao percebê-la como poder levado a agir ao sabor
dos interesses políticos do privilégio. Se não for assim, não serve.
Tais como julgar os petistas antes dos tucanos, muito antes, de sorte a
lhes oferecer a via do escape, quando não ignorar a maior
bandalheira-roubalheira da história do Brasil, o episódio da privatação
das comunicações, vergonhoso monumento esculpido por Fernando Henrique
Cardoso e sua turma, que o chamava de “bomba atômica”.
CartaCapital, então quinzenal,
teve acesso a passagens dos grampos executados nos gabinetes do BNDES e
revelou o escândalo em toda a sua miserável imponência. Luiz Carlos
Mendonça de Barros, ministro das Comunicações, e André Lara Resende,
presidente do BNDES, despidos como o rei do conto de Andersen, perderam
seus preciosos empregos, mas ninguém se incomodou com o extraordinário
inchaço das suas fortunas pessoais.
Resende, por exemplo, põe a viajar de
avião cavalos de raça para trotar em sua quinta portuguesa, ou em
parques londrinos. Conheci o pai dele, Otto, cidadão arguto e remediado.
E daí? Trata-se de assuntos que não interessam à mídia nativa, tanto
mais se levantados por CartaCapital. Claro que os senhores
citados têm porte bastante superior em relação a quem esconde dinheiro
vivo nas cuecas. O único petista de nível tucano é certamente José
Dirceu. A diferença ideológica, está claro, não isenta tal gênero de
esperta elegância. Omito deliberadamente o injustiçado Genoino, homem de
boa-fé. Que fazer, no entanto? A Justiça brasileira funciona a bem da
casa-grande, assim como a mídia nativa desta é o partido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário