domingo, 30 de março de 2014

Petrobrás, chegou a hora de usar o blog! | O Cafezinho

Petrobrás, chegou a hora de usar o blog! | O Cafezinho







Petrobrás, chegou a hora de usar o blog!

Enviado por Miguel do Rosário on 29/03/2014 – 7:25
pm
10
comentários
O Cafezinho obteve mais documentos inéditos que ajudam a explicar um pouco
essa confusão sobre Pasadena.



Antes, um breve comentário político. Permaneço bastante crítico à maneira
como a Petrobrás, através de sua presidenta, Graça Foster, vem conduzindo a
“crise”. Estendo a culpa à própria presidenta da República. Ambas escolheram a
estratégia de sair cortando cabeças à torto e direito, e não estão fazendo
nenhuma defesa política da estatal, nem da refinaria de Pasadena. A oposição
está fazendo a festa.



A última da Foster foi demitir outro alto executivo da empresa, José Orlando
Azevedo, sem oferecer nenhuma explicação. Com isso, a mídia domina a narrativa.
Para cúmulo da trapalhada política, o sujeito é primo de Gabrielli,
ex-presidente da Petrobrás.



Ou seja, tá parecendo que a Foster está se aproveitando da crise para fazer
um ajuste de contas interno. O blog da Petrobrás continua inerte. Não há
informação, então a gente não tem para onde correr senão para a mídia
tradicional, que iniciou mais uma campanha de manipulação.



Tenho a impressão que tanto Dilma quanto Foster estão sendo vítimas de seu
próprio “tecnicismo”. É tiro no pé em cima de tiro no pé.



A refinaria de Pasadena tem de ser defendida. É coisa nossa. Esse é meu
recado como blogueiro político.



Já como blogueiro investigativo, minha função é levantar dados para que as
pessoas entendam melhor a conjuntura.



A primeira coisa para entender o imbróglio é partir do início. O que era a
refinaria de Pasadena antes de ser comprada pela Astra? Era uma sucata? Estava
desativada? Dava lucro? Tinha dívidas?



Como eu ia dizendo, O Cafezinho teve acesso a dois documentos inéditos que
nos ajudarão a responder a essas perguntas.



O documento mais recente, de agosto de 2000, é um informe
da Golnoy Barge Company
, empresa que detinha 14% das ações da refinaria de
Pasadena, aos outros sócios minoritários.



O documento fala da preocupação dos sócios pequenos com a gestão de Henry
Rosenberg, e seus dois filhos, à frente da refinaria. Eles estavam preocupados
com uma operação financeira que Rosenberg tinha iniciado para ampliar sua participação
acionária da refinaria e aumentar seu controle sobre ela.



O final da década de 90 tinha sido bem difícil para o negócio de refinaria.
Em 1998, a
Crown Central (nome antigo da refinaria de Pasadena) havia registrado fortes
prejuízos, e ainda enfrentava inúmeros processos trabalhistas.



O segundo documento obtido por Cafezinho é um artigo publicado no Oil Daily,
onde se lê que o mercado desconfiava que Henry Rosenberg estava se preparando
para vender a companhia. Até aí nada demais, a empresa era dele e ele podia
vender quando quisesse. Acontece que ninguém confiava em Rosenberg, nem os
sócios pequenos, muito menos os sindicatos.



A matéria informa que a Crown registrou prejuízo de 829,4 milhões de dólares
em 1998. Segundo a matéria, parte desse prejuízo se devia ao boicote que os
sindicatos vinham fazendo à empresa. Era uma campanha popular. Ninguém queria
comprar a gasolina vendida nos postos da Crown. A empresa, por sua vez, atribuía
o prejuízo a situação do mercado, e lembrava que todas as empresas estavam
amargando prejuízo aquele ano, o que era verdade.



O caso de Pasadena, contudo, era mais alarmante porque Rosenberg, dono da
empresa, enfrentava um grave problema de crédito na praça. E não estava
conseguindo renegociá-lo junto aos bancos.



No documento de agosto de 2000, da Golnoy Barge Company, somos informados
que o mercado de refinaria se recuperou vigorosamente a partir do início da
nova década. O faturamento líquido (EBITDALL) da Crown nos primeiros seis meses
de 2000 totaliza US$ 66,6 milhões. O lucro líquido no primeiro semestre de 2000
atingiu US$ 5,6 milhões, comparado ao prejuízo de US$ 22 milhões no mesmo
período de 1999.



Os sócios pequenos da refinaria dão duas informações que serão fundamentais
para a gente entender o preço pago pela Astra em 2005.



A Crown tinha promissórias junto a seus acionistas pelas quais “qualquer um
que quisesse adquirir a Crown Central deveria estar preparado para refinanciar
o débito de US$ 125 milhões”.



Isso em 2000! Em 2005, esse débito teria subido para US$ 200 milhões, como
eu disse em outro post. A diferença é que essa fonte agora é mais oficial
ainda. É um documento dos próprios sócios da Crown.



A outra informação importante é sobre os estoques da Crown. A mídia vem
repetindo que a Astra comprou a refinaria por US$ 42,5 milhões. Mentira. A
Astra começou a trabalhar junto à Crown em 2004. Pagou suas dívidas, comprou
seus estoques, e só então adquiriu as ações da refinaria por US$ 42,5 milhões.



O documento da Golnoy nos dá uma ideia do valor dos estoques da Crown no ano
2000. Os sócios achavam que esses podiam ser US$ 83 milhões maiores do que o
informado oficialmente pela empresa. Portanto, o valor dos estoques, no ano
2000, eram um valor X mais US$ 83 milhões. Quanto valiam? US$ 100, 300, 500
milhões? A refinaria tinha capacidade para estocar mais de 6 milhões de barris,
portanto o valor desses estoques poderia até ultrapassar US$ 1 bilhão.



Por que Pasadena tinha uma capacidade tão grande de estoque? A resposta é
fácil. A volatilidade alucinante das cotações do petróleo e seus derivados,
fazem com que seja estratégico, para uma refinaria, ter uma boa capacidade de
estoque, para ordenar a oferta e evitar vender em momento inadequado.



Na sexta-feira, o Valor confirmou uma informação que eu já detectei em vários
documentos, inclusive no relatório da Astra.



“Conforme o acordo de acionistas, ao qual o Valor teve acesso, o prêmio
de 20% valeria tanto para os 50% restantes do ativo refinaria, avaliado em
março de 2006 por US$ 378 milhões, como para a trading,
que
tinha preço de referência inicial de US$ 300 milhões, que era o “capital
comprometido” pela Astra no negócio até a assinatura do acordo.




A Petrobrás não adquiriu somente a refinaria de Pasadena. Ela comprou também
a Astra Trading, que era o braço comercial da refinaria montado pela Astra
quando a assumiu. Essa trading tinha recebido US$ 300 milhões da Astra. Não
está claro se esse valor já embute os estoques. E não se sabe exatamente a
dívida herdada pela Astra quando assumiu o controle da refinaria. O que se tem
certeza é que havia uma dívida de US$ 125 milhões em 2000 e, segundo a
Jefferies, US$ 200 milhões em 2003. Como os americanos nunca pagam uma dívida
de uma vez, pois os juros lá são muito baixos e todos apenas rolam seus
débitos, indefinidamente, é certo que estes deveriam continuar na casa dos oito
dígitos quando houve a compra pela Astra.



Portanto, a Astra quando adquiriu Pasadena, investiu US$ 42,5 milhões pelo
controle acionário, assumiu uma dívida milionária, mobilizou US$ 300 milhões,
comprou estoques, e ainda fez investimentos de quase US$ 100 milhões para
modernizar a refinaria. Os documentos da Astra deixam bem claro que a venda
decorreu de um “processo”, cujos detalhes jamais foram revelados.



Não sei se houve, como dizem os paulistas, alguma treta em algum momento do
negócio. Talvez. Mas pode haver treta na Abreu Lima, no porto de Suape, no
Comperj, em qualquer negócio da Petrobrás em qualquer lugar do mundo. O ser
humano, infelizmente, é corrompível por natureza.



O importante a saber aqui é que essa disparidade absurda de valores com que
a mídia tenta impressionar o cidadão comum não existe. A refinaria de Pasadena
sempre valeu um bocado de dinheiro, sempre esteve operante, e possivelmente se
revele com o tempo uma excelente aquisição para a Petrobrás.



Outra coisa que é preciso deixar claro é que as cláusulas Put Option e,
sobretudo, a Marlim, existiram porque a Petrobrás também tinha suas
prerrogativas. Também haviam cláusulas a favor da Petrobrás: a estatal podia
“forçar investimentos”, ou seja, podia fazer o que quisesse dentro da
refinaria.



Lembro-me que o ex-presidente Lula, certa vez, ensinou que um bom negócio é
o chamado “ganha-ganha”. Um ganha e o outro pensa que ganha. Acho que foi
exatamente o que aconteceu aqui. A Astra pensou que fez um bom negócio, mas
quem agora possui uma refinaria no coração dos EUA é a Petrobrás!



Esta CPI da Petrobrás pode ser uma oportunidade do governo e da estatal
aprimorarem suas estratégias de comunicação. Aliás, o que vemos hoje é
resultado do fiasco comunicativo da Petrobrás. Os brasileiros não têm ideia do
aumento das reservas brasileiras de Petróleo, e do montante que a estatal tem
investido no país.



Na propaganda eleitoral, Eduardo Campos fala em “meia Petrobrás”. Todos
falam no declínio do valor de mercado da empresa. Mas o que tem efeito na
economia brasileira não é o valor especulativo da Petrobrás nas bolsas, e sim a
quantidade real de dinheiro que a empresa tem investido no país, o número de
empregos gerados a partir desses valores, sem falar nos impostos. Além disso, a
Petrobrás continua dando lucro.



Na última vez que a mídia fez uma campanha contra a Petrobrás, a estatal
inovou e criou um blog que fez história, rendeu até mesmo teses de mestrado.
Foi um sucesso. E agora o blog está lá, às moscas, sem participar do debate
político. Neste sábado, após manchete bombástica do Globo, o blog informa que a “Petrobrás patrocinou o Festival de
Curitiba”. Legal que o tenha feito, mas alguém entrará no blog da Petrobrás
para saber isso?



Por que a Petrobrás não faz um belo infográfico com dados atualizados sobre
seu lucro e faturamento?



Ao invés de ocupar o noticiário com demissões talvez desnecessárias, numa lamentável
demonstração de medo, porque não aproveita a visibilidade e expõe suas
estratégias, aqui, no Golfo do México, em Pasadena?



Enquanto demonstrar medo, a Petrobrás vai apanhar. Ela só vai virar o jogo
quando exibir os dentes. Por que não mostra, por exemplo, que paga seus
impostos em dia?



Por que não mostra o Darf?



- See more
at:
http://www.ocafezinho.com/2014/03/29/petrobras-chegou-a-hora-de-usar-o-blog/#sthash.dH5prDJ2.dpuf
 


Nenhum comentário:

Postar um comentário