sábado, 15 de março de 2014

ISTOÉ Independente - Paulo Moreira Leite

ISTOÉ Independente - Paulo Moreira Leite








PSDB NO RETROVISOR

 Paulo Moreira Leite

Com ideias que eleitor já rejeitou em 2002, 2006 e 2010, aniversário do Real vira encontro de nostalgias



 


 Muitas coisas me incomodam nos festejos de 20 anos do Real.
Nem vou falar que estão comemorando o Real quando quem faz aniversário, nesses dias, é a URV. Marketing?
 Nem vou falar que o
presidente que criou o Real foi Itamar Franco, que merecia um lugar de
honra em cada celebração, em cada discurso.
 Talvez para dar a
impressão de que era uma obra única, exclusiva,  muitos tucanos gostam
de fingir que o presidente que assinou o URV e o Real foi uma Rainha da
Inglaterra nessa história. Está errado. Para quem até hoje reclama
direitos autorais pelo Bolsa Família, é muito feio ignorar  o papel de
Itamar Franco  
  Outro
aspecto é que a celebração tornou-se um encontro nostalgias da década
de 1990, quando o pensamento neoliberal dava a impressão que iria durar
para sempre.
De lá para cá nós tivemos o
colapso da paridade cambial, que levou a falência dos grandes grupos
econômicos brasileiros, que chegaram de joelhos ao final do governo FHC.
Também tivemos a crise de 2008, a maior da história do capitalismo desde 1929. 
Nesses momentos, como o PSDB reagiu?
Sempre se recusou  a fazer o contra-ciclo da recessão econômica, lição básica de John M Keynes para principiantes.
A  política monetária de Pedro Malan  apenas  aprofundava as crises, aumentava o desemprego. Pagando juros cada vez mais altos, explodiu as contas do Estado e gerou mais inflação.
 Apesar disso,
nossos sábios comemoram o Real, e reclamam que a população não tem
memória.  É exatamente o contrário. E é isso que torna difícil competir
em 2014.



Sonham em fazer o mundo voltar a 1994 quando, por merecidas
razões, Fernando Henrique e o PSDB tiveram, pela primeira e até hoje
única vez em sua existência, uma ligação real com as camadas pobres do
povo.

 
É curioso que Gustavo Loyola,
um dos inúmeros presidentes do BC no governo Fernando Henrique – o que
dá uma ideia da instabilidade  uma instituição que os tucanos querem
tornar independente  – chegou a reclamar que tudo ficou pior na economia
brasileira depois de 2008.
Pois é. Em 2008 o mundo quebrou
e o Brasil ficou de pé depois de um tropeção. A economia voltou a
crescer. Os empregos continuaram em alta, o mercado interno se ampliou, a
distribuição de renda prosseguiu.  Ainda hoje, o desemprego é o menor
da história e o crescimento em 2013, que todo mundo sabe que não foi
grande coisa, já superou a média dos oito anos de FHC.
A partir de uma injeção
generosa de recursos públicos nas linhas de crédito e outros estímulos, o
Estado brasileiro faz o contra-ciclo a partir de 2008. Quem estava no
ciclo virou a Grécia, Espanha, Itália, subjugados pela prioridade máxima
do Banco Central europeu em preservar os investimentos financeiros
alemães. Queriam ajudar o mercado a fazer seu serviço, destruindo
benefícios e conquistas histórica do bem-estar social. 
O Brasil foi para o contra ciclo. Não vamos falar que ficou tudo as mil maravilhas. Mas imagine quem se deu melhor.
 Eu sei, você sabe.
Mas a turma que se reuniu para
festejar a URV dizendo que era aniversário do Real sempre acreditou no
fim da história e na supremacia definitiva do mercado sobre todas as
coisas.
Acreditou tanto que seu Banco
Central tinha criado uma moeda imortal que estimulou os empresários a
enfiar o pé na jaca das dívidas em dólar. Quando a canoa virou, todos
naufragaram. Nossas reservas eram uma casca de ovo, o que deveria levar a
turma a  lembrar que em 2014 temos reservas de 300 e tantos bilhões de
dólares em vez de estimular o terrorzinho das  agências de risco, o que é
muito feio para autoridades que já ocuparam postos de alta
responsabilidade num Estado nacional e sabem a diferença que isso faz. 
 Em 2008, o governo
tucano de São Paulo preparou um plano de demissão em massa para
enfrentar a crise. Queriam até suspender a CLT por seis meses – o que
iria dar até uma crise política de bom tamanho.
Loucura?
Nem tanto. Para Pérsio Arida, um dos presentes na festa da URV, o “Estado deveria funcionar com uma empresa privada.”
Ninguém esqueceu como o
ministro do Trabalho de FHC falava de desemprego. Era “empregabilidade.”
Não era vida real. Era debate teórico. 
Assim, na crueldade.
 Com tais receitas, a
Dilma deveria abrir mão do horário politico e pedir para esse povo
defender essas ideias na TV. Deveria mandar o Eduardo Cunha levar sua
turma para a campanha da oposição. 
Assim eles teriam todo tempo do
mundo para explicar como o Brasil era tão bom que foi parar no FMI, que
só assinou a acordo depois que os sucessores de FHC também assinaram.
Quanta credibilidade, não?

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