Economia, o debate inexistente, por André Araújo




Economia, o debate inexistente


por André Araújo


A definição da política econômica de um grande País, o maior dos
emergentes do mundo ocidental, deve ser obtida través de um AMPLO
CONSENSO entre as forças políticas e econômicas do País e com o
assessoramento das melhores cabeças que seja possível congregar em torno
de um Conselho onde se faz a soma de conhecimentos.


Quem é que traçou esse plano espantoso de SÓ ajuste na despesa em
plena e profunda recessão sem qualquer medida compensatória para
reativar a economia?


Um plano desses não passa pela aprovação política em PAÍS ALGUM, é um
plano insano que vai APROFUNDAR A RECESSÃO, como já está se vendo.


Nos Estados Unidos, com sua ampla experiência histórica de crises
econômicas, foram ONZE até a de 2008, o Presidente é quem traça a macro
política econômica, não é o Banco Central, que tem um papel tático mas
não estratégico na macro política econômica.


O Presidente dos Estados Unidos tem um CONSELHO ECONÔMICO na Casa Branca (Council of Economic Advisers),
um órgão de cúpula, que o assessora fora e acima do Federal Reserve e
da Secretaria do Tesouro. Seu Presidente Jason Furman e a
Vice-Presidente Sandra Black são economistas de políticas públicas, não
ligados ao sistema financeiro e sua tarefa é apontar caminhos de longo
prazo para o conjunto da economia.



Furman tem o titulo de Economista-Chefe do Presidente, seu nome e de
sua Vice tem que ser aprovados pelo Senado depois de indicados pelo
Presidente. O Conselho funciona como um Estado Maior do Presidente com
visão ao mesmo tempo política e econômica.


Não há “panelinha” de economistas de mercado, há uma indicação geral
da direção , o Presidente não fica “vendido” a uma só cartilha de um só
pequeno grupo.


A direção da política econômica é coisa séria demais para
vir da cabeça de um  grupinho que tem sua própria agenda e ninguém nele
da economia produtiva.



Na semana passada a dupla de comentaristas de economia do Jornal das
Dez da Globonews, Sardenberg e João Borges, dirigidos pelo âncora Donny
Di Nuccio, em coro afinado, disseram que já havia claros sinas de
recuperação da economia no horizonte. Na ultima terça-feira, dia 18, com
cara murcha disseram os mesmos dois com o mesmo âncora que os últimos
dados do comércio apontavam para baixo pelo 17º mês consecutivo, nenhuma
melhora e só piora do comércio.


Na mesma matéria quadro sobre 100 mil lojas que fecharam no País em
um ano e vídeos de ruas inteiras do Rio com lojas fechadas. Dados
anteriores da pesquisa em domicílios, mais precisa do que a pesquisa de
desemprego nas 5 metrópoles, indica 16,4 milhões de desempregados
(matéria de editorial do ESTADÃO), bem mais que os 12 milhões até então
apontados pela pesquisa apenas nas 6 metrópoles.


Do contraste desses dois contextos anunciados pelos mesmos
personagens deduz-se que na primeira mensagem "há claros sinais de
melhora" havia apenas palpite e não análise. São pagos para dar palpites
ou é orientação ideológica da emissora?  Economia não é futebol, não
admite palpites, se não podem ou não sabem o que falar melhor não
manchar seus curriculos com palpite infeliz, sem relação com a
realidade.


Dados fundamentais são escamoteados por toda a mídia tradicional.
Notinha inexpressiva no ESTADÃO indica que o BANCO CENTRAL requisita do
Tesouro verba para cobrir seu prejuízo de R$ 218 BILHÕES no 1º semestre
de 2016, gerado pela venda de proteção cambial, qual seja para segurar a
natural valorização do dólar, valorizar artificialmente o Real e com
isso "trazer a inflação para o centro da meta", objetivo contrario à
saída da recessão.


Porque esse dado crucial sequer é mencionado? Se o BC gastou R$ 218
bilhões em um semestre, mantida a trajetória seriam R$ 436 bilhões em
2016 mais R$ 600 bilhões de juros da dívida pública, seriam mais de R$1
trilhão de custos financeiros gastos pelo Tesouro em nome de uma
política econômica psicodélica, uma conta verdadeira  de gastos em um
ano, quantia que deixa pálidas as discussões sobre o corte de gastos das
demais despesas.


Ao mesmo tempo, o BANCO ITAU, comandante virtual da atual orientação
econômica do Governo já que dois personagens a ele ligados são os pais
da atual política econômica, declara alto e bom som que tem excesso de
capital no valor de R$ 60 BILHÕES, excesso em relação aos índices de
Basileia que já são ultra conservadores. Como se formou esse excesso de
capital? Com os mais altos juros do planeta cobrados dos clientes,  que
só tem aumentado nos bancos em plena recessão, quando a reação natural
em quadro de recessão é a redução das taxas na ponta do cliente.


O coro dos comentaristas na grande mídia repete como sapos na beira
do lago o mesmo cantar. Não há NENHUM debate, nenhum contraditório,
nenhuma observação mais profunda, os comentários são RASOS, TOSCOS,
REPETITIVOS.  Os que se apresentam como comentaristas não contestam em
momento algum a aberração de se perseguir META DE INFLAÇÃO em plena
recessão, modelo aberrante mesmo para economistas ortodoxos de
orientação conservadora.


O mal maior é a RECESSÃO e não a inflação. Política econômica é
ESCOLHA de prioridades, geralmente não é possivel atirar em dois alvos
simultaneamente mesmo porque muitas vezes são alvos conflitantes. A
INFLAÇÃO cada vez mais baixa é FUNDAMENTAL para as apostas do mercado
financeiro mas não é tão importante para a ECONOMIA PRODUTIVA, a que
pode tirar o Pais da recessão. Hoje o mercado financeiro é DESLIGADO da
economia produtiva, ao mesmo tempo que a recessão se aprofunda, a bolsa
sobe e o dolar cai, apenas dólar,  bolsa e apostas em derivativos (juros
e índices)  ocupam o escasso mundo mental dos comentaristas.


Nunca ouvi um comentarista carimbado de rádio, tv e jornal fazer
análises a partir da observação in loco de lojas dos bairros de classe
média, áreas de comércio popular, salões de cabeleireiros, indústrias de
bens de capital, NADA. Só falam com meia dúzia de papagaios do mercado
financeiro e daí tiram toda a base de seus comentários.


É impressionante a fragilidade intelectual desses comentaristas, não
conhecem economia, não conhecem a história econômica e a história do
pensamento econômico, repetem os bordões da "turma" dos economistas de
mercado sem notas de rodapé, papagaios de economês tosco, constituído de
chavões, platitudes e bordões.


O controle dos gastos não é política de emergência, é sistema
permanente, há no Brasil uma cultura de descaso e desperdício que se
visualiza na crescente ocupação década vez mais prédios pelos poder
executivo e pelo aparelho judiciário, a continua abertura de concursos
públicos sem se racionalizar antes o enorme contingente de funcionários
na já inchada folha, especialmente nas atividades meio, na pura
burocracia dos poderes.


Mas só esse controle não tira o País da recessão. Há que se ter um
gatilho que puxe o crescimento por uma nova demanda e esta só pode vir
do investimento público, o qual  pode ser financiado pela expansão
monetária. Se der alguma inflação este é um custo a ser tolerado para o
País sair do mal maior da recessão, é uma questão de prioridades.


A receita é da economia clássica, que se administra por ciclos de expansão e contração.


A recessão requer expansão monetária, a economia super aquecida
requer contração monetária que pode ser feita por vários modos e não só
pela alta de juros.


Uma das ferramentas de contração é o aumento dos compulsórios dos
bancos, outro é a limitação dos prazos e condições de empréstimos, ambas
ferramentas baixam os lucros dos bancos enquanto a alta dos juros é o
único instrumento contracionista que aumenta o lucro dos bancos e é o
único usado pelo BC desde o Plano de Estabilização Monetaria de 1994.
Porque não usam instrumentos administrativos como contenção dos
empréstimos ou restrição de prazos? Porque são ruins para os bancos,
ora.


Ao contrário das políticas  dos grandes ciclos econômicos do Brasil, a
atual política não tem grife, não se sabe de onde veio. O Ministro da
Fazenda não é formulador de política econômica, não tem formação para
isso, será o presidente do BC? Provavelmente é mas não assume e não
assina, a política é então órfã, não tem pai e nem mãe. Tudo faz crer
que vem da cabeça do economista Samuel Pessoa com colaboração de
Mansueto Almeida, mas onde está a autoria publicamente assumida?


É fundamental para sua imposição, operação e sucesso que a política
econômica tenha responsável, isso em qualquer País, não pode ser
anônima.


Todos conheciam a política econômica de Roberto Campos, a de Delfim
Neto e a de Mario Henrique Simonsen, eram políticas com paternidades e
responsabilidades claras, refletiam um conjunto de ideias desses grandes
personagens, Campos mais ortodoxo, Delfim mais heterodoxo, Simonsen um
expoente da escola clássica.


Mas de quem é a atual política econômica?


Ninguém sabe e ninguém assume, essa é uma de suas muitas fraquezas.