quinta-feira, 28 de julho de 2016

Sonho de uma noite de inverno - Política - Estadão

Sonho de uma noite de inverno - Política - Estadão

Sonho de uma noite de inverno

Renunciar ele não vai. Nem ela. Restaria,
assim, só a cassação da chapa Dilma/Temer pela Justiça para que houvesse
nova eleição – a preferência da maioria absoluta da população, segundo
todas as pesquisas. Apesar de reiterados indícios de irregularidades no
financiamento e na prestação de contas da campanha eleitoral da dupla em
2014, não parece que o processo andará no Tribunal Superior Eleitoral
este ano. Sobra, portanto, a hipótese de um presidente biônico eleito
por um redivivo colégio eleitoral.



José Roberto de Toledo




Como se sabe, se o cargo ficar vago depois de ultrapassada a
metade do mandato presidencial, cabe a um mistão de deputados e
senadores escolher o novo presidente. É um sonho para os congressistas,
capaz de umedecer o mais árido dos invernos brasilienses. Se para manter
Michel Temer no poder eles já conseguiram nomear quase todo o
Ministério, com os respectivos cargos de segundo e terceiro escalão,
imagine-se quais façanhas não alcançariam se pudessem renegociar seus
votos com o biônico?



Seria o parlamentarismo de fato, pouco importa o direito. A farra
de nomeações, emendas ao Orçamento e indicações de fornecedores bateria
recordes olímpicos – um salto triplo na contabilidade política e
eleitoral de deputados e senadores. Seria também um tiro ao alvo mortal
para as medidas de combate à corrupção, como a criminalização do caixa
2, a responsabilização dos partidos políticos por seus malfeitos e o
confisco da grana proveniente dessas atividades ilícitas.



Por ora, é apenas o sonho de uma noite de inverno brasiliense. O
TSE não demonstra pressa em julgar as contas da chapa Dilma/Temer. O
mercado financeiro torce e trabalha pelo futuro ex-vice, junto com boa
parte do empresariado. Tem Olimpíada, julgamento do impeachment de Dilma
Rousseff no Senado e eleição municipal a congestionar o calendário. O
colégio eleitoral não está nem sequer em pauta. Mas pode vir a estar.



Vai depender, como sempre, da economia – e de seus obscuros ou
brilhantes reflexos na popularidade do presidente. Decepção ou
satisfação do público são resultantes opostas de uma mesma conta:
realização menos expectativa. Quanto mais se espera de um governante,
mais difícil é para ele atender às demandas da população e alcançar um
saldo positivo na equação da popularidade. É o que acontece com a
maioria dos eleitos. 



A disputa eleitoral eleva a esperança e aumenta a cobrança sobre o
vencedor. Mas, quando o presidente é um vice que muita gente nem sequer
sabia o nome, a expectativa é baixa. A maioria não sabe bem o que
esperar, o que acaba se transformando em um período de “deixa estar para
ver como é que fica”. 



É o que aconteceu com Temer: a desinformação produziu baixa
expectativa, o que garantiu um período de carência para o presidente
interino. Por menos que faz, dificilmente fica aquém do que se espera
dele – já que não se esperava nada. É o contrário do que ocorreu com
Dilma, cujo eleitorado esperava tudo, menos o que ela tentou fazer
depois de reeleita.



Há sinais, todavia, de que a carência de Temer pode estar
vencendo. A pesquisa de julho do instituto Ipsos sobre o desempenho do
interino mostrou um crescimento de 43% para 48% na taxa de ruim e
péssimo, em comparação ao mês anterior. O aumento se deu às custas da
queda do “não sabe e não respondeu”. Também houve queda no apoio ao
impeachment de Dilma, de 54% para 48%.



São poucos pontos porcentuais de diferença e poucas pesquisas
para se fazer projeções. É preciso pelo menos quatro pontos na curva,
com oscilações sempre na mesma direção, para caracterizar uma tendência.
Ou seja: só em setembro vai se tirar a prova. Até lá, já terão passado
Olimpíada e impeachment. Temer não terá mais desculpas para deixar de
entregar resultados. O TSE poderá, então, se ver apressado. E os
congressistas? Sonhando molhado.


quinta-feira, 7 de julho de 2016

O ESTADO-NAÇÃO COMO PATOLOGIA



 Por Vladimir Safatle



O ESTADO-NAÇÃO

 COMO PATOLOGIA
Muito
já foi dito a respeito da decisão inglesa de sair da União Europeia.
Ela é certamente um dos fatos mais importantes deste curto século por
aquilo que explicita.
A União Europeia nasceu com a promessa de ser o início de uma era
pós-nacional, na qual os Estados-nação se submeteriam paulatinamente a
uma engenharia institucional capaz de garantir a existência de sujeitos
políticos pós-nacionais.
Aos poucos, atribuições dos parlamentos nacionais passaram ao Parlamento
Europeu, a criação de uma moeda única levou a um banco central
transnacional, as universidades criaram sistemas de intercâmbio contínuo
tendo em vista a formação de cidadãos europeus.
Nesse sentido, não se tratava apenas de um espaço de livre comércio, mas
da tentativa de criação de um espaço político que deixaria para trás as
estruturas dos Estados nacionais. Diferente da Organização das Nações
Unidas, que sempre foi algo mais próximo a um fórum de debates, a União
Europeia representou, pela primeira vez, um processo efetivo de
transferência de poder.
No entanto, mais de 20 anos depois de sua instauração, a ira de parcelas
expressivas de populações do velho continente contra a União Europeia é
visível. A decisão inglesa, por mais suicida que seja do ponto de vista
econômico e político (com a saída iminente da Escócia do Reino Unido), é
apenas a ponta do iceberg. 
A razão de tal ira talvez esteja involuntariamente bem expressa na representação visual de sua maior invenção, a saber, o euro. 
Há uma certa ironia em perceber como as notas de euro não representam
seres vivos (personagens históricos, animais, flora), mas objetos
mortos, como pontes, viadutos e outras construções de infraestrutura. A
ideia era louvar a circulação. Para ser mais preciso, a circulação de
riquezas, de produção, de capital. Mas, de forma sintomática, nestas
representações não há pessoas.
De fato, durante todos estes anos a União Europeia foi uma engenharia
institucional que só esteve de acordo em dois pontos: organizar
políticas massivas de salvamento do sistema financeiro combalido desde a
crise de 2008 e estabelecer políticas comuns de limitação de circulação
de imigrantes. 
Os projetos iniciais de criação de uma Europa social, com estruturas
transnacionais de garantias trabalhistas e defesa social, naufragaram
rapidamente. No caso da Grécia, por exemplo, a União Europeia demonstrou
toda sua irracionalidade ao impor medidas de austeridade durante anos
com resultados catastróficos, decididas por tecnocratas sem rosto e sem
disposição alguma para corrigir seus equívocos.
No entanto, o voto britânico foi um dos mais impressionantes passos na
direção errada da história recente. Ele foi animado por dois fatores: a
crença de que o fortalecimento do Estado-nação serviria de contrapeso a
estas políticas que levaram à pauperização do continente e o medo
diariamente alimentado pelo próprio governo e por setores da imprensa
local contra o além-mar (imigrantes, refugiados e estrangeiros).
O primeiro fator é apenas a tentativa de ressuscitar um arcaísmo. O
Estado-nação não existe mais e melhor seria que ele fosse desmantelado
de vez. Ele é apenas um zumbi que se alimenta de algumas das piores
patologias sociais de nossa época, como a paranoia identitária, a ilusão
das fronteiras, a paixão pelo isolamento.
O Estado-nação não decide mais nada, mesmo quando ainda tem o controle
de sua moeda, como no caso inglês. Apenas implementa políticas decididas
por um sistema econômico global. Por isso, ele será usado todas as
vezes que for o caso de desviar o eixo do descontentamento não para
cima, ou seja, em direção àqueles que realmente decidem, mas para o
lado, a saber, em direção àqueles que servirão de bode expiatório da
vez, sejam poloneses, ciganos, negros ou árabes.
Freud não explica. É o Monty Python quem explica...
Nos últimos dias, os ingleses descobriram uma obviedade: sair da
Comunidade Europeia é impossível, daí esta situação digna de Monty
Python de um país tentando adiar a implementação de uma decisão que ele
mesmo tomou. As economias nacionais não existem mais.
Por essa razão, a luta pela defesa contra a espoliação econômica não
passa pelos Estados nacionais, mas pela politização das decisões
econômicas impostas por organismos transnacionais, como a União
Europeia, o FMI e o Banco Mundial. Mas faz parte de uma certa gestão da
política atual desviar continuamente os eixos reais dos problemas para
espaços imaginários.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Brasil, país da corrupção

Juremir






Brasil, país da corrupção





A criatividade brasileira é conhecida mundialmente.


No passado, foi disseminada por Pelé, Garrincha, João Gilberto e Tom
Jobim. Um austríaco, que se suicidou por aqui, Stefan Zweig, ficou tão
entusiasmado que batizou o Brasil de país do futuro. Não se sabe se era
um elogio ou uma ironia. Ou um plágio. Um personagem de Jorge Amado, em O país de carnaval, de 1930, voltando da Europa, ao avistar as terras baianas, já exclamara: “É o país de mais futuro do mundo”.


Tomou o troco de um “rapaz que chegara no momento”: “O senhor acaba
de definir o Brasil (o senador sorriu baboso). O Brasil é o país verde
por excelência. Futuroso, esperançoso… Nunca passou disso…” O romance
começa descrevendo a elite em viagem: “Fazendeiros ricos de volta da
Europa, onde correram igrejas e museus. Diplomatas a dar ideia de
manequins de uma casa de modas masculinas… Políticos imbecis e gordos,
suas magras e imbecis filhas e seus imbecis filhos doutores”. Um quadro
do passado?


O tempo passou. Os políticos sempre iguais ou parecidos inventaram a
propina descontada no contracheque de funcionários que contraíram
empréstimos consignados e as CPIs, perto das eleições, para achacar
empresários com algo a esconder. Um método simples e eficaz: arrola o
objeto do achaque entre os que serão chamados a depor e, em seguida,
cobra para dispensá-lo do constrangimento. Nem Jorge Amado foi tão
imaginoso. A prisão do ex-ministro petista Paulo Bernardo escancarou
mais um drible que nem Garrincha conseguiu dar. O Só faltou combinar com
os russos da Lava Jato e seus desdobramentos. Os desvios na Lei Rouanet
mostram que é uma questão de cultura.


Outro aspecto chama a atenção: jamais, que eu tenha conhecimento, um
achacado revoltou-se e foi a uma delegacia denunciar o achacador. O
capitalismo brasileiro acomodou-se com facilidade ao sistema corrupto
dos políticos. Quando não foi proponente da corrupção, aceitou o papel
passivo. Negócios, negócios, joga-se o jogo conforme a regra do jogo,
etc. Eis a sucessão de clichês usados pelo empresariado para se
justificar. Se precisar, sai um argumento pesado do tipo “criamos
empregos, não podemos deixar de dançar conforme a música sob pena de
jogarmos milhares de famílias ao desamparo”. Quem nasceu primeiro: o
político corruptor ou o empresário corrompido? Os dois juntos dão samba:
a corda e a caçamba.


O primeiro romance de Jorge Amado termina assim: “Paulo Rigger,
nervoso, lábios apertados, olhou. No Corcovado, Cristo, braços abertos,
parecia abençoar a cidade pagã. Tornou-se maior a tristeza nos olhos de
Paulo Rigger. Levantou os braços num gesto de supremo desespero e
murmurou fitando a imagem gigantesca: ‘Senhor, eu quero ser bom! Senhor,
eu quero ser sereno…’ Lá longe, desaparecia lentamente o País do
Carnaval”. Como ser bom e sereno num país com tantas tentações? Só indo
embora. Brasil, país do futuro, do carnaval e do futebol. Bem, do
futebol, depois dos 7 a 1 da Alemanha, já não tanto. Brasil, país da
corrupção, das CPIs para achacar e das propinas descontadas em folha.
País verde, futuroso, esperançoso. Jorge Amado não merece muita
confiança.


Afinal, era comunista.


Eduardo Cunha, o homem do regimento



      Durante milênios, a humanidade viveu sem
Eduardo Cunha. Não sabia que era feliz. Numa fração de segundos, o
Brasil passou a conviver com sua figura incontornável. A teoria da
evolução das espécies sofreu um golpe. Na galeria dos corruptos de
estimação da plebe que bebe nos bares e enfrenta o leão, Eduardo Cunha
deu um salto quântico e se tornou o símbolo maior da podridão
brasileira.


– Sabe a última do Cunha? – é a pergunta que mais resposta encontra.


– Recebia 80% das propinas do esquema da Caixa Federal.


Não há delação sem o nome de Eduardo Cunha, o peemedebista carioca
que virou presidente da Câmara dos Deputados numa queda de braço com o
governo de Dilma Rousseff e de onde só foi afastado pelo Supremo
Tribunal Federal, depois de ter mentido aos pares afirmando não possuir
contas bancárias na Suíça – só trust – e de sofrer uma saraivada de
acusações de corrupção. Conhecido por saber de cor o regimento da Câmara
dos Deputados e por dominar o chamado “baixo clero” da Casa, Cunha e
sua mulher Cláudia, ex-apresentadora da Rede Globo, entraram para as
páginas das celebridades pelos gastos astronômicos, na Europa, com luxos
supérfluos típicos de novo rico.


Cassar Cunha é mais difícil do que ganhar na megassena sozinho dez
vezes. Quase todos lhe devem algo. Michel Temer deve-lhe a presidência
da República. Jornais afirmam que o PSDB – que se apresentava como
campeão da luta contra a roubalheira – desistiu de querer derrubar Cunha
em agradecimento aos serviços prestados por ele ao impeachment.
Ingênuos, como eu, vez ou outra, perguntam assim:


– O PMDB vai expulsar Eduardo Cunha?


As risadas terminam em silêncio dramático. Rugas vincam as testas
mais sérias. Entre os admiradores de Cunha, porém, não faltam elogios à
sua capacidade de trabalho. Alguns, menos envergonhados, entre os quais
certos deputados gaúchos, garantem que ele foi um grande presidente da
Câmara. Eduardo Cunha é hologramático: ele é a parte que está no todo,
que está na parte. Em síntese, a imagem acabada do político no
imaginário popular: malandro, escorregadio, ardiloso, falso,
comprometido, obscuro, oportunista. Faltaria espaço para listar todos os
adjetivos que o povo costuma utilizar, na sua riqueza vocabular, para
aquinhoar os seus lídimos representantes.


A ciência política está diante de um novo fenômeno: o paradoxo de
Cunha. Essa expressão, de agora em diante, define o político atolado na
corrupção, crivado de acusações, soterrados pelas provas de seus atos,
mas que nega tudo e é sustentado pelos mesmos que fazem retumbantes
discursos contra o sistema corrompido. O paradoxo de Cunha cabe numa
equação: quanto mais corrupto, mais poderoso; quanto mais corrupto e
poderoso, mais protegido pelos críticos da corrupção. Não é de duvidar
que, no futuro, Eduardo Cunha seja considerado um herói nacional e ganhe
estátua no Planalto Central com uma frase lapidar: o homem que salvou o
Brasil da corrupção. Poucos conheceram tão bem o regimento quanto ele.
Popularizou o conceito de trust. Do trust ao traste.

domingo, 3 de julho de 2016

A polêmica

A polêmica - 03/07/2016 - Janio de Freitas - Colunistas - Folha de S.Paulo



A polêmica







A confusão sobre o que de fato diz a perícia encomendada pela comissão
do impeachment, no Senado, impediu a constatação de duas decorrências
dessa investigação dos discutidos atos de Dilma Rousseff. Uma: a
situação política anormal vai se prolongar muito além da votação,
prevista para final de agosto, de aprovação ou recusa do impeachment.
Outra: a perícia fortaleceu muito as possibilidades de Dilma se precisar
recorrer ao Supremo Tribunal Federal.





A aprovação do impeachment levará a confrontação para um processo
judicial que, por certo, demandará tempo para a investigação e análise,
pelos ministros, dos fatos desde o seu início. Defensor de Dilma, José
Eduardo Cardozo já disse que recorrerá ao STF. A derrota do impeachment,
além de possível recurso judicial dos vencidos, deverá levar a
iniciativas políticas de Dilma para uma consulta popular, com eleição
presidencial ou com plebiscito.





A perícia, como investigação e depois como exposição textual, não tem
responsabilidade pela confusão que motivou. Os pró-impeachment forçaram
uma interpretação, relativa a decretos de créditos suplementares, para
compensarem a negação pericial das tais "pedaladas". Neste tema, o
noticiário seguiu a perícia. Sobre os decretos, adotou a linha criada
pelos pró-impeachment. E assim a perícia ficou vista como causa de
polêmica.





O item dois da parte sobre os decretos discutidos os reduz à metade dos
seis apontados pela acusação. Mais importante, fica claro que nenhum dos
pareceres técnicos, sobre a medida governamental, adverte ou sequer
menciona que os decretos poderiam afetar a tão falada meta fiscal, o
resultado pretendido nas contas anuais do governo. Para a defesa,
consolida-se assim o argumento de que não houve ação dolosa de Dilma e,
portanto, não há o crime de responsabilidade. Os pareceres deram por
aceitos os procedimentos adotados nos governos Fernando Henrique e Lula,
e não reprovados pelo Tribunal de Contas da União.





O item 12 sobre as "pedaladas", referentes às subvenções do Plano Safra,
afirma que não há prazo explícito para o seu pagamento. O que dá à
defesa, portanto, o argumento de que não houve a alegada operação de
crédito, nem atraso de pagamento. Além disso, a gestão do Plano Safra é
feita, por lei, pelo Ministério da Fazenda, com outros ministérios. Como
não houve ato presidencial, não houve crime de responsabilidade.





A primeira reação saída do Planalto, ao ser conhecido o teor da perícia,
foi este: "Isso não interessa, porque o processo de impeachment é
político". Mas se não for também jurídico, não há como lhe dar, nem por
artimanhas e aparências, alguma base legal. Foi o que faltou a todas as
derrubadas de presidentes pelos militares, caracterizadas como golpes, e
nada mais.





Foi também por sua implicação jurídica, mesmo sendo técnica e não
opinativa nas suas 223 páginas, que a perícia encomendada pela comissão
do impeachment surpreendeu a maioria pró-impeachment da própria
comissão. É um componente novo da confrontação, de importância
considerável onde vale, para a maioria dos onze magistrados, apenas a
face jurídica do confronto. A face política morre no Senado. Ou, se não,
vai para as ruas.





OS ENTURMADOS





Ativistas da nova (i)moralidade, deputados do PSDB juntam-se, sob
orientação de Aécio Neves, a Michel Temer para escolher um futuro
presidente da Câmara aprovável por Eduardo Cunha. Ou seja, que ajude a
salvá-lo.





RACHA





Nos próximos dias estará evidente que o controle do Congresso por Michel
Temer não é o que se lê e ouve. No Senado prolifera a reação à farsa da
"austeridade" financeira, acompanhada de aumentos bilionários dos
gastos. Com a participação até de integrantes do DEM, articula-se no
Senado a derrubada de projetos de aumento propostos ou apoiados por
Temer. A semana promete. Inclusive, embora de outra maneira, para os
deputados, que se deram uns dias de lazer restaurador.

sábado, 2 de julho de 2016

Campos a Gullar: "não se venda"!

Campos a Gullar: "não se venda"! — Conversa Afiada



Campos a Gullar: "não se venda"!

Sem ter nada de novo a declarar, passou a defender o Golpe!






















O Conversa Afiada
convida o amigo navegante a contemplar essa implacável surra que o
poeta Augusto de Campos (o ansioso blogueiro acaba de ler seu magnifico
trabalho "Poesia Russa Moderna", com Haroldo de Campos e Boris
Schnaiderman) aplicou no poeta-golpista Ferreira Gullar, colonista da Fel-lha:




Um neocordeiro superconcreto e um expremio

Vestindo
tosca pele de cordeiro e fingindo espanto, Ferreira Gullar se faz de
vítima para contestar a réplica com a qual respondi a mais um acinte
que, por estranha compulsão, voltou a me fazer.

Nunca me
provocou –se lamenta. Nunca atacou os poetas concretos. Limitou-se,
coitado, a discordar civilmente de nossas ideias. "Não é do meu
feitio...", agrega. E desfila com cinismo um rol de lamúrias, dizendo-se
insultado por um "feroz inimigo".

Assim se apresenta o
angélico articulista que, nos últimos tempos, sem ter nada de novo a
falar em literatura ou em arte, pôs-se a fazer virulenta campanha contra
Dilma e seus defensores.

Não quer ter razão mas apoia a
deposição da presidente eleita, operada cirurgicamente por uma trama
vergonhosa de mídia, elites e altos poderes da República, num golpe
ilegítimo em nossas instituições democráticas.

Ora, só se
insulto for sinônimo de documento. O poeta aposta na desinformação dos
leitores. Esquece, como certos políticos, que há jornais, revistas e
entrevistas publicados. E imagina que o ataque é a melhor defesa, mesmo
confrontado com impressos, datas e fatos que venho arrolando desde que
abalroado pela acrimônia do poeta, como constantemente tenho sido.


Já desmontei, em artigos anteriores, a farsa da precedência de Gullar
sobre o reconhecimento de Oswald pelos poetas concretos. Com
documentação irrefutável sobre a qual silenciou. Que sentido teria a
nova menção ao meu nome se não a de voltar a inculcar a balela de que
descobriu Oswald para nós?

Mas não é só. Volta a afirmar que
publicamos um "manifesto" no "Jornal do Brasil" apregoando que a poesia
concreta seria feita a partir de "equações matemáticas". Não é verdade.
Tratava-se de artigo de Haroldo, postulando o que entendia por
"matemática sensível" do poema, na linhagem de Poe, Lautréamont ("Ó
matemáticas severas"), Pound ("poesia, matemática inspirada") Maiakóvski
("eu à poesia só permito uma forma: concisão, precisão das formulas
matemáticas").

Gullar nunca telefonou para mim ou para Haroldo
(que mal conhecia). Não tinha intimidade, telefone ou peito para isso.
Publicou, sem aviso, e com uma réplica, o artigo de Haroldo. E quando
este mandou sua tréplica, Gullar e Reynaldo Jardim a vetaram.


Durante mais de meio século, passou ele, destemperado, a agredir-nos em
artigos e entrevistas, nos quais repetia que a poesia concreta era
bobagem e Haroldo e Décio não eram poetas, excetuando-me com a ressalva
de que havia sido corrompido por eles. Jamais o provoquei, limitando-me a
responder-lhe.

Não redargui ao seu artigo com ressentimento,
embora não tenha qualquer respeito por seu perfil ético. Nossos caminhos
não mais se cruzam. Não me interesso por sua poesia, que considero
apenas regular. Cutucado, não o insultei. Usei do humor oswaldiano que
lhe falta, porque não conhece realmente Oswald. Conhece apenas o seu
próprio umbigo.

Se há alguém ressentido é ele, porque a poesia
concreta é a vanguarda que deu certo, seu prestígio internacional é
inquestionável. O prêmio Pablo Neruda só fez comprová-lo.

Para
piorar, o Acadêmico Ferreira Gullar acena-me com um prêmio de R$ 300
mil da Academia Brasileira de Letras, que eu deixaria de levar, apesar
do seu "placet", por ter criticado a entidade. Ora, somos mesmo pessoas
completamente diferentes. Como somos poetas diferentes. Isso, sim, é um
insulto. Jamais aceitaria qualquer prêmio, de que valor fosse, vindo
dessa instituição, que considero inútil, caduca e até nociva, pelo mau
exemplo que dá a cultura brasileira, acolhendo gente que nada tem a ver
com literatura –velhos políticos, governantes, empresários e jornalistas
conservadores– uma confraria de mediocridades que se chamam
despudoradamente de "imortais", envergando fardões, espadas, colares e
medalhas. Com raríssimas exceções.

Nego-lhes autoridade para
conferir prêmios e prebendas. E encerro com as palavras de um poema
instrutivo e fácil de entender: NÃO ME VENDO / NÃO SE VENDA / NÃO SE
VENDE.

Controvérsia: Em 12/6, Ferreira Gullar publicou em sua coluna na "Ilustrada" texto retomando antiga discordância entre ele e os poetas concretos paulistas sobre Oswald de Andrade. Augusto de Campos replicou. Gullar voltou ao assunto. Como é praxe na Folha, para pôr fim à controvérsia foi oferecido aos dois um derradeiro artigo com o mesmo espaço. Gullar declinou da tréplica final.