segunda-feira, 22 de abril de 2013

Globo teve R$ 5,9 bi de propaganda federal desde 2000 - Política - UOL Notícias

Globo teve R$ 5,9 bi de propaganda federal desde 2000 - Política - UOL Notícias

Globo teve R$ 5,9 bi de propaganda federal desde 2000

Fernando Rodrigues


Ainda assim, emissora líder é a que mais perdeu no bolo de verbas do governo
TVs nesse período tiveram R$ 10, 7 bilhões para veicular propaganda  estatal
No último dia 14 de abril a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) atualizou o seu site com os dados gerais de gastos de publicidade estatal federal até o ano de 2012. Como de costume, os valores são apenas globais e por tipo de meio, omitindo quanto cada veículo ganha.
Mas num artigo de Roberto Bocorny Messias, secretário-executivo da Secom, pela primeira vez foram divulgados de maneira aberta, pelo próprio governo, os dados sobre cada uma das principais emissoras de TV do país. O texto foi publicado pelo site “Observatório da Imprensa” em 16 de abril de 2013.
O dado a ser destacado é a ainda fantástica prevalência das TVs abertas como meio preferencial para o governo fazer sua propaganda. E entre as TVs, a maior de todas é a Globo, apesar da queda em anos recentes.
Desde o ano 2000 (quando os dados passaram a ser compilados de maneira mais precisa), a TV Globo recebeu R$ 5,9 bilhões para veicular publicidade estatal federal –tanto da administração direta como indireta.
A imagem abaixo traz os dados sobre o que o governo federal gastou com TVs no ano passado e o acumulado desde o ano 2000:

Ao divulgar esses dados, a Secom afirma fazer “mídia técnica” e dar a publicidade de acordo com o tamanho de audiência de cada veículo. Nota-se que a preocupação principal foi usar o caso da TV Globo como exemplo. A fatia da emissora no bolo entre TVs caiu de 54,96% (em 2000) para 43,98% (em 2012) –muito por causa do avanço das TVs fechadas e da Record, como se pode observar no gráfico:

Embora com a Globo tenha acontecido uma acomodação compatível com o recuo da liderança dessa emissora na audiência das TVs abertas, não há como verificar se esse mesmo procedimento ocorre com todos os mais de 5.000 veículos cadastrados pelo governo federal para receberem verbas publicitárias.
As tabelas completas dos valores individuais investidos não são divulgadas. Não se conhece o montante exato enviado a cada um dos meios de comunicação por conta de propaganda estatal federal.
Ao divulgar os dados via “Observatório da Imprensa”, a Secom tampouco entra muito no mérito do uso de propaganda estatal de maneira tão disseminada. O silêncio é compreensível. Esse é um costume de todos os governos no Brasil, em todos os níveis, não importando o partido ao qual está filiado o chefe da administração.
O problema é que assim nunca é respondida a pergunta mais importante: por que um país como o Brasil precisou gastar R$ 1,797 bilhão em propaganda em 2012?
Há o argumento de que nesse bolo estão as empresas estatais que concorrem no mercado. Precisam anunciar para sobreviver. De fato, é uma ponderação a ser levada em conta. Mas levanta uma dúvida adicional: por que então os gastos dessas estatais não são divulgados em detalhes, para que se saiba em quais meios de comunicação estão investindo?
Aí a resposta do governo é conhecida. Trata-se de informação de caráter reservado. Os concorrentes privados das estatais poderiam tirar proveito se conhecessem os dados. Bom, essa é uma disputa que no futuro certamente será arbitrada na Justiça, pois está em conflito com a Lei de Acesso à Informação.
TVs abertas e outros meios
No caso da prevalência no Brasil das TV abertas na propaganda estatal federal, há mudanças no horizonte. Sem prejuízo desse meio de comunicação, é possível notar que tem ocorrido uma redistribuição na parte que sobra do bolo.
De 2000 a 2012, as TVs abertas continuaram soberanas. Aumentaram sua fatia nas verbas de propaganda estatal federal: tinham 54,4% e hoje pularam para 62,3%.
Os jornais impressos caíram de 21,1% para 8,2% desde o ano 2000 no bolo publicitário federal. Emissoras de rádio e revistas saíram da faixa dos 9% e recuaram para a dos 7%.
Já internet e mídia externa, que representavam quase nada no início da década passada, agora ficam, somadas, com mais de 12%. Eis o gráfico evolutivo:

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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Blog do Mario

Blog do Mario
Você já viu esta história: o traficante entrega drogas para as crianças e adolescentes, de graça, as vicia e depois cobra, e cobra caro pelo vício.
Agora vejam esta notícia: a Microsoft Brasil vai disponibilizar “DE GRAÇA” soluções tecnológicas para capacitação de pessoas em tecnologia da informação (TI) e uso de plataforma de aprendizagem virtual, MAS POR APENAS DOIS ANOS.
Sim, isso mesmo. Nesta terça-feira (9), no hotel mais caro e elitista do Brasil, o Copacabana Palace do Rio de Janeiro, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), assinou um “protocolo de intenções” com a Microsoft Brasil para o objeto já citado. Quem pagou a conta do hotel? A Microsoft? Foi feita licitação prévia a assinatura?
Beto Richa disse que isso servirá para “melhor comunicação entre alunos e professores na rede estadual de ensino”.
O Paraná foi “escolhido” pela Microsoft, junto com São Paulo, também administrada por um tucano, Geraldo Alckmin, por ter “diretrizes de governo” que dão segurança para a Microsoft.
A Microsoft confessa que seu “programa” é focado para o público jovem.
O presidente da Microsoft Brasil, Michel Levy, disse que o Paraná está “puxando o trem da competitividade” no país. É a tese neoliberal, incentivar a competição, o egoísmo, e não o compartilhamento e a fraternidade.
E a Celepar – Companhia de Tecnologia da Informação e Telecomunicações do Paraná está envolvida nesse escândalo.
Quem faz a comparação da Microsoft com um traficante é o sociólogo e professorSergio Amadeu, pesquisador de cibercultura e membro da comunidade do software livre. Com isso a Microsoft acionou judicialmente por calúnia contra Sérgio Amadeu. Veja parte de uma entrevista com Amadeu, que cita Bill Gates:
“Você concorda com a comparação entre a Microsoft e os traficantes de drogas?
O próprio Bill Gates parece concordar com essa comparação, de acordo com essa citação:
“Embora três milhões de computadores sejam vendidos a cada ano na China, as pessoas não pagam pelo software. Um dia eles pagarão, penso eu. E mesmo enquanto eles estão roubando, queremos que eles nos roubem. Eles ficarão como que viciados e um dia, de algum modo, vamos descobrir como cobrá-los na próxima década.” [Citação retirada da revista Fortune, dia 20 de julho de 1998]
No entanto, prefiro comparar a Microsoft com a indústria do cigarro, esses vendedores de drogas legalizadas. Eles distribuem amostras grátis e cigarros de chocolate para fazer com que as crianças comecem a fumar. Hoje, a Microsoft dá amostras grátis do Windows para escolas e estudantes. As escolas deveriam se recusar a fazer parte desse jogo.”
Além disso essa prática de Beto Richa, com apoio da Celepar, desrespeita a Lei Estadual 14.058/2003, que determina que a Administração Pública do Paraná deve utilizar, preferencialmente, programas abertos de computador. Na aquisição de softwares proprietários, deve ser dada preferência para aqueles que operem em ambiente multiplataforma, permitindo sua execução sem restrições em sistemas operacionais baseados em software livre. Também descumpre a Lei 14.195/2003 e Lei 15.6742/2007. Todas essas leis da época do governador Roberto Requião (PMDB), mas que ainda estão em plena vigência.
E acaba com a política de software livre no Estado, que privilegia o compartilhamento e o desenvolvimento nacional.
Por favor 2014, chega logo!

Três fins do mundo em apenas três meses

Três fins do mundo em apenas três meses

Três fins do mundo em apenas três meses

foto 1 Três fins do mundo em apenas três meses
De vez em quando, ultimamente, fico até com receio de perder meu tempo escrevendo. O mundo já poderá ter acabado quando este texto chegar aos caros leitores. Quem vai ler?
Sem falar na sempre iminente guerra nuclear das Coreias, o fim do mundo está onipresente no noticiário nacional, como se houvessem estabelecido uma programação prévia para não deixar o brasileiro respirar sossegado dois dias seguidos.
Mal se termina de falar de uma crise e já aparece outra nas manchetes, sem que tenha dado tempo da anterior terminar.
O ano mal começou, e já tivemos de volta as notícias alarmistas sobre os iminentes riscos de apagão de energia em razão da falta de chuvas nos reservatórios, ao mesmo tempo em que as enchentes em outros pontos do país provocavam novas tragédias. Imagens de reservatórios com pouca água e morros despencando eram acompanhadas de análises dos "especialistas" de sempre para quem o país, com este governo, não tem nenhum futuro, seja por falta ou excesso de chuvas.
Nós brasileiros nem tivemos tempo de comemorar o recorde da safra de grãos, e já começaram as séries de reportagens sobre o colapso na infraestrutura, com estradas intransitáveis e congestionamentos nos portos.
E assim fomos seguindo o ano de 2013, de agonia em agonia, até que sobreveio a grande crise do preço do tomate, a maior de todas, porque esta pode explodir ao mesmo tempo a inflação e os juros, levando o País à ruína completa. Em apenas três meses, ficamos novamente à beira do abismo.
Esses problemas todos existem, é claro, e alguns são bastante sérios, como já mostramos aqui no Balaio, tornando mais difícil a recuperação da economia. O clima de catastrofismo, porém, vai além da realidade dos fatos e tem como pano de fundo a sucessão presidencial de 2014, ativada pela antecipação da campanha e pela ausência de candidatos competitivos para enfrentar a candidata do governo.
Inconformados com os altos índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff, que nas atuais pesquisas lhe garantem a reeleição já no primeiro turno, setores da sociedade que se sentiram prejudicados com a queda de juros e tarifas, especuladores e rentistas, e todos os donos da grande mídia, aquela gente que não se conforma com medidas que visam a beneficiar a população de baixa renda, resolveram investir em outros campos, já que o cenário eleitoral não lhes dá muitas esperanças de voltarem ao poder tão cedo.
Alguma coisa está fora de ordem e de lugar quando assistimos à 'judicialização' da política e à politização do judiciário, e os grandes protagonistas da cena brasileira se tornam o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que agora têm uma opinião formada sobre tudo e dão seus pitacos definitivos sobre qualquer assunto, mesmo quando não são chamados. Eles se consideram os últimos catões da República, os únicos e os últimos honestos num país em que ninguém mais presta, só eles. Estão sempre de cara amarrada, não se permitem um sorriso. São as próprias expressões do fim do mundo.
Gurgel já decidiu que a nova distribuição dos royalties do petróleo só deverá valer a partir de 2016;  Barbosa comenta a indicação do polêmico deputado pastor Marco Feliciano para uma comissão da Câmara, como se tivesse alguma coisa a ver  com isso,  e ambos se dedicam com afinco para colocar logo na cadeia os condenados da Ação Penal 470, recusando sumariamente qualquer recurso dos advogados de defesa.
Citado pelo ex-ministro José Dirceu numa história no mínimo muito malcontada, no episódio da sua indicação para o STF, o ministro Luiz Fux manda um assessor  responder que não vai polemizar com réus condenados. Na mesma semana, o procurador-geral Gurgel determina ao Ministério Público e à Polícia Federal investigações sobre o ex-presidente Lula, a partir de declarações feitas por Marcos Valério, após o réu ser condenado a mais de 40 anos de prisão. Princípios e valores variam conforme os interesses de ocasião. E tudo parece muito natural para a nossa imprensa.
No mesmo momento em que Barbosa denuncia o "conluio" entre advogados e magistrados, o escritório de Sergio Bermudes, um dos mais caros do país, anuncia o patrocínio de uma festa de arromba para mais de 300 pessoas em seu apartamento de 800 metros quadrados, no Rio de Janeiro, para comemorar o aniversário de 60 anos do mesmo ministro Luiz Fux, cuja filha Marianna, candidata a uma vaga no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, trabalha com o anfitrião. A pedido da mãe do homenageado, diante da repercussão negativa do badalado regabofe, a festa foi cancelada, segundo os jornais deste sábado. Menos mal.
Mas não faltarão, certamente, outras festas do gênero, por mais que isso irrite ou agrade Barbosa, recentemente homenageado no Copacabana Palace pelos mesmos donos da mídia que publicam artigos de Marianna Fux e louvam seu pai, para congregar os comensais dos dois lados do balcão da Casa Grande, que podem perder as eleições e a vergonha, mas nunca perdem a pose nem o poder. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Este é o mundo deles, com ou sem perucas, e o resto que se dane, como costumam dizer, desde os tempos dos bailes da Ilha Fiscal.

Coincidências | Carta Capital

Coincidências | Carta Capital

Marcos Coimbra

Mídia e Poder

14.04.2013 07:31

Coincidências

A vida é cheia de coincidências. Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicou um de seus habituais artigos de discussão política. Foi daqueles nos quais assume o papel de farol das oposições. Seu conteúdo era, como se esperaria, fortemente crítico em relação ao governo.
Por coincidência, no mesmo dia, os principais jornais estavam cheios de notícias negativas sobre a situação nacional. Depois de lê-los, qualquer um ficaria com a impressão de que o Brasil caminha em marcha acelerada para o buraco (se é que já não estaria dentro dele).
Em outra coincidência, ficou pronta, naquele domingo, uma nova pesquisa nacional da Vox Populi. Feita em todo o País, sua amostra era suficiente para que os resultados sejam representativos dos sentimentos da opinião pública brasileira.
As ideias de FHC ficam cada vez mais parecidas com aquelas da mídia de direita. Infelizmente para eles a maioria pensa diferente. Foto: Vanderlei Almeida/AFP
As ideias de FHC ficam cada vez mais parecidas com aquelas da mídia de direita. Infelizmente para eles a maioria pensa diferente. Foto: Vanderlei Almeida/AFP
O artigo de FHC e o tom do noticiário eram tão semelhantes que um desavisado poderia suspeitar. Os editores e o ex-presidente estariam combinados? Você diz isso e nós aquilo? Nós mostramos os “fatos” e você os interpreta?
Conhecendo os personagens, é pouco provável. Mas FHC e a mídia conservadora não precisam combinar (no sentido de pactuar) exatamente porque combinam (no sentido de possuir afinidades). Cada um à sua maneira, contam as mesmas histórias.
São tão parecidos que é difícil saber, hoje, quem influencia quem. Tendo há muito abandonado o vigor analítico de seus tempos de sociólogo, as ideias de FHC se parecem cada vez mais àquelas dos editorialistas e comentaristas da direita da mídia. E esses, por o admirarem com veneração, fazem o possível para imitar seu pensamento.
A cada dia, FHC fica mais Globo e Veja (até porque não conseguiria viver sem eles) e elas mais FHC. Todos imaginam um Brasil lastimável, onde tudo dá errado. São, no entanto, de um otimismo imenso. Paradoxalmente, acreditam que estamos à beira do abismo, mas acreditam em uma saída simples e rápida: derrotar o “lulopetismo” na próxima eleição.
Em contraste flagrante, não há qualquer coincidência entre o seu pensamento e o sentimento da vasta maioria do País. A pesquisa da Vox, como as outras recentemente divulgadas, do Ibope e do Datafolha, mostra quão pequena é a parcela da sociedade afinada com a oposição, seja nos partidos, nas instituições, na indústria de comunicação ou na opinião pública.
Os entrevistados se dizem satisfeitos com o País e esperançosos em relação ao futuro. Entendem que sua vida tem melhorado e vai melhorar ainda mais. Sabem que falta muito por fazer, mas confiam no caminho trilhado.
Aprovam o governo. A maioria considera “ótimo” ou “bom” o modo como Brasília lida com a economia, enfrenta a crise econômica internacional, trata as questões do emprego e da inflação, administra programas sociais, conduz a política habitacional, cuida da imagem externa do País.
Gostam da presidenta: mais de 80% dos entrevistados a definem como “ativa”, com “garra”, “decidida”, “conhecedora do Brasil”, “boa administradora”. Mesmo em itens em que os políticos tendem a se sair mal, ela obtém índices muito favoráveis. Mais de 70% afirmam ser ela “sincera”, “próxima do povo” e “de palavra”.
É tamanha a diferença entre as convicções oposicionistas e o sentimento popular que é como se vivêssemos em dois países. Em um, tudo vai mal e a mudança política seria imperiosa. No outro, as coisas seguem de maneira satisfatória e as perspectivas são positivas. Neste, a continuidade política é lógica.
Está errada a maioria dos brasileiros? Os únicos certos são os próceres oposicionistas, os articulistas de meia dúzia de jornais e a minoria da sociedade? Somente eles conheceriam a “verdade”? Todos os restantes seriam ignorantes e incapazes de conhecer suas vidas, donde inabilitados para dizer-se satisfeitos de forma racional?
Não é apenas autoritária a tese de que só alguns poucos privilegiados conhecem o Brasil e possuem a visão certa das coisas. É tola e inútil para a atuação política.
Pode ser agradável para uma liderança escrever um artigo para jornal e ler na mesma edição uma manchete a confirmar sua análise. Assim como pode ser prazeroso para um jornalista referendar, por meio de seu trabalho, as ideias do ídolo.
Nada disso adianta quando não coincide com o que o povo pensa e deseja. As oposições se acham superiores, mas estão apenas a léguas dos cidadãos. E são eles, os cidadãos, que elegem os governantes.
Leia mais:
Eleições 2014: Nova pesquisa, velhas frustrações 

Mauro Santayana: O PODER E SUA MALDIÇÃO

Mauro Santayana: O PODER E SUA MALDIÇÃO

O PODER E SUA MALDIÇÃO


(JB) - Desde que a história do poder começou a ser escrita, dela tem sido inseparável o registro da corrupção. Contra a corrupção do poder, Savonarola, sugeriu um governo de santos. Platão um governo de sábios austeros. Em uma de suas famosas cartas, algumas tidas como apócrifas, ele fala da perversão do poder pelo hedonismo em Siracusa – ele que fora mal sucedido conselheiro de dois de seus tiranos, Dione e Dionísio. Pôde entender Platão que uma coisa são as idéias, outras, os homens.
            Savonarola é o modelo de todos os combatentes da corrupção na História. Coube-lhe opor-se ao mais corrupto e corruptor de todos os papas, Rodrigo Borgia, que ocupou o trono com o nome de Alexandre VI. O frade dominicano desafiou o papado e soube esquivar-se da astúcia do Pontífice, que lhe ofereceu tudo, até mesmo o chapéu cardinalício, com o propósito de  retirá-lo da Toscana, onde se sentia seguro.
           O monge acabou sendo vencido pelas armas, preso, julgado e condenado à morte. Naquele episódio, e em outros, Mamon, o deus do papa, se sobrepôs ao Cristo de Savonarola.
           Ainda agora se revela, pelo Wikileaks, que o  considerou natural a repressão no Chile de Pinochet, e exagerada a reação mundial, provocada pelas forças de esquerda, contra o golpe.
            A morte de Mme. Thatcher convida a uma viagem pela geografia da corrupção por excelência. Provavelmente não se conheça, em toda a História, processo mais extenso e mais profundo de corrupção da política pelo poder financeiro do que o eixo entre Washington, com Reagan, Londres, com a dama de ferro, e o Vaticano, com Wojtyla, no início dos 80. Convenhamos que os que os corromperam souberam fazê-lo.
            Na conspiração, que se selou em encontro na Biblioteca do Vaticano, Reagan e Wojtyla - em menos de uma hora - com a presença de Alexander Haig, acertaram os movimentos coordenados para destruir o sistema socialista, acabar com o estado de bem-estar social no resto do mundo e  globalizar o sistema econômico mundial. Nenhum dos três seria capaz de engenhar o plano, que – tudo indica – lhes foi entregue pelo Clube de Bilderbeg.
            É conveniente registrar que não tiveram muitas dificuldades na União Soviética, cujos burocratas, seduzidos pelo “doce charme da burguesia”, sonhavam com a vida faustosa dos executivos norte-americanos e ingleses.
            E dificuldades ainda menores nos países em desenvolvimento, alguns deles, como o Brasil, com recursos internos que lhes permitiam resistir à desnacionalização de sua economia. Como se sabe, ocorreu o contrário, com a embasbacada adesão dos dois Fernandos ao Consenso de Washington.
         O resultado do processo está aí, com o desmoronamento da economia européia, o avanço da pobreza pelos países centrais, e a corrupção, alimentada pelo sistema neoliberal, grassando pelo planeta inteiro.
         Os maiores bancos do mundo exercem diretamente o poder político em alguns países, como o Goldman Sachs o exerceu na Itália, com Mario Monti, e Papademus, na Grécia, até as eleições. Isso sem falar no Banco Central Europeu, sob o comando de Mario Draghi, também do mesmo banco. No passado, os Estados intervinham no sistema financeiro, para controlá-lo e proteger os cidadãos; hoje, os bancos intervêm nos Estados, com o propósito de garantir seus lucros, o parasitismo dos rentistas e as milionárias remunerações de seus “executivos”.
         Para fazer frente ao descalabro da economia, causado pela ficção dos derivativos, os governos europeus cortam os gastos sociais e levam famílias inteiras à miséria e ao desespero. Idosos são expulsos de suas casas, por não terem como pagar as prestações ou os aluguéis, os hospitais públicos reduzem o número de leitos, as indústrias recorrem à falência, e os suicídios se sucedem. Há dias, sem dinheiro para honrar compromissos de pequena monta, um casal de meia-idade, que possuía seu negócio de fundo de quintal, se enforcou, em Civitanova, na Itália. O irmão da senhora, atingido pela tragédia, também se matou, afogando-se no Adriático.
       Em Portugal – e ali sobram capitais privados ociosos, que adquirem, sôfregos, ativos brasileiros – o desespero atingiu limites extremos, e a União Européia, de joelhos diante dos banqueiros, exige de Lisboa maiores cortes no orçamento social.
         No fim de um de seus mais belos romances, Terra Fria, o escritor português Ferreira de Castro dá à mulher a notícia da presença de um militante revolucionário na cidade:
         “Ele disse que chegará o dia em que haverá pão para todos”.
          E, com o pão, a dignidade – é a nossa esperança

Terrorista, Veja produz seu segundo caso Boimate | Brasil 24/7

Terrorista, Veja produz seu segundo caso Boimate | Brasil 24/7
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Em 1984, o jovem repórter Eurípedes Alcântara caiu numa pegadinha de primeiro de abril e acreditou numa reportagem de uma revista científica sobre o cruzamento genético entre o boi e o tomate; o caso "boimate", levado às páginas de Veja, se consagrou como a maior "barriga" jornalística de todos os tempos, mas não impediu que Eurípedes se tornasse diretor de redação da revista da Abril; nesta semana, Veja diz que a presidente Dilma "pisou no tomate" e que o alimento virou piada nacional; tabelinha entre Abril e Globo é mais um momento baixo do jornalismo brasileiro, em sua campanha para disseminar terrorismo, pedir juros altos e combater o PT
247 - Eurípedes Alcântara, diretor de redação da revista Veja, tem uma marca indelével no seu currículo. Em 1984, quando era apenas um jovem repórter que iniciava sua carreira na revista Veja, leu uma reportagem numa publicação científica sobre o cruzamento genético entre o boi e o tomate e produziu uma das pérolas da história do jornalismo no Brasil, sem se dar conta de que se tratava de uma piada de primeiro de abril. O caso Boimate, obra de Eurípedes, entrou para a história como a maior "barriga" da imprensa brasileira em todos os tempos (para saber mais, leia aqui).
Neste fim de semana, no entanto, Eurípedes decidiu produziu seu segundo caso Boimate. Numa tabelinha com a revista Época, da Editora Globo, Veja produziu uma capa idêntica, dizendo que a presidente Dilma "pisou no tomate". Na Carta ao Leitor, Eurípedes "Boimate" Alcântara afirma que a presidente Dilma "pode afundar o Brasil". E o texto sobre inflação é uma das peças jornalísticas mais vis, distorcidas e mal intencionadas já produzidas pela imprensa brasileira.
Sob o título "Sim, eu posso..." e a imagem de uma Dilma com um tomate tatuado no braço, Veja informa que o alimento se transformou no símbolo da apreensão dos brasileiros com a volta da inflação. Mas nem torcendo e espancando as estatísticas, Veja consegue deixar sua tese de pé. Num gráfico interno, com a evolução dos preços do tomate, percebe-se que o preço do quilo foi de R$ 4,37 a R$ 7,81 entre 15 e 28 de março, mas já caiu para R$ 4,43 em 11 de abril. Ou seja: o estouro da meta inflacionária em 0,09 ponto, que ocorreu em razão de uma entressafra, será revertido em abril.
Para ancorar sua peça de propaganda política, Veja cita as piadinhas que surgiram "com toda a naturalidade do mundo", como o famoso colar de tomates de Ana Maria Braga. E fala até que os fiscais da Alfândega brasileira em Foz do Iguaçu estavam tendo que lidar com um novo tipo de crime na fronteira com o Paraguai: o contrabando de tomates.
Outro gráfico usado por Veja cita a inflação acumulada em doze meses, de 6,59%, e outros preços que subiram mais do que isso, como a mensalidade escolar (9%), o pet sho (12%), o óleo diesel (14%) e o tomate (122%) – repita-se, um alimento com preços já em queda livre. Ora, é elementar que, se a média ficou em 6,59%, há outros itens que subiram bem menos, ou até caíram, como, por exemplo, as tarifas de energia elétrica.
Na reportagem, Veja mal disfarça seu lobby pelos juros altos. "Com a inflação não tem conversa. Ela só entende uma coisa: aumento dos juros, corte de gastos do governo e aperto no crédito – todas medidas impopulares". No seu Boimate 2.0, Veja aproveita também a oportunidade para fazer um elogio rasgado em relação a Margaret Thatcher, que "cortou os gastos e elevou os juros". Prestes a ser enterrada, Margaret Thactcher ainda hoje é um das figuras públicas mais odiadas da Inglaterra e a polícia britânica discute como conter protestos em seu funeral.
Sobre Veja, Eurípedes e seu segundo caso Boimate, nada a fazer a não ser atirar tomates na publicação. Que, aliás, já estão bem mais baratos.

Diário do Centro do Mundo A BBC não sabe o que fazer com a música mais vendida da Inglaterra - Diário do Centro do Mundo

Diário do Centro do Mundo A BBC não sabe o que fazer com a música mais vendida da Inglaterra - Diário do Centro do Mundo
Ativistas anti-Thatcher levaram ‘A Bruxa Morreu’ ao número 1, e a BBC sofre pressão para não tocá-la na tradicional parada de domingo.
Alegria, alegria
Alegria, alegria
Liberdade de expressão é uma coisa realmente complicada: é mais fácil falar dela do que praticá-la.
Um episódio mostra isso exatamente neste momento, no país que supostamente é o berço da liberdade de expressão.
No meio de uma controvérsia que se espalhou toda a mídia britânica, está a venerada BBC.
O que aconteceu: ativistas deflagraram uma campanha para comprar uma música anti-Thatcher para levá-la ao topo das paradas.
A música é do Mágico de Oz, e se chama “Ding Dong The Witch is Dead!”. (Dim Dom A Bruxa Morreu!”
Objetivo alcançado.
Neste momento em que escrevo, é a número 1 na Inglaterra.  E é aí que entra a BBC com seu excruciante dilema.
Tradicionalmente, aos domingos, a principal rádio da BBC, a 1, toca as músicas mais vendidas, a conhecida parada de sucessos.
A questão que se ergueu barulhentamente: a BBC deveria tocar o hino anti-Thatcher, a três dias de seu funeral?
Os comentaristas conservadores da mídia saíram gritando que não. Que isso seria desrespeito com uma pessoa que sequer foi enterrada.
Mas um momento: isso é censura, ou não?
É o entendimento da chamada voz rouca das ruas. Numa enquete no Guardian, quase 90% das pessoas disseram que sim, a rádio tinha que tocar a canção.
E a BBC, que fez?
Encontrou uma solução que foi a seguinte: subiu no muro. Não vai censurar a música, ao contrário do clamor conservador.
Mas tampouco vai tocá-la inteira: decidiu dar, na parada de domingo,  um fragmento de 4 ou 5 segundos.
O que parece claro, passados alguns dias da morte de Thatcher, é que a elite política e jornalística inglesa não tinha a menor ideia de quanto a Dama de Ferro era detestada.
É uma demonstração espetacular de miopia e de desconexão com as pessoas.
A Inglaterra vive hoje não apenas uma crise econômica que não cede há anos, mas uma situação dramática de desigualdade que levou aos célebres riots – quebra-quebras — de Londres há pouco mais de um ano.
Qual a origem da crise e da desigualdade?
Thatcher, é claro.
O real legado de um governante se vê depois que ele se foi. As desregulamentações, as privatizações e os cortes em gastos sociais de Thatcher, passados 30 anos, resultaram num país em que as pessoas têm um padrão de vida inferior ao que tiveram.
Como imaginar que as pessoas ficariam tristes com sua morte?

Veja e Época pisam no tomate: inflação ESTEVE em alta, mas ESTÁ em baixa

Veja e Época pisam no tomate: inflação ESTEVE em alta, mas ESTÁ em baixa

Veja e Época pisam no tomate: inflação ESTEVE em alta, mas ESTÁ em baixa

O gráfico abaixo fala por si, e comprova: a curva de inflação subiu de setembro de 2012 a janeiro de 2013. Depois disso, entrou em queda.
Só haveria motivo para grandes preocupações se a curva continuasse subindo. Como já está em queda, significa que as medidas tomadas pelo governo estão funcionando e já produzem efeitos.

Tanto isso é verdade, que o próprio mercado financeiro é categórico ao prever que o índice de inflação IPCA chegará em dezembro fechando o ano em 5,7%, dentro da meta.

Veja e Época fazem lobby por juros altos para banqueiros e panfleta para oposição

Fala sério! Alguém acredita que o aumento da taxa Selic é que faz cair ou subir o preço do tomate?


A revista Veja e Época dão um chilique em "reporcagens" de capa (bem ao contento dos banqueiros e dos demotucanos que clamam por juros altos) porque o acumulado nos últimos 12 meses ultrapassou 0,09% a meta neste momento (por sinal um valor muito baixo, nada assustador). Mas é apenas o retrato de um momento em que o cálculo de 12 meses passados atingiu um pico, em consequência do que aconteceu entre setembro e janeiro. Esse pico já passou, mas continua entrando no cálculo do passado, dos últimos 12 meses.

A partir do segundo semestre deste ano, o índice mais baixo esperado para setembro de 2013, será uma parcela que substituirá o índice mais alto de setembro de 2012, reduzindo o cálculo acumulado em 12 meses. O mesmo se repetirá em outubro, novembro e dezembro. Daí o cálculo dos próprios operadores do mercado financeiro de que o ano fechará em 5,7%.

Além disso o IPCA de março foi 0,47%. O maior impacto dentro desse número foi 0,28% nos alimentos e bebidas, em consequência de quebras de safra, cujas perspectivas são de ser superadas nos próximos meses, com o agora famoso tomate (e outros alimentos) voltando a preços normais.

Se as referidas revistas fizessem um jornalismo honesto contariam essa história inteira, em vez de fazer capas sensacionalistas, alarmistas e panfletárias.

Onde Ana Maria Braga colocou a mandioca?

A apresentadora da TV Globo Ana Maria Braga apareceu com um colar de tomates pendurado no pescoço para ironizar o preço. Mas a farinha de mandioca teve alta maior do que o tomate. Onde a madame colocou a mandioca?

A prepotência de Joaquim Barbosa por Jânio de Freitas » QTMD? Quem Tem Medo da Democracia?

A prepotência de Joaquim Barbosa por Jânio de Freitas » QTMD? Quem Tem Medo da Democracia?

O risco do avanço

Por Jânio de Freitas, jornalista, na Folha de S. Paulo de 11/04/2013
O risco é grande e, pior ainda, crescente. O que pode suceder quando um alvejado por agressões orais do presidente do Supremo Tribunal Federal usar o direito de reagir à altura, como é provável que acabe acontecendo? Em qualquer caso, estará criado um embaraço extremo. Não se está distante nem da possibilidade de uma crise com ingredientes institucionais, caso o ministro Joaquim Barbosa progrida nas investidas desmoralizantes que atingem o Congresso e os magistrados.
O fundo de moralismo ao gosto da classe média assegura às exorbitâncias conceituais e verbais do ministro a tolerância, nos meios de comunicação, do tipo “ele diz a coisa certa do modo errado” –o que é um modo moralmente errado de tratar a coisa errada. Não é novidade como método, nem como lugar onde é aplicado.
Nem por isso o sentido dos atos é mudado. “Só se dirija a mim se eu pedir!” é uma frase possível nas delegacias de polícia. Dita a um representante eleito da magistratura, no Supremo Tribunal Federal, por seu presidente, é, no mínimo, uma manifestação despótica, sugestiva de sentimento ou pretensão idem. Se, tal como suas similares anteriores, levou apenas a mais uma nota insossa dos alvejados, não faz esperar que seja assim em reedições futuras desses incidentes.
Afinal, quem quer viver em democracia tem o dever de repelir toda manifestação de autoritarismo, arbitrariedade e prepotência. É o único dever que o Estado de Direito cobra e dele não abre mão.

Blog do Sakamoto - Cotidiano - Notícias

Blog do Sakamoto - Cotidiano - Notícias

Depois de muito tempo, este blog desce do pedestal e responde a um leitor



Detesto fazer o que chamo de “metapost”, com um texto que se refere ao próprio blog. Mesmo para um cara arrogante e vaidoso, soa meio pedante, sabe? Contudo, quando isso pode ser usado para uma boa causa, acho que vale a pena chafurdar um pouco no quintal de casa.
A graça deste blog – se é que tem alguma – está em ele possuir duas partes complementares. Primeiro, os posts em si, sejam eles análises, notícias ou reportagens. Considero esse lado so boring, darling – como diria o patético Gerald Thomas. E há outro, esse mais vivo, dinâmico e divertido, formado pelo debate a partir dos pontos levantados pelo post por leitores que se levam a sério demais e outros que sabem rir de si mesmos. Em outras palavras, os comentaristas são a alma deste blog.
Por isso, amo vocês (nhom…) Mas, infelizmente, não tenho como responder aos leitores. No que pese a fundamental ajuda do UOL com o sistema de aprovação dos comentários, crio essa criança sozinho. Então, a menos que o dia passe a ter 36 horas, não tem jeito mesmo. Desculpe.
Nos últimos tempos, é fato, tenho recebido cada vez mais comentários revoltados contra a minha pessoa por conta de textos que remaram contra o senso comum e bateram de frente em alguns preconceitos entronizados ou questionaram saídas fáceis e zonas de conforto. Por isso, resolvi analisar um deles, que chegou neste sábado (13) e, portanto, está fresquinho.
Dividi em partes:
“vc não tem vergonha de ser quem vc é? vc é um cancer”
Para ser honesto, tenho. Sou péssimo goleiro, canto mal para diabo, um chefe chato pacas, as plantas aqui em casa não duram nada e não consigo voltar ao meu peso de dez anos atrás – nem com reza brava. Sem contar que sou um saudoso torcedor do time da rua Turiassu. Particularmente, não gosto de paralelos com essa doença – não é legal brincar com isso. Mas se você quis dizer que vou lentamente crescendo e deixando raízes, agradeço o elogio. Contudo, se me permite, sugiro outra metáfora: Quero ser a mosca que pousou na sua sopa.
“Pessoas como vc deveriam ser vítimas do que vcs pregam. Muito cômodo falar suas baboseiras que o pessoal que tem preguiça de pensar concorda (quase sem opção).”
A-do-ra-ri-a ser vítima do que defendo! Imagine que bom seria viver em uma sociedade que garantisse a efetividade dos direitos humanos? Lembrando que isso inclui o direito de ir à igreja e professar uma fé envolvendo quaisquer deuses, de se organizar em um partido ou uma associação, de votar e ser votado, de não ser molestado por ter uma cor de pele ou orientação sexual diferentes, de poder ir livremente de casa para o trabalho sem o risco de ser abordado e preso sem justificativa, de ter igual direito, sendo homem ou mulher, de ter uma opinião diferente e não ser incomodado por isso (desde que essa opinião não machuque os demais), de ser dona do seu próprio corpo, de ter um emprego decente, de não ser torturado gratuitamente, de ter acesso a um julgamento justo e não ser condenado sumariamente, de ter garantida uma infância e uma juventude dignas, de não levar uma mão boba de um diretor de teatro sob a justificativa de que queria causar um desconforto na sociedade…
É fácil escrever o que o senso comum deglute com facilidade e que está guardado em nossos instintos mais animais. Difícil mesmo é redigir algo com a certeza absoluta de que apenas uma minoria vai ler o texto até o final, embutindo uma provocação que gere uma reflexão ao final. Em um assunto polêmico, boa parte das pessoas passa o olho de forma transversal, capta algumas palavras como “direitos humanos”/ “traficantes”/ “Estado” / “maioridade penal” / “aborto” / “evangélico” / “casamento gay” / “Palmeiras, oito vezes campeão brasileiro!” e sem nenhuma intenção de expor idéias ou debater, pinça um capítulo de sua Cartilha Pessoal de Asneiras e posta como comentário. É a vitória da limitada experiência individual sobre a necessidade coletiva, da emoção do momento sobre a racionalização necessária para que não nos devoremos a cada instante.
“Incentive a reflexão, se vc for homem.”
Essa eu juro que não entendi. Mulheres não refletem também?
“E pare de se esconder atrás desse “formador de opinião” tão fajuto quanto a nossa realidade. Se fosse jornalista, passaria informação. Não alienaria quem já é alienado por natureza. Pense na responsabilidade de passar informação para quase 50k pessoas.”
Acho que você não conhece muito bem o ofício do jornalista… O que é “passar informação”? O que é alienar?
Vamos lá: primeiro, não existe observador independente e imparcial. Você vai influenciar uma realidade e ser influenciado por ela. E vai tomar partido, consciente ou inconscientemente. Se for honesto, deixará isso claro ao leitor. Sei que há colegas de profissão que discordam, que dizem que é necessário buscar uma pretensa imparcialidade. É necessário ouvir todos os lados para entender o assunto, mas a sua tradução já sofrerá influência de quem você é e onde você está – socialmente, profissionalmente, politicamente, culturalmente. Zerar essa influência só seria possível se nos despíssemos de toda a humanidade. Há quem tente ferozmente e ache bonito.
Tomar partido se reflete na escolha da pauta que você vai fazer, sob a ótica de quem. Concordo com Robert Fisk, o lendário correspondente para o Oriente Médio do jornal inglês Independent, que diz que em situações de confronto, de limite, deve-se tomar opção pelos mais fracos. Ou, mais especificamente, dos empobrecidos e marginalizados, no que se refere à realidade política, econômica, social, cultural e ambiental. Tomar partido não significa distorcer os fatos, pelo contrário, é trazer o que historicamente é jogado para baixo do tapete, agindo conscientemente no sentido de contrabalançar, junto à opinião pública, o peso dos lados envolvidos na questão. Distorcer é má fé, preguiça ou incompetência – coisa que muito jornalista que se diz imparcial faz aos montes, aplaudido por quem manda. Aqui ou lá fora.
Tem muito jornalista à venda. Mas sabe o que assusta muitos leitores (principalmente os comentaristas de blog na internet)? É que existam aqueles que não estão. Neste mundo que cisma em ser pós-moderno é difícil explicar que ainda há alguns nortes que valem a pena ser seguidos. Não grandes discursos de Verdade, pois isso não existe (mais). Mas noções éticas básicas que, construídas e compartilhadas, melhoram a nossa existência. Como já disse aqui antes, para quem acredita que a vida não é um grande “cada um por si e Deus por todos”, isso é extremamente desesperador.
Enfim, meu bom rapaz, toda a informação é grávida. E informação, ela mesma, é canal de alienação, sim.
“Eu vou te infernizar. Será minha contribuição.”
Eu acho ótimo! Pegue uma senha e vá em frente. Eu acho o inferno um lugar mais interessante que o céu. É quentinho ;-)

De quem é a mão que balança o berço da mídia? | Brasil 24/7

De quem é a mão que balança o berço da mídia? | Brasil 24/7
247 - Há quem acredite em coincidências. E na hipótese de que, ao longo desta semana, os editores das revistas Época e Veja tenham tido a mesma inspiração. A capa seria dedicada ao tema inflação e não haveria nada melhor para sinalizar a escolha do que o tomate. Nos dois casos, a mesma piadinha: a de que a presidente Dilma Rousseff teria "pisado no tomate".
Assim como nas revistas semanais, coincidências também ocorreriam nos principais jornais do País, que, num mesmo dia, seriam capazes de produzir manchetes idênticas, sobre o estouro da meta inflacionária e a necessidade de juros maiores. Aconteceu com Globo, Estado e Folha na semana passada.
No entanto, deve-se desconfiar de tamanha sintonia entre veículos de comunicação, que, não por acaso, ganharam o carimbo de PIG, Partido da Imprensa Golpista. Por que, afinal, escolhas tão idênticas e manchetes tão afins num mundo de múltiplos acontecimentos? Haveria alguma articulação? Um ponto de contato entre seus editores? Uma construção de consensos artificiais no processo de formação da opinião pública? Ou será que tudo acontece mesmo por acaso?
Seja como for, a sintonia entre os meios de comunicação acontece num momento emblemático. Dentro de 48 horas, técnicos do Banco Central começam a discutir a política monetária e qual será a próxima taxa Selic, hoje fixada em 7,25%. Seja em Época, Veja, nos jornais, como no editorial do Globo deste domingo, ou na voz de lobistas do sistema financeiro, como Maílson da Nóbrega, Alexandre Schwartsman e Ilan Goldfajn, o que se pede, com todas as letras, é uma dose forte de juros, cujos efeitos serviriam muito mais para realimentar a especulação financeira do que para baixar o preço do tomate, que subiu em razão de secas e já está em queda acentuada.
Diante de tudo isso, é de se perguntar: de quem é a mão que balança o berço da mídia? Será Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, que tem se mostrado como maior antagonista da política de juros baixos? Ou, quem sabe, Fernando Henrique Cardoso, que manteve sua interlocução privilegiada com os magnatas da mídia brasileira nos últimos anos?
Neste fim de semana, tanto Veja como Época também tiveram a ideia de comparar Dilma a Margaret Thacther. Sobre a presidente brasileira, diz Veja que ela "esnoba o capital externo, demoniza o lucro e muda as regras do jogo toda hora" (alguém pensou em Roberto Setubal, que disse o mesmo ao Financial Times?)
Há uma mão invisível no noticiário. Só falta descobrir a quem pertence.

Livro tenta provar que existe a possibilidade de conciliar muito trabalho com pouco stress - notícias - Estadão PME – Pequenas e Médias Empresas

Livro tenta provar que existe a possibilidade de conciliar muito trabalho com pouco stress - notícias - Estadão PME – Pequenas e Médias Empresas
Entre as pilhas e pilhas de livros que pretendem ajudar profissionais de todas as áreas, executivos em estado de desespero e empreendedores sem rumo, um chama a atenção pelo título pra lá de desafiador: Muito trabalho, pouco stress (Editora Évora - R$ 39,90). 'Como assim?' 'Ah tá?' 'Claro, claro..' Desconfio que essas são apenas algumas das observações que o consumidor mais atento na livraria faz a si próprio quando pega o livro nas mãos.

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É esse o esforço de André Caldeira, autor da obra em questão. Caldeira é ex-dentista, ex-professor de inglês, ex-publicitário e tem mais de 20 anos de carreira executiva. E decidiu provar que existe sim equação - e luz no fim do túnel - para quem vive como executivo. Empreendedor ou não.
"Acredito, sim, que é possível conciliar muito trabalho com pouco stress. Isso passa por autoconhecimento, por reconhecimento dos nossos limites pessoais, pela responsabilidade de nossas escolhas, pela forma como lidamos com as pressões do dia a dia e pela importante conclusão de que nossa resposta reside em cada um de nós, pois o cenário à nossa volta só tende a piorar", afirmou o autor.
Caldeira concedeu uma entrevista ao Estadão PME em que comenta, inclusive, sobre nossa atual dependência de dispositivos móveis. "Chamo esses dispositivos móveis de coleitas eletrônicas, tal a nossa dependência. E esse vício começa a dar sinais de como está impregnado em nossa cultura moderna." Confira agora os principais trechos da entrevista.
Estadão PME - Fale um pouco sobre suas motivações para escrever esse livro. O que o levou a entender que é possível conciliar muito trabalho com pouco stress?
André Caldeira - Quando era gestor de tecnologia educacional em uma grande empresa de educação, em 2009, fazia muitas palestras para donos de escolas de educação básica e faculdades sobre a penetração crescente da tecnologia no processo de aprendizagem dos alunos. Mas percebia que minha mensagem não ecoava como eu queria, pois a grande maioria do público era imigrante digital e não tinha a compreensão adequada deste mundo novo da tecnologia.
Foi ali que tive a ideia de criar um blog para falar, nas palestras, sobre conteúdo sendo produzido por usuários na web 2.0, sobre a minha experiência como blogueiro e o devido paralelo com o universo dos alunos. Para não escrever sobre educação e tecnologia, o que poderia denotar “jabá” ou algum tipo de mensagem forçada, resolvi escrever sobre um tema que acredito e procuro praticar: a tentativa de equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Alia nascia o blog Muito Trabalho, Pouco Stress.
Estreei em outubro de 2009 e a reação foi muito, muito maior do que eu esperava: profissionais de todo o Brasil começaram a reagir aos textos, com grande identificação aos desafios (de todos) de administração do tempo, produtividade, alimentação, exercícios físicos, tempo com a família, tempo para si mesmo, vício em tecnologia, entre tantos outros.
Com isso tudo, percebi que havia espaço para um livro sobre o tema, e tive a ideia de criar um personagem para contar a história de um workaholic: assim nasceu Joe Labor.
Por fim, acredito, sim, que é possível conciliar muito trabalho com pouco stress. Isso passa por autoconhecimento, por reconhecimento dos nossos limites pessoais, pela responsabilidade de nossas escolhas, pela forma como lidamos com as pressões do dia-a-dia (o que os americanos chamam de coping), e pela importante conclusão de que a resposta reside em cada um de nós, pois o cenário à nossa volta só tende a piorar (segmentos cada vez mais competitivos, fusões e aquisições, mercado de capitais exigente, que torna os índices de eficiência públicos e estabelece novos benchmarks para as empresas, uso exacerbado de tecnologias móveis, funis de empregos, avaliações para progressão de carreira etc.).

Estadão PME - Você acredita que existe um momento que o executivo ou empreendedor tem de dar um basta e mudar radicalmente a sua rotina? Você acha isso possível e até recomendável?
André Caldeira - Acho que este basta deve acontecer nos casos limítrofes, onde a opção é mudar ou mudar, pois caso a mudança não ocorra, os perigos reais à saúde são iminentes. E que perigos são esses? No lado físico, infartos, derrames, desenvolvimento de diabetes, doenças respiratórias e outros quadros sérios causados pelo stress como gatilho, seja pela predisposição à doença ou pela baixa de imunidade. No lado psicológico, ansiedade, angústia e depressão. No meio de tudo, os eventuais hábitos de uso de remédios – para controlar a ansiedade, para dormir, para ter mais energia. E tudo isso agravado por excessos de álcool e de comida, pela ausência de exercícios físicos, pela falta de sono.
Em quadros como este o “basta” é mais do que uma recomendação, é uma necessidade de sobrevivência.
Mas a grande maioria dos profissionais lida com o stress de forma irresponsável, como se fosse um machucado crônico que incomoda, mas que não há o que fazer. Discordo deste tipo de atitude. Temos que atuar na correção e na prevenção, trazendo a mesma disciplina aplicada na carreira (e que muitas vezes é causa de stress) para a vida pessoal, criando momentos quase que obrigatórios de cuidado pessoal (tempo com a família, desligamento do trabalho, exercícios físicos, silêncio interior, mudança de canal cerebral etc.). É o que chamo de “EuCorp”: somos tão gestores de nós mesmos como de nossas carreiras. Por que devotamos todo nosso tempo e atenção para a carreira e deixamos nossas “EuCorps” tão abandonadas e em 2o plano? Qual a sustentabilidade deste tipo de atitude a médio/longo prazo? Que tipo de satisfação e contentamento de vida estamos construindo se só focarmos no dinheiro e na carreira? Usar todo o tempo para trabalhar e ganhar dinheiro é como viver para respirar: não vivemos sem ar, mas não podemos viver para respirar. Portanto, não se pode viver somente para trabalhar e ganhar dinheiro. A vida está passando, e rápido. Qual o propósito de cada um?
Estadão PME - A rotina do empreendedor, principalmente o iniciante, tende a ser ainda mais difícil do que a do executivo de uma multinacional. Há conselhos que você poderia dar a esse público específico?
André Caldeira - Existe uma curva de stress que vai crescendo à medida que o profissional galga novas posições na hierarquia corporativa: estagiário ou trainee, assistente, analista, coordenador, supervisor, gerente... e assim por diante. Mas o stress atinge seu pico na posição de gerente ou diretor, e tende a diminuir um pouco nas posições de maior senioridade, de gestão e presidência, por conta de certas questões-chave estarem sob controle: remuneração, poder e status como as mais relevantes.
No caso dos empreendedores, o stress tem ligação direta com a responsabilidade, com o risco e com a pressão de que muito do sucesso do negócio está nos ombros de quem lidera o projeto ou a ideia. A pressão é constante: tornar o negócio viável, provar que a ideia tem espaço e potencial de crescimento, recursos para fazer isso acontecer, histamina e iniciativa para não sucumbir e convencer equipe, mercado, clientes e eventuais investidores. Tudo isso significa graus de exigência extremamente altos, que se não dosados com um mínimo de equilíbrio com a vida pessoal, com hábitos construtivos, pode ameaçar diretamente o desenvolvimento do negócio do empreendedor. De novo, a questão da disciplina: exercícios físicos regulares, meditação ou algum tipo de momento de espiritualidade, cuidados com alimentação, sono e álcool, tempo de qualidade com a família e amigos. O empreendedor precisa lembrar, mais do que qualquer outro profissional, que a sustentabilidade dele mesmo significa chances maiores de seu negócio dar certo e prosperar. Por isso, o mesmo cuidado com o fluxo de caixa ou o lançamento de um produto deve estar presente na vida pessoal. O ciclo pode ser vicioso, ou virtuoso.
Estadão PME - Em que medida os dispositivos móveis - smartphones e tablets - hoje em dia contribuem para as pessoas não se desligarem nunca do trabalho. E como se livrar deles quando se está com a família?
André Caldeira - Chamo estes dispositivos de coleiras eletrônicas, tal a nossa dependência. Se deixarmos, estamos 100% do tempo ligados e disponíveis, incluindo noites e finais de semana. E mais do que isso: por serem extremamente viciantes, criam um mecanismo de necessidade constante de sabermos se alguma nova mensagem entrou em nossa caixa de entrada, se alguém nos mandou uma mensagem instantânea, como se fôssemos perder algo de relevância vital se deixássemos de ter acesso por algumas horas.
E esse vício começa a dar sinais de como está impregnado em nossa cultura moderna: os profissionais americanos criaram recentemente um jogo chamado de Phone Stacking. Nele, por exemplo, um grupo de amigos sai depois do escritório para um happy-hour. Todos colocam seus celulares no centro da mesa, em uma pilha. O primeiro que não resistir à tentação de pegar seu celular para checar mensagens, fazer ou atender a uma ligação paga a conta de todos os demais. Que tipo de comportamento, que senão o vício, pode explicar o fato de alguém não aguentar e pagar a conta de todos os demais em um caso como esse?
Já existem, hoje em dia, síndromes sérias relacionadas o vicio em smartphones. Uma delas é similar à síndrome do membro fantasma, sentida por pessoas que tiveram um membro amputado do corpo, e que relatam dores intensas nestas partes que não existem mais. Outro fenômeno são os inúmeros relatos de pessoas e profissionais que sentem o telefone vibrando no bolso ou na bolsa, mesmo quando ele não está ali. Outra é a angústia de perder o telefone celular. Junto com a carteira e a chave de casa, o celular assumiu tal importância que as pessoas sentem crises de ansiedade/abstinência se perdem seu celular, ou se a bateria acaba e não há como recarregar no momento. Isso sem esquecer que o Blackberry foi apelidado de Crackberry, tal o seu poder viciante.
A compulsão faz parte da natureza humana. Se vivemos para trabalhar, se colocamos os assuntos do trabalho acima de tudo, e por meio de smarthones e tablets podemos acessar o escritório de qualquer lugar, a qualquer hora, temos o cenário perfeito para a criação de um vício.
De novo, é preciso criar consciência. Precisamos, de fato, estar com o celular ligado a qualquer hora? Temos que checar a caixa de entrada de e-mails do trabalho antes de dormir? Por que fazer isso em um sábado de tarde? Salvo os períodos críticos de um projeto especial, temos que combater vigorosamente este hábito, não somente por nós mesmos, mas pelo tipo de cultura que se cria nas organizações: se eu respondo a uma mensagem no sábado de tarde, é muito provável que meu colega dê sequência ao assunto no sábado de noite ou no domingo, e assim por diante.
O que pode ser feito?
Desligar o celular corporativo ao sair do escritório, se possível.
Não abrir a caixa de mensagens fora do horário de expediente.
Não ter o celular nas mãos ou por perto quando estiver com a família ou os amigos.
Escolher criar o que chamo de presença real nos compromissos pessoais e familiares, nos quais devemos prestar 100% de atenção nas pessoas, curtir os momentos de lazer e desligar do trabalho. Isso nos trará grandes benefícios emocionais, e muito mais produtividade quando retornarmos ao trabalho depois.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

“Financiamento empresarial de campanha é incompatível com a democracia”, diz Jorge Hage | Carta Capital

“Financiamento empresarial de campanha é incompatível com a democracia”, diz Jorge Hage | Carta Capital
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Por André Barrocal
Jorge Hage. Ele está desde 2006 na chefia da CGU. Foto: Antonio Cruz/ABr
Há dez anos na Controladoria Geral da União (CGU), primeiro como secretário-executivo e desde 2006 como chefe do órgão fiscalizador do uso de recursos públicos federais, o baiano Jorge Hage Sobrinho desenvolveu uma visão privilegiada do sistema político brasileiro que lhe dá certeza: o poder econômico tem muita e má influência. O peso quase absoluto das doações feitas por empresas para campanhas, diz o ministro, deforma a democracia. Leva a classe política a trabalhar para os financiadores, não para os eleitores, e com isso gera o grosso da corrupção.
A crua avaliação ajuda a entender por que o Congresso resiste a votar uma reforma política que proíbe doações empresariais para campanhas e as substituiria por dinheiro reservado nos cofres públicos para uma espécie de investimento na democracia. Também explica por que esse mesmo Congresso faz corpo mole há três anos diante de uma lei que expõe a constrangimentos e punições aquelas empresas que forem pegas comprando funcionários públicos.
Leia mais:
Megavazamento de documentos expõe paraísos fiscais
Lula: “nós queremos comparação, inclusive sobre corrupção”
Peemedebismo à prova

A aprovação de uma lei contra corruptores foi um compromisso assumido em 2000 pelo Brasil perante a Organização para a Cooperação e do Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 1997, a OCDE firmara uma convenção, ratificada por 39 países, que buscava conter a prática de suborno por parte de empresas. O alvo eram as multinacionais que pagavam propinas fora do país da matriz, mas o acordo estimulou a adoção de legislações com enfoque doméstico.
É o caso da proposta no Congresso brasileiro. Pelo projeto, uma empresa corruptora poderia ser punida pelo governo sem necessidade de julgamento na Justiça, com penas como multa com base no faturamento, expiação da culpa em praça pública via publicidade do nome do corruptor e veto à presença em licitações, por exemplo. “Essa lei permite atingir o patrimônio da empresa e recuperar o dinheiro para os cofres públicos, que é realmente o que faz diferença, o que realmente tem capacidade de inibir a corrupção”, diz Hage.
A seguir, a entrevista concedida pelo ministro a CartaCapital na terça-feira 9, Dia Internacional de Combate à Corrupção.
CartaCapital: Existe influência excessiva do poder econômico na política brasileira?
Jorge Hage: Não tenho nenhuma dúvida. E será assim enquanto tivermos o financiamento empresarial das campanhas e dos partidos. Não digo nem financiamento privado, porque se fosse um financiamento privado amplamente pulverizado entre pessoas físicas, ainda seria algo palatável, mais compatível com um sistema realmente democrático. Mas como é um financiamento essencialmente empresarial, com grandes doações de grandes grupos, a incompatibilidade com o sistema democrático para mim é algo óbvio. Deixei a política eleitoral por isso. Cheguei à conclusão de que é inviável [disputar eleições] para quem não pretenda aderir a este financiamento. Desde que vim para a CGU trabalhar no combate à corrupção, a cada dia me convenço mais de que o financiamento empresarial está na raiz mais profunda da corrupção. Mas é muito difícil a proposta do financiamento público lograr êxito.
CC: A corrupção é a principal conseqüência do financiamento privado?
JH: Não é apenas em corrupção que se reverte a má influência do poder econômico, é também através do lobby. Pode implicar muitas vezes uma influência direta de segmentos econômicos nas decisões públicas. Talvez não seja justo rotular isso como corrupção, mas na minha opinião é uma influência ilegítima. Veja um exemplo nos Estados Unidos. Há uma dificuldade enorme de aprovar medidas de desarmamento mesmo diante da matança por loucos que saem metralhando. Boa parte da população pede o controle da venda de armas, mas o governo não consegue aprovar devido ao lobby da indústria armamentista.
CC: Quer dizer, mesmo que não haja irregularidade, o sistema está montado em cima de uma estrutura que não é a melhor do ponto de vista da democracia.
JH: Com certeza. Até onde é possível você chegar a ter sistemas democráticos isentos dessas influências é a grande questão posta no mundo inteiro. É imperioso buscar caminhos de reduzir as influências não democráticas, que não correspondem ao ideal “um homem, um voto”. Temos de continuar nos esforçando para aprimorar o sistema democrático.
CC: O senhor diria que a dimensão da corrupção ativa fica escanteada no debate público também por isso, porque nela está a digital dos financiadores de campanha?
JH: Sem dúvida. É muito difícil aprimorar a legislação mas também é difícil aplicar mecanismos que já existem. Aqui na CGU partimos de uma tradição e uma cultura que dificilmente aplicavam punições. E as que eram aplicadas, voltavam-se quase que exclusivamente para dentro do balcão, para o lado passivo. Para punir o lado ativo, o lado da oferta da corrupção, nós começamos do zero. E temos instrumentos muito parcos disponíveis na legislação, só a declaração de inidoneidade de empresa corruptora, o que a impede de participar de licitações, e a suspensão temporária dela. Outras penas, como multas contratuais, são ridículas, não têm poder de inibir a corrupção. Nós precisamos de uma lei de responsabilização civil e administrativa dos corruptores. Ela vai permitir a punição do corruptor baseada na responsabilidade objetiva da empresa, independentemente da prova da culpa de um diretor, um preposto. Ela eliminaria por exemplo as discussões que existiram no caso Delta [empreiteira alvo da CPI do Cachoeira]: “Ah, foi um ato de um diretor regional, ele não estava autorizado pela direção nacional”. A responsabilidade objetiva implica responsabilizar a empresa independentemente de quem praticou o ato e se houve dolo.
CC: Essa lei está parada no Congresso há três anos. A não votação dela é resultado da influência do poder econômico?
JH: Claro. Temos um relator [deputado Carlos Zarattini, do PT de São Paulo] comprometido com o projeto, mas ele encontra enormes resistências de determinados setores das bancadas, não preciso nominar quais são. Já houve sucessivas negociações, cedemos os anéis para não ceder os dedos, abrimos mão de inúmeros dispositivos que considerávamos importantes porque é mais importante ainda o Brasil ter essa lei. O Brasil vai ficar numa situação muito constrangedora agora em novembro, que é o prazo da nova avaliação pela OCDE. O Brasil é signatário de uma convenção da OCDE contra o suborno nacional e transnacional e se comprometeu a adotar essa lei. A grande maioria dos países já têm essas leis, e há muito tempo. Não estou falando só de EUA, Inglaterra, França, países como Grécia, Itália e tantos outros também têm. Hoje o que se discute na OCDE é quantas condenações um país já tem graças à lei, quantos processos estão tramitando. No caso do Brasil, nem a lei nós temos. Estamos há quilômetros de atraso. Já passamos situações desagradáveis na OCDE por causa disso e em novembro passaremos de novo.
CC: Uma comissão de juristas que auxiliou o Senado no debate sobre a atualização do Código Penal propôs no ano passado a punição penal das empresas corruptoras. Concorda?
JH: Acho inadequado, não é da tradição do sistema jurídico brasileiro aplicar a responsabilização penal a pessoas jurídicas, temos alguns exemplos disso mas com pouco êxito na lei de crimes ambientais. O que interessa é alcançar o patrimônio da empresa ou impedi-la de funcionar. A legislação penal não é a mais adequada para isso. É perda de tempo.
CC: Da sua posição de fiscal do Executivo, quem o senhor diria que é mais responsável por tomar a iniciativa da corrupção: o corruptor ou o corrompido?
JH: O lado da oferta, não tenho dúvida.
CC: E no entanto a sociedade não discute isso.
JH: Sou ministro há vários anos e a única vez que fui ao Congresso discutir o lado do corruptor foi quando participei [em outubro de 2011] de uma audiência pública sobre esse projeto da responsabilização da pessoa jurídica.

domingo, 7 de abril de 2013

Reforma de base -

Reforma de base - 

Reforma de base

Cristovam Buarque
Esta semana fez 49 anos do golpe militar de 1964 que, além de tentar barrar a influência socialista neste lado da Cortina de Ferro, visava a impedir as Reformas de Base que o governo Goulart se propunha a fazer.
As reformas eram uma necessidade para desamarrar nossos recursos econômicos improdutivos e distribuir melhor o produto de nossa economia. Especialmente a terra, amarrada então por latifúndios improdutivos, e a mão de obra sem instrução e impedida de trabalhar na terra. A reforma agrária visava a liberar terras ociosas e a utilizar mão de obra ociosa no campo.
As elites brasileiras temiam perder o controle sobre os recursos de sua propriedade e em consequência a renda que os recursos lhes proporcionavam. Ao mesmo tempo, as forças internacionais e os militares brasileiros temiam que as reformas de base fossem passos para libertar o Brasil do bloco dos países ocidentais e levá-lo para o bloco socialista.
A guerra fria no mundo, o egoísmo no Brasil e o sentimento anticomunista de militares levaram ao golpe que barrou as reformas, atrelou o Brasil ao bloco capitalista e implantou uma ditadura por 21 anos.
Mesmo com as reformas abortadas, o Brasil conseguiu crescer, mas criou uma vergonhosa desigualdade social, implantando cidades que são verdadeiras “monstrópoles”. Graças à ciência e à tecnologia, o nosso campo ficou dinâmico, mas vulnerável porque ainda depende da demanda externa por nossas commodities. Mesmo tendo crescido, o Brasil ainda precisa fazer reformas de base em sua estrutura social e econômica.
A reforma agrária já não visa a liberar recursos porque a mão de obra já emigrou e a tecnologia usa a terra em latifúndios produtivos. A terra deixou de ser o principal recurso para o crescimento econômico e a justiça social. Agora é a vez do conhecimento.
A grande reforma do século XXI é a reforma no sistema educacional, que permitirá a liberação do imenso patrimônio intelectual latente de um povo à espera de uma educação capaz de induzir o crescimento de uma nova economia e de quebrar o círculo vicioso da pobreza social.
O objetivo da reforma educacional é fazer com que cada menino ou menina do Brasil tenha acesso à escola com a mais alta qualidade, não importa a cidade onde viva nem a renda de sua família.
Os pequenos avanços nos últimos 30 anos não têm permitido um salto nem na qualidade nem na igualdade, cujo caminho da reforma é a federalização da educação de base.
A federalização fará com que cada uma das 200 mil escolas públicas tenha pelo menos a mesma qualidade das atuais 431 escolas federais de educação de base. Para isso, é preciso fazer com que cada criança receba do Brasil o mesmo investimento na sua educação, a fim de possibilitar o seu desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento do país.
Quarenta e nove anos depois, o Brasil continua esperando as reformas que liberem nossos recursos das amarras que os aprisionam, mas, agora, a reforma da educação de base é a reforma de base para o século XXI.

Folha de S.Paulo - Mundo - Abenomics e Dilmanomics - 07/04/2013

Folha de S.Paulo - Mundo - Abenomics e Dilmanomics - 07/04/2013
Clóvis Rossi
Abenomics e Dilmanomics
O Japão experimenta na economia passos que, quando adotados no Brasil, provocam excomunhão
Desde que assumiu em dezembro passado, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, lançou um agressivo pacote de medidas econômicas batizado de "Abenomics", alusão à "Reaganomics", como foi chamada a política do então presidente Ronald Reagan.
Não sei se vai ou não funcionar. Nem creio que alguém realmente saiba: se economistas fossem capazes de adivinhar o futuro, teriam enxergado o desastre que pôs o mundo de joelhos em 2008/09.
Mas sei que a mídia liberal trata a "Abenomics" com uma condescendência que não dá à "Dilmanomics", embora ambas tenham pontos de contato. É óbvio que comparar uma e outra é correr o risco de cair num abismo de imprecisões. São países e economias de dimensões, estruturas e passado (recente ou remoto) muito diferentes.
Mas algumas coisas merecem ser sublinhadas como coincidências, com os devidos cuidados.
Primeiro, a famosa questão da independência do Banco Central. Por aqui, chovem críticas ao rompimento, suposto ou real, da independência do BC, que teria se transformado em mero braço da política econômica pró-crescimento, abandonando o papel de zeloso guardião da moeda.
No Japão, Abe não teve nenhum pudor em anunciar "mudança de regime", ao instalar Haruiko Kuroda como presidente do BoJ (Banco do Japão), em fevereiro, com a missão explícita de levar a inflação a 2%.
Mais: Kuroda acaba de anunciar que vai inundar o mercado com um tsunami de dinheiro como uma das maneiras de atingir a meta de elevar a inflação.
Ah, mas aí você vai dizer que o Japão vive uns 20 anos de ruinosa deflação, o que significa que forçar um pouco mais de inflação para obter crescimento não é pecado, ao contrário do que ocorre no Brasil, em que o risco é -e sempre foi- de mais inflação causar septicemia econômica (e social).
Você tem razão, mas o ponto não é esse. O ponto é que quando um país rico e civilizado põe o seu BC a serviço das metas do governo ninguém rasga as roupas. Nós, os bugres, estamos proibidos de fazê-lo, como se, nos EUA, a missão do Fed não fosse a de zelar pela moeda, sim, mas também pelo emprego. Esse pedaço do modelo norte-americano está interditado até do debate no Brasil.
Segundo ponto: a "Abenomics" prevê um pacote de estímulo à economia de 20,2 trilhões de ienes (cerca de R$ 436 bilhões), metade dos quais virá do governo. Se não é uma maciça intervenção na economia, não sei mais o que é intervenção.
Mas a reação não tem o menor parentesco com a gritaria que se ouve no Brasil sobre intervenções do governo (dessa e de outras naturezas).
No Brasil, Luiz Carlos Mendonça de Barros escreve que "o mau humor geral (....) grassa na economia". Menos mal, para Dilma, que não grassa no eleitorado, bem ao contrário aliás.
Já sobre o Japão, Greg Ip, da "Economist", diz ao Council on Foreign Relations que o Japão está fazendo "um gigantesco experimento em política monetária" e acrescenta, prudentemente: "Vamos ver se realmente funciona".
Por que os japoneses podem experimentar e os brasileiros não?

Folha de S.Paulo - Poder - Alarmante, mas sem alarme - 07/04/2013

Folha de S.Paulo - Poder - Alarmante, mas sem alarme - 07/04/2013
Janio de Freitas
Alarmante, mas sem alarme
O que predomina sobre a necessidade de governança do país é o interesse dos parlamentares
O próprio presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, é o articulador de um plano para cassar o poder do governo federal de gerir os recursos públicos. Esse propósito tresloucado já alcançou o primeiro êxito pela aprovação de nada menos de 16 projetos, a meio da semana, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Alguns deles, com a imposição ao governo federal da realização obrigatória de todos os gastos previstos no Orçamento aprovado pelo Congresso, sem direito de selecioná-los segundo as circunstâncias da economia. Outros, tornando obrigatória e automática a liberação dos gastos propostos pelos deputados e senadores.
Nas duas linhas de proposição a evidência é a mesma: o que predomina sobre a necessidade de governança do país é o interesse dos parlamentares, com a finalidade de prestigiar-se em suas bases eleitorais. Entre outras possíveis e fáceis finalidades, como demonstrado pela prosperidade tão difundida na população de parlamentares municipais, estaduais e federais.
O papel que Henrique Eduardo Alves, deputado do Rio Grande do Norte pelo PMDB, cumpre nesse plano foi parte de suas promessas de candidato a presidente da Câmara, há dois meses. Eleito, é o caso de lembrar, numa prova de que ficha suja é relativa.
Mas a promessa em questão vai muito além do prometido. Ou traz inimagináveis consequências da monstruosidade institucional, com a administração federal manietada, ou, se derrotada, cria nova e maior conturbação na (in)convivência entre governo e Congresso. Ou, ainda, entre Congresso e Supremo Tribunal Federal. E nada há a fazer em contrário senão torcer para que o governo, traído e batido na votação dos 16 projetos, consiga atrair os deputados da "base aliada" para que sejam mesmo aliados, e não traidores, e detenham o avanço da irresponsabilidade.
O que ainda é chamado de política no Brasil está chegando a extremos de contrassenso que deveriam alarmar. O contrassenso, porém, já alcançou a própria capacidade de alarmar-se, que caracterizava os segmentos sociais razoavelmente informados. Por ora, ainda se encontra uma possível hipótese de resistência a este ou aquele passo da devassidão política. Mas não deve faltar muito para que a pergunta "o que há a fazer?" tenha sempre a mesma resposta. Aquela.
DOENÇA
A Agência Nacional de Saúde, criada para dar normas de eficácia e de alguma decência aos planos de saúde, é um dos maiores fracassos no ramo desastrado das agências. Os aumentos para os filiados são, ano a ano, superiores à inflação. Às vezes, de quase o dobro, de 50%, 30%. E nunca justificáveis, também em vista do permanente crescimento do número de filiados e da mantida miséria a título de remuneração ao atendimento médico dos filiados.
O corte de impostos pagos pelos planos, em estudo pelo governo a pretexto de facilitar menor aumento das mensalidades, não tem cabimento. O governo e sua Agência Nacional de Saúde estão em dívida com os 48 milhões de pagadores de planos e com os prestadores de serviços médicos explorados pelas empresas de planos. Não é a essas empresas que deve mais liberalidades e benesses. Se elas não fossem a fonte de lucros que são, uma delas não seria comprada por congênere estrangeira pela fortuna de R$ 10 bilhões.