domingo, 23 de outubro de 2016

Palestra de Hillary a Itaú BBA se transforma em peça de campanha

Palestra de Hillary a Itaú BBA se transforma em peça de campanha - 22/10/2016 - Mundo - Folha de S.Paulo




As declarações da candidata democrata Hillary Clinton a favor do livre
comércio numa palestra para o banco Itaú BBA, que se tornaram um tema da campanha presidencial
americana, aconteceram em maio de 2013 diante de uma plateia de 500
pessoas no luxuoso Lotte New York Palace Hotel, em Nova York.





O evento, organizado anualmente pelo Itaú BBA, braço de compra de
participações em empresas do Itaú, reúne donos e principais executivos
das maiores companhias latino-americanas, além de representantes de
grandes investidores de Wall Street.





Fechada à imprensa, a conferência de CEOs latino-americanos apresenta um
"keynote speaker", uma personalidade do mundo político capaz de atrair
um público exigente. Neste ano, por exemplo, os palestrantes foram Jeb
Bush, ex-governador da Flórida, e Armínio Fraga, ex-presidente do Banco
Central do Brasil.





Segundo e-mails hackeados do chefe de campanha de Hillary, John Podesta,
e divulgados pelo site WikiLeaks, a democrata afirmou aos empresários e
banqueiros presentes ao encontro que "meu sonho é um mercado comum
hemisférico, com comércio aberto e fronteiras abertas, em algum momento
no futuro com energia que seja tão verde e sustentável quanto possamos
conseguir".









A declaração foi mencionada no terceiro e último debate
da campanha americana, na última quarta-feira (19). Questionada pelo
mediador Chris Wallace, se de fato sonhava com fronteiras abertas, como
disse "a um banco brasileiro", Hillary disse que na ocasião falava
apenas de energia sustentável –Trump aproveitou para criticá-la pelo
teor da palestra.





Segundo a Folha apurou, a apresentação de Hillary no evento do
Itaú foi uma defesa do livre comércio, da desregulamentação dos mercados
e da integração das Américas. De acordo com uma pessoa presente, que
pediu anonimato, a democrata não disse "nada demais num discurso para
aquele público".





Em nota, o Itaú BBA confirmou a contratação de Hillary, mas não fez
comentários sobre seu discurso nem sobre o contrato. Segundo a agência
Associated Press, ela recebeu pela palestra US$ 225 mil (R$ 711 mil,
pela cotação atual).





Para se defender dos ataques de Trump e não perder votos, a candidata
democrata vem dizendo que não trabalhará pela aprovação da Parceria
Transpacífico no Congresso, um acordo de livre comércio entre os países
banhados pelo Pacífico negociado por Barack Obama.





CONTRASTE





A promessa destoa do passado liberal de Hillary, que foi secretária de
Estado de Obama. Seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, aprovou o
Nafta, mercado comum entre EUA, México e Canadá, e lançou as negociações
da Alca, que criaria uma área de livre comércio nas Américas, mas não
prosperou.





Segundo os e-mails vazados pelo WikiLeaks, Hillary também teve três
encontros com executivos do Goldman Sachs. É comum os bancos e grandes
empresas contratarem ex-políticos e outros palestrantes importantes para
conversar com seus executivos e clientes.





Em uma das reuniões com o Goldman Sachs, Hillary teria dito que tem
"ótimas relações" com Wall Street e que culpar os grandes bancos pela
crise de 2008 foi uma "simplificação excessiva".





Thomas Friedman, colunista do "New York Times", elogiou o "pragmatismo"
de Hillary no discurso ao Itaú e disse que a candidata que aparecia nos
e-mails do WikiLeaks era mais preparada para a Presidência dos EUA do
que parecia na campanha. Resta saber qual Hillary prevalecerá após as
eleições: a protecionista ou a liberal?

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