Comparação do governo Temer entre as contas do país e de um lar é ofensiva
Leonardo Sakamoto
Eu adoro essas comparações que o governo federal está veiculando, entre o orçamento do país e o de uma residência.
Isso
é um incentivo à democracia. Porque prova que qualquer um,
absolutamente qualquer um, pode ser Presidente da República, ministro da
Fazenda ou responsável por uma campanha de comunicação do poder
público.
A ideia do governo foi mostrar que é necessário e urgente
a aprovação de um teto para limitar o crescimento dos gastos públicos,
representado pela Proposta de Emenda Constitucional 241. E que tanto um
Estado quanto uma família não podem gastar mais do que recebem. E,
infelizmente, quando isso acontece, um redimensionamento de gastos deve
ser feito.
Mas o governo esconde da comparação a realidade do
cenário, principalmente no que diz respeito aos sacrifícios de cada um
dessa família. Vamos aos fatos:
A família realmente está cagada e o orçamento vai de mal a pior.
O
governo, que é o chefe da família, não está conseguindo mais ganhar o
suficiente para manter a todos e decide restringir o orçamento por 20
anos.
A medida mais importante é cortar os investimentos na
educação do filho do meio, que, agora, só vai para a faculdade se suar
para passar em uma pública. E reduziu-se a frequência de ida ao dentista
do caçula de uma vez por ano para uma a cada três. Se os dentes ficarem
cariados, paciência, arranca – que é até mais barato que obturar e
fazer uma restauração.
Contudo, o filho mais velho, que mora na
mesma casa, foi mimado pelos avós, contou com as melhores condições para
se educar e ganha muito bem, é poupado pelo chefe da família de ter que
contribuir com a situação. Enquanto o cinto dos filhos menores e mais
vulneráveis é apertado, este outro, mais velho, vai continuar trocando
de carro todo ano, dando joias caras de presente e bebendo apenas água
que escorreu do Himalaia flavorizada com hálito de cabrito montanhês da
Escócia.
O problema é que o chefe dessa família também toma
dinheiro emprestado de um agiota a juros escorchantes e nunca pediu uma
checagem para verificar se a dívida tá correta ou não. Tem medo do que o
agiota vá pensar e de ficar mal falado na praça.
Alias, o filho
mais velho, de tempos em tempos, pede um dinheiro para o chefe da
família para subsidiar seus negócios. Os juros? De pai e mãe.
Todo
o esforço de economia feita em casa não vai para comprar uma nova roupa
para a molecada que já usa os mesmos trapos há anos, muito menos fazer
um bolinho de aniversário para o caçula que nunca ouviu um mísero
''parabéns a você''.
Nunca falta recursos, porém, para que o chefe
da casa (Poder Executivo) possa estar sempre impecável e durma com
conforto, comendo do bom e do melhor. Ou mesmo que os tios e tias
(Legislativo e Judiciário) viajem todos os anos para tirar férias em um
excelente lugar.
De vez em quando, a parte dos filhos que se
estrepa nessa percebe que, na época de vacas gordas, os outros se dão
muito melhor que eles e, na época de vacas magras, só eles se dão mal.
Daí, resolvem reclamar e, por isso, tomam bronca e são chamados de ingratos, burros e mal-agradecidos. Até de comunistas.
Afinal
de contas, são muito inocentes para entender como as coisas funcionam. E
precisam de campanhas publicitárias, pagas com seu próprio dinheiro,
para aprender isso.
Na vida real, nenhuma família – com exceção das muito doidas – viveriam assim. Mas o governo vive.
Não
se explica macroeconomia com exemplos de economia doméstica. E nem é
porque um país emite títulos de dívida pública e dinheiro e uma família
não.
Mas sempre que alguém tenta fazer isso toma como exemplo um
chefe de família que se importa menos com a dignidade dos seus filhos do
que com a felicidade do gerente do banco…
Leia também:
Temer diz que tungada em pobre é coisa séria e Constituição se vira na cova
Isso
é um incentivo à democracia. Porque prova que qualquer um,
absolutamente qualquer um, pode ser Presidente da República, ministro da
Fazenda ou responsável por uma campanha de comunicação do poder
público.
A ideia do governo foi mostrar que é necessário e urgente
a aprovação de um teto para limitar o crescimento dos gastos públicos,
representado pela Proposta de Emenda Constitucional 241. E que tanto um
Estado quanto uma família não podem gastar mais do que recebem. E,
infelizmente, quando isso acontece, um redimensionamento de gastos deve
ser feito.
Mas o governo esconde da comparação a realidade do
cenário, principalmente no que diz respeito aos sacrifícios de cada um
dessa família. Vamos aos fatos:
A família realmente está cagada e o orçamento vai de mal a pior.
O
governo, que é o chefe da família, não está conseguindo mais ganhar o
suficiente para manter a todos e decide restringir o orçamento por 20
anos.
A medida mais importante é cortar os investimentos na
educação do filho do meio, que, agora, só vai para a faculdade se suar
para passar em uma pública. E reduziu-se a frequência de ida ao dentista
do caçula de uma vez por ano para uma a cada três. Se os dentes ficarem
cariados, paciência, arranca – que é até mais barato que obturar e
fazer uma restauração.
Contudo, o filho mais velho, que mora na
mesma casa, foi mimado pelos avós, contou com as melhores condições para
se educar e ganha muito bem, é poupado pelo chefe da família de ter que
contribuir com a situação. Enquanto o cinto dos filhos menores e mais
vulneráveis é apertado, este outro, mais velho, vai continuar trocando
de carro todo ano, dando joias caras de presente e bebendo apenas água
que escorreu do Himalaia flavorizada com hálito de cabrito montanhês da
Escócia.
O problema é que o chefe dessa família também toma
dinheiro emprestado de um agiota a juros escorchantes e nunca pediu uma
checagem para verificar se a dívida tá correta ou não. Tem medo do que o
agiota vá pensar e de ficar mal falado na praça.
Alias, o filho
mais velho, de tempos em tempos, pede um dinheiro para o chefe da
família para subsidiar seus negócios. Os juros? De pai e mãe.
Todo
o esforço de economia feita em casa não vai para comprar uma nova roupa
para a molecada que já usa os mesmos trapos há anos, muito menos fazer
um bolinho de aniversário para o caçula que nunca ouviu um mísero
''parabéns a você''.
Nunca falta recursos, porém, para que o chefe
da casa (Poder Executivo) possa estar sempre impecável e durma com
conforto, comendo do bom e do melhor. Ou mesmo que os tios e tias
(Legislativo e Judiciário) viajem todos os anos para tirar férias em um
excelente lugar.
De vez em quando, a parte dos filhos que se
estrepa nessa percebe que, na época de vacas gordas, os outros se dão
muito melhor que eles e, na época de vacas magras, só eles se dão mal.
Daí, resolvem reclamar e, por isso, tomam bronca e são chamados de ingratos, burros e mal-agradecidos. Até de comunistas.
Afinal
de contas, são muito inocentes para entender como as coisas funcionam. E
precisam de campanhas publicitárias, pagas com seu próprio dinheiro,
para aprender isso.
Na vida real, nenhuma família – com exceção das muito doidas – viveriam assim. Mas o governo vive.
Não
se explica macroeconomia com exemplos de economia doméstica. E nem é
porque um país emite títulos de dívida pública e dinheiro e uma família
não.
Mas sempre que alguém tenta fazer isso toma como exemplo um
chefe de família que se importa menos com a dignidade dos seus filhos do
que com a felicidade do gerente do banco…
Leia também:
Temer diz que tungada em pobre é coisa séria e Constituição se vira na cova
Nenhum comentário:
Postar um comentário