sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Carta aberta à ministra Carmen Lúcia, do STF | Brasil 24/7

Carta aberta à ministra Carmen Lúcia, do STF | Brasil 24/7



Dom Orvandil








Carta aberta à ministra Carmen Lúcia, do STF









Prezada Ministra Carmem Lúcia


Nosso País acordou estupefato com a prisão de um senador da
República. Por outro lado, alivio-me com a prisão de um banqueiro, um
dos mais ricos do Brasil.


Não guardo intimidade com o pensamento do Senador Delcídio do Amaral
em virtude de suas origens políticas, ligadas à privatizações e ao
nefasto neoliberalismo. Porém, sua prisão nos coloca sob espanto pelo
colorido de arbitrariedade em face da imunidade parlamentar de que gozam
os eleitos pelo povo para ocupar cadeira na mais alta casa legislativa.


Perdoe-me, ministra Carmem, por me dirigir a senhora sem o traquejo
jurídico próprio dos advogados, já que não sou um e sem a formalidade de
um tribunal, já que não pertenço a nenhum.


Aqui tenho o objetivo de questioná-la pelo que disse na 2ª turma do
STF ao justificar seu voto na decisão do ministro Teori Zavascki ao
ordenar a prisão do Senador Delcídio do Amaral e do Banqueiro André
Esteves.


É de se esperar que os homens e as mulheres eleitos e eleitas sejam
honestos, honestas, probos e probas nas suas atividades parlamentares,
embora alguns afrontem e desrespeitem a sensibilidade social e a
cidadania, como é o caso do Senador Ronaldo Caiado, que frequentemente
usa camiseta amarela com os sinais de 9 dedos, em deboche a deficiência
física do ex-presidente Luiz Inácio Luiz da Silva, sem que seja
incomodado em momento algum por esse preconceito e crime.


Nesta carta singela desejo lhe dizer que me senti ofendido e
desrespeitado como cidadão com seu discurso ao justificar seu voto a
favor da prisão de Delcídio do Amaral, nesta manhã.


A senhora disse que antes nos fizeram acreditar que a esperança
venceu o medo. É evidente que a senhora se referiu à campanha eleitoral e
eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem citá-lo.


E vencemos mesmo, ministra Carmem. Milhões de brasileiros fomos
ameaçados com o estouro do dólar, com a fuga dos empresários que
investiriam em outros Países abandonando o Brasil ao desemprego e à
pobreza. Uma atriz da TV Globo apareceu em noticiários e na propaganda
eleitoral do PSDB fazendo caras teatrais de assustada e dizendo: "ai,
estou com medo". Pois vencemos essa tentativa. Os milhões de votos
investidos em Lula transcenderam fronteiras partidárias para afirmar
nossa esperança contra as ameaças rasteiras e desonestas. Vencemos o
medo, com muita esperança. O Brasil se sentiu recompensado com essa
vitória. A senhora sabe!


Como cidadão e como povo me sinto ofendido e agredido em minha
esperança e em minha fé com essa sua fala, para mim irônica e sem
nenhuma relação com o mensalão da mídia, com muitos casos dúbios e
influenciados pela opinião publicada.


A senhora carregou sobre a ironia sem nexo ao afirmar que "agora o escárnio venceu o cinismo".


Qual a relação do possível crime do Senador Delcídio do Amaral, nem
investigado totalmente e, muito menos julgado e condenado, com a vitória
da esperança em 2002?


A senhora quer nos envolver em todos os possíveis crimes de Delcídio?
A senhora falou pensando em investigação e condenação do ex-presidente
Lula, o candidato a respeito de quem se usou o slogan "a esperança
venceu o medo"? A senhora já sabe, mesmo sem julgamento, que o Senador
Delcídio do Amaral é criminoso, até mesmo antes da manifestação da casa
onde ele é parlamentar?


Na fundamentação de seu voto a favor da prisão do aludido senador a senhora asseverou que " agora o escárnio venceu o cinismo".


Pergunto se o seu voto não se referia a um senador? Se se referia ao
Senador Delcídio do Amaral qual a relação da ironia com os votos de
milhões de brasileiros que tiveram esperança de mudar aquela realidade
triste de desemprego, de miséria e de pobreza em 2002?


A senhora ameaçou quem ao afirmar posteriormente que "criminosos não
passarão sobre a justiça", alertando a todos do mundo da corrupção?


Perdão, ministra, mas a minha ofensa também vem do fato de a senhora
misturar ironicamente fatos e valores sem nenhuma relação, sendo que a
esperança realmente venceu o medo e sempre vencerá as vilanias da classe
dominante, principalmente da rapinagem dos poderosos internacionais,
que atuam por meio de jagunços nacionais.


Pior, a sua referência de falso senso de oportunidade choca por
estabelecer nexos irreais entre um senador atual, preso acusado de
atrapalhar investigações, com toda a força da esperança de um povo.


Choca mais o fato de a senhora não fazer nenhuma menção ao banqueiro
André Esteves, dono do Banco BTG Pactual, também preso como suspeito de
fazer uma operação polêmica na área internacional da Petrobras, ao
comprar poços de petróleo na África, sendo ele um dos homens mais ricos
do Brasil, um País pobre e, mesmo assim, de esperanças que vencem os
medos.


A senhora não disse nada sobre André Esteves foi pelo fato de ele ser
banqueiro e rico? Haveria na senhora algum senso de seletividade, como o
há na mídia que reforçou com grande destaque as suas palavras?


Enfim, perdoe-me pela ousadia de exercer o direito de questionar, de
me indignar contra as seletividades e contra o deboche em relação ao
povo que tem esperança, apesar do medo que diuturnamente lhe impingem.


• Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz sociais.

Dom Orvandil, OSF: bispo cabano, farrapo e republicano, presidente da
Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central e professor universitário,
trabalhando duro sem explorar ninguém

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