Chega de notícias ruins
Sidney Rezende
Emtodos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou
questionado: "Por que vocês da imprensa só dão 'notícia ruim'?"
O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão
diferentes no território nacional, já deveria ser motivo de profunda
reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta padrão de que "é o
que temos para hoje". Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também.
Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.
Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!
Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e
economia. A obsessão em ver no Governo o demônio, a materialização do
mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a sociedade e
engessando o setor produtivo.
O "ministro" Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do
Brasil, disse há poucas semanas que todos estamos tão focados em sermos
"líquidos" que acabaremos "morrendo afogados". Ele está certo.
Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: "o que
houve?". Ele respondeu: "está cada vez mais difícil defender o
governo".
Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da
presidente Dilma Rousseff é o único caminho possível para a redenção
nacional que se esquece do nosso dever principal, que é noticiar o fato,
perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não
sobre o que pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas
neuroses loucas e querem nos enlouquecer também.
O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na
dimensão precisa. Da mesma forma que os acertos também devem ser
publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, jornalistas, não
nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.
Se pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e
"soluções" que quando adotadas deram errado daria para construir um
monumento maior do que as pirâmides do Egito. Nós erramos. E não é
pouco. Erramos muito.
Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e
digam o que pensam. Mas nem por isso devem cultivar a "má vontade" e o
"ódio" como princípio do seu trabalho. Tem um grupo grande que, para ser
aceito, simplesmente se inscreve na "igrejinha", ganha carteirinha da
banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.
Certa vez, um homem público disse sobre a imprensa: "será que não tem
uma noticiazinha de nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez
nada de bom hoje?". Se depender da imprensa brasileira, está muito
difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.
É hora de mudar. O povo já percebeu que esta "nossa vibe" é só nossa e
das forças que ganham dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos
compromisso com o governo anterior, com este e nem com o próximo. Temos
responsabilidade diante da nação.
Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.
Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?
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