“Luto pelo Brasil”: Nação indignada reage ao bárbaro crime do Rio
“Luto pelo Brasil” é uma das tantas criações imortais de Carlito Maia usada para exprimir o que sentia diante das barbaridades que aconteciam no Brasil, muitos anos atrás.
Carlito não está mais entre nós para dizer o que significa o bárbaro assassinato da vereadora Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Pedro Gomes, na noite de quarta-feira, em meio à Guerra do Rio.
Agora há pouco, no começo da tarde desta quinta, na chegada dos corpos de Marielle e Anderson à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, milhares de cariocas choravam e gritavam palavras de protesto nas ruas, outros aplaudiam e todos ficaram emocionados diante da cena.
Em Brasília, as sessões do Congresso Nacional foram suspensas à tarde diante dos protestos de parlamentares da oposição.
Há muito tempo não se via uma reação tão forte como essa diante da brutal execução de quem denunciava a violência policial e o motorista que a conduzia no Estácio, quando o carro foi alvejado por nove tiros.
Em poucas horas do dia, tudo mudou. Ainda de manhã cedo, quando escrevi a coluna sobre o “novo normal” dos fatos consumados (ver post anterior) , não poderia imaginar que a revolta externada nas redes sociais transbordasse tão rápido para as ruas.
Os combates da Guerra do Rio ameaçavam ultrapassar todos os limites de humanidade.
Desde cedo, milhares de pessoas começaram a chegar à Cinelândia para pedir justiça, aos gritos de “Marielle vive! Presente!”.
Com tropas militares e milícias combatendo nas ruas do Rio e policiais municipais e estaduais agredindo professores em São Paulo, voltamos a ver esta semana cenas que lembram os dias trágicos que antecederam o golpe de 1964 e o golpe dentro do golpe de 1968.
O que falta ainda? Bem a propósito, Frei Betto lembrou do assassinato do estudante Edson Luis, no Calabouço, em 28 de março de 1968, que mobilizou a população carioca em grandes manifestações. Diz ele:
“Agora, o crime organizado escancara suas impressões digitais e proclama que é o dono do pedaço carioca. Não pretenda a intervenção militar extirpar o conluio entre a banda podre da polícia e o narcotráfico, nem defender os direitos humanos dos moradores das favelas. Este o recado dado”.
A vereadora Marielle Franco, do PSOL, cometia o crime de defender os direitos humanos e era relatora da comissão nomeada pela Câmara Municipal para acompanhar a intervenção federal na segurança. Há vários dias ela vinha denunciando a violência praticada contra a população mais pobre da zona norte.
“A quem ela tanto incomodava?”, pergunta Bernardete Diniz em mensagem enviada à comunidade orante da qual Betto e fazemos parte, e ela mesma responde: “Um tanto nós já sabemos (a lição sabemos de cor, só nos resta aprender): mulher, negra, pobre, criada na favela, empoderada e lutando pelo empoderamento de outras. Acho que só não tínhamos a noção de quanto isso incomodava. Sem palavras, nesse dia de tanta tristeza, um abraço a todos”.
Em meio à comoção provocada pela execução de Marielle e Anderson, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, falou em nome do governo: “Mais uma tragédia diária no Rio de Janeiro não põe em xeque a eficácia da intervenção federal. Lamentável”.
Eficácia? Lamentável é ter um ministro da Justiça incapaz de ver a dimensão do que aconteceu.
Não, não foi apenas mais uma tragédia diária do Rio de Janeiro, como tantas outras, um crime de rotina nos boletins de ocorrência, mas a gota d´água que entornou o copo.
Parafraseando Sérgio Cabral, o grande causador da tragédia carioca, desta vez exageraram.
Tudo tem que ter um limite. Estamos perigosamente chegando a ele.
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