domingo, 14 de dezembro de 2014

Curiosidades a jato

Curiosidades a jato - 14/12/2014 - Poder - Folha de S.Paulo

Janio de Freitas

Curiosidades a jato



Dos 36 denunciados na Lava Jato, boa parte não detém a decisão nos grandes negócios com estatais
Nenhum dos cabeças do sistema de contratação de obras públicas por meio
de corrupção foi alcançado pela operação Lava Jato. Se pode ser o caso
de dizer "ainda não foi", ou se o não é definitivo, fica para
esclarecimento futuro. Mas a exclusão não se deve a que o jato lançado
pelos investigadores tenha orientação seletiva.





"Executivos" profissionais são postos nos altos cargos, até nas
presidências das empreiteiras, também ou sobretudo para arcar com os
riscos de complicação pessoal e, no dia a dia, entrar com o rosto nas
ações indecentes. É para dar essa fachada aos donos e acionistas
majoritários, detentores do verdadeiro comando, que os "executivos" têm
as elevadas remunerações que os levam a ser audaciosos e arrogantes.





Dos 36 denunciados na Lava Jato, os mais próximos da zona protegida nas
empreiteiras são Sérgio Cunha Mendes, como o sobrenome indica, um dos
vice-presidentes da Mendes Júnior; Dario Queiroz Galvão Filho,
presidente do conselho de administração, e Eduardo Galvão, vice de
gestão corporativa da Galvão Engenharia, empresa desdobrada da
empreiteira Queiroz Galvão. Os demais são acionistas ou não, mas nunca
detentores da decisão nos grandes negócios com estatais e com governos,
por intermédio dos incontáveis Paulos Robertos Costas.





Até que altura o jato alcançará as empreiteiras é uma boa curiosidade.
Mas, no mesmo capítulo, há pelo menos outra de igual gabarito: a
Odebrecht e a Andrade Gutierrez, que formam com a Camargo Corrêa o trio
das maiores, dominadoras das obras públicas e das privatizações e
concessões, não são molhadas nem por um jatinho? Então temos que mudar a
história econômica do Brasil desde os primórdios da ditadura.





Uma curiosidade novinha e de tipo pouco frequente. Talvez em atenção à
moda em que estão aqui os militares e a corrupção, a americana Dallas
Airmotive International reconheceu na Justiça dos EUA que pagou suborno
na FAB, de 2008 a 2012, para assegurar contratos de manutenção de
motores. Não foi notícia que interessasse a muitos jornais, para
publicação ainda na semana passada. Tanto mais que o ex-governador José
Anchieta Jr., de Roraima, foi citado na mesma admissão da Dallas. E
Anchieta é do PSDB.





Os mensalões e a corrupção no metrô e nos trens paulistas já mostraram
que corrupção não é a mesma coisa quando se trata de PT ou de PSDB. Os
militares, por sua vez, há muito tempo resolvem essas e outras coisas
desagradáveis lá entre eles, nos silêncios da Justiça Militar
--silêncios tão preferidos lá como resguardados pela imprensa, a menos
que os réus sejam soldados da PM.





Assim se explica a curiosidade por saber se corrupção na Petrobras e
entre militares são a mesma ou coisas diferentes. Se depender do nome,
tratando-se de aviões Lava Jato caiu do céu.





E uma falsa curiosidade. A Secretaria de Aviação Civil, a Polícia
Federal e a Aeronáutica, pelo que foi noticiado ao completar-se o quarto
mês da morte de Eduardo Campos, ainda não sabem quem "era o
responsável" pelo avião. A enrolação sugere ilegalidade. Antes da mal
alegada venda, para mal identificados compradores, o avião tinha
proprietário registrado. E esse proprietário, se vendeu o avião, sabe
quem e como pagou. O fato de Eduardo Campos estar morto não justifica
que o esclarecimento seja dispensado. Ou evitado. Inclusive porque há
envolvidos vivos. Lava Jato aí também.


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