quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

GOLPISMO, "COMUNISMO", HIPOCRISIA E REFORMA POLÍTICA.

GOLPISMO, "COMUNISMO", HIPOCRISIA E REFORMA POLÍTICA.

GOLPISMO, "COMUNISMO", HIPOCRISIA E REFORMA POLÍTICA.



(Revista
do Brasil) - Nas últimas semanas, insatisfeitos com o resultado das
eleições, golpistas que nos últimos anos praticavam seu ódio à
democracia e às instituições pela internet têm convocado caminhadas pelo
país, pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff ou intervenção
militar. 

Para
tentar derrubar o governo, os novos golpistas fazem como fizeram os que
os antecederam na história brasileira, que praticamente mataram Getúlio
em 1954, tentaram inviabilizar Juscelino Kubitschek em 1955 e
derrubaram João Goulart em 1964.

Apelam
para o tosco, velho e surrado discurso anticomunista da época da Guerra
Fria, que justificou crimes como os milhares de civis mortos e
torturados no Chile, na Argentina, na Indonésia, e em conflitos
prolongados e estéreis como a Guerra do Vietnã.

Dizer
que é comunista um país em que o sistema financeiro lucra bilhões, em
que as multinacionais fazem o mesmo e remetem fortunas para o exterior,
em que qualquer cidadão pode montar um negócio a qualquer momento, com
ajuda do governo e de instituições, como o Sebrae, e em que nossos
armamentos são produzidos em estreita cooperação com empresas inglesas,
norte-americanas, francesas, suecas, israelenses, é tremenda hipocrisia.

À
oposição institucional cabe também agir com responsabilidade. Caso
fosse adiante um pedido de impeachment, ou caso viesse a ser impedida
por outras manobras a diplomação de Dilma Rousseff, a ascensão do vice
Michel Temer à Presidência da República corroeria, em vez de ajudar, as
chances de Aécio Neves de chegar ao Palácio do Planalto em 2019. E na
remotíssima possibilidade de os golpistas terem sucesso por outros
meios, jamais entregariam o poder ao ex-governador mineiro. Os mais
radicais o desprezam e desconfiam de seu discurso anti-petista.

O
problema do Brasil não é comunismo, como apregoam essa minoria
extremista e alguns golpistas de plantão, em seus comentários nos
portais e redes sociais. O que põe a opinião pública em estado de
perplexidade é a corrupção. Esse mal nasce de uma acumulação histórica
de defeitos no universo político, como o clientelismo e o fisiologismo,
que vêm desde o Brasil Colonial. Sua raiz está na busca permanente do
poder, por partidos e candidatos, e da necessidade de fontes de
financiamento para suas campanhas. No caso da Petrobras, o próprio
Ministério Público declarou que o esquema funciona desde 1999 – logo,
ainda antes da chegada do PT ao poder.

Quando
das manifestações de junho de 2013, Dilma lembrou a necessidade  de
reformas que tirassem o país da dependência desse quadro de relações
incestuosas entre o governo e o Congresso, e de se criarem mecanismos
que permitissem maior espaço para a população manifestar seus anseios e
interesses. Suas teses, no entanto, não prosperaram no Legislativo.
Agora, que a reforma política volta à tona, o que importa é saber se
teremos uma de fato, ou se uma reforma de faz de conta, comandada pelos
grupelhos de sempre, com mudanças cosméticas para enganar a população.

O
caixa dois não é mais do que uma extensão do financiamento eleitoral
privado, e legal. O menos citado caixa um, que poderia ser suprimido por
meio do financiamento público de campanhas, como prevê a proposta de
reforma política defendida por entidades como a Ordem dos Advogados do
Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e tantas outras
entidades e movimentos com representação em amplos setores sociais.

No
meio desse processo estão pilantras que aparecem para viabilizar
“negócios” e “acertos”, extorquem recursos de empresas e irrigam, com
parte dos recursos auferidos, candidatos e partidos. Eles não agem em
nome do interesse público ou partidário, não são “azuis” ou “vermelhos”,
nem “golpistas” nem “comunistas”. Se existisse um termo exclusivo para
defini-los, seria simplesmente “corruptistas”, ladrões que se aproveitam
das distorções históricas do atual sistema político.

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