Ai, meu jornalismo…Ou como destruir um e-mail em uma lição…
24 de junho de 2015 | 15:48 Autor: Fernando Brito
Maldita idade que me faz conservar certo modo cartesiano de pensar.
Daí que li a manchete do Estadão sobre o bilhete onde Marcelo Odebrecht manda “destruir o e-mail sondas”, escrito na cela da PF e xerocopiado pelos sherlocks da Polícia Federal.
Esqueça-se o que disse a defesa,
alegando que era destruir juridicamente um e-mail sobre sondas arrolado
como prova, tanto que era um item do ” pontos para o habeas corpus” (a imagem o Estadão deixa claro) e que, logo a seguir o texto explica como rebater: “lembrar que naquela época, a Sete…” etc.
Vamos ficar na questão da destruição física, mesmo.
Se o cidadão está pedindo para os advogados destruírem, das duas uma: ou o e-mail não foi apreendido, ou foi.
Se não foi, apareceria o pedido assim, sem especificação. Como os
advogados dariam, abririam a caixa de mensagens de Marcelo e
procurariam, entre milhares de e-mails, qual deles se referia a sondas.
Como sonda é um negócio de vulto, deve haver dezenas. Qual deles, o
doutor e a doutora causídica iam destruir? E será que eles não sabem
que, apreendido o computador ou através do servidor de e-mails, mesmo
que se delete algo, isso pode ser recuperado?
Isso é canja para qualquer perito em informática da Polícia, ora. E o
megaempresário e seus advogados estão carecas de saber disso. E-mail
fica armazenado no servidor, tanto que você pode abrir sua caixa de
mensagens em outro computador, na Conchinchina e estarão todos lá,
porque estavam no servidor e é só pesquisar os arquivos apagados e
reconstituir.
Mas se o e-mail foi apreendido, como destruí-lo? Quem sabe entrar um
casal de advogados, ela com roupas bem provocantes, distraem o jovem e
impetuoso agente da lei e ele, num golpe de prestidigitador, arrancam o
e-mail do processo?
Assim, coisa de Mata-Hari, né?
Se não fosse o apagão mental que parece ter tomado conta da meganhagem, inclusive a jornalística, era só um bobagem policialesca.
Aliás, o delegado diz que “deixou passar”o bilhete para ver se o
advogado do acusado viria “acusar” o seu cliente de estar cometendo
crime de destruição de provas… Pode rir à vontade.
Ou então foi delírio de quem andou vendo demais “Missão Impossível” e
aqueles gravadores de fita que diziam “esta mensagem se autodestruirá
em cinco segundos”…
Mas é manchete e grande acontecimento jurídico.
PS. Embora fosse óbvio, só a Folha percebeu e noticia, discretamente: “Bilhete de presidente da Odebrecht revela estratégias de defesa“. Simples assim.
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