Budista no trânsito
Inglês que será novo ombudsman da CET critica calçadas de São Paulo e diz querer usar sua experiência como professor de meditação e de ioga tibetana para 'desestressar' os marronzinhos Emiliano Capozoli/Folhapresss d class="articleGraphicSpace" rowspan="3"> | |
Philip Gold no canteiro central de uma via do sudoeste de Londres |
DE SÃO PAULO
No currículo técnico, um especialista em segurança de trânsito com mais de 40 anos de experiência e passagens pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento.
No pessoal, um pianista de jazz e blues e professor de ioga tibetana e meditação.
Some os dois e você terá Philip Gold, inglês de 64 anos que a partir de quarta-feira será o ombudsman da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo.
Gold espera usar os dois perfis no cargo.
O especialista ouvirá reclamações e sugestões das pessoas para indicar à companhia formas de reduzir acidentes e mortes nas ruas.
Em 2010, o município teve 7.007 atropelamentos e 630 mortes de pedestres.
O iogue quer levar à prefeitura técnicas para "desestressar" os marronzinhos.
"Os marronzinhos convivem com muito estresse. São odiados pelos motoristas, que acham que eles estão nas ruas só para multar", diz.
O cargo de ombudsman da CET foi criado em maio de 2011, com salário igual ao de um diretor: R$ 18.500 por mês. O primeiro e até agora único ocupante, Luiz Célio Bottura, ficou só quatro meses no posto e saiu atirando.
Disse que não aceitaram críticas e que contrariou interesses internos na Secretaria Municipal dos Transportes.
Gold acredita que seu antecessor errou. "Ele queria tomar decisões, o que não é função do ombudsman. Darei sugestões. A decisão de implantá-las é da secretaria."
PEDESTRES
O inglês já tem claras algumas críticas. Elogia a campanha de respeito aos pedestres, do ano passado, mas acha que ela é insuficiente.
"O caminhar não é visto como parte integrante do sistema de trânsito na cidade. As calçadas estão em péssimo estado. Se você for ao Hospital das Clínicas, encontrará muito mais pessoas que se acidentaram nas calçadas do que aquelas que foram atingidas por carros", afirma.
Segundo ele, a solução é o poder público se responsabilizar pela construção e manutenção delas, em vez de deixar esse trabalho para os proprietários de imóveis.
Além disso, diz, faltam sistemas seguros de travessia.
"Num modelo ideal, você anda de um ponto a outro e sempre encontra formas seguras de atravessar uma via. Isso não acontece em São Paulo. Há muitos locais sem semáforo, sem sinalização e sem fiscalização para garantir a segurança do pedestre."
Gold terá de focar na prevenção de acidentes, mas palpita sobre outras questões.
Acha, por exemplo, que o pedágio urbano (cobrança para a circulação em determinadas áreas) é uma boa solução para grandes cidades, mas tem dúvidas sobre sua implantação em São Paulo. "É necessário ter opção, e o transporte público paulistano ainda é insuficiente."
Gold nasceu em Londres, onde, aos 6 anos, quase morreu atropelado.
Saiu de casa sozinho para ir a uma loja de doces. Ao atravessar uma rua de mão dupla, não prestou a atenção devida. "Um carro deu uma freada forte e parou a centímetros da minha orelha."
A cidade melhorou muito a segurança dos pedestres nos últimos anos.
No ponto do quase atropelamento, foram instaladas faixas e uma "ilha" no meio da via, que permite ao pedestre parar e olhar para um lado de cada vez.
INFLUÊNCIA
A história infantil influenciou seu o futuro profissional, e a segurança no trânsito virou seu ganha-pão.
Se casou com uma brasileira e se mudou para São Paulo em 1977. Trabalhou na própria CET, nos anos 80, e foi consultor de projetos no Brasil e no exterior.
Manteve outras paixões no paralelo. Toca em bares de jazz e chegou a fazer um concerto no vão livre do Masp.
É também diretor do Instituto Nyingma, voltado para o estudo e a prática do budismo tibetano, onde dá aulas de ioga e meditação.
Sabe que a partir de quarta terá que reforçar a prática das duas para enfrentar as milhares de reclamações que receberá no site da CET (www.cetsp.com.br).
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