sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Como o PT venceu uma guerra e perdeu outra


247 – “A oposição pode ser “suja", a elite "preconceituosa", a imprensa "reacionária" e a Justiça "instrumento de golpistas", como diz o presidente do PT, Rui Falcão. Mas quem flerta com a possibilidade de ver correligionários na cadeia é o PT”.
Este trecho faz parte da coluna da jornalista Dora Kramer, publicada nesta sexta-feira, 7 de setembro. Sinaliza que, na visão da colunista, os “sujos”, “preconceituosos” e “reacionários” venceram. A “vitória” será ver lideranças do PT condenadas numa ação penal – e eventualmente presas.
Mas o paradoxo é que, do ponto de vista concreto, o PT vem se fortalecendo. No curso de um terceiro mandato na presidência, nada parece capaz de impedir uma quarta vitória em 2014, seja com Dilma Rousseff, seja com Lula. Além disso, o partido passou a ter uma possibilidade real de conquistar a prefeitura da cidade São Paulo, onde, segundo afirma o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, há “cansaço” com o ciclo de poder do PSDB e “fadiga de material”, com a repetição de nomes desgastados, como José Serra.
Ou seja: no que realmente importa, o projeto que se consolida como vencedor no País é aquele representado pelo PT e marcado por maior inclusão social e distribuição de renda, sem descuidos na macroeconomia. O partido, que antes não se conseguia se eleger porque representava um “risco”, demonstrou, na prática, uma conduta mais prudente do que a dos antecessores – e ainda avançou no campo social.
Ocorre que o PT não chegou ao poder por obra e graça do destino. Em 2002, na quarta tentativa de disputar a presidência, Lula decidiu que só entraria no páreo se tivesse chances reais de vitória. Visto com desconfiança pela elite e sem acesso às fontes tradicionais de financiamento eleitoral, o PT começou a construir uma ponte para a vitória na aliança com o PL (atual PR), de José Alencar e Valdemar Costa Neto. Foi o primeiro acordo político-financeiro, de R$ 10 milhões, na gênese do que hoje é chamado de mensalão. Depois, vieram outros, com aliados que se revelaram delatores, como Roberto Jefferson, do PTB. Além disso, o partido buscou recursos para produzir uma campanha em pé de igualdade com os adversários.
Do ponto de vista concreto, o que o PT fez, de fato, não difere do que outros partidos fizeram – e ainda fazem – na luta pelo poder. Um exemplo concreto disso é o mensalão mineiro – ou tucano – usado na campanha à reeleição de Eduardo Azeredo, em 1998, e que não desperta maiores indignações, embora envolva os mesmos personagens, como o publicitário Marcos Valério de Souza.
Mas o fato é que Dora tem razão. Os “guerrilheiros” do PT, como José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, que levaram o primeiro operário ao poder, hoje espreitam a cadeia. E nesta guerra, a do mensalão, o PT efetivamente saiu derrotado.
Quais foram os erros?
Vários, a começar pela a incapacidade de construir uma narrativa que convencesse a opinião pública de que o PT não chegaria ao poder se não utilizasse instrumentos semelhantes aos dos adversários.
No governo, o PT também subestimou o papel dos meios de comunicação na luta política e, em vez de confrontar, preferiu compor com forças que foram, são e sempre serão adversárias de um projeto popular. E que também não perderiam a oportunidade de transformar em espetáculo o julgamento de um projeto político rival.
Na estratégia de defesa, coordenada pelo ex-ministro Marcio Thomaz Bastos, também não ajudou em nada aos réus a contratação de advogados a peso de ouro, que muitas vezes alardeiam o preço dos seus honorários – o que não contribui para a percepção de inocência dos clientes.
No poder, também faltou ao PT coragem para promover uma reforma política, que definisse novas regras para o financiamento eleitoral.
Agora, com o primeiro julgamento exemplar da história recente do País, justamente contra aqueles que levaram ao poder um projeto popular, talvez o PT acorde para mudanças esquecidas nos últimos 12 anos de poder.

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