segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Jonathan Cook: A tentativa de Murdoch de comprar a Casa Branca « Viomundo – O que você não vê na mídia

Jonathan Cook: A tentativa de Murdoch de comprar a Casa Branca « Viomundo – O que você não vê na mídia
Murdoch, Petraeus e a Matrix da Mídia dos Estados Unidos
por Jonathan Cook*, em 21.12.2012, no Common Dreams
Carl Bernstein, famoso por conta do Todos os Homens do Presidente, faz comentários reveladores no [diário britânico] Guardian de hoje, embora não reveladores inteiramente da forma como ele parece acreditar. Bernstein destaca uma notícia divulgada no início deste mês pelo seu colega Bob Woodward, de que o barão da mídia Rupert Murdoch tinha tentado “comprar a presidência dos Estados Unidos”.
[NdoV: Bernstein e Woodward, atuando juntos como repórteres no Washington Post, ajudaram a provocar o impeachment do presidente Richard Nixon, nos Estados Unidos, nos anos 70]
Uma conversa gravada mostra que no início de 2011 Murdoch mandou Roger Ailes, chefe de sua empresa de mídia mais importante nos Estados Unidos, a Fox News, ao Afeganistão para persuadir o general David Petraeus, ex-comandante das forças dos Estados Unidos, a concorrer contra Barack Obama nas eleições presidenciais de 2012. Murdoch prometeu bancar a campanha de Petraeus e assumiu o compromisso de colocar a Fox News para apoiar completamente o general.
As tentativas de Murdoch de colocar seu próprio homem na Casa Branca fracassaram porque Petraeus decidiu que não queria disputar a Casa Branca. “Diga [ao Ailes] que se um dia eu concorrer…”, diz Petraeus na gravação, “não vou… mas se um dia concorrer eu aceito a proposta”.
Bernstein se mostra horrorizado não apenas pelo ataque frontal à democracia mas também pelo fato de que o Washington Post se negou a dar em manchete o furo jornalístico mundial. Em vez disso, enterrou a nota na seção de estilo de vida, apresentando-a como — disse o editor do caderno — “uma notícia espalhafatosa… que não tinha importância mais ampla” que justificasse um maior destaque.
No mesmo padrão do Washington Post, as empresas de mídia dos Estados Unidos ou ignoraram a notícia ou diminuiram sua importância.
Podemos provavelmente assumir que Bernstein escreveu seu comentário a pedido de Woodward, como forma encoberta de expressar o ultraje de Woodward com o fracasso completo de seu jornal em usar a notícia para gerar um merecido escândalo político. A dupla provavelmente esperava que a notícia provocasse audiências no Congresso sobre uso indevido de poder por Murdoch, em paralelo com as investigações que revelaram no Reino Unido o controle de Murdoch sobre políticos e a polícia de lá.
Como Bernstein observou: “A notícia do Murdoch — sua corrupção de instituições essencialmente democráticas dos dois lados do Atlântico — é um dos casos políticos/culturais mais importantes dos últimos 30 anos, um conto em andamento e sem igual”.
O que Bernstein não consegue entender é o porquê dos barões da mídia não enxergarem as coisas como ele. Bernstein reserva seu maior desprezo à “resposta hã-hã da imprensa e do establishment político norte-americanos, seja por medo de Murdoch, de Ailes e da Fox — ou, talvez, pela falta de surpresa com o desprezo revelados por Murdoch, Ailes e a Fox em relação aos valores do jornalismo decente ou ao processo eleitoral transparente”.
Na verdade nenhuma das explicações de Bernstein para o comportamento da mídia é convincente.
Uma razão muito mais provável para a aversão da mídia pela notícia de Petraeus é que coloca em risco a parede de interferência estática, no estilo da Matrix, gerada precisamente pela mesma mídia, parede esta que esconde de forma bem sucedida o relacionamento confortável entre as corporações (donas da mídia) e os políticos do país.
Esta notícia sobre Petraeus causa distúrbio na mídia precisamente porque destroi a fachada da política democrática dos Estados Unidos, uma imagem cuidadosamente criada para persuadir o eleitorado norte-americano de que ele escolhe o presidente e decide o futuro político do país.
Em vez disso, a notícia revela a charada do jogo eleitoral, no qual poderosas elites corporativas manipulam o sistema através do dinheiro e da mídia que controlam, restringindo as escolhas dos eleitores a candidatos quase idênticos. Estes candidatos têm a mesma opinião em 80% das questões. Mesmo quando as políticas deles diferem, a maior parte das diferenças é desfeita nos bastidores pelas elites através da pressão que exercem na Casa Branca via grupos lobistas, a mídia e Wall Street.
A importância da notícia de Woodward não é que ela prova que Rupert Murdoch é um perigo para a democracia, mas sim que revela o domínio absoluto do sistema político dos Estados Unidos por corporações globais que controlam o que ouvimos e vemos. Essas corporações incluem, naturalmente, os donos do Washington Post.
A ironia mais triste é que os jornalistas que trabalham na mídia corporativa são incapazes de enxergar fora dos parâmetros definidos para eles pelos barões da mídia. E isso inclui mesmo os mais talentosos profissionais do ramo: Woodward e Bernstein.
*Jonathan Cook won the 2011 Martha Gellhorn Special Prize for Journalism. His latest books are Israel and the Clash of Civilisations: Iraq, Iran and the Plan to Remake the Middle East (Pluto Press) and Disappearing Palestine: Israel’s Experiments in Human Despair (Zed Books). His new website is http://www.jonathan-cook.net/.

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