quinta-feira, 31 de maio de 2018

Temer e o sonho americano

Temer e o sonho americano

por Henrique Fontana* — publicado 31/05/2018 00h20, última modificação 30/05/2018 16h10
Desde a campanha “O petróleo é nosso!”, na década de 50, acessar as reservas brasileiras de petróleo era o maior desejo das petroleiras estrangeiras

governo Temer e seus aliados de golpeconseguiram em pouco mais de dois anos realizar o grande sonho americano: acessar nossas reservas nacionais de petróleo, garantir preços de acordo com os interesses do mercado e determinar um novo padrão de dependência.
Desde a campanha do “O petróleo é nosso!”, na década de 50, este era o maior desejo de empresas estrangeiras e das petroleiras americanas, refinadoras e distribuidoras privadas. Desde de 2017, o Brasil exporta quase metade da sua produção de petróleo cru e compra o petróleo refinado. Dito de outra forma, estão levando nosso açúcar para nos vender melado.
A greve de caminhoneiros e a crise de desabastecimento, que coloca o governo Temer e os promotores do golpe de joelhos, demonstra claramente os efeitos de perdermos o controle público sobre a Petrobras, empresa que detém uma riqueza tão estratégica para qualquer nação. A tão criticada política dos governos Lula de “ganha-ganha”, no governo Temer foi substituída pela política do “perde-perde”.
Perde a Petrobras, que mantém apenas 60% da sua capacidade nas refinarias e reduziu sua participação no mercado, perdem os consumidores, e perdem o governo federal, os estados e os municípios suas arrecadações. Ou seja, perde o Brasil, perdem os produtores, perdem os trabalhadores, perde toda a sociedade, perde-se, ainda, um pouco do próprio sentido de futuro para o país.
Desde o princípio, após o fraudulento impeachment contra Dilma, e sob a justificativa de realizar um ajuste fiscal e priorizar a austeridade, o governo Temer, de um lado, desmonta políticas sociais, retira direitos trabalhistas, desorganiza a economia, e busca vender o patrimônio nacional; de outro, mantém privilégios, aumenta benefícios para empresas estrangeiras e facilita a compra de riquezas como o pré-sal.
Portanto, não se trata apenas de má gestão de Pedro Parente à frente da Petrobras, trata-se claramente de uma gestão lesa-pátria, subordinada aos interesses do mercado e das grandes petroleiras estadunidenses.
Veja, em meio à crise, a produção brasileira de derivados de petróleo atingiu o mínimo histórico, de 250 milhões de barris equivalentes em 2014 para 201 milhões em 2018. No governo Temer, o diesel sofreu 229 reajustes, contra apenas 16 nos 12 anos de governos Lula e Dilma.
A participação dos EUA na importação de diesel saltou de 41% em 2015 para 80% em 2017, e, com a crise atual, a dependência brasileira aumentou significativamente. A importação de gasolina dos EUA subiu de 1,64 milhão de toneladas para 3,33 milhões em 2017, um crescimento de 82%. Importante ainda recordar a política de privatização, que vendeu os campos do pré-sal por valores escandalosos.
Um deles, o de Carcará, por exemplo, foi leiloado por ridículos 2 dólares o barril, sendo que seu preço no mercado é de 80 dólares. Somente estes dados já são suficientes para demonstrar toda a extensão da crise atual e toda a gravidade dos seus efeitos para o país.
A crise brasileira tem uma saída: a saída do governo Temer. Este governo ilegítimo perdeu definitivamente sua autoridade política, e o povo quer uma solução para crise e quer um futuro para o País.
reacionarismo organizado defende vergonhosamente a intervenção militar. Mas o melhor remédio para momentos de crises agudas, especialmente como a que ocorre agora no país, é a democracia e não o autoritarismo. O golpe de 2016 fracassou e dobrar esta aposta criminosa do golpismo levará o país a um colapso econômico e a uma convulsão social. A melhor solução é mais democracia e não menos.
O Brasil precisa urgentemente reencontrar o caminho da democracia e garantir a posse de um governo legítimo, democraticamente eleito, em eleições livres, que possa promover a justiça social e o crescimento econômico ambientalmente sustentável.

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