terça-feira, 30 de agosto de 2011

Repórter não é Polícia; Imprensa não é Justiça, por Ricardo Kotscho

Repórter não é Polícia; Imprensa não é Justiça

Repórter não é Polícia; Imprensa não é Justiça

Ao voltar de Barretos (ver post anterior), o meu correio eletrônico já estava entupido de mensagens de amigos e leitores comentando e me pedindo para comentar a reportagem da revista "Veja" sobre as "atividades clandestinas" do ex-ministro José Dirceu, um dos denunciados no processo do "mensalão", que tramita no Supremo Tribunal Federal e ainda não tem data para ser julgado.
Só agora, no começo da tarde de segunda-feira, consegui ler a matéria. Em resumo, como está escrito na capa, sob o título "O Poderoso Chefão", ao lado de uma foto em que Dirceu aparece de óculos escuros e sorridente, a revista faz uma grave acusação:
"O ex-ministro José Dirceu mantém um "gabinete" num hotel de Brasília, onde despacha com graúdos da República e conspira contra o governo da presidente Dilma".
Para justificar a capa, a revista publica dez reproduções de um vídeo em que, além de Dirceu, aparecem ministros, parlamentares e um presidente de estatal entrando ou saindo do "bunker instalado na área vip de um hotel cinco-estrelas de Brasília, num andar onde o acesso é restrito a hóspedes e pessoas autorizadas".
Nas oito páginas da "reportagem" _ na verdade, um editorial da primeira à última linha, com mais adjetivos do que substantivos _ não há uma única informação de terceiros que não seja guardada pelo anonimato do "off" ou declaração dos "acusados" de visitar o bunker de Dirceu confirmando a tese da "Veja".
Fiel a uma prática cada vez mais disseminada na grande mídia imprensa, a tese da conspiração de Dirceu contra o Governo Dilma vem antes da apuração, que é feita geralmente para confirmar a manchete, ainda que os fatos narrados não a comprovem.
Para dar conta da encomenda, o repórter se hospedeu num apartamento no mesmo andar do ex-ministro. Alegando ter perdido a chave do seu apartamento, pediu à camareira que abrisse o quarto de Dirceu e acabou sendo por ela denunciado à segurança do hotel Naoum Plaza, que registrou um boletim de ocorrência no 5º Distrito Policial de Brasília, por tentativa de invasão de domicílio.
Li e reli a matéria duas vezes e não encontrei nenhuma referência à origem das imagens publicadas como "prova do crime", o primeiro dos mistérios suscitados pela publicação da matéria. O leitor pode imaginar que as cenas foram captadas pelas câmeras de segurança do hotel, mas neste caso surgem outras perguntas:
* Se o próprio hotel denunciou o repórter à polícia, segundo "O Globo" de domingo, quem foi que lhe teria cedido estas imagens sem autorização da direção do Naoum?
* Se foi o próprio repórter quem instalou as câmeras, isto não é um crime que lembra os métodos empregados pela Gestapo e pelo império midiático dos Murdoch?
* As andanças pelo hotel deste repórter, que se hospedou com o nome e telefone celular verdadeiros, saiu sem fazer check-out e voltou dando outro nome, para supostamente entregar ao ex-ministro documentos da prefeitura de Varginha, são procedimentos habituais do chamado "jornalismo investigativo"?
As dúvidas se tornam ainda mais intrigantes quando se lê o que vai escrito na página 75 da revista:
"Foram 45 horas de reuniões que sacramentaram a derrocada de Antonio Palocci e durante as quais foi articulada uma frustrada tentativa do grupo do ex-ministro de ocupar os espaços que se abririam com a demissão. Articulação minuciosamente monitorada pelo Palácio do Planalto, que já havia captado sinais de uma conspiração de Dirceu e de seu grupo para influir nos acontecimentos que ocorriam naquela semana (6,7 e 8 de junho, segundo as legendas das fotos) _ acontecimentos que, descobre-se agora, contavam com a participação de pessoas do próprio governo".
A afirmações contidas neste trecho provocam outras perguntas.
* Como assim? Quem do governo estava conspirado contra quem do governo?
* Por acaso a revista insinua que foi o próprio governo quem capturou as imagens e as entregou ao repórter da "Veja"?
* Por que a reportagem/editoral só publica agora, no final de agosto, fatos ocorridos e imagens registradas no começo de junho, no momento em que o diretor de redação da revista está de férias?
Só uma coisa posso afirmar com certeza, depois de 47 anos de trabalho como jornalista: matéria de tal gravidade não é publicada sem o aval expresso dos donos da empresa ou dos acionistas majoritários. Não é coisa de repórter trapalhão ou editor descuidado.
Ao final da matéria, a revista admite que "o jornalista esteve mesmo no hotel, investigando, tentando descobrir que atração é essa que um homem acusado de chefiar uma quadrilha de vigaristas ainda exerce sobre tantas autoridades (...) E conseguiu. Mas a máfia não perdoa".
Conseguiu? Há controvérsias... No elenco de nomes apresentados pela revista como frequentadores do "aparelho clandestino" de Dirceu, no entanto, não encontrei nenhum personagem que seja publicamente conhecido como inimigo do ex-ministro Antonio Palocci.
O texto todo foi construído a partir de ilações e suposições para confirmar a tese _ não de informações concretas sobre o que se discutiu nestes encontros e quais as consequências efetivas para a queda de Palocci.
Não tenho procuração para defender o ex-ministro José Dirceu, nem ele precisa disso. Escrevo para defender a minha profissão, tão aviltada ultimamente pela falta de ética de veículos e profissionais dedicados ao vale-tudo de verdadeiras gincanas para destruir reputações e enfraquecer as instituições democráticas.
É um bom momento para a sociedade brasileira debater o papel da nossa imprensa _ uma imprensa que não admite qualquer limite ou regra, e se coloca acima das demais instituições para investigar, denunciar, acusar e julgar quem bem lhe convier.
Diante de qualquer questionamento sobre as responsabilidades de quem controla os meios de comunicação, logo surgem seus porta-vozes para denunciar ameaças à liberdade de imprensa.
Calma, pessoal. De vez em quando, convém lembrar que repórter não é Polícia e a Imprensa não é Justiça, e também não deveria se considerar inimputável como as crianças e os índios. Vejam o que aconteceu com Murdoch, o ex-todo-poderoso imperador. Numa democracia, ninguém pode tudo.

sábado, 27 de agosto de 2011

Independent: Como Israel se vinga de meninos que atiram pedras | Viomundo - O que você não vê na mídia

Independent: Como Israel se vinga de meninos que atiram pedras | Viomundo - O que você não vê na mídia

Independent: Como Israel se vinga de meninos que atiram pedras

How Israel takes its revenge on boys who throw stones

Friday, 26 August 2011, no jornal britânico Independent

O menino, pequeno e frágil, está lutando para ficar acordado. Sua cabeça pende para o lado, a certa altura caindo sobre o peito. “Levanta a cabeça! Levanta!”, grita um dos interrogadores, estapeando o menino. Mas ele a essa altura não parece mais se importar, porque está acordado por pelo menos doze horas desde que foi tirado de casa e separado dos pais às duas da manhã, sob a mira de uma arma. “Eu gostaria que vocês me soltassem”, ele choraminga, “assim eu poderia dormir um pouco”.

Durante o vídeo, de quase seis horas, o palestino Islam Tamimi, de 14 anos de idade, exausto e amedrontado, é continuamente pressionado, a ponto de começar a incriminar homens de sua vila e a tecer lendas fantásticas que, acredita, seus tormentadores querem ouvir.

Estas imagens raras, vistas pelo Independent, oferecem uma janela num interrogatório israelense, quase um rito de passagem que centenas de crianças palestinas acusadas de atirar pedras enfrentam todo ano.

Israel tem defendido fortemente seu comportamento, argumentando que o tratamento dados aos menores melhorou vastamente com a criação de uma corte militar juvenil dois anos atrás. Mas as crianças que enfrentaram a dura justiça da ocupação contam uma história bem diferente.

“Os problemas começam muito antes de as crianças serem trazidas para o tribunal, começam com a prisão delas”, diz Naomi Lalo, uma ativista do No Legal Frontiers, um grupo israelense que monitora os tribunais militares. É durante os interrogatórios que o destino da criança “é decidido”, ela diz.

Sameer Shilu, de 12 anos, estava dormindo quando soldados derrubaram a porta da frente da casa dele uma noite. Ele e o irmão mais velho sairam do quarto com os olhos embaçados para encontrar seis soldados destruindo a sala-de-estar.

Checando o nome do menino na carteira de identidade do pai, o oficial israelense parecia “chocado” quando viu que precisava prender uma criança, disse o pai de Sameer, Saher. “Eu disse, ‘ele é muito jovem: por que você o quer?’ ‘Eu não sei’, ele respondeu”. Vendado e com as mãos dolorosamente atadas por algemas plásticas nas costas, Sameer foi colocado em um Jeep, com o pai gritando que não tivesse medo. “Nós choramos, todos nós”, o pai diz. “Eu conheço meus filhos; eles não atiram pedras”.

Nas horas que antecederam o interrogatório, Sameer foi mantido vendado e algemado, sem poder dormir. Eventualmente levado para um interrogatório sem um advogado ou parente presente, um homem o acusou de participar de uma demonstração e mostrou imagens de um menino atirando pedras, dizendo que era ele.

“Ele disse, ‘este é você’ e eu disse que não era eu. Então ele me perguntou, ‘quem são eles?’ e eu disse que não sabia”, Sammer conta. “A certa altura, o homem começou a gritar comigo, me agarrou pelo colarinho e disse ‘eu vou jogar você pela janela e te bater com um pau, se você não confessar’”.

Sameer, que se disse inocente, teve sorte; ele foi solto algumas horas depois. Mas a maior parte das crianças é amedrontada a ponto de assinar uma confissão, sob ameaça de violência física ou contra as famílias, como a da retirada das permissões de trabalho.

Quando uma confissão é assinada, os advogados geralmente orientam as crianças a aceitar um acordo e a servir uma sentença de prisão, mesmo que não sejam culpadas. Alegar inocência quase sempre representa longas ações no tribunal, durante as quais a criança quase sempre fica presa. Sentenças em favor das crianças são raras. “Numa corte militar, você deve saber que não deve procurar por justiça”, diz Gabi Lasky, uma advogada israelense que representou crianças.

Existem muitas crianças palestinas em vilas da Cisjordânia sob a sombra do Muro israelense da separação ou de assentamentos judaicos em terras palestinas. Onde grandes protestos não-violentos se deram como forma de resistência, existem crianças que atiraram pedras e patrulhas de Israel nessas vilas são comuns. Mas advogados e grupos de defesa dos Direitos Humanos protestam contra a política de Israel de tornar alvo as crianças de vilas que resistem à ocupação.

Na maioria dos casos, crianças de até 12 anos de idade são arrancadas da cama à noite, algemadas e vendadas, ficam sem dormir ou sem comida, são submetidas a longos interrogatórios e então forçadas a assinar confissões em hebreu, um idioma que poucas tem capacidade de ler.

O grupo de Direitos Humanos B’Tselem concluiu que “os direitos dos menores são severamente violados, que a lei quase sempre fracassa na proteção de seus direitos, e que os poucos direitos dados a eles sob a lei não são implementados”.

Israel alega que trata os menores palestinos no espírito de sua própria lei para jovens mas, na prática, este é raramente o caso. Por exemplo, crianças não deveriam ser presas à noite, advogados e parentes deveriam estar presentes durante os interrogatórios e é preciso ler os direitos para as crianças presas. Mas Israel trata isso como comportamento recomendando, não como exigência legal, e os direitos das crianças são frequentemente violados. Israel considera jovens israelenses como crianças até 18 anos, enquanto palestinos são vistos como adultos a partir dos 16 anos de idade.

Advogados e ativistas dizem que mais de 200 crianças palestinas estão em prisões israelenses. “Se você quer prender estas crianças, se quer julgá-las”, diz a srta. Lalo, “tudo bem, mas faça isso de acordo com a lei de Israel. Dê a elas os seus direitos”.

No caso de Islam, o menino do vídeo, a advogada dele, srta. Lasky, acredita que o vídeo é prova de sérias irregularidades no interrogatório.

Em particular, o interrogador não disse a Islam que ele tinha direito de ficar calado, e o menino foi ouvido sem a advogada, que tentou vê-lo mas não conseguiu. Em vez disso, o interrogador pediu a Islam que contasse tudo a ele e aos colegas, sugerindo que se fizesse isso ele seria solto. Um interrogador sugestivamente socou uma das mãos, fechada, na palma da outra.

Ao final do interrogatório Islam, chorando entre soluços, sucumbiu aos interrogadores, aparentemente dando a eles o que queriam ouvir. Numa página de fotografias, a mão do menino se moveu sobre as imagens, identificando moradores da vila que mais tarde seriam presos por protestar.

A srta. Lasky espera que a divulgação do vídeo mude o tratamento das crianças presas nos territórios ocupados, em particular na forma como são usadas para incriminar outros, o que advogados alegam é o principal objetivo dos interrogadores. O vídeo ajudou a conseguir a soltura de Islam, do presídio para prisão domiciliar, e pode levá-lo a ser inocentado das acusações de atirar pedras. Mas, neste momento, um Islam silencioso não acredita em sua sorte. A metros de sua casa em Nabi Saleh fica a casa de uma prima, cujo marido está preso à espera de julgamento junto com uma dúzia de outros com base na confissão do menino.

A prima é magnânima. “Ele é uma vítima, ele é apenas uma criança”, diz Nariman Tamimi, de 35 anos, cujo marido, Bassem, de 45 anos, está na prisão. “Não devemos culpá-lo pelo que aconteceu. Ele estava sob enorme pressão”.

A política de Israel tem sido bem sucedida num sentido: criar medo entre as crianças e evitar que elas participem de futuras manifestações. Mas as crianças ficam traumatizadas, sujeitas a pesadelos e a molhar a cama à noite. A maioria acaba perdendo o ano escolar, ou abandona a escola.

Os críticos de Israel dizem que a política em relação às crianças palestinas está criando uma nova geração de ativistas com os corações cheios de ódio contra Israel. Outros dizem que ela mancha o caráter do país. “Israel não tem nada que prender estas crianças, julgá-las ou oprimí-las”, a srta. Lalo diz, com os olhos marejados. “Elas não são nossas crianças. Meu país está fazendo muitas coisas erradas e as justificando. Nós deveríamos servir de exemplo, mas nos tornamos um estado opressor”.

Números de crianças detidas

7000. O número estimado de crianças palestinas detidas e processadas pelos tribunais militares israelenses desde 2000, de acordo com relatório do Defesa Internacional de Crianças Palestinas (DCIP)

87. Porcentagem de crianças submetidas a alguma forma de violência física durante a custódia. Cerca de 91% tiveram os olhos vendados em algum momento da detenção.

12. A idade mínima de responsabilidade criminal, conforme estipulado pela Ordem Militar 1651.

62. Porcentagem das crianças presas entre meia-noite e 5 da manhã.

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Os métodos criminosos no jornalismo da Revista VEJA


Por LEN*

O político José Dirceu fez uma denúncia no seu blog em que acusa o jornalista Gustavo Nogueira Ribeiro, que trabalha para a Revista VEJA, de tentativa de invasão de quarto em que ocupava no Naoum Plaza Hotel, na quarta-feira última, dia 24/08.

Segundo a denúncia de Dirceu, o jornalista se passou por hóspede do quarto dele para a camareira do hotel, com a intenção de invadir o seu quarto - intenções essas ainda não reveladas nem pelo repórter nem pela revista. O mesmo jornalista, que fugiu do hotel sem fazer “check out” e dando calote na sua diária após perceber que tinha sido descoberto, ainda tentou se passar por assessor da prefeitura de Varginha, para tentar novamente entrar no quarto de Dirceu, alegando que tinha que deixar lá dentro “documentos importantes”. O hotel registrou queixa no 5º distrito policial de Brasília.

Instada a se manifestar através da resposta de perguntas que esse blogueiro formulou e enviou à redação da revista, com o intuito de ceder à publicação espaço para o contraditório, a revista não respondeu até o fechamento dessa matéria as perguntas que reproduzo abaixo:

  1. O jornalista Gustavo Nogueira Ribeiro estava a serviço da revista ao se hospedar no Naoum Plaza Hotel e tentar invadir ilegalmente o quarto de José Dirceu em duas oportunidades, conforme consta no boletim de ocorrência registrado no 5º distrito policial de Brasília?
  2. Em caso positivo para a primeira resposta, a revista tinha conhecimento das práticas criminosas utilizadas por um jornalista contratado para tentar investigar, ou seja lá o que queria o Gustavo quando tentou invadir o quarto?
  3. Em caso positivo para a segunda resposta, a revista incentiva a prática criminosa como parte da obtenção de insumos jornalísticos, como a invasão ilegal e falsidade ideológica?
  4. Tomando conhecimento do fato, qual vai ser a postura da revista em relação ao crime cometido pelo jornalista que emprega?
  5. A revista publicará uma explicação ou ignorará o ocorrido contando com a conivência de outros meios de comunicação?
A revista não se preocupou em responder ao blog, mas deve explicações à sociedade civil. São graves as acusações que pesam sobre o jornalista que estava a serviço da revista: tentativa de invasão e de privacidade, falsidade ideológica e fraude. Se calar e atacar seus acusadores, não vai arrefecer a exigência de explicações convincentes para a escandalosa ação que remete às práticas criminosas cometidas pelos jornais ingleses de Rudolf Murdoch, que recentemente assombrou o mundo inteiro.

Essa revelação chega ao mesmo tempo em que o Wikileaks revela que nem a diplomacia americana acreditou na matéria em que acusa, em 2006, o PT de ter relações com as FARC. A revista não conseguiu comprovar suas acusações.

A revista VEJA sofre anualmente com vários processos de calúnia e difamação em consequência de um jornalismo que preza pela tentativa de destruição de reputações, que se baseia em informações inventadas pela revista. A revista ainda é beneficiada pelo vácuo causado pela queda da lei de imprensa, o que dá argumento para alguns juízes - que temem por represálias da revista - alegarem que não existe regulamentação no setor. O que se comenta é que a revista possui verba reservada para pagamento de indenizações, incentivando a prática do jornalismo mentiroso e de calúnias pelos jornalistas que trabalham para a empresa.

É preocupante a revelação em relação à manutenção do estado democrático de direito. Lembramos que a revista publicou, em anos anteriores, uma transcrição da conversa entre um ministro do STF e um senador da República. Na época, a revista disse que a gravação foi obtida através de um agente da ABIN cuja identidade não foi revelada. Também não divulgou o áudio da gravação para ser periciado pela PF. Não seria demais concluir que diante das revelações das práticas criminosas da revista e pela confirmação dos envolvidos da autenticidade do diálogo, que a própria revista pode ter grampeado o telefone do senador e/ou do ministro e culpado a ABIN.

Com a palavra o Procurador-Geral da República porque o assunto é de extrema gravidade e merece respostas rápidas e duras das nossas instituições sob pena de retrocesso no processo democrático. Lugar de criminoso é na cadeia e por eventos semelhantes Murdoch teve que fechar seu jornal. É claro que não esperamos vergonha e decência dos proprietários da revista VEJA e do grupo Abril a ponto de fechar a revista, mas o ministério público e a polícia federal têm a obrigação de investigar e levar a denúncia aos tribunais. Chega de máfia travestida de veículo de comunicação, o jornalismo do país precisa de uma FAXINA ÉTICA urgente.

*LEN é editor-geral do Ponto & Contraponto e coeditor do Terra Brasilis

Martin Wolf: Aproveitar a oportunidade para reformar a mídia | Viomundo - O que você não vê na mídia

Martin Wolf: Aproveitar a oportunidade para reformar a mídia | Viomundo - O que você não vê na mídia

Martin Wolf: Aproveitar a oportunidade para reformar a mídia

July 14, 2011 11:25 pm

Seize the chance for media reform

By Martin Wolf, no Financial Times

Crianças intimidadas cercando o valentão do parque — este é o espetáculo no Reino Unido desde que o escândalo da violação dos telefones pelo [tablóide] News of the World explodiu. Como um dos que faz tempo acreditavam que a influência de Rupert Murdoch na vida pública do Reino Unido era intolerável, estou encantado com essa mudança. Mas ódio não é suficiente. O Reino Unido deve aproveitar a oportunidade para reconsiderar a estrutura e a regulamentação de sua mídia.

A mídia é um negócio. Mas não apenas um negócio. Não apenas reflete, mas também modela, a opinião pública e assim possui uma imensa influência política. É por isso que ditadores buscam controlar a mídia e políticos democratas buscam usá-la. Uma pessoa com controle sob uma porção substancial da imprensa e da televisão exerce grande influência sobre a vida pública, sem prestar contas. Esta é (ou pelo menos era) a posição da News International, [a empresa] do sr. Murdoch.

Alguns poderiam argumentar que, ainda assim, é melhor deixar a questão da propriedade para o mercado e a questão do conteúdo sob os direitos da liberdade de expressão, sujeitos apenas às leis da difamação ou invasão de privacidade. A mídia tem uma relação íntima com o funcionamento da democracia ou, em outras palavras, com a capacidade das pessoas de desempenharem seus papéis de cidadãos ativos.

Somos tanto consumidores quanto cidadãos, indivíduos com vidas privadas e participantes da vida pública. Liberais clássicos, que assumem que o papel do estado deveria ser circunscrito de forma estreita, enxergam na mídia não mais que uma arena para gladiadores comerciais. Mas, nas palavras de Aristóteles, o homem é um “animal político”. Precisamos tomar várias decisões juntos. No Ocidente fazemos isso através de um estado governado pela lei e responsável perante os governados. Assim, este é um governo do debate permanente. A mídia é o forum para a política democrática. E é por isso que ela é importante.

Diversidade de mídia requer diversidade de propriedade. Mas forças econômicas podem gerar um grau de concentração incompatível com a diversidade desejada. Políticos vão se descobrir rastejando diante dos proprietários que controlam a sua comunicação com o público. Nos piores casos, o proprietário pode de tal forma torcer e distorcer esta comunicação necessária de forma a transformar a vida pública. Eu diria que o populismo direitista da rede Fox fez isso nos Estados Unidos. Isso não deveria acontecer no Reino Unido.

Ainda assim, paradoxalmente, um proprietário poderoso, como o sr. Murdoch, pode também promover diversidade. O Times — um jornal decente — existe hoje porque é subvencionado pela News International. Essa necessidade de ajuda parcialmente reflete a situação econômica dos negócios jornalísticos, quando a internet devasta os modelos de negócio tradicionais, baseados em publicidade.

Se ver a mídia da mesma forma como vemos o armazém é um erro grave, é igualmente enganoso ignorar o lado dos negócios da mídia. A mídia precisa de financiamento. Se os fundos não vierem do mercado, precisam vir de algum lugar. Isso, também, cria perigos, e o domínio pelo estado não é o menor deles. Cada país terá de conseguir seu próprio equilíbrio, alerta quanto aos dilemas, particularmente em uma era de profundas mudanças tecnológicas.

O que agora é necessário é um reexame amplo do papel e da regulamentação da mídia no Reino Unido. Acima de tudo, qualquer conclusão dessa revisão precisa explicitamente incluir um compromisso com novas mudanças no futuro, para dar conta das atuais transformações na tecnologia e no ambiente de negócios. Tal revisão ampla deveria olhar para: as leis de privacidade e difamação; regulamentação da imprensa; concentração da propriedade por veículos e sobre diferentes mídias; papel da mídia pública; financiamento público da mídia em geral e da produção de notícias em particular.

Minhas posições preliminares são: a privacidade dos sem-poder precisa de mais proteção e os malfeitos dos poderosos, de menos; a compensação por cobertura maliciosa precisa ser mais dura, ainda que preservando a liberdade de expressão; regras para a propriedade cruzada da mídia deveriam ser muito mais duras, com a posição estabelecida da News Internacional tanto em jornais como na televisão descartada a priori; o país deveria continuar a apoiar a BBC através de financiamento estável, porque ela define a noção do interesse público; e deveríamos considerar se a necessidade pública por notícias e opinião de alta qualidade merecem apoio público.

Vivemos tempos extraordinários. Mas eles são também, largamente, tempos de um acesso de ódio contra aqueles que foram humilhados pela imprensa de Murdoch. A planejada investigação de duas partes do primeiro-ministro [David Cameron] no escândalo das violações telefônicas e questões relacionados cobrem muitas, embora nem todas, as questões necessárias.

Não basta acertar as contas com o valentão do parque, ainda que os desvios de compartamento dele tenham sido tão ofensivos. É essencial desenhar as estruturas de regulamentação que preservem a liberdade da mídia, ao mesmo tempo contendo os abusos, inclusive a concentração de poder sem responsabilidade. A mídia é muito importante para ficar à mercê de políticos ou juizes. Mas também é muito importante para ficar à mercê dos proprietários concentradores. O Reino Unido tem uma oportunidade de ouro para encontrar um equilíbrio. Se fizer isso, o escândalo ainda pode render frutos.


Veja descobre que José Dirceu (tchan, tchan, tchan, tchan) faz política e fala com políticos

Veja descobre que José Dirceu (tchan, tchan, tchan, tchan) faz política e fala com políticos

Veja descobre que José Dirceu (tchan, tchan, tchan, tchan) faz política e fala com políticos

Veja descobre que José Dirceu (tchan, tchan, tchan, tchan) faz política e fala com políticos

247 – Talvez tenha sido um haraquiri. Com o chefe Eurípedes Alcântara em férias, o número dois de Veja, Mario Sabino, conhecido pela mão pesada e pela habitual postura malvadinha, toma uma decisão. Pauta uma reportagem para que se descubra o que faz José Dirceu em Brasília. Veja então hospeda um repórter num quarto do hotel Naoum, em Brasília, que, aparentemente, instala uma câmera no mesmo andar onde se hospeda José Dirceu. E descobre que, pelo corredor, passam figuras da República, como os senadores Lindbergh Farias, Eduardo Braga, Delcídio Amaral, e presidentes de estatais, como José Sergio Gabrielli, além de ministros, como Fernando Pimentel. Portanto, a revelação é mesmo bombástica: José Dirceu, fundador do PT e uma das lideranças relevantes do partido... (tchan, tchan, tchan, tchan)... faz política. E, por isso, ele desponta na capa da revista como o Poderoso Chefão – o Don Corleone de Francis Ford Coppola.

Para descobrir que José Dirceu faz política, não seria preciso instalar câmeras secretas nem tentar invadir um quarto de hotel. É algo, como diria Nelson Rodrigues, óbvio e ululante. Figura pública no Brasil desde a década de 60, ele respira e transpira política. E divide seu tempo entre a defesa no processo do Mensalão, no qual é réu, e as articulações para as eleições de 2012 e 2014. Gabrielli esteve com Dirceu? Sim, e daí? Gabrielli é pré-candidato do PT ao governo da Bahia e a costura política passa por José Dirceu. Lindbergh falou com Zé Dirceu? O senador também pretende se candidatar ao governo do Rio de Janeiro em 2014 e, portanto, conversa com lideranças do partido ao qual pertence. Pimentel passou por ali. So what?

A reportagem deste fim de semana é um exemplo típico de exacerbação do efeito – muita espuma, para pouco chope. Uma capa com ar bombástico, o recurso a hipérboles e, no fim, tentativas de vitimização. Sobre a invasão de um quarto de hotel, que gerou um boletim de ocorrência (leia mais), Veja conclui sua reportagem dizendo que “a máfia não perdoa”. Dá até pena do repórter.

Mas, que máfia, Roberto Civita?

Com a Abril em boa situação financeira, Civita nomeou seu primeiro CEO que terá poderes também editoriais. No passado, a Abril teve outros presidentes, como Maurizio Mauro, que se ocupavam da área financeira, mas sem nenhuma interferência sobre o conteúdo das publicações.

Fabio Barbosa, ao contrário, chega para emprestar credibilidade à Abril.

E ganhou um presente antes mesmo da sua chegada.

Uma capa que lhe dá totais condições de iniciar sua faxina interna.

http://brasil247.com.br/pt/247/midiatech/13234/Veja-descobre-que-Jos%C3%83%C2%A9-Dirceu-(tchan-tchan-tchan-tchan)-faz-pol%C3%83%C2%ADtica.htm

Hotel diz que repórter da revista Veja tentou entrar em quarto de Dirceu

Porto Alegre - O setor de segurança do Hotel Naoum, de Brasília, registrou na quinta-feira (25) boletim de ocorrência por tentativa de violação de domicílio contra o repórter da revista Veja, Gustavo Ribeiro. Ele teria tentado, por duas vezes, entrar no quarto em que estava hospedado o ex-ministro da Casa Civil e membro da direção nacional do PT, José Dirceu.

A informação foi divulgada na sexta (26), pelo próprio José Dirceu, em seu site pessoal. Segundo a ocorrência, registrada na 5ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal, o repórter da revista se hospedou em uma suíte ao lado da que Dirceu ocupava. A uma camareira, o jornalista disse ter perdido as chaves do quarto, alegando estar hospedado na suíte que na verdade era de José Dirceu. A funcionária comunicou o fato à direção do hotel. O repórter tentou entrar no quarto uma segunda vez, fazendo-se passar por um assessor da prefeitura de Varginha (MG) que necessitava entregar documentos ao ex-ministro.

A revista Veja publicou uma reportagem sobre as movimentações de José Dirceu em Brasília. Outro repórter da semanal encaminhou perguntas ao ex-ministro questionando se os encontros com “agentes públicos” no hotel envolveriam “demandas parlamentares”, “votações no Congresso” e “articulações políticas”.

“Soube, por diversas fontes, que outras pessoas ligadas ao PT e ao governo foram procuradas e questionadas sobre suas relações comigo. Está evidente a preparação de uma farsa, incluindo recurso à ilegalidade, para novo ataque da revista contra minha honra e meus direitos”, afirma José Dirceu, em seu blog.

Até o momento, a revista não se manifestou sobre o episódio. Em seu blog no site da Veja, o jornalista Reinaldo Azevedo afirmou que José Dirceu está tentando intimidar a revista. “Trata-se de uma tentativa de intimidar a revista para ver se consegue impedir que a reportagem apurada seja publicada. É a famosa cortina de fumaça”, escreveu o articulista. A cópia do boletim de ocorrência foi disponibilizada no site de José Dirceu.

http://www.redebrasilatual.com.br/temas/politica/2011/08/hotel-diz-que-r...


MARIA DA PENHA NELES

MARIA DA PENHA NELES

Curso onde estudou o jornalista invasor publica nota de pesar e pede desculpas à sociedade


Do Curso Básico de Jornalismo Manipulativo

Pedimos sinceras desculpas à sociedade.
Soubemos que um dos nossos mais destacados pupilos foi pego numa situação assaz constrangedora, no exercício de sua atividade profissional: tentando invadir o apartamento de um dos alvos preferidos da publicação para a qual trabalha, no intuito de obter informações confidenciais de modo ilegítimo – ou, quem sabe (e entristecemos só de pensar), “plantar” material de natureza destruidora para a reputação do político, ou instalar ocultamente um equipamento de escuta clandestina.
É bem verdade que esse nosso aluno costumava compartilhar estranhas imagens durante o Curso, como estas (tivemos que fuçar um tanto em nossos e-mails para encontrá-las):
Estranhamos também o fato de nosso aluno usar, em vários sites, ora este avatar:
E ora este:
Mas jamais imaginávamos que aquilo que nos pareceu ser um inocente hobby acabaria incorporado ao processo de trabalho.
Reiteramos que nosso Curso visa somente a ensinar a boa, velha e saudável prática da manipulação jornalística de fatos e opiniões. Trabalhamos com as palavras, não com michas ou pés de cabra; nosso foco são as chaves imateriais da persuasão, não as fechaduras materiais das portas; ensinamos a cometer, quando muito, crimes de opinião (coisas pequenas, como calúnia, injúria e difamação), jamais crime de violação de domicílio.
Fica, então, o aviso aos nossos outros alunos: mintam, manipulem, ocultem, distorçam e falsifiquem, mas jamais ultrapassem o limite da decência no pesado jogo da política.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Muito pelo Contrário

Muito pelo Contrário

Dúvidas sobre a estratégia política do Governo Dilma

Filed under: politica — MpC @ 13:28
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“O video ficou descontextualizado, melhor um bumerangue pra demonstrar meu temor.”

Tenho tentado escrever sobre a estratégia política do Governo Dilma desde os seus 100 dias. Confesso que não está fácil. Tenho mais dúvidas que respostas. Diferentemente de outros momentos, simplesmente não sei o que dizer. Antes tudo era mais fácil. Qualquer bobagem servia, se encaixava. Afinal, políticos são eram previsíveis.

Hoje tudo está nublado, não enxergo uma linha definida. A verdade é que é muito difícil pra qualquer pessoa dizer “eu não sei”. Isso é assumir publicamente a falta de conhecimento. No mínimo aceitar uma incapacidade dedutiva inadmissível numa época em que nós afogamos sob um dilúvio incessante de informações.

Mas talvez eu esteja apenas constrangido, envergonhado. Vergonha alheia, melhor dizendo. Pois, por ai, só se lê certezas absolutas, verdades inabaláveis. Tudo ou é um desastre completo, ou é de uma virtú impecável. Oito ou oitenta, o maniqueísmo eleitoral – às vezes necessário, aceitável – atingiu a completude, e tomou conta de toda a política.

Nos clippings-blogs e artigos da velha mídia é certeza que o Governo Dilma acabará. Que o desastre é inevitável. Que ela é arrogante, grosseira, tosca, e tratando assim os (sensíveis) políticos irá inevitavelmente destruir a “governabilidade”. E que já “circula em Brasília”, que ela pode não concluir o mandato.

Nos blogs governistas/progressistas o que se lê é que é o estado-da-arte da política. Uma estratégia perfeita. Bem executada, uma limpeza, uma faxina ética. Decisões inequívocas na área econômica. Uma revolução na política. E que essa assepsia renderá incontáveis votos junto à classe média. Novos tempos. Uma recuperação dos valores éticos pela esquerda através de uma estratégia magistral para se defender do julgamento do Mensalão que virá pelas mãos vingadoras do Joaquim Barbosa.

Pode ser. No momento realmente não há nada ameaçando a governabilidade. Ou alguém aqui imagina o PR no purgatório, longe das benesses do poder por longos 3 anos e meio? Ou o PP? Ou o PMDB? Até aonde vi, os sinais mais claros é de novas adesões, seja com o PV (pós-Marina), seja com o PSD (do Kassab e cia).

Mas política é bumerangue. Quantas vezes já vimos políticos no Congresso colocando a fatura na mesa do presidente? Seja com Lula, seja com FHC. Sei que ela é diferente. Sei que foi surpresa pra muitos, inclusive pra mim. Não tem a ver com a corrupção em si. Tem a ver com o aprendizado que uma campanha eleitoral traz. Tem a ver com deixar de ser técnica e se tornar uma grande política. De certa forma me irrita essa adesão à ideia de satanização da política.

Eu estou com Lula nessa (ah vá…), se a presidenta não permitir que a Gleisi seja a Dilma da Dilma, não haverá politização das ações. E 2012 pode mostrar isso. Gestão não politiza, por mais que os tecnocratas insistam nesse ponto. Um governante não pode terceirizar a política sob o risco de uma alienação perigosa. Ela deveria transpor os conceitos que está usando na economia. Nenhum presidente é uma ilha. Ignorar o Congresso eleito, voltar a fazer o jogo da mídia de escandalizar seletivamente o “nada”, confiar numa oposição acuada e decadente, são decisões perigosas.

Enfim, não sei se vai dar certo. Torço que dê. Mas sou cético por natureza. A principal lição que aprendi nos últimos anos é que os políticos são traiçoeiros, a velha mídia brasileira tende ao golpismo por natureza e a classe média, continua extremamente volúvel.

“Só sei que nada sei”, mas tenho certeza que não gosto dessa combinação.


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Escrevinhador

Escrevinhador

O povo na rua – mas não aqui no Brasil…

publicada terça-feira, 16/08/2011 às 16:35 e atualizada quarta-feira, 17/08/2011 às 17:16

Povo nas ruas: não no Brasil...

por Rodrigo Vianna

Tive o prazer de entrevistar esta semana, na Record News, Plinio de Arruda Sampaio e o jornalista e cientista político Igor Fuser. O assunto: a crise do capitalismo e as insurreições de rua que chegaram ao Chile e à Inglaterra.

Igor lembrou um dado irônico: Inglaterra, com Thatcher, e Chile, com Pinochet, foram os pioneiros do neoliberalismo no fim dos anos 70 e início dos 80. Comandaram a onda de privatizações, desregulamentação e ataques aos sindicatos que depois se espalhou pelo mundo. Claro que a queda do “socialismo real”, no início dos 90, deu o empurrão final: os capitalistas perderam o medo! Sem a alternativa do socialismo, tornavam-se desnecessárias as concessões que ao longo do século XX o Capital fora obrigado a fazer ao Trabalho.

Os anos 80 e 90 foram o auge do ultracapitalismo.

Agora, é a volta do cipó de aroeira! A crise viceja no Chile e na Inglaterra. Estudantes chilenos querem Educação pública! Ingleses querem um Estado que não seja só “mãe dos banqueiros”.

Plinio lamentou que a onda de protestos ainda não tenha chegado ao Brasil. “Aqui, domina a cultura do favor”, disse o ex-presidenciável pelo PSOL. E lembrou que parte do povão tem o sentimento de “gratidão” em relação a Lula, pelas políticas sociais que tiraram milhões da miséria.

Não concordo com Plinio nesse ponto. Lula fez algo importante. Criou a base de um mercado consumidor gigantesco e independente. Mas, como já foi lembrado por tanta gente, Lula não ajudou a politizar a sociedade. A tal classe C que ascende cultiva em boa parte os valores do individualismo e do consumo.

Quem sou eu pra ”condenar” aqueles que sonham com (e conseguem) uma TV nova ou um carro comprados no crediário? É fácil torcer o nariz quando já se tem isso tudo. Na verdade, o problema não é o consumo. Mas a falta de debate, que deixou a agenda dominada por valores conservadores (como vimos na campanha eleitoral em que aborto virou tema central).

Mas Lula ainda travava algum debate com a direita: nas comunicações, na economia, na questão das relações internacionais, na Cultura. Dilma parece ter caminahdo ainda mais ao centro. Dilma parece disposta a cumprir a promesa de reduzir a miséria ainda mais. E só. O que atrapalhar esse plano (modesto) ela vê como acessório. E abre mão.

O Plinio e outros por aí cumprem o digno papel dos combatentes que não abaixaram suas bandeiras. Acho que é um papel importante, diante do abandono das bandeiras de esquerda por tantos petistas.

Mas acho que a esquerda (seja ela petista, psolista, comunista, socialista ou outros “istas” por aí) faria melhor se, em vez de seguir reclamando da “despolitização” legada pelo PT, tentasse construir uma nova agenda.

Essa nova agenda não precisa “negar” o lulismo. Ao contrário. Deveria partir das conquistas e dos avanços do lulismo, para estabelecer um novo programa.

Enquanto a economia cresce, isso tudo pode parecer bobagem. Dilma e o PT “oficial” (que faz acordos com as teles e veta aumento pra aposentado) seguirão nadando de braçada – fora uma ou outra crise fabricada pela oposição midiática.

Mas a crise mundial vai bater aqui no Brasil, mais forte do que em 2008. E aí os setores organizados, os petistas que não abdicaram de reformar a sociedade (e são muitos, talvez a maioria), os sindicalistas, os movimentos sociais, enfim a base tradicional da esquerda terá que se perguntar: vamos tentar salvar o capitalismo à brasileira – de juros nas alturas e concesões sociais? Ou vamos apostar num programa alternativo?

Na sociedade já começam a pipocar iniciativas para reagir a essa agenda “burocrática” e centrista que parece dominar o governo Dilma. A reação dos movimentos sociais ao “acordão” com as teles no Plano de Banda Larga, e as reações de sindicatos à decisão de “congelar” ganhos de aposentados apontam nessa direção.

Sobre isso tudo, especialmente sobre a necessidade de construir uma nova agenda, vale a pena ler a ótima entrevista de Vladimir Safatle à repórter Tatiana Merlino, na edição da “Caros Amigos” que acaba de chegar às bancas.

Entre outras pérolas, ele diz que Dilma corre o risco de ser a “Bejnev no lulismo”. Tatiana Merlino resumiu bem a tese de Safatle na abertura da entrevista:

A oportunidade da esquerda brasileira está em usar a vontade de ascensão da nova classe média para recolocar em circulação o discurso do conflito de classe, “assim como a exposição dos malefícios da desigualdade”. A opinião é do filósofo Vladimir Safatle, professor do departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP).

Abaixo, trechos da entrevista:

“O modelo lulista pode durar mais um pouco, ou seja, enquanto houver crescimento econômico para a nova classe média e enquanto não houver oposição ideologicamente configurada (seja à esquerda, seja à direita). Dentro de tal modelo, a questão para Dilma será como se colocar no papel deste mediador universal que Lula encarnou tão bem. No entanto, ela tem mais margem de manobra porque o modelo já foi montado.

Nestes primeiros meses, ela demonstrou duas coisas: que está disposta a aproveitar sua força inicial para enquadrar aliados (o que é uma coisa boa, sua atuação ao dizer que vetaria os absurdos do novo Código Ambiental é um exemplo interessante neste sentido) e que seu governo tem um profundo déficit de elaboração de políticas de médio e longo prazo (o que é ruim). Seu ministério, em larga medida e salvo honrosas exceções, é caracterizado por não ter formuladores de política.”


domingo, 21 de agosto de 2011

Tijolaço – O Blog do Brizola Neto

Tijolaço – O Blog do Brizola Neto: Cantanhêde: Cuidado, tucanos, Dilma é Lula!

Hoje, na Folha, antes de dar a maravilhosa notícia de que vai tirar férias até 13 de setembro, a inefável Eliane Cantanhêde nos brinda com uma mensagem que, certamente, poderia receber a assinatura de José Serra, ou mesmo de Nélson Jobim, de quem ela é a mais autorizada psicógrafa.

O título é ótimo e resume toda a essência da visão serro-jobinista da situação: “Tucanos caem como patinhos”.

E aí, com a mesquinhez eleitoreira que marca o pensamento do xiismo tucano, ela discorre sobre o que seria uma maquiavélica manobra da presidenta para, na visão dela, virar “estrela de uma frente pluripartidária contra a corrupção e contra a miséria”.

A Cantanhêde acha – qualquer um pode achar qualquer coisa na democracia – que a presidenta está se pendurando, como papagaio de pirata, na foto com Fernando Henrique, o Amado e Inesquecível, e os campeões de simpatia Geraldo Alckmim e Antonio Anastasia.

“O aparato marqueteiro que Dilma herdou de Lula não dá ponto sem nó: a solenidade do Brasil sem Miséria com o tucanato foi justamente em São Paulo, coração do PSDB e do seu eleitorado.”

Claro, se Dilma não se reúne com o governo paulista e mineiro, é partidária, se o faz, é oportunista. E o que dizer de aparecer na foto com FHC? Com o prestígio transbordante do ex-presidente, uma foto com ele quase chega a ser um problema.

Mas ela lança o alerta dos bolsões serristas: “assim ela vence resistências entre os 40 milhões que votaram na oposição, contra Lula e o lulismo. Por trás do discurso de que o Brasil sai ganhando, a oposição não lucra nada, Dilma fica com tudo”.

Como qualquer pessoa que encare o exercício do poder de forma mesquinha, sem se dar conta que o Presidente ou a Presidenta é chefe de toda a Nação, inclusive daqueles 40 milhões que votaram no “coiso”, esquece daquele papo “republicano” que gostam de invocar quando é para criticar.

Mas Cantanhêde e os espíritos desencarnados que inspiraram seu raciocínio acerta numa coisa, na frase final, definitiva:

“Dilma é Lula”.

É essa a verdade e é isso que tem de ficar claro para a população, em meio a todos estes rapapés da turma que perdeu o único discurso que tinha – o (falso) moralismo – e das fotografias com o Brasil que já era.

Que os tucanos caiam como patinhos, problema deles. Mas não deixemos o povo brasileiro pensar que é verdade algo diferente do que é verdade: “Dilma é Lula”.

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sábado, 20 de agosto de 2011

Cinema Secreto: Cinegnose: A Ilusão do Fim e a Presunção da Catástrofe

Cinema Secreto: Cinegnose: A Ilusão do Fim e a Presunção da Catástrofe

A Ilusão do Fim e a Presunção da Catástrofe

"Os mercados estão derretendo", "fim", "abismo". A lógica midiática da “presunção da catástrofe” é a nova aliada do chamado “capitalismo cassino” para deliberadamente acelerar as oscilações dos mercados como instrumento de criação de novas oportunidades de ganhos especulativos. Até o velho Marx é chamado para decretar o apocalipse. Mas esquecem que ele tem um conceito muito mais radical para denunciar essa ilusão midiática do fim: o "Fetichismo da Mercadoria".

Nesta semana encontrei com um amigo que trabalha no mercado financeiro com títulos de agronegócios. Aproveitando a pauta atual da crise financeira global, não poderia deixar de lhe perguntar sobre como estava convivendo com a perspectiva do “derretimento” dos mercados. “Para mim, nunca esteve melhor”, respondeu para a minha surpresa. Segundo ele, quanto mais o mercado está oscilante, nervoso e tenso, melhor para os seus negócios: “Ganho mais com essas variações”.

“Crise global”, “tempo exausto”, “beira do abismo”, “moratória” são termos que dominam noticiários e textos de analistas, dando a entender que estamos a poucos passos do fim de uma era ou do próprio capitalismo. Karl Marx volta à cena na voz do professor de Economia da Universidade de Nova York, Nouriel Roubini, que há quatro anos teria previsto a crise financeira: “Marx estava certo”, diz ao confirmar o diagnóstico de que contradições internas levariam o capitalismo a crises cíclicas.

Os tumultos urbanos na Inglaterra ainda reforçam esse clima generalizado de catástrofe como o preço final a ser pago pelo neoliberalismo e o capitalismo financeiro desenfreado. Será o fim mesmo? Será que realmente estamos diante de uma “crise”? Ou de uma forma perversa de realização de lucros (ganhos por variações nas cotações) onde a lógica da “presunção da catástrofe” midiática ajuda a criar o clima especulativo ideal para a onda moralista de caça aos “especuladores malvados” que gastariam o bom dinheiro que deveria ser investido na economia real que geraria empregos?

Pois a “presunção da catástrofe” (que é a própria lógica informativa da mídia atual) é a nova aliada do chamado “capitalismo cassino” da financeirização generalizada da sociedade. Forma deliberada de aceleração das oscilações dos mercados como instrumento de criação de novas oportunidades de ganhos especulativos, ao mesmo tempo em que o discurso moralista da ilusão do fim salvaguarda a lógica perversa do jogo ao se buscar os “culpados malvados” de sempre.

Antes de invocarmos apressadamente Karl Marx como faz o “Dr. Catástrofe” Nouriel Roubini, devemos, isso sim, usar Marx para entendermos essa lógica da ilusão do fim através das teses de Robert Kurz e do chamado grupo Krisis na Alemanha: grupo de intelectuais formado em 1986 influenciados pelas ideias de Guy Debord e Theodor Adorno em torno do jornal “Krisis – contribuições para uma crítica à sociedade da mercadoria”.


O conceito mais obscurso de Karl Marx:
o Fetichismo da Mercadoria
As teses apresentada pelo coletivo Krisis formam a visão crítica mais radical da atualidade ao utilizar de Marx o seu conceito mais obscuro e menos explorado pela Teoria Econômica: o Fetichismo da Mercadoria. Obscuro por ter sido mal compreendido ao identificá-lo como mero fenômeno ideológico que se sobrepõe à racionalidade da atividade econômica. Mas, como sugere o coletivo Krisis, e se o fetichismo (feitiço, magia, religião) for o cerne da própria produção de valor no capitalismo? E se tanto trabalho como o capital estiver sob o feitiço da idolatria do “deus-trabalho” e do “deus-capital”, forma de simulação incessante de um sentido que não existe e que submete o homem a uma perversa forma de sociedade?


Marx hegeliano e o Marx “esotérico”



Nesses momentos de crise, Nouriel Roubini e a mídia vão resgatar o Marx hegeliano, que é o que mais se adéqua à visão escatológica do abismo global que está sendo desenhado. Esse é o Marx “exotérico” como afirma Robert Kurz. É a linha argumentativa da historicização, isto é, quando ele aplica a dialética de Hegel à história dos modos de produção como sucessivas etapas que se superam em saltos qualitativos, até o final da história onde o estado de alienação estará terminado quando o homem retomar a sua essência no trabalho dentro do Comunismo. As crises seriam a parte visível de um motor dialético de confrontos e sínteses (“a violência é a parteira da História”), contradições internas que fazem os modos de produção serem superados até o estágio final, a realização plena da Ideia na História.

Mas, a segunda linha argumentativa de Marx , a “esotérica”, é radical: a mistificação real da forma mercadoria e do dinheiro (o fetichismo) através do qual toda a modernidade se desenvolve.
“O tabu absoluto da modernidade, a forma da mercadoria/forma do valor como tais, o dinheiro e com isso a própria forma do sujeito, esta correlação presta-se tão pouco a tema de crítica e superação para a consciência constituída de modo fetichista quanto o mistério para os religiosos. O "modo de produção baseado no valor" (Marx), que traça a sua órbita como um cometa de candência afinal catastrófica, pressupõe cegamente o valor como categoria-fetiche e inflecte toda a reflexão como por si mesma para essa forma, na qual não apenas se age, mas também se pensa.” (KURZ, Robert. O Pós-Marxismo e o Fetiche do Trabalho).
Embora Marx tenha “historicizado” a dialética de Hegel, ao mostrar no livro 1 do “Capital” que a própria produção de valor e mercadoria é feitiço e magia, manteve o esquema metafísico do idealismo hegeliano: a História como apenas o desdobramento do idêntico, a dialética que não libera o diferente, mas o mantém de certa forma aprisionado. Isto é, o Capitalismo e a Modernidade como mais uma forma de religião, dessa vez secularizada. Deus baixou na Terra sob a forma de Dinheiro, Capital, Valor e Trabalho.

O Capital não quer mais a “produção real”

Há muito tempo o capital descobriu que não é mais rentável investir dinheiro na produção real. Desde o crash de 1929 demonstrou-se que o mercado concorrencial e a produção fordista em massa levariam o capitalismo para o ralo. Como Marx afirmava “o capital é uma contradição em processo”: a tecnologização da produção diminui a taxa de mais-valia ao substituir o trabalho vivo pelo morto (máquinas no lugar de operários) o que levaria o Capitalismo para a crise final, como pensava hegelianamente Marx. Mas a fascinação fetichista pelo dinheiro é mais poderosa que qualquer racionalidade econômica.

O impulso dado pelo Estado keynesiniano no New Deal prolongou artificialmente o “boom” fordista. Indo além das suas receitas fiscais, o Estado tomava crédito em enormes proporções para financiar os custos sociais e investimentos de infraestrutura criando uma demanda artificial, pois a economia real não era mais financiável. Emprestar dinheiro a juros ao Estado para ser, depois, reinjetado ao circuito econômico é o início da financeirização do capitalismo e de toda simulação de riqueza.

Quando, em 1971, Richard Nixon rasgou o acordo de Breton Woods e decidiu pelo fim do lastro ouro para o dólar, os EUA lançaram as bases para a incrível liquidez das transações financeiras globais. Por sua vez, na economia “real” as mercadorias tornam-se cada vez mais fetiches na promoção publicitária: consumidas pelo seu valor agregado (design, embalagem, estilo, atitude etc.) e não por um “valor de uso”.
Deus baixou na Terra sob a forma de Dinheiro e Capital

Mais do que isso, são produzidas por uma força de trabalho cada vez mais reduzida para públicos alvos cada vez mais restritos (sob a égide do “status” e “exclusividade”). Por isso a economia não pode ser “aquecida” (sob o impedimento estrutural da ameaça inflacionária): o dinheiro não pode perder a liquidez dos mercados financeiros para ser injetado na produção não rentável de mercadorias.

Como Robert Kurz afirma, apesar do capitalismo cassino, o mito do pleno emprego ainda se mantém como antídoto moralizante à especulação financeira: o trabalho e os produtos reais tornaram-se dispensáveis. Nem mais consumimos “produtos”, mas agora ideias, palavras e atitudes. Em ambos os lados (na produção e na circulação financeira) já estão presentes o feitiço e a magia.

A declaração do ex-presidente do FED Alan Greespan (“Os Estados Unidos sempre poderão pagar todas as suas dividas, porque sempre poderemos imprimir dinheiro para fazê-lo”) é muito mais do que uma bravata ou piada de mal gosto: é a revelação explícita da natureza fetichista do capitalismo cassino.

Nessa perspectiva, falar em “crise” e “exaustão” do capitalismo é fazer o próprio jogo midiático da promoção de todo um sistema que necessita da adrenalina da ameaça do abismo. O sistema se perpetua através do escândalo moral diante especulação em nome de uma suposta racionalidade da produção e do emprego. No fundo aguardamos por um apocalipse que faça justiça à nossa boa consciência moral.

Como um sistema religioso, a economia fetichista vive da fé e da esperança. Enquanto se mantiverem no horizonte os referenciais moralizantes (produção, pleno emprego, trabalho etc.) como contraponto ao “mundo da especulação” o capitalismo permanece inabalável. Tire a fé e a esperança para todos correrem aos caixas dos bancos para sacarem seus ativos e descobrirem que na verdade “Deus” não existe: não há lastro por trás de tantos papéis. Aí sim, teremos a crise e o abismo reais. O terror da descoberta de que nem trabalho e nem capital jamais produziram valor e riqueza.

Como alerta Robert Kurz, essa ilusão do fim alimentada pela mídia e pela Esquerda apenas reforça os argumentos moralizantes dos “nostálgicos keynesinianos” do “trabalho honrado” e da “produção” como antídotos contra o capital-dinheiro. Para ele, “falta um pequeno passo deste ponto até a remobilização da loucura anti-semita. Apelar ao capital real ‘produtivo’ e ‘de sangue nacional’ contra o capital-dinheiro ‘judaico’, internacional e ‘usurário’”.

Parafraseando Marx, nesse momento, então, a História se repetiria como farsa.