quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Muito pelo Contrário

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Dúvidas sobre a estratégia política do Governo Dilma

Filed under: politica — MpC @ 13:28
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“O video ficou descontextualizado, melhor um bumerangue pra demonstrar meu temor.”

Tenho tentado escrever sobre a estratégia política do Governo Dilma desde os seus 100 dias. Confesso que não está fácil. Tenho mais dúvidas que respostas. Diferentemente de outros momentos, simplesmente não sei o que dizer. Antes tudo era mais fácil. Qualquer bobagem servia, se encaixava. Afinal, políticos são eram previsíveis.

Hoje tudo está nublado, não enxergo uma linha definida. A verdade é que é muito difícil pra qualquer pessoa dizer “eu não sei”. Isso é assumir publicamente a falta de conhecimento. No mínimo aceitar uma incapacidade dedutiva inadmissível numa época em que nós afogamos sob um dilúvio incessante de informações.

Mas talvez eu esteja apenas constrangido, envergonhado. Vergonha alheia, melhor dizendo. Pois, por ai, só se lê certezas absolutas, verdades inabaláveis. Tudo ou é um desastre completo, ou é de uma virtú impecável. Oito ou oitenta, o maniqueísmo eleitoral – às vezes necessário, aceitável – atingiu a completude, e tomou conta de toda a política.

Nos clippings-blogs e artigos da velha mídia é certeza que o Governo Dilma acabará. Que o desastre é inevitável. Que ela é arrogante, grosseira, tosca, e tratando assim os (sensíveis) políticos irá inevitavelmente destruir a “governabilidade”. E que já “circula em Brasília”, que ela pode não concluir o mandato.

Nos blogs governistas/progressistas o que se lê é que é o estado-da-arte da política. Uma estratégia perfeita. Bem executada, uma limpeza, uma faxina ética. Decisões inequívocas na área econômica. Uma revolução na política. E que essa assepsia renderá incontáveis votos junto à classe média. Novos tempos. Uma recuperação dos valores éticos pela esquerda através de uma estratégia magistral para se defender do julgamento do Mensalão que virá pelas mãos vingadoras do Joaquim Barbosa.

Pode ser. No momento realmente não há nada ameaçando a governabilidade. Ou alguém aqui imagina o PR no purgatório, longe das benesses do poder por longos 3 anos e meio? Ou o PP? Ou o PMDB? Até aonde vi, os sinais mais claros é de novas adesões, seja com o PV (pós-Marina), seja com o PSD (do Kassab e cia).

Mas política é bumerangue. Quantas vezes já vimos políticos no Congresso colocando a fatura na mesa do presidente? Seja com Lula, seja com FHC. Sei que ela é diferente. Sei que foi surpresa pra muitos, inclusive pra mim. Não tem a ver com a corrupção em si. Tem a ver com o aprendizado que uma campanha eleitoral traz. Tem a ver com deixar de ser técnica e se tornar uma grande política. De certa forma me irrita essa adesão à ideia de satanização da política.

Eu estou com Lula nessa (ah vá…), se a presidenta não permitir que a Gleisi seja a Dilma da Dilma, não haverá politização das ações. E 2012 pode mostrar isso. Gestão não politiza, por mais que os tecnocratas insistam nesse ponto. Um governante não pode terceirizar a política sob o risco de uma alienação perigosa. Ela deveria transpor os conceitos que está usando na economia. Nenhum presidente é uma ilha. Ignorar o Congresso eleito, voltar a fazer o jogo da mídia de escandalizar seletivamente o “nada”, confiar numa oposição acuada e decadente, são decisões perigosas.

Enfim, não sei se vai dar certo. Torço que dê. Mas sou cético por natureza. A principal lição que aprendi nos últimos anos é que os políticos são traiçoeiros, a velha mídia brasileira tende ao golpismo por natureza e a classe média, continua extremamente volúvel.

“Só sei que nada sei”, mas tenho certeza que não gosto dessa combinação.


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