RICARDO MELO
Até Buffett
SÃO PAULO - O americano Warren Buffett tem lugar assegurado em qualquer ranking de bilionários. Ele e seu fundo de investimentos, o Berkshire Hathaway, são suspeitos de muita coisa -recentemente, um de seus principais executivos foi pilhado fazendo operações em proveito próprio. Nem de longe Buffett pode ser chamado de socialista, social-democrata ou populista.
Pois bem, vieram dele declarações emblemáticas sobre o buraco em que o mundo se meteu. "Enquanto os pobres e a classe média combatem por nós no Afeganistão e muitos americanos lutam para chegar ao fim do mês, nós, os megarricos, nos beneficiamos com isenções extraordinárias."
No mesmo artigo no "New York Times" em que defende aumento de impostos para os mais ricos, Buffet foi além: "Nossos líderes pediram um sacrifício compartilhado. Perguntei a meus amigos megarricos quais sacrifícios esperavam. Eles também não foram afetados".
Como é notório, virou moda acusar governos de arrecadar demais e economizar de menos. O certo seria passar a faca nas despesas. Por exemplo, cancelando o aumento real prometido a aposentados.
Para infelicidade dos mauricinhos da academia -alguns nem academia têm, mas lhes sobra a empáfia-, isto apenas falseia o debate. Trata-se, isto sim, de saber quem paga os tributos, quem decide como usá-los e como são usados.
Meio envergonhado, o bilionário Buffett explicou que os impostos que pagou somaram 17,4% de seus vencimentos. Já para 20 funcionários de seu escritório, o valor oscilou entre 33% e 41%. Lembrou ainda que a taxação dos ricos era bem maior em 1980-90, quando os EUA criaram milhões de empregos.
No Brasil, se for muito diferente, é para pior. Os endinheirados locais adoram os impostômetros eletrônicos que denunciam o peso da carga tributária. Mas escondem que, também por aqui, quem ganha mais paga pouco e sonega muito. Sobra até para comprar ilhas na Bahia.Folha de S.Paulo - São Paulo - Ricardo Melo: Até Buffett - 18/08/2011
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