terça-feira, 8 de novembro de 2011

Bom Dilma!

Bom Dilma!
“Uma carta sempre pode falhar ao seu destino”

(Jacques Derrida)

“Mas mesmo assim precisa ser escrita”

(eu mesmo)

Querida presidenta, não sei mais o que faço aqui no Rio para me manter em linha com meu juízo. Toda semana uma novidade, “vocês agora vão precisar escrever no livro verde o nome do paciente diagnosticado com tuberculose, no vermelho os seus contactantes, no ALERT vão preencher todos em cada campo específico, e, por favor, não se esqueçam da notificação”. “A partir de hoje, todas as receitas serão impressas”. “Amanhã, você e você e você deverão estar presentes no curso sobre raiva humana”, “Pera aí, e os pacientes marcados?” acho que com tanta desmarcação em cima do pênalti devido a cursos-relâmpagos-surpresa, está mais que justificada um curso sobre a raiva humana.

A educação está em permanente crise de afobamento, é como se a gestão quisesse lavar as mãos do contrato em proporcionar um cardápio de cursos para os trabalhadores. Sendo que tais cursos morrem ao girar em torno de si numa velocidade de quebrar o rabo. Os profissionais são arrancados de suas agendas e postos numa sala onde existe uma pessoa falando de um determinado tema. Quando termina, esses profissionais retornam para o seu feijão com arroz e o tempero esperado não é adicionado à panela. Não é compartilhado com a equipe e nem avaliado pela gestão o quanto daquilo foi digerido e metabolizado para a velha prática do dia-a-dia. A questão é tratada da seguinte maneira: “ah, você fez o curso de insulinoterapia (de 2h)? hum… então sabe tudo de diabetes…”.

É grave, presidenta, de enfartar Paulo Freire. A educação permanente na atenção básica aqui do Rio está fracionada, desarticulada com a realidade das equipes e sendo produzida verticalmente, com direito a todo aquela “educação bancária” que o barbudo gostava de falar, na qual se deposita e nada rende. E nisso vão se gastando os PABs, PAB de lá, PAB de cá.

É tudo muito no aqui e agora, esvaziando água de barco furado. Parece filme de Chaplin. Um corre-corre, tudo pra ontem, salve-se quem puder!

São depositadas nas equipes de saúde da família a esperança da transformação da sociedade brasileira. Entendo que na redemocratização, o setor Saúde saiu na pole position, corajosamente reformista, o SUS deslanchando na frente, idealista, aquariano. A estratégia de saúde da família é o pelotão de frente, podemos dizer hoje que é a cara do SUS. A atenção hospitalar, assim como a classe política, vem sendo desacreditada há pelo menos duas décadas. No entanto, presidenta, Brasília virou Babel: Ministério da Saúde fala português, o da Fazenda, inglês e o do Planejamento, chinês. Enquanto temos uma atenção primária nas bases cubanas, a Fazenda continua na conduta do New Deal, colônia exportadora de matéria prima, os juros altos beneficiam a visão do país como parque de diversão de investidores, e o Planejamento sonha com o crescimento chinês. No caso de lá, do Oriente, na ausência de direitos humanos básicos, inclusive uma escravidão não revelada; por aqui uma melhora na vida, sem dúvida, mas alienada pelo “consumo, logo existo”.

Quando pergunto aos adolescentes da minha área, qual é o sonho, muitos respondem ter uma moto. Uma moto, presidenta. Uma moto, aliada a um celular smartphone e qualquer 2000 de salário é o pacote felicidade lá do morro. Fácil de entender: os pais estão alcochoados na aposentadoria da avó + Bolsa-Família, na Escola, corpo docente + salário indecente = mente doente; o que resta ao adolescente (juro que não quis mais rimar) é TIBIA, GTA, Call of Duty e Fifa 11(games, presidenta), além de ficar sonhando com a moto roubada que o tio moto-boy pilota pra cima e pra baixo, pra não dizer em cima da calçada e sobre a passarela de pedestres.

O que eu preciso lhe falar, presidenta, é que a tal da intersetorialidade precisa deletar a “ordem e progresso” e fincar um “Ctrl + V” na bandeira nacional. Não se pode achar que a equipe de saúde da família vai dar conta da HAS/DM, Tuberculose, DST/AIDS, Puericultura, Pré-natal, Transtornos mentais, Violência Familiar, Etilismo, Tabagismo, Abuso de drogas, Planejamento familiar, Pequenas cirurgias, Alimentação saudável, Atividades físicas, Reabilitação, Urgências e Raiva Humana de 4000 pessoas se o sonho continuar sendo uma moto.

Por mais que o conceito de saúde se amplie, a SUStentação reformista da democracia brasileira precisa se basear na lógica do exército zapatista, sem chefe, todos são sub-comandantes. Então Saúde da Família deve andar de braços com a Educação da Família, Cultura da Família, Economia da Família, Meio-ambiente da Familia, Esportes da Família sem ONG, para, enfim, montarmos a República Federativa da Família-Brasil. Salve, salve, presidenta.

ps 1: gostei da frase que li: “não é coitado do Lula, é coitado do câncer… foi brotar logo em quem…”

ps 2: para negociar com a Fifa e com o Comitê Olímpico, nada melhor que um comunista à brasileira, devoto de Mao Tsé-Tung, Nossa Senhora Aparecida e Saci Pererê. Baforada neles!

Carinhosamente,

Dr. Luiz

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