sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Eterno Petralha (por Ayrton Centeno) - Sul 21

O Eterno Petralha (por Ayrton Centeno) - Sul 21



O Eterno Petralha (por Ayrton Centeno)






Há uma praga que ameaça o Brasil. Chama-se petralha. “O petralha é o
demônio por trás da corrupção”, advertiu um grande homem. Petralhas,
como os seus amigos nordestinos ou os sem terras e os sem teto, não
gostam de trabalhar. Não se trata de fraqueza. É para atrair piedade.
Parecem mas não são pobres. São uma raça de parasitas. Petralhas e
outros vagabundos são os perpétuos parasitas. Assim como os ratos.


Uma pesquisa recente indica que petralhas e seus aliados são
responsáveis pela existência de 34% dos pedintes, de 47% dos roubos, de
47% dos jogos de azar e de 82% das organizações criminosas em ação.
Petralhas são adeptos do comunismo, doutrina de destruição de nações e
da luta de classes, que brota de mentes como as de Karl Marx e de Rosa
Luxemburgo.


Petralhas e seus iguais não querem nada com o trabalho. Deixam para
os brasileiros. Tem um objetivo comum: explorar o país. Enquanto nós
brasileiros empobrecemos, os petralhas enriquecem através de fraude,
trapaça e usura.


São ladrões que roubaram milhões e milhões do país. Atacam em todas
as frentes. Na cultura, promovem uma arte anormal, grotesca e perversa
com exaltações à pornografia e à homossexualidade. Mas críticos de arte
petralhas as enaltecem como “elevadas expressões artísticas”.


Atrás de tudo está a doutrinação petralha. Seus líderes são, acima de
tudo, educadores políticos. A carta de princípios petralha encerra
cinco mandamentos: 1) amai-vos uns aos outros; 2) amai o roubo; 3) amai o
excesso; 4) odeie seu patrão; 5) nunca diga a verdade.


E assim tem sido. Mas este modo de pensar petralha está chegando ao fim. E não mais poluirá nossa nação.

Se o bravo leitor resistiu até aqui, mesmo ansiando por um engov,
prepare-se: vai ficar pior. Porque o que se assemelha a um surto não é
um surto, o que parece delírio não é delírio. E aquilo que aparenta ser
apenas ficção ruim não é ficção ruim. É realidade ruim. De muito tempo
atrás e, como se verá, de agora.


Substitua petralha e seus iguais por judeu, brasileiros por alemães,
Brasil por Alemanha, grande homem por Richard Wagner, carta de
princípios petralha por Canaã e você terá uma súmula da narração em off daquele que foi considerado “o filme mais imundo jamais feito”: O Eterno Judeu, de Fritz Hippler.


Seguindo as diretrizes de Joseph Goebbels, ministro da cultura e
propaganda do Terceiro Reich, Hippler filmou o gueto de Lodz, na Polônia
ocupada onde, atrás do arame farpado, o regime confinara 160 mil
pessoas. Construiu uma ópera de ódio.


Na montagem, alternam-se cenas de judeus e de ratos. Ambos sujos,
detestáveis, ameaças. Subjacentemente, induz-se a necessidade de serem
dizimados. O fato de ser um documentário, com gente das ruas e não de
atores, robustece a noção de veracidade embutida naquilo que descreve.
Em tese, desvela o real, aquilo que o olhar do espectador captaria se
estivesse em Lodz. Essa a ideia. Persuadir que algo tão desprezível não
merece subsistir. Apronta-se a opinião pública para a solução final.


A analogia entre o inimigo engendrado e as moscas e roedores também é um presságio do modo de operação dos vernichtungslagers,
os campos de extermínio. Pestes, os judeus seriam erradicados através
de um pesticida, o Zyklon B, que paralisa o sistema respiratório. O
Eterno Judeu chegou às telas em 1940. Em setembro de 1941, o Zyklon B
estreou em Auschwitz.


Quem vê Der Ewige Judeestá no You Tube
– percebe a assombrosa afinidade entre sua escrotidão e a matéria fecal
transbordante das caixas de comentários e nas redes sociais. Mas, ojo, o narrador insinua mas não explicita a opção pelo genocídio. Ou seja, a ferocidade está aquém daquela ostentada na internet em 2015. Não duvide disso.


“Tem que começar a exterminar essa raça”, preconizou o internauta
Carlos Zanelatto ao saber que o ex-presidente do PT, José Genoíno,
poderia cumprir sua pena em prisão domiciliar. “A solução é começar a
matar”, concordou outro, identificando-se com o número 010190. “Eu quero
a cabeça dele. Pago em dólar”, bravateou Maurício P. Se a sensibilidade
feminina faltava ao debate, Márcia TDB supriu a carência: “Dá nojo
olhar pra esse safado. Morre camundongo da caatinga”.


Ante a observação de que “o porco sujo” deveria ter sido largado no
mato “para ser comido vivo pelas onças”, um tal Denys divergiu: “Culpa
foi não ter matado a Dilma”. TSilva111 discordou do discordante: “Culpa
disso são (sic) os militares. Deveriam ter acabado com toda essa raça de
bandidos na ditadura militar”. Fernando Amorim também xingou os
milicos: “Porque diabos não mataram esses vermes na época da ditadura?”


É mole? Não, mas tem mais.


Avisando que seu recado era “sangrento”, João Neto informou que teria
“o prazer de fuzilar qualquer petista”. Para ele, “nada irá mudar
enquanto não começarmos a invadir as casas desses bandidos e pendurá-los
pelo pescoço em praça pública…” Hemer Rivera foi logo buscar a faca e a
corda: “Sou a favor disso, pendurar nos postes sem cabeça sangrando e
deixar amanhecer para que todos vejam que político corrupto, merece ser
decapitado”.


Bastou o ex-ministro José Dirceu sofrer um princípio de AVC, para uma
internauta postar no Facebook: “Estamos juntos AVC. Não mata não, por
favor, só deixa ele vegetativo, cagando na cama.” Recebeu 844 curtidas.
Quando soube que Lula sofria de um tumor na laringe, um cidadão
penalizou-se: “Tenho dó do câncer ter que comer carniça petralha”. Outro
sugeriu apelar aos EUA “para assassinar Lula e Maduro”. Alguém gritou
“Sou a favor. Amém” mas um terceiro propôs um caminho mais direto:
“Porque não matamos esse filho da puta do Lula?”


E o que viria depois que “a vaca comunista”, “a puta da Dilma”, o
“filho da puta do Lula”, os “vermes”, os “porcos”, a “escória”, a
“raça”, a “sujeira”, os “vagabundos”, o “lixo” e – claro – os “ratos”
fossem extirpados da face da Terra?


Um certo Rogério Bento rabiscou o novo programa de governo, com
direito à “trinta anos de regime militar direitista”, mais “educação
cristã”, “estado de sítio”, “pena de morte” e “criminalização do aborto,
das ideologias esquerdistas, ateístas, gayzistas e dos direitos dos
bandidos”.


Será que o nazista Hippler a serviço do nazista Goebbels insertaria
tais falas no filme nazista de ambos? Difícil acreditar. Mesmo os
nazistas tem limites. Formais, ao menos.


Sob Hitler, o patrocínio do ódio era oficial, bancado por um estado totalitário. Aqui, os haters
são opositores da democracia sob uma democracia. Escancaram as bocarras
para rugir sua ferocidade. Diferentemente de 1933 – e de 1964 — são
leões desdentados.


Na Alemanha, o fascismo se serviu do governo. Que alimentou, pela
propaganda, o horror aos judeus, eslavos, ciganos, comunistas,
homossexuais. No Brasil, ao reverso, o governo é o inimigo a ser
devorado. Na Alemanha, a escalada de Hitler à chancelaria do Reich foi
atapetada pelos jornais de Alfred Hugenberg, o grande magnata da mídia.
No Brasil, o governo vive sob estado de sítio midiático há 12 anos. Onde
velhas vozes, dia após dia, tangem seu alaúde para lastimar a teimosia
petralha em continuar existindo.


São, portanto, situações distintas. O que não muda, salvo alguma cor
local, é o fascismo. Seu ingrediente básico é a frustração. Sova-se esta
massa, umedecendo-a com algumas colheradas de ignorância e um copo
cheio de cólera para fermentar. Deixa-se crescer. Quando as três partes
estão bem misturadas, acrescentam-se porções generosas de
irracionalismo, machismo, xenofobia, homofobia e intolerância e leva-se
ao fogo alto. Na cobertura, um tanto de negação do outro, suspeição da
cultura e força bruta.


Sociedades que engolem a gororoba nefasta desembocam, no seu extremo, nos vernichtungslagers.
Outras vezes, na maioria, no borbulhar de uma ira estéril porém
daninha. Temerosas da ascenção das camadas subalternas, as classes
médias são bastante permeáveis ao cardápio. Na expressão de Umberto Eco,
elas representam “o auditório do discurso fascistizante”. Mas, aqui,
quem as nutre? Quem segrega o rancor espesso que se funde, engrossa e
expande como uma nuvem tóxica? Quem ceva a escuridão?


Há uma resposta bem conhecida. Por ironia, de um judeu. O fato de não
ser nova não significa que não deva ser apreciada. “Com o tempo, uma
imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público
tão vil como ela mesma”, pressagiou o jornalista e judeu húngaro Joseph
Pulitzer. Diga que o velho Pulitzer não tem razão.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O golpe do Facebook — CartaCapital

O golpe do Facebook — CartaCapital



O golpe do Facebook


por Antonio Luiz M. C. Costa



publicado
12/05/2015 05h50

A empresa de Zuckerberg tenta criar um monopólio mundial da comunicação, informação e jornalismo


Um aspecto peculiar
da Cúpula das Américas no Panamá, dias 10 e 11 de abril, foi o papel do
presidente do Facebook, Mark Zuckerberg. O jovem executivo (30 anos)
circulou pela reunião dos chefes de Estado como se fosse mais um deles
ou pelo menos como um presidente do Banco Mundial, não como mais um
participante do fórum empresarial paralelo. Chegou a invadir, por
engano, uma reunião entre os presidentes do Panamá e República
Dominicana. 
Vários líderes, inclusive a brasileira
Dilma Rousseff, o mexicano Peña Nieto, a argentina Cristina Kirchner, o
peruano Ollanta Humala e o panamenho Juan Carlos Varela se fizeram
fotografar ao lado
do executivo e com certeza julgaram isso positivo
para a própria imagem. A oferta de “internet gratuita” do Facebook a
países latino-americanos, a começar por Colômbia, Guatemala e Panamá,
três dos governos mais conservadores do continente, recebeu quase tanta
cobertura quanto a reconciliação entre Washington e Havana. Alguns se
compraziam em considerá-lo representante de uma “nação” de 1,4 bilhão de
usuários, maior que a China.
Aparentemente, a aura “libertária”, “democrática” e
“revolucionária” da internet foi pouco abalada pelas revelações de
Edward Snowden e Julian Assange. A NSA e suas similares, ou “o governo”,
foram responsabilizadas por tudo de negativo ou duvidoso e as grandes
empresas do Vale do Silício posaram como vestais escandalizadas, como se
seu papel na operação não fosse essencial e consciente e seu uso
político um subproduto inevitável. O ciberespaço continua a ser visto
pelos usuários como um playground barato e inofensivo e seus
empreendedores como gênios simpáticos e filantrópicos.
Seria mais sábio vê-lo como a versão atualizada da Terra
dos Brinquedos do Pinóquio, de Carlo Collodi (ou a Ilha dos Prazeres da
versão Disney), para onde crianças ansiosas para escapar do trabalho e
dos estudos são levadas para uma sucessão de diversões gratuitas e
inesgotáveis, mas ao cabo de algum tempo se
veem transformados em
burros e nessa forma postos a trabalhar por supostos benfeitores
revelados como exploradores inescrupulosos.
O mundo estará mais maduro quando as
ofertas, propostas e produtos de um Facebook, um Google, uma Apple ou
uma Microsoft forem recebidas com o mesmo ceticismo saudável com que o
público encara a publicidade institucional da Standard Oil ou do Goldman
Sachs. Quando esse dia chegar, porém, provavelmente será tarde demais e
o Vale do Silício terá controlado corações e mentes de forma mais
completa do que Wall Street e Hollywood jamais sonharam.
Como explica o especialista Evgeny Morozov no jornal britânico Guardian,
o Facebook não é uma instituição de caridade. Está interessado em
“inclusão digital” tanto quanto agiotas em “inclusão financeira”. O
projeto internet.org fornece conexão “gratuita” por celular aos pobres
da América Latina, África e Sudeste Asiático, mas apenas ao Facebook e
pouca coisa mais (como a Wikipedia). Muitos dos que se tornaram usuários
da internet nos últimos anos têm a impressão de que ela é a rede de
Zuckerberg, mas para esses isso será estritamente verdade.
Isso é difícil de conciliar com o marco civil da
internet que o governo brasileiro tanto se empenhou para aprovar em
2014. Para cobrar de Zuckerberg pelo acesso ao Facebook, as operadoras
têm de acompanhar a navegação e guardar os dados de acesso, o que é
proibido. Dar-lhe prioridade de tráfego viola a neutralidade da rede. O
próprio princípio de fornecer conexão gratuita a determinados sites e
cobrar pelo restante é de legalidade duvidosa. Se a regulamentação
autorizar essa prática, pode esvaziar a lei de qualquer sentido.
Lembra a política da Microsoft de
oferecer softwares gratuitos ou muito mais baratos a escolas, estudantes
e serviços públicos para aprisionar usuários em seu sistema, a ponto de
não cogitarem outro quando se tornassem consumidores ou empreendedores.
Mas é muito mais. Além de condicionar a maneira de navegar na internet,
o Facebook lucrará ao dispor dos dados pessoais e coletivos sobre esses
usuários para vendê-los a empresas ou disponibilizá-los ao Estado e
monopolizar a atenção desse público melhor que qualquer rede de TV. 
Como sabe quem já usou o Facebook, este
tem a política de criar dependência para depois cobrar cada vez mais
caro pela interação. Empresas e celebridades que chegaram a criar um
público considerável na rede de repente descobriram que teriam de pagar
para que seus “amigos” continuassem a ver suas mensagens. 
Ao mesmo tempo, a rede impõe regras arbitrárias. Uma delas é o veto
a pseudônimos e duplas identidades. Zuckerberg alega ser tal prática
“falta de integridade”, mas a verdadeira questão é garantir a real
identidade dos usuários para que as informações sobre eles tenham maior
valor. Assim como um pseudônimo pode ajudar a escapar da perseguição de
um regime autoritário, permitiria driblar a curiosidade de um empregador
ou seguradora sobre opiniões políticas, relações afetivas, consultas,
exames, compras e percursos nas horas de lazer. Ou, quando bugigangas
como o Apple Watch forem comuns, acompanhar seus batimentos cardíacos,
pressão e dieta. Nunca as pessoas foram tão transparentes para governos e
empresas – e, ao mesmo tempo, nunca essas instituições foram tão opacas
para o público.
Os critérios de “moralidade” da rede,
aparentemente arbitrários, seguem uma lógica igualmente comercial. Sua
censura é conhecida por ignorar cenas de violência extrema, ameaças de
morte e racismo explícito enquanto chega a extremos ridículos de
moralismo como os de bloquear a foto histórica de uma indígena na página
do Ministério da Cultura e uma reprodução de A Origem do Mundo,
de Gustave Courbet, por um professor de arte. Não se trata de seguir
qualquer ética coerente, mas de criar um ambiente no qual uma classe
média puritana se sinta à vontade para navegar e empresários para
anunciar.
As leis dão ao Facebook, como entidade
privada, o privilégio de proibir conteúdos como bem entender. O problema
é quando o monopólio prático do acesso a um meio de comunicação cada
vez mais indispensável, principalmente se apoiado por convênios com
governos nacionais, proporciona o controle de fato do espaço público. É
como entregar a uma empresa privada a gestão de todas as ruas, praças,
praias e parques e fazer da cidade um shopping à mercê das normas de
comportamento dos proprietários, sem possibilidade de recurso à Justiça.
A ambição da rede é acostumar os usuários a recorrer
a Zuckerberg para tudo e hospedar dentro de seus limites todo tipo de
negócios. Quem quiser levar espetáculos, notícias, publicidade,
educação, serviços ou vendas às massas terá de se entender com ele e
aceitar suas condições.
No tocante à mídia e ao jornalismo, o plano é levar
algumas das maiores empresas a se hospedar dentro da rede social.
Espera-se que os primeiros a aceitar a proposta incluam The New York Times, BuzzFeed e National Geographic, talvez também The Times,
Quartz e Huffington Post. Em troca de administrar sua própria
publicidade e informações sobre leitores e espectadores, esses veículos
dividiriam receita (e talvez dados) com Zuckerberg, que administraria
sua publicidade. Mesmo em 2014, antes da concretização desses acordos ou
dos planos de “internet gratuita”, o Facebook se tornou a principal
fonte de notícias para uma fatia assustadora do público: 67% no Brasil,
57% na Itália, 50% na Espanha, 37% nos EUA.
Acreditar que isso não afetará os
conteúdos é mera ilusão. Esses veículos teriam marca e identidade
diluídas e teriam de se sujeitar à cultura e prioridades do Facebook,
explicitadas por Zuckerberg a um jornalista que o questionou sobre os
critérios dos algoritmos que decidem as notícias exibidas a cada
usuário: “Um esquilo no seu jardim pode ser mais relevante para seus
interesses atuais do que gente morrendo na África”. O público não quer
ouvir sobre problemas alheios e sim de seus gostos e decisões
cotidianas. Textos longos, principalmente se exigem algum esforço ou
causam algum desconforto ao leitor, são menos úteis do que fofocas de
celebridades, informações superficiais e engraçadas, fotos de gatinhos,
dicas de consumo e problemas do cotidiano. Mais Beyoncé e menos Boko
Haram.
Dada a possibilidade de definir o perfil individual
do usuário, pode selecionar o tipo de notícia e informação conforme suas
crenças e preferências. O Facebook é muito bom nisso. Testes mostraram
que com analisar 70 “curtidas” na rede se pode conhecer o perfil de uma
pessoa melhor que um amigo ou colega de quarto, com 150, melhor que um
pai ou irmão e, com 300, quase tão bem quanto um marido ou esposa. Não
só ele, como certeza: no Google, os interesses indicados por buscas
anteriores decidirão se ao buscar por “Egito” o internauta encontrará
informações turísticas, oportunidades de negócio, biografias de faraós
ou detalhes sobre as últimas arbitrariedades da ditadura militar.
De certa forma, isso acontece com a mídia
tradicional. Ao escolher uma revista e não outra, o leitor escolhe uma
abordagem, um ponto de vista e uma temática. Mas isso envolve certo grau
de escolha consciente e nada impede que, vez por outra, experimente
outra publicação. Na rede, é a notícia que escolhe por quem será lida, e
uma vez que o perfil do usuário se defina, suas oportunidades de
escolha são, na prática, reduzidas. Depende apenas de Zuckerberg decidir
se é mais lucrativo manter cada um em sua zona de conforto ou
influenciar sutilmente suas opiniões na direção mais conveniente aos
interesses dos controladores da rede. Nenhum ser capaz de refletir
deveria estar disposto a reforçar seu monopólio e lhe dar ainda mais
poder. Confiar numa empresa como essa para prestar um serviço essencial é
tão sensato quanto entregar a gestão do Banco Central ao Goldman Sachs,
a Petrobras à Exxon ou a polícia e Justiça a uma empresa de
mercenários.  

domingo, 17 de maio de 2015

Brasil vai voltar a crescer e panelaços irão acabar,

Brasil vai voltar a crescer e panelaços irão acabar, diz Chico de Oliveira - 17/05/2015 - Poder - Folha de S.Paulo



 (...)




E a questão da corrupção envolvendo empreiteiras?

Há tempos, quando todo mundo se desesperava com isso, Ignácio Rangel
(1914-1994), que era realista e cético, dizia: "A corrupção é o creme do
capitalismo. Não se desesperem, isso é sinal de que o capitalismo está
se expandindo". É isso: tudo é corrupto no capitalismo.

A imprensa apoia Dilma

A imprensa apoia Dilma | Observatório da Imprensa –



A imprensa apoia Dilma

Por Luciano Martins Costa em 15/05/2015 | 0 comentários
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 15/5/2015

A sexta-feira (15/5) marca um ponto de inflexão no noticiário
político, no qual se pode perceber que há uma mudança na narrativa da
imprensa sobre os efeitos da disputa entre o Executivo e o Congresso
Nacional. Também é possível que se trate de uma reversão na parábola
desenhada pelos acontecimentos em Brasília, com a redução das tensões e
alguma acomodação nas próximas semanas.


As duas figuras de geometria analítica, comumente usadas no controle
de risco em comunicação, se referem a uma tendência natural das crises,
que costumam se comportar, metaforicamente, como um objeto lançado para o
alto: se responder apenas à força inercial, o objeto vai em algum
momento atingir o ápice da parábola e começar a cair. Se houver uma
força adicional capaz de dar novo impulso a ele, o objeto irá sofrer uma
inflexão no ponto de exaustão da força inicial, em que se começa a
curva descendente, e receberá novo impulso, retomando a ascensão com uma
curva inversa, para cima.


O fato que determina esse momento curioso da nossa crônica política é
a aprovação, pela Câmara dos Deputados, de uma emenda que extingue, na
prática, o fator previdenciário no cálculo das aposentadorias.


O tema é bastante explorado pelos diários de circulação nacional, com
boas reportagens, análises variadas e um ponto em comum: em maior ou
menor grau, os jornais condenam a decisão e mobilizam seus colunistas
para questionar o que chamam de irresponsabilidade do Legislativo.


O sistema proposto pelos deputados, chamado de fórmula 85/95, garante
aposentadoria integral para os homens que se aposentarem quando a soma
da idade com o tempo de contribuição atingir 95 e as mulheres alcançarem
o número 85 na mesma conta.


Embora o assunto envolva uma alta complexidade, que inclui as
perspectivas de longevidade das próximas gerações, a composição de renda
das famílias e outros fatores, é consenso entre os analistas que a
iniciativa vai causar um grande impacto nas despesas do governo com a
previdência social.


A imprensa observa que o custo será insignificante nos primeiros
quatro anos, porque as pessoas tenderão a adiar a aposentadoria para se
beneficiar da nova regra, assegurando um benefício maior no longo prazo.
Mas os textos assumem que o sistema previdenciário sofrerá um choque de
mais de R$ 40 bilhões na primeira década.


Lula é o alvo


O leitor curioso e atento se perguntaria: por que a mídia tradicional
se mostra tão preocupada com o futuro, e ao mesmo tempo incentiva uma
crise política que afeta as chances de desenvolvimento do Brasil?


Da mesma forma, o que explicaria, para além das picuinhas
partidárias, o fato de que boa parte da oposição votou contra seus
interesses de longo prazo e parte da aliança governista contrariou seu
discurso tradicional de defesa do trabalhador para se opor à proposta?


Os jornais exploram o sinal invertido entre petistas e tucanos, e
surpreendem ao tomar o partido da presidente Dilma Rousseff nessa
questão.


Uma razão pode estar no fato de que, até mesmo quando imersa até os
ossos na disputa partidária, a imprensa precisa definir um limite para
as ações populistas dos presidentes da Câmara e do Senado, que jogam
para a plateia para fugir dos holofotes da Operação Lava Jato. Em algum
momento há de se impor a responsabilidade nesse cenário que um
articulista do Estado de S. Paulo chama de “clima de bundalelê”.


Para os pouco afeitos à nova linguagem jornalística, convém registrar
que a expressão “bundalelê” representa a atitude provocativa de alguém
que exibe as nádegas em público, como ocorreu na quarta-feira (13/5) em
que foi votada a medida provisória que define as regras da pensão por
morte.


Até o Jornal Nacional, da Globo, mostrou rapidamente o ativista da Força Sindical, de camisa preta (ver aqui a cena que acontece aos 30 segundos do vídeo) tirando as calças e mostrando o traseiro aos deputados.


O fato de os principais jornais do país, que têm investido no
desgaste da imagem da presidente Dilma Rousseff, definirem um limite
para as diatribes da dupla que dirige o Congresso Nacional precisa ser
visto sob diversos ângulos.


Um deles é a percepção de que, apesar da crise política, o governo já
aprovou as medidas básicas destinadas a conter os gastos públicos, e o
Brasil volta a receber novos investimentos, o que pode reacender a
economia em curto prazo. A outra razão é menos nobre: o principal alvo
da imprensa não é a atual presidente da República, que, mal ou bem, vem
retomando as rédeas do governo. O projeto da mídia tradicional é atingir
a reputação do ex-presidente Lula da Silva, para minar suas chances
caso venha a se candidatar em 2018.


FHC fala mal do Brasil nos EUA - Carta Maior

FHC fala mal do Brasil nos EUA - Carta Maior

A miopia da política econômica de prioridades conflitantes



A economia não comporta exageros. Não é uma máquina controlável a golpes de Selics.


É uma engrenagem complexa, composta por inúmeras cadeias produtivas
interconectadas, por um conjunto de fatores interligados, como estoques,
uso de capacidade instalada. A recuperação das expectativas depende
fundamentalmente das perspectivas de crescimento da economia.
Estabilidade fiscal, monetária, são instrumentos, mas o objetivo final é
o crescimento.


Essa máquina sensível, complexa, interligada, não comporta medidas de
choque, a não ser em situações extremas – como nos períodos
superinflacionários. Choques ampliam desequilíbrios, atrapalham a
visibilidade futura, pela dificuldade dos agentes econômicos entenderem a
nova dinâmica da economia.


***


A melhora das expectativas e a volta do investimento/crescimento
dependem da aposta na demanda futura. Consegue-se interromper a demanda
apertando o botão dos juros e dos cortes fiscais. Não existe um botão do
crescimento, em sentido contrário.


***


Houve exageros na dosagem dos incentivos fiscais da era Mantega.
Agora corre-se o risco inverso, do excesso de dosagem na combinação
política fiscal-monetária.


Não existe nada de mais falso do que a ideia de que o melhor ajuste
fiscal é o mais rigoroso e a melhor política monetária é a mais radical.



***


Em outros tempos, que se pensava superados, empresas e governos agiam
sob o domínio da prioridade única, da bala de prata que, resolvendo um
problema único, resolvesse todos os problemas.


Esse modelo quebrou empresas e a economia, mas a política econômica recuou para o simplismo dos anos 80 e 90.


***


A demanda vai despencar, muito mais do que a presidente Dilma
Rousseff imagina – três semanas atrás ela imaginava que o pior já tinha
passado.


Despencando, o desemprego irá aumentar muito, especialmente se
continuar sendo uma variável desconsiderada pelo BC – que aparentemente
só sabe trabalhar com o binômio juros-inflação.


Com o aumento do desemprego e redução da demanda, o mercado de
consumo cai e cria-se uma capacidade ociosa na indústria. Ao mesmo tempo
a relação dívida/PIB explode por dois motivos: aumento da dívida, com
os juros; redução do PIB com a recessão, exigindo metas mais drásticas
ainda de superávit primário.


***


Fazenda e BC estão recorrendo à retórica do caos para aprovar as
medidas, expediente que funcionava bem nos velhos tempos da
hiperinflação. Tipo: se não derem o que peço, o Brasil acaba; se me
derem, em breve o país será recompensado.


Vão receber o que querem e não vão entregar o que prometem. Caos
ocorrerá se o desemprego explodir em um quadro politicamente instável
como o atual.


Em um ponto qualquer do futuro, virão os investimentos, mas
exclusivamente onde houver demanda: algumas concessões públicas, nas
quais o preço será menor devido à redução das expectativas de negócio
decorrentes da queda da atividade econômica.


É muito pouco para compensar o estrago que a recessão terá causado nos demais setores da economia.


***


Se nesse período todo o governo Dilma não conseguir desenhar o
segundo tempo do jogo, criar um sonho que seja, um pote d’água lá na
frente para compensar a travessia do deserto, nem a mediocridade ampla
da oposição salvará seu governo.




Peidousim!

domingo, 10 de maio de 2015

Os super-ricos e o resto — CartaCapital

Os super-ricos e o resto — CartaCapital



Os super-ricos e o resto


por Thomaz Wood Jr.



publicado
10/05/2015 10h19,


última modificação
10/05/2015 10h41

A estrutura social está cada vez mais parecida com a hierarquia corporativa


Brazil

A sociedade retratada no filme Brazil, 1958, Terry
Gilliam, é desigual e consumista, com tecnologia onipresente e governo
totalitário


Brazil é uma distopia satírica dirigida por Terry Gilliam, em 1985. O personagem central é Sam Lowry,
interpretado por Jonathan Pryce. A sociedade retratada no filme é
desigual e consumista, a tecnologia é onipresente, o governo é
totalitário, as corporações são poderosas e impessoais, a mãe do
protagonista é obcecada por cirurgia plástica e o seu trabalho não tem
sentido. As semelhanças com as empresas e a sociedade contemporânea são
notáveis.
A vida imita a arte. Em um texto sobre os
movimentos populares na sociedade do século XXI, Noam Chomsky traça a
origem dos termos Plutonomia e Precariado. O primeiro surgiu de um
estudo realizado há dez anos por analistas do Citigroup, segundo o qual o
mundo está dividido em dois blocos, a Plutonomia, formada pelos
super-ricos, e o resto. O objetivo dos autores era orientar os
investidores a selecionar as melhores ações, aquelas de empresas que
produzem para os abastados. 
 
A Plutonomia surgiu
das condições do capitalismo moderno: governos simpáticos às grandes
corporações, estado de direito que garante a liberdade econômica, espaço
para “inovações” financeiras, proteção de patentes e mão de obra
qualificada e dócil. Os super-ricos concentraram a riqueza dos países
desenvolvidos anglo-saxões, Estados Unidos, Inglaterra e Austrália.
Entretanto, os criadores do termo acreditavam que formações similares
surgiriam em economias emergentes, como Brasil, Rússia, Índia e China.
A contrapartida da Plutonomia é o Precariado, formado por
um contingente que vive em condições de insegurança e incerteza, tende a
crescer e tornar-se um componente relevante da estrutura social. O
economista Guy Standing é autor do mais conhecido livro sobre o tema, The Precariat: The new dangerous class, publicado em 2011. Standing advoga que a transformação global da economia está gerando uma nova estrutura de classes, substituta da anterior, cuja espinha dorsal era formada pela burguesia e pelo proletariado.
A nova estrutura, segundo o autor, é
composta de vários grupos. No topo encontra-se uma plutocracia
internacional, a usar seu poder econômico para influenciar e moldar o
poder político. Abaixo dela vicejam elites nacionais e compõe com a
primeira uma classe hegemônica. Logo abaixo, vem o grupo assalariado,
com rendimentos elevados e segurança no emprego. Seus membros ocupam o
topo da pirâmide das grandes empresas e nichos privilegiados da máquina
do Estado. É uma confraria pressionada, perde integrantes para os grupos
logo abaixo, frequentemente por causa de processos de terceirização.
Parte desse contingente é constituída por consultores e pequenos
empresários, que sonham em pertencer à elite. Abaixo desses situa-se o
velho proletariado, mais um grupo em processo de redução, com poucas
chances de sucesso na luta pela manutenção de conquistas passadas. O
precariado está abaixo do proletariado e constitui, segundo Standing,
uma “classe em construção”. Seu trabalho é caracterizado pela
flexibilidade e incerteza.
 
Standing observa que
o precariado é constituído por três subgrupos. O primeiro é formado
pelos desterrados do proletariado, com baixo nível de instrução,
frustrados e propensos a serem seduzidos pelo populismo de
extrema-direita. O segundo é composto de imigrantes e minorias,
frequentemente nostálgicos e politicamente passivos. O terceiro é
constituído por profissionais qualificados, inseguros sobre seu status
na sociedade e sujeitos a trabalho eventual. O autor identifica ainda um
lúmpen precariado, formado por miseráveis que vivem nas ruas, à margem
da sociedade.
A tipologia de Standing pode ser vista
como um modelo em construção. Entretanto, seus componentes podem ser
facilmente observados nas pirâmides empresariais. No topo, os
controladores e suas famílias, servidos por grupos seletos e bem
remunerados de executivos. Nos escalões médios, gestores e profissionais
especializados, aspirantes naturais à vida nos andares superiores.
Abaixo deles, um exército de analistas e operários, lutando para
preservar salários, empregos e benefícios. Ao redor, contingentes cada
vez maiores de prestadores de serviços, dos mais qualificados assessores
aos menos instruídos provedores de serviços básicos. A uni-los a
sujeição às intempéries econômicas e aos humores dos contratantes. A
sociedade parece imitar as corporações.