domingo, 17 de maio de 2015

A miopia da política econômica de prioridades conflitantes



A economia não comporta exageros. Não é uma máquina controlável a golpes de Selics.


É uma engrenagem complexa, composta por inúmeras cadeias produtivas
interconectadas, por um conjunto de fatores interligados, como estoques,
uso de capacidade instalada. A recuperação das expectativas depende
fundamentalmente das perspectivas de crescimento da economia.
Estabilidade fiscal, monetária, são instrumentos, mas o objetivo final é
o crescimento.


Essa máquina sensível, complexa, interligada, não comporta medidas de
choque, a não ser em situações extremas – como nos períodos
superinflacionários. Choques ampliam desequilíbrios, atrapalham a
visibilidade futura, pela dificuldade dos agentes econômicos entenderem a
nova dinâmica da economia.


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A melhora das expectativas e a volta do investimento/crescimento
dependem da aposta na demanda futura. Consegue-se interromper a demanda
apertando o botão dos juros e dos cortes fiscais. Não existe um botão do
crescimento, em sentido contrário.


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Houve exageros na dosagem dos incentivos fiscais da era Mantega.
Agora corre-se o risco inverso, do excesso de dosagem na combinação
política fiscal-monetária.


Não existe nada de mais falso do que a ideia de que o melhor ajuste
fiscal é o mais rigoroso e a melhor política monetária é a mais radical.



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Em outros tempos, que se pensava superados, empresas e governos agiam
sob o domínio da prioridade única, da bala de prata que, resolvendo um
problema único, resolvesse todos os problemas.


Esse modelo quebrou empresas e a economia, mas a política econômica recuou para o simplismo dos anos 80 e 90.


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A demanda vai despencar, muito mais do que a presidente Dilma
Rousseff imagina – três semanas atrás ela imaginava que o pior já tinha
passado.


Despencando, o desemprego irá aumentar muito, especialmente se
continuar sendo uma variável desconsiderada pelo BC – que aparentemente
só sabe trabalhar com o binômio juros-inflação.


Com o aumento do desemprego e redução da demanda, o mercado de
consumo cai e cria-se uma capacidade ociosa na indústria. Ao mesmo tempo
a relação dívida/PIB explode por dois motivos: aumento da dívida, com
os juros; redução do PIB com a recessão, exigindo metas mais drásticas
ainda de superávit primário.


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Fazenda e BC estão recorrendo à retórica do caos para aprovar as
medidas, expediente que funcionava bem nos velhos tempos da
hiperinflação. Tipo: se não derem o que peço, o Brasil acaba; se me
derem, em breve o país será recompensado.


Vão receber o que querem e não vão entregar o que prometem. Caos
ocorrerá se o desemprego explodir em um quadro politicamente instável
como o atual.


Em um ponto qualquer do futuro, virão os investimentos, mas
exclusivamente onde houver demanda: algumas concessões públicas, nas
quais o preço será menor devido à redução das expectativas de negócio
decorrentes da queda da atividade econômica.


É muito pouco para compensar o estrago que a recessão terá causado nos demais setores da economia.


***


Se nesse período todo o governo Dilma não conseguir desenhar o
segundo tempo do jogo, criar um sonho que seja, um pote d’água lá na
frente para compensar a travessia do deserto, nem a mediocridade ampla
da oposição salvará seu governo.




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