domingo, 14 de agosto de 2016

O primeiro escândalo

O primeiro escândalo

EXAME publica um trecho inédito do livro
Petrobras - Uma História de Orgulho e Vergonha, da jornalista Roberta
Paduan, que será lançado no fim de agosto. Leia como a interferência
política deu origem à corrupção que vergou a maior empresa brasileira
 
Em MEADOS DE 1989, O ENTÃO PRESIDENTE da
Petrobras, Carlos Sant"Anna, chamou um grupo de funcionários para uma
reunião que começou com o seguinte discurso: "Precisamos de uma
estratégia para proteger a Petrobras". E continuou: "Não temos mais o
general daqui para resolver os problemas com o general de lá". Sant"Anna
referia-se à relação direta entre os militares que comandaram o país
após o golpe de 1964 e os presidentes da estatal, muitos dos quais
também foram militares. Até aquele momento, a Petrobras tinha sido
presidida por militares em 25 dos 35 anos de sua existência. E a maioria
dos presidentes civis que comandaram a petroleira até ali era altamente
identificada com a cultura militar. Sant" Anna era exceção. Formado em
geografia e história, começou a trabalhar na Petrobras como temporário
e, em 1958, foi efetivado ao passar num concurso público. Galgou cargos
até chegar à presidência em abril de 1989. Naquele ano, a
situação do país não era de ruptura, como em 1964, mas o cenário
mostrava-se altamente desafiador. O Brasil vivia um período de
efervescência política e de grave crise econômica. O presidente José
Sarney finalizava seu mandato e, depois de 25 anos, os brasileiros se
preparavam para votar novamente para presidente da República. Na
economia, o país beirava o caos. A inflação
fechou 1989 em inacreditáveis 1972%. Para a Petrobras, a explosão dos
preços e a desvalorização cambial eram ainda mais nocivas. O governo
impedia a estatal de reajustar o preço dos combustíveis, numa tentativa
inútil de segurar a inflação. A empresa perdia
100 milhões de dólares por mês devido à defasagem no preço de seus
produtos. Depois de ter registrado em balanço lucros acima do bilhão de
dólares (em 1986 e 1988), a Petrobras apresentou em 1989 um resultado
que se limitava a 160 milhões, muito pouco para uma gigante com mais de
80 000 funcionários na folha de pagamentos.

Nesse
ambiente, o que era um dos cargos mais cobiçados do Brasil, a
presidência da Petrobras, transformou-se num desafio não tão atraente.
Nos cinco anos de governo Sarney, a empresa teve cinco presidentes, uma
rotatividade inédita. Sant"Anna temia um futuro pouco venturoso para a
estatal, e ele não estava sozinho. Os funcionários com mais tempo de
empresa, principalmente os que ocupavam cargo de gestão, já tinham
percebido que a democratização aumentaria a exposição da empresa ao uso
político. "Os políticos civis vieram com um apetite danado para cima da
Petrobras", disse Roberto Villa, diretor industrial da Petrobras na
época.

O primeiro grande escândalo de corrupção envolvendo
a Petrobras veio a público no final de 1988 por meio de uma reportagem
da jornalista Suely Caldas, do jornal O Estado de S. Paulo. A reportagem
revelou que dirigentes de três bancos privados - Bradesco, BCN e Banco
Geral do Comércio - haviam procurado Armando Guedes Coelho, então
presidente da empresa, para fazer uma denúncia. Eles diziam que um
funcionário da BR Distribuidora estava por trás de um esquema montado
para saquear a estatal em conluio com instituições financeiras que
aceitassem operar a fraude.

O golpe se daria no serviço de
cobrança realizado por diversos bancos contratados pela BR e consistia
em receber o pagamento das duplicatas de inúmeros postos de combustíveis
que compravam produtos da BR. No trâmite normal, os bancos eram
remunerados com um percentual de cada cobrança realizada em nome da BR. O
banco que "colaborasse" no esquema seria privilegiado com uma fatia
maior das cobranças da companhia. Para isso, a instituição financeira
teria de fraudar a data de recebimento dos pagamentos, aplicar o
dinheiro - sem que a BR soubesse - e dividir os ganhos da aplicação com o
proponente do negócio ilícito. Num período de inflação
alta, os ganhos seriam altos. A pessoa que visitara os bancos propondo o
esquema garantia ter o aval de executivos do alto escalão da
subsidiária. A instituição financeira que não "colaborasse" trabalharia
menos ou não trabalharia para a empresa.

Ao receber a
denúncia, o presidente da Petrobras, Armando Coelho, afastou toda a
direção da BR e abriu uma investigação interna. A apuração, realizada em
dez dias, confirmou que bancos pouco expressivos, escolhidos sem
obedecer aos critérios normalmente utilizados pela estatal, vinham
recebendo depósitos milionários em razão das cobranças feitas para a BR.
A pessoa que visitava os bancos era Eid Mansur, que não trabalhava nem
lá nem na Petrobras. Entretanto, Mansur dizia ser diretamente ligado a
Geraldo Magela de Oliveira e Geraldo Nóbrega, dois assistentes do
presidente da BR, o general Albérico Barroso Alves, o Barrosinho, como
era conhecido nas Forças Armadas. O problema é que o general Barroso era
amigo e compadre do presidente José Sarney. Foi ele que o nomeou como
diretor industrial da Petrobras e presidente da subsidiária BR (os
diretores da petroleira costumavam acumular a presidência de uma das
subsidiárias do grupo).

Ao final, a comissão interna que
investigou o caso concluiu que Eid Mansur fazia parte de uma quadrilha
formada por Magela e Nóbrega, ambos levados para a BR Distribuidora
havia poucos meses por Barroso. Depois que a história foi parar no
jornal, o Legislativo criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Em
depoimento à CPI, Magela, Nóbrega e o general Barroso negaram conhecer
Mansur.

No dia seguinte aos depoimentos na CPI, porém, a
jornalista Suely Caldas recebeu um telefonema de um funcionário da
estatal que tinha um video que desmentia a versão dos três envolvidos.
Nas imagens captadas numa festa da BR, o general Barroso e seus
subordinados Magela e Nóbrega brindavam alegremente com taças de
champanhe com Mansur. Uma nova reportagem estampou uma sequência de
fotos que mostravam Mansur se dirigindo a Barroso, enquanto apoiava a
mão esquerda nas costas do general e apontava para Magela com a mão
direita. Nóbrega, o quarto elemento da foto, observava ao fundo. A
reportagem demoliu o falso testemunho dos três.

Os dois
assessores de Barroso foram demitidos, mas Armando Coelho não conseguiu
afastar o general presidente da BR. Ao telefonar para Sarney e pedir a
ele que demitisse Barroso, Coelho ouviu uma resposta desconcertante do
presidente. "Eu não demito amigos", teria dito Sarney ao então
presidente da Petrobras. Diante do argumento, Coelho entregou o cargo.
Alegou que não podia trabalhar com um diretor em quem não confiava, e
foi contratado por uma fábrica de catalisadores que pertencia à
Petrobras. Depois, aceitou o convite para dirigir a Suzano Petroquímica.
Barroso permaneceu ainda algum tempo na diretoria da Petrobras e na
presidência da BR, mas foi remanejado para a presidência da
Petrofér-til, subsidiária de fertilizantes do grupo, onde ficou por
poucos meses, logo deixando a empresa de vez. Mais tarde, descobriu-se
que Coelho teve total apoio de Ernesto Geisel, ex-presidente da
República e ex-presidente da Petrobras, para realizar a investigação.
Geisel, que ainda contava com alto prestígio político, convenceu os
militares a não proteger o general Barroso.

Atualmente,
Coelho não aceita falar sobre o diálogo que teve com Sarney. Mas também
não desmente a história contada por dois auxiliares que eram muito
próximos a ele na época. Ambos confirmam que ficaram estupefatos com a
justificativa do presidente da República, confidenciada pelo chefe no
calor dos acontecimentos. Ao comunicar sua saída da empresa aos
diretores e gerentes no auditório da Petrobras, Coelho foi aplaudido de
pé por quase 5 minutos. Mais do que uma homenagem ao presidente que
deixava o cargo, as palmas dos funcionários eram um protesto contra o
ataque à empresa e a saída de um presidente que não aceitou acobertar a
corrupção.

MAIS INTERFERÊNCIAS

Depois do
escândalo, o fato é que em 1989 a Petrobras não tinha um plano
estratégico. E era o que Carlos Sant"Anna pretendia mudar. Por quatro
meses, a equipe incumbida de elaborar o plano discutiu cenários
econômicos e políticos, nacionais e internacionais, com 40 executivos da
companhia. Ao final, chegaram à conclusão de que, nos novos tempos de
competição global que se anunciavam, a raiz nacionalista da empresa
deveria ser substituída por eficiência e competitividade perante as
maiores e melhores petroleiras do mundo. Só assim as empresas e os
países prosperariam. Essa foi uma das principais mensagens do plano.

Coordenado
pelo engenheiro José Paulo Silveira, superintendente da área de
planejamento da estatal, o trabalho foi finalizado em 15 de dezembro de
1989.0 plano foi aprovado pelo conselho da Petrobras em janeiro do ano
seguinte e divulgado por Sant"Anna aos gerentes num auditório lotado.
Quase dois meses depois, no domingo de 4 de fevereiro de 1990, o plano
foi parar no jornal O Estado de S. Paulo. O título era "Petrobras muda
para os anos 1990". A reportagem deixou o presidente eleito, Fernando
Collor, furioso. Ele ainda não havia tomado posse, o que aconteceria em
15 de março. Em sua interpretação, o tal plano estratégico era uma forma
de resistência ao seu governo. Assim que assumiu, destituiu não só o
presidente e os diretores como também metade do grupo de gestores logo
abaixo deles. Sant"Anna aproveitou para se aposentar. E o que seria o
primeiro plano estratégico da Petrobras acabou engavetado."

A liquidação do futuro

CARTA CAPITAL



A liquidação do futuro

A DILAPIDAÇÃO DE PATRIMÔNIOS COMO O
PRÉ-SAL E A PETROBRAS E O ESTÍMULO AO RENTISMO SÃO O NÚCLEO DA POLÍTICA
ECONÔMICA DO GOVERNO INTERINO, PLANO DE NEGÓCIOS PERFEITO PARA AFUNDAR O
PAÍS
 CARLOS DRUMMOND
 
Em
três meses, algumas decisões do governo interino encaminham o País para
uma situação de absoluto desastre, que o devolveria à condição de
colônia. E como se o Brasil se suicidasse pela determinação de quem
manda, diante da desinformação ou indiferença da opinião pública. As
medidas aceleram a liquidação da sua estrutura produtiva relevante, a
consequente perda de autonomia no contexto mundial e o fortalecimento de
um modelo centrado no rentismo, o nacional e o internacional. No balcão
de negócios da nova política econômica, a Petrobras, presidida pelo
tucano Pedro Parente, vendeu no dia 28 o primeiro campo do pré-sal, o de
Carcará, na baía de Santos, e ofereceu no mercado a BR Distribuidora, a
maior do País, com peso decisivo na receita do grupo. Outros
reservatórios daquela camada marítima deverão ser vendidos, ao lado de
alguns bens que podem ser alienados sem danos à empresa e ao País.
Aprovado no Senado e prestes a ser votado na Câmara, o projeto do
senador José Serra, o atual ministro das Relações Exteriores, de
eliminar a obrigatoriedade de a companhia participar do pré-sal há de
ser visto como o deflagrador do desmonte do que sobrou da privatização
devastadora do período FHC, nos anos 1990.
Outros
congressistas participam da grande liquidação com projetos para
facilitar a venda de terras a estrangeiros e à ação das mineradoras
globais, entre outros. A queima de ativos inclui ofertas feitas pelos
estados, asfixiados com a queda contínua da arrecadação provocada pela
recessão e a austeridade do governo, iniciada na gestão de Joaquim Levy
na Fazenda, no segundo mandato de Dilma Rousseff. O governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, quer privatizar 60% do Metrô paulistano, mas
ainda não informou como serão contabilizados os prejuízos de 800
milhões j, de 2008, sob regras fiscais rígidas, "para criar a sensação
de que a situação melhorou, à custa de uma piora futura".


A
queima de ativos públicos "foi a solução para o governo ilegítimo e com
situação política difícil no Congresso reforçar sua posição no mercado
sendo extremamente pró-business", analisa o economista Ricardo Carneiro,
professor da Unicamp e ex-representante do Brasil no Banco
Interamericano de Desenvolvimento.


Carneiro pediu demissão
do cargo de diretor-executivo da instituição em maio, pouco depois da
aprovação, pelo Senado, do processo de impeachment de Dilma Rousseff.


A
venda do reservatório de Carcará à empresa pública Statoil, espécie de
Petrobras da Noruega, por 2,5 bilhões de dólares, é um escândalo. Ao
contrário do alegado pela administração de Pedro Parente, não há
urgência na venda (leia a entrevista ex-presidente José Sérgio Gabrielli
à página 27). "Vergonhosa e criminosamente, estão vendendo 1 bilhão de
barris por um preço de dois dólares o barril. Isto precisa ser
contestado na Justiça", clamou lido Sauer, ex-diretor de Gás e Energia
da Petrobras e professor da USP, em depoimento na quarta-feira 10, na
Comissão de Energia da Câmara, convocada pelo deputado Carlos Zarattini
para discutir o projeto de Serra. "O que se quer fazer agora é abrir a
porta de entrada para a entrega total. Aparentemente, não há uma
compreensão da dimensão do problema a que está se submetendo o povo
brasileiro, titular dos recursos do petróleo. Este projeto que aí está
ignora isso completamente e envergonha a nação", acrescentou Sauer.


"A
Petrobras não pode ter o direito, na minha opinião, de negar--se a ser
operadora única do pré--sal. A empresa tem compromisso com o
desenvolvimento nacional em uma área extremamente sensível, o
desenvolvimento tecnológico, e trabalha na faixa de limite do
conhecimento científico. O pré-sal representa isso", alertou Guilherme
Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção que integrou as equipes
que fizeram as grandes descobertas no Iraque e no pré-sal, em 2007, no
governo Lula. "O pré-sal veio completar a base energética que o Brasil
precisa para se desenvolver autonomamente. Nisso, a operação única da
Petrobras é um fator preponderante", disse o geólogo. Em um trecho do
seu depoimento, esclareceu a razão dos ataques de potências
estrangeiras, grupos multinacionais e seus auxiliares locais: "O pré-sal
brasileiro talvez seja a mais importante área no mundo que contém uma
grande quantidade de reservas e dá um protagonismo na cena geopolítica
global ao País, que o contrapõe aos grandes países hegemônicos,
principalmente no Ocidente".


A comemoração da compra pelo
presidente da petroleira nórdica, Eldar Saetre, evidencia um negócio
excepcional. "Com esta aquisição, estamos acessando um ativo de classe
mundial e reforçamos a nossa posição no Brasil, uma das áreas
estratégicas da Statoil... O Campo de Carcará vai melhorar
significativamente os volumes de produção internacional nos anos 2020 e
posteriores. Estamos desenvolvendo um negócio sólido no Brasil, com um
amplo portfólio, produção material, oportunidades de exploração de alto
impacto e excelente potencial de criação de valor de longo prazo e fluxo
de caixa", disse o executivo.


Os objetivos da estatal
nórdica, muito além do curto prazo, contrastam com o sepultamento da
estratégia anterior da Petrobras, de se tornar uma das cinco maiores
empresas de petróleo integradas do mundo até 2030, e a instauração de um
esquema imediatista de negócios centrado na venda de ativos em um
ambiente mundial de preços rebaixados.


"O ponto
fundamental é como fica o futuro do País. Quando se fala em
privatização, abertura comercial, desregulamentação, a grande pergunta
que falta é: "Tudo isso para quê? Onde está o projeto? Qual é a
estratégia por trás disso?", questiona o economista Antônio Corrêa de
Lacerda, professor da PUC de São Paulo. O País saiu de uma grande
lavoura de café para ser uma das maiores economias industriais na
segunda metade do século XX, com uma estratégia. E possível
questioná-la, mas havia uma linha muito clara. A partir da crise dos
anos 1980, o Brasil embarcou na onda neoliberal vinda do exterior.
Lacerda chama atenção: "O período representado por Lula e Dilma
significou uma tentativa de retomada de um projeto de nação, e agora,
com o governo Temer, nós temos um retrocesso no sentido de um açodamento
de medidas de cunho neoliberal sem um projeto por trás".


A
consequência, alerta o economista, é a perda de autonomia e de
capacidade de articulação, sem outro objetivo além de agradar aos
mercados, em um processo influenciado por u ma interpretação da
valorização do real e da elevação da bolsa como sinais de confiança,
"mas você olha os indicadores reais da economia e constata que todos
estão despencando. E um grande contrassenso".


Vítima da
queda mundial dos preços do petróleo, do saque perpetrado por uns
poucos, da dilapidação da sua cadeia produtiva pela Lava Jato, da
recessão e da crise política, a Petrobras talvez seja hoje a presa mais
vulnerável na disputa geopolítica e militar entre Oriente e Ocidente,
ignorada no Brasil. O acesso às fontes de energia está no centro do
conflito entre blocos de superpotências e megaempresas petrolíferas.


Os
Estados Unidos e as petroleiras americanas não gostaram do leilão do
Campo de Libra, no pré-sal, sob o regime de partilha, em 2013, no
governo de Dilma. Cinco telegramas do consulado americano no Rio de
Janeiro enviados a Washington, o primeiro deles em 2 de dezembro de
2009, descobertos pelo site WikiLeaks, detalham como "a missão americana
no Brasil acompanhou a elaboração das regras para a exploração do
pré-sal e faz lobby pelos interesses das petroleiras".


As
mensagens evidenciam a insatisfação das petroleiras estadunidenses com a
lei de exploração aprovada pelo Congresso e sua irritação, "em
especial, com o fato de a Petrobras ser a única operadora", e como
aquelas companhias "atuaram fortemente no Senado para mudar a lei" da
partilha do pré--sal. Segundo Patrícia Padral, diretora da Chevron no
Brasil, José Serra teria prometido mudar as regras se fosse eleito
presidente.


Ocupante do ministério das Relações Exteriores
no governo interino, o tucano está em uma posição-chave para mexer
peças nesse tabuleiro. Neste momento, tenta impedir que Nicolás Maduro
ocupe a presidência do Mercosul, no sistema de rodízio adotado pelo
organismo. O veto ajudaria a realizar o sonho dos Estados Unidos de
mudar o comando da Venezuela, dona da maior reserva petrolífera do
mundo, uma das mais cobiçadas alternativas ao distante e conflagrado
Oriente Médio e ao esgotamento, nos próximos anos, da exploração do
xisto, ou shale.


O projeto de Serra para enterrar o
protagonismo da Petrobras no pré-sal e o papel de Pedro Parente como
corretor das reservas de petróleo são a melhor oportunidade para os
tucanos realizarem um objetivo perseguido há duas décadas. O plano foi
revelado em 1996 em um artigo da revista especializada Offshore sobre a
quebra do monopólio estatal do petróleo no ano anterior, no primeiro
mandato de FHC. O governo manteve 51% das ações com direito a voto, um
"choque para os homens de negócios do setor petrolífero", para os quais o
fim do monopólio significaria também a privatização da empresa pública:
"Aqueles que acompanham a política petrolífera brasileira mais de perto
estão cientes de que, apesar de neste estágio a privatização da
Petrobras não ser contemplada, existe uma forte facção no governo, no
Congresso e nos círculos de negócios que gostaria de introduzir uma
legislação com esse efeito em uma data posterior". Naquele ano, a
petroleira brasileira era a 17ª em produção, destacou o artigo. Em 2014,
ocupou a 14º posição, segundo o ranking da revista Forbes.


A
aceleração, por Pedro Parente, da venda de ativos iniciada pelo
antecessor Aldemir Bendine encaixa-se no figurino clássico das
privatizações de grandes grupos, de primeiro desmembrar a empresa e
depois se desfazer dos fragmentos. "As grandes petroleiras, os bancos e
os escritórios de advocacia estão salivando", revelou em junho Nick
Butler, do Financial Times, com "aquilo que pode ser uma rodada muito
substancial de privatizações, a começar pelo setor de petróleo. Uma
mudança de governo na Venezuela ou no Brasil pode ser o gatilho", prevê
Butler, que destaca o aumento das probabilidades de o processo acontecer
com Temer. "Pedro Parente veio para esquartejar a companhia e deixar a
carcaça aí para quem quiser", acusa Fernando Siqueira, presidente da
Associação dos Engenheiros da Petrobras, a Aepet.


A
indicação de Nelson Silva, ex-presidente da petroleira britânica BG no
Brasil, para a recém-criada diretoria de Estratégia, Organização e
Sistema de Gestão da Petrobras é vista como uma evidência da
promiscuidade entre os interesses público e privado e os objetivos das
organizações nacionais e estrangeiras. A BG foi comprada no ano passado
pela Shell e a aquisição a tornou a maior empresa estrangeira
exploradora do pré-sal. "E mais uma raposa no galinheiro", critica
Siqueira. "A situação é grave. O País está correndo um risco enorme."


A
economia brasileira sob a condução da equipe de Temer se resume, em
grande medida, a uma coleção de negócios, boa parte deles lesiva ao
País, conclui-se dos fatos e das análises acima. O governo limitou-se a
assistir à venda da CPFL à State Grid, da China, no mês passado e
prepara a alienação de outras seis companhias do setor. Prevê-se o
predomínio do país asiático na área de energia elétrica dentro de alguns
anos. "Estão comprometendo a base para uma retomada futura da economia.
Vendem empresas a estrangeiros que não precisam investir aqui porque
encontram ativos prontos para gerar dinheiro destinado ao pagamento dos
juros da dívida e, em geral, só exploram o nosso mercado interno, não
exportam", diagnostica o economista Carlos Alonso Barbosa de Oliveira,
da Unicamp. "O problema é que o Brasil chegou à decadência antes de
alcançar os países que saíram do subdesenvolvimento. Havia um longo
caminho a ser percorrido na indústria, na infraestrutura, mas venceu um
rentismo precoce que governa tudo", julga o professor.


Segundo
Luiz Gonzaga Belluzzo, no período da economia primário-exportadora
havia uma espécie de rentismo, o da renda da terra, semissepultado pela
industrialização. O Brasil foi o país subdesenvolvido mais bem-sucedido
dos anos 1950 até a década de 1970 porque tinha uma estrutura
institucional de relação entre empresas públicas e empresas privadas.
"Funcionou até os anos 1980, quando aconteceu o desastre da crise da
dívida e os mortos-vivos do rentismo renasceram. Vieram com a arma dos
especialistas formados no exterior, que jogaram o jogo do rentismo
brasileiro, que só serve para predar o País. O resultado foi a
destruição dos sistemas de articulação e de propulsão do
desenvolvimento. Havia uma relação de interdependência entre o setor
privado e as empresas públicas que os chineses copiaram da gente e
mantêm até hoje."


Na biografia política do presidente
provisório, constará a continuidade da infausta privatização de FHC, no
total de 68,6 bilhões de dólares entre empresas federais e estaduais,
mais 16,5 bilhões em dívidas transferidas ao setor privado, entre 1991 e
1998. O governo interino querfaturar 120 bilhões de reais, cerca de 40
bilhões de dólares, com a desmobilização de ativos públicos.


m
balanço daquela liquidação mostra estragos de grandes proporções. Os
tucanos consideraram um sucesso a privatização das telecomunicações.
Marcadas por transações alarmantes protagonizadas pelo ex--ministro das
Telecomunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, incluíram o próprio
presidente da República, segundo revelaram grampos de conversas
telefônicas travadas principalmente no BNDES. Previa-se o eventual uso
da bomba atômica, isto é, a intervenção de Fernando Henrique Cardoso
para atingir os objetivos inconfessáveis da operação. Tudo isso para
entregar ao País um sistema de telecomunicações entre os mais caros e
ineficientes do mundo, mostram comparações mundiais e recordes de
reclamações de usuários.


A única versão correta desses grampos foi dada por CartaCapital e precipitou a demissão de Mendonça de Barros.

Produziram
também o desastre da privatização do setor elétrico, marcada pelo
apagão inédito de 2001. Transformaram o BNDES, de agência indispensável
ao desenvolvimento do País, em um banco de investimentos igual a
qualquer instituição privada. Venderam a Vale do Rio Doce por um valor
escandalosamente baixo. Manobraram para entregar o Banespa, o maior
banco estadual, por uma quantia risível, sob acusações infundadas de
dilapidação do patrimônio da instituição por seus diretores. Dano nenhum
foi constatado, entretanto, pelo comprador Santander e esta é a maior
prova da manipulação empreendida diretamente pelo Banco Central sob
comando tucano. Uma CPI criada para investigar a intervenção mostrou as
manobras em detalhes e pediu a cabeça dos altos funcionários do BC
envolvidos. Reestruturaram a Caixa Econômica Federal e só não a venderam
por pretenderem utilizar os recursos de fundos administrados pela
instituição, inclusive o FGTS, para viabilizar as demais privatizações. O
governo Temer estaria preparando uma nova tentativa de vender a Caixa,
comentava-se na semana passada entre funcionários.


A
campanha de difamação do Banespa, apresentada pela mídia como um covil
de dilapidadores, lembra em muito o ataque sem trégua à Petrobras,
embora a estatal do petróleo tenha sido vítima de saqueadores. O
problema surge, porém, quando os malfeitos de uns poucos são usados para
justificar uma cruzada de desmoralização da empresa, útil para os
mega-grupos globais interessados em adquirir os seus ativos, únicos no
mundo, ao menor preço possível.


Eficiente na defesa dos
interesses externos e dos seus aliados locais nas privatizações de FHC, a
mídia mantém a mesma atitude na liquidação de empresas públicas
comandada por Temer e empenha-se em irradiar otimismo. Variações
positivas mínimas de alguns indicadores são apresentadas como evidências
da superação da recessão. Na quarta-feira 3, o Valor Econômico saudou o
"bom desempenho do setor de bens de capital", forte o suficiente para
interromper "uma sequência de oito quedas trimestrais da indústria", que
voltou a crescer no segundo trimestre. A maior parte da mídia e dos
economistas de bancos assumiu a mesma interpretação. O coro otimista
"não se justifica", garante o empresário Mario Bernardini, diretor da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos. "A
situação neste momento está bastante crítica no setor. Há uma parada nos
investimentos", confirma Alberto Machado, diretor-executivo da Abimaq
para os setores de petróleo, gás, bioenergia e petroquímica.


A
única explicação para o tom positivo do noticiário sem correspondência
nos fatos é "a necessidade de ter boas notícias", afirma Bernardini. O
subgrupo máquinas e equipamentos, do setor de bens de capital, cresceu
0,4% em junho sobre maio. "Foi uma flutuaçãozinha, não dá para soltar
rojões." A queda acumulada no primeiro semestre ficou entre 16% e 18%,
segundo o IBGE.


O acompanhamento da Abimaq mostra um
declínio ainda maior, de 29% no primeiro semestre sobre o mesmo período
do ano passado, e de 40% no mercado interno. "Percebe-se que o governo e
o setor financeiro estão desesperados por boas notícias. Porque,
afinal, precisam dizer: "Graças ao Temer, este país está andando. Então
vamos tirara Dilma de uma vez". E esse o jogo."


Os
resultados da rodada de privatizações de Temer provavelmente repetirão o
fracasso da etapa de FHC. "As receitas das vendas de estatais no auge
do processo, entre 1997 e 1998, corresponderam em média a 3% do PIB
e contrastam com os resultados da dívida pública e do desequilíbrio
fiscal, que prosseguiram como se uma privatização de tal envergadura não
estivesse em curso", concluem Belluzzo e Júlio Gomes de Almeida no
livro Depois da Queda.


Alguns números dão ideia da
dimensão dos estragos se a atual rodada de privatizações avançar. Só a
Petrobras e sua cadeia produtiva contribuem com 10% do PIB,
15% do investimento total e 50% do investimento da indústria, setor
responsável pela criação dos melhores empregos e salários e fundamental
ao avanço dos serviços, da agroindústria e do comércio. Uma liquidação
de ativos talvez extensiva ao País, é para lá que leva a ponte do futuro
do governo interino. •


PEDRO PARENTE ACELERA A VENDA DE ATIVOS A PREÇOS AVILTADOS, FRACIONA A PETROBRAS E FACILITA A PRIVATIZAÇÃO DA EMPRESA

SERRA QUER ACABAR COM O PROTAGONISMO DA PETROBRAS NO PRÉ-SAL E BARRAR A VENEZUELA NO MERCOSUL. AS MÚLTIS E OS EUA AGRADECEM

ESTRUTURA  AMEAÇADA

A
Petrobras é a maior empresa de óleo e gás verticalmente integrada da
América Latina, com operações de exploração, produção, refino,
comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados,
gás natural, energia elétrica, gás-química e biocombustíveis.


Royal
Dutch Shell, Exxon Mobil, Petrochina e BP, as quatro maiores logo
abaixo da saudita Armco, têm estruturas semelhantes. A presença em todas
aquelas etapas possibilita maior agregação de valor e autonomia para
enfrentar a acirrada disputa global por recursos energéticos. A
continuidade da estatal brasileira como empresa integrada e
diversificada é essencial também ao desenvolvimento nacional. A venda da
BR Distribuidora, se concretizada, fraturará um elo essencial do
circuito, com consequências irreparáveis.


Os planos
incluem a venda de gasodutos como o Gasene, o maior construído no Brasil
nos últimos dez anos, que vai do Rio de Janeiro à Bahia e é essencial
para integrar as regiões Sudeste e Nordeste


A PRIVATIZAÇÃO DE FHC NÃO REDUZIU A DÍVIDA PÚBLICA, AUMENTOU AS REMESSAS DE LUCROS E TORNOU O PAÍS MAIS VULNERÁVEL


domingo, 7 de agosto de 2016

O caixa 2 de Serra: precisava de tudo isso para descobrir? – O Cafezinho

O caixa 2 de Serra: precisava de tudo isso para descobrir? – O Cafezinho




O caixa 2 de Serra: precisava de tudo isso para descobrir?



Aebrio-lendo-privataria-tucana

Na Folha de hoje, mais uma delação futurística da Lava Jato.


Segundo a reportagem, os executivos da Odebrecht disseram aos procuradores que José Serra recebeu R$ 23 milhões de caixa 2.


A delação ainda não foi assinada, mas já foi devidamente vazada à imprensa, como de praxe.


Há tempos que a Lava Jato vaza as delações antes mesmo delas existirem oficialmente.


Pela lei da delação premiada, tanto aqui como nos Estados Unidos, o
vazamento deveria ser suficiente para anulá-la, até porque permite que o
réu destrua provas, mas isso não vem ao caso, pois o objetivo principal
é o tribunal da mídia.


José Serra é um tucano velho e decadente: um cordeiro gordo perfeito para um sacrificiozinho político temporário.


A matéria vem com infográficos, coisa rara em se tratando de material negativo aos tucanos.


Os executivos prometeram entregar recibos dos depósitos feitos em bancos no exterior.


Quando disputou as eleições em 2010, o Congresso em Foco apurou que o
tucano era o recordista, entre os candidatos, de processos na justiça:
tinha 17 processos, todos por improbidade administrativa. Mais um menos
um. Que diferença faz?


O que me deixa intrigado, com a Lava Jato e com a mídia, porém, é o seguinte.


Precisava quase destruir a Odebrecht, prender o Marcelo por mais de
um ano, provocar demissão de centenas de milhares de famílias, criar um
clima de golpe de estado, para descobrir que José Serra fez caixa 2 em
2010?


O Amaury Ribeiro escreveu um livro, Privataria Tucana, onde não
quebrou sigilo de ninguém, não torturou ninguém com prisão preventiva,
não destruiu nenhuma empresa, nem prejudicou um único trabalhador, não
gastou um centavo de verba pública, e, no entanto, descobriu muito mais
podres sobre Serra do que a Lava Jato!


A Folha e a grande mídia em geral desprezaram o conteúdo apresentado
no livro do Amaury, apesar dele trazer provas abundantes de tudo que
dizia, e agora dão destaque, com direito a infográfico, a uma delação
ainda não assinada, que não traz, por enquanto, prova nenhuma?


A reportagem mostra os métodos da Lava Jato:


ScreenHunter_259 Aug. 07 04.12


Casos que interessam aos procuradores...


A Lava Jato está na fase "pega tucano", ou seja, naquele momento em que disfarça suas intenções.


Algumas reportagens-denúncias sobre o PSDB, nada que provoque grandes reviravoltas...


Afinal, algum tesoureiro tucano foi preso? A sede do PSDB foi invadida pela Polícia Federal?


Esse dinheiro de campanha era para pagar marketeiros: algum foi preso?


A filha de Serra também será perseguida pela Lava Jato?


Voltando ao livro do Amaury, o leitor, a mídia e os procuradores
descobrirão que a fortuna da família Serra não é feita de canoas de
alumínio num sítio de amigo.


A minha teoria sobre o golpe, é bom lembrar, para eu mesmo não me
perder nessa rede de intrigas e conspirações, é que ele foi costurado
pelas castas burocráticas e mídia. Os políticos aproveitaram o vácuo
criado e o ocuparam. Mas o golpe foi feito para isso mesmo, para que
exatamente esses mesmos políticos ocupassem o vácuo.


O MPF e as castas em geral, fazem questão de manter os políticos bem
conscientes de que eles, mesmo tendo ocupado o vácuo, são apenas
representantes dos interesses das castas, da mídia e dos patrocinadores
da mídia.


O poder real está em mãos das castas judiciais e da mídia, cuja arma
principal agora é a Lava Jato, que é uma espécie de ensaio de Estado de
Exceção, uma "pausa democrática", um cão raivoso vigiado de perto por
seus donos.


Há um embate surdo dentro do golpe. As gravações de Sergio Machado
revelaram isso muito bem. Os políticos que assumiram o Planalto
conspiram agora para ampliarem sua autonomia.


O "barbarismo", o radicalismo neoliberal, que vemos no governo Temer,
é tão grande porque são as únicas ações que agradam à grande mídia e
aos representante do setor privado que também conspiraram pelo golpe. Os
interinos tentam, desesperadamente, agradar aos patrocinadores do golpe
visando ganhar um pouco de crédito e autonomia para brincarem de
governo.


Aparentemente, a Lava Jato finge seguir o moralismo fanático descrito na máxima latina fiat iustitia pereat mundus. Faça-se justiça ainda que o mundo pereça.


Mas é mentira. Quer dizer, no que toca à economia brasileira e à
democracia, é verdade, e com apoio da mídia. Miriam Leitão escrevia nas
suas colunas: não importa o prejuízo a ser provocado na economia, a Lava
Jato tem de seguir em frente.


Claro, havia um cálculo: uma economia em dificuldades era condições fundamental para se criar a atmosfera de golpe.


O fanatismo moral da Lava Jato, porém, sempre foi uma máscara.


Quando, numa das fases da Lava Jato, as investigações se aproximaram
de uma offshore usada pela Globo e outros grupos para fazerem seus
negócios no Brasil, Sergio Moro e a força tarefa recuaram imediatamente,
soltaram os detidos e voltaram aos pedalinhos de Lula.


O jogo é simples. Vou repetir alguns argumentos do post anterior. A
votação final do impeachment se aproxima. Caso a insatisfação social com
Temer e a rejeição ao impeachment cresçam além do controle, a Lava Jato
precisará lançar alguns factoides especialmente fortes nas duas
próximas semanas.


Ou seja, a Lava Jato terá que prender, naquele método da prisão
preventiva perpétua, às vésperas da votação, alguns petistas graúdos: um
Edinho Silva, por exemplo, seria uma vítima perfeita, porque geraria a
manchete: tesoureiro da campanha de Dilma é preso.


Pronto: clima de intimidação, perplexidade, golpe. Os próprios
senadores pró-impeachment ficam assustados, porque farejam no ar o clima
de linchamento midiático ao PT e intuem que, senão aderirem à onda,
serão eles mesmos agredidos.


A prisão de Lula pode ficar para depois do golpe consumado, caso haja
clima... Agora já se criou duas frentes promissoras de ataque: a
própria Lava Jato e o MPF do Distrito Federal.


A Lava Jato precisa, contudo, fazer um movimento calculado. Antes de
encetar novo violento ataque ao PT, é de bom tom distribuir uma denúncia
forte contra um tucano. É como comprar créditos.


Denuncia-se um tucano, nada mortal, como movimento preparatório para mais um grande ataque judicial-midiático ao PT.


A Globo, vê-se logo, por seu tamanho, riqueza e arrogância, tem
enorme dificuldade para entender e seguir as sutilezas desse jogo, mas
vem aprendendo rápido e, sobretudo, é a proprietária da conta bancária
de longe a mais polpuda dentre os barões de mídia e pode comprar,
portanto, através de consultorias, a inteligência que seus diretores e
donos não possuem.

PM retira 12 torcedores de jogo no Mineirão após protesto contra Temer





PM retira 12 torcedores de jogo no Mineirão após protesto contra Temer



Mídia Ninja/Reprodução











Mídia Ninja/Reprodução

No final do primeiro tempo da partida entre Estados Unidos e França,
pelo grupo G, do torneio feminino de futebol dos Jogos Olímpicos, no
Mineirão, a Polícia Militar de Minas Gerais retirou 12 torcedores das
cadeiras do estádio. Eles não puderam acompanhar o restante do jogo que
terminou com vitória norte-americana e muito menos o jogo da sequência,
entre Colômbia x Nova Zelândia. O motivo não foi briga ou ameaças, mas
por fazerem protesto político contra o presidente interino Michel Temer.

“Nós
já temos feito outras ações, em jogos do Atlético também. Dessa vez
fomos com as camisas, cada uma com uma letra e que formava 'Fora Temer'.
Até uma senhora de 82 anos estava conosco. Nos posicionamos na ordem
correta das letras e logo fomos muito bem recebidos. O mais legal é que
muita gente com cartazes avulsos e conseguimos gritar “Fora Temer” até
ficarmos roucos”, disse Ferreira ao UOL Esporte, que ainda explicou como tudo ocorreu.

“Os
seguranças vieram e falaram que não poderíamos ficar. E não queríamos
brigar, estávamos acompanhados de muitas senhoras e tinha até uma
criança de oito anos. Entregamos os cartazes primeiro e depois a polícia
veio nos retirar. Embaralhamos as letras, para continuar dentro do
Mineirão, mas não aceitaram. Nos retiraram mesmo assim. Foram dois
polícias que vieram conversar, mas no túnel, sem as imagens das câmeras,
estava cheio de policiais. Até tentaram nos qualificar, mas não teve
como. Tirei a camisa com a letra e coloquei a do Galo, então não tinha
motivo para me qualificar. Como não tinha mesmo, fomos embora”,
completou o economista.

No entanto, apesar da versão contada por
Eduardo Ferreira, a delegacia do Mineirão não fez nenhum registro sobre a
ocorrência. O UOL Esporte foi até a delegacia do estádio e a resposta da Polícia Militar e da Polícia Civil foi a mesma: “nenhum registro até agora”.

Embora não exista uma confirmação oficial e documentada do que ocorreu, testemunhas relataram ao UOL Esporte
toda a ação. Caso do metalúrgico Jan Rujner, que embora estivesse com
cartaz e camisa com os dizeres “Temer jamais”, não fazia parte do grupo
retirado do Mineirão.

“Eles levantaram com as camisas e receberam o
apoio de muita gente. Muitos vieram tirar fotos. Como a torcida ficou
muito inflamada com a situação, tiraram o pessoal do local. Mesmo com
muita gente filmando e questionando que aquilo não poderia ocorrer, a
polícia retirou o pessoal. Não teve violência, era um pessoal mais velho
e que não resistiu”.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Janio de Freitas: Afastamento de Dilma é hipocrisia

Janio de Freitas: Afastamento de Dilma é hipocrisia como jamais houve no Brasil; do primeiro ato à conclusão de Anastasia, encenação visível - Viomundo - O que você não vê na mídia



Janio de Freitas: Afastamento de Dilma é hipocrisia como jamais
houve no Brasil; do primeiro ato à conclusão de Anastasia, encenação
visível

04 de agosto de 2016 às 11h14





Hipocrisia


Afastamento de Dilma é hipocrisia como jamais houve no Brasil


por Janio de Freitas,na Folha de S. Paulo, em 04/08/2016


Quem não aceita ver golpe partidário na construção do impeachment de
Dilma Rousseff pode ainda admitir, para não se oferecer a qualificações
intelectual ou politicamente pejorativas, que o afastamento da
presidente se faz em um estado de hipocrisia como jamais houve por aqui.


O golpe de 64 dizia-se “em defesa da democracia”, é verdade. Mas o
cinismo da alegação não resistia à evidência dos tanques na rua, às
perseguições e prisões nem aos crimes constitucionais (todos os
militares do golpe haviam jurado fidelidade à Constituição que acabavam
de trair: sem exceção, perjuros impunes).


Todos os golpes tentados ou consumados antes, incluída a Proclamação
da República, tiveram na formação aquele mesmo roteiro, com diferença de
graus. A força das armas desmoralizava a hipocrisia das palavras.


Os militares, hoje, não são mais que uma lembrança do que foi a maior força política do país ao longo de todo o século 20.


Ao passo em que a política afunda na degeneração progressiva, nos
últimos 20 anos os militares evoluíram para a funcionalidade o mais
civilizada possível no militarismo ocidental. A aliança de civis e
militares no golpismo foi desfeita. A hipocrisia do lado civil não tem
mais quem a encubra, ficou visível e indisfarçável.


Há apenas cinco dias, Michel Temer fez uma conceituação do impeachment de Dilma Rousseff.


A iludida elegância das suas mesóclises e outras rosquinhas faltou
desta vez (ah, que delícia seria ouvir Temer e Gilmar Mendes no
mesoclítico jantar que tiveram), mas valeu a espontaneidade traidora.
Disse ele que o impeachment de Dilma Rousseff é uma questão “política,
não de avaliação jurídica deles”, senadores.


Assim tem sido, de fato. Desde antes de instaurados na Câmara os
procedimentos a respeito: a própria decisão de iniciá-los, devida à
figura única de Eduardo Cunha, foi política, ainda que por impulso
pessoal.


Todo o processo do impeachment é, portanto, farsante. Como está
subentendido no que diz o principal conspirador e maior beneficiado com o
afastamento de Dilma.


Porque só seria processo autêntico e legítimo o que se ocupasse de
avaliação jurídica, a partir da Constituição, de fatos comprovados. Por
isso mesmo refere-se a irregularidades, crimes, responsabilidade. E é
conduzido pelo presidente, não de um partido ou de uma Casa do
Congresso, mas do Supremo Tribunal Federal.


As 441 folhas do relatório do senador Antonio Anastasia não
precisariam de mais de uma, com uma só palavra, para expor a sua
conclusão política: culpada. O caráter político é que explica a
inutilidade, para o senador aecista e seu calhamaço, das perícias
técnicas e pareceres jurídicos (inclusive do Ministério Público) que
desmentem as acusações usadas para o impeachment.


Do primeiro ato à conclusão de Anastasia, e até o final, o processo
político de impeachment é uma grande encenação. Uma hipocrisia política
de dimensões gigantescas, que mantém o Brasil em regressão descomunal,
com perdas só recompostas, se o forem, em muito tempo –as econômicas,
porque as humanas, jamais.


E ninguém pagará por isso. Muito ao contrário.