Edição da Folha entra para a história. A história da covardia
Já era possível ver, ontem, na versão eletrônica.
Hoje, em papel, a Folha de S. Paulo confirma a covardia de seus editores diante do que o próprio advogado do jornal definiu como “uma bofetada na democracia”: a proibição de Luiz Fux de que se realizasse uma entrevista com o ex-presidente Lula e, ainda pior, ameaçando punições caso fosse publicada.
Gasta um terço de sua capa para, solenemente, anunciar que não anuncia nada. Ou seja, não toma posição e iguala, miseravelmente, Fernando Haddad a Jair Bolsonaro.
Com todas as restrições que o jornal possa fazer, isso é um insulto à inteligência de qualquer não-fanático que o leia.
Coloca em cima, literalmente, da espetacular foto da manifestação #EleNão no Largo da Batata, uma matéria “de cozinha” sobre dirigentes do PT “estarem sendo processados”. Matéria encomendada e isso fica evidente logo que você vê que, ao contrário do que é regra na Folha, não vem com assinatura do “repórter” que a fez.
Mas e a indignação do jornal com a censura?
Faltou à aula?
Fica, apenas e discretamente, por conta da colunista do Painel, Daniela Lima, em algumas notas em que diz que o caso “provoca mal-estar entre ministros do STF”.
Sites com muito menos recursos que a Folha, como o Conjur, foram ouvir advogados, que condenaram a censura. O jornalão paulista, a nenhum.
Por acaso a ombudsman escreveu sobre o interesse jornalístico evidente da entrevista ou sobre os precedentes, no próprio jornal, de entrevistar pessoas presas? Não. Recomenda “a busca radical por equilíbrio [que] deve estar nas pequenas e nas grandes decisões”.
Como, por exemplo, servir de rosto à democracia para levar “uma bofetada” de Luiz Fux e ficar quieta.
O advogado da Folha, Luís Francisco Carvalho Filho, cumpriria melhor o papel de editor de um jornal com dignidade. Ao menos reage diante dos absurdos.
Porque um jornal que não defende sua própria liberdade de informar com o que é relevante tem capacidade para defender a liberdade alheia?
PS:
PS:
Só dois dias depois, Folha pede que entrevista seja liberada
Dois dias depois de ter sido censurada, afinal a Folha reage.
Pede a Ricardo Lewandowski que mande cumprir a ordem de permitir a entrevista de Lula que autorizou na sexta-feira.
Provavelmente obterá a ordem, porque o despacho de Luiz Fux, ao que parece, é inepto do princípio ao fim.
Salvo um arranjo, o presidente do STF, Dias Tóffoli, não poderá dizer que estava ausente, pois estava em São Paulo que, ao que conste, é território nacional.
O presidente da República não transfere o cargo se for a Belo Horizonte, nem o presidente do Senado ou da Câmara se licenciam do cargo quando vão ao Ceará ou ao Rio.
Mas Fux usurpou as prerrogativas do cargo, investindo-se na presidência do STF com a viagem de Dias Tóffoli a SP.
E atropelou mais o Regimento: seu direito, como presidente interino (se o fosse) estaria limitado a decisões cautelares e não de mérito, como foi a de seu colega Lewandowski, ao decidir permitir a entrevista.
Pior ainda, aceitou uma ação de quem não tinha competência legal para apresentá-la: o Partido Novo, de João Amoedo.
Nunca estive no Poder Judiciário mas, no Executivo – e não vejo porque seria diferente por lá – há um documento formal de transmissão do cargo, hoje assinado digitalmente, com hora e data registrados.
Tóffoli passou a presidência do STF a Fux? Sim ou não? Se não, tudo é ilegal; se sim, porque, numa simples viagem a São Paulo?
Estamos diante de – não há terceira via possível – de uma fraude e ou de uma conspiração, onde a cadeira central da Suprema Corte foi deliberadamente deixada a quem não se constrangia em expor-se como um esbirro da ditadura de silenciamento de Lula.
Omis provável, como sugere a jurista Giselle Citadino, é que haja uma armadilha institucional: “Se Toffoli, na segunda, cassar a decisão de Fux, a partir de terça será descrito como a representação do PT no STF. Se não cassar a decisão, perde inteiramente sua capacidade política de exercer em sua plenitude a presidência do STF.”
Os apavorados com o poder da fala de Lula dizem que “preso não pode falar”, numa grotesca ideia de que quem é condenado não possa, nunca mais, defender-se.
Aboliu-se o trecho da Constituição que fala que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”e a sentença esdrúxula de Lula não o foi nem o será.
Aqui, a notícia pode ainda ser abafada pelo conluio da mídia.Mas não lá fora.
O Judiciário brasileiro está cometendo um harakiri sem sem honra.
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