Clone do PT - Ricardo Noblat: O Globo
Ruy Fabiano
“O Lula é um fenômeno. Não é uma coisa normal. O Lula é algo que, no futuro, os estudiosos, os sociólogos vão analisar como algo que jamais aconteceu neste país.”
“Eu não me coloco nesse patamar, porque o Lula representa a aspiração de ascensão social de qualquer brasileiro. As pessoas veem o Lula viajando pelo mundo, recebido por reis e rainhas, por grandes dirigentes internacionais, enfim, caminhando por aí, e de alguma forma veem naquilo a possibilidade de ascensão no seu campo profissional. É natural que ele tenha uma força política que nós respeitamos”.
O discurso acima não foi produzido por nenhum petista ou militante sindical. É, por incrível que pareça, do candidato tucano à Presidência da República, senador Aécio Neves.
O vídeo está no Youtube e em diversas redes sociais e, seguramente, será peça da campanha eleitoral do PT no ano que vem. Com uma oposição dessa, o PT não tem o que temer, a não ser seus próprios aloprados.
A Era PT, que completa 12 anos em 2014, podendo se estender por mais um quatriênio – quebrando, assim, o recorde varguista de 15 anos ininterruptos no poder (1930-1945) -, ficará marcada por um paradoxo: foi a que reuniu maior número de escândalos graúdos e, no entanto, a que menos foi atormentada pela ação oposicionista.
Se tais escândalos ocorressem com o PT na oposição, é certo que nova campanha pró-impeachment teria varrido o país. Basta ver o que aconteceu no período Collor, em que, comparado ao que há hoje, os réus não passavam de punguistas amadores.
No entanto, o candidato do principal partido de oposição não hesita em desfiar louvores àquele que é seu principal adversário. Este, no entanto, sempre que pode desanca a principal liderança tucana, Fernando Henrique Cardoso.
Quem está certo? Pelos resultados, não há o que discutir. Em plena desova do Mensalão, com três CPIs fazendo barulho no Congresso, Lula reelegeu-se. A oposição não conseguiu (na verdade, não quis) transmitir ao público a responsabilidade que o então presidente da República tinha naquele processo.
Deixou-o escapar. Hoje, tenta recapturá-lo, sem muita convicção, a julgar pelos elogios de Aécio.
Lênin falava da estratégia das tesouras, pela qual o partido hegemônico escolhia sua própria oposição. Intencionalmente ou não, o PT realizou esse ideal estratégico. Tem a oposição que pediu a Deus; uma oposição que não sabe catalisar as insatisfações populares (que não são poucas) e não sabe traduzir em linguagem corrente, assimilável pela população, suas propostas para consertar o país.
O que mantém o PSDB como maior força oposicionista é exatamente o sentimento antipetista de grande parte da sociedade brasileira. E esse sentimento é eminentemente conservador. Mas o PSDB tem medo (ou vergonha) de vocalizá-lo. Quer ser uma alternativa ao PT, mas com o mesmo programa progressista.
Daí os elogios a Lula, que Serra, na eleição passada, também fez (sem, claro, o mesmo entusiasmo de Aécio). Se é para oferecer mais do mesmo, fiquemos com o original. O PSDB é um PT paraguaio. Assim, não dá.
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