Sonho de uma noite de inverno
Renunciar ele não vai. Nem ela. Restaria,
assim, só a cassação da chapa Dilma/Temer pela Justiça para que houvesse
nova eleição – a preferência da maioria absoluta da população, segundo
todas as pesquisas. Apesar de reiterados indícios de irregularidades no
financiamento e na prestação de contas da campanha eleitoral da dupla em
2014, não parece que o processo andará no Tribunal Superior Eleitoral
este ano. Sobra, portanto, a hipótese de um presidente biônico eleito
por um redivivo colégio eleitoral.
assim, só a cassação da chapa Dilma/Temer pela Justiça para que houvesse
nova eleição – a preferência da maioria absoluta da população, segundo
todas as pesquisas. Apesar de reiterados indícios de irregularidades no
financiamento e na prestação de contas da campanha eleitoral da dupla em
2014, não parece que o processo andará no Tribunal Superior Eleitoral
este ano. Sobra, portanto, a hipótese de um presidente biônico eleito
por um redivivo colégio eleitoral.
José Roberto de Toledo
Como se sabe, se o cargo ficar vago depois de ultrapassada a
metade do mandato presidencial, cabe a um mistão de deputados e
senadores escolher o novo presidente. É um sonho para os congressistas,
capaz de umedecer o mais árido dos invernos brasilienses. Se para manter
Michel Temer no poder eles já conseguiram nomear quase todo o
Ministério, com os respectivos cargos de segundo e terceiro escalão,
imagine-se quais façanhas não alcançariam se pudessem renegociar seus
votos com o biônico?
Seria o parlamentarismo de fato, pouco importa o direito. A farra
de nomeações, emendas ao Orçamento e indicações de fornecedores bateria
recordes olímpicos – um salto triplo na contabilidade política e
eleitoral de deputados e senadores. Seria também um tiro ao alvo mortal
para as medidas de combate à corrupção, como a criminalização do caixa
2, a responsabilização dos partidos políticos por seus malfeitos e o
confisco da grana proveniente dessas atividades ilícitas.
Por ora, é apenas o sonho de uma noite de inverno brasiliense. O
TSE não demonstra pressa em julgar as contas da chapa Dilma/Temer. O
mercado financeiro torce e trabalha pelo futuro ex-vice, junto com boa
parte do empresariado. Tem Olimpíada, julgamento do impeachment de Dilma
Rousseff no Senado e eleição municipal a congestionar o calendário. O
colégio eleitoral não está nem sequer em pauta. Mas pode vir a estar.
Vai depender, como sempre, da economia – e de seus obscuros ou
brilhantes reflexos na popularidade do presidente. Decepção ou
satisfação do público são resultantes opostas de uma mesma conta:
realização menos expectativa. Quanto mais se espera de um governante,
mais difícil é para ele atender às demandas da população e alcançar um
saldo positivo na equação da popularidade. É o que acontece com a
maioria dos eleitos.
A disputa eleitoral eleva a esperança e aumenta a cobrança sobre o
vencedor. Mas, quando o presidente é um vice que muita gente nem sequer
sabia o nome, a expectativa é baixa. A maioria não sabe bem o que
esperar, o que acaba se transformando em um período de “deixa estar para
ver como é que fica”.
É o que aconteceu com Temer: a desinformação produziu baixa
expectativa, o que garantiu um período de carência para o presidente
interino. Por menos que faz, dificilmente fica aquém do que se espera
dele – já que não se esperava nada. É o contrário do que ocorreu com
Dilma, cujo eleitorado esperava tudo, menos o que ela tentou fazer
depois de reeleita.
Há sinais, todavia, de que a carência de Temer pode estar
vencendo. A pesquisa de julho do instituto Ipsos sobre o desempenho do
interino mostrou um crescimento de 43% para 48% na taxa de ruim e
péssimo, em comparação ao mês anterior. O aumento se deu às custas da
queda do “não sabe e não respondeu”. Também houve queda no apoio ao
impeachment de Dilma, de 54% para 48%.
São poucos pontos porcentuais de diferença e poucas pesquisas
para se fazer projeções. É preciso pelo menos quatro pontos na curva,
com oscilações sempre na mesma direção, para caracterizar uma tendência.
Ou seja: só em setembro vai se tirar a prova. Até lá, já terão passado
Olimpíada e impeachment. Temer não terá mais desculpas para deixar de
entregar resultados. O TSE poderá, então, se ver apressado. E os
congressistas? Sonhando molhado.
metade do mandato presidencial, cabe a um mistão de deputados e
senadores escolher o novo presidente. É um sonho para os congressistas,
capaz de umedecer o mais árido dos invernos brasilienses. Se para manter
Michel Temer no poder eles já conseguiram nomear quase todo o
Ministério, com os respectivos cargos de segundo e terceiro escalão,
imagine-se quais façanhas não alcançariam se pudessem renegociar seus
votos com o biônico?
Seria o parlamentarismo de fato, pouco importa o direito. A farra
de nomeações, emendas ao Orçamento e indicações de fornecedores bateria
recordes olímpicos – um salto triplo na contabilidade política e
eleitoral de deputados e senadores. Seria também um tiro ao alvo mortal
para as medidas de combate à corrupção, como a criminalização do caixa
2, a responsabilização dos partidos políticos por seus malfeitos e o
confisco da grana proveniente dessas atividades ilícitas.
Por ora, é apenas o sonho de uma noite de inverno brasiliense. O
TSE não demonstra pressa em julgar as contas da chapa Dilma/Temer. O
mercado financeiro torce e trabalha pelo futuro ex-vice, junto com boa
parte do empresariado. Tem Olimpíada, julgamento do impeachment de Dilma
Rousseff no Senado e eleição municipal a congestionar o calendário. O
colégio eleitoral não está nem sequer em pauta. Mas pode vir a estar.
Vai depender, como sempre, da economia – e de seus obscuros ou
brilhantes reflexos na popularidade do presidente. Decepção ou
satisfação do público são resultantes opostas de uma mesma conta:
realização menos expectativa. Quanto mais se espera de um governante,
mais difícil é para ele atender às demandas da população e alcançar um
saldo positivo na equação da popularidade. É o que acontece com a
maioria dos eleitos.
A disputa eleitoral eleva a esperança e aumenta a cobrança sobre o
vencedor. Mas, quando o presidente é um vice que muita gente nem sequer
sabia o nome, a expectativa é baixa. A maioria não sabe bem o que
esperar, o que acaba se transformando em um período de “deixa estar para
ver como é que fica”.
É o que aconteceu com Temer: a desinformação produziu baixa
expectativa, o que garantiu um período de carência para o presidente
interino. Por menos que faz, dificilmente fica aquém do que se espera
dele – já que não se esperava nada. É o contrário do que ocorreu com
Dilma, cujo eleitorado esperava tudo, menos o que ela tentou fazer
depois de reeleita.
Há sinais, todavia, de que a carência de Temer pode estar
vencendo. A pesquisa de julho do instituto Ipsos sobre o desempenho do
interino mostrou um crescimento de 43% para 48% na taxa de ruim e
péssimo, em comparação ao mês anterior. O aumento se deu às custas da
queda do “não sabe e não respondeu”. Também houve queda no apoio ao
impeachment de Dilma, de 54% para 48%.
São poucos pontos porcentuais de diferença e poucas pesquisas
para se fazer projeções. É preciso pelo menos quatro pontos na curva,
com oscilações sempre na mesma direção, para caracterizar uma tendência.
Ou seja: só em setembro vai se tirar a prova. Até lá, já terão passado
Olimpíada e impeachment. Temer não terá mais desculpas para deixar de
entregar resultados. O TSE poderá, então, se ver apressado. E os
congressistas? Sonhando molhado.