Moraes chega onde queria: não foi fakenews, mas vazamento,
por Luis Nassif
Agora, o
caso entrou no caminho provavelmente previsto por Moraes: não se trata
mais de apuração de notícias falsa, mas do vazamento de uma investigação
sigilosa, com o agravante de ser utilizado para ameaçar o presidente do
Supremo Tribunal Federal.
Enganou-se
quem imaginou que o recuo do Ministro Alexandre de Moraes, levantando a
censura ao Antagonista, significou a fim da batalha. Pelo contrário.
Até então, tinha-se uma suposta ação contra fakenews
– notícias falsas. A tal nota publicada estava enquadrada nessa
definição, a menos que… a menos que se comprovasse ser um documento
real, no inquérito tocado pela Lava Jato.
Agora, o caso entrou no caminho
provavelmente previsto por Moraes: não se trata mais de apuração de
notícias falsa, mas do vazamento de uma investigação sigilosa, com o
agravante de ser utilizado para ameaçar o presidente do Supremo Tribunal
Federal.
Esses
abusos, atropelando qualquer conceito de direitos individuais, foram
praticados à larga pela Lava Jato, com a cumplicidade da Procuradoria
Geral da República de Rodrigo Janot, e, depois, com a condescendência da
PGR de Raquel Dodge. E tornaram-se a fonte de poder maior da operação.
No jantar de posse de Dilma Rousseff, em
2014, compartilhei uma mesa com Janot e indaguei o que ele iria fazer
contra os vazamentos abusivos. Na véspera das eleições, Veja publicou
uma capa planejada antecipadamente – e distribuída por todos os cantos
pelo PSDB – em cima da deturpação de um vazamento. E Janot:
- Não podemos fazer nada. Foi o advogado do réu que vazou.
- Mas se vazamento é crime, porque vocês não atuam?
Desconversou, disse que era muito difícil encontrar provas.
Janot atuou apenas uma vez contra
vazamentos. No período em que ainda estava alinhado com Aécio Neves e o
PSDB, os delatores da OAS decidiram ampliar as delações incluindo José
Serra e Aécio Neves. Era voz corrente entre os criminalistas de São
Paulo.
Como Janot se safou? Foi vazada para Veja
uma denúncia irrelevante contra o mesmo Dias Toffoli. Mal saiu a
revista, Janot anunciou que o acordo de delação estava cancelado, sob o
argumento de que os advogados tinham vazado as informações para
pressionar pela aprovação do acordo.
Uma mentira inverossímil! Era evidente
que o vazamento prejudicava os réus. Mas o argumento foi acolhido
candidamente pela imprensa, e deu-se sobrevida aos delatados até que o
impeachment fosse consumado. Aliás, no caso de José Serra,
aparentemente, será poupado até o fim dos seus dias.
Cai Lula, cai o PT, cai o Rei de Copas,
cai o Rei de Paus e a estrutura da Lava Jato resolve atacar outros
desafetos. E aí chega no Supremo.
O primeiro caso foi a tal investigação da
Receita conduzida por um auditor ligado à Lava Jato, que levantou – e
deu publicidade – às contas de Gilmar Mendes e sua esposa. A alegação
foi a de engano no destinatário de um email. Mas a reação de Gilmar
mostrou que não se tolerariam mais os abusos, acabando com a onipotência
de investigadores que, tendo a imprensa para vazar, julgavam ter A
FORÇA.
Nas últimas semanas, o procurador Diogo
Castor – cujo irmão é um dos advogados da milionária indústria da
delação, na qual só entram advogados aceitos pela confraria da Lava Jato
– atacou o STF. Houve reação de Toffoli e Castor pediu afastamento da
Lava Jato por problemas de saúde.
Outro procurador, Roberto Pozzobon,
entrou no jogo, com ataques pelas redes sociais. Depois da intervenção
do STF, reduziu o fogo. Apenas Deltan Dallagnol não parou um minuto, em
uma escalada que, se não enfrentada, desmoralizaria o Supremo.
Com o último movimento, entrou-se,
finalmente, no busílis da questão, na fonte de ilegalidades que se
tornou a marca da Lava Jato: o uso político da informação, seja para
propósitos eleitorais, para chantagear autoridades ou para atemorizar
alvos.
Talvez, agora, outros fatos comecem a ficar claros.
Depoimentos de colegas, avalizaram a
competência do delegado da PF incumbido de tocar o inquérito. Não tem
sentido um delegado competente, contando com todo arsenal tecnológico da
própria Polícia, mesmo atuando em território inóspito, da própria PF,
com risco de ter que cortar na carne, sair prendendo pessoas
irrelevantes das redes sociais, mesmo generais de pijama pirados, pelo
mero fato de destilarem baixarias contra Ministros da corte.
É óbvio que Moraes exagerou na truculência ao incluir dois desafetos, advogados, como propagadores de fakenews, e
apelar para a censura. Mas o alvo estava bem acima. Nos próximos dias
se saberá melhor o tamanho da gangrena que afetou braços do MPF e da PF.
Foi sintomático Dallagnol correr a
público informando que, pelos dados do sistema, o MPF acessou os dados
apenas depois que a revista publicou a reportagem. Fantástico!
Fica-se sabendo que a intimorata Lava Jato fica sabendo do que ocorre
em seus inquéritos através dos informantes que têm na mídia.
É uma corte ruim, com um histórico
complicado, mas é o último bastião da institucionalidade. Caindo o
Supremo, não restará mais nada das instituições. O país ficará
definitivamente à mercê das milícias jurídicas. Daí, porque, a luta
atual é de vida ou morte das instituições.
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