Demissão no Inpe institui bullying presidencial como política científica
Que os próximos rounds sejam enfrentados com a mesma altivez com que Ricardo Galvão, em nome da verdade, encarou o presidente
Salvador Nogueira
São Paulo
É assustador quando o bullying vira política de estado. Não há outra maneira de definir a decisão do presidente de exonerar o diretor do Inpe, Ricardo Galvão. Mas fica também a lição que se aprende na escola: não podemos nos deixar intimidar pelos valentões.
Nem percamos tempo fingindo que foi o ministro Marcos Pontes quem tomou essa decisão, porque o único papel dele nesse episódio, lamentavelmente, foi de capacho, subserviente aos desígnios farsescos que reinam no andar de cima.
A estratégia, por sua vez, já se tornou velha conhecida: aquele desfile de asneiras jogadas ao vento, quanto mais ofensivas, melhor, a fim de obter uma de duas reações: ou o ofendido se alinha, ou pede para sair.
Galvão não foi nem o primeiro, nem o segundo, nesses longos sete
meses de gestão, a ter a cabeça afogada num balde para dizer que era
mentira o que é verdade. A metáfora é pesada? Tudo bem, sabemos que o
presidente curte.
A diferença dessa para outras frituras foi a altivez e a convicção do friturado. O diretor do Inpe perdeu exatamente zero segundos se perguntando se deveria aguentar calado às ofensas ou responder à altura o valentão da escola, alçado ao cargo mais importante do país, de onde se julga, de forma ilusória, supremo.
Galvão optou pelo caminho da ciência, pautado pelas boas práticas que, ao longo dos últimos dois séculos, trouxeram uma sequência exponencial de progressos para a civilização. Fez a defesa técnica e moral de seu trabalho e de sua instituição, e chamou a atitude do presidente por termos que nenhum dicionário reprovaria: pusilânime e covarde.
Essa foi a novidade. Alguém topou enfrentar o valentão da escola.
O desfecho era mais que previsível. Num sinal de que ainda nos
resta alguma civilidade (e a luta é diária para não nos desapegarmos
dela), terminou apenas exonerado. Noutros tempos, poderia ter sido pior.
Fica o exemplo a ser seguido, não só pelos servidores do Inpe, mas por todos os pesquisadores do Brasil. É um pedido: não abandonem a verdade dos fatos em nome de conveniências, quaisquer que sejam.
Fingir que os dados não existem, ou que estão errados, ou que são fabricados, não resolverá o problema do desmatamento, ou das mudanças climáticas, ou do desemprego, da fome, de massacres indígenas ou de qualquer outra chaga socioambiental. O único caminho para a criação de políticas públicas eficientes é o que passa pelo diagnóstico correto dos problemas. E, numa democracia de verdade, isso necessariamente se faz diante dos olhos da sociedade.
Por isso, é dever dos cientistas dar publicidade e defender as descobertas que fazem, não só porque é para isso que arcamos com essas despesas (não se iluda, não são os governantes que pagam pelo monitoramento amazônico; somos nós), mas sobretudo porque faz parte de seu rol de responsabilidades realizar seu máximo esforço para que a ciência que produzem seja usada em favor da sociedade.
Este foi apenas mais um round nessa luta exaustiva contra o obscurantismo (que ocupou o Planalto, mas infelizmente vai muito além dele). Haverá outros. Que os próximos sejam enfrentados com a mesma altivez com que Galvão, em nome da verdade, encarou o bullying do presidente.
Nem percamos tempo fingindo que foi o ministro Marcos Pontes quem tomou essa decisão, porque o único papel dele nesse episódio, lamentavelmente, foi de capacho, subserviente aos desígnios farsescos que reinam no andar de cima.
A estratégia, por sua vez, já se tornou velha conhecida: aquele desfile de asneiras jogadas ao vento, quanto mais ofensivas, melhor, a fim de obter uma de duas reações: ou o ofendido se alinha, ou pede para sair.
A diferença dessa para outras frituras foi a altivez e a convicção do friturado. O diretor do Inpe perdeu exatamente zero segundos se perguntando se deveria aguentar calado às ofensas ou responder à altura o valentão da escola, alçado ao cargo mais importante do país, de onde se julga, de forma ilusória, supremo.
Galvão optou pelo caminho da ciência, pautado pelas boas práticas que, ao longo dos últimos dois séculos, trouxeram uma sequência exponencial de progressos para a civilização. Fez a defesa técnica e moral de seu trabalho e de sua instituição, e chamou a atitude do presidente por termos que nenhum dicionário reprovaria: pusilânime e covarde.
Essa foi a novidade. Alguém topou enfrentar o valentão da escola.
Fica o exemplo a ser seguido, não só pelos servidores do Inpe, mas por todos os pesquisadores do Brasil. É um pedido: não abandonem a verdade dos fatos em nome de conveniências, quaisquer que sejam.
Fingir que os dados não existem, ou que estão errados, ou que são fabricados, não resolverá o problema do desmatamento, ou das mudanças climáticas, ou do desemprego, da fome, de massacres indígenas ou de qualquer outra chaga socioambiental. O único caminho para a criação de políticas públicas eficientes é o que passa pelo diagnóstico correto dos problemas. E, numa democracia de verdade, isso necessariamente se faz diante dos olhos da sociedade.
Por isso, é dever dos cientistas dar publicidade e defender as descobertas que fazem, não só porque é para isso que arcamos com essas despesas (não se iluda, não são os governantes que pagam pelo monitoramento amazônico; somos nós), mas sobretudo porque faz parte de seu rol de responsabilidades realizar seu máximo esforço para que a ciência que produzem seja usada em favor da sociedade.
Este foi apenas mais um round nessa luta exaustiva contra o obscurantismo (que ocupou o Planalto, mas infelizmente vai muito além dele). Haverá outros. Que os próximos sejam enfrentados com a mesma altivez com que Galvão, em nome da verdade, encarou o bullying do presidente.
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