domingo, 29 de janeiro de 2012

Folha de S.Paulo - Ilustrada - Ueba! O periquitério da Dilma! - 29/01/2012

Folha de S.Paulo - Ilustrada - Ueba! O periquitério da Dilma! - 29/01/2012

José Simão

Ueba! O periquitério da Dilma!

E sabe o que um amigo gritou quando viu a nova presidente da Petrobras? "O Brasil entrou em guerra?!"

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Novidades no periquitério da Dilma! Sabe como se chama a mais cotada pra ser a chefe da Secretaria da Mulher? Inês PANDELÓ! Vai tratar as colegas a pandeló!

E eu tô louco pra ver o pandeló dela. Rarará! E sabe o que um amigo gritou quando viu a nova presidente da Petrobras? "O Brasil entrou em guerra?!" Rarará!

E o predestinado do dia! Olha o nome de um chaveiro em Aracaju: Hugo Chaves! E a previsão da mãe: "Meu filho, você vai se chamar Hugo Chaves, e vai ser chaveiro ou presidente da Venezuela".

E esta de Balneário Camboriú: "Prefeitura resolve parto de égua. Égua que pariu um potro em plena via pública foi recolhida pela Inclusão Social". Por isso que a Dilma é tão popular: tão incluindo até égua.

E eu já disse que a Dilma bateu recorde de popularidade porque esse é o Ano do Dragão. E aquele assessor com um cigarrinho na mão: "Presidenta, tem fogo?". "Tenho". "Então cospe aqui". Rarará!

E sabe o que os moradores de Pinheirinho cantavam enquanto apanhavam da PM? "Ai, ai, assim você me mata!". Avisa pro Alckmin que a polícia de São Paulo parece polícia de ditador árabe!

E o Kassab? O Kassab foi ovacionado no aniversário de SP. Tacaram ovo nele. E subiu o colesterol do ovo. E como escreveu um sujeito no meu Twitter: "Que desperdício e que puta sacanagem com a galinha, que fez a maior força pra botar".

E o BBB? O "Big Bagaça Brasil"! Por que os caras, aqueles rinocerontes tatuados, ficam gritando "obrigado, Brasil"?. Eles deviam era gritar: "DESCULPA, Brasil". E adoro os collants das BBBs. São tão colados que as pererecas ficam em alto relevo! Rarará!

E aquele surreality show da Band, o "Mulheres Ricas"? Devia era se chamar "Vergonha Alheia"! Quando aquelas mulheres abrem a boca, quem fica com vergonha sou eu! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é lúdico! É que, em Palmas de Monte Alto, na Bahia, tem a pousada Camarada - Dormitório e Namoratório. Adorei o namoratório! Rarará! E se você fosse um ovo, que fim você preferiria: frito, cozido ou estourado no Kassab? Estourado no Kassab. Atirado pela Narciza!

E comer fora em São Paulo tá tão caro que os garçons deviam apresentar a conta com meia na cabeça e luvas pra não deixar impressão digital. Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza. Que vou pingar o meu colírio alucinógeno!

redecastorphoto: Robert Fisk: Já falamos sobre isso - e é ótimo para Israel que o mundo não pare de falar sobre “Irã nuclear”

redecastorphoto: Robert Fisk: Já falamos sobre isso - e é ótimo para Israel que o mundo não pare de falar sobre “Irã nuclear”

Robert Fisk: Já falamos sobre isso - e é ótimo para Israel que o mundo não pare de falar sobre “Irã nuclear”


Robert Fisk

25/1/2012, Robert Fisk, The Independent, UK
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

É muito difícil, no jornalismo, voltar atrás na história – e raras vezes pode ser mais difícil que voltar atrás na história, no caso do Irã. Irã, a sombria ameaça da revolução islâmica. Irã xiita, protetor e manipulador do Mundo do Terror, da Síria, Líbano, Hamás e Hezbollah. Ahmadinejad, o Califa Louco. E, claro, Irã Nuclear, preparando-se para destruir Israel numa nuvem-cogumelo de ódio antissemita. Irã pronto a fechar o Estreito de Ormuz – no instante que forças ocidentais (ou de Israel) ataquem.

Dada a natureza do regime teocrático e a repressão à oposição em 2009, para não falar dos vastíssimos campos de petróleo, qualquer tentativa de injetar algum senso comum na cobertura precisa vir com alerta do ministério da saúde: “NÃO, a vida não é possível no Irã.” Mas...

Examinemos a versão israelense, segundo a qual, apesar de repetidas provas de que os serviços de inteligência israelenses são no mínimo tão eficientes quanto os sírios, continua a ser repetidamente trombeteada pelos amigos de Israel em todo o mundo – nenhum deles mais subserviente que os jornalistas ocidentais. O presidente de Israel avisa que o Irã está às vésperas de produzir sua bomba atômica. Que Deus nos proteja. Sim. Mas nenhum jornalista escreve que Shimon Peres, então primeiro-ministro de Israel, disse exatamente as mesmas palavras em 1996. Há 16 anos. E ninguém tampouco escreve que o atual primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu disse, em 1992, que o Irã teria sua bomba atômica em 1999. Deveria tê-la tido há 13 anos. Sempre a mesma velha história.

A verdade é que ninguém sabe se o Irã está ou não está construindo a bomba atômica. E, depois do Iraque, chega a ser engraçado ver que as velhas armas de destruição em massa voltam a pipocar com a mesma frequência com que pipocavam denúncias sobre o titânico inexistente arsenal de Saddam. Para nem falar da questão das datas. Quando tudo isso começou? O Xá. O Xá queria poder nuclear. Chegou a dizer que queria sua bomba “porque EUA e URSS têm bomba atômica” e ninguém reclamou. Os europeus correram a satisfazer o desejo do Xá. Quem construiu o reator nuclear em Bushehr foi a empresa Siemens – não alguma Rússia.


E quando o aiatolá Khomeini, Terror do Ocidente, Apóstolo da Revolução Xiita etc., assumiu o poder no Irã em 1979, imediatamente ordenou que todo o projeto nuclear fosse cancelado, porque era “obra do demônio”. Só quando Saddam invadiu o Irã – com nossas bênçãos ocidentais – e pôs-se a matar iranianos com gás venenoso (feito de componentes químicos que o ocidente lhe fornecia, é claro) foi possível convencer Khomeini a reiniciar o programa nuclear do Irã.

Tudo isso foi apagado dos registros históricos; quem inventou o programa nuclear foram os mulás de turbante negro, associados a Ahmadinejad, o doido. E Israel está obrigada a destruir essa arma terrorista para salvar-se da destruição, para salvar o ocidente da destruição, para salvar a democracia etc. etc.

Para os palestinos na Cisjordânia, Israel é potência brutal, colonial, ocupante. Mas no momento em que se fala do Irã, a Israel brutal, colonial, ocupante é convertida em pequeno estado frágil, vulnerável, pacífico, que enfrenta iminente ameaça de extinção. Ahmadinejad – e aqui, mais uma vez, são palavras de Netanyahu – é mais perigoso que Hitler. Todo o arsenal de bombas atômicas de Israel – absolutamente reais e existentes estimadas hoje em quase 300 – some da cobertura jornalística. Os Guardas Revolucionários do Irã estão ajudando o regime sírio a destruir a oposição. Talvez estejam. Mas até hoje ninguém viu disso uma prova sequer.

O problema central é que o Irã venceu praticamente todas as suas guerras recentes, sem precisar disparar um tiro. George W & Tony destruíram o arqui-inimigo do Irã, o Iraque. Mataram milhares do exército sunita ao qual o Irã referia-se como “o Talibã negro”. E os árabes do Golfo, nossos amigos “moderados”, tremem de medo em suas mesquitas douradas, quando nós, no ocidente, pintamos o quadro de seu destino no caso de uma revolução iraniana xiita.

Não surpreende que Cameron continue a vender armas a essa gente repugnante cujos exércitos, em todos os casos, mal conseguem operar fogões de quatro bocas, imaginem se saberão operar as sofisticadas armas aladas de bilhões de dólares que nós lhes empurramos goela abaixo, sob a sombra do medo de Teerã.

Que venham as sanções. Convoquem também os palhaços.

Má notícia para os fanáticos do mercado

Má notícia para os fanáticos do mercado

Má notícia para os fanáticos do mercado

Em sua edição de 27 de janeiro, a reportagem de capa da Economist, leitura obrigatória da elite financeira mundial, ajuda a colocar o debate sobre os rumos da economia em seu devido lugar.

O titulo é bastante significativo: “O crescimento do capitalismo estatal
– o novo modelo dos emergentes.”
Como sabem seus leitores, a Economist é uma publicação com idéias conservadoras em assuntos econômicos. Defende uma presença mínima do Estado na economia, costuma apoiar governos e candidatos de acordo com elas mas não é partidária de idéias irracionais nem fanáticas.
A vantagem para os leitores é que não confunde a realidade com seus desejos.
Diante da crise européia, a Economist tem sido uma das críticas mais duras da obsessão de Angela Merkel com a austeridade e defende programas de estímulo ao crescimento para tirar o Velho Mundo para o fundo do poço.
Em 2009, quando boa parte da imprensa brasileira preocupava-se em encontrar obstáculos na recuperação do país após a crise de Wall Street, a Economist saiu com uma capa que mudou o rumo da conversa: ”O Brasil decola.” Ali, lembrava aos leitores que o país havia entrado numa fase de prosperidade e que em breve estaria ocupando um lugar importante entre as maiores economias do planeta.
Essa forma não-provinciana de enxergar a realidade também aparece na reportagem especial de 14 páginas sobre capitalismo de estado.

(Pegue o link, em inglês: http://www.economist.com/node/21542931)

Eu acho que essa reportagem merece reflexão de quem se interessa de verdade pelo conhecimento da economia e não pela divulgação de suas convicções e mesmo de seus preconceitos.

Para a revista, assiste-se a um momento em que a crise do “capitalismo liberal ocidental coincidiu com uma forma nova e poderosa do capitalismo de estado nos mercados emergentes.”

Fazendo um balanço histórico, a revista lembra que o papel do Estado na economia mundial cresceu entre 1900 e 1970. Naquele momento, o vento soprava nessa direção.

Depois disso, as idéias do mercado ganharam terreno com Ronald Reagan e Margareth Tatcher,as privatizações e a ruína da União Soviética e seus satélites.
A partir de 2008, depois da crise do Lehman Brothers e a crise das economias desenvolvidas, ”a era do triunfalismo do mercado foi interrompida.”
Avaliando as consequências desta situação, a revista afirma que a forma atual de “capitalismo de estado representa o mais formidável inimigo que o capitalismo liberal já enfrentou.”
Hoje, “o capitalismo de estado pode reivindicar os maiores sucessos econômicos do mundo para seu campo.” As empresas estatais representam 80% dos valores negociados no mercado de ações da China, 62% na Russia e 38% no Brasil. Comparando taxas de crescimento, a revista recorda que estes países crescem 5,5% ano ano, contra 1,6% dos desenvolvidos. A revista também acredita em 2020 essas economias emergentes irão responder por metade do PIB mundial.
A influencia do capitalismo de estado deve prolongar-se por anos, diz a revista. Isso porque, em função de sucessos localizados e momentâneos, talvez seja necessário aguardar muito tempo até que ”as fraquezas do modelo se tornem evidentes.”
Partidária da visão de que a economia de mercado sempre será mais eficiente e mais aberta às inovações, a revista acredita que cedo ou tarde o capitalismo de estado acabará perdendo sua força e poder de atração.

Gostaria de comentar algumas idéias discutidas pela revista.

A revista associa mercado e democracia, estado e ditadura. Confesso que até hoje não entendi porque se costuma associar estes dois fenômenos, sempre desta maneira. Num país onde o Estado tem forte influencia na economia, esta atividade passa a sofrer forte influencia do sistema político. Se o regime for uma ditadura, será uma influencia autoritária. Se for uma democracia, irá refletir, após muitos filtros e distorções, o pensamento do eleitor. Numa economia dominada pela iniciativa privada, a maior influencia sobre o Estado virá do mercado, ou seja, das empresas privadas e seus lobistas. Não virá do cidadão comum nem da classe média nem dos trabalhadores.

França, Inglaterra e Alemanha são paises que tiveram uma forte influencia do Estado na economia, ao longo do século XX, e não deixaram de ser democracias por causa disso. Nos anos Roosevelt, o Estado coordenou e até dirigiu boa parte do crescimento econômico americano. Seria autoritarismo? As ideias ultraprivatizantes de Augusto Pinochet nunca o impediram de transformar o Chile numa ultraditadura. Há quem diga que a segunda foi condição para que pudesse realizar a primeira.

O nazismo de Adolf Hitler foi um produto direto da obsessão da centro-direita alemã com o mercado e sua recusa para criar medidas para enfrentar o desemprego e a falta de crescimento.

Outra afirmação é a seguinte: “o capitalismo de estado funciona direito quando dirigido por um estado competente.” A regra vale para tudo na vida, na verdade. Inclusive para o capitalismo de mercado. Colapsos gigantescos como de 1929 e 2008 deveriam reforçar a modéstia dos que acreditam na competência instrínseca da iniciativa privada. Nos dois casos ela precisou ser salva pelos recursos do Estado, socializando imensas perdas depois de ter embolsado enormes prejuízos.

A ideia da eficiência natural do mercado esbarra em contradições importantes. Os mercados tem uma dificuldade imensa para lidar com a desigualdade social, problema que está na raiz das principais crises econômicas recentes. Sem mercados para crescer, a economia cria sistemas de credito para emprestar dinheiro para quem pode consumir mas não tem renda de verdade para pagar a conta, montando uma bola de neve que produziu os derivativos que explodiram em 2008.

A “solução final” do Pinheirinho - ÉPOCA | Ruth de Aquino

A “solução final” do Pinheirinho - ÉPOCA | Ruth de Aquino

A “solução final” do Pinheirinho

Enquanto a terra for colocada como briga entre direita e esquerda, quem perderá serão os já destituídos

RUTH DE AQUINO
RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Antes que os desabamentos no Rio de Janeiro joguem uma cortina de fumaça na cena mais degradante que vi nos últimos tempos no Brasil – o despejo forçado de milhares de trabalhadores no Pinheirinho, em São Paulo, no dia sagrado de descanso das famílias –, vou falar de desumanidade, egoísmo, cinismo. É pouco? Então vou falar também da violação de nossa Constituição. Que garante o direito à moradia adequada.
O que menos interessa é o jogo de empurra que se seguiu. O Legislativo empurra para o Judiciário e o Executivo, e vice-versa. Um partido empurra para o partido adversário. E vice-versa.
Enquanto a terra rural e urbana for colocada no Brasil como briga entre direita e esquerda, enquanto o deficit de 5,5 milhões de casas populares for jogado na conta do PSDB ou do PT, quem perderá serão os já destituídos. E a sexta economia do mundo continuará a exportar cenas subdesenvolvidas. Políticos intransigentes e sem visão existem no mundo todo. Mas o que se viu no dia 22 de janeiro de 2012 é proibido em países civilizados.
Dois mil policiais, com dois helicópteros, 220 viaturas, 40 cães e 100 cavalos, chegaram ao Pinheirinho quando a comunidade mal acordara, às 6 horas da manhã do domingo. Na casa do eletricista João Carlos Garrido, de 58 anos, “eles entraram falando ‘levanta, vagabundo’ e com um porrete de borracha bateram na minha perna enquanto eu estava dormindo, não me deixaram pegar nada, nem a féria da semana no meu bar”.
Eu me pergunto como as autoridades, pela falta de um cadáver, podem comemorar e “investigar se houve excessos”. A imprensa não foi autorizada a acompanhar a ação, o que é mais um direito violado. Os vídeos em tempo real não foram feitos por jornalistas.
Eram 1.600 famílias, 5 mil moradores numa comunidade com rua, igreja, boteco, praça, quitanda, casa de alvenaria, geladeira, fogão, televisão. E que foram tratados como delinquentes, afugentados por gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha.
Não sei se eu fugiria ou reagiria. Provavelmente, com filhos, fugiria. Não se brinca com a truculenta PM do Estado de São Paulo. Famílias foram para igrejas e abrigos da prefeitura. Na quarta-feira, 500 desterrados caminharam uma hora por 4 quilômetros, com crianças, idosos, cachorros e alguns pertences. Eles tinham sido obrigados a sair da Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Na chegada ao abrigo municipal, com telha de zinco e muito calor, uma grávida de três meses desmaiou. Não havia água nos banheiros. A Defensoria Pública abriu ação contra a prefeitura pedindo a retirada das famílias por falta de condições. Como o Estado vai garantir a escola, a saúde e o emprego de uma comunidade dispersada à força e sem teto?
O governo de Geraldo Alckmin em São Paulo e a prefeitura de Eduardo Cury, de São José dos Campos, ambos do PSDB, terão de conviver, em pesadelos, com sua responsabilidade sobre o drama dos retirantes do Pinheirinho, despejados de casas que habitavam havia oito anos.
Enquanto a terra for colocada como briga entre direita e esquerda, quem perderá serão os já destituídos
O Judiciário estadual de São Paulo também poderá refletir sobre a “reintegração de posse”. A juíza ignorou duas premissas. A primeira é que a propriedade não pode ser definida apenas por seu valor econômico, mas também por sua função social. Quem diz isso não sou eu, é a Constituição. Os despejados não tinham nenhuma alternativa de teto. A juíza os colocou no olho da rua. A segunda premissa eram as negociações, ainda em curso. A atitude mais sensata seria perguntar ao prefeito, ao governador, à presidente se tinham sido esgotadas todas as opções.
É uma novela de fracassos. A ocupação irregular começou em 2004. Foi permitida pelas autoridades. Não era área de risco. O terreno de 1 milhão de metros quadrados e R$ 180 milhões pertence ao megaespeculador Nagi Nahas, que deve à prefeitura R$ 16 milhões. Tanto em 2005 quanto agora, em janeiro, o Ministério das Cidades ofereceu recursos para São José dos Campos tornar o terreno público, urbanizar e regularizar a situação dos moradores. A oferta foi ignorada pela prefeitura.
A relatora da ONU Raquel Rolnik, arquiteta e urbanista, solicitou o fim imediato do cerco policial do Pinheirinho e a retomada de negociações para reassentar as famílias. “Se o Brasil quer virar gente grande, não pode só virar rico, precisa voltar à civilização e dispensar tratamento digno a todos os cidadãos”, diz Raquel.
Todos cumpriam ordens no Pinheirinho. Lavam as mãos, como numa guerra. Agora, prometem cadastrar “os desabrigados”, ampliar as moradias populares em São José dos Campos, incluir as famílias no Minha Casa Minha Vida. Isso deveria ter sido feito antes.
Sob os escombros do Pinheirinho, pode não haver corpos, mas havia vidas. Era essa “a solução final” que o Estado brasileiro buscava?

Blog de Ricardo Noblat: colunista do jornal O Globo com notícias sobre política direto de Brasília - Ricardo Noblat: O Globo

Blog de Ricardo Noblat: colunista do jornal O Globo com notícias sobre política direto de Brasília - Ricardo Noblat: O Globo

Política

O homem dos Bric está otimista

Elio Gaspari, O Globo

Para quem não aguenta mais as notícias ruins da economia mundial, apareceu uma voz otimista. É a de Jim O’Neill, o economista da casa bancária Goldman Sachs que, em 2001, cunhou o acrônimo Bric. Ele chamava atenção para a emergência das economias de Brasil, Rússia, Índia e China. Hoje, acredita que o mundo vive “os primeiros anos de algo que provavelmente será o maior deslocamento de riqueza e das desigualdades de renda da História”. O motor do progresso serão os Bric, mais o grupo dos “Próximos Onze”, os “N-11”.

Seu principal argumento é o de que, no ano passado, a economia mundial crescia a 4% ao ano, contra 3,7% dos 30 anteriores. Numa ponta desse progresso estão os novos ricos. A BMW tem fila de espera na Alemanha porque a fábrica está atendendo pedidos chineses. Na outra ponta, estão centenas de milhões de pessoas que saem da pobreza. Ele estima que em 2025 o Brasil terá mais carros que Alemanha e Japão juntos.

Num novo indicador, que reúne variáveis macro e microeconômicas, tais como telefones, internet, computadores, respeito aos contratos, corrupção, estabilidade política, expectativa de vida e educação, em 2010 o Brasil ultrapassou a China e tomou-lhe o primeiro lugar.

O’Neill juntou suas previsões no livro “Growth Map” (“O Mapa do Crescimento — Oportunidades Econômicas nos Bric e Além Deles”, com o e-book a US$ 14,99).

Veterano da Goldman Sachs, estava lá em 2002, quando produziu-se na casa o “Lulômetro”, um indicador terrorista que permitia estimar o preço do dólar se Nosso Guia fosse eleito. Passou o tempo e, depois de destacar que o Brasil saiu do atoleiro graças às reformas de Fernando Henrique Cardoso, ele coloca Lula como “o maior político do G-20 na primeira década do século”.

O’Neill conta que em 2003, quando esteve em Pindorama, ouviu o seguinte de seu anfitrião: “Você só incluiu o Brasil porque tornava o acrônimo atraente”. Não foi bem assim, uma testemunha do diálogo relembra: “Não sei se foi ele quem disse isso ou se, tendo ouvido o comentário, concordou”. À época, O’Neill teria ficado em dúvida entre o Brasil e o México, mas Mric soaria como um grunhido.

Ele reconhece que “B foi a maior e mais audaciosa aposta que fiz” e revela ter sido influenciado pela qualidade do futebol brasileiro. (Em 2002, numa brincadeira de futurologia esportiva, O’Neill estimou que o Brasil não chegaria à final da Copa da Ásia.)